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AULA 4 TECNOLOGIAS PARA A INDÚSTRIA 4.0 TEMA 1 – ROBÔS COLABORATIVOS: ASPECTOS GERAIS Muito se fala da substituição da mão de obra humana por robôs, mas será que de fato isso ocorre ou se trata de uma remodelagem das atribuições exercidas? O primeiro aspecto que devemos analisar para responder a esses questionamentos é a tecnologia utilizada ao se considerar a robótica. Na prática, até o momento, tem-se o maior uso de cobots, robôs autônomos e RPA. De modo geral, os RPAs diferenciam-se pelo fato de automatizarem o processo como um todo, ao passo que os dois primeiros atuam na estação de trabalho. Numa abordagem macro, o RPA automatiza as atividades dos robôs autônomos, ou seja, um RPA pode atribuir a lógica para todos os robôs autônomos de uma linha de produção. Vale ressaltar também que essa automação de cunho global não se aplica somente à indústria, mas também a todas as áreas que possuem métricas e repetitividade. Saiba mais Para maior entendimento sobre robôs autônomos e RPA, recomenda-se o aprofundamento por meio das seguintes leituras: • ASL, M. I. et al. (2013). Autonomous Robots for Agricultural Tasks and Farm Assignment and Future Trends in Agro Robots. International Journal of Mechanical & Mechatronics Engineering IJMME-IJENS, v. 13, n. 3. • VAN DER AALST, W. M. P.; BICHLER, M.; HEINZL, A. (2018). Robotic Process Automation. Business & Information Systems Engineering, v. 60. 1.1 Reflexões Após leitura do preâmbulo do presente tema, acrescido das leituras recomendadas, podemos agora analisar um segundo aspecto: a automatização. Tal característica é de grande importância, visto que influencia diretamente no contexto global de dada empresa. Quando se fala em automatizar, geralmente imagina-se uma indústria repleta de robôs que executam as atividades sem necessitar de influência humana ou algo próximo a isso. Um possível exemplo para esse perfil de alto grau de automação poderia ser uma indústria automobilística. A Volkswagen, por exemplo, seguindo um 2 cenário similar produz um carro a cada 30 segundos. Contudo, quais seriam os prováveis problemas dentro desse contexto? Algo de grande importância a se verificar é a lei de oferta e procura, sendo este um modelo conhecido por estipular o preço de determinado produto no mercado. Deve-se levar em consideração também que esse modelo será influenciado por aspectos como poder de compra, necessidade e concorrência. Constata-se nesse ponto que existe um ciclo para que a economia flua naturalmente, visto que as pessoas necessitam de trabalho para poderem consumir aquilo precisam e desejam, ou seja, aumentar a produtividade não significa, necessariamente, a obtenção de maior lucro por parte empregador. Logo, o cenário mais apropriado é a remodelação das atribuições exercidas, destinando os colaboradores para funções de menor repetitividade e risco. Outro ponto que surge para reflexão é se necessariamente a minha empresa precisar estar robotizada para ser competitiva. A resposta mais adequada é depende, visto que todos os pilares da indústria 4.0 devem ser avaliados conforme o grau de maturidade da sua empresa. Basicamente, a empresa precisa estar pronta para dar um passo adiante em vez de dar passos para trás por antecipação. 1.2 Aspectos gerais da robótica Após fazer uma reflexão sobre o contexto da robótica, devemos agora entender de uma forma um pouco mais técnica como essa tecnologia surgiu, seus conceitos inerentes, suas características e respectivas aplicações. Sabe-se que o homem sempre buscou construir um humanoide mecanizado, ou seja, uma máquina com inteligência artificial e com capacidade de agir e pensar de modo semelhante. Esse interesse pode ser notado, seja no aspecto industrial no intuito automatizar os processos seja na realização de atividades de alto risco, de alta precisão e/ou de movimentos repetitivos. Os respectivos pensamentos e ações para esse fim desaguaram no que denominamos hoje como robô. Segundo Rosário (2005), a referida palavra possui origem tcheca (robotnik), que significa servo. O termo em questão foi utilizado pela primeira vez por Karel Capek, em 1923. Vale ressaltar que nessa época a referida concepção ainda era vista como uma obra de ficção. Conforme citado anteriormente, a tecnologia geralmente advém de uma necessidade, de um problema ou ao acaso. No presente contexto, a ideia de 3 construir um robô, que ganhou forte impulso no início do século XX, partiu da necessidade de aumentar a produtividade industrial e melhorar a qualidade dos produtos. Como grande referência dessa tecnologia, pode-se citar George Devol, considerado o pai da robótica. Segundo Craig (2013), a utilização do robô industrial tornou-se significativa na década de 1960, juntamente com os sistemas CAD (Computer-Aided Design) e CAM (Computer-Aided Manufacturing), que juntos caracterizam as últimas tendências da automação no processo de manufatura. Antes de conceituarmos o que vem a ser um robô, levemos em consideração o que se define por robótica que, segundo Rosário (2005), é a área que preocupada com o desenvolvimento desses dispositivos (robôs). De forma multidisciplinar, ela busca a integração de técnicas e algoritmos para a criação destes. Num aspecto global, ela envolve o estudo da engenharia mecânica, da engenharia elétrica e da inteligência artificial. Por sua vez, como podemos definir o termo robô? Segundo dada pelo RIA (Robot Institute of America), em 1981, “um robô industrial é um manipulador reprogramável, multifuncional, projetado para mover materiais, peças, ferramentas ou dispositivos especiais em movimentos variáveis programados para a realização de uma variedade de tarefas”. Segundo definição ampliada, fornecida em 2011 pela ISO 10218, “um robô industrial é uma máquina para manipulação, com vários graus de liberdade, controlada automaticamente, reprogramável, multifuncional, que pode ter base fixa ou móvel para utilização em aplicações de automação industrial.” Em uma definição mais global, Mataríc (2017) emprega o termo robô da seguinte maneira: “Um robô é um sistema autônomo que existe no mundo físico, pode sentir o seu ambiente e pode agir sobre ele para alcançar alguns objetivos.” Note que dois verbos se destacam na definição: sentir e agir. Segundo Mataríc (2017), sentir o ambiente significa a utilização de sensores, ou seja, possui meio para perceber os sentidos básicos (ouvir, tocar, ver e cheirar) no intuito de obter informações. Por sua vez, o agir significa tomar medidas frente as informações sensoriais, contudo, essas ações devem ser coerentes. Segundo Santos (2015), o atual estado da arte de robôs industriais implica preponderantemente tarefas de controle de posicionamento e movimentação, que é ainda o principal objetivo desses mecanismos. Diversas capacidades de controle lógico de entrada e saída têm sido acrescentadas aos recentes robôs, assim como a possibilidade de comunicação, como em redes ethernet, 4 fieldbus ou conexões seriais (RS-232, RS-485 etc.). Quanto à forma de programação, observa-se o uso de scripts para acesso aos recursos de software disponíveis no robô. Ainda, de acordo com Craig (2013), as principais características da robótica são: descrição de posição e orientação, a cinemática dos manipuladores, a velocidade dos movimentos do robô, o controle de força e, por fim, a programação do robô. Figura 1 – Conceitos básicos de um robô Crédito: Smile Ilustras. Por fim, pode-se citar algumas aplicações que vão além da utilização de braços robóticos, entre elas: carros autônomos; na medicina, com teleoperação e reabilitação por meio de próteses; entregas via drones; e sistemas de monitoramento militar aéreo. Figura 2 – Utilização na medicina Crédito: Zapp2photo/Shutterstock. 5 Figura 3 – Entrega de produtos via drone Crédito: Phoelixde/Shutterstock. TEMA 2 – COBOTS E SUA ABRANGÊNCIA Resgatando a abordagemda robótica colaborativa, vislumbra-se um cenário mais interessante seja pela empregabilidade como também nas mais diversas práticas industriais. Para tanto, é de grande importância sabermos os respectivos conceitos, características e o entorno dessa tecnologia. 2.1 O que são cobots? Frente à crescente demanda por customização em massa de produtos no mercado global, uma classe completamente nova de robôs apareceu recentemente, representando uma solução acessível para esse problema. Projetados para colaborar com segurança junto aos trabalhadores humanos, esses robôs estão apresentando novas oportunidades para automatizar parcialmente os processos de fabricação. Anteriormente, o uso de automação e robótica era uma proposta de tudo ou nada. Por esses motivos, o campo da robótica colaborativa está expandindo rapidamente sua gama de aplicações e de acordo com uma previsão de mercado publicada recentemente pela Loop Ventures, até o ano 2025 um em cada três robôs será usado para aplicações colaborativas. De acordo com Ferraguti (2019), os robôs colaborativos são um dos principais impulsionadores da indústria 4.0 e evoluíram consideravelmente desde as últimas décadas do século XX. Se comparados aos robôs industriais, os 6 colaborativos são mais produtivos, flexíveis, versáteis e seguros. Nos últimos anos, muitos produtores e startups de robôs industriais entraram no segmento de robôs colaborativos. Conforme pode ser visto na Figura 4, o contexto da respectiva tecnologia promove um equilíbrio bastante interessante, uma vez que erros que seriam gerados por humanos em dada atividade são dirimidos pela utilização do cobot e, ao mesmo tempo, não há um alto investimento inicial ou ainda a necessidade de automatizar todos os processos inerentes a uma linha de produção. Figura 4 – Proposta da robótica colaborativa Créditos: Tanakrid Prombut; Gorodenkoff; Jenson; Willyam Bradberry/ Shutterstock. Segundo Zanchettin et al. (2018), estatísticas recentes também indicam que o mercado correspondente deve expandir-se a uma taxa de crescimento anual composta de quase 60%, atingindo US$12 bilhões nos próximos dez anos. Assim como os robôs tradicionais de mais de 40 anos atrás, os primeiros a adotar essa tecnologia foram os fabricantes de automóveis. No entanto, enquanto levou mais de 40 anos para os robôs tradicionais serem adotados em números significativos fora do setor automotivo, a robótica colaborativa já penetrou em outros setores desde a sua primeira aparição no mercado. Como o nome sugere, um robô colaborativo (cobot) é um robô projetado para colaborar com trabalhadores humanos. Nos trabalhos iniciais de pesquisa e 7 padronização, a ênfase principal estava na segurança, com o objetivo de permitir que os robôs trabalhassem ao lado de humanos. Conforme Østergaard (2018), ao desenvolver o primeiro cobot comercialmente bem-sucedido do mundo, percebeu-se que além da facilidade de programação, também seria necessária uma flexibilidade leve de design e implantação para que um robô fosse realmente colaborativo. A visão era desenvolver um robô que pudesse servir como ferramenta para os trabalhadores da fábrica. Figura 5 – Robô YuMi: o primeiro robô com dois braços verdadeiramente colaborativo do mundo Crédito: Mikedotta/Shutterstock. Figura 6 – Interatividade homem e robô colaborativo Crédito: Zapp2photo/Shutterstock. 8 2.2 Características do cobot Robôs colaborativos também podem ser chamados de robôs cooperativos, cobots ou assistentes robóticos. De acordo com Vysocky e Novak (2016), um robô destinado à cooperação com seres humanos não precisa ter um design estritamente diferente dos robôs industriais padrão que estão em conformidade com a norma de segurança ISO EN 10218. No entanto, o robô deve estar equipado com outros componentes de segurança. As recomendações para robôs colaborativos estão resumidas na especificação técnica ISO / TS 15066 (Robôs e dispositivos robóticos - robôs colaborativos). Conforme Østergaard (2018), CTO e cofundador da Universal Robots, os cobots possuem as seguintes características: • Segurança para as pessoas trabalharem ao redor - sem necessidade de cercas protetoras; • Simplicidade na programação, implantação e reimplantação; • Serve como ferramenta para operadores, não como dispositivos que substituem trabalhadores humanos; • Permite que as empresas mantenham o controle de seus próprios processos automatizados. Figura 7 – Avanço do nível de colaboração entre humano e robô Crédito: Smile Ilustras. De forma complementar, Vysocky e Novak (2016), trazem as vantagens que a respectiva tecnologia apresenta: 9 • Do ponto de vista socioeconômico, a implantação de robôs produz maior competitividade das empresas em comparação com países com mão de obra muito barata. Mesmo uma pequena empresa pode concentrar-se nas demandas dos clientes e oferecer um produto por um preço mais baixo. • A precisão de posicionamento repetível do robô e a operação contínua oferecem melhor qualidade e menores requisitos para pós-processamento e controle de qualidade. • O robô pode acelerar algumas operações e também ajustar-se a condições especiais, o que pode levar ao aumento da produção. • Limitar o trabalho desconfortável, repetitivo e tedioso resulta no levantamento da carga de seres humanos que, de outra forma, pode resultar em doenças ocupacionais. • Existe uma relação entre a carga sobre os trabalhadores e a ergonomia das operações. Melhorar o ambiente de trabalho pode levar à diminuição da quantidade de lesões ocupacionais. • Situações perigosas geralmente ocorrem devido à violação das regras de segurança e à simplificação dos procedimentos. Se houver uma tecnologia mais segura, o risco de ferimentos é menor. 2.3 Cobots na indústria 4.0 Os cobots representam uma tecnologia bastante aderente aos princípios da indústria 4.0, pois uma vez que são equipados com poderosos computadores de bordo, eles são interoperáveis e facilmente capazes de ingressar na Internet das Coisas (IoT) em qualquer ambiente de fábrica. Além disso, eles promovem a transparência das informações por meio de sua capacidade de coletar dados e repassá-los para outros sistemas para análise, modelagem e assim por diante. Por fim, eles fornecem assistência técnica no sentido de que apoiam fisicamente os seres humanos, realizando uma série de tarefas desagradáveis, exaustivas ou inseguras para seus colegas de trabalho humanos (Østergaard, 2018). Além disso, os cobots são produtos clássicos da indústria 4.0, pois são produtos digitais que continuam evoluindo por meio de atualizações de software e de sua própria programação. Eles até suportam modelos de negócios digitais (XaaS), a exemplo de empresas como a Hirebotics que aluga cobots por hora. Sem a necessidade de isolar sua área de trabalho, a integração de cobots nos espaços de trabalho humanos torna- se mais econômica e produtiva e abre 10 muitas aplicações possíveis nas indústrias. Na indústria 4.0, robôs e humanos trabalharão de mãos dadas, por assim dizer, em tarefas de interligação e usando interfaces homem-máquina com sensor inteligente. Segundo Bahrin et al. (2016), a utilização de robôs está em ascensão e visa a incluir várias funções, como produção, logística e gerenciamento de escritório (para distribuir documentos) que podem ser controlados remotamente. Na existência de qualquer eventualidade, o trabalhador receberá uma mensagem em seu telefone celular, que está vinculado a uma webcam, de modo que possa visualizar determinada ocorrência e dar instruções para que a produção continue normalmente. Assim, a planta está operando 24 horas por dia, enquanto os trabalhadores estão lá apenas durante o dia. 2.4 Abrangência dos cobots Os conceitos da indústria 4.0 promovem alto impacto e ampla gama de mudanças nos processos de fabricação, nos resultados e também nos modelos denegócios. Além disso, propiciam customização em massa, aumento de produtividade, flexibilidade e velocidade de produção, e melhoria na qualidade do produto. Essa customização em massa permitirá a produção de pequenos lotes devido à capacidade de configurar rapidamente as máquinas para se adaptarem às especificações fornecidas pelo cliente e à fabricação aditiva. Essa flexibilidade também incentiva a inovação, já que protótipos ou novos produtos podem ser produzidos rapidamente, sem necessidade de reformulação de ferramentas ou configuração de novas linhas de produção. Assim, é possível produzir um produto com muitas variantes, proporcionando diminuição no estoque (Boston Consulting Group, 2015). A velocidade com que um produto pode ser produzido também melhorou; os projetos digitais e a modelagem virtual do processo de fabricação reduzem o tempo entre o design de um produto e sua entrega. Na Alemanha, as cadeias de suprimentos orientadas a dados podem acelerar o processo de fabricação em cerca de 120% em termos de tempo necessário para entregar pedidos e em 70% no tempo necessário para colocar produtos no mercado (European Comission, 2015). A utilização da robótica em aplicações industriais tem um impacto econômico substancial em que o aumento da produtividade pode impulsionar o crescimento econômico. Um estudo recente estima que esses benefícios 11 contribuirão com 78 bilhões de euros para o PIB alemão até 2025 (Hermann; Otto; Pentek, 2015). Outro viés de grande importância é o da acessibilidade, uma vez que os cobots têm desempenhado um papel importante ao permitir que empresas que talvez não tenham conseguido pagar por robôs industriais possam começar a automatizar seus processos. Além disso, por se tratar de dispositivos versáteis, fáceis de programar, pequenos, leves e acessíveis, os cobots estão sendo implantados nas pequenas e médias empresas no intuito de modernizar fábricas mais antigas, promovendo sua compatibilidade com a indústria 4.0. Por fim, com essa abrangência e simplicidade, os cobots ajudam as empresas em todos os lugares a se unirem com a mais recente onda de automação, mesmo que não estejam prontas para ir até o setor 4.0. Figura 8 – Alcance da tecnologia Crédito: Maxuser/Shutterstock. TEMA 3 – MANUFATURA ADITIVA: ASPECTOS GERAIS A manufatura é fundamental para a prosperidade da sociedade, tanto no intuito de atender as mais diversas necessidades quanto no de promover a qualidade de vida. O termo manufatura faz alusão a processos de fabricação, podendo estes serem enquadrados como convencionais ou não convencionais. Mediante novas necessidades frente a um contexto diferenciado, a manufatura aditiva ganhou força e merece grande atenção, pois essa tecnologia vai além das aplicações industriais. Dessa forma, caro aluno, seja você um gestor, empreendedor ou colaborador de dada empresa/indústria, é preciso vislumbrar novas oportunidades 12 de negócio ou ainda possíveis melhorias de processo que discorre dessa temática. 3.1 Aspectos gerais da manufatura aditiva A manufatura aditiva (AM) é uma tecnologia que está desenvolvendo-se rapidamente e sendo integrada à manufatura e ao nosso dia a dia. Muitas pessoas ouviram falar de seu surgimento no mundo comercial, embora ele tenha sido rotulado por nomes diferentes, como impressão tridimensional (3-D), prototipagem rápida (RP), fabricação em camadas (LM) e fabricação de forma livre sólida (SFF) (Bandyopadhyay; Bose, 2016). Como a AM é uma tecnologia relativamente jovem, quase não houve esforços de padronização por muitos anos além de alguns trabalhos preliminares na Alemanha, no início dos anos 90. Em 2007, uma recomendação especial dedicada à RP foi criada sob a supervisão da Sociedade Alemã de Engenheiros Mecânicos e publicada no outono de 2008. A partir de 2009, a Sociedade Americana de Engenheiros Mecânicos (ASME), em cooperação com a Sociedade Americana de Testes e Materiais (ASTM), iniciou o desenvolvimento de seus próprios procedimentos de padronização. No outono de 2009, surgiu o comitê F42 de Manufatura Aditiva (subcomitê F42.91 de Terminologia), também chamado de Terminologia Padrão para Tecnologias de Manufatura Aditiva. Entre outras definições, o nome manufatura aditiva foi definido por esse comitê. Como sempre, leva tempo até que termos recém-definidos sejam geralmente aceitos. Uma grande variedade de termos diferentes, aumentada por nomes de marcas e termos conduzidos pela empresa, ainda está em uso, às vezes até em competição entre si (Gebhardt, 2011). Contextualizando a referida tecnologia, dois pontos norteadores se fazem presentes: competitividade e complexidade. Tais premissas têm exigido das empresas diversas alterações no Processo de Desenvolvimento de Produtos (PDP), a fim de reduzir o tempo envolvido e aumentar a qualidade dos produtos com o objetivo de promover maior competitividade. Essas alterações envolvem os aspectos de gestão e a utilização de novas técnicas e ferramentas para projeto, além de habilidades para identificar as necessidades dos clientes (Volpato; Carvalho, 2018). 13 Figura 9 – Máquina de impressão 3-D Crédito: Blackday/Shutterstock. De forma a contemplar uma visão global da manufatura aditiva, previamente aos seus conceitos, tem-se o Quadro 1, a seguir: Quadro 1 – Definição de níveis de aplicação e tecnologia Fonte: Gebhardt, 2011. 14 Saiba mais Durante este tema será dada uma especial atenção ao processo de prototipagem rápida (ou Rapid Prototyping). Para a outra vertente de aplicação (Rapid Manufacturing), recomenda-se a leitura do seguinte artigo: • LEVY, N. G.; SCHINDEL, R.; KRUTH, J. P. Rapid Manufacturing and Rapid Tooling With Layer Manufacturing (LM) Technologies, State Of The Art And Future Perspectives. CIRP Annals, 2003 – Elsevier. 3.2 Manufatura aditiva: conceitos Segundo Volpato e Carvalho (2018), os principais processos de fabricação possuem princípios baseados na moldagem do material, caracterizado pela fusão ou não (moldagem por injeção de plástico), pela remoção de material como ocorre em processos clássicos como o fresamento e o torneamento, ou pela conformação do material que objetiva gerar a geometria final pela deformação plástica como a laminação e o forjamento. Outros dois processos bastante tradicionais têm a união de componentes por meio, por exemplo, da soldagem e da divisão de componentes pelos procedimentos que envolvem cortes. No final da década de 1980, um novo princípio de fabricação baseado na adição de material foi apresentado, sendo este denominado manufatura aditiva ou impressão 3-D. De acordo com Prado, Mattos e Rodrigues (2019), a origem dos princípios básicos dessa tecnologia remonta de tempos muitos distantes, quando os egípcios já empregavam a técnica de construção por sobreposição de camadas, utilizando blocos que eram empilhados em camadas sucessivas para construírem suas pirâmides. A manufatura aditiva, segundo Volpato e Carvalho (2018), consiste em um processo de fabricação por meio de adição sucessiva de material na forma de camadas, com informações obtidas diretamente de uma representação geométrica computacional 3-D do componente originado, geralmente de um sistema CAD. Por sua vez, Srivatsan e Sudarshan (2016) definem que a manufatura aditiva pode ser descrita como o processo de união ou adição de materiais com o objetivo principal de criar objetos com base em dados de modelos tridimensionais (3-D) usando o princípio de camada por camada. As tecnologias de fabricação de camadas (LM) são conhecidas entre as comunidades científica e de engenharia como fabricação rápida ou prototipagem rápida (RP). 15 Figura 10 – Impressão 3-D de motor de avião Crédito: Chesky/Shutterstock. O processo de construção é totalmente automatizado e possui tempo reduzido se comparado aos processos tradicionais. Em geral, a manufatura aditiva apresenta sete categorias: VAT photopolymerisation,FDM, Material Jetting, Binder Jetting, Powder Bed Fusion, Sheet Laminatiton e Directed Energy Deposition. Saiba mais Para mais detalhes sobre esses processos, acesse o artigo: • JUNIOR, G. B. M.; COSTA, C. A. Manufatura aditiva aplicada na fabricação de insertos para moldes de injeção termoplásticos. Scientia cum Industria, 2019. TEMA 4 – MANUFATURA ADITIVA: O PROCESSO Tendo ciência do conceito da manufatura aditiva bem como das diferentes categorias, é de grande valia identificarmos cada uma das etapas do processo e suas respectivas vantagens e limitações. 4.1 Etapas do processo Tendo como base que esse processo aditivo permite fabricar componentes físicos a partir de diversos materiais, formas e princípios diferentes, imagina-se 16 certa complexidade no manejo de cada uma das etapas. No entanto, o processo como um todo é automatizado e relativamente mais rápido se comparado aos meios tradicionais de fabricação. De acordo com Volpato e Carvalho (2018), o processo inicia-se com o modelo 3-D da peça sendo fatiado eletronicamente com o objetivo de determinar as curvas de nível 2-D, nas quais será ou não adicionado material. Na sequência, a peça física é gerada por meio de empilhamento e adesão das respectivas camadas, partindo da base da peça até o seu topo. De forma mais específica, pode-se definir o processo em cinco etapas: • Modelagem tridimensional no intuito de gerar o modelo geométrico 3-D. • Obtenção do modelo geométrico 3-D em formato específico, geralmente, conforme o padrão STL (STereoLithography) ou AMF (additive manufacturing format). • Fatiamento, definição de estruturas de suporte e consequente estratégia para deposição de material. • Fabricação da peça em equipamento de AM. • Pós-processamento. Figura 11 – Etapas da manufatura aditiva Crédito: Jefferson Schnaider. 17 4.2 Vantagens da manufatura aditiva A seguir, podermos observar as vantagens do referido processo: • Não apresenta restrição de design. Tal fato gera diversas oportunidades em termos de projeto, uma vez que é possível reduzir o número de peças nas montagens por meio da integração das funções. • Trata-se de um processo único do início ao fim, que pode fazer a peça inteira e não requer várias máquinas ou processos. • Redução no custo de produção e no desperdício de matéria- prima por se tratar de uma técnica aditiva. • Se for constatado que o design que está sendo produzido possui uma falha, ou se houver algo que possa ser alterado para otimizar seu uso, ele poderá ser alterado instantaneamente. • Produção sob demanda. 4.3 Limitações da manufatura aditiva Agora, vamos observar as respectivas limitações: • O pós-processamento é necessário para o acabamento ideal da superfície. • Taxas de produção mais lentas para fabricação de alto volume. • É necessário um grande investimento de capital para a obtenção de impressoras 3-D de ponta. • Problemas como distorções e empenamento do material devido à natureza térmica/química do princípio de adesão selecionado. • Restrições de material e tamanho. Saiba mais Para verificar mais detalhes, entre eles as possíveis aplicações de manufatura aditiva, recomenda-se a leitura do capítulo 1 do livro a seguir: • VOLPATO, N.; CARVALHO, J. Manufatura Aditiva – Tecnologias e aplicações da impressão 3-D. São Paulo: Blucher, 2018. 18 TEMA 5 – ESTUDO DE CASO Para finalizar esta aula, trazendo o aspecto prático, que é o objetivo de um curso de especialização, tem-se um estudo de caso bastante interessante que trata da evolução digital na aplicação de cirurgia craniana. Questiona-se aqui como a cirurgia craniana pode estar atrelada a alguma das tecnologias mencionadas durante a aula. Pois bem, acompanhe o conteúdo a seguir e você obterá a resposta. • Contextualização: Da cirurgia facial reconstrutiva complexa à cirurgia ortopédica e de trauma, os avanços na manufatura aditiva inspiraram cirurgiões a cada vez mais encomendarem implantes específicos para pacientes (PSIs) impressos em 3-D e guias de corte para procedimentos complexos e diretos. • Motivação: Diversos estudos de caso fornecem evidências convincentes de que os cirurgiões que adotam essa tecnologia em relação aos implantes padrão ou tradicionalmente fabricados estão fornecendo, de forma consistente, resultados melhores e mais previsíveis em termos de segurança e satisfação do paciente, além de eficiência e economia hospitalar. • Exemplo prévio: Os hospitais do NHS do Reino Unido, em busca de melhor qualidade e eficiência, usaram modelos anatômicos, guias e implantes impressos em 3-D para melhorar previsibilidade, precisão, segurança e velocidade das operações. Figura 12 – Reconstrução das costelas localizada no peito de paciente Crédito: Jefferson Schnaider. 19 • Ramo industrial: Medicina e saúde. • Demanda médica: O paciente necessitou de uma craniectomia para retirada de tumor e de uma cranioplastia para reconstruir o crânio. • Demanda industrial: Fabricar as peças em máquina de impressão 3-D, em titânio, conforme especificação do neurocirurgião. • Conclusão: Como a segurança é a principal prioridade, o fornecimento de uma guia de corte predefinida e do implante correspondente ajudou a eliminar todo o risco que possa advir do trabalho à mão livre durante p procedimento. A satisfação do paciente também era uma prioridade e a precisão do PSI permitiu ao cirurgião fornecer a qualidade estética necessária. Assim como nos procedimentos de reconstrução facial mais complexos, o poder do design específico do paciente forneceu dimensões adicionais de consistência e previsibilidade. Nenhum ajuste foi necessário durante a cirurgia. O uso da guia de corte e implante impressos em 3-D economizou aproximadamente 30% do tempo necessário para esse tipo de cirurgia. Além disso, tempos de cirurgia mais curtos podem ajudar a reduzir o risco de infecção, acelerar a recuperação do paciente e propiciar mais produtividade. 20 REFERÊNCIAS ASL, M. I. et al. Autonomous Robots for Agricultural Tasks and Farm Assignment and Future Trends in Agro Robots. International Journal of Mechanical & Mechatronics Engineering IJMME- IJENS, v. 13, n. 3, 2013. BAHRIN, M.; OTHMAN, F.; AZLI, N.; TALIB, M. Industry 4.0: A review on industrial automation and robotic. Journal Teknologi, 2016. BANDYOPADHYAY, A.; BOSE, S. Additive Manufacturing. CRC Press, 2016. BOSTON CONSULTING GROUP. Industry 4.0: The Future of Productivity and Growth in Manufacturing Industries, 2015. CRAIG, J. Robótica. 3 ed. São Paulo: Pearson, 2013. EUROPEAN COMISSION. Digital Transformation of European Industry and Enterprises – report from the Strategic Policy Forum on Digital Entrepreneurship, 2015. FERRAGUTI, F. et al. A Methodology for Comparative Analysis of Collaborative Robots for Industry 4.0. IEEE, 2019. GEBHARDT, A. Understanding Additive Manufacturing. Hanser, 2011. HERMANN, M.; OTTO, B.; PENTEK, T. Design Principles for Industrie 4.0 Scenarios: A Literature Review, 2015. INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO/TS 15066: 2016 – Robots and robotic devices – Collaborative robots. Genebra, 2016. JUNIOR, G. B. M.; COSTA, C. A. Manufatura aditiva aplicada na fabricação de insertos para moldes de injeção termoplásticos. Scientia cum Industria, 2019. LEVY, N. G.; SCHINDEL, R.; KRUTH, J. P. Rapid Manufacturing And Rapid Tooling With Layer Manufacturing (LM) Technologies, State Of The Art And Future Perspectives. CIRP Annals, 2003. MATARÍC, M. J. Introdução à Robótica. São Paulo: Unesp/ Blucher, 2017. METAL AM. Hospital reconstructs patient’s chest using titanium Additive Manufacturing. Disponível em: <https:// www.metal-am.com/hospital- reconstructs-patients-chest-using- titanium-additive-manufacturing/>. Acesso em: 04 mar. 2020. 21 ØSTERGAARD, E. H. The Role of Cobots in Industry 4.0. Universal Robots, 2018. PRADO, A. N.; MATTOS, E. C. A.; RODRIGUES,F. S. Manufatura Aditiva: conceitos, aplicações e impactos na gestão. III Encontro Internacional de Gestão, Desenvolvimento e Inovação, 2019. RENISHAW. Digital evolution of cranial surgery, 2017. ROSÁRIO, J. M. Princípios de Mecatrônica. São Paulo: Prentice Hall, 2005. SANTOS, W. E.; GORGULHO JR, J. H. C. Robótica Industrial: Fundamentos, Tecnologias, Programa e Simulação. São Paulo: Érica, 2015. SRIVATSAN, T. S.; SUDARSHAN, T. S. Additive Manufacturing: Innovations, Advances, and Applications. CRC Press, 2016. VAN DER AALST, W. M. P.; BICHLER, M.; HEINZL, A. Robotic Process Automation. Business & Information Systems Engineering, v. 60, 2018. VOLPATO, N.; CARVALHO, J. Manufatura Aditiva – Tecnologias e aplicações da impressão 3-D. São Paulo: Blucher, 2018. VYSOCKY, A; NOVAK, P. Human - Robot collaboration in industry. MM Science Journal, 2016. ZANCHETTIN et al. Collaborative Robots in the Workplace. IEEE Robotics & Automation Magazine, 2018. 22
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