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- -1 SOCIEDADES EMPRESARIAIS TÍTULOS DE CRÉDITO EM ESPÉCIE Sâmia Frantz - -2 Olá! Você está na unidade . Conheça aqui algumas espécies de título de crédito maisTítulos de Crédito em espécie utilizadas atualmente no Brasil, seja nas relações comerciais, ou, então, nas relações entre particulares. Saiba como surgiu a letra de câmbio, o mais antigo título de crédito em circulação no mundo. Entenda o surgimento e para que serve a nota promissória e descubra em quais situações ela costuma ser usada hoje, e de que forma isso pode acontecer. Aprenda o mesmo também sobre o cheque e como se dá a sua emissão e transmissão e procedimentos que o envolvem. Bons estudos! 1 Títulos de crédito: espécies Existem dezenas de espécies de títulos de crédito em circulação no Brasil e protegidos pelo Direito, todos eles regulados por legislação específica. Negrão (2010) calcula um total de 48, mas tal lista não se exaure em si mesma. Nesta unidade iremos estudar os mais antigos ainda em utilização no Brasil: a letra de câmbio, a nota promissória e o cheque. Assista aí https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2 /cecf2c0c7afc21bc946e74acda1d613c - -3 2 Letra de câmbio A letra de câmbio é o primeiro título de crédito que surgiu no mundo, dando início a todo o conceito de crédito que se conhece hoje. Ela nasceu em meio aos mercados e feiras italianos que eram realizados na Idade Média, quando os comerciantes viajavam para diversas cidades para vender seus produtos. Como não queriam transportar grandes valores em moedas nessas viagens, devido aos perigos e dificuldades que encontravam pelo caminho, eles precisaram de uma alternativa para substitui-las. Além disso, havia outro obstáculo: as moedas também costumavam ser diferentes entre uma vila e outra e, nem sempre, representavam o mesmo valor. Figura 1 - Feirinhas medievais (FIGURA PRECISA SER TROCADA, POIS FICOU PENDENTE NO ENVIO DA ILUSTRA) Fonte: Merydolla, Shutterstock (2020). #PraCegoVer: a imagem mostra uma representação das feirinhas e mercados da Idade Média, onde nasceram as letras de câmbio. Assim, a letra de câmbio surgiu para amenizar essas barreiras e centralizar nos bancos a função de calcular o câmbio e pagar o valor que continha nos documentos. É desta forma que nasceram também as três figuras que compõem uma letra de câmbio: O sacador É quem dá a ordem de pagamento e quem emitiu ou criou a letra de câmbio. O sacado É quem deve pagar a letra (o devedor, propriamente dito). - -4 O beneficiário (ou tomador) É quem deve cobrar e, portanto, receber o valor emitido no título. No caso da Idade Média, o banqueiro da cidade A era o sacador, o banqueiro da cidade B era o sacado e o mercador que vendeu seus produtos era o beneficiário. A letra de câmbio, portanto, é uma ordem de pagamento à vista ou a prazo, emitida pelo sacador contra o sacado a favor de um terceiro ou do próprio sacador. No Brasil, a letra de câmbio está regulada pela Lei Uniforme de Genebra (LUG) – Decreto 57.663/1966 -, instituída em 1966 como forma de uniformizar a legislação cambial em todo o mundo. No entanto, nos casos onde a lei apresenta reservas, usa-se uma legislação ainda mais antiga e ainda em vigor: o Decreto 2.044/1908, que supre as omissões da LUG. - -5 2.1 Requisitos Conforme o art. 1° do Decreto 57.663/1966, a letra de câmbio obrigatoriamente deve conter: a denominação inserida no títuloletra de câmbio a ordem de pagar determinada quantia o nome de quem deve fazer esse pagamento (sacado) a data do saque o nome de quem deve receber o valor contido no título a indicação do local onde a letra foi emitida e da data de vencimento a assinatura de quem emitiu a letra (sacador) Se algum destes itens faltar, a própria legislação encaminha uma solução, que pode inclusive, ser preenchida pelo credor de boa-fé. A única exceção em relação a isso é a assinatura falsa ou feita por algum incapaz. Nestes casos, o título será inválido. Além disso, a letra de câmbio permite o vencimento à vista, a certo termo de vista ou, ainda, com dia certo. O ocorre no dia da apresentação do título. O ocorre emvencimento à vista vencimento a certo termo de vista um determinado dia previamente combinado a partir da apresentação. E o vencimento com dia certo tem uma data fixada pelo sacador para o pagamento do título. A letra de câmbio também permite o chamado . Trata-se de um período de 24 horas concedidoprazo de respiro ao devedor após receber o título para aceite. O credor, neste caso, precisa voltar a procura-lo para obter o documento de volta. Se isso não acontecer, é preciso que ele faça o protesto por falta de devolução do título. Além disso, o devedor também não é obrigado a aceitar a letra de câmbio, mas a sua recusa provoca dois efeitos, segundo o art. 44 do Decreto 57.663/1966: o vencimento antecipado do título a permissão para o credor realizar o protesto imediato O quadro abaixo apresenta algumas características básicas da letra de câmbio com base em seu funcionamento. - -6 Quadro 1 - Particularidades da letra de câmbio Fonte: Elaborado pela autora (2020). Atualmente, a letra de câmbio deixou de ser usada com os fins para os quais foi criada - as relações de comércio -, mas continua sendo uma boa alternativa para os bancos e para as operações de crédito. - -7 3 Nota promissória No mesmo contexto onde nasceram as letras de câmbio, na Itália, durante a Idade Média, surgiram também as notas promissórias. Elas serviam, basicamente, para que os banqueiros pudessem receber valores de uma pessoa e prometer o pagamento em outra praça, onde estivesse um representante seu. Mais de quatros séculos depois, a nota promissória ainda continua sendo muito utilizada. E não só no mundo dos negócios: ela costuma ser emitida em qualquer lugar, e por qualquer pessoa, para formalizar situações onde não existe um contrato formal determinando condições para pagamento. Por isso, ela é muito comum nos acordos firmados verbalmente e em relações informais, como os empréstimos de dinheiro entre amigos ou entre familiares, por exemplo. O seu uso se popularizou muito porque o acesso a uma nota promissória é muito fácil: os blocos com uma boa quantidade delas podem ser encontrados em papelarias a um preço acessível. Assim, quando o supermercado ou a lojinha vendem fiado os seus produtos para pessoas conhecidas da vizinhança, a nota promissória é uma boa alternativa para dar segurança ao comerciante, já que ela documenta esse acordo e é mais eficiente perante a Justiça – caso seja necessário chegar a esse ponto. Para Negrão (2010), a preferência pelo uso da nota promissória, ao invés da letra de câmbio, também se dá em razão dela dispensar o mecanismo do aceite, o que a torna amplamente utilizada nos mútuos de dinheiro. Figura 2 - A nota promissória é comum em estabelecimentos que vendem fiado Fonte: Gorodenkoff, Shuttertock (2020). - -8 #PraCegoVer: a imagem mostra uma compra sendo efetuada no caixa de um supermercado de pequeno porte, como forma de representar os estabelecimentos que costumam vender fiado. Assim, a legislação define a nota promissória como uma promessa de pagamento que uma pessoa (sacador) faz a outra (sacado). Diferente do que acontece na letra de câmbio, portanto, a nota promissória possui o envolvimento de apenas duas pessoas na sua transação: Sacador (ou emitente ou subscritor) É o devedor do título, quem faz a promessa do pagamento Sacado (ou beneficiário) É o credor, aquele que recebe a promessa Não existe, neste caso, a figura daquele que dá a ordem, como na letra de câmbio: o próprio devedor é responsável pela emissão e também pelo pagamento do título. Mas apesar dessas diferenças entre os títulos, a nota promissória é regulada pela mesma lei que rege a letra de câmbio: a Lei Uniforme de Genebra (LUG) - Decreto 57.663/1966. Assim, segundo Coelho (2013), tudo aquilo que é determinado para a letra de câmbio no que diz respeito a endosso,aval, vencimento, pagamento, protesto, execução e demais temas compõem também o regime jurídico da nota promissória. No entanto, em relação a isso, é importante estar atento às particularidades da nota promissória que se diferem da letra de câmbio e, portanto, possuem prescrições específicas que precisam ser observadas. Segundo Coelho (2013, p. 312 e 313): a) A nota promissória é uma promessa de pagamento e, por isso, não se aplicam a ela, as normas relativas à letra de câmbio incompatíveis com esta natureza da promissória. Assim, não há que se cogitar de aceite, vencimento antecipado por recusa de aceite, cláusula não aceitável etc. b) O subscritor da nota promissória é o seu devedor principal. Por essa razão, a lei prevê que a sua responsabilidade é idêntica à do aceitante da letra de câmbio (art. 78). Neste sentido, pode-se concluir que o protesto é facultativo para o exercício do direito de crédito contra o emitente; também se pode concluir que o exercício desse direito prescreve em 3 anos. c) O aval em branco da nota promissória favorece o seu subscritor (art. 77, in fine). d) As notas promissórias, embora não admitam aceite, podem ser emitidas com vencimento a certo termo da vista. Nesta hipótese, o credor deverá apresentar o título do visto do emitente no prazo de 1 ano do saque (art. 23), sendo a data desse visto o termo a quo do lapso temporal de vencimento. A nota promissória desta espécie pode ser protestada por falta de data (art. 78, segunda alínea). - -9 3.1 Requisitos Para que a nota promissória seja válida, ela precisa atender a alguns requisitos essenciais que precisam estar contidos no título, segundo a previsão expressa do art. 75 do Decreto 57.663/1966. São eles: a denominação inserida no títulonota promissória a promessa de pagar determinada quantia o nome de quem deve fazer esse pagamento (sacado) o nome de quem deve receber o valor contido no título a indicação da data e do local onde a nota foi emitida ou onde deve ser sacada a indicação do local onde o pagamento deve ser efetuado a assinatura do devedor que emitiu a letra (sacador). Assim como acontece na letra de câmbio, se algum destes itens faltar, a própria legislação busca uma solução. Se não houver a indicação do local do saque, ou, então, do pagamento, valerá o domicílio do emitente para ambos os casos. Se faltar a data de vencimento, a nota será paga à vista. No entanto, se tratar de uma promessa de pagamento - e não de uma ordem de pagamento -, a nota promissória não admite o instituto de aceite, uma vez que o devedor principal já assina o título no momento de emiti-lo por se tratar de um elemento constitutivo para tanto. O quadro abaixo apresenta algumas características básicas da nota promissória com base em seu funcionamento. - -10 Quadro 2 - Particularidades da nota promissória Fonte: Elaborado pela autora (2020). É comum que a nota promissória seja emitida também em vinculação a um contrato. Quando isso acontece, ela passa a ser considerada um título causal (ou não abstrato), justamente pelo vínculo de origem que carrega junto a si. Essa vinculação à determinada obrigação específica deve estar expressa no título, o que a faz perder a sua autonomia (pelo fato de que o terceiro, a recebe-la, saberia da vinculação ao contrato). Por outro lado, ela segue mantendo a sua força executiva, a não ser que o contrato a que ela se vincule seja ilíquido, como é o caso do contrato de abertura de conta corrente. - -11 4 Cheque O cheque é tão popular e democrático quanto a nota promissória. Embora as origens sejam parecidas, algumas teorias apontam que ele nasceu de uma ideia de recibo, quando os mercadores passaram a depositar seus lucros junto às casas de câmbio que trocavam moeda. Em troca, esses banqueiros emitiam recibos de depósito para comprovar que o dinheiro estava guardado ali. Aos poucos, a ideia se espalhou pela Europa e pelo mundo, até que o cheque fosse, de fato, criado, entre 1759 e 1772 - tal qual como o conhecemos hoje, incluindo a sua numeração em série para evitar falsificações. Da mesma maneira como aconteceu na letra de câmbio e na nota promissória, o cheque também passou por uma tentativa de uniformização legislativa internacional, também em Genebra. Mas, só no Brasil, foram feitas 24 reservas a este texto, sendo mais adequado criar uma nova legislação do que continuar com aquela. Assim, surgiu, em 1985, a Lei 7.357, que regula o uso do cheque até os dias atuais. Além dela, o Conselho Monetário Nacional também pode emitir regras relacionadas ao cheque, conforme autoriza o art. 69 da referida legislação. Figura 3 - O cheque Fonte: Andrey_Popov, Shutterstock (2020). #PraCegoVer: A imagem dá o foco nas mãos de dois homens que repassam um cheque um para o outro. Assim, o cheque é uma ordem de pagamento à vista, sacada contra um banco que retira dinheiro da conta corrente vinculada ao título e à pessoa que o emitiu. Neste sentido, o cheque depende diretamente da provisão - -12 de fundos existente na conta bancária: o seu titular, portanto, tem a responsabilidade de se organizar de forma a manter quantia suficiente em conta na data do vencimento do cheque, para que ele possa ser pago. Tal previsão está expressa no art. 7, parágrafo 1, da Lei do Cheque. Nesse sentido, Coelho (2013) lembra que o banco não tem qualquer obrigação cambial, em qualquer hipótese, nem de reservar tal quantia na conta do correntista, nem de fazer o pagamento caso não haja fundos. Assim, o credor não pode responsabilizá-lo pela inexistência ou insuficiência de fundos disponíveis. Assista aí https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2 /12a3926c7c4c36e62b03908cf8de7a9d O sacado não garante o pagamento do cheque, nem pode garanti-lo, posto que a lei proíbe o aceite do título (art. 6) bem como o endosso (art. 18, parágrafo 1) e o aval de sua parte (art. 29). A instituição financeira sacada só responde pelo descumprimento de algum dever legal, como o pagamento indevido de cheque, a falta de reserva de numerário para liquidação no prazo de apresentação do cheque visado, o pagamento de cheque cruzado diretamente ao portador não cliente, o pagamento em dinheiro de cheque para se levar em conta etc. Ou seja, o banco responde por ato ilícito que venha a praticar, mas não pode assumir qualquer obrigação cambial referente a cheques sacados por seus correntistas (COELHO, 2013, p. 314-315). Por outro lado, o titular da conta bancária – e emissor do cheque - não tem esse mesmo compromisso em datas anteriores ao vencimento. Por isso, nos casos do cheque pré-datado – quando o comprador paga o produto de forma parcelada, emitindo diversos cheques com datas de vencimento diferentes -, a apresentação antecipada do título pode caracterizar dano moral em favor do devedor, que não se programou para prover fundos em conta. Assim entende o Superior Tribunal de Justiça (STJ), na súmula 370. De qualquer forma, emitir cheque sem fundo é crime tipificado no Código Penal (art. 171, parágrafo 2º, inciso VI). Fique de olho O cheque sem fundo é devolvido pelo banco à pessoa que o apresentou acompanhado de uma declaração correspondente de insuficiência de fundos - porém, que não supre o protesto. Se dois ou mais forem apresentados ao mesmo tempo, a instituição financeira dá preferência ao documento que tiver a data de emissão mais antiga, esgotando os fundos (se existirem) ali. - -13 Além disso, por ser uma ordem de pagamento, ele segue a mesma lógica da letra de câmbio e possui três figuras envolvidas no processo: Sacador É quem emite o cheque (o devedor) Sacado É o banco, que deve fazer o pagamento Beneficiário É quem recebe o pagamento (o credor) Segundo Coelho (2013), o elemento essencial do conceito de cheque é a sua natureza de ordem à vista, que não pode ser descaracterizada por acordo entre as partes. “Qualquer cláusula inserida no cheque com o objetivo de alterar esta sua essencial característica é consideradanão escrita e, portanto, ” (COELHO, 2013, p. 314).ineficaz documento que tiver a data de emissão mais antiga, esgotando os fundos (se existirem) ali. Mas se os dois foram emitidos também no mesmo dia, prevalece o número inferior (COELHO, 2010). - -14 4.1 Características e espécies de cheque Negrão (2010) aponta quatro características para o cheque ser considerado título de crédito. Trata-se de um título executivo (por possibilitar ao credor promover a ação de execução para satisfazer o seu crédito), de caráter formal (emitido dentro de um modelo padrão) e autônomo (em que o possuidor dispõe de direito próprio não vinculado à relação jurídica que lhe deu origem) e envolve prestação em dinheiro (ao representar quantia certa). Além disso, a Lei do Cheque também faz uma divisão do título em quatro modalidades: Cheque cruzado Cheque visado Cheque administrativo Cheque para se levar em conta O é aquele que possibilita, a qualquer tempo, a identificação da pessoa em favor de quem foicheque cruzado liquidado (COELHO, 2013). Essa orientação está indicada no próprio documento, sempre que ele apresenta o desenho de dois traços transversais. Esse cruzamento pode ser geral ou especial. O cruzamento geral traz apenas a identificação das linhas transversais. O cruzamento especial tem, junto com as linhas, o nome do banco transcrito entre elas. Coelho (2013, p. 319) lembra que um cheque com cruzamento em branco somente poderá ser pago a um banco ou a um cliente do sacado mediante crédito em conta. O cheque com cruzamento especialmente somente poderá ser pago ao banco cujo nome conste do cruzamento ou, sendo este também o sacado, a um cliente seu, mediante depósito em conta. O , por sua vez, é aquele que o banco sacado lança declaração de suficiência de fundos durante ocheque visado prazo de apresentação e a pedido do emitente ou do portador legitimado. Segundo Coelho (2013, p. 317-318), tal condição não equivale ao aceite, uma vez que “não vincula o banco ao pagamento do título independentemente da existência de provisão de fundos. A única obrigação que lhe compete em virtude do visamento é a prevista no art. 7, parágrafo 1, da LC”. - -15 O , por sua vez, difere do procedimento comum do cheque, pois quem o emite é ocheque administrativo próprio banco para, depois, ser liquidado por ele. Por fim, o é aquele em que o emitente ou o portador proíbem o pagamento emcheque para se levar em conta dinheiro. Para tanto, é preciso que no anverso do cheque conste a cláusula “para ser creditado em conta” - -16 4.2 Requisitos O cheque é um dos únicos títulos de crédito de modelo vinculado. Isso significa que a sua emissão só pode ser feita mediante um documento padronizado e previamente estabelecido por normas fixadas pelo Banco Central do Brasil, fornecido por meio de talões pelo banco sacado ao correntista. Não pode, portanto, ser criado por qualquer pessoa ou transcrito em qualquer folha de papel, como acontece com a letra de câmbio. “O lançamento de todos os requisitos legais em qualquer outro documento não configura a emissão de cheque, não gerando, pois, efeitos cambiais” (COELHO, 2013, p. 316). Assim, requisitos obrigatórios que precisam constar no documento, segundo a previsão expressa do art. 1º da Lei 7.357/1985, são: a denominação inserida no títulocheque a ordem incondicional de pagar quantia determinada o nome do banco ou da instituição financeira que deve pagar (sacado) a indicação do lugar de pagamento a indicação da data e do lugar de emissão a assinatura do emitente (sacador), ou de seu mandatário com poderes especiais Como a assinatura do emitente é indispensável, não há necessidade de haver aceite. Além disso, o cheque também não se vincula a nenhum outro documento para existir. Como regra, ele será nominativo, mas o art. 69 da Lei 9.069/1995, que dispõe sobre o Plano Real, permite que os valores de até R$ 100 sejam emitidos ao portador. Podendo, neste caso, ser transmitido pela simples tradição. Mas se, porventura, um cheque com valor acima de R$ 100 não for nominativo, ele voltará sem ser descontado. Outra peculiaridade do cheque é que a apresentação dele pode se dar em duas datas diferentes. Pode ser 30 dias para praças iguais e 60 dias para praças diferentes. As praças serão iguais quando o local da emissão do cheque e o local onde está sediada a agência bancária pagadora são os mesmos. E será diferente quando esses dois locais estão situados em cidades diversas. Trata-se de um critério formal. Não interessa, a rigor, o local efetivo da emissão, mas aquele que como tal consta do título. A comparação deste local com o do pagamento é que possibilita a definição do prazo de apresentação (COELHO, 2013, p. 321). Passados esses dois prazos, o credor ainda poderá cobrar os envolvidos de outras maneiras. Porém, segundo Coelho (2013), ele sofre algumas consequências e perde alguns direitos: - -17 o de cobrar a dívida dos coobrigados (endossantes e dos avalistas) por meio de execução o de cobrar o próprio devedor se havia fundos durante o prazo de apresentação e eles deixaram de existir ao fim do prazo por culpa não imputável ao correntista, como a falência do banco ou o confisco governamental, por exemplo (art. 47, inciso II, da Lei 7.357/1985) No entanto, conforme lembra Coelho (2013), um cheque não apresentado durante o prazo legal pode ser pago normalmente pelo sacado, desde que não se encontre prescrito e haja fundos suficientes em seu poder. A inobservância do prazo de apresentação, portanto, não desconstitui o cheque como ordem de pagamento à vista, mas importa nas consequências já mencionadas anteriormente. Quadro 3 - Particularidades do cheque Fonte: Elaborado pela autora (2020). - -18 4.3 Pagamento e protesto O pagamento do cheque pode ser sustentado ou revogado. A produz efeito imediato e podesustação do cheque ser emitida pelo sacador (emitente) ou seu portador legitimado, desde que por meio de aviso escrito. Além disso, ela só poderá acontecer mediante relevantes razões de direito, como falência do banco, furto, roubo, extravio ou apropriação indébita, por exemplo. A condição principal que permite a sustação é o que cheque precisa estar dentro o prazo de apresentação. Já a (ou contraordem) é um ato exclusivo do emitente do cheque que limita o cheque aorevogação do cheque prazo de apresentação. Só pode ser praticado mediante notificação judicial ou extrajudicial, expondo as razões para tanto. A revogação apenas pode ser feita depois de expirado o prazo de apresentação. O banco, por sua vez, não pode intervir, nem questionar nenhuma das possibilidades, mesmo que haja abuso de direito, ou crime de fraude – em ambos os casos, isso será objeto de ação judicial da qual o banco não fará parte. A instituição financeira, portanto, está limitada a cumprir a ordem, se todos os pressupostos formais estiverem presentes. No caso do protesto, a Lei do Cheque isenta o procedimento como condição para que o título seja objeto de execução. Também não é necessário o protesto do cheque para a execução de endossantes e avalistas, se houver a declaração do banco sacado que o título foi apresentado em tempo hábil e não foi pago. De qualquer forma, o protesto pode ser utilizado para interromper o prazo prescricional do cheque, como acontece também com os demais títulos de crédito. Além disso, o protesto do cheque seria indispensável para usar o título como causa de um pedido de falência com fundamento na impontualidade. Nesse caso, o valor do título ou a soma dos títulos devem ser superiores a 40 salários mínimos. Assista aí https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2 /afef66b66d7cd23544bc62570f9d35d0 é isso Aí! Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • aprender sobre a letra de câmbio, a primeira e mais antiga espécie de título de crédito existente no mundo; • conhecer mais dois títulos de crédito protegidos pelo Direito brasileiro e ainda muito utilizados nas• • - -19 • conhecer mais dois títulos de crédito protegidos pelo Direito brasileiro e ainda muito utilizados nas relações comerciais e entre particulares; • descobrir as diferenças práticas existentes entre uma promessa de pagamento (nota promissória) e uma ordem de pagamento; • aprender sobre a nota promissória, como se dá a sua emissão e como devem ser os procedimentos relacionados a ela; • compreender como funciona o cheque e como ocorre a sua transação. Referências BRASIL. , de 24 de janeiro de 1966. Promulga as Convenções para adoção de uma leiDecreto nº 57.663 uniforme em matéria de letras de câmbio e notas promissórias. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br >. Acesso em: 19 fev. 2020./ccivil_03/decreto/Antigos/D57663.htm _____. , de 2 de setembro de 1985. Dispõe sobre o cheque e dá outras providências. Disponível em: <Lei nº 7.357 >. Acesso em: 19 fev. 2020.http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7357.htm _____. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov. >. Acesso em: 19 fev. 2020.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm COELHO, F. U. : direito de empresa. São Paulo: Editora Saraiva, 2010.Curso de Direito Comercial _____. : direito de empresa. São Paulo: Editora Saraiva, 2013.Manual de Direito Comercial NEGRÃO, R. : títulos de crédito e contratos empresariais. São Paulo:Manual de direito comercial e de empresa Editora Saraiva, 2010. VIDO, E. . São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2018.Curso de Direito Empresarial • • • •
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