Unidade 3 AULA 4

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Unidade 3
O novo capitalismo consciente
Aula 4
ESG nacional: primeiros passos e o risco Brasil
Objetivo da Aula:
Apresentar iniciativas de ESG no país.
Entender como o Risco País afeta o interesse de investidores.
Analisar caminhos para que o tema evolua nas empresas nacionais.
Conceitos Abordados:
Economia, Administração, Política, Investimentos.
Fundamentação Teórica
Desde a segunda metade do século 20, especialmente após os anos 1980, as empresas são pressionadas a apresentarem e implementarem ações de responsabilidade social. Logo depois, veio a exigência crescente relacionada ao meio ambiente até que, a partir dos anos 2000, escândalos de corrupção colocaram corporações na berlinda, deixando evidente a importância de controles rígidos e transparentes sobre como as mesmas eram administradas.
O ESG, portanto, é uma sigla surgida em 2005 que “embala” a necessidade urgente de que essas práticas se tornem oficiais e mandatórias, muito bem detalhadas nos relatórios de resultados anuais das companhias, indo além do projeto feito mais ou menos só para constar.
São os fundos de investimentos, as bolsas de valores e consultorias que produzem índices de ações que decidem se uma empresa merece o selo ESG. Interessante notar que não existe Estado nesse processo. Ou seja, o governo não determina regras aqui e, sim, o mercado, tornando-se um exemplo do que o economista Adam Smith quis dizer em 1759 ao criar o termo “mão invisível do mercado”. O sistema se autorregula, sem a necessidade de interferências governamentais, e as empresas seguem porque podem ter problemas de reputação não exatamente por serem obrigadas a isso.
Mas ainda há muito por avançar, especialmente no Brasil, a Natura é um exemplo de companhia que segue diretrizes sociais e ambientais como essência do negócio desde sua criação. E sempre buscou e exigiu de parceiros de trabalho e fornecedores soluções para estarem a seu lado. Hoje, usa plástico biodegradável feito de cana-de-açúcar nas embalagens de seus xampus. Quem fabrica esse plástico, porém, é a Braskem, empresa petroquímica que também produz o plástico nada sustentável, a partir do petróleo. Ao mesmo tempo, a principal acionista da Braskem é a Odebrecht, multinacional envolvida em escândalos de corrupção.
Significa que ainda há muito para regular e a adoção de critérios ESG têm um longo caminho nas empresas brasileiras, mesmo que suas avaliações para investimentos dependam disso. A concessão de crédito passa também pelo cenário econômico e político do país. Entra aqui o Risco Brasil que define o chamado risco-país, um conceito econômico-financeiro que reflete a possibilidade de mudanças, inclusive abruptas, no ambiente de negócios do país, impactando negativamente o valor de ativos, lucro, dividendos, entre outros investimentos realizados por empresas e investidores estrangeiros.
Turbulências políticas, não raro, alteram regulamentações e tributações, levam a calotes e dificuldades de cumprimentos de prazos e fornecimentos de matéria-prima, produtos e serviços. Os preços dos insumos podem elevar e os conflitos, inclusive a partir de insatisfações das populações, podem emergir. Tais incertezas e oscilações são parte constante do quadro brasileiro, em maior ou menor grau dependendo do período histórico.
As agências de classificação de risco mais conhecidas são Moody's, Standard & Poor´s e Fitch Ratings. Essas agências se dedicam à análise do risco-país em conjunto com a análise das finanças de governos e empresas. Assim, produzem classificações que indicam a segurança oferecida pelo governo e pelas corporações de cada país aos investidores estrangeiros. Em 2020 a nota de crédito do Brasil definido pela Moody’s era Ba2, dois graus abaixo de Baa3, nota a partir da qual um país é considerado apto ao grau de investimento.
Dimensões e seus critérios
As três dimensões ESG são compostas, na verdade, por variados fatores. Confira os critérios de cada um:
Ambiental: aspectos como emissão de carbono, consumo de água, geração de resíduos e desflorestamento.
Social: condições de trabalho, políticas de inclusão e diversidade, segurança e impactos sobre a comunidade.
Governança: questões como programas anticorrupção, lobby político, estrutura e diversidade dos conselhos e colegiados, comunicação e transparência.
O Princípio de Investimento Responsável, que amplia a incorporação de questões ESG nas análises de investimentos, teve a adesão de 1.400 gestores em 2016, respondendo por cerca de US$ 60 trilhões em ativos, segundo os pesquisadores Amir Amel-Zadeh, professor de negócios da Universidade de Oxford, na Inglaterra, e George Serafeim, professor da Harvard Business School, nos Estados Unidos, em pesquisa divulgada em 2018. a tendência é aumentar. E nenhum país e suas empresas podem se dar ao luxo de ficar fora dela.
Contextualização
A Natura doou US$ 1 milhão para ajudar mulheres vítimas de violência doméstica durante o isolamento social por conta da pandemia do novo coronavírus.
Há anos o Bradesco só usa energia de fontes renováveis e há décadas investe em educação infantil. Junto com outro gigante do setor bancário, o Itaú, fomenta um projeto de proteção à Amazônia.
A rede de lojas de departamento Renner só compra algodão de origem certificada de produtores que respeitem leis ambientais e trabalhistas.
A Vivo criou um programa de recolhimento de lixo eletrônico para descarte correto de celulares e acessórios.
Essas são algumas das grandes empresas brasileiras que se destacam nas práticas ESG, segundo reportagem da revista Você S/A de janeiro de 2021. Mas é isso, gigantes, com acionistas e enorme poder de impacto direto dos consumidores.
Como promover as dimensões ambiental, social e governança em um país ainda tão cheio de desigualdades, em diferentes situações, como o Brasil?
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem um papel importante na disseminação das ideias do ESG. Como banco público, que funciona independente de quem está no comando do país, mapeia as empresas brasileiras que já estão alinhadas com o conceito, servem de exemplo para outras e mostram processos que funcionam e podem se tornar um padrão, ajudando o banco a expandir investimentos sustentáveis. O BNDES pode também captar recursos no mercado com investidores interessados nessa agenda, para aplicação em projetos que já comprovam retornos sociais, ambientais e boa governança.
Em 2020, a instituição criou um subcomitê para temas ESG em seu Conselho de Administração. De acordo com informações em seu portal, por meio de parcerias com instituições como a International Finance Corporation (IFC), do grupo Banco Mundial, o BNDES capacitou a equipe técnica para aplicação dos padrões de desempenho socioambientais, tornou-se apto a captar recursos do Green Climate Fund (GFC) e construiu uma nova metodologia para classificação do risco socioambiental (ABC) dos projetos apoiados, alinhada às melhores práticas internacionais. Desde o início dos anos 2000, o banco oferece condições para investimentos sustentáveis ou que colaborem para a transição para uma economia de baixo carbono.
Esses pontos sobre a atuação do BNDES são importantes porque mostram que há caminhos de fomento a negócios sustentáveis e de bem-estar social mesmo dentro do próprio país. Os investimentos estrangeiros são fundamentais, mas é essencial que a lição de casa também seja feita dentro de casa para que discurso e prática sejam vistos como alcançáveis pelos cidadãos.
Referências Bibliográficas
A difusão da agenda ESG no Brasil e no mundo. 23 de outubro de 2020. Agência de Notícias BNDES. Disponível em: https://agenciadenoticias.bndes.gov.br/blogdodesenvolvimento/detalhe/A-difusao-da-agenda-ESG-no-mundo-e-no-Brasil/ Acesso em abril de 2021.
AMEL-ZADEH, Amir; SERAFEIM, George. Why and how investors use ESG information: Evidence from a global survey. Financial Analysts Journal, 74(3), p. 1-17, 2018. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.2469/ faj. v74.n3.2 Acesso em abril de 2021.
KASTNER, Tássia; LIMA, Monique. A mão invisíveldo ESG. 15 de janeiro de 2021. Revista Você S/A. Disponível em: https://vocesa.abril.com.br/especiais/a-mao-invisivel-do-esg/ Acesso em abril de 2021.
Moodys. Disponível em: www.moodys.com Acesso em abril de 2021
O que é o Risco Brasil e como ele afeta o meu dinheiro? | Exame
O Risco Brasil afeta não só as empresas, mas também o bolso de qualquer cidadão. O economista-chefe da Necton, André Perfeito, explica neste vídeo do canal da revista Exame no YouTube.
Os riscos econômicos do cenário pós-pandemia | Valor Econômico
Fernando Veloso apresenta nesta live do jornal Valor Econômico os riscos econômicos do cenário pós-pandemia no Brasil. Ele é pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), doutor pela Universidade de Chicago e também professor da Escola Brasileira de Economia e Finanças da FGV.
São abordados temas como as perspectivas para o ambiente de negócios e para as contas públicas, além de tratar do peso da incerteza sobre o mercado de trabalho e a atividade econômica.