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UNIDADE 3

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Prévia do material em texto

Futebol, Cultura 
e Sociedade
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Dr. Antônio Carlos Vaz
Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco
Futebol e Negócios
• Introdução;
• A Federação Internacional de Futebol (Fifa) e a 
Transformação do Futebol: a Profissionalização;
• O Futebol Profissional e os Seus Impactos 
na Vida Social Brasileira;
• A Disputa pela Direção do Futebol Nacional;
• A Globalização e Homogeneização do Futebol;
• Compreender os processos sociais e culturais que transformaram o futebol na maior 
expressão cultural contemporânea da humanidade.
• Apreender o movimento do futebol, como instituição, provocado pelos interesses econômicos.
• Desenvolver uma visão crítica acerca das relações éticas entre esporte e economia.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
Futebol e Negócios
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem 
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua 
formação acadêmica e atuação profissional, siga 
algumas recomendações básicas: 
Assim:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e 
horário fixos como seu “momento do estudo”;
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma 
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos 
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua 
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o 
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de 
aprendizagem.
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Determine um 
horário fixo 
para estudar.
Aproveite as 
indicações 
de Material 
Complementar.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma 
Não se esqueça 
de se alimentar 
e de se manter 
hidratado.
Aproveite as 
Conserve seu 
material e local de 
estudos sempre 
organizados.
Procure manter 
contato com seus 
colegas e tutores 
para trocar ideias! 
Isso amplia a 
aprendizagem.
Seja original! 
Nunca plagie 
trabalhos.
UNIDADE Futebol e Negócios
Introdução
Caro(a) aluno(a),
Nesta Unidade trataremos do processo em que uma prática esportiva, surgida da 
cultura corporal medieval dos povos que viviam na Grã-Bretanha e, talvez, espalha-
da por lá pelo contingente do exército do antigo Império Romano e pela população 
de colonos que o seguia, sendo, então, catapultada no século XX ao fenômeno 
cultural de maior impacto na sociedade contemporânea. Com o passar do tempo, 
o futebol se transformou na maior manifestação da cultura corporal do Ocidente e 
depois de todo o mundo.
No processo de passagem de uma natureza amadora para uma profissional, o 
futebol ganhou novos significados, investimentos e se transformou em algo que 
passou a representar não apenas a cidade, como também o país. Nesse sentido, 
começou a receber a atenção do Estado e, com isso, investimentos públicos.
O próximo passo foi a descoberta, pelas pessoas que atuam na economia de 
mercado, do potencial que essa prática esportiva tem, tornando-se o início de um 
período de grandes investimentos e, consequentemente, transformações que altera-
ram o pequeno sujeito apaixonado pelo seu clube em potencial consumidor.
Você acha que os interesses econômicos, não só dos clubes, mas dos próprios dirigentes, 
empresários e jogadores, afetam a forma do torcedor se envolve com o futebol?Ex
pl
or
A Federação Internacional de 
Futebol (Fifa) e a Transformação 
do Futebol: a Profissionalização
Na Inglaterra, o futebol, como um evento cultural, passou rapidamente a interes-
sar a um grupo considerável de homens, que em seu tempo livre não se importava 
de pagar para assistir a bons jogos desse esporte. Equipes como Blackburn, perce-
bendo isso, estabeleceram alguma forma de remunerar os seus jogadores, de modo 
que pudessem ter mais tempo disponível aos treinamentos, melhorando, assim, o 
seu desempenho (PRONI, 2000).
Contudo, tal situação era um problema para a entidade que dirigia o futebol à 
época, a Football Association, a qual se opunha a qualquer tentativa de pagamento 
a jogadores. A região Norte da Inglaterra, que era mais industrializada, tinha maior 
quantidade de jogadores de origem proletária. Com a intransigência da direção da 
Football Association em aceitar qualquer forma de remuneração aos jogadores, os 
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9
times dessa região ameaçaram abandonar o campeonato e criar uma outra liga, 
independente da Football Association (PRONI, 2000).
Segundo Proni (2000), o que “estava em jogo” não era apenas os princípios 
éticos presentes no esporte amador, mas também o controle do futebol pelo grupo 
que fundou a entidade. A pressão aumentava, de modo que ficava cada vez mais 
difícil manter a decisão de um esporte apenas amador.
Dessa luta política é que surgiu a ideia de fazer uma concessão para manter a 
hegemonia, ou seja, para garantir o controle da modalidade esportiva. O profis-
sionalismo passou a ser aceito apenas para atletas, ao mesmo tempo em que os 
dirigentes e a própria entidade continuariam com um caráter amador. Com isso, 
preservariam os princípios morais da aristocracia, enquanto os clubes passariam a 
ser geridos a partir de uma lógica de mercado, embora os seus dirigentes devessem 
continuar amadores (PRONI, 2000). Segundo a socióloga Janet Lever:
As classes privilegiadas consideravam que o pagamento era uma afronta 
às tradições do esporte amador; mas os jogadores das classes trabalha-
doras precisavam do dinheiro. [...] Chegou-se a um acordo em 1885, 
quando a Football Association aceitou os profissionais, mas proibiu-os 
de servirem qualquer comitê ou comparecerem às reuniões da Associa-
ção. [...] Os aristocratas da Football Association providenciaram para que 
esse controle paternalista se estendesse também aos clubes. Assim, os 
clubes ingleses foram organizados como companhias de responsabilidade 
limitada, vendendo ações ao público e dirigidos por um presidente e um 
conselho de administração. A Associação Inglesa de Futebol proibiu os 
diretores de receberem qualquer remuneração por seus serviços e limita-
ram os dividendos dos acionistas a 7,5%. A ideia era manter à distância 
os especuladores e garantir a permanência no controle dos desportistas 
que amavam o jogo. [...] Os amadores que dirigiam a Associação eram 
das elites inglesas (uma situação que, em grande parte, se mantém até 
hoje). Os amadores que assumiram a responsabilidade pelos clubes eram 
da ascendente classe média e elementos dos nouveau riche. Foi a comu-
nidade dos industriais, empresários e comerciantes bem-sucedidos que se 
instituiu como a benfeitora do esporte. (apud PRONI, 2000, p. 28)
Dessa forma, por volta de 1892, o sistema britânico para a condução do futebol 
já estava desenhado, o profissionalismo já era uma realidade. Segundo Richard Holt:
O profissionalismo foi legalizado em parte a fim de colocar um limite 
ao poder de barganha dos jogadores. [...] Logo, a aceitação do profis-
sionalismo não estabeleceu um mercado livre no futebol, mas confinou 
legalmente os jogadores a um clube e determinou o teto salarial que po-
deria ser pago a eles. A Liga de Futebol era uma espécie de cartel sem 
fins lucrativos no qual o poder dos clubes maiores estava limitado pelos 
menores. Isto era justamente como os amadores da Football Association 
julgavam que deveria ser. (apud PRONI, 2000, p. 29)
O profissionalismo deu margempara que os atletas das classes trabalhadoras pu-
dessem se dedicar exclusivamente à prática do futebol. Mas é importante destacar 
9
UNIDADE Futebol e Negócios
que o sistema criado era um modelo híbrido. Não era a mesma coisa que a relação 
entre um trabalhador e o seu patrão, em que o profissional, desejando trabalhar em 
outro lugar, poderia sair livremente, deixando o antigo emprego.
Instituiu-se o que ficou conhecido como Lei do passe, em que o jogador passava 
a ser um patrimônio do clube, não podendo trocá-lo ao seu bel prazer, tendo, então 
e necessariamente, que contar com o interesse de seu clube em negociá-lo. Essa solu-
ção encontrada pelos dirigentes da Football Association permaneceria até a década 
de 1990, ou seja, por um século, quando novos elementos das lutas sociais e de 
trabalhadores imprimiram uma inédita ordem social na relação entre atletas e clubes.
Essa saída híbrida encontrada pela Football Association procurava, na sua visão 
e momento, resguardar a característica amadora do esporte, tentando impedir que 
o espírito comercial dominasse as atividades futebolísticas.
Em suma, depois da transformação do futebol, na Inglaterra, de jogo das mul-
tidões em esporte escolar civilizado, seguida da sua conversão em atividade 
organizada de forma crescentemente racional e burocrática, veio a sua prole-
tarização e, com ela, o embate ideológico que envolveu setores das classes do-
minantes. Esta trajetória mostra claramente que o futebol foi se transfigurando 
na Era Moderna, sendo de diferentes naturezas os processos socioculturais que 
contribuíram para essa transfiguração. (PRONI, 2000, p. 30)
À medida que o futebol foi se alastrando pelos quatro cantos do Planeta e os 
jogos internacionais foram se tornando cada vez mais frequentes, fez-se necessária 
a criação de federações internacionais.
Assim, em 1904, por iniciativa de dirigentes franceses, foi criada a Fedération 
Internationale de Football Association (Fifa) – Federação Internacional de Futebol. 
Os países fundadores foram França, Bélgica, Dinamarca, Holanda, Espanha, 
Suécia e Suíça. Por uma posição política, talvez por não reconhecerem essa inicia-
tiva, ou por se considerarem os “pais do futebol”, os ingleses, embora convidados, 
não compareceram (PRONI, 2000). Segundo Lever, citada por Proni (2000, p. 32):
O Comitê Internacional de Football Association, criado em 1882 pelas 
associações de futebol da Inglaterra, Irlanda, Escócia e Gales, deveria ser 
o único organismo com autoridade sobre as regras do jogo; os dirigentes 
britânicos achavam que a Fifa era supérflua. A Inglaterra acabou ingres-
sando na Fifa, dois anos depois, mas com a condição de que o Comitê 
Internacional permanecesse responsável pelas regras do jogo. A Fifa de-
veria cuidar para que os países-membros aderissem às regras e para que 
as partidas internacionais fossem jogadas por equipes realmente repre-
sentativas, aprovadas pelas respectivas associações. Além disso, a Fifa 
institucionalizou para o mundo que a decisão da Associação Britânica de 
futebol de que um clube de futebol não deve ser usado como uma fonte 
de lucro para seus diretores ou acionistas.
Na América do Sul, o futebol foi introduzido primeiramente na Argentina e no 
Uruguai, quase três décadas antes de chegar ao Brasil. O primeiro jogo internacional 
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foi disputado oficialmente em 1902, entre uruguaios e argentinos. A participação 
internacional dos países sul-americanos ficava restrita ao próprio Continente, em 
função da dificuldade de transporte para viagens à Europa.
Por conta desse isolamento geográfico, as equipes e seleções sul-americanas não 
conseguiam participar de torneios promovidos na Europa, como as Olimpíadas, por 
exemplo. E como a Fifa, da mesma forma, não conseguia supervisionar os torneios 
realizados na América do Sul, em 1916, com a primeira Grande Guerra Mundial em 
andamento, foi criada a Confederação Sul-Americana de Futebol (CSF), subordinada 
à Fifa, tendo como objetivo a regulação do esporte e o estímulo ao intercâmbio entre 
os países, além de buscar o crescimento da modalidade (PRONI, 2000).
O surgimento da primeira Copa do Mundo de Futebol tem ligação direta com 
o processo de profissionalização do esporte. O futebol, assim como a maioria dos 
esportes, tinha o interesse em participar dos Jogos Olímpicos, mas era permitido 
apenas aos esportes amadores. Com o crescente movimento de profissionalização 
do futebol, sem volta, a participação nos Jogos Olímpicos, tal como era defendida, 
virou um problema, pois os países não poderiam jogar com os seus melhores atletas.
Após os Jogos Olímpicos de Paris, realizados em 1924, a Fifa começou a estu-
dar a possibilidade de organizar um torneio mundial de seleções e, finalmente, após 
os Jogos de Amsterdã, em 1928, com mais países aderentes ao profissionalismo, a 
entidade máxima do futebol se lançou na aventura de sua primeira Copa do Mundo 
(PRONI, 2000) que, com a Europa ainda em reconstrução, por conta da Primeira 
Grande Guerra, foi realizada no Uruguai, em 1930. A partir desse primeiro torneio 
de seleções, a resistência ao profissionalismo foi se desmantelando.
O Futebol Profissional e os seus Impactos 
na Vida Social Brasileira
Antes de entrarmos no processo de profissionalização propriamente dito, vere-
mos o que aconteceu há, pelo menos, uma década e meia antes. 
Quando o futebol organizado ainda estava “engatinhando”, em 1915, jogadores 
de São Paulo e do Rio de Janeiro já recebiam algum dinheiro para jogar – tal gra-
tificação independia do resultado –, o que assegurava certa estabilidade a alguns 
atletas. Passavam, assim, a se aplicar mais durante os jogos, imaginando que com 
melhor desempenho fariam jus a mais altas gratificações. Essa situação ainda não 
caracterizava o profissionalismo, mas serviu para consolidar novas possibilidades 
ao seu surgimento.
Em 1923, já havia sinais de que o amadorismo não se sustentaria por mui-
to tempo. Nesse período, determinados clubes, de alguma forma, já realizavam 
pagamentos aos seus atletas, estabelecendo uma prática que ficou conhecida, no 
meio futebolístico, como amadorismo marrom.
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UNIDADE Futebol e Negócios
Um fato associado ao Clube de Regatas Vasco da Gama foi determinante 
nesse período: a criação de um prêmio oferecido pelo Clube aos seus jogadores a 
cada vitória – todavia, sem nunca assumir oficialmente tal prática (CALDAS, 1990). 
Esse prêmio ficou conhecido por bicho e ainda nos dias atuais se faz presente em 
maior ou menor medida no meio futebolístico profissional e até mesmo na várzea, 
hoje tomada, em sua manifestação mais elitizada, funcionando quase que exclusi-
vamente em função de pagamento aos grandes jogadores – especialmente os times 
que disputam os principais campeonatos amadores do Estado de São Paulo.
Bangu foi um marco na apropriação do futebol pela classe trabalhadora; en-
quanto o Fluminense se caracterizava como um time de futebol altamente eli-
tizado, representando as pessoas que pertenciam aos grupos econômicos mais 
poderosos, estando o seu clube situado em um sofisticado bairro carioca, em que 
até mesmo as pessoas da alta classe média tinham dificuldade em se associar ao 
qual; por sua vez, o Bangu foi criado no subúrbio, pelos ingleses da Companhia 
Progresso Industrial do Brasil, patrona desse time (CALDAS, 1990).
O fato de o estádio do Bangu estar localizado no bairro do subúrbio carioca e 
contando com trabalhadores em seu time, fez com que se tornasse uma agremiação 
mais democrática que os demais. O Fluminense, na outra extremidade, esbanjava 
requinte, por exemplo, quando jogava fora da Cidade do Rio de Janeiro, os atletas 
usavam smoking, o que causava, no público em geral, a impressão de se tratar de 
moços sofisticados, grã-finos (CALDAS, 1990). Esse autor cita o jornalista Mário 
Filho, quando este relata o que significa ser jogador do Fluminense:
Para entrar no Fluminense o jogador tinha que viver a mesma vida de 
uma Oscar Cox, de Felix Frias, de um Horácio da CostaSantos, de um 
Waterman, de um Francis Walter, de um Etchegary, todos homens feitos, 
chefes de firmas, empregados de categoria de grandes casas, filhos de pa-
pai rico, educados na Europa, habituados a gastar. Era uma vida pesada. 
Quem não tivesse boa renda, boa mesada, bom ordenado, não aguentava 
o repuxo. (MÁRIO FILHO apud CALDAS, 1990, p. 26)
Essa situação vivida pelos jogadores do Fluminense fazia com que esse grupo 
fosse admirado não apenas pela elite carioca. Os torcedores de nível socioeconô-
mico mais baixo e a população como um todo admiravam também esses jovens 
bem tratados e vestidos, símbolos de sucesso na vida. E a única forma possível de a 
população pobre se sentir próxima à camada mais rica da cidade era torcer para o 
mesmo time. Na alegria do gol, das vitórias, dos títulos ou na tristeza das derrotas, 
podiam se encontrar, consagrar-se.
Ver homens das classes abastadas jogando futebol, aliás, não era novidade al-
guma, afinal, Flamengo, Botafogo e América também eram constituídos por 
segmentos elitizados da população, assim como os demais clubes que praticavam 
o futebol à época. Embora o Fluminense fosse ainda mais elitizado, representava 
a “elite das elites”. O Vasco da Gama, nessa época, não tinha significativa expres-
são, advindo do subúrbio e disputando a segunda divisão (CALDAS, 1990).
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Dessa forma, os torcedores escolhiam os seus times por outros motivos, tais 
como as cores da camisa, do bairro, da popularidade, entre outras características; 
de modo que a questão social influenciava menos, até porque não havia opções de 
times formados pela parcela trabalhadora da população.
Os times do subúrbio carioca não conseguiam se manter, pois os seus jogadores 
não tinham meios para treinar regularmente, dado que necessitavam trabalhar. 
Além disso, as estruturas política e econômica desses clubes menores não criavam 
condições para que os atletas pudessem atuar com alguma forma de ajuda finan-
ceira – inclusive porque essa prática era proibida.
Já nos clubes mais elitizados do Rio de Janeiro, tais como o Fluminense, Botafogo, 
Flamengo e América ocorria o oposto: as gestões estimulavam a prática futebolística, 
visto que esse esporte foi bem recebido pelas camadas mais ricas da população carioca; 
assim, os jovens universitários estavam sempre à disposição para a prática do futebol, 
sem que isso causasse qualquer dificuldade com a universidade (CALDAS, 1990).
Para se ter uma noção da face amadorística do futebol carioca nos primeiros 
anos, o Flamengo teve um time formado por oito estudantes de Medicina, quatro 
de Direito e um filho de comerciante rico, consagrando-se campeão carioca – isso 
era o amadorismo de alto nível, pois podiam treinar praticamente todos os dias 
(CALDAS, 1990). Apenas com o apropriado profissionalismo um time formado 
por trabalhadores poderia fazer frente a times como o aqui descrito.
Bangu, fundado por ingleses em 1904, com o nome de The Bangu Athletic Club, 
pertencia aos altos funcionários da Companhia Progresso Industrial Ltda., uma fá-
brica de tecidos localizada no Bairro de Bangu, subúrbio carioca. Os profissionais in-
gleses não conseguiam preencher o número necessário de jogadores para a prática 
do futebol, convidando, assim, os seus conterrâneos que moravam e trabalhavam no 
Centro ou na Zona Sul, mas isso era considerável empecilho para a prática; daí veio 
a solução de convidar alguns trabalhadores da fábrica para completar os times, come-
çando, assim, considerável transformação no futebol e nas fábricas (CALDAS, 1990).
A escolha dos trabalhadores que integrariam o time de futebol do Bangu era 
baseada inicialmente em alguns aspectos da vida do candidato: no desempenho pro-
fissional, tempo de serviço na Empresa e ainda no comportamento pessoal. Os pro-
fissionais escolhidos passavam a ter certos privilégios, tais como trabalho mais leve, 
que exigisse menos esforço físico, liberação antecipada em dias de treino e, ainda, 
eram promovidos com mais rapidez. Esse movimento acabou por criar uma imagem 
simpática da empresa junto à população trabalhadora (CALDAS, 1990).
Logo a equipe de futebol passou a ser mais conhecida do que a fábrica. E isso 
trouxe novos planos para a empresa, necessitando ter um time forte, que ampliasse 
o prestígio da organização e, para isso, teriam de contar com os bons trabalhadores 
operários, que eram melhores que os ingleses. Assim, o critério de admissão para tra-
balhar na fábrica também se modificou: havia agora preocupação em contratar bons 
profissionais que também fossem exímios jogadores de futebol – consequentemente, 
a necessidade de tempo de empresa deixava de fazer sentido (CALDAS, 1990).
13
UNIDADE Futebol e Negócios
Conheça mais sobre esse importante Clube de Futebol, o A. C. Bangu, disposição em: https://goo.gl/D5cB61
Ex
pl
or
Esse movimento abriu uma “fissura” nas relações sociais entre ricos e trabalha-
dores. Evidentemente que não foi o fim do conflito de classes, ou mesmo do pre-
conceito pela cor da pele. O negro dribbler, expressão utilizada para se referir ao 
jogador driblador, poderia agora fazer parte do eleven, tais como eram chamados, 
pelos ingleses, os onze titulares do Bangu (CALDAS, 1990).
Foto do Bangu Athlétic Club, em 1931, disponível em: https://goo.gl/zaQvkT
Ex
pl
or
Essa relação entre empresa e futebol, no âmbito do amadorismo, ou semiama-
dorismo, permaneceu visível na sociedade brasileira por décadas, estendendo-se, 
pelo menos, até a primeira metade da década de 1980, quando algumas empresas 
que mantinham equipes de futebol, ou participavam de competições organizadas 
pela própria corporação, quando reuniam as várias instituições do grupo em uma 
espécie de olimpíada ou, simplesmente, de campeonato de futebol.
A pressão sobre o amadorismo do futebol foi aumentando a cada dia. Em 1923, 
o Clube de Regatas Vasco da Gama, recém-promovido à primeira divisão do 
campeonato carioca, colocou, pela primeira vez na história do futebol brasileiro, 
negros em seu time, que era composto por um chofer de táxi, um pintor de pare-
des, um estivador e um motorista de caminhão, negros ou mulatos, e mais quatro 
brancos analfabetos (CALDAS, 1990).
Em seu ano inaugural na primeira divisão, com negros e analfabetos em seu 
time, o Vasco da Gama se sagrou campeão. Evidentemente que esse movimento 
produziu emblemática crise no futebol carioca, afinal, era uma humilhação aos 
times das classes altas e médias, formados por jovens estudantes e profissionais de 
alto nível da elite carioca (CALDAS, 1990).
Esse título carioca pelo Clube de Regatas Vasco da Gama colocou também 
mais “combustível” no processo de profissionalização, não sendo mais possível 
voltar atrás. Dito de outra forma, a conquista pelo Vasco mostrou que os jogadores 
negros e trabalhadores eram superiores aos jovens estudantes, filhos das classes 
mais abastadas da sociedade carioca e, assim, começaram a se tornar imprescin-
díveis ao crescimento do futebol daquela cidade e, consequentemente, brasileiro.
Saiba mais sobre as ações do Clube de Regatas Vasco da Gama e a luta contra o racismo no 
Brasil. Disponível em: https://goo.gl/NuaFGWEx
pl
or
Como represália à estratégia vascaína, os principais clubes do Rio de Janei-
ro deixaram a Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (1917-1924), para 
14
15
fundarem a Associação Metropolitana de Esportes Athléticos e, evidentemente, 
não convidaram o Vasco da Gama (CALDAS, 1990).
Mário Filho, importante jornalista do Rio de Janeiro, considerado o “pai do 
jornalismo esportivo”, narrou em uma de suas crônicas o episódio da grande cam-
panha vascaína:
Falar em futebol era falar da derrota do Vasco. Veio a outra semana, o 
Vasco continuou a vencer, não perdeu mais até o fim do campeonato. 
A vitória do Flamengo tinha dado a ilusão de que tudo ia voltar a ser o 
que era dantes, os times de brancos levantando campeonatos, os times 
de pretos perdendo sempre. [...] A ilusão durou pouco, os clubes finos da 
sociedade, como se dizia, estavamdiante de um fato consumado. Não se 
ganharia campeonatos só com times de brancos. Um time de brancos, 
mulatos e pretos era o campeão da cidade. Contra esse time os times de 
brancos não tinham podido fazer nada. [...] Desaparecera a vantagem 
de ser de boa família, de ser estudante, de ser branco. O rapaz de boa 
família, o estudante, o branco, tinha que competir em igualdade de con-
dições, com o pé rapado, quase analfabeto, o mulato e o preto, para ver 
quem jogava melhor. [...] Era uma verdadeira revolução que se operava no 
futebol brasileiro. Restava saber qual seria a reação dos grandes clubes. 
(RODRIGUES FILHO, 1964, p. 128)
Além do movimento interno ao Brasil, relatado até aqui, havia outros elementos 
que, de certo modo, contribuíram no processo de profissionalização do futebol.
O amadorismo marrom já havia se consolidado no Brasil e nos países da América 
do Sul, de modo que era preciso atualizar as relações contratuais entre os jogadores 
e clubes. Aproveitando-se dessa situação instável para os jogadores sul-americanos, 
os clubes europeus, principalmente os italianos, iniciaram uma grande ofensiva 
para levar os bons atletas dos clubes sul-americanos (MAZZONI, 1950).
Em 1931, o êxodo dos jogadores argentinos para a Europa acabou por preci-
pitar esse movimento na própria Argentina. E a profissionalização no país vizinho 
aumentou ainda mais a pressão sobre as equipes brasileiras; daí que os nossos jo-
gadores passaram a ser seduzidos também pelas equipes argentinas, abrindo uma 
nova perspectiva profissional aos atletas brasileiros (MAZZONI, 1950).
Os nossos jogadores eram inscritos na Fifa como amadores, e essa instituição 
aceitava que um atleta amador, sem contrato, portanto, transferisse-se para qual-
quer equipe. Dessa forma, os clubes estrangeiros agiam com total liberdade no 
Brasil (MAZZONI, 1950).
O Lazio, de Roma, contava já com dois brasileiros, os “cracks” Nininho e 
Ninão, do Palestra de Belo Horizonte. Aquele clube visou quase todo o se-
lecionado paulista! O estouro da bomba colocou nosso ambiente em efer-
vescência. Um escândalo dos diabos. Acolheram se os emissários como 
uns indivíduos deshonestos e os jogadores... fujões passaram a ser visto 
como... traidores! [...] Foi um Deus nos acuda quando se soube que iria 
embora metade do “esquadrão-mosqueteiro” do Corinthians, tri-campeão 
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UNIDADE Futebol e Negócios
paulista e outra porção do time do Palestra! Nada houve que os impedisse 
de viajar. Amílcar, o veterano campeão, já treinador, foi o primeiro contra-
tado pelo Lazio. [...] Do Corinthians foram visados Del Debbio, Filó, Rato e 
De Maria; do Palestra: Pepe, Serafini, e mais Tedesco do Atlético Santista, 
depois foi Ministrinho, a seguir outros e mais outros... O então presidente 
do Corinthians, sr. Alfredo Schurig, fez todo o possível para o clube não 
sofrer tamanho golpe. Tudo em vão. (MAZZONI, 1950, p. 228)
Ao mesmo tempo em que os clubes paulistas viviam dias sombrios, com a perda 
de seus grandes craques, no Rio de Janeiro os campeões suburbanos apresentavam 
dois jogadores que viriam a ser dos maiores da história do nosso futebol, Domingos 
da Guia, o “Divino Mestre”; e Leônidas da Silva, o “Diamante Negro”. Eram os 
famosos “mulatinhos rosados” (MAZZONI, 1950).
 
Figura 2 – As lendas: Domingos da Guia, o “Divino Mestre”, atuando pelo Bangu Athletic Club; 
e Leônidas da Silva, o “Diamante Negro”, atuando pelo Bonsucesso Futebol Clube
Fonte: Wikimedia Commons
Em 23 de janeiro de 1933 estava criado o futebol profissional no Brasil, com 
a fundação da Liga Carioca de Futebol (LCF), contando com os seguintes clubes 
como fundadores: Bangu Athletic Club, que foi o primeiro campeão; Fluminense 
Futebol Clube, cujo presidente, Oscar da Costa, e seu vice, Arnaldo Guinle – ape-
sar de nenhum dos dois ser o presidente da Liga –, eram as pessoas que domi-
navam as ações políticas da LCF; Clube de Regatas Vasco da Gama, América 
Futebol Clube e Bonsucesso Futebol Clube (CALDAS, 1990).
Teve início, assim, uma nova fase do desenvolvimento futebolístico nacional, o 
futebol profissional, o qual teve de lidar com outra importante questão: quem diri-
giria esse esporte no País?
O futebol brasileiro se organizou a partir do que se praticava nos Estados, já 
que a integração nacional das práticas futebolísticas era dificultada em razão das 
consideráveis distâncias, além das condições econômicas e das entidades dirigentes.
A disputa política entre as ligas ou federações dos Estados do Rio de Janeiro e 
São Paulo pelo domínio da entidade que representaria o futebol nacional se esten-
deu por praticamente todo o século XX, até que os interesses políticos regionais 
puderam ser superados, tal como veremos, pelas motivações puramente econômi-
cas, em um cenário de globalização econômica e contexto neoliberal.
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A Disputa pela Direção do Futebol Nacional
Em 1915 foi dado o “pontapé inicial” na luta pela hegemonia política do futebol 
nacional. Nesse ano foram fundadas duas federações brasileiras, a primeira, pelos 
paulistas, em 25 de setembro, com o nome de Federação Brasileira de Futebol; 
enquanto que no Rio de Janeiro, em 15 de novembro, foi inaugurada a Federação 
Brasileira de Esportes (CALDAS, 1990).
Foi desse embate que surgiu a iniciativa, por parte do, então chanceler, Lauro 
Muller, de criar uma entidade, a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) – an-
tecessora da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) –, propondo que a diretoria 
da Entidade fosse composta por paulistas e cariocas, de modo a manter o equilíbrio 
político entre os dois grupos. A CBD foi oficialmente criada em 5 de dezembro de 
1916, contando com a presença de representantes de boa parte dos Estados brasi-
leiros (CALDAS, 1990).
O registro junto à Fifa foi determinante no desenvolvimento de nosso futebol, 
pois, assim, as excursões ao exterior contariam com o aval da entidade máxima, e 
passariam, ainda, a integrar os processos de compra e venda de jogadores ao ex-
terior, o que passou a fazer parte da realidade dos clubes ainda na primeira década 
do século XX (CALDAS, 1990).
Essa disputa política pela direção da CBD – e posteriormente pela CBF – se 
estendeu por quase todo o século XX. A acusação de bairrismo proferida por di-
rigentes e torcedores de clubes por todo o Brasil se transformou em uma prática 
regular, renovada a cada Copa do Mundo, em relação aos cariocas que passaram a 
dirigir o futebol brasileiro, tornando o Rio de Janeiro o centro do futebol nacional.
Esse movimento contra a direção bairrista do futebol brasileiro veio a se dissolver 
apenas a partir de fenômenos econômicos mais recentes, quando a base da seleção 
brasileira passou a ser formada por atletas radicados em clubes estrangeiros, tais 
como Milan, Real Madrid, Barcelona, entre outros.
A regra do jogo: uma história institucional da CBF. Disponível em: https://goo.gl/dCpUWE
Ex
pl
or
A Globalização e Homogeneização do Futebol
A organização do futebol internacional foi se tornando cada vez mais comple-
xa. A Fifa, sozinha, não tinha condições de organizar e controlar toda a demanda 
que passou a haver a partir da criação das competições internacionais. Assim, 
surgiu a ideia de criar outras entidades ligadas à qual, que cuidassem da relação 
entre as federações nacionais e a própria Fifa, tal como a Union Européene de 
Football Association (Uefa). Essas entidades continentais é que passariam a se 
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UNIDADE Futebol e Negócios
responsabilizar pela promoção de torneios e pela realização das eliminatórias para 
a Copa do Mundo, já que não era mais possível realizar um torneio com todas as 
federações filiadas (PRONI, 2000).
Na década de 1960, quando a Copa do Mundo aconteceu na Inglaterra, especi-
ficamente em 1966, o futebol já tinha se espalhado definitivamente pelo Planeta; 
contudo, esse crescimento não era resultado da mercantilização do futebol, mas 
resultado do que esse esporte passou a representar social, política e culturalmente 
nos diferentes países. 
Querdizer, não era uma lógica econômica que comandava a organiza-
ção futebolística. Ao contrário, a condução administrativa amadora e o 
caráter “associativo” da modalidade limitavam a sua comercialização. De 
um lado, os estatutos dos clubes e federações estabeleciam mecanismos 
de representação que previam a rotatividade das diretorias; de outro, os 
torcedores, políticos e a imprensa acabavam influindo nas decisões refe-
rentes aos times e seleções, impedindo que o futebol fosse tratado como 
uma atividade privada. De um modo geral, os dividendos obtidos pelos 
dirigentes de clubes e federações eram mais de natureza política do que 
econômica. (PRONI, 2000, p. 40)
Esse modelo mercantil, que profissionalizou os atletas, mas manteve a organiza-
ção amadora, foi o responsável pela diferenciação das forças futebolísticas. As equi-
pes com maior capacidade financeira foram capazes de montar times com maior 
potencial esportivo, e isso acabou por estruturar uma divisão entre as agremiações, 
quando se configurou os denominados clubes grandes – poderosos, financeira-
mente – e os clubes pequenos.
Essa divisão acabou por fazer com os times pequenos se tornassem reveladores 
de jogadores, enquanto os poderosos se firmaram como compradores de tais atletas 
revelados. Tal divisão se cristalizou, fazendo com que os times denominados grandes 
se tornassem os, repetidamente, campeões nacionais e internacionais; enquanto as 
equipes chamadas de pequenas, contentaram-se na ocupação da divisão principal 
e na venda de seus jogadores aos clubes entendidos como grandes (PRONI, 2000).
As ideias de profissionalismo e comercialização do futebol eram ainda distantes 
do que se vê nesta segunda década do século XXI. Mesmo se tratando de esporte 
das massas, podia ser assistido apenas por quem estivesse no local de sua prática, 
ou seja, no estádio.
Isso mudou quando a televisão e, na sequência, o marketing fizeram do futebol 
um grande espetáculo, um produto do entretenimento, veiculado ao vivo para todo 
o mundo. Esse esporte foi transformado em material de consumo, alterando igual-
mente o torcedor em consumidor. Ademais e à época, o negócio no futebol ainda 
não fazia parte da economia de mercado como qualquer outro campo de negócios.
Os clubes não competiam com outros para atrair grandes multidões redu-
zindo preços ou desenvolvendo um plano de marketing; as suas receitas 
se ampliavam ou diminuiam de acordo com a campanha da equipe na 
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temporada. Não faziam qualquer esforço sério para aumentar o tamanho 
das torcidas, o seu mercado em potencial. Nem se preocupavam em ob-
ter receitas de um imenso patrimônio fixo que, mesmo sendo próprio, 
era usado somente algumas horas por semana. E, principalmente, o fu-
tebol continuava uma atividade sem fins lucrativos, o clube dependendo 
da colaboração dos sócios, ou de algum padrinho, para se manter. Não 
havia a figura do capitalista empreendedor. (PRONI, 2000, p. 43)
Muitas das transformações que ocorreram com o futebol e a sua organização fo-
ram inspiradas por associações externas. As primeiras ações mercadológicas nesse 
esporte se deram por meio de empresários que viam grandes oportunidades no 
futebol como evento, entretenimento, em função de grande interesse das pessoas.
Outra fonte de interferência foi das empresas jornalísticas, por exemplo: por ini-
ciativa do jornal francês L’Equipe, em 1955, os dirigentes das principais federações 
da Europa instituíram a primeira Copa dos Campeões, elaborando um calendário 
internacional de competições. Em cinco anos já tinham sido criadas a Copa da 
Uefa e a Recopa (PRONI, 2000).
É evidente que os meios de comunicação tinham muito a ganhar com a 
cobertura desses torneios, por causa do grande interesse do público mas-
culino. Embora os jornais e emissoras de rádio ajudassem a promover 
as partidas, pouco influenciavam na organização e comercialização do 
espetáculo. E a TV, que desde os anos cinquenta começou a filmar alguns 
jogos, tinha seu raio de ação bastante limitado. (PRONI, 2000, p. 44)
Até a década de 1960 na Europa, e 1980 no Brasil, nenhum clube poderia ser 
caracterizado como uma empresa capitalista. Para o funcionamento do futebol como 
organização com fins lucrativos, diversas mudanças precisaram ocorrer, tais como a 
racionalização da gestão dos negócios do clube; transformação do jogo de futebol em 
espetáculo televisivo; implantação profissional de um departamento de marketing; pro-
cura de novos mercados; e o mais importante, modificação na organização do futebol, 
permitindo a presença de grupos econômicos na direção do esporte (PRONI, 2000).
Conforme os clubes foram se agigantando em termos econômicos, foram se 
acirrando as disputas clubísticas e, consequentemente, aumentando a pressão junto 
às federações nacionais e às confederações, além da própria Fifa, sobre os limites 
da mercadorização do esporte; o que significou uma ruptura com os valores e 
princípios impostos pelas entidades britânicas e bancadas pela Fifa em sua origem 
(PRONI, 2000).
Desde a década de 1970, o futebol profissional vem sofrendo transformações em 
função das questões econômicas. Quanto mais esse esporte foi se abrindo diante da 
lógica empresarial, mais elementos econômicos começaram a se fazer presentes em 
sua estrutura. Uma das principais mudanças foi a relação que o futebol passou a estabe-
lecer com a publicidade que, por sua vez, começou a influir na própria gestão do clube.
A reestruturação do futebol na Inglaterra teve um componente político impor-
tante: com a ascensão de Margareth Thatcher ao poder, a partir de 1979, houve 
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UNIDADE Futebol e Negócios
significativo esforço no sentido de se restaurar o livre mercado; dava-se início, dessa 
forma, aos projetos neoliberais, que poucas décadas depois contaminariam o mun-
do com a sua visão de Estado e sociedade. 
Esse contexto político-econômico, acrescido do discurso moralizante do 
governo Thatcher, é importante para o entendimento de como se instau-
rou na imprensa inglesa a ideia de que o futebol devia se modernizar, e 
se converter em atividade racionalmente organizada, economicamente 
autossustentável. (PRONI, 2000, p. 64)
No início da década de 1980 já se via o aparecimento de dirigentes esportivos 
com uma nova visão de negócios; mas esse movimento não era homogêneo, afinal, 
em cada país se concretizou de forma específica. Nas equipes inglesas, por exem-
plo, não houve incorporação dos clubes pelas grandes empresas, tal como ocor-
reu na Itália e Alemanha – permanecendo como um investimento dos homens de 
negócio da região, os quais viam o futebol com considerável potencial econômico 
(PRONI, 2000).
À medida que o público se aceitava como consumidor e aos quais eram garan-
tidos determinados direitos, começava a se manifestar certa pressão para que os 
espetáculos oferecessem condições mais adequadas a esse entretenimento. Acres-
cida a essa demanda, veio a ideia de que uma parte da população com bom poder 
aquisitivo, mas que até então não frequentava estádios de futebol, poderia começar 
a fazê-lo se as condições estruturais e de segurança fossem melhoradas.
Assim, a transformação do “espírito do clube”, de uma associação sem fins lu-
crativos, movido pelo amor, pela paixão, para uma empresa privada, dirigida por 
profissionais frios do mercado, altamente valorizados e que buscam sempre o lucro; 
além da mudança na forma de entender os torcedores como clientes, consumido-
res, são frutos da definitiva entrada em cena dos princípios do livre mercado na 
organização do esporte (PRONI, 2000).
O fato de admitir, então, que os clubes têm clientes – e não torcedores – produziu 
uma série de movimentos que modificaram também a própria cultura futebolística.
Esta redução não só tem facilitado e legitimado a transformação do clube 
de futebol em uma empresa capitalista, mas tem solapado os potenciais 
protestos políticos que os torcedores têm encenado contra aquelas mu-
danças. De acordo com o modelo de mercado, o qual os novos dirigentesestão tentando instituir, a única forma válida de protesto no mercado é o 
afastamento da clientela, mas é exatamente contra isso que os torcedores 
estão protestando. (KING apud PRONI, 2000, p. 65)
Outra importante modificação que afetaria o futebol, mais especificamente a 
vida profissional dos atletas e, por consequência, a organização financeira dos clu-
bes em todo o mundo correspondeu ao fim da chamada Lei do passe, em que o 
jogador se mantinha como patrimônio do clube, sendo negociado apenas se tal 
clube, proprietário de seu passe, assim o quisesse.
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O estopim da explosão que estremeceu as bases do futebol europeu foi a 
inédita decisão da Corte Europeia, ao final de 1995, em favor de Jean-
-Marc Bosman, jogador belga que reivindicava o direito de atuar em um 
clube de sua escolha. Em 1988, Bosman transferiu-se para o RC Liège, 
time da segunda divisão da Bélgica. Dois anos mais tarde, após ter o 
seu salário reduzido, Bosman tentou uma transferência, mas sua equipe 
impediu-o de ir jogar na França. O jogador recorreu, então, à Justiça 
comum. (PRONI, 2000, p. 69)
Essa decisão da Justiça europeia estabeleceu uma jurisprudência que colocou em 
xeque duas regras fundamentais da Fifa que vigoravam há décadas: i) a exigência do 
atestado liberatório, dado pela equipe “dona” do passe do atleta; e ii) a proibição de 
que houvesse um limite ao número de estrangeiros que atuassem em determinada 
equipe na União Europeia (PRONI, 2000).
O fim dos limites para estrangeiros europeus forçou um movimento nos países 
da América do Sul, colonizados principalmente por italianos, espanhóis e portu-
gueses, que passaram a buscar a cidadania europeia, de acordo com a ascendência, 
para que facilitasse a sua contratação por equipes daquele Continente, viabilizando, 
assim, o trânsito por outros países e equipes. Isso provocou considerável êxodo de 
brasileiros para times de todas as nações europeias, a fim de jogarem em times de 
diferentes divisões do futebol nacional.
Os clubes de futebol tiveram que se reinventar, em uma espécie de refundação. 
Necessitaram rever as suas práticas de gestão, revisando-as e as ampliando; mas 
tais transformações não ocorreram da noite para o dia, tampouco sem resistência. 
O modelo de gestão personalista, patrimonialista, que vimos aqui, no Brasil, persis-
tiu e, de certo modo, persevera em boa parte das equipes de nosso país.
A profissionalização da gestão é um episódio que os clubes brasileiros ainda 
terão de enfrentar efetivamente – se quiserem se manter como clubes de futebol de 
ponta –; afinal, esse esporte se tornou um “produto” extremamente valioso para a 
indústria do entretenimento, que investe anualmente algumas centenas de milhões 
de reais, além de outros setores que têm participação no resultado dessa manifes-
tação cultural transformada em negócio, tais como as empresas de comunicação, 
que passaram a criar “produtos” – como torneios – e ter participação na gestão de 
certos clubes.
A transformação do futebol, a partir dos interesses econômicos, continua – e 
continuará – a afetar esse esporte – e não temos ideia do que acontecerá ao futebol 
nas próximas décadas. Há uma boa chance de que daqui a vinte anos o futebol e a 
sua organização sejam completamente diferentes do que vemos atualmente.
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UNIDADE Futebol e Negócios
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Vídeos
Complicações: violência entre torcidas organizadas em São Paulo
https://youtu.be/ty80P1zB-vE
Torcidas Organizadas - Três a Um
“Três a um”. Tema da mesa: torcidas organizadas
https://youtu.be/9Gxa2-wtCGg
 Leitura
Futebol do passado versus futebol de hoje – o que mudou?
https://goo.gl/WTPGpf
Geral na paz. Estatuto do torcedor
https://goo.gl/EFBCFQ
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Referências
CALDAS, W. O pontapé inicial: memória do futebol brasileiro. São Paulo: Ibrasa, 1990.
MAZZONI, T. História do futebol no Brasil. São Paulo: Edições Leia, 1950.
PRONI, M. W. A metamorfose do futebol. Campinas, SP: Unicamp, 2000.
RODRIGUES, F. M. O negro no futebol brasileiro. Rio de Janeiro: Civilização 
Brasileira, 1964.
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Outros materiais