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- -1 SOCIEDADES EMPRESARIAIS TÍTULOS DE CRÉDITO EM ESPÉCIE II Sâmia Frantz - -2 Olá! Você está na unidade . Conheça aqui mais alguns títulos de créditoTítulos de Crédito em espécie II regulamentados e utilizados no Brasil. Aprenda sobre o procedimento específico da duplicata e descubra as finalidades para as quais ela é usada. Conheça também outros títulos menos populares, mas ainda em uso, como o warrant, o conhecimento de depósito, o conhecimento de crédito, as letras imobiliárias e todos os tipos de cédulas de crédito. Bons estudos! - -3 1 Duplicata mercantil A duplicata é um título de crédito exclusivamente brasileiro, criada pelo Código Comercial de 1850, segundo lembra Coelho (2010). Quando uma empresa - adquire bens ou serviços de outra – especialmente, em atacado - e negocia um pagamento posterior, o documento que garante que a adimplência aconteça é a duplicata. Essa é, na verdade, a principal vantagem da duplicata: ela permite às micro e pequenas empresas manter o equilíbrio de caixa sem envolver as altas taxas de juros na compra a prazo. Portanto, a duplicata deve sempre ter origem em uma nota fiscal ou fatura de compra e venda mercantil ou de prestação de serviços. A partir de tais faturas, o vendedor extrai a respectiva duplicata que deve ser assinada pelo comprador como garantia de pagamento pela negociação de mercadorias ou serviços a prazo. Trata-se, portanto, de uma promessa e não da quitação em si. Figura 1 - A duplicata tem origem em uma fatura ou nota fiscal Fonte: YAKOBCHUK VIACHESLAV, Shutterstock (2020). #PraCegoVer: a imagem mostra dois homens numa relação comercial, em que um deles entrega uma nota fiscal para o outro. Essa é a primeira condição legal para o uso da duplicata: o comerciante só pode emiti-la para documentar a venda de mercadoria ou a prestação do serviço. Ela não pode ser usada para outros fins, como, por exemplo, a locação de um veículo ou crédito concedido ao mutuário (COELHO, 2010). Quando isso acontece, o documento recebe o nome de ou , cuja emissão tem consequências civis e criminais - oduplicata fria duplicata simulada - -4 crime de duplicata simulada, por exemplo, está previsto no art. 172 do Código Penal e prevê multa e detenção de dois a quatro anos. Para reforçar essa importância, a legislação também obriga o vendedor a manter e escriturar em dia o chamado Livro de Registro de Duplicatas. E como acontece com os demais títulos, a duplicata também possui a sua legislação própria: a sua regulamentação está presente na Lei 5.474/1968. Por ser uma promessa de pagamento, a duplicata respeita a lógica dos demais títulos que possuem a mesma característica, como a nota promissória. Sendo assim, apenas duas figuras a envolvem: É o empresário que emite o título (credor) É o devedor que deve pagar a quantia acertada Como regra, a duplicata deve representar a emissão de uma única fatura ou nota fiscal. No entanto, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) autoriza, desde 2016, a possibilidade de uma única duplicata representar várias parcelas de uma compra e venda, que, por sua vez, pode ou não estar vinculada a várias notas fiscais. Tal entendimento consta expresso no Informativo 581. Trata-se de um título de crédito causal, o que significa que, para ser emitido, é indispensável a origem definida pelo legislador no art. 2 da referida lei. Nesse sentido, o STJ já se manifestou pela nulidade da duplicata emitida a partir de um . É o que consta no Informativo 18/1999.contrato de leasing Depois de ser emitida, a duplicata deve ficar na posse do vendedor (quem entregou o bem), como uma promessa de que o devedor pagará a dívida contraída. Apesar da sua autonomia limitada, ela pode circular por endosso ou pela cessão civil de crédito. Mas quando for quitada, deve sair de circulação, fazendo constar tal status no próprio título. Fique de olho A duplicata é como se fosse uma segunda via da fatura. Ela vem em duplicidade à fatura, copiando as informações contidas nelas, mas com a diferença de que possui fins de duplicata e força de título de crédito. Por isso, inclusive, o nome duplicata. A fatura, por sua vez, é o documento que discrimina todos os produtos e serviços que foram vendidos ou prestados pelo estabelecimento. Tem a mesma função da nota fiscal, provando a venda dos produtos ou a prestação do serviço, mas é obrigatória para questões tributárias. E a duplicata acompanha isso: “é um título nascido como instrumento de controle de incidência de tributos” (COELHO, 2010, p. 464). - -5 Assista aí https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2 /34389edb6bfe51fb744c2a6fbf9b8eb7 1.1 Requisitos A duplicata é um título de modelo vinculado que, segundo a Lei das Duplicatas, deve obrigatoriamente conter: a denominação inserida no títuloduplicata a data da emissão e o número de ordem número de qual fatura foi extraída data do vencimento ou declaração de ser à vista nome e domicílio do credor e do devedor importância a ser paga local do pagamento declaração da concordância do devedor assinada (aceite) cláusula à ordem Assim, deve ser lançada em impresso pelo vendedor, fazendo com que o aceite, neste caso, seja necessário e independente da vontade do comprador. A partir de sua extração, ela deve ser apresentada ao devedor dentro de 30 dias de sua emissão e este deverá devolvê-la nos 10 dias seguintes, com sua assinatura de aceite ou declaração escrita esclarecendo os motivos pelos quais não a aceita. A falta de aceite sem justo motivo e inadimplida pode ser protestada e acompanhada do comprovante de entrega das mercadorias ou da prestação de serviços para que possa ser executada. A recusa só é admitida em duas situações: quando o devedor não receber a mercadoria ou ela vier avariada (já que ele não pode se responsabilizar pelo transporte) quando houver vícios no produto recebido, como, por exemplo, diferenças na qualidade ou na quantidade da mercadoria ou no próprio preço e prazos anteriormente ajustados - -6 1.2 Protesto A execução da duplicata só pode ser promovida com a apresentação da nota fiscal e também com a comprovação da entrega da mercadoria ou da prestação de serviços. No caso dela não ter sido aceita, é preciso acrescentar ainda o instrumento de protesto. Por outro lado, se ela for proposta contra outras pessoas que não o devedor principal (como os endossantes e avalistas, por exemplo), a apresentação do comprovante de entrega das mercadorias e da nota fiscal não são necessários. A duplicata também tem força para requerer a falência do devedor. Esse entendimento consta na súmula 248 do STJ: Súmula 248: Comprovada a prestação de serviços, a duplicata não aceita, mas protestada, é título hábil para instruir pedido de falência. A duplicata por ser protestada por falta de aceite, devolução ou de pagamento. A falta de devolução do título (retenção) permite que o credor emita a e possa realiza o protesto por indicações.triplicata Quadro 1 - Particularidades da duplicata mercantil Fonte: Elaborado pela autora (2020). - -7 1.3 Duplicata eletrônica Ao longo dos anos, o uso de duplicatas passou a cair no Brasil, em substituição a outras formas de pagamento, como o cartão de crédito, por exemplo. Por isso, o próprio documento procurou se atualizar e acompanhar as tendências e as facilidades promovidas pela inovação tecnológica. Então, em 2018, surgiu a Lei 13.775/2018, que trata da duplicata eletrônica. Neste novo formato, a duplicata segue com o mesmo propósito e funcionamento, com a diferença de que todo o registro é feito por meio de um sistema eletrônico. A criação da duplicata eletrônica, no entanto, não anulou o uso das duplicatas em papel. Apesar de pouco usada, essa opção continua disponível no mercado, beneficiando, principalmente as regiões onde o acesso à internet é precário. - -8 2. Outros títulos de crédito A letra de câmbio, a nota promissória, o cheque e a duplicata mercantil são os títulos maisantigos e usados no país hoje. Porém, não são os únicos. O ordenamento jurídico brasileiro prevê a proteção a dezenas de outros títulos que estão em circulação no mercado – a maioria chamado de título impróprio. Negrão (2010), por exemplo, enumera uma listagem que se aproxima de 50 espécies diferentes de títulos. Vamos estudar alguns deles. Assista aí https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2 /2dcaa4c58449ae64a6d89a030b92c802 - -9 2.1 Conhecimento de depósito e warrant São os títulos exclusivamente emitidos por armazéns gerais que se propõem a depositar, armazenar e conservar produtos e mercadorias de terceiros. Por isso, costumam ser usados, especialmente, para servir de estoque dos itens comercializados por outras empresas que não possuem espaço suficiente para tal fim. Tais títulos de crédito nascem a partir do momento que o proprietário das mercadorias guardadas no armazém passa a negociá-las com terceiros, sem que precise transportá-las até ele. Com o documento em mãos, ele garante ao comprador interessado que os produtos se encontram em estoque e em bom estado. Isso faz do conhecimento de depósito e do warrant, portanto, títulos à ordem e também causais. Figura 2 - Armazéns gerais Fonte: Halfpoint, Shutterstock (2020). #PraCegoVer: a imagem mostra um homem em meio a grandes prateleiras que armazenam caixas de papelão. Ao depositar suas mercadorias, o proprietário (depositante) solicita a emissão do conhecimento de depósito, documento que garante e descreve todas as mercadorias deixadas em poder do armazém, fazendo prova de que ele é o legítimo proprietário e tais itens. Junto dele, nasce também o warrant. Enquanto o conhecimento de depósito permite que o proprietário da mercadoria a negocie mediante endosso, o warrant permite utilizar tais produtos como garantia de determinada operação financeira, se esse for seu interesse. Ambos, no entanto, não dão ao credor direito de crédito, mas, sim, o direito de propriedade. - -10 A regulamentação do conhecimento de depósito e do warrat estão no Decreto 1.102/1903. Porém, há algumas ramificações nesse negócio. Quando os produtos armazenados são agropecuários, os títulos de crédito oriundos daí são o Conhecimento de Depósito Agropecuário (CDA) e Warrant Agropecuário (WA), ambos legislados pela Lei 9.973/2000. 2.2 Conhecimento de transporte O conhecimento de transporte nada mais é do que o título emitido por empresa de transporte aéreo, terrestre ou marítimo que concede ao seu titular o direito a transportar e entregar determinada mercadoria nele transcrita (NEGRÃO, 2010). O documento, então, é a prova de que o produto foi entregue para transporte até o seu lugar de destino. Figura 3 - Transporte marítimo de cargas Fonte: Avigator Fortuner, Shutterstock (2020). #PraCegoVer: a imagem mostra um navio em alto mar carregando dezenas de mercadorias protegidas por containers O conhecimento de transporte, no entanto, não se trata de um título de crédito por não envolver pecúnia, conforme lembra Negrão (2010). Ele pode ser classificado, então, como um título representativo de mercadoria transportada, além de ser causal por nascer de um contrato de transporte. - -11 2.3 Cédulas de crédito As cédulas de crédito são títulos de crédito que representam uma promessa de pagamento ou de entrega de produtos, a depender do que ela se propõe. Isso porque as cédulas de crédito possuem diversas espécies, cada qual direcionada para um ramo diferente de negócio. As mais comuns são as cédulas de crédito rural, as cédulas de crédito industrial, as cédulas de crédito comercial, as cédulas de crédito à exportação e as cédulas de crédito bancário. Em comum, todas se aproximam de títulos líquidos, certos e exigíveis, permitindo a execução para cobrar o valor devido. Assista aí https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2 /cfa945b2d823318f0cb24b0704678d32 - -12 2.4 Letra imobiliária A Letra de Crédito Imobiliário (LCI) é um título de crédito nominativo regulado pela Lei nº 10.931/04 e expedido por instituições expressamente autorizadas pelo Banco Central do Brasil. Tratam-se de aplicações de fácil acesso e com valores mais baixos para atender a todos os interessados. As letras de credito imobiliário são produtos que financiam o credito da área imobiliária. Os bancos oferecem os papeis aos investidores, que por sua vez, aplicam, e com a quantia aplicada, a instituição financeira e empresta. Figura 4 - Financiamento imobiliário Fonte: Stock-Asso, Shutterstock (2020). #PraCegoVer: a imagem mostra a mão de um homem segurança a chave de uma casa própria. A LCI pode ser transferida por endosso em preto, sendo que o endossante responderá pela veracidade do título, não sendo ele responsável solidário, não cabendo, portanto, ação de regresso contra ele. 2.5 Letra hipotecária A Letra Hipotecária (LH) é um título de dívida, emitido por instituições financeiras autorizadas a conceder créditos hipotecários. Esse título é garantido por créditos hipotecários de primeira hipoteca. Funciona como um empréstimo que o investidor faz a uma instituição financeira em troca de uma remuneração, acertada no momento da aplicação, que será adicionada ao capital investido no final de um prazo determinado. O prazo mínimo de emissão de uma LH é de seis meses e o prazo máximo não poderá ser superior ao prazo dos créditos hipotecários que lhe servem de garantia. No Brasil, boa parte dos créditos hipotecários chegam a 30 anos. - -13 2.6 Cédula hipotecária A cédula hipotecária é um título nominativo que surgiu com a organização do sistema financeiro de habitação. Seu objetivo é o de criar condições para aquisição da casa própria aos associados das Associações de Poupança e Empréstimos, bem como captar, incentivar e disseminar a poupança popular. A Cédula Hipotecária pode ser transferida por endosso em preto lançado no verso do título, sendo-lhe aplicáveis as disposições referentes à cessão de crédito estabelecida no Código Civil. 2.7 Letra de arrendamento mercantil Criada em 2008, a Letra de Arrendamento Mercantil (LAM) é um título de crédito representativo de promessa de pagamento em dinheiro, sendo o mesmo nominativo, endossável e de livre negociação. Pode ser emitida somente pelas sociedades de arrendamento mercantil. A LAM nasceu em meio a um contexto de crise financeira mundial como forma de permitir a captação de recursos por entidades de leasing. Dessa forma, o objetivo desse título não é realizar um empréstimo, mas sim captar recursos como qualquer outro título de crédito. Logo, ele representa uma promessa de pagamento ao credor em uma data futura, acrescida de juros remuneratórios. A LAM não constitui operação de empréstimo ou adiantamento, por sua aquisição em mercado primário ou secundário, nem se considera valor mobiliário para os efeitos da Lei nº 6.385, de 7 de dezembro de 1976. é isso Aí! Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • conhecer as regras e procedimentos que acompanham a emissão da duplicata mercantil; • descobrir que o Brasil possui cerca de 50 títulos de crédito diferentes, mas que nem todos são tão conhecidos e utilizados; • aprender mais sobre outras espécies de títulos de crédito, como o warrant, o conhecimento de depósito, o conhecimento de crédito, as letras imobiliárias e todos os tipos de cédulas de crédito. • • • - -14 Referências BRASIL. , de 21 de novembro de 1903. Institui regras para o estabelecimento de empresas deDecreto nº 1.102 armazéns gerais, determinando os direitos e obrigações dessas empresas. Disponível em: <http://www.planalto. >. Acesso em: 19 fev. 2020.gov.br/ccivil_03/decreto/Antigos/D1102.htm _____. , de 18 de julho de 1968. Dispõe sobre as duplicatas, e dá outras providências. Disponível em: <Lei nº 5.474 >. Acesso em: 20 fev. 2020.http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L5474compilado.htm _____. , de 20 de dezembro de 2018. Dispõe sobre a emissão deduplicata sob a forma escritural; alteraLei 13.775 a Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997; e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov. >. Acesso em: 21 fev. 2020.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13775.htm COELHO, F. U. : direito de empresa. São Paulo: Editora Saraiva, 2010.Curso de Direito Comercial _____. : direito de empresa. São Paulo: Editora Saraiva, 2013.Manual de Direito Comercial NEGRÃO, R. : títulos de crédito e contratos empresariais. São Paulo:Manual de direito comercial e de empresa Editora Saraiva, 2010. VIDO, E. . São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2018.Curso de Direito Empresarial
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