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Prévia do material em texto

Futebol, Cultura 
e Sociedade
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Me. Fábio Tomio Fuzii
Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
O Futebol Brasileiro Enquanto Metáfora da Sociedade
• Introdução;
• Arthur Friedenreich: o Mulato, o Branco 
e a Sociedade Brasileira;
• A Profissionalização do Futebol Brasileiro 
e o Diamante Negro;
• A Tragédia de 1950 no Futebol e nas Questões Raciais;
• Os Anos Dourados e o Nascimento do Rei Pelé;
• Futebol e o Uso Político: a Ditadura Militar e a Copa de 1970.
• Conhecer a história do Brasil e a história do futebol relacionando os fatos esportivos com 
os fatos históricos e políticos, e vice-versa.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
O Futebol Brasileiro Enquanto 
Metáfora da Sociedade
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem 
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua 
formação acadêmica e atuação profissional, siga 
algumas recomendações básicas:
Assim:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e 
horário fixos como seu “momento do estudo”;
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma 
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos 
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua 
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o 
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de 
aprendizagem.
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Determine um 
horário fixo 
para estudar.
Aproveite as 
indicações 
de Material 
Complementar.
Não se esqueça 
de se alimentar 
e de se manter 
hidratado.
Conserve seu 
material e local de 
estudos sempre 
organizados.
Procure manter 
contato com seus 
colegas e tutores 
para trocar ideias! 
Isso amplia a 
aprendizagem.
Seja original! 
Nunca plagie 
trabalhos.
UNIDADE O Futebol Brasileiro Enquanto Metáfora da Sociedade
Introdução
O futebol é o esporte mais popular do mundo. A paixão pelo futebol é nítida 
em cada canto do solo brasileiro e em várias partes do mundo. Brincadeiras com 
a bola nos pés, a camiseta de um clube de futebol, o grito de gol são composições 
de um cenário nas mais diferentes sociedades ao redor do planeta que comparti-
lham a mesma sensação de que não é somente o futebol que está em jogo. Existem 
histórias sendo contadas, emoções e sentimentos aflorando, fazendo desse esporte 
parte constitutiva da sociedade.
Ao falar de futebol, conseguimos também tocar nos mais variados assuntos que 
giram em torno do esporte. E essa é a intenção desta Unidade, contar um pouco 
da história do futebol, brasileiro principalmente, e ao mesmo tempo transparecer 
as questões políticas e sociais mais amplas. 
Nessa aventura histórica do futebol, conversaremos sobre o caso de Arthur 
Friedenreich e a ideias eugenistas da sociedade brasileira; a derrota na Copa 
de 1950 e os impactos para as questões raciais; a política dos “50 anos em 5” 
e o surgimento do Rei Pelé; e a Copa de 1970 e sua relação com a ditadura 
militar brasileira. 
Arthur Friedenreich: o Mulato, 
o Branco e a Sociedade Brasileira
O primeiro grande nome do futebol brasi-
leiro chama-se Arthur Friedenreich, também 
conhecido como El Tigre ou somente Fried. 
Natural da cidade de São Paulo, nascido em 
18 de julho de 1892, atuou por diversos clu-
bes do Brasil, principalmente de São Paulo, e 
foi destaque na seleção brasileira, conquistan-
do o torneio Sul-Americano em 1919 e 1922. 
Aliás, foi no torneio de 1919 que surgiu o 
apelido El Tigre, ao fazer um gol contra os 
uruguaios na prorrogação, dando o título à 
seleção brasileira. 
Friedenreich era um jogador a frente do seu 
tempo, um talentoso driblador – alguns dizem 
que ele é o inventor do drible –, possuía um 
chute mortal nas cobranças de faltas e um faro 
de gol como poucos que renderam os absurdos 
Figura 1 – Arthur Friedenreich, o primeiro 
grande craque do futebol brasileiro
Fonte: Wikimedia commons
8
9
1.3291 gols. Um talento que desfilava nos gramados do ainda futebol amador brasilei-
ro o que tornou peculiar sua trajetória no futebol. 
O futebol amador tinha a característica de ser um futebol extremamente elitiza-
do, um cenário aristocrático onde o “jogo de cavalheiros” não aceitava a presença 
de quem não tivesse os traços de descendência e o peso de um sobrenome euro-
peu. Para se ter uma ideia, não havia a preocupação de traduzir as nomenclaturas 
do futebol, sendo a língua inglesa muito utilizada dentro das partidas ao chamar o 
referee (árbitro), goalkeeper (goleiro), cobrar um corner (escanteio), dar um shoot 
(chutar) a gol ou mesmo estar em off-side (impedimento).
É dentro desse contexto de um futebol com sotaque inglês que Arthur Friedenreich 
começa a se destacar. Porém, seus traços, digamos, não o ajudaram muito para 
o futebol amador da época. Afinal, El Tigre era filho de uma mãe negra (filha de 
ex-escravos) e de um pai judeu e comerciante alemão. Era um mulato em um meio 
reservado aos brancos e ricos. 
O fato de não ter as características de um europeu pesava tanto que para disfar-
çar seus traços negros Fried procurava alisar seus cabelos crespos e ainda jogar pó 
no rosto para embranquecer sua pele. 
Importante!
O caso mais famoso e marcante de tentativa de embranquecer a pele no futebol foi com 
o jogador Carlos Alberto do Fluminense que, em 1914, em um jogo contra o América, seu 
ex-time, utilizou pó de arroz na tentativa de disfarçar sua raça. A torcida adversária não 
perdoou e gritava “Pó de Arroz”, o que fez o apelido pegar não só para o jogador, mas 
também para o Clube.
Você Sabia?
Se os traços de sua mãe eram um problema, levando o jogador a constan-
temente disfarçar sua mulatice, por outro lado, os olhos verdes e sobrenome 
alemão lhe abriram portas para o mundo dos brancos. Graças a origem do pai 
Fried, estudou no Mackenzie (onde começou a jogar futebol) e atuou por um dos 
times mais tradicionais da cidade de São Paulo, o Germânia (atual Esporte Clube 
Pinheiros). Ou seja, a “licença” para entrar no meio social tão elitista e conversa-
dor que é o futebol foi um embranquecimento do jogador, e não uma exaltação à 
sua descendência miscigenada.
Como esclarece Guterman (2014), Fried perdeu a condição de negro por causa 
da ascendência europeia e por ter se tornado herói nacional. Ou seja, pela privile-
giada posição social – como é o caso de Friedenreich –, o negro deixa de ser negro.
1 A quantidade de gols marcada por Arthur Friedenreich não é precisa. Alguns apontam a marca de mais de 1000 
gols, porém, não é possível ter precisão no número, muito por conta dos escassos registros da época. Não havia 
grandes coberturas das partidas de futebol pela imprensa, o que dificulta ainda mais a checagem da quantidade 
de gols do atleta. Entretanto, Guterman (2014) indica que Friedenreich fez algo em torno de 560 gols, sendo sua 
média de gols por partida superior à de Pelé.
9
UNIDADE O Futebol Brasileiro Enquanto Metáfora da Sociedade
Assim, analisando o caso de El Tigre, podemos fazer algumas reflexões e aná-
lises da sociedade brasileira. O primeiro ponto que nos chama atenção é a sua 
origem miscigenada que é a tônica da formação do Brasil. Olhando para o pai, 
Oscar Friedenreich, vemos um comerciante alemão que viu no Brasil uma terra de 
oportunidades, assim como tantos outros imigrantes europeus que desembarcaram 
em solo brasileiro com a mesma esperança. 
Já sua mãe, Matilda, consta como uma negra lavadeira de roupas. Não existemoutras informações sobre a mãe de Friedenreich, a não ser o fato de ser uma ex-
-escrava, condição não exclusiva de Matilda, sendo possível generalizar a totalidade 
dos negros no Brasil que, por conta da recente abolição da escravidão, não possu-
íam nem nome completo nem outros dados. 
Leia um pouco sobre a biografia de Arthur Friedenreich, disponível em: https://bit.ly/2TWAGeb
Ex
pl
or
Essa mistura entre o negro e o branco torna-se um dos traços identitários do 
Brasil, onde o mulato, assim como Fried, compõe o cenário das cidades brasilei-
ras. Entretanto, como alerta Guterman (2014), muito dessa miscigenação se dá 
por uma relação de subordinação do negro ante ao branco, mantendo a relação 
entre senhores e escravos. No caso da mulher negra, a subordinação também 
era sexual, sendo ela encarada como “mulher fácil” para satisfazer os desejos do 
homem branco.
O negro sempre aparecia em uma posição abaixo em relação ao branco, um 
ideário racista ainda mais forte no começo do século XX, quando os governos na-
zifacistas de Hitler (Alemanha) e Mussolini (Itália) levavam como bandeira o projeto 
da raça ariana.
O pensamento racista tem sua raiz em um movimento científico denominado de 
Eugenia, que pregava o aperfeiçoamento da raça humana, o melhoramento bioló-
gico e, para alguns, foi o suficiente para alimentar a ideia da raça superior. 
A eugenia, que significa literalmente “bem-nascido”, parte da ideia de aprimo-
ramento racial, ou seja, segundo essa concepção, os problemas da sociedade são 
problemas raciais, afinal, existem seres humanos melhores e outros piores. Nesse 
sentido, as desigualdades sociais são justificadas como desigualdades biológicas, 
“naturais”, que podem ser alteradas segundo a lógica da teoria da seleção natural. 
Leia mais sobre eugenia, disponível em: https://bbc.in/2Tq0hQt
Ex
pl
or
No Brasil, as ideias eugenistas estavam presentes no período da República Ve-
lha. Assim, o nosso craque Friedenreich e seus pais viveram no contexto em que o 
pensamento racista fazia parte de políticas públicas. Exemplos ao redor do mundo, 
10
11
como os países de governo nazifascista já citados, mostram o quanto a política ra-
cista foi implementada, pois havia um medo da decadência racial.
Porém, aqui no Brasil, houve uma interpretação um tanto diferente para a eu-
genia. Se em outros países era comum o medo da degeneração racial, tendo na 
raça negra a centralização dos males sociais – por isso foram isolados, como no 
caso dos Estados Unidos; por aqui, alguns encaravam a mestiçagem não como algo 
inferior, mas como algo que atribuía aos filhos qualidades superiores aos dos pais 
negros. Então, o embranquecimento da população brasileira passaria pela misci-
genação, uma saída à brasileira onde as características dos negros desapareceriam 
em três gerações (VAZ, 2010).
Assim, o mestiço não foi encarado como um elemento degenerador da raça. 
Havia aqueles que destacavam os feitos de mestiços, que viraram poetas, juristas, 
médicos, exaltando o seu desempenho e suas aptidões. O destaque do heroísmo 
de Freidenreich no gol contra o Uruguai que rendeu o título do Sul-americano e o 
apelido de El Tigre, inclusive, é um exemplo de como um mestiço colaboraria para o 
progresso do país. O exótico craque mostrou que o mestiço poderia ter algum valor.
Saiba mais sobre o Sul-americano de 1919, disponível em: https://glo.bo/2U1EMly
Ex
pl
or
Fica evidente que não se trata de um pensamento progressista, mas sim de 
uma solução pensando construir uma nação forte com uma grande quantidade de 
mestiços e, ao mesmo tempo, buscar a melhoria racial pela eliminação das carac-
terísticas da raça negra.
Saiba mais sobre a Eugenia no Brasil, disponível em: https://bit.ly/2HYyfX1
Ex
pl
or
Está aí uma das explicações para a abertura migratória no Brasil, que sempre aceitou 
bem a vinda de europeus que contribuiriam para o embranquecimento da população. 
Oscar Friedenreich foi um exemplo de imigrante alemão que se juntaria principalmente 
a italianos, portugueses e espanhóis na construção do projeto de um novo Brasil.
Veja a estatística de povoamento no Brasil pela imigração entre os anos de 1884 a 1933, 
disponível em: https://bit.ly/2FPJSflEx
pl
or
Dentro do futebol, essa miscigenação ficou cada vez mais nítida. Tornou-se im-
possível fechar as fronteiras do futebol como uma prática exclusivamente elitizada 
de brancos e ricos, o que mudou para se tornar um esporte onde os gramados 
refletiam a mistura de raça.
11
UNIDADE O Futebol Brasileiro Enquanto Metáfora da Sociedade
A Profissionalização do Futebol 
Brasileiro e o Diamante Negro 
Obviamente não foi tão fácil assim a aceitação do mestiço e do negro no fute-
bol, pois o esporte bretão carregava marcas de uma prática elitista, de cavalheiros, 
gentlemans, que entendiam que a prática era para aqueles de espírito nobre, civili-
zado, sem espaço para a dita contaminação popular. 
Porém, o espaço do negro no futebol já dava sinais de avanço. Podemos lembrar 
do caso do clube carioca Vasco da Gama que, em 1922, disputou o campeonato 
carioca com um time formado em sua maioria por negros e operários, destoando 
do futebol elitizado dos outros clubes (GUTERMAN, 2014).
Outro fator de popularização do futebol se deve ao profissionalismo, que no 
Brasil se consolidou na década de 1930. O amadorismo do futebol era a defesa de 
um futebol não-negro, fechado às classes populares, destinado somente às elites 
urbanas, o que dava sinais de esgotamento nesse período. 
A Copa do Mundo, iniciada em 1930, no Uruguai, foi o maior sintoma de pro-
fissionalismo do futebol. O torneio já surgiu com dimensão global, com o país-sede 
mostrando ao mundo o famoso estádio Centenário de Montevidéu, com capacida-
de para mais de 100 mil pessoas.
Figura 2 – Estádio Centenário de Montevidéu no Uruguai construído para a Copa de 1930
Fonte: Wikimedia commons
Além disso, o esporte já ganhava importância econômica e política2. Portanto, 
o Brasil não poderia deixar de levar seus melhores jogadores em atividade para a 
Copa, fossem eles brancos ou negros. Com isso, é importante ter em mente que 
o Brasil da década de 1930 deixou a paisagem do período imperial e da república 
velha para se transformar definitivamente em um país capitalista – como prefere 
2 A importância econômica e política do esporte ficou evidente enquanto estratégia de uma propaganda do Estado. 
O caso mais emblemático foram os Jogos de Berlim de 1936, quando Hitler aproveitou os jogos para propagar as 
ideias nazistas da raça ariana. Também o fascismo italiano de Mussolini teve total interesse nas copas de 1934 e 
1938 para afirmação de sua superioridade, elevar o patriotismo e fortalecer o Estado.
12
13
Santos (1981, p. 44), um capitalismo de segunda mão, subalterno e dependente, 
mas em todo caso, com sua alma e seu rosto.
A figura desse novo momento brasileiro foi Getúlio Vargas. Foi ele quem en-
carnou as grandes mudanças daquele tempo, tornando o Brasil moderno e capi-
talista-dependente. Getúlio conduziu um governo altamente centralizador visando 
ao desenvolvimento industrial. Para isso, uma intensa relação com os brasileiros, 
a massa trabalhadora, foi desprendida, o que transformou o cenário brasileiro de 
modo acelerado (SANTOS, 1981; GUTERMAN, 2014). 
E uma conquista para os trabalhadores nos anos getulista foi a Legislação Tra-
balhista que por um lado protegia os trabalhadores e por outros organizava o mer-
cado de trabalho para facilitar a exploração capitalista da crescente industrialização 
(SANTOS, 1981).
Importante!
O termo “bicho” utilizado hoje em dia para referir a premiação que os jogadores recebem 
por vencerem um campeonato ou um jogo tem origem na década de 1920, nos primeiros 
passos da profissionalização do futebol? Acredite! O bicho que os jogadores recebiam às 
vezes era literalmente um bicho. A premiação para os melhores jogadores poderia ser 
um galo ou mesmo um peru, por isso o nome de bicho.
Você Sabia?
A mudança no futebol também estavanítida. A profissionalização, o surgimen-
to e consolidação dos grandes clubes possibilitaram a popularização do esporte, 
trazendo milhares de pessoas aos estádios, a idolatria dos craques e a disputa de 
grandes campeonatos. 
Porém, a popularização do futebol se deve muito pelas espetaculares transmis-
sões de rádio, o que levou a emoção das disputas no gramado para os mais diver-
sos cantos do Brasil. Através do rádio, alguns artistas ganharam idolatria, como é 
o caso de Noel Rosa e de Carmem Miranda. E o rádio transformou o futebol em 
paixão nacional, gerou o fanatismo por vários jogadores que tiveram seus feitos 
atléticos narrados com emoção e vibração (SANTOS, 1981).
Um desses ídolos do futebol brasileiro potencializado pelo rádio e um perso-
nagem desse novo futebol brasileiro foi Leônidas da Silva. O Diamante Negro, 
como era conhecido, ganhou esse apelido depois de ser artilheiro e melhor 
jogador da Copa do Mundo de 1938. O sucesso foi tanto que seu apelido foi 
parar em um chocolate, pois uma fábrica rebatizou um dos seus produtos para 
homenagear o atacante. 
História de Leônidas da Silva, o Diamante Negro: https://glo.bo/2OPLHgt
Ex
pl
or
Leônidas também ficou conhecido como o inventor de um chute a gol de cos-
tas para o gol, o qual recebeu o nome de bicicleta. Como se pedalasse no ar, o 
13
UNIDADE O Futebol Brasileiro Enquanto Metáfora da Sociedade
Diamante Negro, de costas para o gol, executou pela primeira vez a bicicleta no dia 
24 de abril de 1932, entrando para a história. Contudo, a mais famosa bicicleta de 
Leônidas foi em 1948, atuando pelo São Paulo contra o Juventus; a foto eternizou 
a técnica acrobática do atacante.
Figura 3 – Leônidas da Silva e sua famosa bicicleta executada 
no dia 13 de novembro de 1948 na vitória do São Paulo sobre o Juventus por 8x0
Fonte: Wikimedia commons
Leônidas da Silva conseguiu, portanto, transformar o futebol em paixão nacio-
nal, ser idolatrado pelo povo, artilheiro da seleção brasileira e, ao mesmo tempo, 
ser adorado pelos governantes e cartolas. Como diria Santos (1981), Leônidas foi 
o Getúlio Vargas do futebol.
No entanto, as figuras de Leônidas e Getúlio se encontrarão ao tratarmos 
de Copa do Mundo. A Era Vargas via no futebol um veículo de afirmação da 
superioridade nacional. O Diamante Negro seria o símbolo da seleção brasileira 
14
15
nas copas de 1934 e 1938 e também o símbolo do “novo homem” brasileiro que 
demonstraria ao mundo as vantagens da miscigenação.
Apesar de não conquistar as copas mencionadas, o Brasil voltou exaltando o 
mulatismo, as vantagens da democracia racial. A seleção brasileira “colorida”, cheia 
de criatividade, improvisos, dribles, espontaneidade, diversidade, parecia que dan-
çava em campo, um estilo de capoeiragem que surpreendia os adversários. Agora 
não tinha mais jeito, o Brasil era, e seguiria sendo, o “país do futebol”! Chegava a 
chance de mostrar ao mundo a superioridade do futebol nacional e exaltar ainda 
mais o modelo de democracia racial. Foi então que o Brasil ganhou a chance de 
sediar a Copa de 19503.
A Tragédia de 1950 no Futebol 
e nas Questões Raciais
O entusiasmo do brasileiro com o futebol estava a todo vapor. Não era por menos, 
a seleção brasileira ganhou destaque mundial e provou ser uma potência futebolística 
na América do Sul, capaz de rivalizar com as principais seleções europeias. 
A chance de sediar a Copa do Mundo em 1950 era a oportunidade ideal para 
mostrar ao mundo o Brasil e seu futebol, a grandeza do país em desenvolvimento.
Entretanto, o Brasil não era mais o mesmo. O governo de Getúlio – altamente 
identificado com a extrema direita derrotada na 2ª Guerra Mundial – estava em 
esgotamento e acabou em 1945. O fim da Era Vargas foi marcado por persegui-
ção a opositores, tortura, censura, um grande controle político, ou seja, medidas 
extremamente antidemocráticas que não se alinhavam com a derrota nazifascista 
(GUTERMAN, 2014).
Foi então que, depois de 15 anos (1930-1945), ao aceitar a abertura democráti-
ca, Getúlio foi deposto pelos militares, aqueles que anteriormente o tinham apoia-
do. Eurico Gaspar Dutra venceu as eleições desse novo “período democrático” que 
duraria até 1964. Dutra assumiu a presidência em um clima de incertezas econômi-
cas (inflação, risco de arrocho salarial etc.) e políticas com o medo comunista que 
alimentaria as conspirações nas casernas (GUTERMAN, 2014).
Havia uma estreita aproximação com os EUA e, em tempos de Guerra Fria, era 
uma clara intenção de colocar o Brasil entre os grandes países do cenário inter-
nacional. E a Copa do Mundo foi uma oportunidade de mostrar aos americanos a 
capacidade de organização e realização de um grande evento.
Porém, faltava um grande estádio, moderno e imponente capaz de ser um palco 
digno de uma final de Copa do Mundo. Foi com essa ideia que surgiu o projeto 
3 Não houve Copa do Mundo na década de 1940 por conta da Segunda Grande Guerra Mundial. Por isso, depois de 
1938, a Copa do Mundo voltou a ser realizada em 1950, no Brasil.
15
UNIDADE O Futebol Brasileiro Enquanto Metáfora da Sociedade
da construção do Maracanã. Um estádio para mostrar que o Brasil era capaz de 
erguer o maior estádio do planeta.
Com o palco montado, o Maracanã era o local para a consolidação do pro-
jeto da identidade brasileira. O triunfo da seleção provaria a superioridade para 
aqueles que achavam o Brasil um país indolente, primitivo demais em relação 
à modernidade.
Figura 4 – O antigo Estádio do Maracanã, o templo do futebol, inaugurado 
em 16 de junho de 1950, uma semana antes de iniciar a Copa do Mundo
Fonte: Wikimedia commons
Eis que chega o grande dia, o Brasil estreou no dia 24 de junho no Maracanã 
contra o México. O adversário não foi páreo ao talento brasileiro, que venceu por 
4x0. Já no segundo jogo, o Brasil jogou no Pacaembu em São Paulo e empatou 
com a Suíça por 2x2, decepcionando o público presente. Entretanto, o jogo seguin-
te o Brasil venceria o bom time da Iugoslávia por 2x0 e sacramentaria sua classifi-
cação para o quadrangular que decidiria o torneio junto com a Suécia, a Espanha e 
o Uruguai. Nesse quadrangular final, todos jogariam contra todos em turnos únicos 
e venceria a Copa do Mundo quem somasse mais pontos. 
E o Brasil mostrou toda sua força nos dois primeiros jogos ao golear de maneira 
espetacular por 7 a 1 a Suécia e marcar 6 a 1 sobre a Espanha – nesse último jogo, 
mais de 150 mil pessoas cantavam o sucesso de Braguinha, Touradas de Madri. 
A empolgação com a seleção e a certeza do título era o clima das arquibancadas, 
dos dirigentes e também dos jogadores.
Faltava, contudo, um jogo; o jogo decisivo contra o Uruguai. No dia 16 de ju-
lho de 1950 o Brasil entrou em campo para decidir sua primeira Copa do Mundo 
no Maracanã, o templo do futebol, o estádio erguido para a afirmação do futebol 
brasileiro e da identidade nacional. A seleção brasileira jogava por um empate para 
se sagrar campeão, afinal fez melhor campanha que os uruguaios.
16
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Mas o jogo desde o começo não foi nada fácil! O primeiro tempo terminou 
em 0 a 0 e a volta ao segundo tempo tudo mudou. O Brasil abriu o placar logo 
aos 2 minutos de partida com Friaça! Histeria no Macaranã! Os números não são 
precisos, mas os quase 200 mil presentes já começaram a festa do título mundial – 
ora, era de se imaginar para quem só precisava de um empate para ser campeão.
Figura 5 – Gol de Friaça, que abriu o placar na decisão da Copa do Mundo de 1950 no Maracanã
Fonte: iStock/Getty Images
Por sua vez, os uruguaios não abaixaram a cabeça e logo, aos 22 minutos, em-
pataram o jogo com Schiaffino, com assistência de Ghiggia, que deixou o lateral 
brasileiro Bigode para trás. Aqui começava o drama brasileiro e o surgimento de 
um vilão da partida.
O empate ainda daria o título ao time brasileiro, porém, Ghiggia estava jogan-
do como nunca, infernizando a defesa brasileira, em especial o lateral Bigode. E 
foi em uma dessas jogadas para cima do lateral brasileiro que Ghiggia escapoupela direita. O goleiro Barbosa, talvez na tentativa de antecipar a interceptação 
do cruzamento para não acontecer como no primeiro gol, se movimentou e dei-
xou um espaço entre ele e a trave. Ghiggia percebeu e desferiu um letal chute 
que balançou as redes brasileiras virando o jogo a favor dos uruguaios. Nesse 
ponto, surgiu um outro vilão da derrota brasileira, quem carregou a maior culpa 
e continua sendo lembrado ainda nos dias de hoje como personagem central da 
tragédia do Maracanã: o goleiro negro do Vasco da Gama, Barbosa – falaremos 
deles mais adiante.
Esse dia entrou para a história como Maracanaço, o dia em que 200 mil torce-
dores ficaram em silêncio perplexos, sem palavras e desolados pelo que estavam 
vendo. O inacreditável aconteceu! O Brasil perdeu a Copa do Mundo no Maracanã. 
Estava escrito o capítulo mais triste da história do futebol brasileiro.
17
UNIDADE O Futebol Brasileiro Enquanto Metáfora da Sociedade
Figura 6 – A Seleção Uruguaia antes da partida contra o Brasil em 1950. 
Em pé, da esquerda para a direita, estão: Varela, o técnico López, Tejera, dois membros da delegação, 
Gambetta, Matías González, Máspoli, Rodríguez Andrade e outro membro da delegação; agachados, 
entre outros dois delegados, estão Ghiggia, Julio Pérez, Míguez, Schiaffino e Morán
Fonte: Wikimedia commons
Que desastre! As testemunhas relatam um silêncio fúnebre no Maracanã a partir 
do segundo gol do Uruguai. Ninguém esperava. Até o presidente da FIFA, Jules 
Rimet, já havia preparado um discurso em português para saudar os brasileiros 
(GUTERMAN, 2014).
Leia o relato de Armando Freitas Filho, uma testemunha da final da Copa de 1950, disponível 
em: https://bit.ly/2OPPOJrEx
pl
or
Desse dia em diante o Brasil não perdeu somente uma Copa do Mundo. O pro-
jeto de identidade nacional, baseado na diversidade racial, foi por água abaixo. 
Aquele sentimento de orgulho que tinha como símbolo a construção do imponente 
Maracanã foi substituído por uma sensação de derrota. O Brasil falhara. O Brasil 
não era o campeão. O Brasil não era o melhor.
E uma interpretação da derrota brasileira ganhou muita força: o questionamento 
da presença dos negros na seleção. Ou seja, a diversidade racial, a miscigenação, o 
mulato que foi encarado como triunfo e vantagem, agora era visto como um fardo.
Aqui que recapitulamos os vilões do Maracanaço. Bigode e, principalmente, Barbosa 
foram acusados como os culpados pela derrota brasileira. Segundo os racistas, esse era 
um resultando por se colocar mais pretos e mulatos do que brancos na seleção brasileira. 
Portanto, Segundo Guterman (2014), em vez de glorificar um novo ídolo brasileiro, mula-
to ou negro, como Friedenreich e Leônidas, o que se viu foi um avivamento do racismo:
A derrota não era apenas da seleção, mas aparentemente também de um 
projeto de país, de um sentido de comunidade que se estava construindo, 
tendo o futebol como símbolo e a mulatice freyreana como representa-
ção. (GUTERMAN, 2014, p.100)
18
19
Os velhos preconceitos vieram à tona. Não se poderia atribuir um cargo de con-
fiança a um negro, pois havia suspeita que ele faria algo errado. Assim, o discurso 
para explicar o fracasso e as derrotas estava montado. Não se deveria atribuir ao 
negro responsabilidades.
Como exemplo, no futebol, a posição de goleiro seria uma posição de confiança. 
Assim, com esse pensamento racista, Barbosa não deveria ocupar a posição pelo 
simples fato de ser negro. Coincidência ou não, depois de Barbosa, o outro goleiro 
negro a vestir a camiseta de titular da seleção brasileira em uma Copa do Mundo foi 
Dida, só em 2006. Repare que em outros papéis de confiança no futebol também 
temos dificuldade de encontrar representantes negros, como é o caso dos árbitros, 
técnicos e do capitão do time. 
Desse modo, o preconceito contra o negro ganhou força depois do Maracanaço, 
reavivando velhos pensamentos e minando a celebração da diversidade como iden-
tidade e um trufo do brasileiro. Porém, por ironia do destino, mal sabíamos que em 
1950 um pequeno menino negro, de 9 anos na época faria história e mudaria de 
vez o futebol brasileiro e mundial.
Os Anos Dourados e o Nascimento do Rei Pelé 
Conta-se que Pelé, ainda como Edson, teria prometido ao pai, que chorava co-
piosamente depois da derrota de 1950, que ganharia uma Copa do Mundo para 
o Brasil. Se isso foi verdade, não importa. Pelé conseguiu não só uma, mas três 
copas para o Brasil. 
Para entender essa história, é necessário compreender o contexto da sociedade brasi-
leira após a derrota de 1950, que fez o país perder a confiança que seria uma das grandes 
nações do mundo. Se apoiando novamente no discurso da industrialização como mola 
propulsora do desenvolvimento do Brasil, Getúlio Vargas volta à presidência da Repúbli-
ca. O tom nacionalista e populista teve de enfrentar o descontamento da população com 
a alta da inflação e com uma economia fragilizada por conta do pós-guerra.
Além disso, politicamente, o Brasil vivia um período muito instável. O discurso 
com notas fascistas de Getúlio não agradava vários grupos políticos, como os libe-
rais que queriam um país com menor presença do Estado e o fim do populismo, 
paralelamente convivendo com um cenário de Guerra Fria que trazia para dentro 
do país o medo comunista.
Esse quadro de incertezas e desconfiança por todos os lados também estava pre-
sente na seleção brasileira que foi disputaria a Copa do Mundo de 1954, na Suíça. 
Ocorreriam alternâncias no comando técnico da seleção com os nomes de Flávio 
Costa e os irmãos Aymoré e Zezé Moreira. Coube ao último comandar a seleção 
que disputou pela primeira vez uma Copa do Mundo com o uniforme “canarinho”, 
abandonando o branco que marcou a derrota de 1950.
O Brasil disputou uma copa com os nervos a flor da pele, um clima de tensão, as-
sim como o do cenário político do país. Os jogos da Copa não foram fáceis, mesmo 
19
UNIDADE O Futebol Brasileiro Enquanto Metáfora da Sociedade
estreando com goleada diante o México por 5 a 0. Tal tensão ganhou simbologia na 
partida que ficou conhecida como A Batalha de Berna, o duelo entre Brasil e Hun-
gria pelas quartas de final do mundial. No vestiário, os dirigentes brasileiros coloca-
ram pilha nos jogadores com discurso de honra à pátria. Aliás, fizeram os jogadores 
cantarem o Hino Nacional e beijarem a bandeira todos os dias na concentração.
Saiba mais sobre a Batalha de Berna, disponível em: https://bit.ly/2FPSaDZ
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Com a Hungria vencendo por 2 a 0 antes dos 10 minutos de jogo, os jogadores 
brasileiros, contagiados pelo clima de tensão e pelo discurso de raça no vestiário, 
reagiram com violência. O jogo virou uma grande batalha, com briga entre brasilei-
ros e húngaros ao final da partida. A Hungria acabou vencendo por 4 a 2. O time 
húngaro era a sensação do futebol europeu, demonstrando um grande jogo cole-
tivo em detrimento da individualidade, como se seguisse os preceitos comunistas. 
Liderado por Puskas, o Brasil não foi páreo para a Hungria e se despediu dessa 
copa com um melancólico sexto lugar.
Três meses depois da Batalha de Berna, a crise política ganhou seu ápice. 
Um atentado contra o feroz opositor de Getúlio Vargas, o jornalista Carlos Lacerda, 
agravou o clima no Palácio do Catete. Apesar do fracasso na tentativa de assassi-
nato do Jornalista – quem acabou sendo assassinado foi o Major da Aeronáutica 
Rubem Vaz –, cresceu ainda mais a pressão pela renúncia de Getúlio Vargas, prin-
cipalmente por conta dos militares.
Foi então que no dia 24 de agosto de 1954, Getúlio Vargas se matou com um tiro no 
coração. Como despedida, Vargas deixou uma carta com a famosa frase “Eu vos dei a 
minha vida. Agora ofereço a minha morte”. Isso desencadeou uma comoção popular 
que impediu a ofensiva do golpe de Estado. O golpe militar foi adiado por 10 anos.
Reportagem sobre o suicídio de Getúlio Vargas, disponível em: https://glo.bo/2TYtYED
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Depois da era de Getúlio, um presi-
dente assumiu prometendo realizar umapolítica ousada e otimista. A ideia era 
desenvolver o país “50 anos em 5”. Esse 
foi Juscelino Kubitschek, o JK.
Um dos símbolos do seu governo foi 
a construção de uma nova capital para 
o país, no Planalto Central. Em seu go-
verno, houve um grande crescimento 
econômico do país, com desenvolvimen-
to industrial, do transporte e da energia. 
Com o Plano de Metas, houve um grande 
Figura 7 – Juscelino Kubitschek, 21º presidente 
do Brasil (1956-1961), no dia de sua posse
Fonte: Wikimedia commons
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crescimento do PIB, com médias de 7% ao ano. Apostando na modernização do 
país, JK buscou a recuperação da autoestima do brasileiro.
O Plano de Metas de Juscelino Kubitschek disponível em: https://bit.ly/2WOxymG
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Na época, em 1955, estreava pela seleção brasileira um jogador com nome 
curioso e com pernas tortas: Garrincha. O craque de pernas tortas, que já apronta-
va suas travessuras pelo Botafogo, iniciava sua história na seleção brasileira.
Já em 1956, um outro jovem, com apenas 15 anos, fazia sua estreia com a 
camisa do Santos contra o Corinthians de Santo André. Era um menino que veio 
do Bauru Atlético Clube, onde seu pai, Dondinho, jogou profissionalmente. Esse 
menino ficou conhecido como Pelé. 
Curiosamente, o Plano de Metas de JK, que procurava desenvolver o Brasil e 
devolver a autoestima ao povo parecia ter incluído, como estratégia fundamental, 
Garrincha e Pelé para mudar a história do futebol brasileiro e mundial. Com esses 
dois, a ordem do futebol não seria mais a mesma. E foi aí que o Brasil começou a 
escrever a sua história mais espetacular no futebol.
Entretanto, o Brasil chegou à Copa do Mundo de 1958 na Suécia com o famoso 
“complexo de vira lata”, expressão criada por Nelson Rodrigues para definir a po-
sição de inferioridade que o brasileiro se coloca voluntariamente em face ao resto 
do mundo.
Entenda o complexo de vira-lata teorizado por Nelson Rodrigues, disponível em: https://bit.ly/2K9VBLr
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Muito desse sentimento é resquício do Maracanaço e da sensação que os euro-
peus têm um futebol melhor e mais desenvolvido por conta dos seus jogadores de 
disciplina tática. Já o Brasil, tinha talentos individuais, mas esses eram considerados 
imaturos, despreparados e emocionalmente instáveis para desenvolver um futebol 
coletivo capaz de enfrentar as grandes potências da Europa.
Além disso, a desconfiança sobre os jogadores negros era grande. Havia a ideia 
de que a presença de negros traria problemas, pois esses estavam interessados no 
dinheiro, eram indisciplinados e com isso não contribuiriam para um bom futebol, 
podendo falhar a qualquer momento. Também que o brasileiro mestiço sucumbiria 
frente à acirrada disputa contra os brancos europeus, considerados mais prepara-
dos fisicamente e mentalmente.
Talvez seja apenas um acaso, mas o fato é que o Brasil estreou na Copa de 1958 
com apenas um negro, Didi, entre os titulares – um contraste se compararmos com 
as seleções das copas anteriores (GUTERMAN, 2014). E foi assim que essa seleção 
estreou contra a Áustria, um time com a maioria de brancos e sem Zito, Pelé e 
Garrincha, que se firmariam como titulares nos jogos posteriores. O Brasil venceu 
21
UNIDADE O Futebol Brasileiro Enquanto Metáfora da Sociedade
por 3 a 0, porém, o jogo foi bem difícil, com o goleiro Gilmar realizando várias 
defesas durante a partida.
A próxima partida prometia ser mais complicada, afinal, os adversários eram os 
inventores do futebol, a Inglaterra. Novamente o Brasil não escalou Pelé e nem Gar-
rincha. O primeiro porque estava machucado devido a jogos preparatórios para o 
mundial; e o segundo, ficava no banco por opção do treinador que preferiu escalar 
Joel, por esse ter um senso de marcação e consciência tática. O jogo ficou no 0 a 0, 
com uma insegurança do time brasileiro. Parecia que o adversário sempre era mais 
preparado, mais inteligente e capaz. 
E isso ficaria ainda mais claro ao encarar, no terceiro e último jogo da fase de 
classificação, a temida União Soviética. Os então atuais campeões olímpicos eram 
famosos por praticarem o futebol científico. Em uma alusão aos investimentos cien-
tíficos desenvolvidos pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) na 
corrida espacial, o futebol científico era a ideia de que os soviéticos tinham a fór-
mula científica para ganhar as partidas. Seus jogadores altos e fortes intimidavam 
ainda mais e reforçavam o mito criado.
E não era por menos o temor frente à URSS. O time soviético era muito for-
te, não apenas por ser campeão olímpico, mas tinha jogadores que chamavam a 
atenção do mundo do futebol, como Igor Netto e o lendário goleiro Lev Yachin, o 
Aranha Negra, considerado um dos maiores, se não o maior, goleiro de todos os 
tempos. E foi a partir desse jogo contra a URSS que a história do futebol brasileiro 
começaria a mudar. 
O técnico Feola tinha em mente que era preciso cansar os soviéticos, afinal, eles 
eram altos e fortes, mas sem muita mobilidade. Decidiu então escalar no time titular 
Pelé, que se recuperara de contusão, junto com Garrincha e Vavá. 
Importante!
A expressão “Faltou combinar com os russos” remete a uma história, sem comprovação 
de verdade, que o técnico Feola tinha um esquema considerado infalível para ganhar da 
URSS. Segundo o conto futebolístico, bastava Nilton Santos lançar a bola para Garrincha 
que ele driblaria três russos e cruzaria para Mazzola fazer o gol. Garrincha, inquieto e 
desconfiado de tal teoria questionou: “Tá legal, Seu Feola…, mas o senhor já combinou 
tudo isso com os russos?”. Hoje a expressão é usada para questionar as ideias e planos 
pouco elaborados ou até inocentes para conquistar algo.
Você Sabia?
Foi assim que o mundo ficou espantado com o que aconteceu. Os cronistas 
dizem ser “os maiores três minutos da história do futebol”, tamanho o domínio 
do futebol brasileiro. Foi impressionante. Três minutos que foram tempo suficiente 
para o Brasil meter duas bolas na trave e abrir o placar com Vavá depois de um 
belo passe de Didi. 
E não era só gol que preocupava os soviéticos, todos estavam desconsertados 
com Garrincha e suas pernas tortas que desfilava dribles, passes e improvisações 
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com a bola nos pés. O futebol científico não conseguia decifrar para onde ia o cra-
que brasileiro conduzindo a bola com suas pernas incomuns, deixando marcadores 
para trás. A cena dos soviéticos caindo no chão depois de serem ludibriados por 
Garrincha ficou para a história do futebol.
Veja um pouco dos maiores três minutos da história do futebol, 
disponível em: https://youtu.be/ojLKzLuvni8
Escute a crônica de Nelson Rodrigues Descoberta de Garrincha, 
disponível em: https://bit.ly/2G23Sgk
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O Brasil venceu por 2 a 0 com dois gols de Vavá. No entanto, mais que a vitória, 
o Brasil reacendeu a chama da esperança de ser campeão do mundo. Ainda por 
cima, Pelé, Garrincha, Didi e seus companheiros começaram a calar aquelas ideias 
racistas contrários à presença de negros na seleção.
Classificados para as quartas de final, o Brasil seguiria sua caminhada na Copa 
de 1958 enfrentando um famoso ferrolho defensivo da seleção do País de Gales. 
Assim, no dia 19 de junho, a seleção brasileira enfrentou um grande sistema de-
fensivo que se fechou ainda mais depois de ver o que Garrincha aprontara contra 
os soviéticos.
Realmente foi um jogo muito difícil. Os galeses não ofereciam espaços para os 
jogadores brasileiros. Precisariam de um lance de genialidade para conseguir supe-
rar a defesa tão bem montada. E foi o que aconteceu. Em uma jogada que começou 
com Garrincha, que passou a bola para Didi que, de cabeça, encontrou Pelé dentro 
da área. O menino, então com 17 anos de idade, dominou a bola no peito e, sem 
deixar a bola cair, deu um corte genial e se livrou do marcador, abrindo, com um 
chute com a ponta da chuteira, o placar para o Brasil. Foi o primeiro gol de Pelé 
em copas do mundo e um dos mais belos gols de sua brilhante carreira. É um dos 
lances mais vistosde todas as copas.
Veja o gol de Pelé contra o País de Gales nas quartas de final da Copa do Mundo de 1958, 
disponível em: https://youtu.be/GWWJIPwHg8AEx
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1 a 0! O Brasil estava na semifinal da Copa do Mundo da Suécia. Seu adversário 
agora seria a França com o melhor ataque da competição e com o artilheiro Just 
Fontaine. Esse foi um grande jogo, como era prometido mesmo antes da bola rolar. 
Apesar de o primeiro tempo ter terminado em um duro 2 a 1; no segundo, a sele-
ção brasileira dominou a partida com os dribles de Garrincha e com a genialidade 
de Pelé, que marcou 3 gols no jogo. Com um incontestável 5 a 2, o Brasil voltou a 
disputar uma final de Copa do Mundo depois do Maracanaço.
Não dava para esconder o nervosismo. Nem tanto pelo adversário, Suécia, donos 
da casa, mas que já havia levado um 7 a 1 na copa do Brasil; o que mais atormentava 
23
UNIDADE O Futebol Brasileiro Enquanto Metáfora da Sociedade
era o fantasma da Copa de 1950 e o “complexo de vira-lata” na cabeça dos brasilei-
ros. Tudo poderia ser motivo para mais ansiedade. Uma história interessante sobre 
isso foi o fato do Brasil ser impedido de jogar a final de amarelo – uniforme que jogou 
toda a competição e que se tornou uma superstição que traria sorte –, já que a Suécia 
também jogava com a mesma cor. Os brasileiros tiveram, portanto, de jogar de azul. 
E para não trazer aquela sensação de azar ou mau pressentimento, o dirigente Paulo 
Machado de Carvalho deu a notícia com toda a alegria, afirmando que aquilo seria 
um sinal da vitória, pois jogariam com a cor do manto de Nossa Senhora Aparecida. 
E foi assim, vestida de azul, que a seleção brasileira entrou em campo no dia 29 
de junho de 1958 para disputar sua segunda final de Copa do Mundo contra a Su-
écia. O Estádio Raasunda presenciou o nascimento de uma potência futebolística. 
O Brasil, mesmo saindo atrás do marcador, venceu a partida por 5 a 2, com uma 
grande partida de Garrincha e com gol de Zagallo, Vavá e Pelé. Esse último fez um 
outro gol no mundial que entrou para a história do futebol: dentro da área, Pelé 
dominou a bola no peito, deu um chapéu no zagueiro e chutou sem chances para 
o goleiro; nascia para o mundo o rei do futebol, o Rei Pelé. 
Assista os gols da final da Copa do Mundo de 1958 vencida pelo Brasil por 5 a 2 diante da 
Suécia, disponível em: https://youtu.be/Oh07ni7ftvIEx
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Figura 8 – Seleção Brasileira campeã do mundo de 1958
Fonte: Wikimedia commons
A vitória foi a redenção dos atletas negros depois de terem sido culpados pela 
derrota de 1950. Pelé, Didi, Garrincha, entre outros atletas negros, representavam 
o melhor futebol do mundo e a seleção que entrou para história, eles eram os pri-
meiros brasileiros campeões do mundo de futebol. 
Contudo, a vitória também possibilitou, pela primeira vez, a exploração da ima-
gem da seleção brasileira por um representante do Estado. Essa imagem foi rapi-
damente explorada pelo presidente JK para representar o otimismo do slogan “50 
anos em 5”.
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A vitória foi oportuna para coroar os “anos dourados” do governo JK, identifica-
do com o crescimento do país, com o estímulo à cultura popular, com o dinamismo 
da vida urbana e com a pujança industrial (GUTERMAN, 2014). 
Em seu último ano de mandato, 1960, JK ainda inaugurou Brasília, a nova 
capital do país, como mais uma obra de admiração nacional e representando o 
crescimento nacional, pelas obras, pela indústria, como queria o então presidente. 
Como veremos a seguir, a relação futebol e política começou a ficar cada vez 
mais estreita e já não dava mais para esconder o uso político do esporte.
Futebol e o Uso Político: 
a Ditadura Militar e a Copa de 1970
Os anos após a Copa de 1958 foi de grande instabilidade política no Brasil. Com 
o fim da era JK, quem assumiu a presidência foi Jânio Quadros, que encabeçou 
uma campanha política extremamente moralista, pois já havia a desconfiança so-
bre a classe política como sendo de desonestos. 
Jânio adotou uma política liberal e até reatou com o FMI (Fundo Monetário In-
ternacional) em nome de empréstimos externos. Porém, sua forma de governo foi 
um tanto confusa, pois, ao mesmo tempo que se mostrava adepto ao liberalismo, 
também fez algumas ações políticas que geraram dúvidas da bancada reacionária e 
das Forças Armadas. O então presidente realizou aproximações com a URSS e até 
condecorou Che Guevara, líder da Revolução Cubana, em 1959.
E em tempos de Guerra Fria e o “perigo comunista”, essas ações do presidente 
acentuaram uma profunda crise política. Resultado, em sete meses de governo, 
Jânio Quadros renunciou ao cargo e quem assumiu foi João Goulart, o Jango, em 
meio a uma profunda crise política, já que membros das Forças Armadas não acei-
tavam sua figura, pois o identificavam como uma figura comunista.
Portanto, para evitar que as Forças Armadas realizassem um golpe de estado, 
o Congresso, com grande participação de Leonel Brizola, aprovou o regime parla-
mentarista. Esse foi um pequeno período do Brasil, em que houve o parlamentaris-
mo (1961-1963) e o presidente não tinha plenos poderes. 
Diferente de toda essa crise econômica e política, o futebol brasileiro vivia seu 
momento de auge. Pelé e Garrincha brilhavam em seus clubes – Santos e Botafogo, 
respectivamente. O clube paulista inclusive se tornou o melhor time do mundo com 
o bicampeonato mundial em 1962 e 1963. Assim, Pelé era uma estrela mundial e 
o principal jogador de futebol do planeta. Nessa euforia, o título da Copa do Mundo 
de 1962 era dado como certo, afinal, como um time com tantos grandes jogadores 
poderia perder aquele mundial? 
No entanto, o mundial disputado no Chile não foi tão tranquilo como se pen-
sava. Em seu segundo jogo na Copa contra a Tchecoslováquia, Pelé sentiu uma 
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UNIDADE O Futebol Brasileiro Enquanto Metáfora da Sociedade
contusão muscular logo no primeiro tempo. Machucado, o rei do futebol se despe-
diu do mundial sem nenhum gol marcado e o Brasil empatou em 0 a 0. 
O mundial complicou para o Brasil. O próximo adversário, a Espanha, conhe-
cida como Fúria, quase eliminou precocemente a seleção brasileira. Fez 1 a 0 em 
cima do Brasil e teve um polêmico pênalti não marcado pelo juiz que os espanhóis 
reclamam até hoje. Conta-se que Nilton Santos, logo após cometer a infração na 
risca da grande área, deu um passo para trás e conseguiu enganar o árbitro da 
partida, que assinalou somente uma falta. Com o pênalti não marcado, o Brasil 
conseguiu forças suficientes para virar a partida graças aos gols de Amarildo. Po-
rém, sabiam todos que era necessário jogar muito mais se quisessem ganhar aquela 
Copa do Mundo. 
Eis então que surge a estrela de Garrincha. O jogador de pernas tortas ganhou 
aquela Copa para o Brasil. Depois da partida contra a Espanha, ele fez de tudo. 
Fora os seus dribles desconcertantes, fez gol de cabeça contra os ingleses, dois 
gols contra o Chile na semifinal, partida que tomou pontapé, pedrada e ainda foi 
expulso, conseguiu jogar a final por conta de um efeito suspensivo e ainda disputou 
a partida com febre de 40 graus.
O Brasil se sagrou bicampeão do mundo contra a Tchecoslováquia vencendo por 
3 a 1 com gol de Amarildo, Zito e Vavá. Entrou para história do futebol mundial e 
consagrou Garrincha como um dos maiores jogadores de todos os tempos.
Com mais uma conquista da seleção brasileira, João Goulart foi o segundo pre-
sidente a receber os campeões do mundo e ao mesmo tempo explorar a imagem 
vitoriosa da seleção brasileira. As eleições de 1962 estavam marcadas para outubro e 
Jango e seu partido (PTB) queriam sobreviver diante do conturbado cenário político. 
Em 1963, o regime presidencialista retorna, Jango era então um presidente de 
fato com poderes executivos. Entretanto, o contexto da política interna e o da ex-
terna não estavam nada favoráveis a Jango. A política externa era impactada pela 
Guerra Fria e a polarização entre capitalismo (EUA) e comunismo (URSS). Assim, 
uma histeria anticomunista vinda dos EUAcomeçava a influenciar o Brasil, princi-
palmente membros das Forças Armadas e grande parte da classe média.
Goulart, agora como presidente de fato, já era taxado como comunista, mesmo 
sem nunca ter assumido abertamente tal postura. Entretanto, algumas intenções do 
seu governo, como as “Reformas da base”, que incluíam a reforma agrária, em um 
contexto de Guerra Fria, foram rapidamente identificadas como políticas de esquer-
da. Isso fez com que os grupos conversadores ficassem ainda mais contra Jango, já 
que a sua imagem não era muito boa por conta da alta da inflação. 
Assim, para conseguir apoio popular para implementar as “Reformas da base”, 
em 13 de março de 1964, Jango liderou um movimento que ficou conhecido como 
Comício da Central para chamar o povo para pressionar o congresso para apro-
var as medidas da reforma. Como resposta, sete dias depois, ocorreu a Marcha 
da Família com Deus pela Liberdade, um movimento da classe média paulistana 
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em apoio ao golpe que já se sinalizava. E como estopim, Jango irritou as Forças 
Armadas por anistiar os responsáveis pela Revolta dos Marinheiros.
Foi então que no dia 31 de março de 1964, o general Olímpio Mourão Filho 
comandou suas tropas, que partiram de Juiz de Fora (Minas Gerais) para o Rio de 
Janeiro para a deposição do presidente João Goulart. O golpe se consumiu quando 
o Congresso, pela voz de Auro Soares de Moura Andrade, declarou que o cargo de 
presidente estava vago. Começava então a Ditadura Militar no Brasil. 
Os anos seguintes foram marcadas por dura repressão a qualquer movimento 
que colocasse em xeque o regime. Movimentos de trabalhadores, estudantes e qual-
quer outro que colocasse em questionamento o governo militar não teria espaço de 
manifestação e sofreria uma truculenta punição.
Assim, a ditadura militar usava de tanques, armamentos e da criação de servi-
ços secretos para a repressão daqueles que se colocassem contrários aos mandos 
militares. Porém, não somente repressão era necessária para conseguir manter a 
ordem do sistema; era preciso convencer a população de que as medidas imple-
mentadas pelo regime eram as melhores escolhas para o país e para a população. 
Portanto, os generais que comandaram o Brasil no período preferiam se referir ao 
período como “Anos de Ouro”, e não “Anos de Chumbo”, pois a estratégia de pro-
paganda do Estado era uma ferramenta imprescindível para a continuidade ditatorial. 
AI-2 (Ato Inconstitucional nº 2): baixado pelo regime militar em 27 de outubro de 
1965, durante o mandato de Castelo Branco, tornou indireta a eleição para Presiden-
te, aumentou os poderes do executivo, combateu o pluripartidarismo, entre outras 
medidas para continuidade militar no poder.
Um dos pontos de apoio para a propaganda do Estado foi o chamado Milagre 
Econômico (1968-1973), período da história brasileira com grande crescimento do 
Produto Interno Bruto (PIB). Uma das características do período foi as taxas de infla-
ção declinantes e relativamente baixas para os padrões brasileiros e por superávits no 
balanço de pagamentos. Os motivos que geraram o “milagre” não são um consenso 
entre pesquisadores, transitando em argumentos para a política econômica, reformas 
tributárias/fiscais e também um ambiente externo favorável com grande expansão da 
economia internacional (VELOSO; VILELA; GIAMBIAGI, 2008).
Entretanto, o período da ditadura militar também foi caracterizado pelo arrocho 
salarial (o não reajuste ou o reajuste que não acompanha a inflação), o que agradava 
os investidores, pois encontravam uma mão de obra barata. Porém, mesmo com 
salários baixos, o trabalho nos grandes centros começou a crescer, o que acentuou 
o êxodo rural para as cidades – afinal a estratégia do governo militar foi a de investir 
maciçamente na industrialização, o que diminuiu o trabalho no campo e provocou 
uma urbanização desordenada. 
Também é importante mencionar que o Milagre Econômico fez crescer a dí-
vida externa e, com a Crise do Petróleo de 1973 e 1974, fez com que o modelo 
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UNIDADE O Futebol Brasileiro Enquanto Metáfora da Sociedade
econômico rapidamente perdesse forças. Nesse contexto, também cresciam as re-
pressões daqueles contrários à ditadura. Casos como torturas, violações e seques-
tros eram práticas institucionalizadas pelo governo militar. Com o AI-5, em 1968, 
o Brasil entrou de vez na escuridão da ditadura militar.
AI-5 (Ato Inconstitucional nº 5): baixado pelo regime militar em 13 de dezembro 
de 1968 durante o governo de Costa e Silva, foi o mais famoso ato inconstitucional 
da ditadura militar. De caráter permanente, tal medida aumentou os poderes do 
presidente da república, pois o autorizava a decretar o recesso do Congresso Nacio-
nal, intervir nos estados e municípios, cassar mandatos parlamentares, suspender 
por dez anos os direitos políticos de qualquer cidadão, decretar o confisco de bens 
considerados ilícitos e suspender a garantia do habeas-corpus. Outro ponto relevante 
do AI-5 é o estabelecimento da censura prévia que deu grandes poderes ao SNI (Ser-
viço Nacional de Informações). Iniciava o período conhecido como Anos de Chumbo.
Entretanto, era necessário também investir na boa imagem do regime militar. 
Não foi somente com violência e repressão que o governo militar investiu para con-
trolar o povo, sua imagem era muito importante.
O investimento em repressão pesada 
foi uma das marcas da ditadura militar. 
Como exemplo, foram criados órgãos 
para esse fim, como o famoso DOI-Codi 
– Destacamento de Operações de In-
formações (DOI) – e o Centro de Opera-
ções de Defesa Interna (Codi).
Desse modo, a censura foi imposta para garantir que informações de torturas 
e violência não ganhassem repercussão. Veículos de meio de comunicação eram 
vigiados e suas notícias não eram divulgadas sem aprovação prévia. Assim, muitos 
intelectuais, jornalistas e até mesmos artistas fugiram do país ou foram presos por 
manifestarem algo que pudesse colocar em xeque o regime militar.
Alguns artistas, líderes políticos e intelectuais foram obrigados a deixar o Brasil em busca de 
segurança e liberdade, disponível em: https://bit.ly/2E7MnsMEx
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E essa preocupação com a imagem do governo militar foi uma das preocupa-
ções do general Emílio Garrastazu Médici durante o período que foi presidente 
do Brasil (1969-1974). Além, disso, Médici era apaixonado por futebol, como a 
maioria dos brasileiros, o que provocou uma atenção maior à seleção brasileira de 
futebol. Portanto, buscar uma aproximação com o escrete canarinho foi uma das 
estratégias de seu governo. E para sorte do general, a seleção brasileira de 1970 foi 
a melhor seleção de todos os tempos. 
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Porém, não era o sentimento de melhores do mundo que pairava na seleção 
brasileira antes da copa de 1970. Na verdade, o time carregava uma desconfiança 
vinda desde a traumática derrota na copa de 1966, quando foi eliminada por Por-
tugal em uma exibição de gala do atacante português Eusébio. 
Antes de iniciar a copa, o Brasil estava em crise nos bastidores. Mesmo fazendo 
uma eliminatória impecável com seis vitórias e vinte e três gols marcados, a sele-
ção brasileira trocou de técnico – saiu João Saldanha e assumiu Zagallo, faltando 
menos de 3 meses para a Copa – e discutia intensamente os nomes da escalação 
e convocação. Até mesmo Pelé foi questionado – realmente Pelé fez algumas parti-
das ruins e se mostrou fora de forma, porém, a surpreendente marca de mil gols já 
havia sido alcançada e já tinha o status de melhor de todos os tempos. 
Contudo, tudo isso ficou para trás logo no primeiro jogo do Brasil no mundial 
do México no dia 3 de julho de 1970. A seleção fez sua estreia contra a Tchecos-
lováquia e a goleou por 4 a 1. Foi uma exibição estupenda da seleção brasileira. 
Tanto o foi, que o lance mais marcante da partida foi um gol que Pelé não fez. Ele 
chutou do meio campo ao perceber o goleiro tcheco adiantado e a bola passou a 
centímetros da trave direita, saindo caprichosamente pela linha defundo. Foi um 
dos lances geniais de Pelé na Copa.
Continuando com a trajetória da seleção na Copa do México, o segundo jogo foi 
diante dos ingleses. O jogo foi duríssimo, com o Brasil vencendo por 1 a 0 com gol de 
Jairzinho depois de uma grande jogada de Tostão. Entretanto, um lance que ficou na 
memória foi a dificílima defesa do goleiro inglês Gordon Banks frente a uma tentativa de 
cabeça de Pelé. O goleiro conseguiu buscar uma bola que foi cabeceada por Pelé e se 
dirigia para o seu canto direito, tendo quicado antes no gramado; foi a maior defesa da 
história das copas e foi uma prova de força da seleção brasileira ao superar o time inglês.
Figura 9 – Da esquerda para direita, jogadores em pé: Carlos Alberto Torres, 
Brito, Piazza, Félix, Clodoaldo e Everaldo; Agachados: Jairzinho, Gérson, Tostão, Pelé e Rivelino
Fonte: Wikimedia commons
O terceiro jogo foi contra a Romênia. E novamente o Brasil encontrou um time 
muito difícil de bater. Mas acabou vencendo por 3 a 2 e se classificou para as 
quartas de final, para enfrentar o Peru. Mesmo contando com um técnico e velho 
conhecido dos brasileiros, Didi (o bicampeão pela seleção brasileira em 1958 e 
1962), o Brasil não encontrou grandes dificuldades para vencê-lo por 4 a 2 e seguir 
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UNIDADE O Futebol Brasileiro Enquanto Metáfora da Sociedade
firme e forte na disputa do mundial. Assim, seu adversário na semifinal foi também 
um sul-americano, mas um adversário que trazia péssimas lembranças: o Uruguai. 
O último jogo entre eles em copas do Mundo foi o Maracanaço. Portanto, a semifi-
nal trouxe toda uma carga emocional para a partida. O jogo foi marcado por disputas 
duras e violentas entre os jogadores. Pelé chegou a dar uma cotovelada para revidar a 
violência que os uruguaios estavam aplicando nas jogadas. Não foi expulso por sorte 
e malandragem de desferir a cotovelada bem distante dos olhos do juiz. 
O fantasma de 1950 apareceu na partida quando o Uruguai abriu o placar. Porém, 
o time brasileiro era muito forte e conseguiu empatar com Clodoaldo, virar o jogo com 
Jairzinho e ampliar para 3 a 1 com Rivelino. Ufa! O Maracanaço ficou para trás e o 
Brasil seguiu para disputar sua quarta final de Copa do Mundo contra a bicampeã Itália.
Veja mais um famoso lance genial de Pelé na Copa. O jogador ficou marcado mais pelos gols que 
não fez no torneio por conta de sua genialidade nos lances, disponível em: https://bit.ly/2U1iSywEx
pl
or
Com tudo isso, o Brasil estava eufórico! A empolgação e o clima ufanista tomavam 
conta do país. E a ditadura aproveitou desse momento. O slogan “Brasil: ame-o ou 
deixe-o”, usado para coibir qualquer ato contrário ao regime, misturava-se às marchi-
nhas da Copa. A mais famosa marchinha que embalou as jogadas de Pelé e companhia 
foi o “Pra frente Brasil”, que é até hoje muito tocada em épocas de Copa do Mundo. 
A marchinha transmitia uma mensagem de unidade, todos pela mesma causa, com 
uma alusão ao futebol, mas que foi rapidamente atrelada ao governo Médici.
Veja a letra de “Pra frente Brasil”, composição de Miguel Gustavo. 
Disponível em: http://bit.ly/2W9Lyar.Ex
pl
or
Outro fato que ajudou muito a propaganda do governo militar e o encantamento 
com a seleção de 1970 foi a televisão. O que o rádio foi para a Copa de 1950, 
a televisão foi para a Copa de 1970. Pela primeira vez, uma Copa do Mundo foi 
transmitida ao vivo, o que ajudou ainda mais nessa imersão do “Pra frente Brasil”, 
como um grande estádio de futebol espalhado pelo país. 
Estava claro o projeto intelectual e político de associar a imagem do Brasil e 
do homem brasileiro às vitórias da seleção de futebol nas copas do mundo. Com 
a transmissão ao vivo, a Copa ganhou proporções difíceis de se imaginar nos 
dias de hoje, ainda mais com a seleção brasileira conseguindo passar pelos seus 
adversários com autoridade. Estava consolidada, em 1970, o principal veículo de 
comunicação: a televisão. 
Entretanto, vamos voltar para a Copa, pois ainda falta descrever o último jogo, 
a final contra a Itália. No dia 21 de junho de 1970, no estádio Azteca, Brasil e Itália 
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disputaram a final da Copa do Mundo. Era a primeira vez que dois campeões do 
mundo disputavam uma final. E ainda por cima, quem ganhasse a final ficaria com 
a posse definitiva da taça Jules Rimet. 
O jogo foi tenso e começou muito disputado. O Brasil saiu na frente com uma ca-
beçada de Pelé após cruzamento de Rivelino. Porém, depois de uma falha de Clodo-
aldo, a Itália empatou com um gol de Roberto Boninsegna. Fim do primeiro tempo!
O segundo tempo começou com o domínio brasileiro, como foi a tônica no mun-
dial. Com uma preparação física jamais realizada, uma novidade para a época, o 
time brasileiro tinha fôlego de sobra na segunda etapa das partidas. Gérson, com 
sua canhota famosa, fez 2 a 1. O mesmo Gérson, com um lançamento preciso, 
encontrou Pelé na área que ajeitou de cabeça para Jairzinho ampliar. Mais um feito 
histórico! Jairzinho, o único jogador a marcar gol em todos os jogos de uma Copa 
do Mundo.
Para finalizar, o último gol foi um dos mais bonitos de todas as copas do mundo. 
A jogada começou com Clodoaldo se livrando com habilidade de quatro marcado-
res italianos ainda no campo de defesa. Seguiu na esquerda com Rivelino e chegou 
para Jairzinho encarar os defensores italianos próximos à área e passando a bola 
para Pelé. O Rei dominou a bola e percebeu que o lateral Carlos Alberto se aproxi-
mava com velocidade para entrar na área. Passe feito, e o capitão da seleção chu-
tou forte de peito de pé para o fundo das redes. 4 a 1! Brasil Tricampeão mundial 
de futebol! Que vitória! No México ou no Brasil, a empolgação tomou conta. Era 
certeza de testemunhar um dos maiores times de todos os tempos.
Veja uma reportagem sobre a final da Copa de 1970, disponível em: https://youtu.be/o9hbEz0ug34
Ex
pl
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A vitória restaurou a confiança e o ufanismo. Estabeleceu a ideia de um Brasil que 
“ninguém poderia segurar”, pois teríamos nos tornado invencíveis. Para Guterman 
(2014), o significado da vitória transcendia em muito o campo esportivo. Afinal, 
um dos aspectos mais importantes do momento era a formalização da integração 
nacional pela via do futebol. Construído desde a década de 1930 pelo regime var-
guista, esse fenômeno foi definitivamente sacramentado na Copa de 1970. A vi-
tória da seleção brasileira deu um fôlego para conseguir apoio popular à ditadura, 
conforme acreditou Médici. 
Sabemos que a relação entre futebol e política não se encerra por aqui. Os anos 
subsequentes possuem exemplos interessantes dessa relação, como no momento 
de redemocratização do país, o fim da ditadura, onde surgiu o movimento chamado 
Democracia Corinthiana. Porém, encerra-se aqui esta unidade, mesmo sabendo 
que o assunto não se esgotou. Fica a mensagem de que entender o futebol e seus 
bastidores pode nos mostrar uma metáfora da sociedade brasileira.
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UNIDADE O Futebol Brasileiro Enquanto Metáfora da Sociedade
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Livros
Educação e regimes ditatoriais: 50 anos do golpe militar no Brasil 
SASS, Odair et al. (Org.). Educação e regimes ditatoriais: 50 anos do golpe militar 
no Brasil. 1. ed. São Paulo: Junqueira&Marin, 2018. 288 p.
https://bit.ly/2Voqwo7
 Vídeos
Regime/Ditadura Militar / HISTÓRIA
Especial do Canal do YouTube Nostalgia trata sobre Regime/Ditadura Militar.
https://youtu.be/CRbZwM7fjYM
 Filmes
A história do futebol brasileiro
Documentário.
Homo Sapiens 1900 Eugenia legendado (PTBR)
Documentário sobre a Eugenia Homo Sapiens 1900.
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Referências
GUTERMAN, M. O futebol explica o Brasil: uma história da maior expressão 
popular do país. São Paulo: Contexto, 2014.
SANTOS, J. R. História política do futebol brasileiro. São Paulo: Brasiliense, 1981.
VELOSO, F. A.; VILLELA, A.; GIAMBIAGI, F. Determinantes do “milagre” eco-
nômico brasileiro (1968-1973): uma análise empírica. Rev. Bras. Econ., Rio de 
Janeiro, v. 62, n. 2, p. 221-246,jun. 2008. Disponível em <http://www.scielo.br/
pdf/rbe/v62n2/06.pdf>. 
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Outros materiais