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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO 
CENTRO DE LETRAS E ARTES 
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA 
 
 
 
 
 
POR UMA “NOVA ARQUITETURA” NO BRASIL 
JORGE MACHADO MOREIRA (1904-1992) 
 
Paulo Jardim 
 
 
 
 
 
 
Prof. Dr. Mauro César de Oliveira Santos 
Orientador 
 
Dra. Paola Berenstein Jacques 
Co-orientadora 
 
 
 
Outubro 2001 
II 
 
 
 
 
POR UMA “NOVA ARQUITETURA” NO BRASIL 
JORGE MACHADO MOREIRA (1904-1992) 
 
Paulo Jardim 
Reg. DRE: 09933731-3 
 
Dissertação submetida ao Corpo Docente do Programa de Pós-
Graduação em Arquitetura da Faculdade de Arquitetura e 
Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro – FAU / 
UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do 
grau de Mestre. 
 
Aprovada em 27 de setembro de 2001, por: 
 
Prof. Dr. Mauro César de Oliveira Santos 
Orientador e Presidente da Banca Examinadora 
 
Dra. Paola Berenstein Jacques 
Co-orientadora 
 
Prof. Luiz Paulo Fernandez Conde 
 
Prof. Dr. Paulo Afonso Rheingantz 
 
Prof. Dr. Pablo Cesar Benetti 
III 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Jardim, Paulo, 1952- 
Por uma “Nova Arquitetura” no Brasil – Jorge Machado 
Moreira (1904-1992) / Rio de Janeiro: UFRJ/FAU/PROARQ, 2001 
Xxiv, 256 p. il. 
Dissertação – Universidade Federal do Rio de Janeiro, 
FAU/PROARQ 
1. Jorge Machado Moreira (1904-1992). 2. Arquitetura 
Moderna – Século XX. 3. Urbanismo – Século XX. 4. Dissertação 
(Mestrado – UFRJ/FAU/PROARQ). I. Título 
IV 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
Agradecimentos ................................................................................ ix 
Prefácio ............................................................................................. xi 
Introdução ......................................................................................... 1 
 Figuras ....................................................................................... 13 
Depoimento ...................................................................................... 15 
Capítulo 1 – Por uma “Nova Arquitetura” mundial ............................ 17 
 CIAM I a V – 1928 a 1939 .......................................................... 23 
 Gropius, Bauhaus e Germanófonos nos CIAM I, II e III ....... 27 
 Le Corbusier e Francófonos nos CIAM IV e V ..................... 44 
 Frank Lloyd Wright ..................................................................... 63 
 Jorge Machado Moreira e a Primeira Geração............................ 68 
 Figuras ....................................................................................... 70 
Capítulo 2 – Por uma “Nova Arquitetura” brasileira .......................... 83 
 Gregori Warchavchik .................................................................. 92 
 Affonso Eduardo Reidy antes do MESP ..................................... 100 
 Jorge Machado Moreira antes do MESP .................................... 105 
 Lúcio Costa antes do MESP........................................................ 107 
 Razões da Nova Arquitetura ...................................................... 113 
 MESP ......................................................................................... 117 
 Depois do MESP ........................................................................ 134 
V 
 
 
 Figuras ....................................................................................... 137 
Capítulo 3 – A “Nova Arquitetura” de Jorge Machado Moreira .......... 149 
 Marcelo e Milton Roberto ........................................................... 152 
 Affonso Eduardo Reidy depois do MESP ................................... 154 
 Jorge Machado Moreira depois do MESP .................................. 156 
 Oscar Niemeyer depois do MESP .............................................. 163 
 Jorge Machado Moreira a partir de 1940 .................................... 166 
 Panorama Mundial nos Anos 1940 ...................................... 167 
 Projetos de Jorge Machado Moreira nos Anos 1940 ........... 169 
 Jorge Machado Moreira nos Anos 1950 ..................................... 175 
 Panorama Mundial nos Anos 1950 ...................................... 175 
 Projetos de Jorge Machado Moreira no ETUB ..................... 184 
 Outros Projetos dos Anos 1950 ........................................... 191 
 Jorge Machado Moreira depois do ETUB ................................... 194 
 Figuras ....................................................................................... 198 
Conclusões ....................................................................................... 219 
Referências Bibliográficas ................................................................ 235 
Anexos .............................................................................................. 240 
 Anexo 1 – Razões da Nova Arquitetura ..................................... 241 
 Anexo 2 – Quadro Sinóptico ....................................................... 253 
VI 
 
 
 
RESUMO 
 
JARDIM, Paulo. Por uma “Nova Arquitetura” no Brasil - Jorge Machado Moreira 
(1904-1992) 
Orientador: Prof. Dr. Mauro César de Oliveira Santos; Co-orientadora: Dra. 
Paola Berenstein Jacques. 
Rio de Janeiro: UFRJ/FAU/PROARQ, 2001, Dissertação. 
 
Por volta de meados do Século XX, a arquitetura brasileira obteve reconhecimento 
mundial, graças à produção de alguns arquitetos que, desde a década de 1930 
abandonaram os métodos acadêmicos e a linguagem eclética dominante e adotaram 
uma nova maneira de conceber, projetar e construir, se alinhando com as 
vanguardas arquitetônicas européias, congregadas nos CIAM – Congressos 
Internacionais de Arquitetura Moderna. Para os brasileiros, as referência mais fortes 
eram Walter Gropius e Le Corbusier. As duas visitas que o segundo fez ao Brasil 
deslanchou uma rápida transformação nas convicções arquitetônicas dos 
profissionais brasileiros. A vasta e criativa atuação de alguns arquitetos sediados no 
Rio de Janeiro permitiu o desenvolvimento da chamada Escola Carioca, resultante 
adoção do léxico purista de Le Corbusier, reinterpretado segundo as tradições 
locais. Nesse contexto, Jorge Machado Moreira teve atuação importante pela 
quantidade e pelo porte das obras que projetou e construiu e pelo rigor com que 
tratou a doutrina da “Nova Arquitetura”. O presente trabalho aborda historicamente a 
carreira desse arquiteto, procurando identificar a matriz geradora de seu modo de 
agir arquitetônico e urbanístico. 
VII 
 
 
 
ABSTRACT 
 
JARDIM, Paulo. Por uma “Nova Arquitetura” no Brasil - Jorge Machado Moreira 
(1904-1992) 
Advisor: Prof. Dr. Mauro César de Oliveira Santos; Co-advisor: Dr. Paola 
Berenstein Jacques. 
Rio de Janeiro: UFRJ/FAU/PROARQ, 2001, Dissertation. 
 
By the middle of XX Century, Brazilian architecture was worldwide recognized due to 
the production of some architects that, from the beginning of the 1930s, abandoned 
the prevailing academic methods and eclectic language. They adopted a new way of 
conceiving, designing and building, aligning themselves with the European 
vanguards associated in the CIAM – Congrés Internacionaux d’Architecture Moderne 
(International Congress of Modern Architecture). For Brazilians, the strongest and 
principal references were Walter Gropius and Le Corbusier; and the two visits that 
the later made to Brazil – respectively in 1929 and 1936 – caused a rapid change in 
Brazilian professional architectural concepts. The widely expansive, creative work of 
some locally based architects in Rio de Janeiro evolved into the so-called “Carioca 
School”, as a consequence of the adoption of the purist Le Corbusier’s lexicon 
reinterpreted under local traditions. In this context, Jorge Machado Moreira played a 
significant role, especially in the quantity,importance and size of the works he 
designed and constructed, as well as the accuracy by which he interpreted the “New 
Architecture” doctrine. The present work is an historical approach to this architect 
career, and tries to identify the originating matrix of his architectonic and urbanistic 
way of working. 
VIII 
 
 
 
RESUMEN 
 
JARDIM, Paulo. Por uma “Nova Arquitetura” no Brasil - Jorge Machado Moreira 
(1904-1992) 
Orientador: Prof. Dr. Mauro César de Oliveira Santos; Co-orientador: Dra. 
Paola Berenstein Jacques. 
Rio de Janeiro: UFRJ/FAU/PROARQ, 2001, Diss. 
 
La arquitectura brasileña, alrededor de la mitad del siglo XX, obtuvo reconocimiento 
internacional gracias a la producción de algunos arquitectos que, desde la década 
del 30 abandonaron los métodos académicos y el lenguaje ecléctico para adoptar 
una nueva manera de concebir, proyectar y construir, más próxima de las 
vanguardias arquitectónicas europeas reunidas en los CIAM – Congrés 
Internationaux d’Architecture Moderne (Congresos Internacionales de la Arquitectura 
Moderna). Para los arquitectos brasileños las referencias más fuertes eran Walte 
Gropius y Le Cobusier. Las dos visitas que este último hizo al Brasil 
desencadenaron una transformación muy rápida en las convicciones arquitectónicas 
de estos profesionales. La inmensa y creativa actuación de algunos de estos 
arquitectos radicados en Río de Janeiro permitieron la formación de la “Escuela 
Carioca”, que incorporó el léxico purista corbusierano adaptándolo a las tradiciones 
locales. En este contexto Jorge Machado Morerira, debido a la cantidad, importancia 
y calidad de las obras construidas, y al rigor con que adoptó los principios de la 
“Nueva Arquitectura”, tuvo una actuación muy importante. Este trabajo aborda 
históricamente la carrera profesional de este arquitecto tratando de identificar la 
matriz generadora arquitectónica y urbanística de su forma de actuar. 
IX 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Esta dissertação, para mim, representa a realização de um projeto tentado várias 
vezes, mas só agora levado a termo. Sua confecção teve início há pouco tempo, 
mas sua gestação vem de longa data. Quero deixar registrada a importância que 
dou, quero homenagear e quero agradecer a muitas pessoas – colegas e familiares 
– que me ajudaram no caminho que me trouxe até aqui e na construção desta minha 
pequena obra: 
 
Meus colegas de Universidade: 
Prof. Ulysses Burlamaqui (in memoriam) e Prof. Luiz Paulo Conde: catalisadores de 
potenciais, diretores entusiasmados da minha FAU/UFRJ; 
Prof. Jorge Czajkowski: antigo parceiro, me mostrou que arquitetura ia muito além 
da régua e do compasso, do prumo e do nível; 
Prof. Mauro Santos: orientador que orienta e segura as ondas para não quebrarem 
de mau jeito; 
Dra. Paola Berenstein Jacques: co-orientadora, não sei o que seria deste trabalho 
sem sua ajuda; 
Profa. Elizabete Martins: incentivadora constante, entusiasta incontrolável, você é 
10; 
Prof. Milton Feferman: crítico implacável dos lugares comuns e das frases feitas; 
iconoclasta inveterado; obrigado por me ajudar a duvidar de algumas verdades; 
Professores Paulo Afonso Rheingantz, Pablo Benetti, Sílvio Colin, Mauro Nogueira e 
Margareth Pereira: me ajudaram a esclarecer aspectos específicos do trabalho, 
colaboraram com a literatura (na falta de uma biblioteca decente); acreditam na 
arquitetura e na importância de estudá-la com seriedade; 
X 
 
 
Henrique Houayek: o homem das imagens que aparecem neste volume; 
Colegas do PROARQ: companheiros com quem partilhei a realização deste projeto; 
Meus alunos, todos eles, desde 1978 até hoje: me provocando e me forçando a me 
posicionar no embate cotidiano da produção da arquitetura, afinal, nossa grande 
paixão; 
 
Meus familiares: 
Meu pai Ruy Moraes (in memoriam): sempre o admirei, pela atitude correta diante da 
vida e da profissão de médico e professor; achava pitoresca sua desajeitada maneira 
de amar; 
Minha mãe Celeste Maria: difícil comentar; quem a conhece sabe que palavras 
dizem pouco da figura mais importante de toda minha vida; a pessoa com o maior 
talento para viver que eu jamais encontrei, e que enxerga longe, apesar da pouca 
visão; 
Rachel: companheira de todos os momentos, sempre valorizando minhas poucas 
qualidades e tentando corrigir (sem muito sucesso) meus inúmeros vícios e defeitos 
(eu amo você!); 
Meus filhos, Felipe, Eduardo (revisor implacável) e Luisa: meus únicos projetos bem 
realizados; pessoas que amo imensamente, nas quais vejo aperfeiçoadas as 
qualidades do ser humano – pelo menos, não vejo neles muitos dos defeitos que 
vejo em mim; 
Meu irmão Eduardo (last, but not least): atualmente para mim um dos maiores 
pensadores da cultura brasileira; é um privilégio poder pegar no telefone e discutir 
coisas, desde as mais banais até as mais relevantes; obrigado também pela ajuda 
com o alemão. 
 
A todos, meu sincero agradecimento. 
 
PREFÁCIO 
 
 
DEL RIGOR EN LA CIENCIA 
 
...EN AQUEL IMPERIO, el Arte de la Cartografía logró tal Perfección que el mapa de 
una sola Provincia ocupaba toda una Ciudad, y el mapa del Imperio, toda una 
Provincia. Con el tiempo, esos Mapas Desmesurados no satisficieron y los 
Colegios de Cartógrafos levantaron un Mapa del Imperio, que tenía el tamaño del 
Imperio y coincidia punctualmente con él. Menos Adictas al Estudio de la 
Cartografía, las Generaciones Siguientes entendieron que ese dilatado Mapa era 
Inútil y no sin Impiedad lo entregaron a las Inclemencias del Sol y de los Inviernos. 
En los desiertos del Oeste perduran despedazadas Ruinas del Mapa, habitadas 
por Animales y por Mendigos; en todo el País no hay otra reliquia de las 
Disciplinas Geográficas. 
 
SUÁREZ MIRANDA: Viajes de varones prudentes, 
Libro cuarto, cap. XLV, Lérida, 1658. 
 
Jorge Luis Borges 
El Hacedor. Emecé Editores S.A., 1960; 1996, p.119. 
PREFÁCIO xii 
 
 
Não é de hoje meu interesse e minha vontade de aprofundar mais cuidadosamente e 
detalhadamente o estudo da obra do arquiteto Jorge Machado Moreira (1904-1992). 
Há muitos anos freqüento quase cotidianamente a Ilha do Fundão, portanto, convivo 
com o fruto de seu trabalho, embora tenha dedicado a ele pouco mais do que uma 
visão leiga. 
Um dos primeiros contatos que tive com o trabalho de Jorge Machado Moreira – não 
foi o primeiro, vim a descobrir depois – foi em 1970, quando ingressei nessa 
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Ninguém passa indiferente por este edifício; 
ninguém passa indiferente pelo Campus da UFRJ da Ilha do Fundão – eu também não 
passo indiferente por esse lugar. O espaço da Cidade Universitária e o espaço do 
Edifício da FAU propiciam ao visitante vivências espaciais pouco convencionais. São 
espaços que se distinguem do restante da cidade, seja pelo arranjo lógico das 
edificações e do traçado viário (conspurcado no ano 2000 pela invasão equivocada do 
trecho final da Linha Amarela), seja pelo porte e escala monumental dos espaços 
vazios e dos volumes edificados, características que são rapidamente apreendidas 
mesmo por um visitante pouco atento. 
Em mim, jovem estudante, pós-adolescente, foi intensa a impressão que causaram 
esses espaços, esses edifícios. Naquela época, em outros lugares do planeta já se 
contestavam, e já eram dadas como mortas por muitos arquitetos, as doutrinas da 
arquitetura moderna. Por aqui, muitos colegas acreditavam que ainda era possível se 
viver dos louros conquistados pela genialidade e criatividade sem paralelo da 
arquitetura brasileira produzida nos 30 ou 40 anos anteriores, que teria culminado com 
a construção de Brasília. É verdade que a ditadura militar tinha interrompido esta 
produção, mas tão logo fosse vencido o inimigo reacionário, iríamos retomar a trilha de 
glória que nossos colegas tinham aberto com tanta competência – era o que se 
pensava. 
Entendi o Edifício da FAU como uma aula em si.Ainda hoje constato, vendo trabalhos 
feitos por alunos, que para muitos dos que freqüentam essas salas, ele continua sendo 
uma aula. Com certeza a aula que este edifício dá hoje é muito diferente daquela que 
PREFÁCIO xiii 
 
deu nas décadas de 1960 e 1970. Um edifício feito para abrigar a própria Faculdade 
de Arquitetura não é um edifício qualquer. Vejo uma analogia com o jogo de palavras 
que há no nome Bauhaus – literalmente “casa da construção”. Aqui seria a “casa da 
construção de construtores de casas” (como se diria isto em alemão?). A pessoa que 
concebeu esse edifício quis demonstrar didaticamente em cada detalhe sua maneira 
de ver e de fazer arquitetura. Deveria, portanto, ser um exemplo da arquitetura a ser 
praticada por quem ali estudasse. Jorge Machado Moreira nunca foi, de fato, 
professor, mas através de sua obra e, especialmente através do Edifício da FAU, 
influiu indiretamente na formação de várias gerações de arquitetos que estudaram 
nessa Faculdade. 
No Brasil, há poucos casos de edifícios projetados especificamente para abrigarem 
Escolas de Arquitetura. O Rio de Janeiro abriga três deles. O primeiro é a Sede da 
Real Academia de Belas Artes, projetado por Grandjean de Montigny (1776-1850), em 
1817, na Travessa das Belas Artes, hoje demolido, seu terreno é ocupado por um 
estacionamento. Outro edifício é a Escola Nacional de Belas Artes (atual Museu 
Nacional de Belas Artes), na Av. Rio Branco, projetado em 1902 por Adolfo Morales de 
los Rios (1858-1928). Finalmente, o atual Edifício na Ilha do Fundão, do qual estamos 
falando. Apesar desta singularidade, ainda não foi feito um estudo que relacione cada 
um destes edifícios, as idéias subjacentes às concepções que os geraram e a 
influência que eles exercem sobre os profissionais que neles se formam. 
O visitante que apenas rapidamente passa pela Ilha do Fundão fica impactado pelo 
porte e pela escala monumental dos espaços, tanto os externos como os internos. O 
usuário que vai sempre ali, superado este impacto inicial, percebe logo a racionalidade 
que determina todos os aspectos de sua concepção e de sua execução. A mão do 
projetista, que agiu como um geômetra, é percebida em todos os lugares e no lugar 
todo. Percorrer os andares de cada edifício é como andar sobre uma planta ampliada 
para a escala natural. Olhando o chão, as paredes e os tetos, enxergo os eixos, os 
detalhes básicos que se repetem, a aritmética dos forros, e dos azulejos e cerâmicas, 
formando módulos e sub-módulos, numa cadência ritmada e interminável. A situação 
se assemelha ao conto Del Rigor de la Ciencia (Do Rigor da Ciência), de Jorge Luis 
Borges, no qual o narrador discorre sobre a obsessão pela minúcia que alguns 
PREFÁCIO xiv 
 
cartógrafos desenvolveram em um antigo império. Esta obsessão os levou a fazê-los 
tão grandes e perfeitos que acabaram por se superpor ao próprio local mapeado. Hoje 
ainda se poderiam encontrar fragmentos deles em alguns lugares do país (Borges: 
1960, 160). Nos projetos de Jorge Machado Moreira ocorre o processo inverso: a 
cada passo, o usuário tropeça nos riscos e nos instrumentos de desenho deixados 
sobre a prancheta, que se corporificam em matéria geometricamente controlada. 
A mesma racionalidade aplicada ao edifício, entendido como construção, se mostra 
também no arranjo das funções em blocos especializados. A distribuição dos setores 
em blocos pretende organizar os usos segundo uma lógica baseada na compreensão 
do programa. Os volumes que abrigam as circulações permitem que as funções se 
articulem com clareza cristalina, oferecendo ainda, como um generoso brinde, a 
formação de pátios ajardinados que amenizam os percursos, revelando também nesta 
estratégia a racionalidade que domina os espaços cobertos. 
Esta lógica visível, que decorre do entendimento do espaço projetado como a resposta 
a uma equação, me levou apressadamente a identificar aquilo que via como a 
essência do que seria a própria arquitetura moderna. Ou seja, se existia uma 
arquitetura tipicamente moderna, seria aquela. Este seria o modelo e tudo que dele se 
distanciasse, estaria se distanciando do autenticamente moderno. À medida que ia 
conhecendo os outros edifícios dentro da Cidade Universitária – o Centro de 
Tecnologia, o Hospital Universitário, o Alojamento de Estudantes, o Instituto de 
Pediatria e Puericultura –, esta impressão apenas se acentuava. Nos outros edifícios, 
percebia a mesma lógica a presidir o arranjo dos espaços e a concepção construtiva. 
Mas percebia também que, entre todos, os dois melhores eram o Instituto de Pediatria 
Puericultura e o Edifício da FAU. Nestes dois exemplares, o sentido lógico alcançava 
suas mais claras expressões, denunciado pela clara articulação dos blocos edificados 
e dos pátios, pela francamente perceptível hierarquização dos espaços e dos 
elementos da composição e pelo rigor construtivo. 
Durante o curso de Arquitetura, conheci e fui aluno de muitos arquitetos que 
participaram da equipe projetista do ETUB – Escritório Técnico da Universidade do 
Brasil, responsável por estes projetos: Orlando Magdalena, João Henrique Rocha, 
PREFÁCIO xv 
 
Donato Mello Júnior, Renato Sá, Arlindo Gomes, Carlos Alberto Boudet, Paulo Sá. Em 
sua maior parte, eram arquitetos “de prancheta” e “de canteiro”. Praticavam e 
ensinavam aquela arquitetura, porque acreditavam nela, achavam que ela “dava 
certo”, “funcionava”. Donato era o único com perfil mais próximo do modelo de um 
pesquisador acadêmico. Mesmo assim, se mostrava entusiasmado ao descrever o 
detalhamento das escadas do Edifício da FAU (talvez tenha sido este trabalho seu 
maior projeto). O que transparecia de seus relatos e das aulas destes colegas 
professores era a necessidade de sempre deixar à lógica e à racionalidade os critérios 
de decisão para determinar a forma que um edifício deveria tomar. 
Com poucos semestres cursados na faculdade, tomei conhecimento de que havia pelo 
mundo afora arquitetos como, por exemplo, Kenzo Tange, que praticavam uma 
arquitetura moderna à moda oriental, ou Marcel Breuer, Louis Kahn, Alvar Aalto e 
outros, muitos outros, que davam à arquitetura, ainda que essencialmente moderna, 
uma expressão extremamente particular. Ao mesmo tempo, as revistas estrangeiras 
mostravam que novos ventos arquitetônicos sopravam, vindos do sul da Europa e dos 
Estados Unidos. Venturi, Moore, Graves e Rossi, entre outros, viravam os dogmas 
modernos pelo avesso, e produziam obras tão desafiadoramente diferentes daquelas 
feitas pelos filhos dos CIAM, que era impossível ficar indiferente a elas. 
Comecei a questionar a validade e a atualidade daquela arquitetura moderna 
brasileira. Na época, o Governo Federal, através do BNH produzia sucessivamente 
enormes “monstrengos” a que chamava conjuntos habitacionais. Milhares de 
apartamentos compactos eram construídos nos vazios deixados na expansão das 
cidades rumo a suas periferias. A lógica destes projetos era baseada, pode-se dizer, 
quase exclusivamente na economia. Lançava-se mão de um “sub-urbanismo” com 
origem no padrão das superquadras de Brasília, adaptado aos orçamentos apertados 
dos programas habitacionais populares. Em 1978, numa pesquisa de avaliação 
destes conjuntos, constatei pessoalmente como era falso aquele modelo. O ruído da 
implosão de Pruitt Igoe, relatada por Jencks, em The Language of Post-Modern 
Architecture (A Linguagem da Arquitetura Pós-moderna) (Jencks: 1977), soava como a 
trilha sonora da queda da arquitetura moderna do pedestal onde ainda alguns 
arquitetos insistiam em mantê-la. 
PREFÁCIO xvi 
 
Ultimamente, tenho ouvido com inconveniente freqüência, de alguns colegas, e 
mesmo de alguns estudantes, um discurso de rejeição sumária a tudo que se refira ao 
moderno. É um discurso panfletário e, a meu ver, ultrapassado. Se isto ocorresse há 
10 ou 20 anos atrás, ainda se compreenderiapois, nesta época, a crítica ao 
movimento moderno não havia se consolidado, a ponto de se poder distinguir nele os 
aspectos positivos dos negativos. Chamava atenção a degradação da paisagem 
urbana em todo o mundo. Era muito fácil associar esta degradação ao movimento 
moderno, pois a mais intensa urbanização que a humanidade já presenciou se deu 
concomitantemente ao apogeu deste movimento. No entanto, cabe ressalvar, como 
faz Frampton: 
“O reconhecimento da perda de identidade cultural que a urbanização 
trouxe consigo foi retomado com grande intensidade em meados da 
década de 1960, quando os arquitetos começaram a perceber que os 
códigos redutivos da arquitetura contemporânea tinham levado ao 
empobrecimento do ambiente urbano. Contudo, o modo exato como se 
deu este empobrecimento – até que ponto ele se deve às tendências 
abstratas presentes na própria racionalidade cartesiana ou, 
alternativamente, à inexorável exploração econômica – é uma questão 
crítica e complexa que ainda precisa ser ponderadamente resolvida.” 
(Frampton: 1992; 1997, 353) 
A saída que se mostrou mais eficaz, no lugar de sua simples contestação, foi uma 
atitude mais inclusiva, que permite olhar criticamente o movimento moderno. Esta 
atitude decorre diretamente da compreensão de que, ao contrário do fim da história 
pretendido pelos vanguardistas mais radicais, o movimento moderno foi mais um 
período na história da arquitetura, e que a contribuição que trouxe ainda está longe de 
se esgotar. Hoje, parece ser unanimidade a contestação ao urbanismo funcionalista, 
que segrega funções em setores especializados da cidade, e acaba dando ao sistema 
viário uma perversa prioridade que oprime a escala do pedestre. Ao mesmo tempo, o 
“Estilo Internacional”, que, de certa maneira, é uma degeneração dos princípios 
racionalistas modernos, perde terreno para uma gradativa e cada vez mais acentuada 
expressão individual e local das edificações. No entanto, não resta dúvida que este 
mesmo movimento revolucionou a estética de toda a humanidade, e incorporou à 
arquitetura métodos e processos industriais sem os quais seria impossível produzir 
edificações no ritmo que a crescente população mundial tem demandado, no que pese 
o fato de que grande parte desta população ainda não disponha de uma habitação 
PREFÁCIO xvii 
 
digna. 
Esta corrente, que se manifesta nos mais variados pontos do planeta, acabou sendo 
rotulada como Regionalismo Crítico, e inclui nomes e expressões formais tão variados 
como Ando, no Japão, Siza, em Portugal, Meier, nos Estados Unidos, Nouvell, na 
França, entre outros. Em resumo, “as culturas regionais e nacionais precisam 
atualmente, mais do que nunca, ser, em última instância, constituídas como 
manifestações localmente moduladas da ‘cultura mundial’.” (Frampton: 1992; 1997: 
382) 
Ao mesmo tempo, face à dinâmica da sociedade global e a ineficácia demonstrada por 
qualquer instrumento de controle e planejamento, só nos resta aceitar nossa limitação 
a territórios mais restritos. “Numa sociedade hipnotizada pelo consumismo, o 
equilíbrio das condições eco-ontológicas talvez só possa ser alcançado através da 
estratégia da criação de enclaves descontínuos, ou seja, fragmentos delimitados nos 
quais uma certa simbiose cultural e ecológica possa prevalecer a despeito do caos 
circundante.” (Frampton: 1992; 1997, 416). Levando-se em conta que esta sociedade 
a cada dia incorpora em seu cotidiano uma tecnologia de informação crescentemente 
interativa, é possível que os indivíduos determinem os limites de seus enclaves menos 
em função da proximidade física com o vizinho de porta e mais em função das 
afinidades com outros que estejam do outro lado do mundo, mas ao alcance de 
apenas um instantâneo clique de seu mouse. 
Esta nova atitude arquitetônica valoriza novamente a história. Agora, no entanto, esta 
valorização se dá de forma diferente do distante respeito antigamente dirigido aos 
Serlio e Vignola. Sem desprezar os clássicos do passado, a história que alimenta a 
arquitetura hoje inclui todas as manifestações relevantes na formação da cultura, 
sejam elas eruditas ou populares. Valorizam-se eventos que tenham importância para 
um grande número de pessoas, mas não se desprezam coisas que tenham significado 
apenas para um grupo restrito de indivíduos ou uma pequena comunidade. 
É nesta perspectiva que se torna a cada dia mais importante conhecer e atribuir o 
adequado valor às manifestações de nossa cultura. No lugar de glorificar de forma 
ufanista os modernos brasileiros ou de condená-los preconceituosamente, é 
PREFÁCIO xviii 
 
importante colocá-los adequadamente no lugar que merecem ocupar na história da 
arquitetura. Nesta perspectiva, parece não restar qualquer dúvida sobre a relevância 
de se estudar a obra de Jorge Machado Moreira. 
Em 1993, Giuseppina Pirro Moreira, viúva de Jorge Machado Moreira, confiou ao NPD 
– Núcleo de Pesquisa e Documentação – a guarda de seu acervo, que incluía 
centenas de desenhos e fotografias. O conjunto abrangia todo o trabalho feito pelo 
arquiteto fora do ETUB, incluindo desenhos desde os tempos de estudante na Escola 
Nacional de Belas Artes, até os últimos projetos, feitos em parceria com ela própria, 
Giuseppina. As fotografias destinavam-se majoritariamente a publicação em revistas 
nacionais e estrangeiras. A parte relativa à Ilha do Fundão, material produzido no 
ETUB – Escritório Técnico da Universidade do Brasil –, continua pertencendo ao 
arquivo da Prefeitura da Cidade Universitária. 
Nesta época eu dividia com Jorge Paul Czajkowski a coordenação do Núcleo, criado 
em 1982 com o apoio do saudoso diretor e professor Ulysses Burlamaqui. Jorge 
comandava diretamente os pesquisadores e eu me empenhava para viabilizar 
operacionalmente o trabalho da equipe. Diria que foi uma dupla que funcionou. 
A incorporação desta nova coleção representou um acréscimo enorme de peças ao 
acervo do NPD. Assim que foram entregues, os rolos de desenhos eram abertos um a 
um com grande curiosidade, revelando a personalidade e os talentos de Jorge 
Machado Moreira. A maior parte dos desenhos era de seu próprio punho, mesmo as 
pranchas de grandes formatos, predominantemente técnicas – projetos executivos e 
detalhes de obra. Como já era esperado, a maior parte dos desenhos era referente às 
etapas de anteprojeto, projeto executivo e detalhamento. Eram impecáveis em sua 
paginação e legibilidade. Um dos desenhos que mais me chamou a atenção foi o 
detalhe em seção horizontal de uma fachada, na escala 1/1. A largura da prancha 
tinha a mesma dimensão que a fachada do edifício, sendo esta dimensão obtida pela 
emenda sucessiva de várias folhas de papel manteiga. Seu manuseio era semelhante 
ao de uma Toráh1. O desenho, a mão livre, em escala, mostrava todos os encaixes e 
 
1 Toráh – Bíblia judaica, escrita em pergaminhos, emendados lado a lado, enrolados em dois bastões, 
PREFÁCIO xix 
 
dispositivos de movimentação das folhas de veneziana e vidro. Uma prova eloqüente 
da obsessão do autor pelo zelo construtivo, mostrando neste aspecto sua afinidade 
com Mies van der Röhe, um de seus inspiradores, que dizia que “Deus estava nos 
detalhes” (Röhe ap Huxtable: 2001, A14). 
Do primeiro apanhado deste material, resultou um artigo de Alex Nicolaeff, publicado 
na revista AU n° 49, de agosto/setembro de 1993. N icolaeff já conhecia bem o 
trabalho de Moreira pois, além de seu contemporâneo, conviveu com ele no Conselho 
Estadual de Tombamento do Estado do Rio de Janeiro, entre 1977 e 1979. É um 
artigo curto que mais descreve do que comenta a obra do arquiteto, valorizando 
sempre sua conduta ética: “Cidadão e arquiteto, Jorge Moreira espelhou sua obra nos 
conceitos romanos de ‘caráter’ e ‘decoro’, recomendados no texto de Vitrúvio.” 
(Nicolaeff: 1993) 
A idéia de montar uma exposição com o materialdesta coleção surgiu como 
conseqüência lógica. Esta, porém, só viria a se realizar em 1999, montada no Centro 
de Arquitetura e Urbanismo, vinculado à Secretaria Municipal de Urbanismo da 
Prefeitura do Rio de Janeiro, durante o mandato do Prof. Luiz Paulo Conde como 
Prefeito da Cidade. A exposição teve curadoria de Jorge Czajkowski, que também 
organizou o catálogo (Czajkowski, 1999). Todas as obras expostas pertencem à 
coleção da Dra. Giuseppina Pirro Moreira. O texto “Razão ao Cubo”, de Roberto 
Conduru, que abre o catálogo, é a análise mais extensa publicada até hoje sobre 
Jorge Machado Moreira e sua obra (Conduru: 1999). O catálogo praticamente 
reproduz as peças expostas. 
O critério da curadoria de expor apenas peças do acervo do NPD / FAU, deixou de 
lado todo o acervo pertencente ao ETUB. Para compensar esta situação, as obras 
deste período foram mostradas através de fotografias e desenhos utilizados em 
publicações especializadas – na maioria revistas nacionais e estrangeiras da época da 
construção. Os desenhos desta fase, feitos em grande quantidade, tanto pelo próprio 
 
um em cada extremidade. Ainda hoje utilizado nas sinagogas, em cerimônias religiosas. 
PREFÁCIO xx 
 
Jorge Machado Moreira, como pela equipe por ele chefiada, ficaram inteiramente de 
fora da exposição e do catálogo que a acompanha. Também ficaram de fora os 
desenhos técnicos direcionados mais especificamente para a execução de obra, 
mesmo aqueles pertencentes ao próprio acervo sob os cuidados do NPD. Entende-se 
o critério para se deixar estes desenhos de fora: seu apelo visual é de fato pobre e 
seu interesse é restrito ao público mais especializado. Por outro lado, ganharam 
destaque os trabalhos do início da carreira do arquiteto e os estudos preliminares para 
as residências unifamiliares e para os edifícios multifamiliares realizados para clientes 
particulares. 
Os estudos preliminares mostrados na exposição e em seu catálogo são excelentes 
objetos de análise. Com o estudo preliminar, o arquiteto convence o cliente da sua 
arquitetura; com estes desenhos se estabelece o pacto inicial, através do qual cliente e 
arquiteto se associam para travar a batalha da construção da edificação. Destacam-se 
neste conjunto os desenhos das Residências Ceppas e Corrêa da Costa, do início dos 
anos 1950. Uma destas me traria uma rara experiência, que me faria recordar coisas 
acontecidas muitos anos atrás. 
Conhecer esta coleção de desenhos e fotografias me permitiu rever, agora com outros 
olhos, uma obra que marcou minha infância. Era comum então, nos finais de semana, 
meus irmãos e eu nos amontoarmos no banco de trás do velho Dodge 1948 de meu 
pai, e passearmos pela cidade. Certos pontos por onde passávamos eram 
prenunciados e depois saudados com grande entusiasmo: os pontos de que mais me 
lembro eram o “Hospital do Papai”, na Rua Voluntários da Pátria, a “Garrafinha” do 
Guaraná Champagne na Praia de Botafogo, e a não menos saudada “Casa Feia”, 
perto do canal da Rua Visconde de Albuquerque, quase chegando na Praia do Leblon. 
Vendo fotos e desenhos de Jorge Machado Moreira, constatei que esta era nada 
menos do que um dos mais importantes de seus projetos – a Residência de Antônio e 
Rosinda Ceppas, hoje demolida para dar lugar a um edifício de apartamentos. Devo 
confessar que naquela época eu entrava no coro de meu irmãos, e também saudava 
aquela estranha construção como a “Casa Feia”. Mas, para não faltar com a verdade, 
devo afirmar também que aquela estranheza me fascinava, e via nela traços de 
afinidade com outras duas casas também na Visconde de Albuquerque, antes da Rua 
PREFÁCIO xxi 
 
Felix Pacheco. Uma era projeto de Oscar Niemeyer, feita para o ex-ministro Leonel 
Miranda e a outra, vizinha, de Sérgio Bernardes, feita para Jadir de Souza. 
Em 1957, quando se mudou para minha vizinhança uma família que viria a se tornar 
amiga da minha, fiquei fascinado por poder visitar a qualquer hora aquela casa de 
traços retilíneos que vinha sendo construída ali, perto da minha – sem contar, é claro, 
que estes vizinhos eram pessoas ótimas. Parecia em tudo com a “Casa Feia” do final 
do Leblon. E de feia não tinha nada. Os espaços amplos, iluminados, a vista 
generosa da Lagoa Rodrigo de Freitas, o arranjo lógico dos ambientes, tudo era 
radicalmente diferente daquela casa onde eu morava. Esta tinha sido mandada 
construir em 1925, um projeto de Januzzi, com estilo de chalé, e que por esta época, 
já sofrera pelo menos duas grandes reformas que descaracterizaram seu desenho 
original. Aquela outra casa, tão diferente da minha, era projeto de Carlos Frederico 
Ferreira que, como funcionário do IAPI, já tinha desenhado alguns conjuntos 
residenciais populares e praticava uma “Nova Arquitetura”, na qual prevaleciam 
critérios racionais em sua concepção. 
Acho que vem desta época meu encanto e meu interesse pela arquitetura. Jorge 
Machado Moreira já estava presente em meus registros e eu ainda não tinha 
consciência disto. 
Pouco depois do falecimento de Jorge Machado Moreira, Donato Mello Júnior. 
publicou na revista Projeto (Mello Júnior: 1993), uma biografia do arquiteto, com o qual 
conviveu no ETUB, destacando a importância de sua obra e ressaltando seu 
compromisso com a categoria. O artigo encerra assim: 
“Por certo, algum arquiteto, algum dia, fará da obra projetada e da parte 
executada o objeto de uma tese de mestrado ou de doutorado. Fica a 
idéia; documentos e obras não faltam in loco, além de divulgação dos 
depoimentos possíveis da equipe.” (Mello Júnior: 1993) 
Aí está, professor, minha contribuição. 
PREFÁCIO xxii 
 
 
 
Jorge Machado Moreira: Cidade Universitária da Ilha do Fundão (1949) (ap Czajkowski: 1999, 131) 
Espaços que se distinguem do restante da cidade pelo arranjo lógico das edificações e do traçado viário, ou pelo porte e escala 
monumental dos espaços vazios e dos volumes edificados 
 
 
 
 
Jorge Machado Moreira: Faculdade Nacional de Arquitetura – atual Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Reitoria (1957) (ap 
Czajkowski, 1999, 148,154) 
A mão do projetista, que agiu como um geômetra, é percebida em todos os lugares e no lugar todo. Percorrer os andares do 
edifício é como andar sobre uma planta ampliada para a escala natural. Olhando o chão, as paredes e os tetos, enxergo os 
eixos, os detalhes básicos que se repetem, a aritmética dos forros, e dos azulejos e cerâmicas, formando módulos e sub-
módulos, numa cadência ritmada e interminável. 
 
 
 
 
Jorge Machado Moreira: Instituto de Puericultura (1949) (ap Czajkowski: 1999, 132-133) 
À medida que ia conhecendo os outros edifícios dentro da Cidade Universitária, percebia a mesma lógica a presidir o arranjo 
dos espaços e a concepção construtiva. Mas percebia também que entre todos, os dois melhores eram o Instituto de 
Puericultura e o Edifício da FAU. Nestes dois exemplares, o sentido lógico alcançava suas mais claras expressões. 
 
PREFÁCIO xxiii 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Jorge Machado Moreira: __________ () 
A largura da prancha tinha a mesma dimensão que a 
fachada do edifício, sendo esta dimensão obtida pela 
emenda sucessiva de várias folhas de papel manteiga. 
Seu manuseio era semelhante ao de uma Toráh. O 
desenho, a mão livre, em escala, mostrava todos os 
encaixes e dispositivos de movimentação das folhas de 
veneziana e vidro 
 
 
 
Capa do Catálogo da Exposição de Jorge Machado 
Moreira – Centro de Arquitetura e Urbanismo do Rio de 
Janeiro (1999) 
A idéia de montar uma exposição com o material desta 
coleção surgiu como conseqüência lógica. Esta, porém, 
só viria a se realizar em 1999, montada no Centro de 
Arquitetura e Urbanismo, vinculado à Secretaria Municipal 
de Urbanismo da Prefeitura do Rio de Janeiro, nomandato do Prof. Luiz Paulo Conde como Prefeito da 
Cidade. A exposição teve curadoria de Jorge Czajkowski, 
que também organizou o catálogo. 
 
 
 
Jorge Machado Moreira: Residência Ceppas (1951) ap 
Czjakowski: 1999, 55) 
Vendo fotos e desenhos de Jorge Machado Moreira, 
constatei que esta era nada menos do que um dos mais 
importantes de seus projetos – a Residência de Antônio e 
Rosinda Ceppas 
PREFÁCIO xxiv 
 
 
 
Oscar Niemeyer: Residência Leonel Franca (1953) (ap JB 
ago 2001) 
Via traços de afinidade com outras duas casas também na 
Visconde de Albuquerque, antes da Rua Felix Pacheco. 
Uma é projeto de Oscar Niemeyer, feita para o ex-ministro 
Leonel Miranda 
 
 
 
Carlos Frederico Ferreira: Residência Helena e Aluísio 
Reis (1957) (Moraes, 1957) 
Aquela casa de traços retilíneos que vinha sendo 
construída ali, perto da minha, parecia em tudo com a 
“Casa Feia” do final do Leblon. E de feia não tinha nada. 
Era projeto de Carlos Frederico Ferreira que, como 
funcionário do IAPI, já tinha desenhado alguns conjuntos 
residenciais populares e praticava uma “Nova Arquitetura”, 
na qual prevaleciam critérios racionais em sua concepção. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
 
 
 
 
A história é o que uma época considera digno de nota em outra. 
Jakob Burckhardt 
 
 
INTRODUÇÃO 2 
 
 
O objetivo desse trabalho é estudar a obra do arquiteto Jorge Machado Moreira, com 
o intuito de atribuir a ela a devida importância na arquitetura brasileira e mundial. 
Até hoje, foram publicados somente dois trabalhos que abordam especificamente a 
obra de Jorge Machado Moreira. O primeiro é o artigo intitulado Jorge Moreira, de 
Alex Nicollaeff, publicado na revista Arquitetura & Urbanismo, n° 48, de ago/set 
1993. Trata-se de trabalho curto, no qual as ilustrações mostram os projetos mais 
conhecidos do arquiteto, e dão sustentação a um texto que privilegia a descrição, 
sem se aprofundar em análises mais detalhadas. O mérito desse artigo foi divulgar 
o trabalho do arquiteto, reunido pela primeira vez de forma organizada. Durante sua 
carreira, muitos de seus projetos foram publicados em livros e revistas 
especializadas, mas nunca havia sido feito um apanhado geral do conjunto de suas 
obras projetadas. 
O segundo e último trabalho sobre Jorge Moreira é o Catálogo da Exposição de sua 
obra, realizada em 1999, sob curadoria de Jorge Paul Czajkowski, no Centro de 
Arquitetura e Urbanismo da Prefeitura do Rio de Janeiro. O Catálogo reproduz a 
maior parte das peças expostas na ocasião, e tem um texto de abertura de Roberto 
Conduru, com o título Razão ao Cubo. O autor baliza a carreira de Moreira entre 
dois marcos – o inicial, a Sede do MESP e o final, o Campus da Ilha do Fundão –, e1 
destaca que estes marcos são referências não apenas na obra do arquiteto, mas da 
própria arquitetura moderna brasileira. No que diz respeito à caracterização de sua 
expressão, classifica Jorge Machado Moreira como 
“um exemplo de artista filiado à vertente construtiva da arte moderna, não 
só por sua adesão à forma pós-cubista abstrata e racional, mas também 
por sua crença na possibilidade de transformação social com a nova 
ordem plástica e por sua atuação profissional comprometida com o bem 
público.” (Conduru, 1999, 14) 
Neste texto, que é até hoje o trabalho de maior fôlego escrito sobre Jorge Machado 
Moreira, Conduru, para dar sustentação à análise que faz da obra do arquiteto, 
INTRODUÇÃO 3 
 
recorre seguidamente aos argumentos do próprio Moreira, expressos no Depoimento 
que escreveu em 1980 para servir de verbete na Enciclopédia Contemporary 
Architects, Londres, St. James Press. O Depoimento aparece como texto de 
abertura do Catálogo. 
Conduru não questiona o arquiteto, e toma como verdade o auto-retrato que Jorge 
Machado Moreira faz ali. Pelo texto, é mais do que evidente sua intenção de se 
colocar no panorama da arquitetura como filiado a Le Corbusier: 
“De maior significação, porém, foi o contato mantido com Le Corbusier, em 
1936, quando veio ao Rio de Janeiro a convite do Ministério de Educação 
e Saúde. Teve grande importância o convívio, durante cerca de três 
semanas, que com ele tiveram os arquitetos do grupo encarregado de 
projetar o edifício do ministério, do qual eu fazia parte, e que influiu 
decisivamente em minha formação profissional.” (Moreira: 1980) 
Ao tomar esta afirmação como verdade absoluta e não duvidar dela, qualquer 
análise de sua obra será tendenciosa e deixará de lado influências importantes que 
podem ter ocorrido em sua formação. 
A análise contida nas páginas seguintes procura examinar a biografia do arquiteto 
desde sua formação como estudante, dando uma especial atenção ao atribulado 
período por volta de 1930 e 1931, quando Lúcio Costa dirigiu a Escola Nacional de 
Belas Artes e teve Gregori Warchavchik como um dos mais importantes professores 
no curso de arquitetura. O próprio Moreira inicia seu texto destacando a importância 
que o russo teve em sua conversão aos valores da “Nova Arquitetura”, que defendeu 
por toda sua vida profissional. Buscar o significado e a importância de Warchavchik 
neste momento será fundamental para entender os primeiros passos não só de 
Jorge Machado Moreira, mas de toda uma geração de arquitetos que teve com ele 
sua iniciação à “nova maneira de conceber, projetar e construir” (Moreira: 1980). 
O professor Warchavchik era imigrado da Europa e mantinha contatos com a 
vanguarda européia. Passa a ser fundamental, portanto conhecer melhor o próprio 
Warchavchik e o conteúdo da doutrina que ensinava a seus alunos, para se 
INTRODUÇÃO 4 
 
entender o real significado de sua influência naqueles jovens estudantes. 
A análise histórica se mostra, assim, como o único método que permite juntar 
coerentemente os fatores que conformaram aquele determinado momento e que 
esclarece como ocorreram seus desdobramentos. 
Uma dificuldade que se apresenta ao historiador, logo ao se deparar com seu objeto 
de estudo, é o de estabelecer os limites deste objeto. Esta definição será tão mais 
nítida quanto mais claro for o objetivo que se deseja alcançar no estudo. No 
presente caso, o objetivo principal é situar a obra de Jorge Machado Moreira dentro 
da arquitetura mundial em geral e a brasileira em particular. Para tanto, por razões 
de método e de organização, este objetivo foi subdividido em três: 
− identificar as origens dos conceitos fundamentais da obra de Jorge Machado 
Moreira ; 
− descrever o processo de adoção destes conceitos pelo arquiteto e por seus 
contemporâneos; 
− estabelecer comparações de seu trabalho na fase madura com os de seus 
contemporâneos e identificar suas especificidades. 
Os limites do estudo, portanto, se delineiam a partir de seu foco, ou seja, a própria 
obra e biografia do arquiteto. A partir daí, dois cortes podem ser traçados. O 
primeiro corte seria no sentido temporal, usualmente chamado pelos historiadores de 
corte vertical. Nesta abordagem, se busca alinhar eventos, de forma 
aproximadamente cronológica, na busca da identificação das origens, dos fatos 
caracterizadores e dos desdobramentos e conseqüências (se houver) do que se 
está estudando. O segundo corte, usualmente chamado de horizontal, busca 
estabelecer comparações com eventos simultâneos ou contemporâneos. Tem como 
objetivo justificar a inclusão, por afinidade, do objeto estudado em um conjunto mais 
amplo, visando destacar suas peculiaridades. Na introdução a Viena Fin-de-Siècle, 
Carl E. Schorske, ao descrever um método semelhante adotado na pesquisa que 
resultou no livro mencionado, faz uma interessante metáfora: 
INTRODUÇÃO 5 
 
“... o historiador procura situar e interpretar temporalmente o artefato, num 
campo onde cruzam duas linhas. Uma é vertical, ou diacrônica, com a 
qual ele estabelece a relação de um texto ou um sistema de pensamento 
com expressões anteriores no mesmo ramo de atividade cultural(pintura, 
política, etc.). A outra é horizontal, ou sincrônica; com ele, o historiador 
avalia a relação do conteúdo do objeto intelectual com as outras coisas 
que vêm surgindo, simultaneamente, em outros ramos ou aspectos de uma 
cultura. O fio diacrônico é a urdidura, e o sincrônico é a trama do tecido da 
história cultural. O historiador é o tecelão, mas a qualidade do tecido 
depende da firmeza e cor dos fios.” (Schorske:1961: 17) 
Ou seja, é preciso ser cuidadoso na seleção do material que servirá para criar o 
tecido histórico. Uma conceituação clara é portanto indispensável. 
Para o presente estudo, entende-se que a arquitetura é um fenômeno cultural 
complexo. Adota-se a concepção vitruviana de arquitetura, que mesmo datando do 
Século I, e sendo a primeira definição de que se tem notícia sobre esta disciplina, 
permanece válida até hoje. Segundo Vitrúvio: 
“A arquitetura está dividida em duas partes: uma das quais trata da 
construção de muralhas e das obras públicas e, a outra, dos edifícios 
privados, ... E isso deve ser realizado de modo que os atributos de solidez 
(firmitas), da utilidade (utilitas) e da beleza (venustas) se encontrem.” 
(VITRUVIUS) 
Na seqüência do texto acima (De Arquitetura – Dez Livros sobre Arquitetura – Livro 
1 – Parte III), Vitrúvio especifica o que enuncia na frase acima: 
“Terá o atributo da solidez (firmitas) quando a profundidade dos alicerces 
atingir camadas rígidas do solo e a escolha criteriosa de todos os materiais 
for feita sem mesquinharia; o da utilidade (utilitas), quando se chegar a 
uma distribuição vantajosa e adequada entre as regiões de acordo com 
seu gênero, cada coisa em seu lugar; e o da beleza (venustas), quando o 
aspecto da obra for agradável e elegante, devido à justa proporção de 
todas as partes.” (Vitruvius) 
INTRODUÇÃO 6 
 
Vitrúvio, sabiamente, não prioriza um atributo ou declara que um prevaleça sobre os 
demais, residindo neste aspecto de interdependência dos atributos a complexidade 
da arquitetura. 
Em outra definição de arquitetura, bem mais recente e mais próxima temporalmente, 
Lúcio Costa complementa os conceitos milenares acima e dá uma forma mais 
contemporânea à formulação: 
“Pode-se definir arquitetura como construção concebida com a intenção de 
ordenar e organizar plasticamente o espaço, em função de uma 
determinada época, de um determinado meio, de uma determinada técnica 
e de um determinado programa. 
Estabelecidos, assim os vínculos necessários da intenção plástica com os 
demais fatores fundamentais em causa, e constatada a simultaneidade e 
constância dessa múltipla presença na própria origem e durante o 
transcurso da elaboração arquitetônica, o que lhe justifica a classificação 
tradicional na categoria das Belas Artes, pode-se então abordar mais de 
perto a questão no propósito de elucidar, com o apoio do testemunho 
histórico e da experiência contemporânea, como procede o arquiteto ao 
conceber e projetar.” (Costa 1995: 245-258) 
A definição de Lucio Costa é menos sintética, e pouco acrescenta, em essência aos 
elementos relacionados por Vitrúvio. O mais interessante em sua formulação é a 
explicitação de três aspectos que em Vitrúvio não estavam explícitos, apesar de 
poderem ser deduzidos através de análise criteriosa de seu texto. O primeiro 
aspecto é a referência a uma determinada época. Vitrúvio entende a história como 
fonte de referência básica, à qual o arquiteto deve lançar mão para justificar seu 
trabalho. Entre os saberes dos quais o arquiteto deve dominar, 
“Um amplo conhecimento de história é necessário porque, entre as 
diversas partes do trabalho do arquiteto, há muitas idéias fundamentais 
cuja aplicação ele deve ser capaz de justificar. Por exemplo, suponha-se 
que o uso de estátuas de mármore de mulheres em vestes longas, 
chamadas Cariátides, no lugar de colunas ...” (Vitruvius: Livro I, Capítulo 2) 
INTRODUÇÃO 7 
 
O texto prossegue, dando as razões históricas para o uso deste elemento 
arquitetônico. Mais adiante, ao exemplificar o uso adequado das ordens 
arquitetônicas, fica claro que o conhecimento da história tem como finalidade a 
consolidação da tradição: 
“A conveniência (adequação) é a perfeição de estilo que se obtém quando 
um trabalho é feito inquestionavelmente segundo os princípios aprovados. 
Estes decorrem das prescrições, do uso e da natureza.” (Vitruvius: L. I – 
Cap. 2) 
Lúcio Costa, por sua vez, admite uma dinâmica na história, impensável vinte séculos 
antes, e entende que cada época deve produzir uma arquitetura que lhe seja 
compatível. Um segundo aspecto, este também implícito em Vitrúvio, que Lúcio 
Costa destaca é a simultaneidade dos fatores a serem considerados no transcurso 
da elaboração arquitetônica. Por último, cabe chamar a atenção para a inclusão da 
disciplina na “categoria das Belas Artes”. Com esta afirmação, Lúcio Costa dá à 
arquitetura sua dimensão de fenômeno cultural, portanto inter-relacionada com a 
sociedade e o meio em que é produzida. 
É segundo esta ótica que vai ser feito o estudo a seguir. Consciente dos riscos que 
a aceitação de tal complexidade impõe, melhor arriscar do que cair em simplismos 
observados em tantos estudos que desconsideram algumas das dimensões 
vitruvianas. Os autores de tais estudos, nesse processo simplificatório, reduzem a 
arquitetura apenas a sua dimensão tecnológica ou estética, excluindo as demais e a 
rica complexidade daí decorrente. Outro erro que deve ser evitado é a visão 
preconceituosa e a aceitação de simplificações grosseiras. Sem desmerecer a 
importância que Paolo Portoghesi tem na crítica e na história da arquitetura, chega a 
ser ridículo afirmar que “a arquitetura que obedece ao estatuto do funcionalismo 
nasce, por assim dizer, por partenogênese, ...” (Portoghesi: 1982, 13). Nesta 
afirmação, Portoghesi ignora toda discussão que se travava na Europa desde 
meados do século XIX sobre a renovação que vinha se processando nas artes em 
geral e na arquitetura em particular, e destitui do modernismo toda a incontestável 
carga intelectual que possui. 
INTRODUÇÃO 8 
 
As três subdivisões do objetivo principal, definidas no início deste capítulo, 
correspondem aos três capítulos principais da presente dissertação. 
Caberia aqui explicitar os detalhes metodológicos aplicados na elaboração deste 
trabalho. Tarefa ingrata quando o trabalho em questão é uma reflexão pessoal com 
base essencialmente em pesquisa bibliográfica. Fazendo novamente alusão à 
metáfora já citada de Schorske, na busca dos melhores fios para tecer a trama desta 
história, muito se coletou, bastante se descartou pela falta de pertinência ao tema e 
pela pouca contribuição que traria à compreensão do processo histórico e cultural 
em estudo. Restou ao fim um conjunto que inclui, entre outros, os clássicos já 
consagrados, cuja leitura atual foi enriquecida com a vasta produção recente sobre o 
tema. Hoje, vencida por completo a fase modernista da arquitetura, vários autores 
têm-se debruçado sobre as obras, os projetos e os escritos deste período. Com isto, 
pode-se avaliar toda essa enorme produção com menos parcialidade e menos 
paixão, como se analisa qualquer outra época da história. Sempre que disponível, 
se buscou recorrer às fontes primárias, ou seja, edições originais, suas traduções ou 
reproduções consideradas as mais fiéis. No trato com a referência histórica houve o 
cuidado de respeitar e valorizar sua própria historicidade, ou seja, considerar o fato 
estudado dentro do contexto em que ocorreu. Esta conduta visa essencialmente 
não estabelecer qualquer critério apriorístico na análise dos fatos. Ao contrário, tem 
como objetivo explicitar as condições em que os mesmos se deram em suas 
respectivas épocas. 
O presente estudo adota como fio condutor o próprio Depoimento que Jorge 
Machado Moreira redigiu em 1980 para a Enciclopédia Contemporary Architects. Noentanto, em vez de tomá-lo como verdade, procurou-se desconstruí-lo e usar cada 
fragmento resultante dessa desconstrução para conferir seu significado, fosse ele 
explícito, implícito ou, por outro lado, omitido ou contestado pelo autor. 
Da análise que surgiu daí, verifica-se que o reconhecimento da “maior significação 
que teve Le Corbusier em sua formação” não deixa de ser uma verdade, mas omite 
um aspecto de enorme importância na construção da maneira arquitetônica de agir 
do arquiteto. Percebe-se que a influência de Warchavchik foi fundamental em sua 
INTRODUÇÃO 9 
 
formação, ao trazer para a ENBA sua visão arquitetônica calcada nos ideais 
apregoados pela Bauhaus, pelos arquitetos de língua alemã, os holandeses, russos 
e outros europeus que fundamentavam suas opções construtivas e estéticas na 
ideologia socialista. 
Antes mesmo de conhecer a “Nova Arquitetura” defendida pelos CIAM, Jorge 
Machado Moreira já demonstrara que a atitude racionalista fazia parte de seu modo 
de projetar, o que pode ser observado nos seus primeiros projetos, ainda como 
estudante. O funcionalismo construtivista alemão foi, portanto, aceito por ele com 
total naturalidade. Faltava apenas adaptar-se a uma nova expressão estética, o que 
foi feito sem dificuldades. O estudo da obra do arquiteto mostrou que sua maneira 
de tratar os problemas construtivos, proveniente dessa vertente alemã, e ensinada 
por Warchavchik, permaneceu até o fim de sua carreira. No entanto, a estética de 
seus projetos passaria por várias transformações. 
No primeiro de seus projetos conhecidos – a Residência – publicada em revista 
antes de 1930, o estilo chalé mostra que as lições da academia eram respeitadas e 
seguidas. A partir de sua conversão aos princípios da “Nova Arquitetura” dos CIAM, 
entre 1930 e 1931, adotou a estética praticada principalmente por Gropius, com forte 
influência neoplástica; esta fase se prolongou até próximo a 1940. A presença da 
linguagem inspirada em Le Corbusier, com quem conviveu em 1936, na elaboração 
dos projetos do MESP e da Cidade Universitária da Mangueira, só apareceria em 
sua obra a partir dos anos 1940, e permaneceria até encerrar sua carreira no ETUB, 
em 1962. De Le Corbusier, adotou a visualidade dos projetos puristas anteriores a 
1929, e desprezou as manifestações mais livres, brutalistas e personalistas 
posteriores àquela data. Depois que se afastou do serviço público, talvez 
influenciado pela parceria com a esposa Giuseppina Pirro, experimentou a 
linguagem que Mies van der Rohe adotara em seus projetos experimentais dos anos 
1920 e também algumas das formas menos contidas do mestre Le Corbusier. 
Sempre, é bom destacar, tendo como referência técnica e construtiva os projetos de 
Gropius. 
Esquematicamente, na fase mais produtiva de sua carreira, que vai de 1940 a 1962, 
INTRODUÇÃO 10 
 
recorrendo à tríade vitruviana (firmitas – utilitas – venustas), seria possível 
representar a modelagem de sua própria doutrina pelo diagrama abaixo: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O primeiro capítulo, aborda os primeiros encontros dos CIAM, os quais Jorge 
Machado Moreira declara no Depoimento fazerem parte do movimento ao qual 
estava integrado, que visava a implantação de uma “Nova Arquitetura”. Situadas no 
contexto europeu, as vanguardas artísticas e arquitetônicas encontraram neste 
instrumento um mecanismo para enfrentar o conservadorismo da Academia. Os 
personagens principais desses encontros – Walter Gropius e Le Corbusier – são 
estudados, de modo a caracterizar suas respectivas contribuições neste movimento. 
Procurou-se destacar seus pontos em comum e suas divergências, que se 
manifestavam no CIAM, refletindo as tendências em geral do debate europeu. Frank 
Lloyd Wright, mencionado no Depoimento de Moreira, também é visto, de modo a 
situar sua importância em relação ao movimento que se desenrolava na Europa e a 
importância que teve na formação do arquiteto brasileiro. 
O segundo capítulo trata do processo através do qual as idéias da vanguarda 
européia e, conseqüentemente as obras construídas segundo estas idéias, foram 
tomando corpo no Brasil. São fundamentais as figuras dos paulistas Oswald de 
Gropius 
 
Firmitas 
Le Corbusier 
 
Venustas 
CIAM 
 
Utilitas 
 
JMM 
INTRODUÇÃO 11 
 
Andrade, Mário de Andrade e do russo Gregori Warchavchik. Destaca-se também a 
importância da passagem de Lúcio Costa pela direção da ENBA em 1930-31. São 
tratados os trabalhos de início de carreira de Jorge Machado Moreira e de Affonso 
Eduardo Reidy, bem como os primeiros exercícios de projeto de caráter 
contemporâneo de Lúcio Costa. Ainda nesse capítulo, se aborda todo o episódio do 
MESP, desde os projetos do concurso, passando pelo primeiro projeto da equipe 
comandada por Lúcio Costa, os dois projetos de Le Corbusier e os projetos finais da 
equipe depois da volta de Le Corbusier à Europa. 
O terceiro capítulo se situa no período posterior ao projeto do MESP, na qual os 
arquitetos brasileiros desenvolveram expressões próprias e deram grande 
contribuição ao desenvolvimento da “Nova Arquitetura”. Sempre estabelecendo 
paralelos com o panorama mundial e com a produção brasileira, a obra do arquiteto 
Jorge Machado Moreira é abordada em profundidade, de modo a, finalmente, tentar 
estabelecer sua posição relativa neste cenário. Para não estender em demasia o 
pano de fundo sobre o qual se pretende situar a obra de Moreira, restringiram-se os 
paralelos apenas àqueles demais colegas com quem partilhou o projeto do MESP. 
Do mesmo modo, no panorama internacional, procurou-se situar o trabalho dos 
brasileiros com relação ao debate que se travou no âmbito dos CIAM e com a obra 
de Le Corbusier. 
Todo o trabalho de pesquisa se fundamentou na literatura existente, recorrendo-se 
apenas eventualmente a entrevistas com pessoas que, de um modo ou de outro, 
partilharam algum momento de sua carreira, e a algum material de arquivo, 
consultado principalmente no acervo do NPD/FAU/UFRJ. Portanto este trabalho 
pode ser visto como uma revisão bibliográfica, no qual as fontes consultadas tiveram 
suas respectivas historicidades destacadas. Por essa razão, procurou-se sempre, 
ao citar outros autores, indicar a data da versão original do documento, além 
daquela efetivamente disponível. As obras arquitetônicas, por se tratarem de 
produtos culturais, foram grifadas em itálico do mesmo modo como recomendam as 
Normas Técnicas para citação de obras escritas. 
Cada capítulo abre com a transcrição do Depoimento escrito em 1980 por Jorge 
INTRODUÇÃO 12 
 
Machado Moreira, sendo destacada graficamente a parte que será abordada nas 
páginas seguintes; e tem, no final, um conjunto de figuras com legendas, que 
correspondem, aproximadamente, ao texto escrito, permitindo uma segunda ou 
terceira leitura do conjunto. 
INTRODUÇÃO 13 
 
 
 
 
 
Chalé em Petrópolis (Reis Filho: 1970; 1973, 51) Jorge Machado Moreira: Residência (s/d) (ap Czajkowski: 1999, 37) 
 
No primeiro de seus projetos conhecidos – a Residência – publicada em revista antes de 1930, o estilo chalé mostra que as 
lições da academia eram respeitadas e seguidas. 
 
 
 
 
Walter Gropius: Bloco de Alojamentos da Sede da 
Bauhaus em Dessau (1925) (ap Kahn: 2001, 24) 
 Jorge Machado Moreira: Edifício Tapir (1939) (ap 
Czajkowski: 1999, 73) 
 
A partir de sua conversão aos princípios da “Nova Arquitetura” dos CIAM, entre 1930 e 1931, adotou a estética praticada 
principalmente por Gropius, com forte influência neo-plástica; esta fase se prolongou até próximo de 1940. 
 
 
Le Corbusier: Sede do MESP no terreno da Praia de Santa Luzia. (1936) 
(ap Costa: 1995, 122) 
Jorge Machado Moreira: Faculdade Nacional de 
Arquitetura (1957) (ap Czajkowski: 1999, 154) 
 
A presença da linguagem inspirada em Le Corbusier, com quem conviveu em 1936, durante a elaboração dos projetos do 
MESP e da Cidade Universitáriada Mangueira, só apareceria em sua obra a partir dos anos 1940, e permaneceria até encerrar 
sua carreira no ETUB, em 1962. De Le Corbusier, adotou a visualidade dos projetos puristas anteriores a 1929, e desprezou 
as manifestações mais livres, brutalistas e personalistas posteriores àquela data. 
INTRODUÇÃO 14 
 
 
 
 
 
 
Mies van der Rohe: Casa de Campo em Concreto – projeto 
(1923) (ap Johnson: 1947; 1978,33) 
 Jorge Machado Moreira: Restaurante no Parque do 
Flamengo ( 1962) (ap Czajkowski: 1999, 117) 
Depois que se afastou do serviço público, talvez influenciado pela parceria com a esposa Giuseppina Pirro, experimentou a 
linguagem que Mies van der Rohe adotara em seus projetos experimentais dos anos 1920 
 
 
 
Le Corbusier: Maison aux Mathes (1935) (ap Boesiger & 
Girsberger: 1967, 71) 
 Jorge Machado Moreira: Residência Ornellas ( 1970) 
(Czajkowski: 1999, 21) 
E também algumas das formas menos contidas do mestre Le Corbusier 
 
 
DEPOIMENTO 
 
 
 
 
 
 
 
DEPOIMENTO 16 
 
DEPOIMENTO1 
Depoimento elaborado para a enciclopédia Contemporary Architects, Londres, St. James Press, 1980. 
 
1 Iniciei minha vida profissional em 1932, integrado no movimento – do qual começara a participar ativamente como 
estudante – para implantação de uma nova arquitetura, conforme vinha ocorrendo em muitos países, como conseqüência 
da campanha mundial movida pelos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna, os CIAM, desde 1928. O 
movimento na Escola Nacional de Belas Artes, onde eu fazia o curso de arquitetura, teve início em 1931, quando Lúcio 
Costa nomeado diretor, empenhou-se em reformar o ensino, “implantando a nova maneira de conceber, projetar e 
construir”. Gregori Warchavchik, pioneiro da arquitetura moderna no Brasil, então contratado como professor, exerceu 
grande influência nos estudantes, contribuindo para seu interesse e entusiasmo pela iniciativa de Lúcio Costa. A vinda de 
Frank Lloyd Wright ao Rio de Janeiro, naquele ano, e a ação aqui desenvolvida, foi importante para consolidar esse 
movimento. 
2 Concluído o curso, fui trabalhar numa companhia construtora. Senti imediatamente dificuldades para fazer arquitetura 
como passara a entendê-la. Decidi, então, subordinar minha permanência à liberdade de projetar. Aceita a condição, 
pude exercer a profissão como desejava, durante o tempo em que lá permaneci. A exigência de liberdade para projetar 
mantenho até hoje. Ela não traduz o propósito de impor meu ponto de vista. Procuro, através do diálogo como o cliente, 
achar a solução adequada que atenda às suas aspirações, sem contudo fazer concessões contrárias aos princípios que, 
como arquiteto, me cabem defender. Esse critério nunca foi motivo para abandonar um trabalho. Encontro sempre 
argumentos para justificar minhas opiniões, fazendo o cliente compreender que estou agindo em defesa de seus 
interesses. Em 1937 passei a ter meu escritório de arquitetura. 
3 Na minha vida profissional tive o privilégio de conhecer pessoalmente Frank Lloyd Wright, Walter Gropius, Richard Neutra, 
Mies van der Rohe, Marcel Breuer, Kenzo Tange e Phillip Johnson. De maior significação, porém, foi o contato mantido 
com Le Corbusier, em 1936, quando veio ao Rio de Janeiro a convite do Ministério de Educação e Saúde. Teve grande 
importância o convívio, durante cerca de três semanas, que com ele tiveram os arquitetos do grupo encarregado de 
projetar o edifício do ministério, do qual eu fazia parte, e que influiu decisivamente em minha formação profissional. 
4 Nos anos decorridos desde aquela época, nossa arquitetura tem sentido as conseqüências da evolução das condições 
sociais, políticas e econômicas do país, que se refletiram na maneira de exercermos a atividade profissional. Não 
influíram, entretanto, em meu modo de sentir a arquitetura e de considerar sua importância. Para mim, fazer arquitetura é 
idealizar a obra visando resolver, com intenção plástica, o problema proposto, de acordo com a época, os materiais e as 
possibilidades técnicas; analisando e considerando os fatores externos que nela influem; respeitando imposições e hábitos 
do meio; detalhando e articulando todos os elementos e buscando sempre a verdade, quanto à sua finalidade e função, 
tanto na forma como no uso dos materiais. Dou toda assistência à construção para que a obra seja realizada tal como a 
imaginara e, quando concluída, o cliente sinta seu desejo satisfeito e eu minha tarefa corretamente cumprida. Preocupo-
me com a ambiência da obra projetada e sua significação no contexto em que será inserida; construída, passa a constituir 
um elemento da paisagem urbana, cuja harmonia deve ser assegurada. Por essa razão, todo arquiteto deve ter 
preocupação urbanística. De acordo com esse princípio, tenho procurado, através de uma participação bastante ativa, 
colaborar no estabelecimento de regulamentações e normas urbanísticas que estruturem a cidade e orientem seu 
desenvolvimento, sem prejuízo da paisagem natural e dos testemunhos materiais de sua história, cujos remanescentes 
nos cabe preservar. 
5 Espero que lutas e decepções, próprias da vida profissional, nunca me façam esmorecer nem abandonar os ideais que 
me animam e sempre se atualizam, para melhor servir à arquitetura e à profissão, em qualquer atividade e em qualquer 
circunstância. 
Jorge Machado Moreira 
 
1 Transcrito de CZAJKOWSKI, J. P., org. Jorge Machado Moreira. Rio de Janeiro, Centro de Arquitetura e Urbanismo, 1999. 
 Numeração de parágrafos não consta do original. 
 
CAPÍTULO 1 
Por uma “Nova Arquitetura” mundial 
 
 
 
 
“Well, now that he (Le Corbusier) has finished one building, he’ll go write four 
books about it. All they (French people) are interested is in fashion. Fashion 
and perfume and sauce. They ruin perfectly good food with their sauces. 
“No, I am not interested in meeting Mr. Le Corbusier. 
” Corbu’s influence in this country is just terrible, and he has no business here.” 
 
“I am very sorry. I’m quite busy and I have no desire to meet or entertain Herr 
Gropius. What he stands for and what I stand for are poles apart. Our ideas 
could never merge. In a sense, we’re professional enemies – but he’s an 
outside enemy. At least I am in my own country.” 
 
“By all means, bring him (Mies van der Rohe) up!” 
Frank Lloyd Wright 
1935, ap Edgar Tafel, in Years with Frank Lloyd Wright – Apprentice to Genius 
1979; 1985 
CAPÍTULO 1 – Por uma “Nova Arquitetura” mundial 18 
 
DEPOIMENTO1 
Depoimento elaborado para a enciclopédia Contemporary Architects, Londres, St. James Press, 1980. 
 
1 Iniciei minha vida profissional em 1932, integrado no movimento – do qual começara a participar ativamente como 
estudante – para implantação de uma nova arquitetura, conforme vinha ocorrendo em muitos países, como conseqüência 
da campanha mundial movida pelos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna, os CIAM, desde 1928. O 
movimento na Escola Nacional de Belas Artes, onde eu fazia o curso de arquitetura, teve início em 1931, quando Lúcio 
Costa nomeado diretor, empenhou-se em reformar o ensino, “implantando a nova maneira de conceber, projetar e 
construir”. Gregori Warchavchik, pioneiro da arquitetura moderna no Brasil, então contratado como professor, exerceu 
grande influência nos estudantes, contribuindo para seu interesse e entusiasmo pela iniciativa de Lúcio Costa. A vinda de 
Frank Lloyd Wright ao Rio de Janeiro, naquele ano, e a ação aqui desenvolvida, foi importante para consolidar esse 
movimento. 
2 Concluído o curso, fui trabalhar numa companhia construtora. Senti imediatamente dificuldades para fazer arquitetura 
como passara a entendê-la. Decidi, então, subordinar minha permanência à liberdade de projetar. Aceita a condição, 
pude exercer a profissão como desejava, durante o tempo em que lá permaneci. A exigência de liberdade para projetarmantenho até hoje. Ela não traduz o propósito de impor meu ponto de vista. Procuro, através do diálogo como o cliente, 
achar a solução adequada que atenda às suas aspirações, sem contudo fazer concessões contrárias aos princípios que, 
como arquiteto, me cabem defender. Esse critério nunca foi motivo para abandonar um trabalho. Encontro sempre 
argumentos para justificar minhas opiniões, fazendo o cliente compreender que estou agindo em defesa de seus 
interesses. Em 1937 passei a ter meu escritório de arquitetura. 
3 Na minha vida profissional tive o privilégio de conhecer pessoalmente Frank Lloyd Wright, Walter Gropius, Richard Neutra, 
Mies van der Rohe, Marcel Breuer, Kenzo Tange e Phillip Johnson. De maior significação, porém, foi o contato mantido 
com Le Corbusier, em 1936, quando veio ao Rio de Janeiro a convite do Ministério de Educação e Saúde. Teve grande 
importância o convívio, durante cerca de três semanas, que com ele tiveram os arquitetos do grupo encarregado de 
projetar o edifício do ministério, do qual eu fazia parte, e que influiu decisivamente em minha formação profissional. 
4 Nos anos decorridos desde aquela época, nossa arquitetura tem sentido as conseqüências da evolução das condições 
sociais, políticas e econômicas do país, que se refletiram na maneira de exercermos a atividade profissional. Não 
influíram, entretanto, em meu modo de sentir a arquitetura e de considerar sua importância. Para mim, fazer arquitetura é 
idealizar a obra visando resolver, com intenção plástica, o problema proposto, de acordo com a época, os materiais e as 
possibilidades técnicas; analisando e considerando os fatores externos que nela influem; respeitando imposições e hábitos 
do meio; detalhando e articulando todos os elementos e buscando sempre a verdade, quanto à sua finalidade e função, 
tanto na forma como no uso dos materiais. Dou toda assistência à construção para que a obra seja realizada tal como a 
imaginara e, quando concluída, o cliente sinta seu desejo satisfeito e eu minha tarefa corretamente cumprida. Preocupo-
me com a ambiência da obra projetada e sua significação no contexto em que será inserida; construída, passa a constituir 
um elemento da paisagem urbana, cuja harmonia deve ser assegurada. Por essa razão, todo arquiteto deve ter 
preocupação urbanística. De acordo com esse princípio, tenho procurado, através de uma participação bastante ativa, 
colaborar no estabelecimento de regulamentações e normas urbanísticas que estruturem a cidade e orientem seu 
desenvolvimento, sem prejuízo da paisagem natural e dos testemunhos materiais de sua história, cujos remanescentes 
nos cabe preservar. 
5 Espero que lutas e decepções, próprias da vida profissional, nunca me façam esmorecer nem abandonar os ideais que 
me animam e sempre se atualizam, para melhor servir à arquitetura e à profissão, em qualquer atividade e em qualquer 
circunstância. 
Jorge Machado Moreira 
 
 
1 Transcrito de CZAJKOWSKI, J. P., org. Jorge Machado Moreira. Rio de Janeiro, Centro de Arquitetura e Urbanismo, 1999. 
 Numeração de parágrafos não consta do original. 
CAPÍTULO 1 – Por uma “Nova Arquitetura” mundial 19 
 
 
A leitura da frase de abertura do Depoimento de Jorge Machado Moreira (1904-
1992) mostra que no início de sua vida profissional, em 1932, havia um movimento 
para implantar uma “Nova Arquitetura” e que este movimento era objeto de uma 
campanha mundial movida pelos CIAM – Congrès Internationaux d’Architecture 
Moderne (Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna). 
Quando ele se afirmava “integrado no movimento” é preciso aprofundar um pouco o 
entendimento deste movimento para ver de que forma ele aí se inseria. Sua carreira 
se desenrolou simultaneamente à existência dos CIAM e somente isto já justifica 
estabelecer um paralelo entre sua carreira e estes Congressos. Além disto, o 
próprio arquiteto induz a esta visão ao se afirmar integrado ao movimento. De fato, 
como se verá no desenvolvimento desta dissertação, toda a atuação de Jorge 
Machado Moreira se deu tendo os CIAM como referencial. O que se procurará 
mostrar é que desde o início de sua carreira, ele adotou a cartilha moderna, mas 
enquanto este movimento foi se consolidando e, simultaneamente, abrindo o leque 
de alternativas formais, sua postura projetual foi adquirindo um caráter mais 
ortodoxo, à medida que lhe eram confiados projetos de maior porte. 
Uma primeira questão que se apresenta a partir da leitura do Depoimento é a 
seguinte: se havia um movimento para implantar uma “Nova Arquitetura”, pode-se 
concluir, de imediato, que havia uma “Velha Arquitetura” à qual a “Nova” se opunha, 
e com a qual Jorge Machado Moreira certamente não se identificava. Que “Nova 
Arquitetura” seria esta? E por que a “Velha Arquitetura” – se ela existia, de fato – 
deveria ser substituída? Tinha perdido sua validade? 
Evidentemente, a “Nova Arquitetura” a que Jorge Machado Moreira se referiu é a 
arquitetura moderna, mas ele em momento algum de seu texto menciona esta 
palavra – moderno. Ela aparece apenas indiretamente, como uma das letras da 
sigla CIAM. Neste seu Depoimento, que serve como fio condutor desta dissertação 
em forma de ensaio, ele procura dar sua própria definição do que seria esta sua 
arquitetura, sendo que no parágrafo 4 ele chegou a um enunciado bastante explícito. 
Isto, porém, será abordado apenas mais adiante. Aqui nos interessa, a princípio, 
CAPÍTULO 1 – Por uma “Nova Arquitetura” mundial 20 
 
identificar as bases sobre as quais ele construiu sua idéia de arquitetura. 
Diz o Depoimento, que este movimento para implantar a “Nova Arquitetura“ era um 
movimento mundial. Novas questões se apresentam: importa saber, no seu 
entender, que mundo seria este, que território cobria? Sendo este movimento 
mundial, como afirma, seria correto admitir que no mundo todo a “Velha Arquitetura” 
tinha perdido sua validade? E a “Nova Arquitetura” seria ela válida para qualquer 
lugar? Imediatamente, chama a atenção o fato dos CIAM, que defendiam a “Nova 
Arquitetura”, terem todos acontecido, até aquela época, na Europa, reunindo 
predominantemente arquitetos europeus. Portanto, caberia questionar se eram 
idênticos os panoramas da arquitetura no Brasil e no mundo, a ponto de se 
manterem válidas aqui as recomendações dos CIAM formuladas no Velho Mundo. 
Cabe ainda questionar se Jorge Machado Moreira tinha consciência das 
contradições e das disputas internas existentes entre os membros do CIAM e, caso 
tivesse conhecimento, como se posicionava diante delas. Seriam unânimes as 
resoluções dos CIAM? É mais do que razoável supor que havia princípios gerais 
suficientemente fortes para que estes arquitetos se identificassem como parceiros na 
mesma luta, a ponto de se reunirem em um Congresso, cujo nome por si só já 
identificava um posicionamento. Não era um Congresso de Arquitetura 
simplesmente, mas um Congresso Internacional, o que indica a pretensão de que 
sua abrangência e suas resoluções teriam validade ampla e geral. E também não 
era um Congresso que reunisse qualquer arquiteto, mas somente aqueles 
inequivocamente “Modernos”. Mas, é também natural supor que houvesse 
divergências e contradições internas. O Depoimento não deixa indicações sobre a 
existência destes conflitos, ao contrário, faz parecer que dali emanava um corpo 
doutrinário sólido. Mas, como se verá adiante, havia várias tendências, que 
predominaram em determinadas fases e submergiram em outras. Além disto, as 
circunstâncias mundiais sofreriam tal mudança desde 1928 até 1959 – período 
compreendido entre o primeiro e o último CIAM – que certamente isto se refletiria no 
interior dos Congressos em seus documentos e resoluções. Portanto, a afirmação 
de “ser integrado ao movimento” pode ter um caráter muito mais múltiplo do que a 
objetividade cartesiana que o texto de Moreira

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