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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI GEOGRAFIA ECONÔMICA GUARULHOS – SP 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 4 2 AS PRINCIPAIS CORRENTES ECONÔMICAS .................................................... 5 2.1 Liberalismo econômico ....................................................................................... 5 2.2 Keynesianismo .................................................................................................... 7 2.3 Neoliberalismo econômico .................................................................................. 8 2.4 A crítica marxista da economia ........................................................................... 9 2.5 Os conceitos de cada corrente econômica ....................................................... 11 3 ECONOMIA POLÍTICA BRASILEIRA .................................................................. 19 3.1 Do “milagre econômico” à crise da dívida externa ............................................ 19 3.2 Do desequilíbrio inflacionário à reforma neoliberal ........................................... 24 3.3 O Brasil pós-2003 ............................................................................................. 30 4 A CRISE ECONÔMICA BRASILEIRA DE 2015 ................................................... 33 4.1 Impactos da crise econômica na sociedade brasileira ...................................... 37 4.2 Soluções e caminhos traçados para sair da crise ............................................. 39 5 SISTEMA ECONÔMICO BRASILEIRO ................................................................ 40 5.1 Características do sistema econômico brasileiro atual ..................................... 44 5.2 Economia informacional .................................................................................... 47 5.3 Atividades econômicas regionais ...................................................................... 49 5.4 Produção de energia no Brasil .......................................................................... 52 6 MERCOSUL ......................................................................................................... 56 6.1 Formação e características ............................................................................... 56 7 EMPREGABILIDADE NOS SETORES DA ECONOMIA ...................................... 60 7.1 Impacto da tecnologia na mão de obra ............................................................. 60 7.2 Emprego informal .............................................................................................. 62 7.3 Desemprego e crescimento do setor terciário .................................................. 63 3 7.4 Terceirização de serviços no Brasil .................................................................. 64 7.5 Processos econômicos e favelização nos espaços urbanos do Brasil ............. 65 BIBLIOGRAFIA BÁSICA ......................................................................................... 69 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ........................................................................ 69 4 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 2 AS PRINCIPAIS CORRENTES ECONÔMICAS Do século XVII até o século XX, surgiram três importantes conceitos acerca da economia: o liberalismo, o keynesianismo e o neoliberalismo econômico. Essas três linhas de pensamento da economia política criaram ideias e visões próprias da economia, quase sempre antagônicas e raramente complementares. Isso porque a economia é uma ciência social, que permite que políticos, teóricos e agentes socioeconômicos defendam variadas perspectivas acerca do mesmo objeto de estudo: a atividade econômica. 2.1 Liberalismo econômico O liberalismo econômico surgiu ao longo dos séculos XVII e XVIII como uma doutrina ideológica que se posicionou contra a ideologia absolutista que reinava naquele período. Ou seja, o liberalismo é um substrato ideológico das revoluções antiabsolutistas que aconteceram — fundamentalmente — na Inglaterra e na França (BELL, 1961; SANDRONI, 2005). Fonte: www.todapolitica.com Assim sendo, o liberalismo econômico brotou no seio — e nos anseios de poder — da burguesia nascente, que ganhava naquela época importância e relevância nos Estados-nação a partir da Revolução Industrial (JAMES, 1984). Dessa forma, o poder 6 burguês rivalizava com as aristocracias em decadência e ia contra o absolutismo dos monarcas. Em poucas palavras, o liberalismo econômico queria uma nova lógica social e econômica. Nesse contexto, o liberalismo econômico defendia um conjunto de ideias e medidas que eram, na época, revolucionárias, a saber: (1) ampla liberdade individual; (2) democracia representativa com a separação em três poderes (executivo, legislativo e judiciário); (3) direito inalienável à propriedade privada; (4) livre iniciativa e concorrência como basilares para a garantia dos interesses individuais e o progresso das sociedades capitalistas (SANDRONI, 2005). Um dos principais conceitos do liberalismo econômico é o “laissez-faire, laissez-passer” (“deixar fazer, deixar passar”). A ideia é de que não há lugar para a ação e a intervenção econômica do Estado-nação, que tem somente a função de garantir a livre-concorrência entre as firmas e os agentes econômicos, e o direito à propriedade privada quando essa for ameaçada por convulsões sociais e revoluções. Logo, o Estado passa a ser somente — e nada mais — um regulador e garantidor das riquezas e da mais-valia. Historicamente, o pensamento econômico liberal forjou-se no seio das transformações sociais, econômicas e políticas da Revolução Industrial (SANDRONI, 2005). Diversos historiadores destacam que o liberalismo econômico se iniciou com François Quesnay — mas, ganhou contornos teóricos com os trabalhos de Adam Smith, John Stuart Mill, David Ricardo, John Say, Thomas Malthus, entre outros clássicos. Acreditava-se, naquela ocasião, que a economia, tal como a natureza física, era regida por leis universais e imutáveis, em que o homo economicus — livre do Estado e das pressões de grupos sociais — poderia realizar sua tendência natural de alcançar o máximo de lucro com o mínimo de esforço. Isso se aplicava também às relações econômicas internacionais — ou seja, ao comércio entre os Estados-nação da época. Logo, os princípios da liberdade econômica aplicados ao comércio internacional levaram à política do livre-cambismo — condenando as antigas práticas mercantilistas, as barreiras alfandegárias e os protecionismos nacionais (SANDRONI, 2005). 7 Atualmente, oliberalismo econômico mantém-se — essencialmente — no plano retórico, pois, na prática, existe muito dirigismo econômico na sociedade capitalista moderna (SILVA, 2010). 2.2 Keynesianismo O keynesianismo surgiu no momento em que a economia mundial sofria os efeitos adversos da crise de 1929, durando toda a década de 1930 até o início da Segunda Guerra Mundial. Nessa escola do pensamento econômico, a intervenção do Estado na vida econômica é fundamental, e as políticas básicas são sugeridas na principal obra de John Maynard Keynes, A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. As visões do keynesianismo propunham solucionar os problemas econômicos, em especial o problema do desemprego, pela intervenção estatal — desencorajando, assim, o entesouramento, em prol das despesas produtivas e dos gastos agregados. Em outras palavras, o Estado tinha na economia, sobretudo, em períodos de crise/depressão econômica, a função de manter elevados a demanda e o consumo agregados. Com a demanda agregada elevada era possível manter os investimentos públicos e privados aquecidos. Além do mais, esse cenário permitia manter a taxa de juros baixa — beneficiando novos investimentos. Em termos práticos, as grandes despesas governamentais seriam responsáveis pela retomada de uma economia em crise/depressão econômica (SANDRONI, 2005). De fato, sob o estímulo de grandes gastos do Estado, impostos pela Segunda Guerra Mundial, a crise do desemprego nas décadas de 1930 e 1940 deu lugar à falta de mão-de-obra na maioria dos países. Em poucas palavras, diferentes economistas keynesianos passaram a defender que o capitalismo poderia ser salvo, desde que os governos soubessem fazer uso de seu poder de cobrar impostos, reduzir juros, contrair empréstimos e gastar dinheiro (SILVA, 2010). Conforme Sandroni (2005), após a Segunda Guerra Mundial, o pensamento keynesiano converteu-se em ortodoxia, ou seja, em teoria dominante, tanto para os economistas quanto para a maioria dos políticos. Nesse contexto, o keynesianismo econômico lançou raízes, sobretudo, nos Estados Unidos. Isso porque os Estados 8 Unidos estavam temerosos de que o fim da Segunda Guerra pudesse provocar uma nova recessão econômica em todo o mundo capitalista. Assim sendo, o foco conceitual do keynesianismo econômico estava na atuação a longo prazo do Estado, mediante o uso sistemático de políticas monetárias e fiscais expansionistas. A chamada teoria do declínio das oportunidades de investimento seria corrida pelo Estado, evitando que a economia capitalista entrasse constantemente em crises/depressões. Portanto, o Estado interventor seria fundamental — inclusive — para garantir a sobrevivência sistêmica do capitalismo. 2.3 Neoliberalismo econômico Apesar do neoliberalismo econômico ser uma doutrina político-econômica que se estruturou no final dos anos 1930, foi somente a partir dos anos 1980 que ganhou projeção internacional a partir da Inglaterra e dos Estados Unidos. Isso porque, após os dois choques do petróleo — em 1973 e 1979 — o mundo capitalista e comunista (com a União Soviética) presenciou o esgotamento do modelo de intervenção estatal. Naquele momento, nascia um novo mundo do ponto de vista social, econômico e político. Fonte: www.eleconomista.es Os primeiros autores neoliberais — ou novos liberais — foram o norte- - americano Walter Lippmann, os franceses Jacques Léon Rueff, Maurice Allais e L. Baudin, e os alemães Walter Eucken, Wilhelm Röpke e Müller-Armack (SANDRONI, 9 2005). Somam-se ainda a esses autores, o norte-americano Milton Friedman e o economista austríaco Friedrich August von Hayek. O neoliberalismo econômico nada mais é do que o resgate de diversos conceitos e ideais do liberalismo clássico. Como a escola liberal clássica, os neoliberais acreditam que a vida econômica é regida por uma ordem natural formada a partir das livres decisões individuais e cuja mola-mestre é o mecanismo de preços (SANDRONI, 2005; SILVA, 2010). No entanto, o neoliberalismo econômico trabalha com a perspectiva de uma regulamentação da economia de mercado, não para controlá-lo, mas para garantir-lhe sobrevivência. Por quê? Basicamente, porque não acreditam — os economistas neoliberais — na “autodisciplina espontânea do sistema capitalista”. Nesse caso, para que o mecanismo de preços (ou melhor, o equilíbrio de preços) exista ou se torne possível, é necessário assegurar a estabilidade financeira e monetária do sistema. É por isso que os neoliberais se preocupam com o controle governamental da moeda, do câmbio, e dos gastos públicos. Sem isso, os movimentos econômicos podem tornar-se viciados. Quanto maiores forem os vícios na economia, mais imperfeitos são os mercados e as suas estruturas. Por isso o disciplinamento da ordem econômica precisa ser feito pelo Estado, para combater os excessos da livre concorrência e pela manutenção dos chamados mercados livres concorrenciais (SANDRONI, 2005). Atualmente, o termo neoliberalismo vem sendo aplicado constantemente àqueles economistas e políticos que defendem a livre atuação das forças de mercado, o fim do intervencionismo do Estado, a privatização das empresas públicas e até mesmo de alguns serviços públicos essenciais e a abertura da economia para um mercado globalizante e para os mecanismos de integração entre os mercados capitalistas. 2.4 A crítica marxista da economia A crítica marxista da economia (ou o marxismo) é uma denominação teórica consagrada a partir da obra de Karl Marx e Friedrich Engels. Pode ser não apenas uma doutrina econômica, mas igualmente uma filosofia e uma sociologia. Por ser, grosso modo, uma crítica ao capitalismo, ou uma crítica à economia política, constitui- 10 se na fundamentação ideológica do moderno comunismo — em especial, aquele que existiu sob a influência da União Soviética (SILVA, 2010). As principais críticas de Karl Marx à economia política estão expostas na obra O Capital. Nessa obra, ele expõe a teoria da mais-valia e considera o capitalismo um modo de produção transitório, sujeito a diversas crises econômicas cíclicas e que agravam as suas contradições internas, dando lugar ao modo de produção socialista (SANDRONI, 2005), através da ação revolucionária (SANDRONI, 2005). Em outras palavras, o marxismo não crítica totalmente o capitalismo — já que o considera como uma etapa historicamente imprescindível no progresso econômico. Além disso, no centro da análise marxista está a visão de que a sociedade está dividida em: burguesia — uma minoria que possui os meios de produção — e proletariado — uma maioria que constitui a força de trabalho (KISHTAINY et al., 2013). Isso significa que, sob o capitalismo, os meios de produção são de uma minoria, que detém sua propriedade (privada). Na prática, a constante ganância do lucro leva a uma superprodução dos bens demandados pela sociedade, causando baixas na economia. Assim, temos que, no capitalismo, “uma minoria explora o trabalho de uma maioria, e obtém o lucro” (ou, a chamada mais-valia, absoluta e relativa). Nesse sentido, Marx desenvolve o conceito de mais-valia como trabalho excedente, não- pago, fonte do lucro, dos juros e da renda da terra. É a partir da mais-valia que Marx analisa o processo de acumulação de capital no sistema capitalista, mostrando a correlação entre a crescente acumulação e concentração de capital e a pauperização do proletariado em geral (SANDRONI, 2005). O problema é que, inadvertidamente, essa relação falha constantemente, levando a economia a uma série infindável de crises econômicas. Essas crises econômicas geram agitação social e pressões para que a opressão burguesa seja eliminada, resultando em uma revolução, em que os trabalhadores derrubam a classe dominante e controlam os meios de produção. Essa seria a dita revolução comunista (KISHTAINYet al., 2013). Nesse sentido, o marxismo político considera que a luta de classes é o motor da história e que o Estado é sempre uma instituição a serviço da classe dominante, cabendo, portanto, ao proletariado — como classe revolucionária de vanguarda — 11 lutar pela conquista do Estado e de suas funções públicas. Logo, cria-se um Estado da ditadura do proletariado (SANDRONI, 2005). Segundo Marx, essa ditadura do proletariado seria o início de uma revolução, para posteriormente, no longo prazo, implementar uma forma de socialismo em que o poder econômico estaria nas mãos de uma maioria (SILVA, 2010). Essas críticas foram tecidas não apenas por Karl Marx e Friedrich Engels, mas por outros autores, que também adotaram uma visão marxista da economia política, como: Mao Tsé-tung, León Trotski, Antônio Gramsci, Rosa Luxembrugo, Lukács, Tito, Louis Althusser e outros. Fonte: www.outubrorevista.com.br Outro aspecto importante observado pela crítica marxista refere-se à tendência no capitalismo de que cada vez menos produtores controlem cada vez mais meios de produção. Ou seja, o sistema capitalista é por natureza um sistema concentrador de riqueza (KISHTAINY et al., 2013). No longo prazo, a tendência são os monopólios e os oligopólios na economia de mercado. 2.5 Os conceitos de cada corrente econômica Cada corrente do pensamento econômico elaborou um conjunto de conceitos teóricos fundamentais. Logo, o liberalismo, o keynesianismo, o neoliberalismo e o marxismo organizaram uma visão geral — cada uma das escolas — da economia e das relações sociais produtivas. Mais uma vez, é necessário destacar que cada escola do pensamento econômico adquiriu uma visão quase sempre antagônica e raramente similar acerca do sistema econômico. Principais teorias do liberalismo 12 Fundamentalmente, a preocupação central dos autores liberais é o crescimento econômico no longo prazo e o modo como a distribuição de renda entre as diversas classes sociais influência tal crescimento. Assim, o liberalismo preocupa-se com o destino do excedente econômico, que em última instância, define o ritmo da acumulação do capital (e, na prática, o crescimento econômico). Apesar disso, nem todos os liberais tiveram a mesma visão do processo de crescimento econômico, já que cada um estava condicionado por sua visão de mundo. Mesmo assim, as discordâncias dos autores clássicos (liberais) giravam em torno das mesmas preocupações (ARAÚJO, 1989). Para explicar o crescimento econômico, cada pensador foi compelido a instituir seu próprio instrumental analítico, que lhe permitisse o exame da realidade (SILVA, 2010). Diante disso, foram concebidas algumas teorias, que apresentam a essência do pensamento clássico, como, por exemplo, a teoria da produção, a teoria do valor e da troca, a teoria da distribuição, a teoria da liberdade econômica e a teoria da população, a teoria do equilíbrio monetário, a teoria das saídas (ou Lei de Say), e a teoria do comércio internacional. Vejamos uma síntese de cada um deles. Na teoria da produção, os liberais revelaram que o empenho humano é que torna os bens disponíveis para a sociedade, e que são os bens, e não o ouro, que constituem de fato a riqueza de uma nação (SILVA, 2010). Isso significa que quanto mais produtiva fosse a nação, mais competitiva e opulenta ela seria. Na raiz dessa riqueza, surge a divisão do trabalho. Nesse sentido, a especialização do trabalho aumentou a destreza dos trabalhadores, poupando tempo na passagem de um tipo de trabalho para outro, além de incitar o crescimento da quantidade de trabalho que um dado número de pessoas pode executar. Na teoria do valor e da troca, a criação individual de excedentes permitiu que seus possuidores fizessem mais trocas, com os excedentes dos outros. Em termos práticos, isto exige que seu valor seja estabelecido pelo mercado, e apresenta o problema da explicação do motivo que determina o valor de um bem em troca por outros bens ou moeda (RIMA, 1977). A maior parte dos bens são reproduzíveis, ou seja, seu valor de troca deriva do trabalho. Sendo assim, David Ricardo introduziu o conceito de que toda mercadoria possui dois preços: o preço natural, equivalente ao valor do trabalho nele incorporado e o preço de mercado, que oscila em torno do valor, conforme a oferta e a demanda. 13 Na teoria da distribuição, a discussão gira em torno da determinação dos salários, dos lucros do capital e dos juros e, por fim, da renda da terra. Para Adam Smith, o salário deveria, mesmo nas classes mais inferiores de trabalhadores, ser o suficiente para o proletário sustentar a si, e a sua família (SILVA, 2010). Já os lucros de capital, da classe industrial, estão fortemente ligados aos salários da mão-de-obra, reduzindo quando os salários se elevam e, aumentando quando os salários diminuem. Por fim, a renda da terra é central à teoria da distribuição, pois é ela que determina as proporções de quotas de renda recebidas pela mão-de-obra e pelo capital (RIMA, 1977). Na teoria da liberdade econômica, Adam Smith realizou considerações sobre as leis do mercado e a mão invisível. A ideia central era de que “o ser humano agia por impulsos egoístas” e pelo desejo de obter uma recompensa. Assim sendo, a busca do próprio interesse leva ao mais inesperado dos resultados: a harmonia social (SILK et al., 1978). Na teoria da população, há uma falta de concordância entre o poder de reprodução da espécie humana e a capacidade de produção dos meios de subsistência (HUGON, 1980). Em outras palavras, o que existe é uma diferença entre a taxa de crescimento da população e a taxa de crescimento dos meios de subsistência. Thomas Malthus afirmava que o aumento da população, quando não era contido, crescia a uma proporção geométrica, ao passo que a subsistência aumentava a uma proporção aritmética. O aspecto chave é que a subsistência está subordinada à lei dos rendimentos decrescentes. Na teoria do equilíbrio monetário, David Ricardo concluiu que em cada país existe, em um dado momento, certo estado de equilíbrio monetário que é peculiar, em função da atividade econômica, de seu sistema monetário e de sua estrutura bancária. Ele concluiu que o equilíbrio independe da quantia absoluta de metais preciosos existentes no mundo. Essa teoria conduz à conclusão de que só haveria equilíbrio monetário se houvesse liberdade de trocas internacionais (SILVA, 2010). Na teoria das saídas (ou Lei de Say), a teoria dos mercados, de Jean- - Baptiste Say, é, sem dúvida, uma das suas mais notáveis contribuições à economia. A lei de Say surge como a apresentação simplificada da atividade econômica, num mundo onde reina a divisão do trabalho. Segundo Say (1983), a oferta global e a procura efetiva são necessariamente iguais — a oferta cria a sua própria procura. 14 Qualquer crescimento na oferta dos bens implicava num crescimento idêntico da demanda. Por fim, a teoria do comércio internacional, estava intimamente ligada à análise do valor e à distribuição. David Ricardo desenvolveu, a esse respeito, a conhecida teoria das vantagens comparativas, que completa as lacunas deixadas por Adam Smith com a teoria das vantagens absolutas. Isso significa que cada país vai se especializar naquilo que é mais capaz de produzir, mesmo que um país seja mais eficiente (do que o outro) na produção de todos os bens (SILVA, 2010). As teses econômicas do keynesianismo A teoria keynesiana foi formulada num contexto conceitual basicamente idêntico à teoria do equilíbrio geral, de Léon Walras (HUNT; SHERMAN, 2000). Assim, a maioria das análises de Keynes são pautadas num processo contínuo de produção, circulação e consumo — em que o Estado é o principal agente econômico. No geral, os princípios keynesianos mais importantes foram formulados por John Maynard Keynes, sendo queseus discípulos contribuíram igualmente com o desenvolvimento intelectual das ideias e filosofias que permeiam o pensamento de Keynes e das diferentes interpretações. Fonte: www.pt.vecteezy.com Para termos uma visão geral dos princípios keynesianos, vamos considerar os conceitos mais importantes da escola, que são: a teoria da distribuição, segundo a 15 produtividade marginal; a economia da dívida; a teoria da taxa de juros; o princípio da demanda efetiva; a propensão marginal a consumir e multiplicador; e a determinação dos dispêndios de investimento (SILVA, 2010). Na teoria da distribuição, segundo a produtividade marginal, Keynes endossava e defendia a teoria da distribuição baseada na produtividade marginal (neoliberal ou neoclássica). Logo, o salário é igual ao produto marginal do trabalho. Keynes argumentava que, para aumentar o emprego, os salários teriam que baixar, e os lucros teriam que aumentar. Assim sendo, o comportamento maximizador de lucros motivaria os capitalistas a empregar trabalhadores até o seu salário igualar-se ao valor do produto marginal. Na economia da dívida, Keynes demonstrou que os gastos do governo, financiados por empréstimos, seriam muito mais eficazes para estimular a procura agregada do que os gastos financiados pela tributação — já que a tributação retirava recursos que seriam gastos de outra maneira (SILVA, 2010). Um exemplo observado por ele foi o desempenho dos Estados Unidos, depois da Segunda Guerra Mundial, que melhorou e muito com a expansão maciça e acelerada do endividamento público. Na teoria da taxa de juros, Keynes trouxe à luz as razões pelas quais não se podia confiar que a taxa de juros equilibrasse automaticamente a poupança e o investimento. Ele afirmava que a taxa de juros não canalizava automaticamente as poupanças para os investimentos, da maneira concebida pelos neoclássicos. Logo, a procura de moeda não apenas como algo racional, mas também uma necessidade psicológica básica — tanto que concebia o juro como o preço para que um indivíduo se privasse da liquidez, não como recompensa pela abstinência. No princípio da demanda efetiva, a ideia era o oposto da lei de Say. Assim, quem determinava o volume da produção e do emprego era a demanda efetiva, que não é apenas a demanda efetivamente realizada, mas ainda o que se espera que seja gasto em consumo e investimento. Nessa visão, a expectativa dos capitalistas é muito importante. Nessa situação, a demanda efetiva pode ser maior ou menor que a capacidade produtiva de um país, em determinado momento. Por isso, a busca pelo pleno emprego torna-se um dos objetivos da macroeconomia, um objetivo que deve ser alcançado por vontades políticas (SILVA, 2010). Na propensão marginal a consumir e multiplicador, um incremento nos investimentos, pode iniciar um processo de expansão, isso porque aumenta a renda 16 e aumentam também os dispêndios. Por sua vez, isso acaba por aumentar as procuras de fatores de produção e suas rendas. Assim sendo, um incremento de investimento com certeza aumentaria o nível de renda em mais do que seu próprio montante. Essa força de alavancagem dependerá da propensão marginal a poupar. Por fim, o custo dos bens de capital, o rendimento monetário esperado e a taxa de juros do mercado. Ele compreendeu que as expectativas regem a escala de procura de investimento. São as expectativas de longo prazo que determinam a capacidade dos empresários de estimar rendas futuras e, assim, realizar seus investimentos no presente. Neoliberalismo econômico Para obtermos uma noção geral das ideias neoliberais, alguns dos tópicos mais importantes são: liberdade econômica e liberdade política; funções do governo neoliberal na sociedade; e controle do sistema monetário e política fiscal neoliberal. Esses conceitos tentavam explicar e solucionar os novos problemas da sociedade, ou seja, frutos de reações à crise econômica. A liberdade econômica e a liberdade política são, para os neoliberais, a melhor organização de uma sociedade. Ou seja, a liberdade econômica é parte da liberdade entendida em sentido amplo, o que significa que é um instrumento indispensável para a obtenção da liberdade política (SILVA, 2010). Nesse contexto, o tipo de organização econômica que promove a liberdade econômica, ou, o capitalismo competitivo, ainda promove a liberdade política, porque separa o poder econômico do poder político e, assim, permite que um controle o outro. Para que exista liberdade econômica de fato, deve ser mantida a liberdade de troca — como característica central da organização de mercado livre da atividade econômica. Já o governo neoliberal na sociedade concebe as funções do governo voltadas para garantir os direitos individuais — sem interferência nas esferas da vida pública e na esfera da vida econômica. Entre os direitos individuais, destaca-se a propriedade privada como direito natural, assim como o direito à vida, à liberdade e aos bens necessários para conservar ambas. A função do estado é de arbitrar e legislar — e não de regular — os conflitos que possam surgir na sociedade civil — onde os empresários e os trabalhadores estabelecem as relações produtivas, realizam contratos e disputam interesses. As teses do neoliberalismo se resumem na 17 expressão menos Estado e mais mercado (BELL, 1961). Portanto, a intervenção do estado na economia constitui uma ameaça aos interesses individuais, à livre iniciativa das empresas, à concorrência privada e ao próprio restabelecimento do equilíbrio. O controle do sistema monetário e a política fiscal neoliberal são as áreas mais importantes da política governamental e que são relevantes para a estabilidade econômica, constituídas pela política monetária, e pela política fiscal (SILVA, 2010). Os neoliberais sugerem que o meio de alcançar o equilíbrio monetário é ter um governo de leis, em vez de um governo de homens. Por meio da legislação, é possível controlar a direção da política monetária, evitando que fosse ela vítima dos caprichos das autoridades políticas. Fonte: www.suportegeografico77.blogspot.com Marxismo Para compreendermos os ensinamentos marxistas, precisamos dominar os principais pensamentos de Karl Marx — o mais influente de todos os intelectuais. Em suas obras, Marx buscou entender a lógica do modo de produção capitalista e suas relações com as instituições sociais e políticas. É um dos pensamentos mais difíceis de compreender e explicar, pois Marx produziu muito, suas ideias se desdobraram em várias correntes e foram incorporadas por inúmeros teóricos (BELL, 1961). A vida de Karl Marx foi marcada pelo incremento de conceitos importantes — que poucos discípulos se arriscaram a mudar — como a lei do movimento do capital; o conceito das classes sociais; a teoria do valor e a mais-valia; a teoria da acumulação de capital e a concentração econômica; e a ideia da alienação do trabalhador (SILVA, 2010). 18 Na lei do movimento do capital, o capital não é uma coisa, é antes de tudo, uma relação social entre pessoas, efetivada através de coisas. Essa relação surgiu com a aparição da burguesia, que se apropriou dos meios de produção, formando o conhecido monopólio de classe. Além disso, Karl Marx identificou três tipos de capitais: capital constante (equipamentos e máquinas), capital variável (relacionado à força de trabalho) e capital-dinheiro. Para Marx (1983), na sociedade mercantil simples, todas as mercadorias são produzidas para serem trocadas no mercado, mas não existe ainda a divisão entre proprietários dos meios de produção e força de trabalho. Sendo assim, Marx construiu o seguinte esquema, onde M é mercadoria e D é dinheiro: sendo no capitalismo, o esquema D — M — D’ (SWEEZY, 1972). No conceito das classes sociais, os marxistas procuram explanar os conflitos existentes no sistema de classesdo capitalismo. De acordo com Marx (1983), as desigualdades sociais notadas no seu tempo eram provocadas pelas relações de produção do capitalismo — que dividem a sociedade em proprietários e não- proprietários. São as desigualdades que constituem as bases das classes sociais. Hugon (1980) destaca que as relações entre os homens no capitalismo se caracterizam por relações de oposição, incompatibilidade, exploração e complementaridade entre as classes sociais. As relações entre as classes são complementares, pois uma só existe em relação à outra — só existem proprietários porque há uma massa de despossuídos, cuja única propriedade é sua força de trabalho (SILVA, 2010). Na teoria do valor e a mais-valia, o “valor” significa o que uma mercadoria vale como resultado de certas quantias de trabalho direta ou indiretamente nela corporificadas. Por isso, o valor consiste naquilo que o trabalhador pode, com o seu trabalho, acrescentar aos materiais básicos, já fornecidos pela natureza. Ou melhor, o valor de uma mercadoria é igual ao tempo de trabalho socialmente necessário para produzi-la (MARX, 1983). É daí que emana a doutrina da mais-valia absoluta e relativa. A mais-valia absoluta é a mais-valia que se obtém pelo prolongamento da jornada de trabalho. Já a mais-valia relativa é a mais-valia que se obtém mediante a diminuição do tempo de trabalho necessário (SILVA, 2010). Na teoria da acumulação de capital e a concentração econômica, uma vez realizada a acumulação inicial de capital — conforme os marxistas — a ânsia de acumular cada vez mais torna-se a força motriz de sustentação do sistema capitalista. 19 O capitalista, para sustentar sua posição social e seu poder político e econômico, depende da ampliação do volume de capital. Como efeito da acumulação de capital, acontece a concentração da riqueza e do poder econômico nas mãos de um número mais restrito de capitalistas. Por fim, na ideia da alienação do trabalhador, Karl Marx mostrou que a industrialização, a propriedade privada e o salário afastaram o trabalhador dos meios de produção — ferramentas, matérias-primas, terras e máquinas — que estavam agora sob o controle dos capitalistas. Logo, os trabalhadores ficaram alienados do fruto do seu trabalho, ou seja, os bens produzidos pertenciam ao capitalista. Karl Marx (1983) diz que essa é a base da alienação econômica do homem sob o capital. 3 ECONOMIA POLÍTICA BRASILEIRA A economia política brasileira, nos últimos 60 anos, foi marcada por momentos de prosperidade e de recessão, de equilíbrio e de desequilíbrio, de autoritarismo e de populismo. Essa situação reflete o pós-Segunda Guerra Mundial e se estende até recentemente, em que o Brasil viveu um período de economia política liderada pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Nesse sentido, o Brasil passou por uma série de políticas econômicas, implementou diferentes planos monetários, controlou a inflação de múltiplas maneiras, ampliou e reduziu o Estado de várias formas e mudou o regime de desenvolvimento para se ajustar aos tempos modernos. 3.1 Do “milagre econômico” à crise da dívida externa De 1964 até 1984, o Brasil viveu o período do regime militar, com cinco presidentes militares: Humberto Castello Branco (1964–1966), Arthur da Costa e Silva (1967–1969), Emílio Garrastazu Médici (1969–1973), Ernesto Geisel (1974–1978) e João Figueiredo (1979–1984). O regime de exceção e o alinhamento militar permitiram certa continuidade no terreno político e no modelo de política econômica. No governo de Castello Branco, os principais objetivos da política econômica eram o combate gradual à inflação, a expansão das exportações e a retomada do crescimento. Na prática, esses três objetivos duraram até 1973 — sendo que a retomada do crescimento só foi concretizada a partir de 1967. 20 Segundo Hermann (2011b), o período de 1964 a 1973 ilustra um caso de nítida ausência de correlação entre democracia e desenvolvimento e de alta correlação entre autoritarismo e reforma econômica. O período de 1964 a 1973 pode ser dividido em duas fases: 1. 1964–1967, o período de ajuste conjuntural e de ajuste estrutural da economia, buscando enfrentar o desequilíbrio inflacionário, o desequilíbrio externo e o quadro de estagnação econômica; 2. 1968–1973, o período que se caracterizou por uma política monetária do tipo expansionista e por um vigoroso crescimento da atividade econômica (média de 11% ao ano), com a gradual redução da inflação e do desequilíbrio externo. Na primeira fase, 1964–1967, a economia operou com o Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG), e na segunda fase, 1968–1973, com o Plano Estratégico de Desenvolvimento (PED). O PAEG tinha a finalidade de implementar um processo de estabilização dos preços de inspiração ortodoxa. Esse processo era acompanhado por importantes reformas estruturais do sistema financeiro, da estrutura tributária e do mercado de trabalho (IANNI, 1971). Fonte: www.remessaonline.com.br As metas do PAEG para a inflação indicavam uma inflação gradualista. Ou seja, a ideia não era eliminar o processo inflacionário em curto prazo, apenas atenuá-lo ao longo de três anos. O diagnóstico do PAEG era de que, entre os preços da economia, apenas os salários não estavam defasados — sendo estes apontados como uma das principais causas da inflação. Assim, a correção das tarifas públicas e da taxa de câmbio era apontada como uma medida necessária para o ajuste fiscal e o ajuste do balanço de pagamentos. 21 Foi nesse período que a economia brasileira passou a conviver com a “mágica” conciliação dos preços, ou a chamada correção monetária. Somente duas décadas depois é que o governo brasileiro e a sociedade começariam a se dar conta da contradição inerente a esse modelo de estabilização dos preços. Nesse contexto, a tarefa era “arrumar a economia” a fim de viabilizar a rápida retomada do crescimento econômico — que a princípio deveria ocorrer ainda no governo de Castello Branco. Contudo, o PAEG acabou sendo um plano anti- inflacionário muito restritivo da atividade econômica e, ao final, foi pouco eficaz no combate à inflação. Os dados mostram que a inflação foi significativamente reduzida, mas não eliminada, já que era alimentada pela inflação corretiva e pela generalização da correção monetária dos ativos e dos contratos (HERMANN, 2011b). Além do mais, o período de 1964 a 1967 foi marcado por uma política econômica de restrição fiscal e de restrição monetária. Esse conjunto de condições macroeconômicas acabou inviabilizando uma recuperação econômica sólida ainda no período 1964–1967. Talvez o maior êxito econômico desse período tenha ocorrido na área fiscal: os déficits foram reduzidos e a reforma financeira na dívida pública possibilitou condições mais duradouras de financiamento não monetário (IANNI, 1971). Por sua vez, o PED tinha um propósito muito mais desenvolvimentista do que o PAEG. Assim, o governo de Costa e Silva beneficiou-se em parte das dificuldades herdadas do governo Castello Branco. A percepção da ineficácia da política econômica, no sentido de promover o crescimento econômico, levou o governo Costa e Silva (1967–1969) a “afrouxar” a política monetária e a promover ações de investimentos públicos e políticas propícias à recuperação dos investimentos privados. Assim, o PED conduziu a economia brasileira de 1968 até 1973, com a continuidade do plano pelo governo de Médici. É nesse período que acontece o “milagre econômico”. Esse “milagre” consiste na combinação da expansão econômica com a redução das taxas de inflação e a total eliminação dos déficits do balanço de pagamentos. Esse período de elevado crescimento econômico só foi possível graças a algumas condições econômicas e políticas favoráveis e à habilidade do governo no aproveitamento das oportunidades que essa conjuntura oferecia— entre os anos 1968 e 1973. 22 Essencialmente, os alicerces do “milagre econômico” brasileiro — entre 1968 e 1973 — foram: O quadro de ampla liquidez no mercado internacional; A capacidade ociosa na economia, fruto da debilidade do cenário econômico do período anterior; O regime autoritário vigente, que facilitava a implementação das políticas do governo; A simpatia americana pelo regime militar brasileiro. No campo econômico, o “milagre” se revelou em diversos aspectos, como: Na adoção do controle de preços, inclusive os salários; Na política de juros tabelados (em níveis baixos); Na política cambial de minidesvalorizações, estimulando as exportações; Na política deliberada de captação de recursos no exterior para o controle do câmbio e o financiamento da expansão econômica. Historicamente, a herança que o período de 1964–1973 deixou ao governo Geisel (1974–1979) foi um misto de vantagens e problemas econômicos (HERMANN, 2011b). Porém, nesse contexto, é fundamental que você perceba que o aspecto econômico mais relevante era o fato de que não era mais possível continuar o ritmo acelerado de crescimento do período do “milagre”. Além do novo cenário externo, a economia brasileira já vivia um esgotamento do modelo de crescimento. Os grandes problemas foram a correção monetária, com os seus efeitos perversos sobre a dinâmica dos preços, e a excessiva dependência externa do País em dois setores: industrial (bens de capital, petróleo e derivados) e financeiro (bancos e investimentos). Essas condições se agravaram com o primeiro choque dos preços do petróleo em fins de 1973 (BAER, 1988). O choque dos preços do petróleo, em 1973–1974, inaugurou uma longa fase de dificuldades econômicas para o Brasil, expressa pelo prolongado quadro de restrições externas. Logo, o período de 1974 até 1984 foi intenso politicamente e turbulento economicamente. Politicamente, foi o período em que aconteceram as principais pressões e mudanças políticas no sentido da redemocratização. Esse cenário influenciou muito as decisões de política econômica do governo Geisel. Já no contexto econômico, o período de 1974 a 1984 marca o auge e o esgotamento do modelo econômico de crescimento vigente no Brasil desde os anos 23 de 1950, isto é, o modelo de industrialização por substituição de importações, comandado pelo Estado e pelo endividamento externo. Assim, as dificuldades da economia brasileira ocorrem em meio a um cenário externo adverso, marcado por vários choques. Entre esses choques, você pode considerar dois aumentos do preço do petróleo no mercado internacional (1973 e 1979) e o aumento dos juros norte-americanos entre 1979 e 1982, reduzindo a liquidez internacional. Assim, a estrutura produtiva e a dependência externa do Brasil já eram incompatíveis com o grave e conturbado contexto internacional. Daí, inicia-se a crise da dívida externa. Fonte: www.politize.com.br Para lidar com as dificuldades, o governo Geisel lançou o II PND (Plano Nacional de Desenvolvimento) para completar o processo de substituição das importações iniciado na era Juscelino Kubitschek. O modelo de ajuste estrutural tinha a finalidade de mudar o estágio de desenvolvimento industrial da economia brasileira, internalizando, em larga medida, os setores de bens de capital e insumos industriais (CASTRO, 1985). No final do período, observou-se que o ajuste estrutural foi bem-sucedido, já que reduziu a dependência externa do País em relação aos bens de capital e insumos cruciais ao crescimento econômico. Entretanto, o lado financeiro desse ajuste ficou demasiadamente comprometido. As dívidas estrangeiras e a dependência financeira externa mantiveram a necessidade de frequentes rodadas de ajuste externo, exigidas sempre que o mercado internacional parecia pouco receptivo às exportações e/ou à rolagem da dívida. Após o segundo choque do petróleo, em 1979, o governo brasileiro modificou, gradativamente, a análise do desequilíbrio externo do País. Em vez de propor mais 24 crescimento econômico a partir de investimentos, o governo passou a adotar uma estratégia de ajuste recessivo. Em outras palavras, o crescimento vigoroso do período do “milagre econômico” foi substituído por um ajuste de preços relativos e pelo controle da demanda interna (HERMANN, 2011a). Assim, o governo Figueiredo, de 1979 a 1984, herdou um forte aumento da inflação e a deterioração das contas públicas e externas. Isso tudo sinalizava ainda o esgotamento do modelo de crescimento do II PND. Nesse contexto, a correção de preços foi a tônica do modelo de ajuste externo do período 1979–1984. Naquele momento, crescia a ideia de que o desequilíbrio externo brasileiro refletia uma situação de excesso de demanda (BAER, 1988; CASTRO, 1985). Os registros históricos mostram que os anos de 1981 a 1984 confirmam esse prognóstico de forma mais dramática: desequilíbrio no balanço de pagamentos, aceleração inflacionária e forte desequilíbrio nas contas públicas. Essas dificuldades marcam o início de um longo período de estagnação na economia brasileira, que, com raras e curtas interrupções, estendeu-se até meados da década de 1990. Em suma, os anos 1980 são, na economia brasileira, a chamada “década perdida” (HERMANN, 2011a). 3.2 Do desequilíbrio inflacionário à reforma neoliberal Nos registros históricos, o curto período da chamada Nova República (1985– 1989) ficou guardado na lembrança dos brasileiros como um conjunto de experiências malsucedidas de estabilização da inflação. Ao longo dos cinco anos do governo de José Sarney, foram lançados três planos monetários (CASTRO, 2011a): Plano Cruzado, em 1986; Plano Bresser, em 1987; Plano Verão, em 1989. Apesar do fracasso no combate à inflação, o período de 1985 a 1989 foi relativamente positivo do ponto de vista do crescimento econômico, mas isso custou o equilíbrio das contas fiscais e externas. Tudo isso — as dificuldades do lado econômico — potencializou o lado político da redemocratização, que foi capitaneada pelo movimento das Diretas Já. 25 Além de restaurar as liberdades e os direitos políticos, as Diretas Já revelavam o sentimento de que, com a redemocratização, o lado econômico seria resolvido, da inflação até o retorno do crescimento, passando pela solução dos problemas sociais do País. Do ponto de vista político, a transição para a democracia foi dentro das expectativas, apesar dos contratempos criados com a morte de Tancredo Neves. O seu vice, José Sarney, acabou se tornando o novo presidente do Brasil, que sem a legitimidade das urnas — das eleições indiretas — buscou a legitimidade das ruas com o Plano Cruzado. Após amargar uma recessão em 1981–1983, a economia brasileira parecia, em 1984, ter reencontrado a trajetória de crescimento que marcou a década de 1970. A economia em 1984 tinha bons resultados de crescimento, contas externas e contas fiscais. Contudo, a inflação continuava sendo um problema de destaque da economia brasileira, superando, em 1984, mais de 224% (CASTRO, 2011a). Assim, o propósito do Plano Cruzado era atacar duramente a inflação. Esse plano monetário foi geralmente referido como um plano “heterodoxo” em contraposição ao diagnóstico inflacionário dos “ortodoxos”. As teses heterodoxas de inflação no Brasil admitiam a possibilidade teórica de inflação de demanda, em que, acima do pleno emprego, as expansões fiscais provocariam a inflação. Além disso, observa-se que, em economias em desenvolvimento — como o caso brasileiro —, em que a mobilidade dos fatores de produção é menor e há gargalos de oferta, existem também inflações de custos. Essas inflações, por sua vez, se transformam em processos inflacionários pela existência do conflito distributivo — alimentado pela indexação contratual.26 O sucesso inicial do Plano Cruzado foi visível. Ele foi capaz de levar, já em 1986, a inflação para zero. Entretanto, a economia brasileira começou a apresentar outras dificuldades. Por exemplo, por causa de uma demanda muito aquecida, começaram a surgir sinais de desabastecimento da economia. Isso porque o Plano Cruzado congelou uma série de preços — o que resultou no desaparecimento desses produtos das prateleiras. Começaram a surgir filas com cada vez maior frequência, bem como o fenômeno do ágio. Soma-se a isso a piora das contas externas, como consequência do cenário econômico internacional com menor liquidez. Isso levou o País a decretar, em 1987, a moratória dos juros externos, o que diminuiu ainda mais a entrada de recursos FIQUE ATENTO! Uma das principais características dos planos monetários implementados no Brasil era a sua orientação ideológica sobre a origem da inflação. Em 1984, ficaram manifestas três maneiras de interpretar o processo inflacionário no Brasil. Em última instância, elas influenciavam as formas e as medidas dos governos e dos economistas desses governos. O primeiro grupo era dos proponentes do “pacto social”. Eles defendiam que a inflação no Brasil era o resultado de uma disputa entre os diversos setores da sociedade por uma participação maior na renda nacional, ou seja, existia um conflito distributivo. O segundo grupo eram os chamados “ortodoxos”. Baseados na teoria quantitativa da moeda, eles defendiam que a inflação no Brasil não tinha nada de peculiar, mas era causada pela excessiva expansão monetária e por um governo que gastava além da sua capacidade de arrecadar receitas. Em síntese, a causa da inflação no Brasil era o excessivo gasto público em uma economia em que o Estado crescera demais. Enquanto isso, o grupo dos “heterodoxos”, baseados em estudos econométricos, mostravam que a inflação era realimentada pela inflação passada (inflação inercial) e pelas variações no hiato do produto. Nesse sentido, a inflação inercial era a principal responsável pela inflação nacional — alimentada pelas cláusulas de indexação que a sociedade brasileira tinha adotado de maneira generalizada. Assim, o fim da inflação passaria pela desindexação da economia. 27 externos para financiar a dívida e/ou rolá-la com os credores. O resultado foi o fim do congelamento dos preços e o fim do Plano Cruzado. No mesmo ano (1987), o governo anunciou o Plano Bresser, um novo plano de estabilização. Nesse sentido, o Plano Bresser objetivava, fundamentalmente, promover um choque deflacionário na economia, evitando os erros do Plano Cruzado. Logo, a inflação foi diagnosticada como inercial e de demanda e, em consequência, o plano foi concebido como híbrido, com elementos heterodoxos e ortodoxos. O Plano Bresser teve certo sucesso inicial na redução da inflação, apesar de não a reduzir a zero. Além do mais, após o fracasso do Plano Cruzado com o congelamento dos preços, no Plano Bresser, o congelamento pretendido pelo governo não foi respeitado. Diante do temor de um novo congelamento, a sociedade já realizou remarcações preventivas de preços, que aumentaram ainda mais os desequilíbrios entre os preços relativos da economia (CASTRO, 2011a). Em 1988, o fato mais relevante foi a aprovação da nova Constituição do Brasil, finalizando a ruptura em relação ao regime militar. O ponto mais relevante da nova Constituição foi a prioridade dada aos direitos sociais, em especial à saúde, à educação, à dignidade no trabalho, ao direito de greve, entre outros. Tudo isso levou o Plano Bresser, após dois anos, ao insucesso (do gradualismo no combate à inflação). A solução foi a radicalização das propostas de desindexação da economia brasileira, com a implementação do Plano Verão. Segundo Castro (2011a), foram extintos todos os mecanismos de indexação, inclusive a Unidade de Referência de Preços (ou URP), que, ao atrelar os salários aos preços, com defasagem, era uma grande força de contenção da aceleração inflacionária. Em 1989, o Plano Verão foi anunciado também como um plano híbrido, que tinha elementos ortodoxos (como a redução de despesas de custeio, a reforma do Estado, a restrição de crédito, etc.) e heterodoxos (como o congelamento de preços e salários). Como o Plano Cruzado, o Plano Verão mudou a moeda na economia. Essa nova moeda — Cruzado Novo — foi estabelecida como equivalente ao dólar. Nesse sentido, não foram decretadas novas regras de indexação dos preços, sendo o congelamento de preços anunciado por tempo indeterminado (CASTRO, 2011a). Todavia, em 1989, as eleições presidenciais dificultaram a estabilidade fiscal das contas públicas. Além do mais, os elevados juros praticados foram incapazes de conter o movimento de antecipação do consumo, movido pelo temor de explosão dos 28 preços após o fim do congelamento (CASTRO, 2011a). O resultado foi que a inflação aumentou fortemente, atingindo mais de 80% no começo de 1990. Nesse contexto, foi eleito, pelo voto direto, o presidente Fernando Collor de Melo. Para vencer as eleições, Collor exibiu um discurso centrado na denúncia da corrupção, na assistência às camadas mais desfavorecidas da sociedade e em promessas de mudanças profundas na economia do Brasil (CASTRO, 2011a). As reformas propostas por Collor, de fato, introduziram uma ruptura agressiva com o modelo brasileiro de crescimento com elevada participação do Estado e proteção tarifária. Logo, dois aspectos dessa reforma eram cruciais: as privatizações — e a consequente redução do tamanho do Estado — e a abertura econômica. Essas reformas iniciadas por Collor em 1990 seriam aprofundadas no governo seguinte, de Fernando Henrique Cardoso (FHC), a partir de 1994. No campo econômico, o governo Collor lançou dois planos de estabilização a fim de combater a inflação, naquele momento um problema econômico desenfreado. Assim, foram lançados os Planos Collor I e Collor II. Na prática, esses dois planos fracassaram em reduzir a inflação, resultando em recessão econômica e perda de credibilidade das instituições governamentais, em especial em razão do confisco das poupanças. Soma-se a isso uma série de escândalos e esquemas de corrupção que minaram o governo de Collor, levando ao impeachment. Com a posse de Itamar Franco, em 1992, deu-se continuidade ao processo de reformas neoliberais. E, o mais importante, foram lançadas as bases do programa de estabilização que daria fim à hiperinflação no País. Nesse sentido, o novo programa de estabilização incluiria uma nova moeda (o Real), a taxa de câmbio de âncora para os preços e os elevados juros básicos da economia. Essas estratégias tinham o objetivo de dar equilíbrio à demanda na economia brasileira e “quebrar” o comportamento indexador dos agentes. A consequência negativa foi o desempenho ruim da economia no que tange ao crescimento econômico. Na realidade, entre 1990 e 1994, o crescimento da economia brasileira foi bastante variado, com uma média de 1,3% ao ano. É importante você notar que, além das turbulências econômicas, nesse período, o Brasil passou também por várias turbulências políticas — frutos de uma redemocratização ainda em curso. De acordo com Castro (2011b), de fato, o sequestro de liquidez realizado no Plano Collor I, em 1990, gerou uma forte retração na economia brasileira — queda de 29 4,3% do produto interno bruto (PIB). Em 1992, o PIB voltou a cair, só que apenas 0,5%. Já em 1993–1994, a economia apresentou uma recuperação, com taxas de crescimento até expressivas, de 4,9% e 5,9%, respectivamente. Mas esse crescimento era fortemente puxado pelo bom resultado da agropecuária, que alavancava as exportações do País. Contudo, a crise mexicana, no final de 1994, conteve o crescimento econômico na sequência. Fonte: www.estadodaarte.estadao.com.brCom as reformas neoliberais e a abertura econômica, a balança de pagamentos foi positiva no começo de 1990, mas depois as importações aumentaram continuamente ao longo de todo o período. Em suma, o País passou a ter ofertas (de produtos) de todo o mundo, mudando a estrutura de preços internos. Já os fluxos de capital para o Brasil mudaram drasticamente, com os investimentos líquidos em carteira (muito de capital para especulação) predominando frente aos investimentos diretos. Na prática, os elevados juros domésticos favoreciam os investimentos especulativos no Brasil (GIAMBIAGI, 2011a). Com relação à dívida externa, entre 1995 e 1998 houve um desgaste dos indicadores de endividamento. A âncora cambial do Plano Real ficou muito desgastada com a crise da Ásia em 1997 e entrou em colapso com a crise da Rússia em 1998. Em todas elas, o Brasil foi seriamente afetado pelo “efeito contágio”, com a redução dos fluxos de capitais para o País e, em algumas situações, a própria fuga dos capitais que aqui já estavam (CASTRO, 2011b). Em 1999, a reeleição de FHC possibilitou a continuidade de um Brasil neoliberal. Com a crise, o câmbio fixo foi modificado para câmbio flutuante — e um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) deu fôlego ao País para renegociar 30 os seus débitos com o resto do mundo. A desvalorização cambial do Real foi a tônica do segundo mandato de FHC. Nesse cenário, o governo tomou novas medidas para elevar a taxa de juros básica. Além disso, consolidou os estudos para a adoção do sistema de metas de inflação, que há anos vinha sendo implementado em diversos países. O País, então, iniciou um processo de retomada de crescimento que só viria a ser abortado — mais uma vez — pela combinação de crises em 2001 (GIAMBIAGI, 2011a). Em 2001, a economia brasileira foi fortemente afetada por uma combinação de eventos, incluindo a crise de energia, a crise argentina e os atentados terroristas de 11 de setembro. Nesse cenário, o crescimento do País foi prejudicado, comprometendo o desempenho econômico do segundo governo de FHC. Em 2002, a derrota do candidato do governo nas eleições presidenciais se refletiria em novos tempos para o Brasil. 3.3 O Brasil pós-2003 A partir de 2003, o Brasil viveu um novo período político-ideológico, com a posse de Lula e a ascensão da esquerda ao poder, por meio do Partido dos Trabalhadores (PT). Esse período perduraria até 2015, ou seja, até o impeachment de Dilma Rousseff — totalizando três mandatos (2003–2006, 2007–2010, 2011–2014) e meio (2015) do PT. Do ponto de vista econômico, a perspectiva de um governo do PT servia como um teste importante para a economia brasileira, em razão das críticas ao modelo neoliberal e à dependência dos financiamentos do Fundo Monetário Internacional (FMI). Em 2002, o mercado financeiro ficou muito preocupado com a ascensão de Lula nas pesquisas para a presidência da República (GIAMBIAGI, 2011b). Em que pesem análises que procuravam fugir do pessimismo, muitos analistas internacionais temiam que o governo decretasse de alguma forma uma moratória da dívida externa em 2003, já que muitos julgavam que o PT adotaria políticas populistas e extremamente contra o mercado. Era o momento histórico em que os trabalhadores poderiam implementar um novo projeto de poder e de sociedade. Entretanto, à medida que o PT governava o Brasil — a partir de 2003 —, as suas perspectivas de poder e de sociedade iam se aproximando do centro político, o 31 que levou ao abandono de algumas ideias “radicais” de política econômica, como a “defesa da moratória da dívida externa” (GIAMBIAGI, 2011b). Ou seja, houve uma moderação no discurso do partido de esquerda que, naquele momento, ocupava o poder no Brasil. Assim, o Brasil pós-2003 manteve um conjunto de medidas econômicas — conjunturais e estruturais — que eram mais alinhadas ao modelo neoliberal do que ao modelo de esquerda. Portanto, além de continuar o pagamento da dívida externa, o PT deu sequência ao sistema de metas inflacionárias. O partido também continuou respeitando os limites de endividamento, o superávit primário e a manutenção dos indicadores econômicos conforme as recomendações do mercado e dos organismos internacionais. Na prática, o modelo de desenvolvimento econômico implementado pela esquerda do PT preservou a estabilidade macroeconômica forjada com o Plano Real. Contudo, as políticas públicas restritivas foram substituídas por políticas públicas expansionistas, em que o propósito era que o gasto público chegasse às classes sociais efetivamente mais necessitadas. Isso significa que existiu, por parte dos governos Lula e Dilma Rousseff, um esforço para levar o Brasil ao crescimento e ao desenvolvimento econômico. Nesse sentido, o Estado readquiriu o protagonismo econômico para todos os grandes projetos de investimento da economia brasileira, especialmente os investimentos em infraestrutura (rodovias, portos, aeroportos, grandes instalações, entre outros). O desempenho da economia brasileira a partir de 2003 foi decisivamente influenciado pela evolução da economia internacional e por cumprir, sobretudo, o sistema de metas de inflação. De 2003 até 2010, o País superou os efeitos da crise de 2002 e avançou no crescimento econômico. Nesse contexto, o Brasil inclusive viveu bons momentos econômicos, apesar da crise internacional de 2008, que colocou os Estados Unidos e a Europa em recessão. Nessa conjuntura — de 2003 até 2010 —, a economia política brasileira foi beneficiada por um conjunto de fatores internos e externos, como: O crescimento da economia chinesa; A elevada demanda das commodities brasileiras; As novas explorações energéticas (especialmente etanol e pré-sal); 32 Os eventos esportivos globais, como a copa do mundo de 2014 e as olimpíadas de 2016. No mercado doméstico, o Brasil viveu um crescimento acelerado do consumo interno. Os aumentos reais do salário mínimo e um conjunto de políticas públicas de renda e financiamento permitiram um consumo crescente pela sociedade brasileira. Em outras palavras, era uma combinação de recursos fáceis, crescimento econômico acelerado e inflação relativamente baixa. Isso tudo se completou com a melhoria da distribuição de renda, que passou a incluir um contingente populacional antes excluído no mercado de consumo. Esse deslocamento social elevou a popularidade de Lula, que passou a ser visto como uma figura emblemática para a política e a população brasileiras. Fonte: www.arquidiocesedemanaus.org.br Porém, a partir de 2011, com a posse de Dilma Rousseff, o Brasil passou a sentir os efeitos de um novo cenário externo e do esgotamento do Estado como protagonista da economia. Primeiro, você deve notar que os efeitos da crise internacional de 2008 começaram a chegar no Brasil, sobretudo os efeitos da queda dos preços das commodities. Além disso, o Estado brasileiro passou a ter problemas para manter o protagonismo na economia, como o agente econômico que guia os investimentos públicos e privados. (GIAMBIAGI, 2011b). Resumindo, em 2015, o Brasil voltou a um cenário de elevada inflação, baixo crescimento econômico, elevado nível de desemprego e piora de diversos indicadores sociais. Muitos economistas revelaram que o País, ao menos do ponto de vista dos 33 indicadores sociais, havia perdido boa parte das conquistas sociais e de renda obtidas entre 2003 e 2014. O fato é que, mesmo nesse período de crise econômica e política aguda, o PT deu continuidade às suas políticas econômicas alinhadas ao mercado, confirmando, ao longo de 14 anos, que rompera com a ruptura “dos trabalhadores”. No momento em que Dilma Rousseff começou a violar a liberdade do mercado, a, com ou sem justificativa, violar o sistema de metas de inflação e a desarrumar as contas públicas, o seu governo entrouem rota de colisão com os agentes econômicos alinhados à cartilha neoliberal. (GIAMBIAGI, 2011b). O impeachment de Dilma Rousseff abriu um período de transição — econômica e política — em que o seu vice, Michel Temer, assumiu o poder e passou a restaurar uma agenda neoliberal: com privatizações, ajustes no tamanho do Estado, reformas fiscais, trabalhistas e previdenciárias, bem como com os “rigores” do tripé macroeconômico (metas de inflação, metas fiscais e câmbio flutuante). 4 A CRISE ECONÔMICA BRASILEIRA DE 2015 A crise econômica brasileira que estourou em 2015 começou a ser formada em meados de 2011 e 2012, com a implantação de uma Nova Matriz Econômica (NME). A NME foi uma política implementada pelo Governo da época e se baseava no controle do câmbio, no aumento dos gastos públicos (expansão fiscal) e na redução dos juros. Em 2012, o Brasil era um país que havia conseguido manter a inflação controlada dentro das metas estabelecidas desde 2004. Ele havia alcançado o equilíbrio das contas públicas por meio de grandes resultados fiscais e da redução da sua dívida. Além disso, os investimentos cresciam acima do PIB. Contudo, o País ainda não tinha conseguido vencer um grande problema: os juros altos. Os juros da economia brasileira não eram condizentes com uma economia estável e segura. E o Governo entendeu que as causas dos juros altos eram o câmbio valorizado e a carga tributária elevada. Por isso, o Governo, em 2012, elegeu como prioridade a redução dos juros da economia, por meio de estímulos ao investimento, redução da carga tributária e controle de preços. Essas medidas eram uma tentativa de aumentar a competitividade 34 do Brasil e atrair capital produtivo. O Banco Central do Brasil (BCB) reduziu a taxa base de juros, e o Governo desonerou a folha de pagamentos de alguns setores e reduziu o preço da energia elétrica. Esses movimentos foram realizados esperando que o capital estrangeiro entrasse no País não para especulação, mas para investimento em produção, gerando emprego e renda. (GIAMBIAGI, 2011b). No entanto, em 2012 a inflação voltou a acelerar, o que exigiu um aumento da taxa de juros. No entanto, a política de redução de juros da NME foi realizada e a taxa do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic) foi reduzida, o que fez a taxa real de juros ficar abaixo de 2% ao ano. Isso, por sua vez, levou a taxa de inflação a aumentar ainda mais, como você pode observar na Figura 1. Ainda visando à expansão de investimentos, o Governo injetou dinheiro no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A ideia era tentar ampliar os investimentos e gerar um ciclo vicioso na economia, ou seja: investimentos gerariam empregos, que estimulariam a demanda, que, por sua vez, geraria mais investimentos. Entretanto, muitos desses investimentos do BNDES não foram utilizados com eficiência para beneficiar empresas estratégicas, o que não gerou bons resultados. Com o mesmo intuito, alguns setores considerados estratégicos receberam proteção e subsídios, como a indústria naval e a automotiva. Outro setor estratégico escolhido foi o petróleo. Com o pré-sal em jogo, o objetivo era fortalecer uma indústria petrolífera brasileira, mas essa política não apresentou os resultados esperados. 35 A política de controle de preços afetou diretamente a Petrobras, fazendo com que a empresa perdesse muito dinheiro, pois ela vendia a gasolina a um preço menor do que aquele pelo qual a comprava no mercado internacional. Sem crescimento significativo na sua produção, intensificando os investimentos e com o preço da gasolina controlado, o endividamento da Petrobras aumentou. Outro setor que sofreu forte impacto do controle de preços foi o de energia elétrica. Em meio a um período de escassez, em 2013 o Governo reduziu as tarifas de energia, o que levou a uma descapitalização das empresas de energia. Em 2015, essa política de preços não pôde mais ser sustentada, e os preços foram liberados, acarretando um choque de oferta, o que fez o BCB elevar novamente a taxa de juros. Como você pôde perceber, muito dinheiro público foi utilizado para colocar em prática os planos do Governo. Nesse período, a taxa doméstica de investimento foi elevada, mas não houve o crescimento econômico esperado e ainda ocorreu uma diminuição na Produtividade Total dos Fatores (PTF), reduzindo o PIB brasileiro. A intervenção do Governo gerou um déficit nas contas públicas, como você pode observar na Figura 2. Esse movimento foi acompanhado por uma queda no PIB, que passou de um crescimento de 3% em 2013 para 0,5% em 2014, finalmente chegando a –3,8% em 2015. O Brasil gastou muito em pouco tempo para estimular o crescimento da economia, mas esse crescimento não ocorreu. Veja, na Figura 2, que, até 2013, as receitas do Governo eram maiores que as despesas, mas a partir de 2014 esse cenário começa a mudar. Em 2015, as despesas já são maiores que as receitas. E mesmo diante de uma diminuição do PIB, o Governo não conseguiu reduzir seus gastos. Em 2015, a redução de gastos foi de apenas 1,1% diante da redução de 3,8% do PIB. Essa falha no ajuste fiscal também pode ser atribuída ao péssimo momento político que o Brasil vivia. Como você deve saber, o Governo da época estava enfraquecido, principalmente pelos vários escândalos de corrupção, e não conseguiu levar adiante suas propostas de cortes nos gastos. (GIAMBIAGI, 2011b). 36 Esse cenário ficou ainda pior com a descoberta das “pedaladas fiscais” efetuadas intensivamente desde 2013. A administração pública federal propositalmente atrasava os repasses para órgãos das autarquias e bancos públicos com a finalidade de encobrir as suas despesas e enganar o balanço das contas públicas. Dessa forma, os bancos públicos emprestavam disfarçadamente dinheiro ao Governo. Mesmo sem o devido repasse, os bancos continuavam pagando as despesas do Governo, como os programas sociais, com recursos próprios. Esse ato é considerado crime pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), implementada em 2000 com a finalidade de proporcionar um controle maior dos gastos públicos. No art. 36 dessa lei (BRASIL, 2000), consta que é proibida a operação de crédito entre uma instituição financeira estatal e o ente da Federação que a controle, na qualidade de beneficiário do empréstimo. Essa proibição foi imposta visando a uma gestão fiscal responsável, porque esse tipo de operação mascara os dados reais das contas públicas e aparenta o cumprimento das metas fiscais estabelecidas em lei, enquanto isso, na verdade, não está acontecendo. O que estava acontecendo era que o Brasil enfrentava graves dificuldades financeiras e um desequilíbrio fiscal. Esse rombo nas contas públicas e uma dívida crescente elevaram o risco- - Brasil, contribuindo ainda mais para a redução de investimentos no País, para a diminuição do consumo (devido à incerteza em relação à economia) e para o aumento dos juros. 37 O déficit no orçamento do Governo também influenciou ainda mais o aumento da inflação. Isso ocorreu porque, para cobrir esse déficit, o Governo emitiu títulos do Tesouro Nacional, cuja maioria é comprada pelos bancos por meio da criação de moeda. 4.1 Impactos da crise econômica na sociedade brasileira Como você viu, a economia do Brasil estava muito fragilizada devido a uma série de insucessos. Obviamente, isso impactou diretamente a sociedade de diversas formas. Aqui, você vai ver três desses impactos. O principal é o aumento do desemprego. Como você pode ver na Figura 3, em 2014, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 6,8% da população economicamente ativa estava desocupada. Em 2015, esse número passou para 8,5%, o que corresponde a 8,6 milhões de brasileiros desempregados (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, c2018).Segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), pesquisa divulgada pelo Ministério do Trabalho, em 2015, 1,510 milhão de empregos formais fecharam no Brasil (BRASIL, 2015). Com a diminuição de empregos formais e o aumento do número de desempregados, o salário médio do brasileiro caiu. Em 2014, 38 o salário médio era R$ 1.950, mas em 2015 esse valor passou para R$ 1.853 (BRASIL, 2015). A alta taxa de desemprego continuou persistindo em 2016, o que fez crescer o número de empregos informais. Assim, muitos brasileiros voltaram a trabalhar fazendo “bicos”, trabalhos sem renda fixa e sem os direitos e as garantias de um emprego com carteira assinada. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), no final de 2016, 45% da população que estava trabalhando encontrava-se na informalidade (DEUTSCHE WELLE, 2017). Como você já viu anteriormente, em 2015 a inflação voltou a subir. Observe esse movimento na Figura 4. A inflação é o aumento generalizado dos preços. Dessa forma, o aumento da inflação faz com que a população perca poder de compra, pois os produtos e serviços se tornam mais caros. Outro impacto na população foi a alta do dólar; o real teve uma enorme desvalorização. Os exportadores veem isso com bons olhos, porque os produtos brasileiros ficam mais baratos em relação aos produtos de outros países. Mas, para a população em geral, a alta do dólar significa o encarecimento de viagens ao exterior e o aumento do preço dos produtos importados. Em 2015, o dólar chegou a valer mais de R$ 4,00 e as despesas dos brasileiros no exterior caíram de US$ 25,567 bilhões em 2014 para US$ 17, 357 bilhões em 2015, uma queda de mais de 32%. Observe a Figura 5, com os dados dos gastos de 2010 a 2016. 39 4.2 Soluções e caminhos traçados para sair da crise Depois de o Brasil entrar em uma grave crise econômica, o que resta agora é pensar em alternativas que tirem o País desse grande retrocesso. E, para isso acontecer, é preciso criar novamente um ambiente favorável a investimentos permanentes do setor privado que gerem emprego e renda, além de diminuírem os juros e a inflação. (GIAMBIAGI, 2011b). O maior e mais importante passo a ser dado, defendido por diversos economistas brasileiros, é o ajuste fiscal por meio da redução de gastos. O Governo precisa cortar gastos desnecessários para conseguir fechar as contas. Para isso, precisa avaliar a eficácia de órgãos e programas governamentais. Quando se fala em corte dos gastos públicos, você deve considerar o corte nos gastos correntes, ou seja, nos gastos realizados para manter a máquina pública. Mas a tendência do Governo é cortar os gastos com investimentos devido à rigidez orçamentária no Brasil. O projeto de emenda constitucional do teto dos gastos públicos foi um passo importante dado pelo Governo para tentar ajustar as contas. O teto dos gastos públicos estabelece um limite para o crescimento dos gastos de 2017 a 2037. A ideia é que os gastos públicos não podem crescer mais do que a inflação, e os órgãos públicos estão sujeitos a punições se as metas não forem cumpridas. Essa emenda 40 constitucional sinaliza para a economia um controle nas contas públicas e a potencial criação de um superávit. A reforma da Previdência é outro fator que visa colaborar com a redução dos gastos do Governo. O País vive um bônus demográfico, ou seja, a maior parte da população é economicamente ativa, mas, com a queda da taxa de natalidade, esse bônus é temporário e possui prazo para acabar. E, mesmo com o bônus demográfico, o Brasil já gasta 20% do PIB em previdência; esse gasto é semelhante ao de países considerados mais velhos. O corte de gastos também é importante para recuperar a poupança doméstica e, consequentemente, o investimento em infraestrutura. Como você deve saber, esse tipo de investimento é essencial para o País voltar a crescer. A redução dos gastos públicos impacta positivamente a inflação. Como o Governo passa a gastar menos, então a demanda de produtos e serviços consumidos Governo por ele cai, e isso também impacta o mercado de trabalho e a população assalariada. Todos esses fatores colaboram para a redução do nível de incertezas na economia e tornam o País mais atrativo a investimentos, o que permite uma redução nos juros básicos. (GIAMBIAGI, 2011b). 5 SISTEMA ECONÔMICO BRASILEIRO Sistema é entendido como um conjunto de elementos articulados entre si, que devem ser analisados de forma integrada. No sistema econômico, um elemento essencial é o trabalho, utilizado pelo homem para melhorar seu padrão de vida, objetivando o bem-estar como base na lógica do desenvolvimento. No Brasil, o sistema econômico está centrado no sistema capitalista, que adota os paradigmas de liberdade de produção, em oposição à participação do Estado como agente econômico, e reforça a propriedade privada. A economia brasileira teve diversas transformações ao longo do tempo, desde a colonização, cuja formação econômica foi pautada na elevada concentração de terras, na monocultura da cana-de-açúcar e na utilização de mão de obra escrava, principalmente de africanos. Mesmo com a independência do Brasil de Portugal, o sistema colonial deixou fortes marcas na estrutura econômica e na sociedade 41 brasileira, ainda muito presentes nos tempos atuais. Celso Furtado (2001, p. 39) explica que: A exploração do Brasil […] foi uma empresa concebida nos mesmos termos do Império das Índias: como um simples empreendimento comercial. As necessidades da colonização mudarão, entretanto, a fisionomia externa da nova empresa. Essa mudança, porém, afetará apenas a roupagem exterior. O sentido de empresa comercial se conservará bem marcado. Esse sentido, que será o da evolução econômica da colônia, presidirá a formação da sociedade. A análise da economia colonial é tão importante para a compreensão da economia brasileira quanto a da formação histórica de Portugal para compreender-se a razão de ser das grandes expedições e o sentido que tomou a empresa de colonização. Posteriormente, com a expansão da produção cafeeira, houve a chegada de imigrantes europeus para trabalharem nas fazendas, atraídos por oportunidades de emprego e esperanças de terem suas próprias terras em um futuro próximo. Nesse período, também ocorreu a abolição da escravatura no Brasil, forçada pela própria estrutura que não mais estava satisfeita com esse tipo de organização. Em seguida, houve a Proclamação da República, com a intenção de transformar o país em uma grande república. Esses acontecimentos fizeram com que o salário fosse introduzido nas relações de trabalho. O trabalho remunerado fez com que o Brasil fosse inserido na ordem mundial capitalista, ainda que tardiamente, já que por muitos anos a divisão se deu pelos senhores (que concentravam a riqueza) e pelos escravos (forçados ao trabalho sem remuneração). Por muitos anos, a economia brasileira funcionava em torno do café, voltado principalmente para a exportação, como o principal produto do Brasil. No entanto, a partir de 1906, o mercado do café começou a sentir fortes impactos de acontecimentos externos, o que levou o governo a intervir nesse cenário, com a compra do café excedente, proibindo a ampliação das plantações e facilitando os empréstimos externos para compra do excedente produzido. Até que em 1929, o cenário se agravou com a queda da Bolsa de Nova York, que provocou uma grande crise mundial. O café brasileiro passou a não ser mais comprado, e os excedentes foram aumentando e sendo queimados pelo governo brasileiro. A partir desse momento histórico, a participação do Brasil no mercado internacional do café foi decrescendo. No início do século XX, o Brasil chegou a deter 80% do total do mercado internacional do café. Já na década de 1990, dominava apenas entre 25% e 30% do mercado, tendo
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