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CaPÍTuLo 18Trabalho e energia cinética Capítulo 18332 Nos capítulos anteriores estudamos o movimento usando os conceitos de posi- ção, velocidade, aceleração e força. No entanto, em nosso cotidiano nos deparamos com problemas cuja solução seria muito difícil usando apenas essas ferramentas. Vamos então abordar novos conceitos na Mecânica: o trabalho e a energia. O conceito de energia é bastante amplo e não há como dar uma defi nição conci- sa para ele. No entanto, a sua compreensão intuitiva vai facilitar bastante a solução de diversos problemas. Vejamos alguns exemplos: um carro em movimento numa estrada tem energia; uma mola esticada tem energia; uma laranja atirada para cima tem energia, etc. A energia pode existir em diversas formas: energia mecânica, ener- gia radiante, energia elétrica, energia térmica, energia nuclear, etc. A força é uma grandeza vetorial, mas a energia e o trabalho, que ora vamos defi nir, são grandezas escalares. Serão, portanto, duas ferramentas mais fáceis de utilizar. Neste capítulo vamos relacionar o trabalho com a energia cinética através do teorema da Energia Cinética. No próximo capítulo estudaremos outras formas de energia mecânica: a energia potencial gravitacional e a energia elástica. 1. Energia cinética de uma partícula A energia cinética de uma partícula de massa m, dotada de velocidade escalar v, muito menor que a velocidade da luz, é defi nida por: E cin = m · v2 2 Energia cinética é um tipo de energia mecânica, associada ao movimento do corpo. trata-se de uma grandeza escalar, portanto ela é independente da direção da velocidade. Equação dimensional e unidade de energia Vamos partir da equação da energia cinética e obter a sua equação dimensional: [E] = [m] · [v]² Sendo [m] = M e [v] = l · t–1, temos: [E] = M · (l · t–1)² ⇒ [E] = M · L² · T–2 1 No SI a unidade de energia é o joule, simbolizado por J (maiúsculo). Assim: 1 kg · m2 · s–2 = 1 kg · m2 s2 = 1 J No SI, a unidade de energia foi denominada joule (J) em homenagem ao físico inglês James Prescott Joule (1818-1889), pois sua obra foi muito importante para o estabelecimento do Princípio da Conservação da Energia. 1. Energia cinética de uma partícula 2. Trabalho de uma força constante 3. Trabalho da força peso 4. Trabalho de uma força constante em trajetória curva 5. Trabalho de uma força variável 6. Teorema da energia cinética 7. Trabalho da força elástica 8. Trabalho de uma força variável em trajetória curva obsErvação Trabalho e energia cinética 333 a) Um ponto material de massa 4,0 kg, dotado de velocidade escalar 5,0 m/s, possui uma energia cinética que assim se calcula: E cin = m · v2 2 = 4,0 · 5,02 2 = 100 2 ⇒ E cin = 50 J b) Se dobrarmos a velocidade escalar desse ponto material, o que ocorrerá com a sua energia cinética? Observemos que na defi nição acima a velocidade está elevada ao quadrado, o que signifi ca que, ao dobrá-la, a energia cinética deverá quadru- plicar. Vamos fazer as contas: E cin = m · v2 2 = 4,0 · 102 2 = 400 2 ⇒ E cin = 200 J Sendo 200 J = 4 · 50 J, verifi camos que realmente a energia cinética do ponto material quadruplicou. Exemplo 1 2. Trabalho de uma força constante Imaginemos que uma pessoa esteja empurrando com uma força F um carrinho de supermercado e, durante um pequeno trecho retilíneo, ela o acelera. Sua velocidade aumentou e também a sua energia cinética. O carrinho ganhou energia, dada pela pessoa através da força F . Dizemos que a pessoa realizou um trabalho sobre o carrinho, pois lhe transferiu energia. Agora, vamos esticar uma mola, mas não muito, para não estragá-la. Estando a mola esticada, ela possui energia elástica. De onde veio essa energia? Através de nossa força, transferimos energia para a mola e, portanto, realizamos um trabalho sobre ela. Uma terceira pessoa lança uma laranja para o alto, dando-lhe uma velocidade inicial e, portanto, uma energia cinética. Dizemos que essa pessoa realizou, através de uma força, um trabalho sobre a laranja. Leitura O que é energia Até hoje ninguém conseguiu dar uma defi nição satisfatória de energia, porque, como já mencionamos na introdução deste capítulo, há várias formas de energia. Às vezes é possível dar uma defi nição que serve para alguns casos (como veremos mais adiante), mas não serve para todos. Ao longo do curso, você terá contato com essas várias formas de energia e, em cada caso, aprenderá a calculá-las. O fato de não se ter uma defi nição geral não afl ige os físicos, como podemos constatar ao ler o trecho a seguir, extraído de um livro do físico americano Richard Philips Feynman: É importante observar que hoje não sabemos o que é energia. […] O que sabemos é que existe uma lei governando todos os fenômenos naturais conhecidos até hoje. Não existe nenhuma exceção conhecida a essa lei, que é conhecida pelo nome de Lei da Conservação da Energia. Ela estabelece que há uma certa quantidade, que nós chamamos energia, cujo valor não se altera, nas várias mudanças que ocorrem na natureza. Ela não é a descrição de um mecanismo ou de qualquer coisa concreta. É uma lei abstrata porque é um princípio matemático. Ela exprime o fato de que, quando calculamos um certo número (o valor da energia) no início e no fi m de um processo, os resultados são iguais. (Lectures on Physics, de R. P. Feynman, R. B. Leighton, M. Sands. Massachusetts: Addison-Wesley, 1963. v. 1. Tradução do autor.) Figura 1. Richard Philips Feynman (1918-1988), ga- nhador do prêmio Nobel em 1965, um dos físicos mais brilhantes do século XX. S h E ll E Y g A Z IN /C O r b IS /l A t IN S t O C K Capítulo 18334 Nesses três exemplos, houve deslocamento e, nos três casos, ocorreu realização de trabalho. A condição para que uma força realize um trabalho é que haja deslocamento de seu ponto de aplicação. Mas, afinal, o que é o trabalho? O trabalho a que nos referimos é apenas a trans- ferência de energia para um corpo, através de uma força. Somente haverá trabalho se houver deslocamento do ponto de aplicação da força, o que determina que está haven- do transferência de energia. Quando uma força realiza um trabalho sobre uma partícula, sua velocidade escalar se altera e, portanto, modifica a sua energia cinética. Convencionaremos que: • se a energia da partícula aumentar, então o trabalho realizado pela força será positivo; • se a energia da partícula diminuir, então o trabalho da força será negativo; • se a energia da partícula permanecer constante, então o trabalho será nulo. Trabalho de uma força constante – movimento retilíneo Para medir a quantidade de energia transferida pela força, vamos definir uma equa- ção para o trabalho realizado. 1º. caso: Consideremos um ponto material que se desloca numa trajetória retilínea, sob a ação de uma força F constante que atua na direção e sentido do deslocamento (fig. 2). Sendo d o deslocamento entre A e B, o trabalho realizado pela força F é dado por: ö = F · d 2º. caso: Consideremos agora um ponto material se deslocando na trajetória retilínea. Ele está sob a ação de uma força F constante (que não é a resultante), porém de direção diferente da direção do deslocamento (fig. 3). Nesse caso, devemos projetar a força no eixo x e teremos: F x = F · cos θ Usando-se a mesma definição anterior, o trabalho da força F , no deslocamento de A até B, é dado por: ö = F x · d ⇒ ö = (F · cos θ) · d ⇒ ⇒ ö = F · d · cos θ Observemos, mais uma vez, que somente haverá trabalho se houver deslocamento do ponto de aplicação da força. Como o trabalho é a medida de uma quantidade de energia, devemos também medi-lo em joule (J). Adiante veremos sua equação dimensional. Consideremos um ponto material sendo deslocado de A para B, sob a ação de uma força F = 40 N, formando um ângulo de 60° com o vetor deslocamento, como nos mostra a figura 4. A distância entre A e B vale 4,0m. O trabalho que a força F realiza sobre o corpo assim se calcula: ö = F · d · cos θ ⇒ ⇒ ö = 40 · 4,0 · cos 60° ⇒ ⇒ ö = 160 · 0,5 ⇒ ö = 80 J Exemplo 2 Cuidado! obsErvação vEja bEm! Não se definiu o trabalho como sendo o produto da força pela distância. O termo correto é: deslocamento do ponto de aplicação da força. A letra grega ö (tau) será usada para simbolizar o trabalho. Quando uma força realiza um trabalho sobre um corpo, não aumenta o seu trabalho, mas sim a sua energia. Figura 2. F d BA Figura 3. θ F d BA Figura 4. BA 4,0 m 60º F (40 N) Il U St r A ç õ ES : ZA Pt 18