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Desenvolvimento na adolescência Prof.ª Crismarie Casper Hackenberg false Descrição Definição, conceituação histórica e fundamentos das teorias de desenvolvimento humano referentes ao período da adolescência. Descrição das transformações físicas, cognitivas e psicossociais envolvidas na puberdade. Propósito O conhecimento sobre as teorias de desenvolvimento humano envolvidas no estudo da fase da adolescência amplia a visão do psicólogo em sua prática profissional clínica e institucional, tornando sua prática e pesquisa com profundidade. Objetivos Módulo 1 Desenvolvimento físico: puberdade e adolescência Reconhecer os conceitos teóricos e históricos do desenvolvimento físico na adolescência e as diferenças e similaridades com a puberdade. Módulo 2 O desenvolvimento cognitivo Identificar os fundamentos do desenvolvimento cognitivo na adolescência e as abordagens construtivistas aplicadas na Psicologia. Módulo 3 Desenvolvimento psicossocial Distinguir as teorias do desenvolvimento psicossocial e as interpretações psicanalíticas da busca da identidade no período da adolescência. Módulo 4 A síndrome da adolescência normal Reconhecer os conceitos, pressupostos e as características da síndrome da adolescência normal. Há muito tempo, a adolescência não passava de uma sala de espera do mundo adulto. Contudo, o desenvolvimento da sociedade, as complexidades e as mudanças sociais tornaram a duração da fase adolescente prolongada. Nas sociedades tribais primitivas, a passagem do mundo infantil para o mundo adulto era muito breve e seguia normas rígidas. O início e o final desse momento de passagem eram claramente definidos por rituais. Em poucas Introdução 1 - Desenvolvimento físico: puberdade e adolescência Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer os conceitos teóricos e históricos do desenvolvimento físico na adolescência e as diferenças e similaridades com a puberdade. semanas ou meses, o adolescente era instruído nas atividades necessárias para obter alimento e defender seu povo. A jovem se casava com 13 anos, e o jovem assumia aos 14 anos a condição de guerreiro e de adulto. À medida que a adolescência foi se prolongando, tornaram-se cada vez mais evidentes as características de personalidade próprias dessa fase. Foi possível a ideação da formação de uma cultura adolescente que guarda, muitas vezes, semelhanças com as subculturas dos grupos sociais marginalizados. Para defender-se, o adolescente pode criar barreiras diante do mundo adulto, criando linguagem e subcultura peculiares que o excluem desse mundo. Vamos aprofundar esses sintomas da puberdade e os conceitos da psicologia do adolescente. O período da adolescência será apresentado por fases, por características e pelas teorias de diversos pensadores que desenvolveram legados intelectuais de observação clínica, prática e modelos de tratamento. Ligando os pontos Sair da infância e se transformar em adolescente não é tarefa fácil. Adolescência nos parece mais como uma passagem, entre a infância e a vida adulta. Ocorrem muitas mudanças de todas as ordens em pouco tempo! Uma explosão de pensamentos, desejos e hormônios. Como lidar com tudo isso? Bom, acredita-se que o primeiro passo seja conhecer, entender sobre o desenvolvimento humano. Sabemos que crianças e adolescentes passam grande parte de seu tempo na escola, pois estão em período escolar. Desse modo, na adolescência, mudanças, conflitos e conquistas são instaurados. Será que os profissionais da educação estão preparados para acolher todas essas demandas? Apesar de compreendermos que o processo de desenvolvimento humano seja universal, ele acontece de maneira peculiar e muito singular. Vamos à história da Laura, uma adolescente de 13 anos, aluna do 7º ano do ensino fundamental. Laura estuda em uma escola particular do centro do Rio de Janeiro, e esse ano vem atravessando algumas transformações no seu desenvolvimento como um todo, o que vem acarretando conflitos no seu meio familiar. Laura sempre foi uma aluna dedicada aos estudos, com rendimento acadêmico satisfatório, e uma boa relação com os colegas. Neste ano, Laura começou apresentar alterações comportamentais, demonstrando mais timidez e inibição, como também diminui o contato social com os colegas. Nas aulas de educação física, ela tem se recusado a participar, alegando sentir-se desengonçada e com cólicas menstruais. De fato, os professores perceberam que Laura apresentou uma crescida rápida em sua estatura neste ano, assim como o surgimento de acne no rosto e o aumento do peso corporal. No conselho de classe, os professores pontuaram que Laura vem apresentando um humor mais triste, sempre muito “quietinha” e até sonolenta, tendo pouca participação nas aulas, o que resultou na queda em seu rendimento acadêmico. Laura, então, foi encaminhada para a equipe multidisciplinar para que fosse acompanhada mais de perto pelos profissionais especializados da escola. Assim, eles podiam compreender o que vinha atravessando o desenvolvimento da aluna para que pudessem ajudá-la. Após a leitura do caso, é hora de aplicar seus conhecimentos! Vamos ligar esses pontos? Questão 1 Sobre a adolescência e puberdade, embora possuam características que as distinguem, também podem ocorrer juntas, ao mesmo tempo. Precisamos adentrar no universo do desenvolvimento humano, para assim compreender melhor cada um desses fenômenos. Sobre a puberdade e a adolescência, analise as questões a seguir e marque a alternativa correta. A Devemos considerar que a puberdade é uma fase compreendida como uma mudança demorada nas estruturas físicas e bioquímicas. B Se por algum evento biológico a puberdade não acontecer, a adolescência também não se manifesta. C Puberdade está vinculada ao início da adolescência porque se refere especificamente às mudanças emocionais e cognitivas. D Não existe uma relação de causa-efeito entre puberdade e adolescência. Mesmo que as duas possam ocorrer ao mesmo tempo. E Não se faz tão importante saber o momento preciso no qual ocorre a puberdade em um indivíduo porque Parabéns! A alternativa D está correta. Quanto à puberdade, é importante salientar que é uma fase compreendida por mudanças repentinas nas estruturas físicas, bioquímicas e hormonais. Contudo, sabe-se que, se por algum evento, a puberdade não se manifestar, a adolescência poderá cumprir seu curso normalmente, sendo relevante saber os sinais da puberdade no indivíduo, uma vez que tais sinais possam ser indícios do início da adolescência. Questão 2 A recepção de casos para equipe multidisciplinar teve uma mudança nos últimos tempos. Antes havia punição a alunos problemáticos, que eram enviados para coordenação, supervisora, ou SOE – Orientação Educacional, hoje existe uma outra lógica de postura. Imagine que você faz parte da equipe multidisciplinar e que o conselho de classe indique a necessidade de um diálogo sobre determinados alunos. Qual das alternativas abaixo deve representar a postura da equipe? podemos considerar esse período dissociado do início da adolescência. A Temos um aluno problema na escola e por isso é necessário intervir. B Temos um processo normal de “difundir” autoridade e fortalecer a proteção do docente. C Temos que ter uma abordagem acolhedora, entendendo que o suporte é rico, variado e não cabe somente a alunos com necessidades educacionais especiais. D Temos uma relação de intervenção, uma vez que foi detectado um problema por parte dos professores. E Temos uma ação preventiva, já que a equipe deve dialogar com todos os alunos. Parabéns! A alternativa C está correta. A equipe tem o papel de acolhimento, integração, podendo atuar em situações diversas, como, por exemplo, situações sociais, de saúde, junto aos familiares, no sentido de traçar estratégias e suporte a alunos e aos docentes. Questão 3 Diante do caso apresentado acima, pontue quais fatores/aspectos apresentados por Laura demarcampara você sinais de puberdade e/ou adolescência. Distinga cada um deles. Digite sua resposta aqui Chave de resposta Sabemos que puberdade e adolescência podem caminhar juntas em um indivíduo, assim como podem se dissociar. Laura, uma adolescente de 13 anos, apresenta sinais de puberdade nos aspectos físicos e bioquímicos, como um rápido crescimento corporal, desajuste corporal, menstruação, acne e aumento do peso corporal. Já os aspectos relacionados à adolescência têm a ver com o modo de ser, como as alterações comportamentais, timidez, inibição, alterações no humor e no sono. Conceitos básicos em puberdade e adolescência Puberdade e adolescência Em geral, o período da adolescência começa com as mudanças corporais que ocorrem no início da puberdade e termina com os acontecimentos da inserção social, profissional e econômica do jovem na sociedade adulta. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde [1965]): A adolescência é definida como um período biopsicossocial que compreende a segunda década da vida, ou seja, dos 10 aos 20 anos. Esse também é o critério adotado pelo Ministério da Saúde do Brasil e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o período vai dos 12 aos 18 anos. (SCHOEN-FERREIRA et al., 2010, p. 227) Inicialmente é importante compreendermos o seguinte: A palavra "puberdade" vem do latim pubertate, que significa “idade viril”, e também encontramos referência no verbo pubescere, que significa “cobrir-se de pelos na região púbica”. Podemos, então, entender que a palavra puberdade, em geral, está vinculada ao início da adolescência, porque se refere especificamente às mudanças corporais. O termo "adolescência" vem da expressão adolescentia, que está relacionada ao período de crescer, de se desenvolver, ou como diria a filosofia clássica com Aristóteles, a natureza humana em florescimento. Segundo Moragas (1970), não existe uma relação de causa-efeito entre puberdade e adolescência. Mesmo que as duas possam ocorrer ao mesmo tempo. Devemos considerar que a puberdade, uma fase compreendida como uma mudança repentina nas estruturas físicas e bioquímicas, pode ser precedida, acompanhada ou seguida de um período adolescente. E se por algum evento biológico a puberdade não acontecer, a adolescência não deixa de se manifestar no indivíduo. Para Moragas, ser adolescente é estar no mundo de outra maneira. A atitude do adolescente diante da família, do estudo e dos amigos é diferente (GRIFFA; MORENO, 2001). Mudanças físicas da puberdade De acordo com Papalia et al. (2009), existe um período de aproximadamente sete anos para o início da puberdade tanto em meninos como em meninas. O processo regularmente leva cerca de quatro anos para ambos os sexos e tem início cerca de dois ou três anos mais cedo nas meninas do que nos meninos. Em dados gerais e populacionais: Adolescência para meninos A idade mediana dos meninos para a entrada na puberdade é 12 anos, mas eles podem começar a apresentar mudanças entre 9 e 16 anos. Adolescência para meninas Em média, as meninas começam a apresentar as mudanças da puberdade dos 8 aos 10 anos. Contudo, os estudiosos do desenvolvimento constataram uma tendência secular no estabelecimento da puberdade, relativa à diminuição da idade em que a puberdade se inicia. Isso quer dizer que os jovens estão alcançando a estatura adulta e maturidade sexual cada vez mais cedo (PAPALIA et al., 2009). Tendência secular Tendência que inclui diversas gerações. Saiba mais Uma explicação muito provável é a melhora no padrão de vida da sociedade. Ou seja, as crianças que são mais saudáveis, mais bem nutridas e mais bem cuidadas acabam amadurecendo mais cedo e crescendo mais. No período da puberdade acontece um acelerado crescimento da estatura. O corpo do adolescente muda de forma tão rápida e tão radical que não dá tempo para que ele possa se acostumar com as modificações. Nesse período, podemos encontrar adolescentes com posturas desengonçadas, com movimentos pouco harmoniosos dos braços e pernas, com um caminhar um pouco fora do ritmo (AMARAL, 2007). Gráfico mostra o crescimento que ocorre na adolescência. Junto com essa fase de crescimento visível, uma série de outras modificações orgânicas devem surgir, destacando-se os caracteres sexuais secundários que começam a aparecer. Em meninas, o surgimento das mamas e nos meninos, o aumento dos testículos. Nos dois acontecerá o desenvolvimento dos pelos pubianos. A partir dessas modificações orgânicas, começa a fase chamada puberdade marcada pelas características físicas descritas a seguir: O aumento da largura dos ombros; a modificação no timbre da voz; o aparecimento de pelos no rosto, axilas e região pubiana; o crescimento do pênis e dos testículos; e o surgimento da primeira ejaculação. O aumento dos quadris; o desenvolvimento das glândulas mamárias; o aparecimento de pelos na região pubiana; e o surgimento da primeira menstruação, chamada menarca. Nesse processo de desenvolvimento, os hormônios serão muito importantes. Por causa deles, as moças terão seus ovários aumentados com a produção de estrogênio, além do aumento dos genitais femininos e do desenvolvimento dos seios. Nos rapazes, os testículos aumentarão a fabricação de androgênios, principalmente a testosterona. Esse hormônio estimulará o crescimento dos genitais masculinos, da massa muscular e dos pelos do corpo. Nos meninos Nas meninas Os hormônios na puberdade De acordo com Papalia et al. (2009), saber o momento preciso no qual ocorre a puberdade em um indivíduo é importante, porque podemos considerar esse período como o início da adolescência. Nesse momento de explosão da atividade hormonal, as pesquisas têm mostrado que o peso corporal está relacionado à puberdade. Algumas pesquisas atribuem aos hormônios a falta de regulação das emoções e a instabilidade de humor da adolescência inicial, diz Papalia et al. (2009). Eles estão associados à agressividade nos rapazes e tanto à agressividade como à depressão nas moças. Entretanto, outras influências, como o sexo, a idade, o temperamento e o momento de ocorrência da puberdade, podem moderar ou até sobrepujar as influências hormonais. A tabela a seguir explicita as mudanças fisiológicas na adolescência, vamos acompanhar: Características Femininas Idade de Aparecimento Crescimento dos seios 6-13 Crescimento dos pelos pubianos 6-14 Crescimento corporal 9,5-14,5 Menarca 10-16,5 Pelos axilares Cerca de dois anos após o aparecimento de pelos pubianos Aumento na produção das glândulas sebáceas e sudoríparas (o que pode causar acne) Aproximadamente na mesma época que o aparecimento de pelos axilares Características Masculinas Idade de Aparecimento Crescimento dos testículos, escroto 10-13,5 Crescimento dos pelos pubianos 12-16 Crescimento corporal 10,5-16 Crescimento do pênis, da próstata, das vesículas seminais 11-14,5 Alteração na voz Aproximadamente na mesma época que o crescimento do pênis Primeira ejaculação de sêmen Aproximadamente um ano depois do início do crescimento do pênis Pelos faciais e axilares Aproximadamente dois anos após o aparecimento de pelos pubianos Características Femininas Idade de Aparecimento Aumento na produção das glândulas sebáceas e sudoríparas (o que pode causar acne) Aproximadamente a mesa época que o aparecimento de pelos axilares Tabela: Sequência Usual de Mudanças Fisiológicas na Adolescência Adolescência e ritual de passagem Os ritos de passagem podem incluir bençãos e rituais religiosos, afastamento da criança da família, desafios rigorosos de força e resistência, sinalização de uma marca no corpo de alguma forma e ainda rituais mitológicos e de magia. Um ritual conhecido realizado em uma idade determinada é o das cerimônias de bar mitzvah (menino) e bat mitzvah (menina) na cultura judaica, que marcam o ritual de chegada dos 13 anos.Nesse ritual, os jovens assumem a responsabilidade de seguir a fé em observância religiosa tradicional. Outro ritual conhecido é a celebração da primeira menstruação de uma moça. Nas tribos Apache, a menarca é comemorada com um ritual religioso de quatro dias de cânticos, que vai do amanhecer ao pôr do sol. Na sociedade ocidental, vamos encontrar alguns marcadores legais para o ingresso na idade adulta. Aos 17 anos, os jovens poderão se alistar nas Forças Armadas. Aos 18 anos (em alguns países aos 16 anos), podem dirigir ou votar. Em muitos países, a maioridade se dá aos 18 anos e um jovem com essa idade pode se casar sem a permissão dos pais. Se usarmos as definições sociológicas, as pessoas podem autodenominar-se adultos quando têm condição de se sustentarem e escolherem uma profissão, quando podem se casar e se apropriar de um relacionamento significativo ou começarem uma família. A palavra “emancipação” significa a libertação ou independência de alguém. No direito brasileiro, a emancipação é o ato que faz com que pessoas se tornem capazes na esfera civil antes de completar 18 anos. A adolescência ao longo dos séculos Os autores Schoen-Ferreira e Aznar-Farias (2010) observam particularidades em diferentes etapas desde a Grécia Antiga até os dias atuais: Na Grécia Clássica As crianças moravam no gineceu até completarem 7 anos. Depois os meninos estudavam em casa com um adulto tutor e recebiam educação severa com ensinamentos cívicos e militares. A maioridade era atingida aos 18 anos, quando o jovem entrava para a efebia: tempo de aprendizado de valores morais e religiosos para se tornar um cidadão. As i té 7 bi d ã i il à meninas até os 7 anos recebiam educação similar à dos meninos. Após esse período, praticavam esportes com o propósito de reforçar a saúde vigorosa para o exercício da maternidade. Não existia adolescência nesse período da história, a fase adolescente ainda não estava delimitada. Na Roma Antiga A criança aos 12 anos vivia uma passagem para um novo estágio, tanto para os meninos quanto para as meninas. Tão logo chegava a puberdade, trocavam as vestes infantis pelas dos adultos. As meninas eram preparadas para casar-se com no máximo 14 anos. Nesse período não existia o conceito de maioridade. Na Idade Média Com o surgimento das comunidades feudais e coletivas, existia um ambiente familiar que possibilitava todos se conhecerem. A criança tinha condições de viver com cuidados maternos, contudo, quando provasse que não precisava mais de cuidados, teria entrada plena no espaço dos adultos. A partir disso, as atividades sociais, jogos, profissões e armas eram comuns a todos sem distinção de idade. Nesse período foram resgatadas as ideias de Platão sobre os ciclos da vida contados de 7 em 7 anos: primeira idade, infância (enfant), de 0 a 7 anos; segunda idade, puertitia, de 7 a 14 anos; terceira idade, adolescência, de 14 a 21 anos. Depois viria a juventude até os 28 anos, a fase adulta que duraria até 50 anos, e em seguida chegaria a velhice, com 50 anos para cima. No Iluminismo O t d Il i i f f ã d Adolescência no século XXI Para Rocha, Faria e Pio (2009), o tempo em que vivemos é um período de velocidade nos avanços tecnológicos e de uma sociedade globalizada e conectada, e os adolescentes estão vivendo nessa modernidade. Como deve ser para um adolescente manifestar sua individualidade em um mundo tão tecnológico e rápido? O tempo novo do Iluminismo oferece a formação de um sentimento e de um tempo de adolescência no século XVIII. Nasce um sentido e uma importância de proteção moral das crianças e de jovens. Nos séculos XIX e XX Cresce, no século XIX, o investimento das famílias nos filhos, pois os pais acreditavam que o filho é o futuro familiar. A fase da infância começa a reconhecer a criança como uma pessoa. A adolescência é reconhecida como uma etapa crítica. Surgem as Ciências Sociais, dentre elas, História, Sociologia, Antropologia e Psicologia, que acabaram por legitimar essa fase humana da vida. No decorrer do século XX, a década de 60 foi muito impactada com mobilizações e uma frequente contestação social. Podemos dizer que a adolescência, como fenômeno social, é um invento da sociedade moderna. Segundo as autoras, existe uma tendência na atualidade de se tornarem mais misturadas as relações entre adolescentes e adultos. As famílias atualmente são menos repressoras do que há 20 e 30 anos e, nesse sentido, existe um diálogo proposto que possibilita uma convivência mais humana, compreensiva e amistosa. Contudo, a dinâmica social cotidiana mostra que, em algumas classes sociais, essa fase da adolescência não é muito destacada. É muito comum, no Brasil, encontrarmos crianças trabalhando informalmente e se ausentando da escola, porque buscam a sobrevivência nas ruas. Antigamente, o adolescente era encaminhado para se dedicar aos estudos, tornando-se capaz de conseguir um emprego e se casar. Nos dias atuais, a nossa sociedade contemporânea identifica uma adolescência prolongada, pois os jovens permanecem mais tempo com os pais e acabam tendo um maior acúmulo de estudo. Mesmo com uma idade biológica de juventude ou vida adulta, não possuem independência financeira e emprego. Existe uma ausência de autonomia. Nossa sociedade mudou. Atualmente, as características fundamentais são o consumo, o imediatismo, a satisfação momentânea dos desejos, os novos arranjos familiares, a velocidade no dia a dia (ROCHA; FARIA; PIO, 2009). Diferentemente de outros tempos, como vimos, nos quais as diferenças entre o que distinguia crianças de adolescentes e de adultos era muito mais demarcado socialmente. Evolução histórica do conceito de adolescência Neste vídeo, a especialista reflete sobre as mudanças do conceito de adolescência ao longo da história, destacando as particularidades dessa fase no século XXI. Confira! Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 O critério da adolescência como um período biopsicossocial que compreende a segunda década da vida, ou seja, dos 10 aos 20 anos, foi adotado pela Organização Mundial de Saúde em 1965. Diversas outras instituições brasileiras utilizam o mesmo critério de idade em suas legislações, como: I. Ministério da Saúde do Brasil; II. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); III. Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Esse mesmo critério é realmente utilizado por: Parabéns! A alternativa A está correta. Em geral, o período da adolescência começa com as mudanças corporais que ocorrem no início da puberdade e termina com os acontecimentos da inserção social, profissional e econômica do jovem na sociedade adulta. Diversas outras instituições brasileiras também utilizam esse critério em suas legislações, entre eles o Ministério da Saúde e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o período da adolescência vai dos 12 aos 18 anos. Questão 2 Sobre a etimologia dos conceitos de puberdade e de adolescência, a palavra "puberdade" vem do latim pubertate, e quer dizer "idade viril". Podemos dizer que o que mais define a puberdade é a A I e II. B I, II e III. C III apenas. D I e III. E II e III. Parabéns! A alternativa B está correta. Também encontramos referência da palavra “puberdade” no verbo pubescere, que significa "cobrir-se de pelos na região púbica". Podemos, então, entender que a palavra puberdade, em geral, está vinculada ao início da adolescência, porque se refere especificamente às mudanças corporais. O termo "adolescência" vem da expressão adolescentia, que está relacionada ao período de crescer, de se desenvolver, ou como diria a filosofia clássica com Aristóteles, a natureza humana em florescimento. 2 - O desenvolvimento cognitivo A alteração de humor. B mudança corporal. C mudança psicológica. D mudança psicossocial. E busca de si mesmo e a identidade.Ao �nal deste módulo você será capaz de identi�car os fundamentos do desenvolvimento cognitivo na adolescência e as abordagens construtivistas aplicadas na Psicologia. Ligando os pontos Cognição? O que é isso? Seria uma escala de quem é mais inteligente? Vamos provocar um pouco essas ideias a partir do caso da nossa aluna Laura, que no auge dos seus 13 anos vivencia a entrada na adolescência e na puberdade. Algumas transformações físicas, no comportamento e no humor se tornaram visíveis para equipe escolar, já que aconteceram de maneira abrupta. Em conselho de classe, os professores manifestaram preocupações com a aluna, tendo em vista que Laura sempre foi uma estudante dedicada, alegre, com bom rendimento escolar, o que não tem ocorrido nos últimos meses. Assim, a equipe multidisciplinar da escola solicitou à família de Laura uma reunião. Desse modo, poderiam conhecer um pouco mais sobre a aluna, assim como saber o que familiares têm percebido sobre o que foi pontuado pelos professores em conselho de classe. Durante a reunião, a mãe de Laura relata que também já havia percebido tais mudanças na filha, mas pensava que “era coisa de adolescente”. Contudo, ela foi percebendo alguns comportamentos em Laura que denotaram certa preocupação, o que a fez levá-la a um psicólogo. A mãe relata que Laura tem tido uma tendência em sempre querer agradar as pessoas, ser “boazinha”, mesmo que algo esteja a desagradando. Por fim, a mãe agradeceu profundamente à equipe escolar pela preocupação com a filha e levou um relatório de todo desenvolvimento de Laura para a psicóloga clínica que está a acompanhando. Após a leitura do caso, é hora de aplicar seus conhecimentos! Vamos ligar esses pontos? Questão 1 No caso apresentado, conhecemos a mãe de Laura e começamos a pensar um pouco sobre os impactos de suas transformações. Laura tornou-se adolescente e isso chamou a atenção em casa e na família. Na sua opinião, qual seria a atitude correta de um psicopedagogo nesse caso? Parabéns! A alternativa C está correta. Laura participa de vários sistemas sociais como a escola, a casa, a relação com amigos e família. Investigar tais sistemas e entender as condições do sujeito é vital na ação de um psicopedagogo. Questão 2 Imaginemos a seguinte situação: em uma discussão entre a equipe multidisciplinar a partir das informações trazidas pela mãe de Laura, uma das profissionais levantou a hipótese de ser algo relacionado ao desenvolvimento moral. Então, ela passou para as colegas por aplicativo de mensagem um texto sobre o assunto que começava assim: “Ele apontou que por meio de um processo maturacional e interativo, todas as pessoas têm a capacidade de chegar à plena competência moral. Em seu estudo principal, entrevistou 72 garotos de 10, 13 e 16 anos dos arredores de Chicago. Apresentava-lhes uma série de dilemas morais e esses o explicavam como chegavam às soluções, sendo que chegou a acompanhar alguns dos sujeitos por cerca de 20 anos.” (RAVELLA, 2010, p. 12) A Encaminhar Laura ao psicólogo. B Oferecer a Laura a mudança de turma. C Investigar a situação social de Laura. D Aconselhar os professores a deixar Laura, pois isso era da idade. E Convencer Laura a mudar de postura. Alguns colegas gostaram e começaram a discutir como fazer a abordagem de tal questão. A iniciativa compartilhada pela professora pode ser entendida: Parabéns! A alternativa A está correta. O psicopedagogo, em comum acordo com a equipe, deve estar atento a investigar e trocar ideias com os colegas para ajudar a definir o planejamento, a organização e as intervenções, caso necessário. Questão 3 No que se refere ao desenvolvimento cognitivo da aluna Laura, a mãe em reunião com a equipe escolar pontua um aspecto importante sobre a forma com que a filha tem se relacionado com os outros em prol do seu desejo, buscando sempre agradar e ser boa com quem se relaciona. Por esse e outros motivos, Laura encontra-se em acompanhamento psicoterápico. Com relação ao desenvolvimento cognitivo, uma das características da adolescência é a capacidade de pensar de forma abstrata. Na sua opinião, como isso afeta o comportamento de Laura? Justifique sua resposta. A Uma maneira contemporânea de discutir e investigar a situação do aluno, algo importante a equipe. B Uma invasão ao trabalho das colegas, afinal não é responsabilidade delas esse tipo de abordagem C Uma mera consideração genérica, afinal não cabe à equipe investigar. D A geração de um diagnóstico e a chance de explicar para a mãe o que fazer. E Uma explicação definitiva e precisa do que a aluna tem e o tratamento a ser adotado. Digite sua resposta aqui Chave de resposta A adolescência é o momento em que o jovem amplia sua capacidade cognitiva, de modo que seja capaz de pensar de forma mais abstrata e gerar hipóteses. Isso afeta a maneira de julgar e perceber situações, assim como de se comportar. Laura, de 13 anos, apresenta uma preocupação em ser boa e agradar aos outros, indo ao encontro com o relato da mãe à equipe escolar sobre o comportamento da filha. A isso chamamos de julgamento moral, conforme a teoria de Kolberg, que conheceremos ao longo do módulo. Importância e fases da adolescência no desenvolvimento Importância da adolescência O processo de industrialização nas sociedades modernas deixou o período da adolescência um pouco mais complexo, pois o tempo entre a infância e a idade adulta foi sendo alongado. Segundo Carvalho (2015, p. 61) “existe um interesse em deixar um número razoável de pessoas fora do mercado de trabalho. Isso daria a elas condições para fazer a reciclagem da mão de obra, sem precisar criar um número muito grande de novas vagas e empregos”. Com essa argumentação, alguns teóricos analisam que a adolescência não passa de uma invenção social. Carvalho (2015) diz que existem outros teóricos que defendem que a adolescência seria um estágio de desenvolvimento do ego pessoal e das funções cognitivas. Os argumentos nos fazem pensar que o fato de esse conceito não ter sido considerado ao longo da história da humanidade não quer dizer que esse período de desenvolvimento não exista. Nesse sentido, a adolescência poderia ser um período no qual o indivíduo teria que realizar várias tarefas para continuar o desenvolvimento harmonioso do ego. Entre elas estão a definição da identidade, a escolha vocacional e a autonomia moral. Como veremos neste módulo, as fases da adolescência apresentam uma evolução com mudanças marcantes na cognição e no julgamento. Fases da adolescência Sobre as fases da adolescência, podemos considerar: Baixa adolescência A adolescência inicial, também chamada de baixa adolescência, inclui a puberdade. Nas meninas, pode ocorrer entre 11 e 12 anos e nos meninos, entre 12 e 13 anos. A atenção e as energias do adolescente inicialmente são absorvidas pela problemática narcisista, isto é, a reestruturação do esquema corporal e a conquista da identidade. O outro sexo é percebido como perigoso. O adolescente se relaciona em maior grau com indivíduos de seu próprio sexo. A família continua a ser o centro da vida do adolescente, embora ele comece a desprender-se dela. Adolescência A adolescência propriamente dita compreende o período entre 12-13 e 16 anos. É o estágio no qual se constrói a identidade sexual definitiva e se desenvolve a identidade pessoal. O desenvolvimento corporal reduziu seu ritmo e o indivíduo vai adquirindo proporções adultas. A pessoa tem interesse pelo sexo oposto e forma grupos heterossexuais de amigos para frequentar diversas atividades para se aproximar do outro sexo. Nesse período, ocorre um distanciamento afetivo da família, que vai deixando de ser o centro da existência da pessoa. Na tentativa de se tornar independente dos pais, são frequentes os atos de rebeldia do adolescente. Final do período O final do período adolescente é difícil de ser situado no tempo. Varia de acordo com critérios adotados como maisimportantes, como a inserção no mundo do trabalho, a responsabilidade legal, a separação dos pais e a capacitação profissional. É uma fase de consolidação e ensaio de modos de vida e de relacionamento com os demais. É o período da escolha e da decisão vocacional. A escolha de uma carreira ou de uma profissão é um dos problemas mais importantes da existência humana. As fases do desenvolvimento cognitivo Desenvolvimento cognitivo Paralelamente às mudanças físicas ocorrem as mudanças de pensamento. Embora “o pensamento dos adolescentes possa permanecer imaturo em diversos aspectos, eles são capazes de raciocinar de maneira abstrata e fazer juízos morais sofisticados, além de poderem planejar o futuro de maneira mais realista” (PAPALIA et al., 2009, p. 455). A teoria de Piaget e as operações formais Segundo Piaget, o desenvolvimento intelectual da criança se processa por meio de uma série de estágios e cada estágio é identificado com base em uma estrutura cognitiva específica. Nesse contexto, os quatro estágios principais, obedecendo a uma ordem sequencial, são: sensório-motor; pré-operatório; operações concretas; e operações formais. Os adolescentes iniciam seu nível mais elevado de desenvolvimento cognitivo, entrando no estágio das operações formais, que seria a capacidade de elaborar um pensamento abstrato. Essa etapa geralmente é alcançada em torno dos 11 anos e oferece um modo novo e mais flexível de manipular as informações (PAPALIA et al., 2009). Nesse estágio, são capazes de compreender o tempo histórico e o espaço extraterrestre, por exemplo. Podem utilizar símbolos para representar outros símbolos (X e Y nas equações matemáticas) e com isso aprender álgebra e cálculo. Podem entender melhor uma metáfora e uma alegoria e compreender os significados mais elaborados da literatura. Podem imaginar possibilidades e gerar hipóteses. Para Piaget, as transformações emocionais que acontecem na adolescência dependem das transformações cognitivas, e uma das grandes mudanças no estágio de desenvolvimento operatório formal é o surgimento do pensamento hipotético-dedutivo. Exemplo Um bom exemplo da evolução para o estágio das operações formais é o problema do pêndulo piagetiano clássico, que comparativamente mostra o progresso de uma criança até a adolescência. Problema do pêndulo de Piaget. Dilema Um pêndulo pendurado em um fio que pode mudar sua trajetória com quatro fatores: o comprimento do fio, o peso do objeto, a altura da qual o objeto é solto e a quantidade de força que pode ser usada para empurrar o objeto. Que fator ou que combinação de fatores determinam a rapidez com que o pêndulo balança? Experimento O adolescente é capaz de abordar o problema de maneira sistemática, montando um experimento para testar todas as hipóteses possíveis. Dessa forma, ele é capaz de determinar que apenas um fator — o comprimento do fio — determina a rapidez de oscilação do pêndulo. Conclusão Por meio do raciocínio hipotético-dedutivo, o adolescente consegue desenvolver uma hipótese e criar um experimento para testá-la. O raciocínio hipotético-dedutivo lhe oferece um instrumento para solucionar problemas. Ele adquire a capacidade de ultrapassar, pelo pensamento, situações vividas e a projetar ideias para o futuro. Na atualidade, os estudos microgenéticos que avaliam o comportamento e a resolução de problemas confirmaram a análise de Piaget sobre como as operações concretas (dos 7 aos 12 anos) diferem das operações formais (a partir dos 12 anos). Segundo Piaget, essa mudança é o resultado de um misto de maturação cerebral e de expansão das oportunidades ambientais. Ambas são essenciais, pois mesmo com o desenvolvimento neurológico dos jovens e sua evolução rápida que permite o raciocínio formal, eles só podem alcançá-lo com estimulação ambiental apropriada. Uma forma de isso acontecer é mediante o esforço cooperativo. Piaget reconheceu que a escolaridade e a cultura podem desempenhar um papel importante no desenvolvimento humano (PAPALIA et al., 2009). A teoria de Elkind e a imaturidade do adolescente O psicólogo David Elkind, com base em seu trabalho clínico com adolescentes e inspirado no trabalho de Piaget, caracterizou as atitudes e comportamentos imaturos que podem ser provenientes dos pensamentos abstratos dos adolescentes (PAPALIA et al., 2009). Ele ressaltou algumas atitudes observáveis: Os adolescentes estão sempre encontrando oportunidades para testar e exibir suas recém-descobertas habilidades de raciocínio. Muitos adolescentes têm problemas para se decidir em relação a coisas simples, escolhas pessoais e dilemas mais elaborados. Tendência a discutir Indecisão Os adolescentes percebem que os adultos, que antes eram venerados, estão muito aquém de seus ideais. Os jovens adolescentes, muitas vezes, não reconhecem a diferença entre expressar um ideal e fazer os sacrifícios necessários para viver de acordo com ele, embora atitudes altruístas e de heroísmo sejam comuns nesse período. Funciona como um público imaginário, um "observador" mentalmente criado que está muito preocupado com pensamentos e comportamentos. Os adolescentes, muitas vezes, supõem que todo mundo está pensando sobre a mesma coisa que eles, ou seja, sobre si mesmos. A fantasia do público imaginário é particularmente forte nos primeiros anos da adolescência. Refere-se à crença dos adolescentes de que são especiais, de que sua experiência é única e de que não estão sujeitos às regras que regem o resto do mundo. Segundo Elkind, esse tipo especial de egocentrismo está na base de muitos comportamentos arriscados e autodestrutivos. A teoria de Kohlberg e o julgamento moral Vamos pensar no seguinte dilema: Encontrar defeitos nas figuras de autoridade Hipocrisia aparente Autoconsciência Suposição de invulnerabilidade Dilema de Kohlberg criado em 1969: Uma mulher está próxima da morte por câncer. Um farmacêutico descobriu um remédio que os médicos acham que poderia salvá-la. O farmacêutico está cobrando 2 mil dólares por uma pequena dose do remédio — 10 vezes mais do que lhe custa para fabricá-lo. O marido da mulher enferma, Heinz, pede dinheiro emprestado a todos que conhece, mas só consegue reunir mil dólares. Ele implora ao farmacêutico que venda o remédio por mil dólares ou que lhe permita pagar o resto posteriormente. O farmacêutico recusa, dizendo: “Eu descobri o remédio e pretendo lucrar com ele”. Em desespero, Heinz arromba a loja do homem e rouba o remédio. Julgamento moral: Heinz deveria ter feito isso? Por que sim ou por que não? O desenvolvimento moral proposto nos exercícios da teoria de Kohlberg guardam certa semelhança com a teoria de Piaget, mas seu modelo é um pouco mais complexo. Ele estabelece três níveis de julgamento moral, cada um dividido em dois estágios (PAPALIA et al., 2009). Assim, podemos reconhecer os seguintes níveis de desenvolvimento moral segundo Kohlberg: Saiba mais Posteriormente, Kohlberg acrescentou um nível de transição entre os níveis II e III, que se refere a momentos nos quais as pessoas não se sentem mais tão limitadas pelos padrões morais da sociedade, mas Nível I Moralidade pré-convencional. As pessoas agem sob os controles externos: obedecem a regras para evitar punição, para obter recompensas ou por interesse próprio. Esse nível é típico de crianças de 4 a 10 anos de idade. Nível II Moralidade convencional (ou moralidade de conformidade ao papel convencional). As pessoas internalizaram os padrões de figuras de autoridade: preocupam-se em ser "boas", em agradar aos outros e em manter a ordem social. Esse nível geralmente é alcançado depois dos 10 anos; muitas pessoas nunca o superam, mesmo na idade adulta. Nível III Moralidade pós-convencional (ou moralidade dos princípios morais autônomos). As pessoas agora reconhecem conflitos entre os padrões morais e fazem seus próprios julgamentos com base nos princípios de correção, de imparcialidadee de justiça. As pessoas geralmente só chegam a esse nível de julgamento moral pelo menos no início da adolescência ou mais comumente no início da idade adulta, podendo nunca o atingir. ainda não conseguem desenvolver princípios de justiça de origem racional. Ao contrário disso, baseiam suas decisões morais em sentimentos pessoais. Uma das razões que tornam as idades associadas aos níveis de Kohlberg tão variáveis é que existem fatores além da cognição, como o desenvolvimento emocional e as experiências de vida, que podem influenciar os nossos julgamentos morais. Mesmo as pessoas que alcançaram um alto nível de desenvolvimento cognitivo nem sempre parecem alcançar um nível comparavelmente alto de desenvolvimento moral. Veremos que certo nível de desenvolvimento cognitivo é necessário na adolescência, mas ainda assim os níveis de julgamento moral poderão não ser comparáveis com a cognição (PAPALIA et al., 2009). A escolha vocacional Questões vocacionais e pro�ssionais Já sabemos que a escola é a “experiência organizadora central” na vida acadêmica e social da maioria dos adolescentes. Ela oferece oportunidades para que informações sejam adquiridas, para dominar novas habilidades e aperfeiçoar as que foram adquiridas, para se engajar e participar de atividades esportivas, artísticas e de outra natureza. Especialmente, são preocupações dessa fase o desejo de explorar o conhecimento sobre as opções vocacionais e a vontade de estar entre amigos. A escola amplia os horizontes intelectuais e sociais. Para alguns adolescentes, entretanto, a escola não é uma oportunidade, e sim mais um obstáculo no caminho para a idade adulta (PAPALIA et al., 2009). De acordo com Griffa e Moreno (2001), a escolha de uma carreira ou profissão é muito importante, chegando a ser vital para o adolescente. Pela primeira vez ele irá tomar uma decisão pessoal em relação a um dos direcionamentos mais importantes para a sua existência: o caminho profissional ou da sua ocupação. Esse momento de escolha exige o conhecimento das próprias atitudes, dos seus interesses e dos seus valores, além do autoconhecimento das características da sua personalidade, suas possibilidades e seus limites. Na escolha profissional-ocupacional, deverá ser considerado o plano ou o estilo de vida escolhido, além das características da profissão a ser desempenhada e a sua abrangência social. A influência de pais amigos é positiva quando orientam e oferecem modelos profissionais ou ocupacionais sem exercer pressões. O êxito ou fracasso dessa escolha afeta profundamente o desenvolvimento pessoal de cada indivíduo, além de repercutir na sociedade à qual ele pertence. Por esse motivo a orientação profissional não pode ser reduzida apenas à aplicação de provas ou testes psicométricos e de interesses. Deverá ser um processo longo, integrado por pais, docentes e amigos, e vinculado à história das habilidades do indivíduo e ao próprio processo educativo. Importância da escolha vocacional A especialista reflete agora sobre a importância da escolha vocacional na vida do adolescente e suas implicações, além de destacar os fatores mais importantes que podem facilitar ou dificultar esse processo. Confira! Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Em qual dos estágios cognitivos de Piaget e seu modelo de transformações intelectuais está contida a fase da adolescência, a partir dos 12 anos? A Estágio sensório-motor Parabéns! A alternativa D está correta. Segundo Piaget, o desenvolvimento intelectual da criança se processa por meio de uma série de estágios e cada estágio é identificado com base em uma estrutura cognitiva específica. No estágio de operações formais, normalmente a partir dos 11 ou 12 anos, ocorre a passagem do pensamento concreto para o pensamento abstrato, e desenvolve-se a capacidade de generalização própria do pensamento adulto. Os jovens adolescentes já são capazes de lidar com conceitos como justiça e liberdade, de criar teorias a respeito do mundo e têm a tendência a ler a realidade de acordo com seus próprios sistemas de interpretação. Questão 2 O termo “construtivismo” vem da teoria do desenvolvimento cognitivo de Piaget (1999) e também é conhecido como cognitivismo, porque o verdadeiro conhecimento é fruto de uma elaboração (construção) pessoal, resultado de um processo interno de pensamento durante o qual o sujeito coordena diferentes noções entre si, atribuindo-lhes um significado, organizando-as e relacionando-as com outras anteriores. Esse processo é inalienável e intransferível. No estágio das operações formais, o adolescente tem as seguintes capacidades: I. Elaborar um pensamento abstrato. II. Utilizar símbolos para representar outros símbolos. III. Incapacidade de compreender o tempo histórico. IV. Imaginar possibilidades e gerar hipóteses. B Estágio pré-operatório C Estágio de operações concretas D Estágio de operações formais E Estágio pré-sensório São capacidades do adolescente no estágio das operações formais as abordadas em Parabéns! A alternativa C está correta. Os adolescentes iniciam seu nível mais elevado de desenvolvimento cognitivo, entrando no estágio das operações formais, que seria a capacidade de elaborar um pensamento abstrato. Essa etapa geralmente é alcançada em torno dos 11 anos. São capazes de compreender o tempo histórico e o espaço extraterrestre, por exemplo; podem utilizar símbolos para representar outros símbolos (X e Y nas equações matemáticas) e com isso aprender álgebra e cálculo; podem entender melhor uma metáfora e uma alegoria e compreender os significados mais elaborados da literatura; e podem imaginar possibilidades e gerar hipóteses. A I, II, III. B I, III e IV. C I, II e IV. D I e III. E II e IV. 3 - Desenvolvimento psicossocial Ao �nal deste módulo, você será capaz de distinguir as teorias do desenvolvimento psicossocial e as interpretações psicanalíticas da busca da identidade no período da adolescência. Ligando os pontos Será que Laura, de 13 anos, que vem enfrentando mudanças de comportamento e queda de rendimento escolar tem de fato algum problema ou essa é apenas uma fase chata da adolescência? Vamos pensar um pouco sobre isso. Para muitos, o período da adolescência é visto como uma fase do desenvolvimento conturbada, chamada muitas vezes de forma pejorativa de “aborrecência”, na qual o jovem vivenciaria um caminho de mudanças e conflitos. Entretanto, vamos propor algumas reflexões e questionamentos para que você possa ter uma visão mais completa do que é ser adolescente em sua dimensão psicossocial. Seguimos tentando compreender de forma mais holística os aspectos que atravessam o desenvolvimento da aluna Laura, que tem no espaço escolar a possibilidade de acolhimento de todos que a cercam, juntamente com sua família. A equipe escolar a convidou para uma conversa, a fim de ofertar acolhimento para que a aluna sentisse mais segura e pertencente a esse espaço. Assim, Laura começou a relatar à equipe que nos últimos meses tem tido alguns conflitos com seus pais, principalmente com sua mãe. Esses conflitos, por sua vez, têm grande relação com a “superproteção” da mãe com a filha, não permitindo que Laura vá a determinados lugares com os amigos, como a pracinha próxima à sua residência ou mesmo a lanchonete ao lado de sua casa. Apesar dos apontamentos relatados pela escola e pela mãe, Laura vem se sentindo “sufocada” pela relação familiar, o que tem impactado na sua autonomia. O caso apresentado denota em muitas vezes uma realidade das famílias, que traduzem as questões implícitas na formação da personalidade do adolescente, como conflitos nas relações familiares e nas relações interpessoais. Após a leitura do caso, é hora de aplicar seus conhecimentos! Vamos ligar esses pontos? Questão 1 A mãe de Laura, depois da primeira conversa, passou a se fazer presente o tempo todo, e a sinalizar de forma ostensivaa necessidade de cuidar de sua filha e protegê-la. Com relação ao desenvolvimento psicossocial, você enquanto psicopedagogo, qual das alternativas abaixo escolheria para conversar com a mãe de Laura? A Proteger Laura é importante, pois, nessa fase, devido às más companhias, os adolescentes podem perder o rumo na vida. B Sugerir que a mãe deixe Laura livre, sem qualquer supervisão, para que possa encontrar seu caminho. C Sugerir uma supervisão mediada pelo psicólogo e pela escola. Parabéns! A alternativa D está correta. O papel do psicopedagogo é fundamental no processo de escuta e mediação. No entanto, é preciso sempre questionar seus próprios valores e preconceitos, abrindo espaço para uma escuta saudável no fortalecimento de laços que possam contribuir para o desenvolvimento das relações entre o adolescente, a escola e a família. A adolescência é uma fase de construção de identidade que se dá no processo das relações, sejam elas na escola, na família ou com amigos. É preciso ter atenção para que a superproteção não resulte no isolamento do indivíduo, prejudicando seu desenvolvimento. Questão 2 Um dos focos da equipe e do psicopedagogo é esclarecer, elucidar, iluminar. Nesse sentido, uma abordagem que pode ser interessante é explicar sobre: D Explicar que, nessa fase de construção de identidade, é importante que Laura se relacione com amigos para a construção de sua identidade. E Exigir um relatório da psicóloga que acompanha Laura. A A necessidade de espaço para as mulheres e os cuidados necessários na adolescência. B A necessidade de romper os laços familiares para tornar-se adulto. C A tensão crítica entre mãe e filha no mesmo ninho e a necessidade de superproteção. D As características do desenvolvimento e como ele pode ser encaminhado pela família. E Liberar mãe e filha aconselhando para que busquem melhorar sua relação, já que não é assunto para Parabéns! A alternativa D está correta. O estudo do desenvolvimento na adolescência, relembrando e explicando as fases e as dificuldades, pode ser uma boa abordagem para a compreensão dos fenômenos vividos. Pode também auxiliar ambas, mãe e filha, a enfrentarem os desafios e passarem tal fase buscando sempre o desenvolvimento saudável do indivíduo. Questão 3 Os apontamentos a respeito da adolescente Laura nos propõem a refletir sobre a importância das relações familiares e interpessoais na construção da personalidade, na formação dos vínculos e no desenvolvimento psicossocial positivo. Pensando em uma perspectiva de adolescência saudável, quais aspectos importantes devem ser pontuados com os pais de Laura sobre as queixas apresentadas pela aluna, com a intervenção da psicologia escolar? Digite sua resposta aqui Chave de resposta Compreendemos que o desenvolvimento psicossocial positivo seja resultado não só das vivências no período da adolescência, como também de bases de uma infância saudável e sólida. Sendo assim, a equipe escolar, juntamente com a psicóloga, poderá realizar uma ação interventiva com a família, pontuando que Laura anseia por liberdade, e o excesso de proteção traduz uma certa insegurança no comportamento da filha. É importante priorizar um ambiente familiar em que os pais compreendam a necessidade de singularidade do adolescente, como também a importância de ofertar oportunidades para Laura vivenciar novas responsabilidades, com apoio e proteção adequada dos pais. escola. Vivências na adolescência Com a palavra, uma adolescente: Anne Frank Com uma percepção muito consciente de seu despertar sexual, Anne escreveu: Eu acho o que está acontecendo comigo tão maravilhoso, e não apenas o que pode ser visto em meu corpo, mas tudo que está acontecendo dentro de mim... Cada vez que menstruo... tenho a sensação de que... tenho um doce segredo, e... eu sempre anseio por momentos em que sinta esse segredo dentro de mim outra vez. (FRANK, 1958, p. 115-116) Anne Frank (1929-1945) era filha de pais judeus e passou a se esconder com a sua família nos andares superiores do prédio ocupado pela empresa farmacêutica do pai quando, no verão de 1942, os nazistas começaram a reunir os judeus holandeses para enviá-los para os campos de concentração. Foi no aniversário de 13 anos, em 12 de junho de 1942, que Anne recebeu de seus pais um diário. Esse pequeno volume encadernado com tecido foi o primeiro dos diversos cadernos nos quais Anne pôde registrar suas experiências e suas reflexões durante os dois anos seguintes. Ela jamais poderia imaginar que seus apontamentos se tornariam um dos mais célebres relatos publicados sobre as vítimas do Holocausto durante a Segunda Guerra Mundial. Anne Frank, 1942. Mesmo sendo judia, vivendo em confinamento por dois anos e em plena Segunda Guerra Mundial, Anne nos revela, em seu diário, pensamentos, sentimentos, devaneios e alterações de humor de uma adolescente comum. Uma menina introspectiva e bem-humorada amadurecendo sob condições traumáticas. A estranheza da maioridade A adolescência é uma época de oportunidades e de riscos, segundo Papalia et al. (2009). Os adolescentes estão no limiar do amor, da vida profissional e da participação na sociedade adulta. Mas a adolescência também é uma época em que alguns jovens se comportam de maneiras que excluem opções e limitam suas possibilidades. Alguns fatores físicos e cognitivos, como a aparência e o desempenho escolar contribuem para a elaboração de um senso de identidade nos adolescentes. Os aspectos psicossociais da busca de identidade são muito relevantes, pois os adolescentes conciliam-se com sua sexualidade. A individualidade florescente dos adolescentes se expressa nos relacionamentos com os pais, com os irmãos e com os amigos. Identidade e adolescência Desenvolvimento psicossocial do adolescente: teorias Segundo Papalia et al. (2009), Freud sustentava que as experiências da infância e da adolescência moldavam permanentemente a personalidade em estágios psicossexuais. Por sua vez, Piaget destacava a importância do desenvolvimento da autonomia nas decisões alcançada pelos estágios cognitivos, que levaria o adolescente a escolhas responsáveis. Na visão psicanalítica de Erikson (1902-1994), o desenvolvimento do ego é vitalício, passando por estágios que envolveriam "crises" na personalidade. Essas crises que surgem de acordo com um cronograma de maturação devem ser satisfatoriamente resolvidas para um saudável desenvolvimento do ego. Vamos conhecer melhor algumas perspectivas teóricas na compreensão do desenvolvimento psicossocial na adolescência. A teoria psicossocial de Erikson Erik Erikson (1902-1994) aprofundou a teoria Freudiana elaborando uma teoria sobre o desenvolvimento da personalidade. A adolescência, para Erikson, é um período nomeado como “moratória psicossocial”. Nesse tempo, o indivíduo pode se preparar para a autonomia ao mesmo tempo que ainda recebe da família apoio, orientação e proteção, e não é tão exigido socialmente como um adulto. Contudo, é um tempo de dependência, no qual o adolescente pode ensaiar modos de viver e de se relacionar com as pessoas, pode testar suas capacidades e seus limites. Os compromissos com a vida adulta são adiados, pois será um tempo de reflexão para integrar a identidade do ego (GRIFFA; MORENO, 2001). A crise de identidade raramente se resolve de forma plena na adolescência, essas questões relativas à identidade aparecerão repetidas vezes durante a vida adulta. Para Erikson, os adolescentes não formam sua própria identidade tomando outras pessoas como modelo. Isso acontece com crianças mais jovens. Para formar uma identidade, os adolescentes devem afirmar e organizar suas habilidades, seus interesses, suas necessidades e seus desejos para que eles possam ser expressos em um ambiente social. Papalia et al. (2009) afirma que Erikson achava perigosa a fase da confusão de identidade, a qual poderia retardar muito a conquista da maturidade psicológica, chamando esse evento de “adolorosa autoconsciência dos adolescentes”. As “panelinhas”, a intolerância e a infantilidade — que são marcos do ambiente social da adolescência — atuam como defesas contra a confusão de identidade. Efetivamente, a identidade se forma a partir da resolução de três questões importantes: A escolha de uma ocupação A adoção de valores nos quais acreditar e pautar o seu viver O desenvolvimento de uma identidade sexual satisfatória Nesse período da moratória psicossocial — um período de adiamento que a adolescência oferece —, muitos jovens procuram formas de se comprometer com fidelidade. Papalia et al. (2009) acredita que o grau de fidelidade dos jovens a esses comprometimentos influencia sua capacidade de resolver a crise de identidade. A fidelidade nesse caso é lealdade, fé em um conjunto de valores, uma ideologia, uma religião, um movimento político, uma busca criativa ou um grupo étnico. Um sentimento de pertencer a alguém a quem se ama ou a amigos e a companheiros. A teoria de Elkind Elkind elaborou um conjunto de consequências derivadas do desenvolvimento cognitivo do adolescente segundo Piaget (LOCATELLI, 2004): Capacidade de lidar com a lógica combinatória O adolescente é capaz de lidar com a lógica combinatória e resolve problemas com muitos fatores ao mesmo tempo. Em situações sociais, ele pode analisar as alternativas para solucionar um problema, mas tem dificuldade em decidir. Não aceita mais de forma passiva a escolha dos pais. Capacidade de usar a introspecção O adolescente é capaz de encarar seu próprio pensamento como um objeto e pensar sobre ele, o que quer dizer que pode usar da introspecção. Eles são mais flexíveis e as palavras podem ter duplo sentido. Mas isso gera uma preocupação com a reação dos outros em relação a si próprio. Pode criar disfarces sociais para obter uma imagem pública mais favorável. Existem duas formas de desenvolver a identidade, para Elkind: A primeira, e mais saudável, é um processo de diferenciação e de integração: tornar-se consciente dos muitos aspectos em que se é diferente dos outros e depois integrar essas partes distintivas de si mesmo em um todo unificado e único. Capacidade de construir ideias O pensamento do adolescente apresenta a capacidade de construir ideias e de racionar em situações de contrariedade. Ele está habilitado a pensar em uma família ideal, uma religião ideal e uma sociedade ideal. Pode ser levado a criticar a realidade e a sociedade em que vive. (PAPALIA et al., 2009, p. 482) Esse processo de introspecção exige tempo e reflexão, mas quando uma pessoa desenvolve seu senso de identidade dessa forma é quase impossível de ele se romper. O segundo caminho, inicialmente mais fácil, é o da substituição: substituir, de forma infantil, um conjunto de ideias e de sentimentos a seu próprio respeito por outro simplesmente adotando as atitudes, as crenças e os comprometimentos de outras pessoas como seus. (PAPALIA et al., 2009, p. 483) O senso de identidade construído principalmente pelo processo da substituição é o que Elkind chama de identidade de colcha de retalhos, um self construído a partir de pedaços e de partes, muitas vezes, conflitantes. Adolescentes com identidades "em retalhos" tendem a apresentar fraca autoestima. Apresentam dificuldade para lidar com a liberdade, com as frustrações, perdas e fracassos. Podem ter um perfil ansioso. São altamente suscetíveis à influência externa e altamente vulneráveis ao estresse, pois não possuem bússola interior, nenhum senso distintivo de direção para se orientar. Elkind atribui os aumentos no abuso de drogas, na violência com armas, no comportamento sexual de risco e no suicídio na adolescência ao número crescente de jovens que possuem elementos da identidade de colcha de retalhos. Se os jovens virem seus pais agindo segundo princípios sólidos e arraigados, terão mais chances de desenvolver seus próprios princípios sólidos e arraigados. Uma criação democrática pode ajudar se os pais mostrarem aos adolescentes modos efetivos de lidar com o estresse, assim, os jovens tenderão menos a sucumbir às pressões que ameaçam sua identidade de colcha de retalhos. Os relacionamentos na adolescência Relacionamentos na sociedade adulta: rebeldia, família e amigos Os adolescentes passam muito mais tempo com os amigos e menos com a família. Entretanto, os valores fundamentais da maioria dos adolescentes permanecem mais parecidos com os de seus pais do que geralmente se percebe. Contudo, o período da adolescência é chamado de época de rebeldia adolescente. Nesse período existe uma turbulência emocional, podem acontecer muitos conflitos com a família, alienação da sociedade adulta, comportamento imprudente e rejeição dos valores dos adultos. Saiba mais Pesquisas realizadas com adolescentes nos Estados Unidos e em outros países, contudo, sugerem que menos de 20% dos adolescentes — pelo menos entre os que permanecem na escola — se encaixam nesse padrão. A ideia da rebeldia adolescente pode ter nascido na primeira teoria formal da adolescência, do psicólogo G. Stanley Hall, que acreditava que um grande esforço era feito pelos jovens para se adaptarem a seus corpos durante a transformação. Esse processo adaptativo promovia, junto com as demandas da idade adulta, um período de "tormenta e de estresse", o que produz o conflito entre as gerações (PAPALIA et al., 2009). Rebeldia adolescente: um mito? Con�ito familiar Da mesma forma como os adolescentes sentem tensão entre a segurança e a dependência dos pais e uma latente necessidade de se libertar, os pais também terão sentimentos confusos. Eles desejam que seus filhos sejam independentes, mas têm dificuldade de “deixá-los seguirem”. Os pais precisam saber distinguir entre oferecer aos adolescentes independência suficiente e protegê-los de momentos de imaturidade e impulsividade. Essas tensões costumam gerar muitos conflitos familiares, e os estilos parentais de criação podem influenciar na forma e no resultado das relações afetivas (PAPALIA et al., 2009). Grande parte dos conflitos familiares acontecem durante o processo de desenvolvimento dos adolescentes e sua intenção de independência. É comum observarmos discussões entre os adolescentes e seus pais e isso costuma se concentrar no grau de liberdade que os adolescentes podem receber para planejar suas próprias atividades. A maioria das discussões está relacionada muito mais a questões cotidianas do que a valores fundamentais. Entretanto, algumas dessas questões do cotidiano podem se transformar em grandes preocupações, como o uso de drogas, a direção segura e a proteção na prática sexual. Amizades As amizades são fundamentalmente diferentes dos relacionamentos familiares. Elas são mais igualitárias do que as relações entre pais e filhos e com irmãos, que geralmente são mais velhos ou mais jovens. As amizades baseiam-se em escolha e comprometimento. Pelo mesmo motivo, são mais instáveis do que os relacionamentos familiares. O tempo passado com amigos é provavelmente maior na adolescência do que em qualquer outra época da vida, por isso a sua intensidade e a sua importância. As amizades na adolescência tornam-se mais recíprocas, pois envolvem a importância da lealdade e o compartilhamento de confidências. A intimidade, a lealdade e o compartilhamento são características da amizade adulta. A intimidade com amigos do mesmo sexo aumenta durante o processo da adolescência e depois normalmente diminui à medida que a intimidade com o sexo oposto aumenta. A maior intimidade da amizade adolescente reflete o desenvolvimento cognitivo. Saiba mais Na atualidade, os adolescentes são mais capazes de expressar seus pensamentos e seus sentimentos privados. Também sabem considerar mais o ponto de vista de outra pessoa e, assim, é mais fácil para eles assimilarem os pensamentos e os sentimentos de um amigo. Maiores intimidade e introspecção também refletem o interesse dosadolescentes em se reconhecerem e se afirmarem. A capacidade de intimidade está relacionada com a adaptação psicológica e a competência social. Os adolescentes que têm amizades próximas, estáveis e apoiadoras geralmente têm uma opinião favorável a seu próprio respeito, saem-se bem na escola, são sociáveis e tendem a não ser hostis, ansiosos ou deprimidos (PAPALIA et al., 2009). Desenvolvimento psicossocial positivo Perspectivas para a adolescência saudável É difícil imaginar um período de desenvolvimento humano caracterizado por mudanças psicossociais tão intensas quanto a adolescência. O indivíduo que entra na puberdade e chega na adolescência é altamente dependente dos pais. Mesmo com amigos, família e um ambiente escolar engajado, em sua maioria, os adolescentes ainda carecem de intimidade e profundidade. No final dos anos de adolescência, no entanto, se tudo correr bem, o indivíduo adquire um senso de independência saudável e responsável, além de senso de identidade e a capacidade de desenvolver relacionamentos profundos e significativos com amigos e parceiros românticos. Embora o desenvolvimento psicossocial positivo seja construído a partir de uma base sólida na infância, as experiências durante os anos da adolescência também são importantes. Os principais ingredientes para o desenvolvimento psicossocial bem-sucedido são: Um ambiente familiar em que os pais sejam responsivos e apoiem a necessidade de individuação do adolescente. Envolvimento em uma rede social de pares de sexo oposto e do mesmo sexo, que estejam em uma trajetória de desenvolvimento psicossocial saudável. Oportunidades para experimentar e explorar novas responsabilidades e relacionamentos. Responsividade, na Psicologia, refere-se a atitudes compreensivas que visam, por meio do apoio emocional e da bidirecionalidade na comunicação, favorecer o desenvolvimento da autonomia e da autoafirmação. Os relacionamentos e a adolescência saudável Veja agora uma reflexão sobre a importância dos relacionamentos com amigos e familiares e suas implicações para o desenvolvimento de uma adolescência saudável. Vamos lá! Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 A adolescência para o psicanalista Erik Erikson é um período de preparação do indivíduo para um patamar de autonomia. Com um conceito introduzido por Erikson, podemos entender que na adolescência se acentua a necessidade de um tempo de reflexão, um adiamento para integrar os elementos da identidade do ego. Assim, os compromissos que levam à vida adulta são adiados. Qual o nome dado por Erikson a este conceito? A Colcha de retalhos B Síndrome da adolescência normal C Moratória psicossocial Parabéns! A alternativa C está correta. Moratória refere-se ao prazo ou extensão de tempo que é estabelecido entre as partes envolvidas para realizar algo, geralmente pode ser o pagamento de uma dívida ou dívida vencida, o pagamento de impostos. A adolescência, para Erikson, é um período nomeado como “moratória psicossocial”. Erik Erikson (1902- 1994) foi um psicanalista nascido na Alemanha que fazia parte do círculo de amigos de Freud. Aprofundou a teoria Freudiana elaborando uma teoria sobre o desenvolvimento da personalidade. Durante a moratória psicossocial — o período de adiamento que a adolescência oferece —, muitos jovens procuram formas de se comprometer com fidelidade. Esses comprometimentos dos jovens nesse estágio de vida, tanto ideológicos quanto pessoais, podem moldar a vida de uma pessoa por muitos anos. Questão 2 Papalia et al. (2009) acredita que, no processo chamado de diferenciação e integração por Elkind, os jovens adolescentes se tornam conscientes de muitos aspectos em que são diferentes dos outros, e depois eles integram suas partes distintas em si mesmo, tornando-se únicos. O que ocorre como resultado de um processo de introspecção quando uma pessoa desenvolve seu senso de identidade? D Busca de si mesmo E Adolescência tardia A Ocorre a síndrome da adolescência normal. B Cria-se a moratória psicossocial. C Será fácil de romper a identidade na vida adulta. D Ocorre a identidade colcha de retalhos. Parabéns! A alternativa E está correta. Elkind propôs duas formas de vivência da busca da identidade na adolescência. A primeira seria um processo de diferenciação e de integração, com um formato mais saudável. O adolescente se torna consciente dos muitos aspectos em que se é diferente dos outros e depois integra essas partes distintivas de si mesmo em um todo unificado e único. Esse processo de introspecção exige tempo e reflexão, mas, quando uma pessoa desenvolve seu senso de identidade dessa forma, é quase impossível de ele se romper. 4 - A síndrome da adolescência normal Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer os conceitos, os pressupostos e as características da síndrome da adolescência normal. Ligando os pontos Chegamos ao último módulo e até aqui tivemos a oportunidade de refletir de forma mais prática sobre os desdobramentos da adolescência, o que nos permite olhar para essa etapa do desenvolvimento com compreensão e empatia. Nós já experimentamos essa fase, que nunca E Será muito difícil de romper a identidade na vida adulta. deixou de ser complexa. Vamos voltar ao caso da nossa querida Laura, adolescente de 13 anos que tem chamado a atenção da equipe da escola pela mudança de comportamento e queda no desempenho escolar. O caso de Laura traz à cena as especificidades da adolescência, momento no qual vamos em busca independência, individualização e espaço e, ao mesmo tempo, formamos grupos de amigos. Laura passou a variar seu comportamento a partir do contato com o psicólogo, que conversou com ela sobre a “síndrome da adolescência normal”, sobre comportamentos típicos e atípicos e da necessidade de entender suas mudanças. Nesse ponto, um grupo de colegas acabou sendo muito importante, pela troca, diálogo, comparações, pelos comportamentos. Mas a mãe não gostou nada! As meninas usavam roupas que para ela eram “ousadas” e achava que a filha agora não tinha consciência do seu corpo e estava se expondo. Já Laura defendia as amigas com unhas e dentes. Em determinado momento, em sala de aula, ela chegou a se opor e a levantar a voz com o professor. O psicólogo, a equipe multidisciplinar e os professores no conselho de classe foram conversar sobre o que estava acontecendo. Entre outras coisas, foi falado que a busca de um novo espaço é um processo natural da síndrome da adolescência normal, quando há um foco extremado nas relações grupais. Foi então que surgiram propostas de como os professores poderiam fazer algumas adaptações nas atividades escolares que poderiam ajudar Laura e outras adolescentes. Após a leitura do caso, é hora de aplicar seus conhecimentos! Vamos ligar esses pontos? Questão 1 Síndrome da adolescência normal pode parecer um termo estranho, mas foi explicado aos professores que comportamentos antes entendidos como “naturais” são uma crise, e que esta pode que ser mediada e ser acompanhada com mais cuidado. Por isso, lidar com essas características em turmas da idade de Laura pode ser um bom ponto de atenção. Qual entre as alternativas abaixo um psicopedagogo escolheria para aconselhar os professores? Parabéns! A alternativa D está correta. As metodologias ativas são ricas em fortalecer habilidades e competências socioemocionais, chamadas de soft skills, ponto crítico dessa fase. Junto com a psicoterapia, passa a fortalecer e ajudar na superação desses momentos de crise de identidade. Questão 2 As disputas entre pais e amigos são recorrentes. Temos exemplos diversos disso na escola, e na vida e Laura não foi uma exceção. A mãe procurou a escola exigindo que ela fosse trocada de turma. Você, como psicopedagogo, escolheria qual das alternativas abaixo para responder à mãe de Laura? A Atividades de memorização para deixá-los mais concentrados. B Registros dediário como forma de se acalmar. C Separar as turmas fortalecendo atividades individuais e que estimulem autonomia. D Propor atividades de metodologias ativas, focadas nas competências sociais. E Propor atividades de habilidades técnicas, dando sentido ao aprendizado. A Trocar Laura de turma, pois é papel da escola acolher a demanda da mãe. Parabéns! A alternativa D está correta. O aconselhamento mais pertinente é sem dúvida evitar que uma grande ruptura fosse feita. Importante ressaltar que Laura já estava em tratamento psicológico, sob a atenção dos professores, e que o assunto foi levado ao conselho de classe. Esse tipo de ação, ou seja, a troca de turma, dialoga com a superproteção da mãe, não sendo necessariamente positiva para o desenvolvimento saudável da estudante. Questão 3 O grupo de professores, ao ser informado da síndrome da adolescência normal, ficou bastante curioso, pois muitos nunca tinham ouvido falar disso. A psicopedagoga resolveu, então, fazer um processo de formação continuada explicando no que consiste tal fenômeno. Você, como psicopedagogo, abordaria que assuntos durante essa formação continuada? Digite sua resposta aqui Chave de resposta B Explicar que o planejamento escolar definido não permite alterações no meio do percurso, pois impacta negativamente no desenvolvimento dos estudantes. C Garantir que o comportamento de Laura não será modificado pela troca de turma. D Explicar que a troca de turma pode ser feita, mas que tal medida tem consequências, nem sempre positivas, no comportamento do estudante. E Acolher a mãe, escutá-la e encaminhar a demanda para a diretoria. Essa é uma questão mais aberta, que busca trazer à tona o que você conhece do assunto. Podemos falar sobre vários comportamentos tido como “normais”, mas que representam demandas que impactam na aprendizagem. Exemplos possíveis: a lógica de ou tudo ou nada, agora ou nunca; inadaptação com o corpo; falta de reconhecimento e negação dos pais; variações com comportamento sexual, entre outros. Mas é importante que você traga sua visão. Etapas da adolescência Adolescência e sua cronologia Apesar de transitória e individual, a adolescência é extremamente importante, pois o indivíduo atravessa um processo em que obtém as características físicas, psicológicas e sociais de um adulto. Essa jornada de mudanças pode não ocorrer de maneira uniforme e contínua, visto que os períodos de crescimento podem ser intercalados com fases de regressão. Nessa transformação, se pudéssemos destacar as etapas das mudanças e os principais efeitos da fase da adolescência, encontraríamos os seguintes temas: independência; imagem corporal; grupo social; identidade própria. O critério cronológico perde importância nessa fase, pois o estágio de maturação sexual será mais relevante. No entanto, para compreendermos melhor a evolução dos efeitos e conquistas da adolescência, será interessante analisarmos o desenvolvimento subdividindo-o por idade ou etapas: Adolescência inicial Dos 10 anos completos aos 14 anos incompletos Este é um período marcado pelo rápido crescimento e pela entrada na puberdade. Destacam-se: a independência (diminui o interesse pelas atividades com os pais); a imagem corporal (existe uma insegurança acerca da aparência); o grupo (existirá uma relação intensa com amigos do mesmo sexo); e a identidade (aumenta a necessidade de privacidade e a impulsividade). Adolescência média Dos 14 anos completos aos 17 anos incompletos Este período é caracterizado pelo desenvolvimento intelectual e pela maior valorização do grupo. Destacam-se: a independência (o conflito com os pais); a imagem corporal (ocorre uma aceitação do corpo e um interesse por ser atraente); o grupo (comportamento conforme valores do grupo e prática da experiencia sexual); e a identidade (desenvolvimento da habilidade intelectual, excesso de confiança, comportamento de risco). Adolescência tardia ou �nal Dos 17 anos completos aos 20 anos incompletos Período no qual as etapas anteriores se consolidam. Se todas as transformações tiverem ocorrido conforme previsto, inclusive com uma presença de suporte familiar e amigos, o adolescente estará pronto para alcançar as responsabilidades da idade adulta. Adolescência estendida Dos 20 anos completos aos 24 anos incompletos Alguns estudiosos sugerem estender a adolescência até os 24 anos de idade, por questões fisiológicas e socioculturais. As características psicológicas da adolescência Segundo Aberastury e Knobel (1989), a criança entra na adolescência com muitos conflitos e incertezas e precisa sair dela com sua maturidade estabilizada. Deverá apresentar caráter e personalidade adultos. A consequência final da adolescência seria um conhecimento de si mesmo como entidade biológica no mundo, o todo biopsicossocial de cada ser nesse momento de vida. (ABERASTURY; KNOBEL, 1989, p. 30) Aberastury e Knobel identificaram a síndrome da adolescência normal, na qual diversos comportamentos podem ser considerados patológicos em outros estágios do ciclo vital, contudo são considerados esperados e normais no período da adolescência. O psiquiatra Maurício Knobel, argentino naturalizado brasileiro, definiu uma síndrome normal da adolescência como uma representação esquemática de um fenômeno. A definição de uma “normal anormalidade”, para ele, não significa que está identificando algo patológico, mas serve somente para facilitar a compreensão desse período da vida. Assim, a síndrome da adolescência normal é o conjunto de comportamentos e mudanças que as crianças apresentam ao chegar à adolescência entre 12 e 18 anos. Atenção! Os pais precisam compreender que esse é um momento natural, mas que deve ser observado e conduzido para que não exista tendência a se tornar patológico. Para Knobel (1989), o adolescente tem que conviver com a superação de três lutos que correspondem à: Perda do corpo infantil Perda da identidade da infância Perda da �gura protetora dos pais O que diferenciará cada processo de luto, maior ou menor de “anormalidade” dessa síndrome normal, estará ligado aos processos de elaboração dessa nova identificação e ao luto que cada indivíduo tenha podido realizar quando adolescente. Uma vez que o adolescente elaborou os lutos, ele verá seu mundo interno mais fortificado e, então, essa fase de “normal anormalidade” será menos conflitiva e, consequentemente, menos perturbadora. Características da síndrome da adolescência normal Vamos sintetizar as características da adolescência que irão integrar a descrição da sintomatologia dessa síndrome (AMARAL, 2007): Busca de si mesmo e da identidade Todas as modificações corporais e as expectativas da sociedade com relação ao jovem podem levá-lo a perceber que ele está vivenciando uma situação nova, com ansiedade pelo desconhecimento do rumo que tudo irá tomar. A experiência de ter um corpo em mutação leva a conflitos com a autoimagem, criando hora momentos de orgulho e outros de vergonha do próprio corpo. Apesar de todas essas mudanças, o adolescente precisa transitar e evoluir sua personalidade, ou seja, precisa saber quem ele é, em que está se transformando, para assim reconstruir sua identidade. É muito comum os jovens passarem horas e horas em frente ao espelho e comparar-se uns aos outros, buscando um padrão de normalidade e aceitação. Poderão ocorrer momentos de isolamento e apropriação de identidades transitórias, como um esboço de desenho da própria identidade. Tendência grupal Durante a busca da identidade no adolescente, ele poderá recorrer a um comportamento defensivo na busca pela uniformidade. Isso poderá lhe transmitir muita segurança e autoestima, gerando um reforço para o nascimento do espírito de grupo. No grupo, h á i d id tifi ã haverá um processo massivo de identificação coletiva. Se olharmos para um grupo de adolescentes, vamos ver como são semelhantes as vestimentas,o modo de falar (podem criar um idioma próprio), os lugares frequentados e os interesses. Nesse momento, o jovem se identifica muito mais com seu grupo do que com os seus familiares. O grupo se constitui uma ponte de suporte necessária na transição entre o mundo familiar e o mundo adulto. Necessidade de intelectualizar e fantasiar A realidade das mudanças vai se impor ao adolescente e ocorrerá uma necessidade de renunciar ao corpo infantil e à proteção familiar. Tudo isso pode ser vivido como uma experiência de enorme desamparo e impotência, que obrigará o adolescente a recorrer ao pensamento para compensar essas perdas. O adolescente, então, tende a fugir para seu mundo interior, como uma forma de buscar uma compensação emocional, um novo ajuste, e nessa tentativa de encontro consigo mesmo começa a demonstrar preocupações de ordem ética, moral, social. Nesse momento, pode ocorrer a elaboração de grandes “teorias” sobre o mundo com ideias fantasiosas infantis. Crises religiosas A conduta do adolescente pode variar de um total ateísmo até os comportamentos religiosos mais fervorosos e engajados, indo do misticismo até o fanatismo. Nesse período, pode existir uma grande variedade de posições religiosas e mudanças muito frequentes. A questão da religiosidade deve emergir como decorrência dos questionamentos do adolescente sobre sua identidade: “quem sou?”, “o que estou fazendo aqui?”, “qual o meu papel na vida?” serão perguntas que irão aparecer nesse processo e ele tentará respondê-las. Deslocamento temporal As urgências do adolescente são tão grandes que haverá um grande conflito em “deixar para depois” algo que é necessário e pungente. O adolescente não possui ainda as características adultas de delimitar e discriminar, o que só vai adquirindo lentamente ao longo do seu desenvolvimento. À medida que vai elaborando suas perdas, começa a surgir o conceito de tempo, que implica as noções de passado, presente e futuro. Evolução sexual do autoerotismo à heterossexualidade Existe uma oscilação entre a atividade de masturbação e o começo dos exercícios genitais na vida do adolescente, que se inicia e se forma basicamente exploratória até evoluir para a prática sexual na vida adulta. O interesse por vídeos pornográficos e mesmo por experiências de ordem homossexual, o exibicionismo e o voyerismo serão curiosidades sexuais que podem se manifestar. Despontará uma evolução na intimidade, com contatos superficiais, depois profundos e mais íntimos, que preenchem a sua vida sexual. Atitude social reivindicatória Essas atitudes muitas vezes serão respostas às restrições impostas pela sociedade e uma demonstração do que está acontecendo com a capacidade cognitiva e o pensamento. Existe um processo de intelectualização, e as fantasias conscientes que se reforçam nos grupos fazem com que essas atitudes se transformem em pensamento ativo. Uma verdadeira ação social, política e lt l M it i i di õ ã ã cultural. Muitas vezes, as reivindicações não são perdas vividas pelo adolescente diretamente, mas da sociedade, dos seus pais, de sua família. Essa particular característica do adolescente é aproveitada, em muitos casos, por certas seitas e grupos políticos ou religiosos para arregimentar seguidores. Contradições sucessivas em todas as manifestações de conduta A conduta do adolescente está diretamente relacionada com a ação, a impulsão e a expressão. O adolescente não pode manter uma linha de conduta rígida, permanente, mesmo que tente. O jovem terá uma personalidade permeável, absorvente, como uma esponja, que recebe e também projeta tudo de forma grandiosa. Tudo isso irá refletir em uma conduta flutuante, contradições nos adolescentes, identidades transitórias, uma resposta a uma atitude adulta para a qual ainda não estão capacitados. Separação progressiva dos pais Essa é uma das perdas fundamentais que o adolescente necessita assumir internamente e que pode gerar uma ansiedade muito intensa durante essa transição. Muitas vezes, os pais não aceitam e negam o crescimento dos filhos, dificultando mais ainda a resolução dessa ansiedade. As boas imagens parentais, com papéis bem definidos, sem ambiguidades ou encobrimentos, serão muito importantes na internalização das percepções do cotidiano na vida dos adolescentes. A imagem de pais com personalidades pouco consistentes forçam o adolescente a buscar identificação com outras imagens adultas. O dilema: a�nal, existe um "adolescente universal"? Uma pesquisa relevante foi feita por Daniel Offer e colaboradores em 1988 sobre as diferenças e igualdades de autoimagem em adolescentes. Os pesquisadores ouviram 5.938 adolescentes em 10 países. Cinco aspectos foram observados: identidade psicológica; identidade social; identidade sexual; identidade familiar; identidade de enfrentamento. Dos resultados, cerca de 90% dos adolescentes de todos os países tinham sentimentos positivos em relação aos pais, valorizavam o trabalho e a amizade, bem como tentavam aprender com os fracassos. Algumas diferenças consistentes entre as culturas apareceram no que se refere ao sexo e à idade, mas em geral, esses "adolescentes universais" consideravam-se felizes, sentiam-se capazes de enfrentar a vida, de tomar decisões e de exercer o autocontrole, preocupavam-se com os outros e gostavam de estar e de aprender com eles, gostavam de um trabalho bem-feito e sentiam-se confiantes em relação à sua sexualidade. Constantes �utuações do humor As modificações de hormônios e de humor podem desencadear um sentimento básico de ansiedade e depressão que acompanhará a adolescência, dificultando ainda mais a elaboração das perdas que sofre. A maneira como o adolescente compreende suas emoções determinará a maior ou menor intensidade dessas flutuações. A realidade pode gerar muitas frustações e um sentimento de solidão gerando isolamento. Contudo, da mesma maneira que se sente um “patinho feio” no mundo, um gesto simples pode fazer com que se sinta a mais feliz das criaturas. Resumindo Embora as áreas da Saúde e da Educação considerem a adolescência como uma fase de desenvolvimento natural e cronológica, vimos que na Psicologia o termo “adolescência” deve ser entendido como uma construção social que tem repercussões na subjetividade do sujeito, e não como um período natural do desenvolvimento. Podemos chegar à compreensão de que a adolescência é efetivamente uma criação do homem. Os fatos sociais vão surgindo nas relações sociais e com isso vão apresentando repercussões psicológicas. Assim, começa-se a dar significados sociais a esses fatos. A adolescência é um desses fatos sociais que ganharam significado social. Para compreendê-la, é preciso, então, que retomemos seu processo social, para depois compreendê-la na forma como acontece para os jovens (AMARAL, 2007). Concluímos este módulo com um trecho do trabalho de Bock (2004): “Não há nada de patológico; não há nada de natural. A adolescência é social e histórica. Pode existir hoje e não existir mais amanhã, em uma nova formação social; pode existir aqui e não existir ali; pode existir mais evidenciada em determinado grupo social, em uma mesma sociedade e não tão clara em outros grupos. Não há uma adolescência como possibilidade de ser; há uma adolescência como significado social, mas suas possibilidades de expressão são muitas. (BOCK, 2004, p. 42). As diferenças e igualdades dos adolescentes A especialista reflete agora sobre as diferenças e igualdades dos adolescentes nas diferentes culturas e suas implicações. Vamos lá! Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Nos Estados Unidos, durante a década de 1950, apareceu o fenômeno denominado “juventude transviada” ou “rebelde sem causa”. Já começava a se delinear, de modo bastante claro, uma consciência etária — a oposição jovem/não jovem. A síndrome da adolescência normal apresentadiversos comportamentos considerados patológicos em outros estágios do ciclo vital e que são considerados normais no período da adolescência. O psiquiatra criador dessa definição se chama A Erikson. B Elkind. Parabéns! A alternativa D está correta. Síndrome é um termo usado na Medicina para definir um conjunto de sintomas que caracterizam uma doença. O psiquiatra Maurício Knobel definiu a síndrome da adolescência normal como uma representação esquemática de um fenômeno. O contraditório na definição de Knobel é ele usar o termo para caracterizar algo normal e não patológico. Questão 2 Segundo Knobel (1989), o adolescente tem que conviver com a superação de três lutos que correspondem à: (1) perda do corpo infantil, (2) perda da identidade da infância e (3) ___________________________. O que diferenciará cada processo de luto será a intensidade da síndrome da adolescência normal e os processos de elaboração da nova identificação incorporada ao luto que cada indivíduo realizará quando adolescente. A resposta correta que completa a lacuna é C Freud. D Knobel. E Kohlberg. A perda do grupo social infantil. B perda do grupo social escolar. C perda das fantasias infantis. D perda da liberdade criativa. Parabéns! A alternativa E está correta. Para Aberastury e Knobel (1989), o adolescente tem que conviver com a superação de três lutos que correspondem à: (1) perda do corpo infantil; (2) perda da identidade da infância; (3) perda da figura protetora dos pais. A busca incessante de saber qual a identidade adulta que se constituirá chega a ser angustiante. Devido às mudanças corporais, é elaborado o luto pelo corpo da infância e pela identidade da infância. Concomitantemente a essa percepção, o adolescente vai formando o sentimento de identidade, numa verdadeira experiência de autoconhecimento. Nessa busca pela identidade, o adolescente muitas vezes prefere o caminho mais fácil, fazendo identificações maciças com o grupo, vivenciando uma autonomia e uma perda da figura protetora dos pais. À medida que seus lutos forem sendo elaborados, o adolescente verá seu mundo interno com um olhar mais fortalecido, tornando a fase da “normal anormalidade” menos perturbadora. Considerações �nais Neste conteúdo, tratamos dos conceitos teóricos e históricos do desenvolvimento físico na adolescência, dos fundamentos do desenvolvimento cognitivo e das abordagens construtivistas aplicadas na Psicologia. Trabalhamos ainda as teorias do desenvolvimento psicossocial, a identidade, os conceitos, os pressupostos e as características da síndrome da adolescência normal. A adolescência pode ser vista como uma construção social que tem repercussões na subjetividade do sujeito, e não somente considerada um período natural do desenvolvimento. Assim, a adolescência é um fato social que ganhou significado social. Ao compreendê-la, é preciso, então, que retomemos seu processo psicossocial, para interpretá-la depois na forma como acontece para os jovens, considerando todas as mudanças cognitivas, físicas, emocionais, hormonais, entre outras tantas, que ocorrem e afetam psicologicamente um adolescente. E perda da figura protetora dos pais. Podcast Neste podcast, a especialista refletirá sobre os conceitos teóricos e históricos do desenvolvimento físico na adolescência e as diferenças e similaridades com a puberdade, assim como identificará os fundamentos do desenvolvimento cognitivo na adolescência e as abordagens construtivistas, psicossociais e psicanalíticas aplicadas na Psicologia. Explore + Confira o conteúdo indicado especialmente para você! Não deixe de ler o Manual de Atenção à Saúde do Adolescente (PRO- ADOLESC) elaborado pela Secretaria Municipal da Saúde da cidade de São Paulo. Esse programa tem como objetivo fornecer orientações e subsídios técnicos aos profissionais da rede de saúde dos adolescentes. Leia o artigo Relação entre habilidades sociais, estresse, idade, sexo, escola e série em adolescentes, de Sheila Francisca Machado, Sérgio Henrique de Souza Alves e Patrícia Fagundes Caetano. O adolescente enfrenta situações que podem desencadear estresse, que é a reação do organismo para reestabelecer seu equilíbrio após passar por situação estressora. Saiba mais sobre esses resultados! Aproveite e leia ainda Adolescência e feminilidade na peça O despertar da primavera, de Thais Limp Silva e Cristina Moreira Marcos. Esse artigo aborda a adolescência como um processo de sexualização decorrente do Édipo. Não perca tempo e assista à aula Psicologia do Desenvolvimento - Adolescência: Concepções teóricas, da UNIVESP. Aproveite para tirar as dúvidas sobre as teorias do desenvolvimento humano que estão relacionadas à fase da adolescência. Assista ao vídeo Sarah-Jayne Blakemore: O misterioso funcionamento do cérebro adolescente disponível no YouTube. A neurocientista compara o córtex pré-frontal de adolescentes e adultos. Vamos pensar junto com a professora Sarah: por que os adolescentes parecem tão mais impulsivos, tão menos autoconscientes do que os adultos? 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