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CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 1 F U N D A Ç Õ E S Prof. Dr. Adriano Souza Agosto / 2003 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA "JÚLIO DE MESQUITA FILHO" FACULDADE DE ENGENHARIA DE ILHA SOLTEIRA Departamento de Engenharia Civil Área de Geotecnia CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 0 Í n d i c e APRESENTAÇÃO ............................................................................................................ 1 1. INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO .................................................................................. 3 1.1. Introdução.................................................................................................................. 3 1.2. Objetivos da Investigação do Subsolo....................................................................... 3 1.3. Métodos Utilizados para a Investigação do Subsolo ................................................. 4 1.3.1. Sondagens a Trado ................................................................................................ 4 1.3.2. Sondagens a Percussão......................................................................................... 4 1.3.3. Sondagens Rotativas e Mistas ............................................................................... 8 1.3.4. Ensaio de Cone (CPT).......................................................................................... 10 1.4. Programa de Trabalhos para Investigação do Subsolo........................................... 12 1.5. Profundidade Mínima dos Furos de Sondagem ...................................................... 12 1.6. Relatório de Investigação do Subsolo ..................................................................... 13 2. FUNDAÇÕES RASAS OU SUPERFICIAIS................................................................ 14 2.1. Introdução................................................................................................................ 14 2.2. Capacidade de Carga de Fundações Rasas ou Superficiais................................... 14 2.2.1. Generalidades ...................................................................................................... 14 2.2.2. Mecanismos de Ruptura....................................................................................... 14 2.2.3. Determinação da Tensão de Ruptura de um Solo................................................ 16 2.2.3. Determinação da Tensão Admissível do Solo ou Taxa de Trabalho do Solo ....... 17 2.3. Dimensionamento de Fundações Rasas ou Superficiais ........................................ 19 2.3.1. Tipos de Fundações Rasas ou Superficiais.......................................................... 19 2.3.1.1. Blocos de Fundação.......................................................................................... 19 2.3.1.2. Sapatas de Fundação........................................................................................ 21 2.3.1.3. Fundação em Radier ......................................................................................... 23 2.3.2. Projeto de Fundações Rasas ou Superficiais ....................................................... 24 2.3.2.1. Dimensionamento de Sapatas Isoladas ............................................................ 24 2.3.2.2. Dimensionamento de Sapatas Associadas ....................................................... 26 2.3.2.3. Dimensionamento de Sapatas Alavancadas ..................................................... 27 2.3.3. Projeto de Fundações em Radier ......................................................................... 28 2.4. Dimensionamento de Sapatas Sujeitas a Carga Vertical e Momento ..................... 29 2.4.1. Sapatas Carregadas Excentricamente ................................................................. 29 3. FUNDAÇÕES PROFUNDAS...................................................................................... 33 3.1. Introdução................................................................................................................ 33 3.2. Tubulões.................................................................................................................. 33 3.2.1. Tipos..................................................................................................................... 33 3.2.1.1. Tubulões a Céu Aberto...................................................................................... 33 3.2.1.1. Tubulões Pneumático ........................................................................................ 34 3.2.2. Capacidade de Carga de Tubulões ...................................................................... 36 3.2.2.1. Baseado em Valores de Sondagens SPT ......................................................... 36 3.2.2.2. Baseado em Ensaios de Adensamento............................................................. 36 3.2.3. Projeto de Tubulões.............................................................................................. 36 3.2.3.1. Tubulão Isolado ................................................................................................. 37 3.2.3.2. Tubulões Alavancados ...................................................................................... 38 3.2.3.2. Tubulões para Pilares Próximos........................................................................ 41 3.3. Estacas.................................................................................................................... 43 3.3.1. Tipos de Estacas .................................................................................................. 43 3.3.1.1. Estacas Escavadas ........................................................................................... 44 3.3.1.2. Estacas de Deslocamento ................................................................................. 44 CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 1 3.3.2. Determinação do Número de Estacas por Pilar.................................................... 44 3.3.3. Capacidade de Carga de Estacas ........................................................................ 51 3.3.3.1. Método Aoki-Velloso.......................................................................................... 52 3.3.3.2. Método Décourt-Quaresma ............................................................................... 54 3.3.3.3. Método Velloso.................................................................................................. 56 3.3.4. Carga Admissível da Estaca................................................................................. 57 3.3.5. Recalque .............................................................................................................. 57 4. ESCOLHA DO TIPO DE FUNDAÇÃO........................................................................ 58 4.1. Generalidades ......................................................................................................... 58 4.2. Fundações a Serem Pesquisadas........................................................................... 58 4.2.1. Fundação Rasa .................................................................................................... 58 4.2.2. Fundação Profunda em Estacas .......................................................................... 58 4.2.2.1. Brocas ............................................................................................................... 58 4.2.2.2. Strauss .............................................................................................................. 58 4.2.2.3. Pré-moldadas de Concreto................................................................................59 4.2.2.4. Franki................................................................................................................. 59 4.2.2.5. Metálicas ........................................................................................................... 59 4.2.2.6. Tipo Mega.......................................................................................................... 60 4.2.2.7. Escavadas ......................................................................................................... 60 4.2.3. Fundação Profunda em Tubulões ........................................................................ 60 CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 1 APRESENTAÇÃO A Engenharia de Fundações tem como objetivo determinar formas seguras e econômicas de se transferir cargas estruturais ao terreno, de modo a evitar deformações excessivas. Levando-se em consideração que, na maioria dos casos, as fundações, por não estarem assentadas sobre rocha sã, algum recalque mensurável sempre ocorrerá. A deformação de um elemento de solo deve-se as seguintes causas: - Aplicação de cargas estruturais; - Rebaixamento do nível d’água; - Colapso da estrutura do solo devido ao encharcamento; - Inchamento de solos expansivos; - Árvores de crescimento rápido em solos argilosos; - Deterioração da fundação (desagregação do concreto por ataque de sulfatos, corrosão de estacas metálicas, etc.); e outros. A utilização de elementos ou estruturas de fundações faz-se necessária para os seguintes casos: - Residências; - Edifícios; - Silos; - Torres; - Pontes e viadutos; - Barragens; - Estradas em geral; - Aeroportos, portos e construções portuárias e outros. Define-se fundação como a parte da estrutura que está em contato direto com o solo e transmitindo cargas a este (ver a Figura 1). Estrutura Fundação Figura 1. Definição de fundação. CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 2 No projeto de fundações devem ser feitas as seguintes análises de segurança contra: a) A ruptura do solo; b) As deformações excessivas do solo; e c) A ruptura do material constituinte da fundação. Os tipos básicos de fundação são as ditas diretas ou rasas ou superficiais, e as profundas, os quais se subdividem em uma série de fundações. Para se escolher a fundação mais adequada, deve-se conhecer os esforços atuantes sobre as edificações, as características do solo e dos elementos estruturais que formam as fundações. Assim, analisa-se a possibilidade de utilizar os vários tipos de fundação, em ordem crescente de complexidade e custo (Wolle, 1993). Fundações bem projetadas correspondem de 3 a 10% do custo total da edificação. O custo da fundação pode aumentar para os casos em que as características de resistência do solo são incompatíveis com os esforços que serão a ele transferido, pois nestas situações, elementos de fundação mais complexos são exigidos, podendo-se ter, inclusive, a necessidade de troca de solo, com reaterro e compactação. Tudo isto levando a custos, muitas vezes, não previstos inicialmente. CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 3 1. INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO 1.1. Introdução No projeto de qualquer estrutura de engenharia, por mais simples que seja, há a necessidade de se conhecer as condições do subsolo no local onde será construída. O primeiro passo para uma investigação adequada do subsolo é a definição de um programa de investigação. Este programa vai definir as etapas da investigação e os objetivos a serem alcançados. A seleção e adaptação dos recursos disponíveis para exploração do subsolo, tendo em vista a obtenção das informações e características de um terreno para um determinado projeto, exige algumas técnicas específicas, tais como: a) Tipo de estrutura e seus problemas específicos - Estruturas para as quais o problema básico é a interação da estrutura com o solo adjacente, onde o principal interesse é o conhecimento das características carga versus deslocamento da superfície de contato (muros de arrimo, estacas prancha, túneis e condutos enterrados). - Estruturas onde, além da interação da estrutura de terra com o terreno adjacente, as propriedades dos materiais usados na construção, são necessárias para a determinação do comportamento da própria estrutura (barragens de terra e enrocamento, bases e sub-bases de pavimentos e aterros atrás de muros de arrimo). - Estruturas naturais de solo ou rocha, as quais exigem o conhecimento das propriedades dos materiais sob as diversas condições a que possam ser submetidas (encostas naturais e taludes de corte). b) Condições geológicas da área (no caso de grandes barragens) A primeira medida a ser tomada em qualquer investigação geotécnica é o conhecimento da geologia local. Tais informações são obtidas por meio de mapas geológicos, fotografias aéreas ou de satélites e reconhecimentos expeditos no campo, os quais poderão indicar em termos gerais, a natureza dos solos, os tipos de rochas que serão encontradas, suas propriedades de engenharia mais significativas e condições do lençol freático. c) Características do local a investigar As condições físicas da área a investigar são de suma importância e também decisivas na escolha de um programa de investigação, pois alguns serviços executados facilmente em terreno firme, tornam-se impossíveis ou extremamente onerosos se previstos para serem realizados em água. 1.2. Objetivos da Investigação do Subsolo O principal objetivo da investigação do subsolo de um terreno para a confecção de um projeto de fundação é de determinar: a. Extensão, profundidade e espessura de cada horizonte do solo indicando compacidade e consistência; b. Profundidade do extrato rígido ou sub-extrato rígido ou topo rochoso; c. Nível d’água; e d. Propriedades de engenharia dos solos: compressibilidade, resistência e permeabilidade. CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 4 1.3. Métodos Utilizados para a Investigação do Subsolo Os métodos mais comumente utilizados na investigação do subsolo para fins de projetos de fundações de estruturas são: a. Sondagens a trado; b. Sondagens a percussão com SPT; c. Sondagens rotativas; d. Sondagens mistas; e e. Ensaio de cone (CPT). 1.3.1. Sondagens a Trado As sondagens a trado são perfurações executadas com um dos tipos de trado manuais mostrados na Figura 1. A profundidade também está limitada à profundidade do nível d’água, e as amostras retiradas são deformadas. Este tipo de investigação está normalizado pela NBR 9603/1986. a) tipo cavadeira b) tipo espiral ou torcido c) tipo helicoidal Figura 1. Trados manuais mais utilizados. 1.3.2. Sondagens a Percussão As sondagens a percussão são perfurações capazes de ultrapassar o nível d’água e atravessar solos relativamente compactos ou duros. O furo é revestido quando se apresenta instável; caso se apresente estável, a perfuração pode prosseguir sem revestimento, eventualmente adicionando-se um pouco de betonita à água. A perfuração avança na medida em que o solo, desagregado com o auxílio de um trépano, é removido por circulação de água (lavagem). O equipamento de sondagem apresentado na Figura 2a mostra o processo de perfuração, interrompido a cada metro, quando é feito um ensaio de penetração dinâmica (Standard Penetration Test ou SPT), mostrado na Figura 2b. CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 5 a) avanço da sondagem porb) ensaio de penetração desagregação e lavagem. dinâmica (SPT). Figura 2. Etapas na execução de sondagem a percussão. O ensaio de penetração dinâmica (SPT), normalizado pela NBR 6484/2001, é realizado a cada metro na sondagem a percussão (e também na mista, nas camadas de solo). O ensaio consiste na cravação de um amostrador normalizado, chamado originalmente de Raymond-Terzaghi (Figura 3a), por meio de golpes de um peso de 65 kgf caindo de 75 cm de altura. Anota-se o número de golpes necessários para cravar os 45 cm do amostrador em 3 conjuntos de golpes para cada 15 cm. O resultado do ensaio SPT é o número de golpes necessários para cravar os 30 cm finais (desprezando-se, portanto, os primeiros 15 cm, embora o número de golpes para essa penetração seja também fornecido). As sondagens a percussão não ultrapassam, naturalmente, matacões e blocos de rocha (e são detidas às vezes por pedregulhos) e têm dificuldade de atravessar saprólitos (solos residuais jovens) muito compactos ou alterações de rocha. No caso de se encontrar grande dificuldade de perfuração, a sondagem é suspensa (ver norma NBR 6484/2001, que versa sobre critérios para paralisação da sondagem). CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 6 A amostra retirada com o amostrador Raymond-Terzaghi é deformada. Quando se deseja retirar amostras indeformadas para ensaio de laboratório, amostradores especiais são empregados. No caso de argilas, pode-se usar o amostrador com tubo de parede fina conhecido como Shelby, mostrado na Figura 3b. A amostra é retirada no amostrador graças à válvula de esfera e um sistema alternativo para retenção da amostra, que consiste do uso de um pistão (ver a Figura 3c). Estes dois últimos amostradores são cravados estaticamente (prensados). A norma de amostragem NBR 9820 recomenda um diâmetro mínimo do amostrador de 100 mm (4”), em casos excepcionais, aceita um diâmetro de 76,2 mm (3”). Assim, quando do uso de um amostrador Shelby, o revestimento padrão de 2 1/2” não serve mais, e a sondagem precisa ter revestimento de maior diâmetro (6” ou excepcionalmente 4”). No caso de solos muito resistentes (por exemplo, saprólitos), pode-se usar o amostrador Denison (Figura 3d), que requer processo rotativo. a. Raymond- b) de parede fina c) de parede fina d) Denison Terzaghi ou Shelby ou de pistão Figura 3. Representação esquemática dos amostradores para solos. Outras informações muito importantes fornecidas pela sondagem são as condições de água subterrânea. Inicialmente deve-se perfurar o terreno com trado até que se encontre água, para que se faça uma determinação da profundidade do nível d’água freático não influenciada pela sondagem. Quando se passa ao processo de circulação de água, deve-se anotar as profundidades onde ocorrem elevações do nível de água no revestimento, o que indica artesianismo, ou perdas d’água. Terminada a sondagem e retirado o revestimento, o nível de água deve ser observado até que se estabilize (ou num período mínimo de 24 horas). Quando se deseja conhecer com mais precisão o nível piezométrico de uma dada camada, pode-se aproveitar o furo de sondagem para instalar um piezômetro (ver a Figura 4a). Para se conhecer com mais precisão o nível freático (quando este varia com o tempo ou com o regime de chuvas, por exemplo), CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 7 pode-se aproveitar o furo de sondagem para instalar um medidor de nível d’água, mostrado na Figura 4b (ou mesmo executar um poço). (a) piezômetro (b) medidor de nível d’água Figura 4. Instrumentação de campo. O ensaio SPT tem uma primeira utilidade na indicação da compacidade dos solos granulares (areias e siltes arenosos) e da consistência de solos argilosos (areias e siltes argilosos). A norma de sondagem que utiliza o SPT (NBR 6484/2001) prevê que o boletim de sondagem forneça, junto com a classificação do solo, sua compacidade ou consistência de acordo com a Tabela 1. Tabela 1. Compacidade ou consistência dos solos. Solo N Compacidade / Consistência ≤ 4 Fofa(o) 5 – 8 Pouco compacta(o) 9 – 18 Mediamente compacta(o) 19 – 40 Compacta(o) Areias e siltes arenosos > 40 Muito compacta(o) ≤ 2 Muito mole 3 – 5 Mole 6 – 10 Média(o) 11 – 19 Rija(o) Argilas e siltes argilosos > 19 Dura(o) Uma questão importante, quando o projetista se propõe a utilizar ábacos, tabelas, etc, baseados na experiência estrangeira é a da energia efetivamente aplicada no ensaio SPT, que varia com o método de aplicação dos golpes. No Brasil, o sistema mais comum é o manual, e a energia aplicada é da ordem de 70% da energia nominal; nos Estados Unidos, o sistema é mecanizado e a energia é da ordem de 60% (daí ser conhecido CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 8 como N60). Assim, antes de se utilizar uma correlação baseada na experiência americana, o número de golpes obtido com uma sondagem brasileira pode ser majorado de 10% a 20%. 1.3.3. Sondagens Rotativas e Mistas Na ocorrência de elementos de rocha que precisem ser ultrapassados no processo de investigação (caso de matacões ou blocos) ou que precisem ser caracterizados, utilizam-se às sondagens rotativas. Na Figura 5 está mostrado esquematicamente o processo de perfuração, que consiste basicamente em fazer girar as hastes (pelo cabeçote de perfuração) e em forçá-las para baixo (em geral por um sistema hidráulico). No topo das hastes há um acoplamento que permite a ligação da mangueira da água com as hastes que estão girando. Figura 5. Esquema de funcionamento da sonda rotativa. As sondagens mistas são uma combinação de um equipamento de sondagem rotativa (mesmo processo mostrado na Figura 5) com u equipamento de sondagem a percussão (para SPT). Na sondagem mista, nos materiais que podem ser sondados a percussão, este processo deve ser usado (com execução de SPT), exceto quando se deseja retirar uma amostra com o amostrador Denison. Durante o processo de sondagem rotativa é utilizada uma ferramenta tubular chamada barrilete (do inglês barrel) para corte e retirada de amostras de rocha (chamadas testemunho). Estas ferramentas têm em sua extremidade inferior uma coroa, CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 9 que pode ter pastilhas de tungstênio (wídia) ou diamantes. A ferramenta completa de corte e amostragem é, assim, composta de (i) coroa, (ii) calibrador com mola retentora e (iii) barrilete (ver a Figura 6). O barrilete pode ser simples, duplo rígido, ou duplo giratório (Figura 6) (a) barrilete simples (b) barrilete duplo (c) barrilete duplo giratório Figura 6. Amostradores para rocha (esquematicamente representados). As sondagens rotativas são executadas em 5 diâmetros básicos (EX, AX, BX, NX, HX), indicados na Tabela 2. Estes diâmetros foram concebidos de tal maneira que, na impossibilidade de se avançar em um determinado diâmetro, a perfuração pode prosseguir no diâmetro imediatamente inferior. Tabela 2. Diâmetros de perfuração em rocha. Diâmetro da coroa polegada mm Diâmetro do testemunho (mm) EX 1,47 37,3 20,6 AX 1,88 47,6 30,1 BX 2,35 59,5 41,3 NX 2,97 75,3 54,0 HX 3,89 98,8 76,2 A quantidade da amostra depende do tipo e diâmetro do amostrador utilizado, sendo preferíveis os barriletes duplos (se possível, giratórios). É preciso ter isto em mente uma vez que uma indicação da qualidade da rocha é a percentagem de recuperação de amostrana sondagem (a percentagem de recuperação é a razão – expressa em percentagem – entre o comprimento da amostra recuperada e o comprimento de perfuração). Assim, é importante que, junto com a percentagem de recuperação, seja informado o tipo e diâmetro do amostrador utilizado. Essa CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 10 percentagem de recuperação depende, também, do estado da coroa e da fixação da sonda, o que mostra que esta percentagem é função da qualidade da sondagem. Uma melhor indicação da qualidade da rocha é o RQD (“Rock Quality Designation”), que consiste num cálculo de percentagem de recuperação em que apenas os fragmentos maiores que 10 cm são considerados. Na determinação do RQD apenas barriletes duplos com diâmetro NX (75,3 mm) ou maiores podem ser utilizados. A classificação da rocha de acordo com o RQD está na Tabela 3. Tabela 3. Índice de qualidade da rocha – RQD. RQD Qualidade do maciço rochoso 0 – 25% Muito fraco 25 – 50% Fraco 50 – 75% Regular 75 – 90% Bom 90 – 100% Excelente 1.3.4. Ensaio de Cone (CPT) Originalmente desenvolvido na Holanda na década de 30, para investigar solos moles (e também estratos arenosos onde se apóiam estacas), o ensaio de cone (CPT) se definiu no mundo todo graças à qualidade de suas informações. Este ensaio recebeu várias denominações, como: ensaio de penetração estática (devido à sua forma de cravação), ensaio de penetração contínua (devido ao fato de fornecer informações quase contínuas nos cones mecânicos e, realmente, contínuas nos cones elétricos), ou diepsondering (termo dado a este tipo de ensaio na Holanda). O ensaio consiste basicamente na cravação a velocidade lenta e constante (dita estática ou quase-estática) de uma haste com ponta cônica medindo-se a resistência encontrada na ponta e a resistência por atrito lateral (ver a Figura 7a). No primeiro sistema desenvolvido, o atrito era medido em toda a haste, tendo este cone – hoje em desuso – sido conhecido como “cone de Delft” ou de “Plantema” (ver a Figura 8a). Posteriormente, desenvolveu-se um cone com uma luva de atrito – conhecido como cone “de Vermeiden” ou “de Begemann”, que avança primeiramente a ponta e depois a luva, para medição alternada da resistência de ponta (qc), e do atrito lateral local (fs) (ver a Figura 8b). Nestes dois sistemas, as cargas (e daí as tensões) são geralmente medidas por sistemas mecânicos (ou hidráulicos) na superfície, daí serem chamados de “cones mecânicos”. A partir da década de 70 desenvolveu-se um sistema de medição da resistência de ponta e do atrito lateral através de células de carga elétricas (locais), passando estes tipos de cones a ser conhecidos como “cones elétricos”. Na Figura 8c, está mostrado um cone elétrico da FUGRO “tipo subtração”, assim denominado porque a segunda célula de carga mede a resistência lateral juntamente com a resistência de ponta, fazendo com que aquela seja obtida por subtração do valor medido na primeira célula de carga. Logo em seguida, introduziu-se um transdutor (medidor) de pressão da água (associado a um elemento poroso) colocado geralmente próximo à ponta do cone para medição de poro- pressões durante o ensaio. Este último tipo de cone passou a ser chamado “piezocone” e a sigla do ensaio que o emprega passou para CPTU. Na Figura 8d vê-se um piezocone. Desde os cones mecânicos tem-se procurado normalizar a velocidade de cravação (inicialmente 1 cm/s e atualmente 2 cm/s), a área da ponta do cone em 10 cm2 e o ângulo da ponta em 60o. Este ensaio é normalizado no Brasil pela NBR 12069/1991. Um resultado típico deste ensaio está mostrado na Figura 9. No primeiro gráfico está um perfil de resistência de ponta e de atrito lateral local. O segundo gráfico apresenta a razão entre o atrito lateral local e a resistência de ponta, R = fs/qc, que dá CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 11 uma indicação do tipo de solo atravessado. O terceiro gráfico apresenta poro-pressões medidas no ensaio – possível quando se utiliza o piezocone – podendo-se observar que nas areias a poro-pressão é próxima da hidrostática, enquanto nas argilas há um excesso de poro-pressão gerado na cravação do cone. Quando se está atravessando uma camada de argila, pode-se parar a cravação e observar a velocidade de dissipação, e sua interpretação fornece o coeficiente de adensamento horizontal (ch). Neste ensaio não são retiradas amostras dos solos atravessados e, por isso, é recomendável que este tipo de investigação seja associado a sondagens a percussão (com retirada de amostras para classificação táctil-visual). Neste ensaio, salvo onde mencionado, a resistência de ponta do ensaio é aquela obtida por cones mecânicos ou elétricos e não por piezocones. No caso do uso de piezocone, a resistência de ponta medida (qc) deve ser corrigida para levar em conta a poro-pressão desenvolvida durante o ensaio. Se a poro- pressão é medida na base do cone (ub), usa-se a expressão de Campanella et al. (1982), que segue: ( )a1.uqq bcT −+= (01) em que: a : razão entre a área da base do cone (10 cm2) e a área da seção da célula de carga após o anel de vedação (ver a Figura 8c) ou: 2 2 2 2 R r R. r.a = π π = (02) Assumindo valores tipicamente entre 0,5 e 0,8. NO caso em que a poro-pressão é medida em outro ponto do piezocone, a equação (01), segundo Lunne et al. (!985), toma a forma: ( )a1.u.Kqq cT −+= (03) em que: K : fator de correção que depende da posição do elemento poroso no cone. Ao solicitar um ensaio de piezocone, o projetista de fundação deve pedir os resultados em termos de qc e fs e de qT (além dos critérios para correção adotados). A classificação do solo atravessado no ensaio CPT é dado pela razão entre o atrito lateral local e a resistência de ponta (R = fs/qc), já mencionada anteriormente e denominada razão de atrito, sendo utilizada na identificação do tipo de solo atravessado. Os primeiros estudos desta razão, mostrados na Tabela 4, foram feitos por Bengemann (1953). Estudos mais recentes estão resumidos na Figura 7. Tabela 4. Razão de atrito de acordo com o tipo de solo. Tipo de solo R (%) Areia fina e grossa 1,2 – 1,6 Areia siltosa 1,6 – 2,2 Areia silto-argilosa 2,2 – 4,0 Argila > 4,0 CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 12 Figura 7. Relação entre a razão de atrito, resistência de ponta do cone e tipo de solo. Robertson & Campanella (1983). No Brasil, onde o custo da sondagem é relativamente baixo, o ensaio CPT deve ser associado àquela investigação para melhor caracterização dos solos atravessados. 1.4. Programa de Trabalhos para Investigação do Subsolo O número de pontos de sondagem e os seus posicionamentos no terreno levam em conta a posição relativa do edifício, sendo definidos por: a) Um furo para cada 200 m2 de projeção da área construída, até a projeção de 1200 m2; b) Um furo adicional para cada 400 m2, para área entre 1200 e 2400 m2; c) Para área maior que 2400 m2, o número de furos de sondagem será fixado para cada caso particular; e d) Para pequenas áreas, em projeção, o número mínimo de furos será: - 2 furos para projeção até 200 m2, e - 3 furos para projeção entre 200 e 400 m2. 1.5. Profundidade Mínima dos Furos de Sondagem A profundidade mínima de um furo de sondagem é definida pela expressão: m0,8c.Bh cmrsond ≥= (04) em que: hsond : profundidade mínima de sondagem; Br : largura do retângulo de menor área, envolvendo a projeção da construção; e ccm : coeficiente em função da carga média do prédio sobre o solo (Tabela 5). CIV-0252: Fundações Prof.Dr. Adriano Souza 13 Tabela 5. Valores do coeficiente c. P (kN/m2) c < 80 1,0 90 - 150 1,5 150 – 200 2,0 > 200 à critério 1.6. Relatório de Investigação do Subsolo Na grande maioria dos casos, a avaliação e o estudo das características do subsolo do terreno sobre o qual será executada a edificação se resume em sondagens de simples reconhecimento (sondagem à percussão); mas dependendo do porte da obra, ou se as informações obtidas não forem satisfatórias, outros tipos de sondagens poderão ser executadas (ensaio de penetração contínua e outros). Tendo-se executado as sondagens corretamente, as informações são condensadas e apresentadas em um relatório escrito e outro gráfico, que deverá conter as seguintes informações referentes ao subsolo estudado: - locação dos furos de sondagem; - determinação dos tipos de solos até a profundidade de interesse do projeto; - determinação das condições de compacidade, consistência e capacidade de carga de cada tipo de solo; - determinação da espessura das camadas e avaliação da orientação dos planos que se separam; e - informação do nível do lençol freático. Estes dados são obtidos através da sondagem, que retrata as características e as propriedades do subsolo, e que depois de serem avaliados e minuciosamente estudados, servem de base técnica para a escolha do tipo de fundação da edificação que melhor se adapte ao terreno. CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 14 2. FUNDAÇÕES RASAS OU SUPERFICIAIS 2.1. Introdução Os empuxos de terra são as solicitações do solo sobre as estruturas que interagem com os maciços terrosos, ou forças que se desenvolvem no interior destes maciços. O calculo dos empuxos constitui uma das maiores e mais antigas preocupações da engenharia civil, trata-se de um problema de grande interesse prático, de ocorrência freqüente e de determinação complexa. Os muros de arrimo, os escorregamentos de escavações, os encontros de pontes, os problemas de capacidade de carga de fundações, entre outras, são as obras que exigem, em seus dimensionamentos e análises de estabilidade, o conhecimento dos valores dos empuxos. Para vencer esta dificuldade, é fundamental considerar as condições de compatibilidade entre os deslocamentos, o que implica a necessidade de se conhecer também a variação das tensões com as deformações, ou seja, a curva σ versus ε. 2.2. Capacidade de Carga de Fundações Rasas ou Superficiais 2.2.1. Generalidades Uma sapata com uma largura B, assentada na superfície do terreno e submetida a uma carga P crescente a partir de zero, medindo-se os valores de P e os correspondentes deslocamentos verticais (ou recalques – ρ). Para pequenos valores da carga os recalques serão, aproximadamente proporcionais. É a chamada fase elástica. Os recalques se estabilizam com o tempo, ou seja, a velocidade de deformação diminui e tende a zero. Nessa fase, os recalques são reversíveis. Em uma segunda fase, surgem deslocamentos plásticos. O estado plástico aparece, inicialmente, junto às bordas da fundação. Crescendo o carregamento, cresce a zona plástica. Essa fase é caracterizada por recalques irreversíveis. Para cargas maiores que um determinado valor crítico, ocorre um processo de recalque continuado. A velocidade de recalque não diminui mesmo para carga constante; ela assume um valor, também, constante. A resistência ao cisalhamento do solo é, em certas regiões, totalmente mobilizada. Em uma terceira fase, a velocidade de recalque cresce continuamente até que ocorre a ruptura do solo. Para o carregamento correspondente, atingiu-se o limite de resistência da fundação, ou seja, sua capacidade de carga na ruptura (ou simplesmente capacidade de carga), carga esta que pode ser convertida em tensão, a chamada tensão de ruptura (σr) . Na Figura 8 estão mostrados os fenômenos descritos (Kézdi, 1970). 2.2.2. Mecanismos de Ruptura As curvas de carga versus recalque podem ter diferentes formas (ver a Figura 9). Vésic (1963) distinguiu três tipos de ruptura: 1o) A ruptura geral ou generalizada é caracterizada pela existência de um mecanismo de ruptura bem definido e constituído por uma superfície de deslizamento que vai de um bordo da fundação à superfície do terreno (ver a Figura 9a). Em condições de tensão controlada, que é o modo de trabalho da maioria das fundações, a ruptura é brusca e catastrófica. Ocorre em solos mais rígidos (areias compactas e muito compactas e argilas rijas e duras); CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 15 2o) A ruptura local ou localizada é caracterizada por um modelo que é bem definida apenas imediatamente abaixo da fundação (ver a Figura 9b). Este modelo consiste de uma cunha e de superfícies de deslizamento que se iniciam junto às bordas da fundação, tal como no caso da ruptura generalizada. Há uma tendência visível de empolamento do solo aos lados da fundação. Entretanto, a compressão vertical sob a fundação é significativa e as superfícies de deslizamento terminam dentro do maciço, sem atingir a superfície do maciço, sem atingir a superfície do terreno. Ocorre em solos mais deformáveis (areias fofas e argilas moles e médias); e 3o) A ruptura por puncionamento é caracterizada por um mecanismo de difícil observação (ver a Figura 9c). À medida que a carga cresce, o movimento vertical da fundação é acompanhado pela compressão do solo imediatamente abaixo. A penetração da fundação é possibilitada pelo cisalhamento vertical em torno do perímetro da fundação. O solo fora da área carregada praticamente não participa do processo. Figura 8. Comportamento de uma sapata sob carga vertical (Kézdi, 1970). Figura 9. Tipos de ruptura (Vésic, 1963). CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 16 2.2.3. Determinação da Tensão de Ruptura de um Solo A tensão de ruptura de um solo (σr) pode ser determinada por meio dos seguintes métodos: a) teóricos; b) semi-empíricos; c) provas de carga sobre placa; e d) empíricos. a) Métodos Teóricos Consistem da aplicação de uma fórmula de capacidade de carga para estimativa da tensão de ruptura do solo (σr) de apoio, no entanto, os resultados estão sujeitos a imprecisão inerente às tais fórmulas. b) Métodos Semi-empíricos São aqueles em que as propriedades dos solos são estimadas com base em correlações para em seguida serem aplicadas fórmulas teóricas, adaptadas ou não. A estimativa de parâmetros (resistência e compressibilidade), normalmente, é feita com base na resistência à penetração medida em sondagem, N (SPT), ou na resistência de ponta do ensaio de penetração estática de cone (qc). c) Prova de Carga sobre Placa A prova de carga sobre placa se constitui na realidade em ensaio em modelo reduzido de uma sapata. Ela surgiu antes da conceituação da Mecânica dos Solos, aplicada empiricamente na tentativa de obtenção de informações sobre o comportamento tensão versus deformação de um determinado solo de fundação. A execução de uma prova de carga é regulamentada pela NBR 6489, na qual uma placa de aço rígida com 80 cm de diâmetro é carregada em estágios por um macaco hidráulico reagindo contra uma cargueira. Um estágio de carga somente é aplicado após terem praticamente cessado os recalques do estágio anterior. As cargas são aplicadas até a ruptura do solo e, caso isto não aconteça, até que se atinja o dobro da tensão admissível presumida para o solo, ou um recalque julgado excessivo. Os resultados de uma prova de carga são apresentados na forma de um gráfico de tensão versus recalque (ver a Figura 10), juntamente com outros dados relativos À montagem da prova, sua localização em planta e elevação, resultados de sondagem próximos, etc (ver a Figura11). Figura 10. Curva de tensão versus recalque de uma prova de carga direta em placa. Tensão (MPa) R ec al qu es (m m ) 0,8 0,9 1,11,0 20 15 10 5 30 25 0,60,50,4 0,70 0,1 0,2 0,3 CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 17 Figura 11. Detalhes da prova de carga direta sobre placa. d) Métodos Empíricos São aqueles em que a tensão de ruptura do solo (σr) é estimada com base em correlações. Uma vez definida por um dos métodos anteriores a tensão de ruptura do solo (σr), determina-se a tensão admissível do solo ou taxa de trabalho do solo (σs). 2.2.3. Determinação da Tensão Admissível do Solo ou Taxa de Trabalho do Solo A tensão admissível do solo ou taxa de trabalho do solo (σs) pode ser determinada por meio dos seguintes métodos: a) teóricos; b) semi-empíricos; c) provas de carga sobre placa; e d) empíricos. a) Métodos Teóricos Uma vez estimada a tensão de ruptura do solo (σr) pelo método teórico, divide- se este valor por um fator de segurança (F), conforme expressão que segue. F r s σ =σ (05) O fator de segurança F é variável de acordo com o problema, mas em geral não inferior a 3. b) Método Semi-empírico No caso de fundações diretas, torna-se preferível estimar σr de N ou de qc, sem necessidade de intercalar-se uma correlação entre esses índices e as propriedades dos solos. É fácil verificar-se que o engenheiro, especialista ou não, entende melhor o significado de uma argila de N = 15, do que uma argila de resistência não drenada cu = 0,15 MPa, estimada admitindo-se cu = 0,01.N (MPa). CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 18 c) Prova de carga sobre placa Na interpretação dos resultados de uma prova de carga se deverá atender sempre aos critérios de ruptura e recalques que norteiam qualquer projeto de fundação. Assim, teríamos: - Critério de recalque: 10s σ≤σ - Critério de ruptura : F 25 s σ ≤σ O fator de segurança F em geral é 2. d) Métodos Empíricos As primeiras recomendações para estimativa da tensão admissível apareceram na forma de tabelas, em geral constantes nos códigos de obras de grandes cidades. A norma NBR 6122/1994 forneça as tensões admissíveis para diversos solos (ver a Tabela 6). Tabela 6. Tensões básicas segundo a NBR 6122/1994. Classe Descrição σs (MPa) 1 Rocha sã, maciça sem laminações ou sinal de decomposição 3,0 2 Rochas laminadas, com pequenas fissuras, estratificadas 1,5 3 Rochas alteradas ou em decomposição ver nota (c) 4 Solos granulares concrecionados, conglomerados 1,0 5 Solos pedregulhosos compactos a muito compactos 0,6 6 Solos pedregulhosos fofos 0,3 7 Areias muito compactas 0,5 8 Areias compactas 0,4 9 Areias mediamente compactas 0,2 10 Argilas duras 0,3 11 Argilas rijas 0,2 12 Argilas médias 0,1 13 Siltes duros (muito compactos) 0,3 14 Siltes rijos (compactos) 0,2 15 Siltes médios (mediamente compactos) 0,1 Notas: (a) para a descrição dos diferentes tipos de solo, deve-se seguir as definições da NBR 6502. (b) no caso de calcário ou qualquer outra rocha cárstica, devem ser feitos estudos especiais. (c) para rochas alteradas, ou em decomposição, tem que se levar em conta a natureza da rocha matriz e o grau de decomposição ou alteração. CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 19 Outro método, e que é mais utilizado na prática, parte de valores da resistência à penetração em sondagens SPT, chamando-se tal valor de N, pode-se estimar a tensão admissível do solo ou taxa de trabalho do solo (σs), por meio da expressão: )MPa(N.02,0s =σ (06) em que: N : valor médio de N numa profundidade de 1,5.B abaixo da cota de apoio da fundação rasa, válido para qualquer solo natural no intervalo de 5 ≤ N ≤ 20, ver a Figura 12. Figura 12. Estimativa de N . 2.3. Dimensionamento de Fundações Rasas ou Superficiais As fundações rasas ou superficiais (ou ainda, diretas) são assim denominadas por se apoiarem sobre o solo a uma pequena profundidade, em relação ao solo circundante. De acordo com essa definição, uma fundação direta para um prédio com dois subsolos será considerada rasa, mesmo se apoiando a 7 m abaixo do nível da rua. 2.3.1. Tipos de Fundações Rasas ou Superficiais Do ponto de vista estrutural as fundações rasas dividem-se em blocos, sapatas e radier. 2.3.1.1. Blocos de Fundação São elementos de apoio construídos em concreto simples e caracterizados por uma altura relativamente grande, que é necessária para que trabalhem essencialmente à compressão. Normalmente os blocos assumem a forma de um bloco escalonado ou pedestal (ver a Figura 13). CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 20 a) bloco pedestal b) bloco escalonado Figura 13. Blocos de fundação. A altura “h” do bloco é calculada de tal forma que as tensões de tração atuantes no concreto, possam ser absorvidas pelo mesmo, sem necessidade de armar o piso da base, utilizando-se a expressão: α − α − ≤ tg. 2 bB tg. 2 aA h 0 0 (07) em que: A: maior dimensão da base do bloco; B: menor dimensão da base do bloco; ao: maior dimensão do pilar; bo: menor dimensão do pilar; e α: ângulo entre a base do bloco e o pilar (Figura 14). CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 21 Figura 14. Gráfico para a determinação de α. em que: σs: taxa de trabalho ou tensão admissível do solo; e σt: tensão admissível à tração do concreto, que é fornecida pela expressão: ≤σ 2 t m/kN800 20 fck (08) 2.3.1.2. Sapatas de Fundação As sapatas são elementos de apoio de concreto armado, de menor altura que os blocos, que resistem principalmente por flexão. As sapatas podem assumir praticamente qualquer forma em planta (ver Figura 15), sendo as mais freqüentes as sapatas quadradas (A = B), retangulares (A > B) e corridas (A >> B). Para efeitos de cálculos geotécnicos, considera-se como retangular uma sapata em que A ≤ 2,5.B. Além dos tipos fundamentais acima, se deve também reconhecer as sapatas associadas, as quais são empregadas nos casos em que, devido à proximidade dos pilares, não é possível projetar-se uma sapata isolada para cada pilar. Nestes casos, uma única sapata serve de fundação para dois ou mais pilares (ver a Figura 16). aA b b a B o o A=B B b bo A a oa B A a) quadrada b) retangular (A ≤ 2,5B) c) corrida (A > 2,5B) Figura 15. Sapatas isoladas. CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 22 a) Sapata Associada b) Escolha das dimensões da sapata. Figura 16. Sapatas associadas. CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 23 No caso de pilares encostados em divisas, ou junto ao alinhamento de uma calçada, não é possível projetar-se uma sapata centrada no pilar, recorrendo-se então a uma viga de equilíbrio (V.E.) ou viga alavanca (V.A.) a fim de corrigir a excentricidade existente, conforme ilustrado na Figura 17. Figura 17. Sapata de divisa com viga alavanca. 2.3.1.3. Fundação em Radier Quandotodos os pilares de uma estrutura transmitirem as cargas ao solo através de uma única sapata, tem-se o que se denomina uma fundação em radier (Figura 18). Quanto a forma ou sistema estrutural, os radiers são projetados segundo quatro tipos principais: - radiers lisos (Figura 18a); - radiers com pedestais ou em laje cogumelo (Figura 18b); - radiers nervurados (Figura 18c); e - radiers em caixão (Figura 18d). CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 24 a) lisos b) em pedestais ou laje cogumelo c) nervurados (vigas invertidas) d) em caixão Figura 18. Tipos de fundações em radier. 2.3.2. Projeto de Fundações Rasas ou Superficiais O dimensionamento geométrico de fundações diretas e seu posicionamento em planta é a primeira etapa de um projeto, a ser feito para uma taxa de trabalho ou tensão admissível do solo σs, previamente estimada. As dimensões da superfície da sapata em contato com solo não são escolhidas arbitrariamente, mas, sim, procurando-se proporções que conduzam a um dimensionamento estrutural econômico. No caso particular de um radier para edifício, será fundamental a participação do engenheiro estrutural, a fim de se conseguir proporções adequadas tanto sob o ponto de vista de fundação como estrutural. 2.3.2.1. Dimensionamento de Sapatas Isoladas A geometria da sua base depende da geometria da seção do pilar para o qual será dimensionada. Sendo que a área de sua base (Ab) é determinada em função da taxa de trabalho ou tensão admissível do solo σs, de acordo com a expressão que segue. s b PB.AA σ == (09) em que: A: maior dimensão da base da sapata; B: menor dimensão da base da sapata; e P: carga atuante no pilar. CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 25 No projeto, as dimensões A e B da base das sapatas são arredondas para o múltiplo de 5 cm acima do valor determinado, e de acordo com a norma NBR 6122/1996, temos que respeitar, para qualquer que seja a sapata, as seguintes condições: 1) cm80B ≥ ( cm60B ≥ para sapatas corridas) e 2) 5,2 B A ≤ a) Sapatas para pilares de seção transversal quadrada ou circular. Para pilares de seção transversal quadrada (com lados ao = bo) ou de seção circular com diâmetro d, solicitados por uma carga P, irão demandar sapatas com mesa e base quadrada (ver a Figura 15a), cujas determinações geométricas são feitas pelas expressões: m05,0bm05,0aba oo +=+== (10) ⇒ σ =⇒ σ =⇒=→ σ == s 2 ss b PBPB.BBAcomoPB.AA s PB σ = (11) em que: ao: maior dimensão do pilar; bo: menor dimensão do pilar; a: maior dimensão da mesa; e b: menor dimensão da mesa. b) Sapatas para pilares de seção transversal retangular. Para pilares de seção transversal retangular (com lados ao > bo), solicitados por uma carga P, irão demandar sapatas com mesa e base retangular (ver a Figura 15b), cujo dimensionamento econômico será aquele que conduz a momentos aproximadamente iguais nas duas abas, em relação à mesa da sapata. Para tanto, os balanços deverão ser aproximadamente iguais nas duas direções: 05,0d2bBe05,0d2aA ++=++= Subtraindo-se A - B, teremos: ⇒++−++=− )05,0d2b()05,0d2a(BA baBA −=− (12) Com esta condição imposta pela expressão (12) associada a da expressão (09), determina-se as dimensões A e B da base da sapata retangular, caindo em um sistema com 2 incógnitas para 2 equações; já, as dimensões a e b da mesa são determinadas pelas expressões: 05,0aa o += (13) 05,0bb o += (14) CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 26 c) Sapatas para pilares de seção transversal em foram de C, U, L, T e outras. Para pilares de seção transversal em forma de C, U, L, T e outras, solicitados por uma carga P, o centro de gravidade (C.G.) da sapata será centrado no centro de carga (C.C.) do pilar (ver a Figura 19). As dimensões a e b da mesa da sapata respeitarão o valor mínimo de 2,5 cm a mais que as dimensões ao e bo da seção transversal do pilar, em todas as direções. Caso as dimensões obtidas para a mesa da sapata sejam a = b (mesa quadrada), determina-se às dimensões A e B da base da sapata, onde A = B, com a expressão (11), que é utilizada para pilares de seção transversal quadrada; mas, no caso de a > b (mesa retangular), determina-se às dimensões A e B da sapata retangular, com as expressões (09) e (12), fazendo com que os balanços d sejam aproximadamente iguais nas duas direções (ver a Figura 19). aA b b a B o o A=B B b bo A a oa A<5.B Figura 19. Sapatas isoladas para pilares com seção transversal em forma de C e L. 2.3.2.2. Dimensionamento de Sapatas Associadas Quando as cargas estruturais forem muito altas em relação à taxa de trabalho ou tensão admissível do solo (σs), poderá ocorrer o caso de não ser possível projetar-se sapatas isoladas para cada pilar, tornando-se necessário o emprego de uma sapata única para dois ou mais pilares (ver a Figura 16a). Neste caso o C.G. da sapata será centrado no C.C. dos pilares, procedendo-se então à escolha das dimensões da A e B da base da sapata, de maneira a obter um equilíbrio entre as proporções da viga de rigidez e os balanços da laje (ver a Figura 16a). Considera-se a impossibilidade da construção de sapatas isoladas quando a distância mínima entre duas sapatas for menor que 10 cm, ocasionando com isso a sobreposição de efeitos de um bulbo de tensão de uma sapata com a outra. Portanto o dimensionamento da sapata associada é feito pela expressão: s n 1i i b P B.AA σ == ∑ = (15) A/B ≤ 2,5 CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 27 2.3.2.3. Dimensionamento de Sapatas Alavancadas Os pilares de divisa ou próximos a obstáculos onde não seja possível fazer com que o C.G. da sapata coincida com o C.C. do pilar. A primeira solução é criar-se uma viga alavanca (V.A.) ou viga de equilíbrio (V.E.) ligada a outro pilar, e assim obter um esquema estrutural cuja função é a de absorver o momento resultante da excentricidade decorrente do fato do pilar ficar excêntrico com a sapata (ver a Figura 17). A forma, mais conveniente, para a sapata de divisa é aquela cuja relação entre as dimensões A e B da base estejam no intervalo: 2,0 ≤ A/B ≤ 2,5. Da Figura 17 pode-se escrever que o valor da resultante R1 atuante no centro de gravidade da sapata de divisa é: PPR 11 ∆+= (16) em que: P1 : carga atuante no pilar de divisa; e ∆P : acréscimo de carga no pilar de divisa devido a excentricidade da carga P1. O acréscimo de carga ∆P é determinado pela expressão: d e.PP 11=∆ (17) em que: e1 : excentricidade entre o C.C. do pilar e o C.G. da sapata de divisa; e d : distância entre o C.G. da sapata de divisa e o C.C. do pilar ao qual ele foi alavancado. 2 bB e 1o11 − = (18) 1esd −= (19) em que: s : distância entre o C.C. do pilar de divisa e o C.C. do pilar ao qual ele foi alavancado. Como calcular o valor de R1, se no problema existem duas incógnitas (e1 e d) e apenas uma equação, o problema é indeterminado. Para se levantar a indeterminação, é conveniente adotar o seguinte roteiro: 1) Partir da relação inicial A = 2B e adotar ∆P = 0, ou seja, R1 = P1. Neste caso tem- se: s 1 s 1 s 1 b .2 PBPB.B2PB.AA 1 σ =⇒ σ =⇒ σ == (20) 2) Com o valor de B fixado, calculam-se e1 pela expressão (18) e ∆P pela expressão (17). CIV-0252: FundaçõesProf. Dr. Adriano Souza 28 3) Obtido o valor de ∆P, pode-se calcular o valor de R1 pela expressão (16) e, portanto a área final da base da sapata, pela expressão: s 1 b RA 1 σ = (21) 4) Como o valor de B1 já é conhecido (passo 1) o valor de A1 será calculado por: 1 1 1 B RA = (22) Se a relação A1/B1 for menor ou igual a 2,5, o problema estará resolvido, se não for, volta-se ao passo 1 e aumenta-se o valor de B1, repetindo-se o processo. Uma vez determinada às dimensões da base da base da sapata de divisa, dimensiona-se a base da sapata isolada do pilar ao qual o pilar de divisa foi alavancaso, no entanto, este pilar sofrerá um decréscimo de carga de ∆P/2 devido ao alavancamento, com isso teremos uma resultante R2 atuando no pilar da sapata isolada dado por: 2 PPR 22 ∆ −= (23) em que: P2 : carga atuante no pilar isolado. Por sua vez, a determinação das dimensões da mesa e da base deste pilar isolado será feita de acordo com a seção transversal do referido pilar, se for: quadrada (item a), retangular (item b) e outras formas (item c). 2.3.3. Projeto de Fundações em Radier Segundo a NBR 6122/1996 a expressão radier só deve ser usada apenas quando uma fundação superficial associada recebe todos os pilares da obra. Quando uma fundação deste tipo recebe apenas parte dos pilares, ela deve ser chamada de sapata associada. Do ponto de vista de projeto, entretanto, estes dois tipos de fundações podem ser tratados da mesma maneira. Uma fundação em radier é adotada quando: - as áreas das sapatas se aproximarem umas das outras ou mesmo se interpenetram (em conseqüência de cargas elevadas nos pilares ou de taxas de trabalho ou tensões admissíveis do solo baixas); - se deseja uniformizar os recalques. Uma orientação prática é quando a área total das sapatas for maior que a metade da área da construção, deve-se adotar o radier. Como no caso das vigas de fundação, os esforços internos em radiers podem ser calculados pelos chamados métodos estáticos, que são métodos que se baseiam em alguma hipótese sobre a distribuição das pressões de contato, como: - as pressões variam linearmente sobre o radier ou - as pressões são uniformes nas áreas de influência dos pilares. CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 29 2.4. Dimensionamento de Sapatas Sujeitas a Carga Vertical e Momento Em muitos casos práticos, além da carga vertical, atua também um momento na fundação. Esse momento pode ser causado por cargas aplicadas excentricamente ao eixo da sapata, por efeito de pórtico em estruturas hiperestáticas, por cargas horizontais aplicadas à estrutura (empuxo de terra em muros de arrimo, vento, frenagem, etc.). 2.4.1. Sapatas Carregadas Excentricamente Na Figura 20, ilustra-se o caso de uma sapata carregada excentricamente com uma carga Q. Nesse caso as tensões aplicadas ao solo não serão uniformes, variando ao longo da base da sapata. No caso de a carga Q estar dentro do núcleo central da base, as tensões serão obtidas considerando-se a superposição dos efeitos de uma carga centrada mais um momento. A tensão máxima deverá ser inferior a tensão admissível adotada para o solo. Figura 20. Sapatas carregadas excentricamente. CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 30 No caso de dupla excentricidade, com a carga ainda dentro do núcleo central da sapata, o momento resultante será decomposto em relação aos dois eixos da sapata e seus efeitos somados (ver a Figura 21). Figura 21. Sapata sujeita a dupla excentricidade. Quando a carga excêntrica estiver fora do núcleo central, apenas parte da sapata estará comprimida, não se admitindo que exista resistência a tração no contato sapata- solo (ver a Figura 22). A área da sapata que é efetivamente comprimida pode ser obtida fazendo-se σmáx = σs e verificando-se o equilíbrio de forças na vertical (ver a Figura 22). Figura 22. Sapata carregada excentricamente (caso de grande excentricidade). CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 31 Figura 23. Cálculo de tensões no caso de sapatas com dupla excentricidade. (apud Teng, 1969). CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 32 Na Figura 24 apresenta-se uma tabela que facilita o cálculo de sapatas circulares carregadas excentricamente. Figura 24. Sapata circular carregada excentricamente (apud Teng, 1969). CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 33 3. FUNDAÇÕES PROFUNDAS 3.1. Introdução Freqüentemente os terrenos apresentam horizontes de solos resistentes, não na superfície, mas a uma certa profundidade. É evidente, senão indispensável, fazer com que as estruturas descansem nestes horizontes resistentes. Dessa forma, sendo necessário executar fundações profundas em tubulões ou estacas. 3.2. Tubulões São designadas por tubulões as fundações profundas, de grande porte, com seção circular e que apresentam, em geral, a base alargada (Figura 25). Figura 25. Detalhes de um tubulão. 3.2.1. Tipos Os tubulões podem ser agrupados em dois tipos básicos: os tubulões a céu aberto e os que empregam ar comprimido (pneumáticos). 3.2.1.1. Tubulões a Céu Aberto São elementos estruturais de fundação no qual, concreta -se um poço aberto no terreno, o qual pode ser escavado manualmente ou mecanicamente, geralmente dotado de uma base alargada. Este tipo de tubulão e executado acima do nível da água natural ou rebaixado ou, em casos especiais, em terrenos saturados onde seja possível bombear a água sem risco de desmoronamento. No caso de existência apenas de carga vertical, este tipo de tubulão não é armado, colocando-se apenas uma ferragem de topo para a ligação com o bloco de concreto de coroamento ou de capeamento. CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 34 O rebaixamento do lençol freático pode ser executado por qualquer processo, até mesmo pela instalação de bombas no interior dos próprios tubulões, ou então em poços destinados a esta operação. Cuidados especiais devem ser tomados nestes casos, pois a escavação abaixo do N.A., especialmente a da base, é sempre muito perigosa. Este perigo aumenta quando a bomba está posicionada no interior de um tubulão, situação em que o fluxo de água se faz no sentido da reduzir z estabilidade da escavação. 3.2.1.1. Tubulões Pneumático Pretendendo-se executar tubulões em solos onde haja água e não seja possível esgota-la, mesmo utilizando-se bombas, devido ao perigo de desmoronamento das paredes do fuste ou da base, utilizam-se tubulões pneumáticos com camisa de concreto ou de aço. No caso da camisa ser de concreto (ver a Figura 26), todo o processo de sua cravação mais a abertura e concretagem do tubulão são feitos sob ar comprimido. No entanto, se a camisa for de aço, sua cravação é feita com auxilio de equipamentos e, portanto, a céu aberto (ver a Figura 27). Sendo que, apenas os serviços de abertura e concretagem são feitos com a utilização de sistemas de ar comprimido. Figura 26. Esquema do tubulão a ar comprimido com camisa de concreto. CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 35 Figura 27. Esquema e equipamento para instalação de camisa de aço no solo. CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 36 3.2.2. Capacidade de Carga de Tubulões Por se tratar de fundação profunda, na qual é desprezadaa carga proveniente do atrito lateral, onde o dimensionamento da base é feito de maneira análoga as sapatas. Os métodos normalmente utilizados para se estimar a taxa de trabalho do solo (σs) neste tipo de fundação são: 3.2.2.1. Baseado em Valores de Sondagens SPT Parte de valores da resistência à penetração em sondagens SPT, chamando-se tal valor de N, pode-se estimar a tensão admissível do solo ou taxa de trabalho do solo (σs), por meio da expressão: )MPa(N.033,0s =σ (24) em que: N : valor médio de N numa profundidade de 2.B abaixo da cota de apoio da fundação rasa, válido para qualquer solo natural no intervalo de N ≤ 20, na existência de um maior iguala-lo a 20. 3.2.2.2. Baseado em Ensaios de Adensamento Para solos argilosos pode-se utilizar resultados de ensaios de adensamento, tomando-se: ,as σ≅σ (25) em que: ,aσ : tensão de pré-adensamento do solo. 3.2.3. Projeto de Tubulões No projeto de tubulões são dimensionadas as medidas geométricas dos mesmos, que podem ser dos tipos: isolado, associado e alavancado. O fuste deve ser dimensionado como uma peça estrutural de concreto simples submetida à compressão. Então, segundo prescreve a NBR-6122, adotamos um coeficiente de majoração γf = 1,4 e um coeficiente de minoração da resistência característica do concreto γc = 1,6, tendo-se em vista as condições de concretagem de um tubulão, além disso, multiplicamos a resistência característica do concreto (fck) pelo coeficiente 0,85 para levar em conta a diferença entre resultados de ensaios rápidos de laboratório e a resistência sob a ação de carga de longa duração. Portanto o diâmetro do fuste é dado pela equação: π =⇒ γ π γ = 6,1 fck..85,0 P.4,1.4D fck..85,0 P..4D f c f f (26) Por sua vez, a área da base do tubulão (Ab) depende da taxa de trabalho do solo (σs) e é dada por: s 2 b b P 4 D.A σ = π = (27) CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 37 Como os valores de P e σs são conhecidos, determina-se Ab, logo a equação 27 passa a ser: s b . P.4D σπ = (28) Já a altura da base do tubulão (H) depende do ângulo α (ver a Figura 25), e é determinada pela expressão: α − = tg. 2 DDH fb (29) em que: 1 tg t s + σ σ = α α (30) tσ : tensão admissível de tração no concreto = 5 MN/m 2. Observações da norma NBR-6122: 1) O centro de gravidade da área do fuste (C.G.) e da área da base do tubulão deve coincidir com o centro de carga do pilar (C.C.); 2) Nos tubulões escavados manualmente a céu aberto, a diâmetro mínimo do fuste é de 0,80 m; 3) No caso de tubulões executados com revestimento, o coeficiente de minoração do concreto γc = 1,5, mesmo que a camisa seja recuperada; 4) De acordo com a NBR-6122, desde que a base esteja embutida em material idêntico ao de apoio num mínimo de 20 cm, o ângulo α pode ser adotado igual a 60°, independente da taxa de trabalho do solo “σs”, sem necessidade de armadura; 5) Ainda segundo a NBR-6122, os tubulões devem ser dimensionados de maneira a evitar alturas de base superiores a 2,0 metros. Em casos excepcionais, devidamente justificados, admite-se alturas superiores a 2,0 metros; 6) O peso próprio do tubulão não e considerado nos cálculos do dimensionamento, pois na determinação da taxa de trabalho do solo á cota de apoio, supõe-se que a resistência lateral ao longo do fuste seja igual ao peso próprio do tubulão. 3.2.3.1. Tubulão Isolado Este tubulão é utilizado para pilares distantes dos demais, caso este muito normal em edifícios e pontes. As dimensões geométricas a serem determinadas são: o diâmetro da base (Db), o diâmetro do fuste (Df) e a altura da base (H), ver a Figura 28, determinadas respectivamente pelas equações que seguem. s b P13,1D σ = (31) CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 38 fck P83,1Df = (32) ofb 60tg.2 DDH −= (33) Figura 28. Esquema de um tubulão isolado. 3.2.3.2. Tubulões Alavancados Para pilares de divisa, tendo em vista que o C.G. dos tubulões confeccionados na divisa vão ter excentricidades em relação aos pilares de divisa, se faz necessário alavancá-los ao pilar mais próximo, por meio de vigas alavancas (V.A.). Este excentricidade provoca um acréscimo de carga (∆P) no pilar da divisa, ocasionando uma carga R1 (= P1 + ∆P) e um alívio de carga no pilar ao qual o pilar de divisa foi alavancado, cujo valor é ∆P/2, resultando numa carga R2 (= P2 - ∆P/2). Buscando diminuir o valor desta excentricidade confecciona-se tubulões em falsa elipse na divisa (ver a Figura 29). As medidas geométricas a serem determinadas são: raio da base (r), comprimento da parte retangular da base (x), área da base (Ab) e a excentricidade (e), todos interdependentes, mais o diâmetro do fuste (Df) e a altura da base (H). CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 39 A área da base do tubulão (Ab) em falsa elipse (ver a Figura 29), que corresponde a um retângulo mais dois semicírculos, é determinada pela equação: ( ) 2b 22 b r.x.r2A2 r.r2.x 2 r.A π+=⇒ π ++ π = (34) Figura 29. Planta da base de uma sapata em falsa elipse. A disposição da solução de um tubulão em falsa elipse, para um pilar de divisa, alavancado ao pilar mais próximo é mostrada na Figura 30. Figura 30. Disposição de um tubulão em falsa elipse para um pilar de divisa. r r x 2r CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 40 Para a determinação das incógnitas r, x, Ab e e, referentes ao pilar de divisa, dispõe-se apenas da equação (34) e o valor de Ab não é conhecido (= [P+∆P]/σs). A solução para contornar esta indeterminação é impor um valor para r, assim é possível determinar o valor da excentricidade e pela equação: f 2 bre o −−= (35) em que: bo : dimensão do pilar no plano horizontal; e f : distância entre o pilar e a divisa do terreno. Conhecido o valor da excentricidade determina-se: d e.PP =∆ (36) esd −= (37) em que: s : distância entre os centro de carga dos pilares de divisa e ao qual este foi alavancado, no plano horizontal. PPR ∆+= (38) s b RA σ = (39) Com os valores de r e Ab substituídos na equação (34), obtém-se: r2 rAx 2 b π−= (40) Faz-se necessário comparar as dimensões r e x, pois não é interessante que se tenha um valor alto para r, o que provocaria uma excentricidade grande e, nem um valor elevado para x, o que resultaria numa base demasiadamente alongada. Na prática, uma faixa recomendável de trabalho é: r3xr << (41) Sendo que o valor ideal seria x = 2r. Já o diâmetro do fuste (Df) e a altura base (H) são determinados, respectivamente, pelas equações: fck R83,1Df = (42) of 60tg. 2 D)r2x(H −+= (43) CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 41 Para o dimensionamento do tubulão do pilar central descontamos a metade do alívio, logo: 2 PPR ∆−= (44) A partir deste valor determinam-se as dimensões geométricas do referido tubulão, utilizando-se as equações: s b R13,1D σ = (45) fck R83,1Df = (46) ofb 60tg. 2 DDH −= (47) Observações - O valor de r pode depender das dimensões do equipamento utilizado na execução do tubulão, por exemplo, da campânula no caso de tubulões pneumáticos, ou do equipamento de perfuração mecânica, se for o caso; e - Os centros de gravidade da área do fuste e da base devem estar sobre o eixo da viga alavanca. 3.2.3.2. Tubulões paraPilares Próximos Não se deve de forma alguma associar a fundação de dois ou mais pilares com um único tubulão. Então, se dois pilares estão muito próximos, de tal forma que impossibilita a execução de tubulões com bases circulares por causa da superposição de áreas, o alargamento da base de um ou de ambos os tubulões é feito na forma de falsa elipse, também. Entretanto, é óbvio que nesse caso não há excentricidade, e que os tubulões trabalham independentemente. Primeiramente, consideramos a possibilidade de que seja necessário apenas um tubulão com a base em falsa elipse (ver a Figura 31). Figura 31. Tubulões para pilares próximos – 1 tubulão em falsa elipse. CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 42 Após o dimensionamento do tubulão do pilar P1 (base circular), adotamos o valor “r2” em função da distancia entre os pilares, de tal forma que: 20,0rsrm20,0rrs 1221 −−≤⇒++≥ (48) E, em seguida, determinamos a dimensão x, por: 2 2 2b 2 r2 rA x 2 π− = (49) s 2 b PA 2 σ = (50) Então se verifica apenas a relação: x2 < 3r2 (x2 não tem limite inferior, pois não há excentricidade). Caso a desigualdade não seja satisfeita, optamos pelo emprego de duas falsas elipses (ver a Figura 32). Figura 32. Tubulões para pilares próximos – 2 tubulões em falsa elipse. Inicialmente, adotamos os valores de r1 e r2, de tal forma que: 20,0rrs 21 ++≥ (51) Seguindo as determinações de: s 1 b PA 1 σ = (52) 1 2 1b 1 r2 rA x 1 π− = (53) 11 r3x ≤ (54) CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 43 s 2 b PA 2 σ = (55) 2 2 2b 2 r2 rA x 2 π− = (56) 22 r3x ≤ (57) Tanto no caso de uma como duas falsas elipses, os cálculos do diâmetro do fuste e da altura da base, são semelhantes aos vistos anteriormente. Observações: - Caso os pilares estiverem tão próximos que não seja possível a solução anterior, então se afasta o centro de gravidade dos tubulões e se introduz uma viga de interligação (ver a Figura 33): e - Pode-se usar, se necessário, dois tubulões sob três pilares alinhados, com uma viga de rigidez Figura 33. Tubulões para pilares próximos – 2 tubulões em falsa elipse e viga de rigidez. 3.3. Estacas As estacas são elementos estruturais esbeltos que, colocados no solo por cravação ou perfuração, têm a finalidade de transmitir cargas ao mesmo, seja pela resistência sob sua extremidade inferior (resistência de ponta), seja pela resistência ao longo do fuste (atrito lateral) ou pela combinação de ambas. 3.3.1. Tipos de Estacas Existem dois tipos de estacas, a saber: - Estacas escavadas; e - Estacas de deslocamento. CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 44 3.3.1.1. Estacas Escavadas São aquelas executadas in situ através da perfuração do terreno por um processo qualquer, com remoção de material, com ou sem revestimento, com ou sem a utilização de fluido estabilizante. Nessa categoria enquadram-se as estacas do tipo broca, executadas manual ou mecanicamente, as tipo Strauss, as barretes, os estações, as hélices contínuas, as estacas injetadas e outras. 3.3.1.2. Estacas de Deslocamento São aquelas introduzidas no terreno através de algum processo que não promova a retirada do solo. No Brasil, o exemplo mais característico desse tipo de estaca é o das pré-moldadas de concreto armado. Também se enquadram nessa categoria as estacas metálicas, as de madeira, as apiloadas de concreto e as do tipo Franki. 3.3.2. Determinação do Número de Estacas por Pilar Uma vez escolhido o(s) tipo(s) de estaca(s) viável tecnicamente ao projeto de fundações da edificação em questão, determina-se o número de estacas por pilar pela equação: P PNE ii = (58) em que: NEi : número de estacas necessárias para o pilar “i”; Pi : carga atuante no pilar “i” (ressalva para pilares associados ou alavancados); e P : carga admissível, a menor entre o material da estaca ( eP , fornecido na Tabela 7 ) e o solo ( sP , determinado por métodos semi-empíricos). A equação 58 só é utilizável se o centro de carga (C.C.) do pilar coincidir com o centro de gravidade (C.G.) do estaqueamento e, se no bloco forem usadas estacas do mesmo tipo e diâmetro. Tabela 7. Carga admissível do material que compõe as estacas ( eP ). CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 45 Tabela 7. Continuação. A disposição das estacas deve ser feita sempre que possível de modo a conduzir a blocos de menor volume. Nos esquemas mostrados na Figura 34, os quais indicam algumas das disposições, mais comuns, para grupos de estacas. No caso de estacas para dois ou mais pilares, normalmente, une-se os mesmos por um único bloco de coroamento. Já para pilares de divisa, deve-se recorrer ao uso de uma viga de equilíbrio. A norma NBR 6122/1996 – Projeto e Execução de Fundações, faz uma série de observações e conselhos no tocante a: a) disposição e afastamento entre estacas de um mesmo grupo de estacas em um bloco de coroamento e entre estacas de blocos de coroamento vizinhos; b) estacas em blocos com dois ou mais pilares; c) blocos contínuos; d) vigas de interligação entre blocos de coroamento; e) pilares de divisa e f) pilares com carga vertical e momento. CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 46 Figura 34. Disposição das estacas em um grupo de estacas. CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 47 Figura 34. Continuação. CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 48 a. O espaçamento (d) entre estacas deve ser respeitado, não só entre as estacas do próprio bloco, mas também entre estacas de blocos contíguos. b. A distribuição das estacas deve ser feita, sempre que possível, no sentido de maior dimensão do pilar. c. Só será escolhido o bloco (b) do item b., quando o espaçamento com as estacas do bloco contíguo for insuficiente. d. Para os blocos com mais de um pilar, o centro de carga (C.C.) deve coincidir com o centro de gravidade (C.G.) das estacas. CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 49 e. Deve-se evitar a distribuição de estacas indicadas em (a) deste item, por introduzir um momento de torção no bloco. f. O estaqueamento deve ser feito, sempre que possível, independentemente para cada pilar. g. Deve-se evitar, quando possível, blocos contínuos de grande extensão. h. No caso de bloco com duas estacas para dois pilares, deve-se evitar a posição da estaca embaixo dos pilares. CIV-0252: Fundações Prof. Dr. Adriano Souza 50 i. Nos projetos comuns, não se deve misturar estacas de diferentes diâmetros num mesmo bloco. j. É recomendável indicar no projeto que os blocos de uma estaca sejam ligados por vigas aos blocos vizinhos, pelo menos em duas direções aproximadamente ortogonais, conforme figura (a) deste item, e os blocos de duas estacas pelo menos com uma viga, conforme figura (b) deste item; para os blocos de três estacas ou mais, não há necessidade de vigas de amarração. Essas vigas deverão ser dimensionadas para absorver as excentricidades, permitidas por Norma, que poderão ocorrer entre o eixo do pilar e o da estaca. k. Pilares de Divisa: a solução de pilares de divisa sobre estaca é praticamente imediata, pois o valor da excentricidade
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