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APOSTILA-GEOGRAFIA-ECONÔMICA (2)

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GEOGRAFIA ECONÔMICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GUARULHOS – SP 
 
2 
 
SUMÁRIO 
 
1  INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 4 
2 AS PRINCIPAIS CORRENTES ECONÔMICAS .................................................... 5 
2.1  Liberalismo econômico ....................................................................................... 5 
2.2 Keynesianismo .................................................................................................... 7 
2.3 Neoliberalismo econômico .................................................................................. 8 
2.4 A crítica marxista da economia ........................................................................... 9 
2.5 Os conceitos de cada corrente econômica ....................................................... 11 
3  ECONOMIA POLÍTICA BRASILEIRA .................................................................. 19 
3.1 Do “milagre econômico” à crise da dívida externa ............................................ 19 
3.2 Do desequilíbrio inflacionário à reforma neoliberal ........................................... 24 
3.3 O Brasil pós-2003 ............................................................................................. 30 
4  A CRISE ECONÔMICA BRASILEIRA DE 2015 ................................................... 33 
4.1  Impactos da crise econômica na sociedade brasileira ...................................... 37 
4.2 Soluções e caminhos traçados para sair da crise ............................................. 39 
5  SISTEMA ECONÔMICO BRASILEIRO ................................................................ 40 
5.1 Características do sistema econômico brasileiro atual ..................................... 44 
5.2 Economia informacional .................................................................................... 47 
5.3 Atividades econômicas regionais ...................................................................... 49 
5.4 Produção de energia no Brasil .......................................................................... 52 
6  MERCOSUL ......................................................................................................... 56 
6.1 Formação e características ............................................................................... 56 
7  EMPREGABILIDADE NOS SETORES DA ECONOMIA ...................................... 60 
7.1  Impacto da tecnologia na mão de obra ............................................................. 60 
7.2 Emprego informal .............................................................................................. 62 
7.3 Desemprego e crescimento do setor terciário .................................................. 63 
 
3 
 
7.4 Terceirização de serviços no Brasil .................................................................. 64 
7.5 Processos econômicos e favelização nos espaços urbanos do Brasil ............. 65 
BIBLIOGRAFIA BÁSICA ......................................................................................... 69 
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ........................................................................ 69 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Prezado aluno! 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora 
que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
2 AS PRINCIPAIS CORRENTES ECONÔMICAS 
 
Do século XVII até o século XX, surgiram três importantes conceitos acerca da 
economia: o liberalismo, o keynesianismo e o neoliberalismo econômico. Essas três 
linhas de pensamento da economia política criaram ideias e visões próprias da 
economia, quase sempre antagônicas e raramente complementares. Isso porque a 
economia é uma ciência social, que permite que políticos, teóricos e agentes 
socioeconômicos defendam variadas perspectivas acerca do mesmo objeto de 
estudo: a atividade econômica. 
 
2.1 Liberalismo econômico 
 
O liberalismo econômico surgiu ao longo dos séculos XVII e XVIII como uma 
doutrina ideológica que se posicionou contra a ideologia absolutista que reinava 
naquele período. Ou seja, o liberalismo é um substrato ideológico das revoluções 
antiabsolutistas que aconteceram — fundamentalmente — na Inglaterra e na França 
(BELL, 1961; SANDRONI, 2005). 
 
 
 
 
 
 
Fonte: www.todapolitica.com 
Assim sendo, o liberalismo econômico brotou no seio — e nos anseios de poder 
— da burguesia nascente, que ganhava naquela época importância e relevância nos 
Estados-nação a partir da Revolução Industrial (JAMES, 1984). Dessa forma, o poder 
 
6 
 
burguês rivalizava com as aristocracias em decadência e ia contra o absolutismo dos 
monarcas. Em poucas palavras, o liberalismo econômico queria uma nova lógica 
social e econômica. 
Nesse contexto, o liberalismo econômico defendia um conjunto de ideias e 
medidas que eram, na época, revolucionárias, a saber: (1) ampla liberdade individual; 
(2) democracia representativa com a separação em três poderes (executivo, 
legislativo e judiciário); (3) direito inalienável à propriedade privada; (4) livre iniciativa 
e concorrência como basilares para a garantia dos interesses individuais e o progresso 
das sociedades capitalistas (SANDRONI, 2005). 
Um dos principais conceitos do liberalismo econômico é o “laissez-faire, 
laissez-passer” (“deixar fazer, deixar passar”). A ideia é de que não há lugar para a 
ação e a intervenção econômica do Estado-nação, que tem somente a função de 
garantir a livre-concorrência entre as firmas e os agentes econômicos, e o direito à 
propriedade privada quando essa for ameaçada por convulsões sociais e revoluções. 
Logo, o Estado passa a ser somente — e nada mais — um regulador e garantidor das 
riquezas e da mais-valia. 
Historicamente, o pensamento econômico liberal forjou-se no seio das 
transformações sociais, econômicas e políticas da Revolução Industrial (SANDRONI, 
2005). Diversos historiadores destacam que o liberalismo econômico se iniciou com 
François Quesnay — mas, ganhou contornos teóricos com os trabalhos de Adam 
Smith, John Stuart Mill, David Ricardo, John Say, Thomas Malthus, entre outros 
clássicos. 
Acreditava-se, naquela ocasião, que a economia, tal como a natureza física, 
era regida por leis universais e imutáveis, em que o homo economicus — livre do 
Estado e das pressões de grupos sociais — poderia realizar sua tendência natural de 
alcançar o máximo de lucro com o mínimo de esforço. 
Isso se aplicava também às relações econômicas internacionais — ou seja, ao 
comércio entre os Estados-nação da época. Logo, os princípios da liberdade 
econômica aplicados ao comércio internacional levaram à política do livre-cambismo 
— condenando as antigas práticas mercantilistas, as barreiras alfandegárias e os 
protecionismos nacionais (SANDRONI, 2005). 
 
7 
 
Atualmente, oliberalismo econômico mantém-se — essencialmente — no 
plano retórico, pois, na prática, existe muito dirigismo econômico na sociedade 
capitalista moderna (SILVA, 2010). 
 
2.2 Keynesianismo 
 
O keynesianismo surgiu no momento em que a economia mundial sofria os 
efeitos adversos da crise de 1929, durando toda a década de 1930 até o início da 
Segunda Guerra Mundial. Nessa escola do pensamento econômico, a intervenção do 
Estado na vida econômica é fundamental, e as políticas básicas são sugeridas na 
principal obra de John Maynard Keynes, A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da 
Moeda. 
As visões do keynesianismo propunham solucionar os problemas econômicos, 
em especial o problema do desemprego, pela intervenção estatal — desencorajando, 
assim, o entesouramento, em prol das despesas produtivas e dos gastos agregados. 
Em outras palavras, o Estado tinha na economia, sobretudo, em períodos de 
crise/depressão econômica, a função de manter elevados a demanda e o consumo 
agregados. 
Com a demanda agregada elevada era possível manter os investimentos 
públicos e privados aquecidos. Além do mais, esse cenário permitia manter a taxa de 
juros baixa — beneficiando novos investimentos. Em termos práticos, as grandes 
despesas governamentais seriam responsáveis pela retomada de uma economia em 
crise/depressão econômica (SANDRONI, 2005). 
De fato, sob o estímulo de grandes gastos do Estado, impostos pela Segunda 
Guerra Mundial, a crise do desemprego nas décadas de 1930 e 1940 deu lugar à falta 
de mão-de-obra na maioria dos países. Em poucas palavras, diferentes economistas 
keynesianos passaram a defender que o capitalismo poderia ser salvo, desde que os 
governos soubessem fazer uso de seu poder de cobrar impostos, reduzir juros, 
contrair empréstimos e gastar dinheiro (SILVA, 2010). 
Conforme Sandroni (2005), após a Segunda Guerra Mundial, o pensamento 
keynesiano converteu-se em ortodoxia, ou seja, em teoria dominante, tanto para os 
economistas quanto para a maioria dos políticos. Nesse contexto, o keynesianismo 
econômico lançou raízes, sobretudo, nos Estados Unidos. Isso porque os Estados 
 
8 
 
Unidos estavam temerosos de que o fim da Segunda Guerra pudesse provocar uma 
nova recessão econômica em todo o mundo capitalista. 
Assim sendo, o foco conceitual do keynesianismo econômico estava na 
atuação a longo prazo do Estado, mediante o uso sistemático de políticas monetárias 
e fiscais expansionistas. A chamada teoria do declínio das oportunidades de 
investimento seria corrida pelo Estado, evitando que a economia capitalista entrasse 
constantemente em crises/depressões. Portanto, o Estado interventor seria 
fundamental — inclusive — para garantir a sobrevivência sistêmica do capitalismo. 
 
2.3 Neoliberalismo econômico 
 
Apesar do neoliberalismo econômico ser uma doutrina político-econômica que 
se estruturou no final dos anos 1930, foi somente a partir dos anos 1980 que ganhou 
projeção internacional a partir da Inglaterra e dos Estados Unidos. Isso porque, após 
os dois choques do petróleo — em 1973 e 1979 — o mundo capitalista e comunista 
(com a União Soviética) presenciou o esgotamento do modelo de intervenção estatal. 
Naquele momento, nascia um novo mundo do ponto de vista social, econômico e 
político. 
 
Fonte: www.eleconomista.es 
Os primeiros autores neoliberais — ou novos liberais — foram o norte- -
americano Walter Lippmann, os franceses Jacques Léon Rueff, Maurice Allais e L. 
Baudin, e os alemães Walter Eucken, Wilhelm Röpke e Müller-Armack (SANDRONI, 
 
9 
 
2005). Somam-se ainda a esses autores, o norte-americano Milton Friedman e o 
economista austríaco Friedrich August von Hayek. 
O neoliberalismo econômico nada mais é do que o resgate de diversos 
conceitos e ideais do liberalismo clássico. Como a escola liberal clássica, os 
neoliberais acreditam que a vida econômica é regida por uma ordem natural formada 
a partir das livres decisões individuais e cuja mola-mestre é o mecanismo de preços 
(SANDRONI, 2005; SILVA, 2010). 
No entanto, o neoliberalismo econômico trabalha com a perspectiva de uma 
regulamentação da economia de mercado, não para controlá-lo, mas para garantir-lhe 
sobrevivência. Por quê? Basicamente, porque não acreditam — os economistas 
neoliberais — na “autodisciplina espontânea do sistema capitalista”. Nesse caso, para 
que o mecanismo de preços (ou melhor, o equilíbrio de preços) exista ou se torne 
possível, é necessário assegurar a estabilidade financeira e monetária do sistema. 
É por isso que os neoliberais se preocupam com o controle governamental da 
moeda, do câmbio, e dos gastos públicos. Sem isso, os movimentos econômicos 
podem tornar-se viciados. Quanto maiores forem os vícios na economia, mais 
imperfeitos são os mercados e as suas estruturas. Por isso o disciplinamento da 
ordem econômica precisa ser feito pelo Estado, para combater os excessos da livre 
concorrência e pela manutenção dos chamados mercados livres concorrenciais 
(SANDRONI, 2005). 
Atualmente, o termo neoliberalismo vem sendo aplicado constantemente 
àqueles economistas e políticos que defendem a livre atuação das forças de mercado, 
o fim do intervencionismo do Estado, a privatização das empresas públicas e até 
mesmo de alguns serviços públicos essenciais e a abertura da economia para um 
mercado globalizante e para os mecanismos de integração entre os mercados 
capitalistas. 
 
2.4 A crítica marxista da economia 
 
A crítica marxista da economia (ou o marxismo) é uma denominação teórica 
consagrada a partir da obra de Karl Marx e Friedrich Engels. Pode ser não apenas 
uma doutrina econômica, mas igualmente uma filosofia e uma sociologia. Por ser, 
grosso modo, uma crítica ao capitalismo, ou uma crítica à economia política, constitui-
 
10 
 
se na fundamentação ideológica do moderno comunismo — em especial, aquele que 
existiu sob a influência da União Soviética (SILVA, 2010). 
As principais críticas de Karl Marx à economia política estão expostas na obra 
O Capital. Nessa obra, ele expõe a teoria da mais-valia e considera o capitalismo um 
modo de produção transitório, sujeito a diversas crises econômicas cíclicas e que 
agravam as suas contradições internas, dando lugar ao modo de produção socialista 
(SANDRONI, 2005), através da ação revolucionária (SANDRONI, 2005). Em outras 
palavras, o marxismo não crítica totalmente o capitalismo — já que o considera como 
uma etapa historicamente imprescindível no progresso econômico. 
Além disso, no centro da análise marxista está a visão de que a sociedade está 
dividida em: burguesia — uma minoria que possui os meios de produção — e 
proletariado — uma maioria que constitui a força de trabalho (KISHTAINY et al., 2013). 
Isso significa que, sob o capitalismo, os meios de produção são de uma minoria, que 
detém sua propriedade (privada). Na prática, a constante ganância do lucro leva a 
uma superprodução dos bens demandados pela sociedade, causando baixas na 
economia. 
Assim, temos que, no capitalismo, “uma minoria explora o trabalho de uma 
maioria, e obtém o lucro” (ou, a chamada mais-valia, absoluta e relativa). Nesse 
sentido, Marx desenvolve o conceito de mais-valia como trabalho excedente, não-
pago, fonte do lucro, dos juros e da renda da terra. É a partir da mais-valia que Marx 
analisa o processo de acumulação de capital no sistema capitalista, mostrando a 
correlação entre a crescente acumulação e concentração de capital e a pauperização 
do proletariado em geral (SANDRONI, 2005). 
O problema é que, inadvertidamente, essa relação falha constantemente, 
levando a economia a uma série infindável de crises econômicas. Essas crises 
econômicas geram agitação social e pressões para que a opressão burguesa seja 
eliminada, resultando em uma revolução, em que os trabalhadores derrubam a classe 
dominante e controlam os meios de produção. Essa seria a dita revolução comunista 
(KISHTAINYet al., 2013). 
Nesse sentido, o marxismo político considera que a luta de classes é o motor 
da história e que o Estado é sempre uma instituição a serviço da classe dominante, 
cabendo, portanto, ao proletariado — como classe revolucionária de vanguarda — 
 
11 
 
lutar pela conquista do Estado e de suas funções públicas. Logo, cria-se um Estado 
da ditadura do proletariado (SANDRONI, 2005). 
Segundo Marx, essa ditadura do proletariado seria o início de uma revolução, 
para posteriormente, no longo prazo, implementar uma forma de socialismo em que o 
poder econômico estaria nas mãos de uma maioria (SILVA, 2010). 
Essas críticas foram tecidas não apenas por Karl Marx e Friedrich Engels, mas 
por outros autores, que também adotaram uma visão marxista da economia política, 
como: Mao Tsé-tung, León Trotski, Antônio Gramsci, Rosa Luxembrugo, Lukács, Tito, 
Louis Althusser e outros. 
 
Fonte: www.outubrorevista.com.br 
Outro aspecto importante observado pela crítica marxista refere-se à tendência 
no capitalismo de que cada vez menos produtores controlem cada vez mais meios de 
produção. Ou seja, o sistema capitalista é por natureza um sistema concentrador de 
riqueza (KISHTAINY et al., 2013). No longo prazo, a tendência são os monopólios e 
os oligopólios na economia de mercado. 
 
2.5 Os conceitos de cada corrente econômica 
 
Cada corrente do pensamento econômico elaborou um conjunto de conceitos 
teóricos fundamentais. Logo, o liberalismo, o keynesianismo, o neoliberalismo e o 
marxismo organizaram uma visão geral — cada uma das escolas — da economia e 
das relações sociais produtivas. Mais uma vez, é necessário destacar que cada escola 
do pensamento econômico adquiriu uma visão quase sempre antagônica e raramente 
similar acerca do sistema econômico. 
 
Principais teorias do liberalismo 
 
12 
 
Fundamentalmente, a preocupação central dos autores liberais é o crescimento 
econômico no longo prazo e o modo como a distribuição de renda entre as diversas 
classes sociais influência tal crescimento. Assim, o liberalismo preocupa-se com o 
destino do excedente econômico, que em última instância, define o ritmo da 
acumulação do capital (e, na prática, o crescimento econômico). 
Apesar disso, nem todos os liberais tiveram a mesma visão do processo de 
crescimento econômico, já que cada um estava condicionado por sua visão de mundo. 
Mesmo assim, as discordâncias dos autores clássicos (liberais) giravam em torno das 
mesmas preocupações (ARAÚJO, 1989). 
Para explicar o crescimento econômico, cada pensador foi compelido a instituir 
seu próprio instrumental analítico, que lhe permitisse o exame da realidade (SILVA, 
2010). Diante disso, foram concebidas algumas teorias, que apresentam a essência 
do pensamento clássico, como, por exemplo, a teoria da produção, a teoria do valor e 
da troca, a teoria da distribuição, a teoria da liberdade econômica e a teoria da 
população, a teoria do equilíbrio monetário, a teoria das saídas (ou Lei de Say), e a 
teoria do comércio internacional. Vejamos uma síntese de cada um deles. 
Na teoria da produção, os liberais revelaram que o empenho humano é que 
torna os bens disponíveis para a sociedade, e que são os bens, e não o ouro, que 
constituem de fato a riqueza de uma nação (SILVA, 2010). Isso significa que quanto 
mais produtiva fosse a nação, mais competitiva e opulenta ela seria. Na raiz dessa 
riqueza, surge a divisão do trabalho. Nesse sentido, a especialização do trabalho 
aumentou a destreza dos trabalhadores, poupando tempo na passagem de um tipo 
de trabalho para outro, além de incitar o crescimento da quantidade de trabalho que 
um dado número de pessoas pode executar. 
Na teoria do valor e da troca, a criação individual de excedentes permitiu que 
seus possuidores fizessem mais trocas, com os excedentes dos outros. Em termos 
práticos, isto exige que seu valor seja estabelecido pelo mercado, e apresenta o 
problema da explicação do motivo que determina o valor de um bem em troca por 
outros bens ou moeda (RIMA, 1977). A maior parte dos bens são reproduzíveis, ou 
seja, seu valor de troca deriva do trabalho. Sendo assim, David Ricardo introduziu o 
conceito de que toda mercadoria possui dois preços: o preço natural, equivalente ao 
valor do trabalho nele incorporado e o preço de mercado, que oscila em torno do valor, 
conforme a oferta e a demanda. 
 
13 
 
Na teoria da distribuição, a discussão gira em torno da determinação dos 
salários, dos lucros do capital e dos juros e, por fim, da renda da terra. Para Adam 
Smith, o salário deveria, mesmo nas classes mais inferiores de trabalhadores, ser o 
suficiente para o proletário sustentar a si, e a sua família (SILVA, 2010). Já os lucros 
de capital, da classe industrial, estão fortemente ligados aos salários da mão-de-obra, 
reduzindo quando os salários se elevam e, aumentando quando os salários diminuem. 
Por fim, a renda da terra é central à teoria da distribuição, pois é ela que determina as 
proporções de quotas de renda recebidas pela mão-de-obra e pelo capital (RIMA, 
1977). 
Na teoria da liberdade econômica, Adam Smith realizou considerações sobre 
as leis do mercado e a mão invisível. A ideia central era de que “o ser humano agia 
por impulsos egoístas” e pelo desejo de obter uma recompensa. Assim sendo, a busca 
do próprio interesse leva ao mais inesperado dos resultados: a harmonia social (SILK 
et al., 1978). 
Na teoria da população, há uma falta de concordância entre o poder de 
reprodução da espécie humana e a capacidade de produção dos meios de 
subsistência (HUGON, 1980). Em outras palavras, o que existe é uma diferença entre 
a taxa de crescimento da população e a taxa de crescimento dos meios de 
subsistência. Thomas Malthus afirmava que o aumento da população, quando não era 
contido, crescia a uma proporção geométrica, ao passo que a subsistência aumentava 
a uma proporção aritmética. O aspecto chave é que a subsistência está subordinada 
à lei dos rendimentos decrescentes. 
Na teoria do equilíbrio monetário, David Ricardo concluiu que em cada país 
existe, em um dado momento, certo estado de equilíbrio monetário que é peculiar, em 
função da atividade econômica, de seu sistema monetário e de sua estrutura bancária. 
Ele concluiu que o equilíbrio independe da quantia absoluta de metais preciosos 
existentes no mundo. Essa teoria conduz à conclusão de que só haveria equilíbrio 
monetário se houvesse liberdade de trocas internacionais (SILVA, 2010). 
Na teoria das saídas (ou Lei de Say), a teoria dos mercados, de Jean- -
Baptiste Say, é, sem dúvida, uma das suas mais notáveis contribuições à economia. 
A lei de Say surge como a apresentação simplificada da atividade econômica, num 
mundo onde reina a divisão do trabalho. Segundo Say (1983), a oferta global e a 
procura efetiva são necessariamente iguais — a oferta cria a sua própria procura. 
 
14 
 
Qualquer crescimento na oferta dos bens implicava num crescimento idêntico da 
demanda. 
Por fim, a teoria do comércio internacional, estava intimamente ligada à 
análise do valor e à distribuição. David Ricardo desenvolveu, a esse respeito, a 
conhecida teoria das vantagens comparativas, que completa as lacunas deixadas por 
Adam Smith com a teoria das vantagens absolutas. Isso significa que cada país vai 
se especializar naquilo que é mais capaz de produzir, mesmo que um país seja mais 
eficiente (do que o outro) na produção de todos os bens (SILVA, 2010). 
 
As teses econômicas do keynesianismo 
A teoria keynesiana foi formulada num contexto conceitual basicamente 
idêntico à teoria do equilíbrio geral, de Léon Walras (HUNT; SHERMAN, 2000). Assim, 
a maioria das análises de Keynes são pautadas num processo contínuo de produção, 
circulação e consumo — em que o Estado é o principal agente econômico. No geral, 
os princípios keynesianos mais importantes foram formulados por John Maynard 
Keynes, sendo queseus discípulos contribuíram igualmente com o desenvolvimento 
intelectual das ideias e filosofias que permeiam o pensamento de Keynes e das 
diferentes interpretações. 
 
Fonte: www.pt.vecteezy.com 
Para termos uma visão geral dos princípios keynesianos, vamos considerar os 
conceitos mais importantes da escola, que são: a teoria da distribuição, segundo a 
 
15 
 
produtividade marginal; a economia da dívida; a teoria da taxa de juros; o princípio da 
demanda efetiva; a propensão marginal a consumir e multiplicador; e a determinação 
dos dispêndios de investimento (SILVA, 2010). 
Na teoria da distribuição, segundo a produtividade marginal, Keynes 
endossava e defendia a teoria da distribuição baseada na produtividade marginal 
(neoliberal ou neoclássica). Logo, o salário é igual ao produto marginal do trabalho. 
Keynes argumentava que, para aumentar o emprego, os salários teriam que baixar, e 
os lucros teriam que aumentar. Assim sendo, o comportamento maximizador de 
lucros motivaria os capitalistas a empregar trabalhadores até o seu salário igualar-se 
ao valor do produto marginal. 
Na economia da dívida, Keynes demonstrou que os gastos do governo, 
financiados por empréstimos, seriam muito mais eficazes para estimular a procura 
agregada do que os gastos financiados pela tributação — já que a tributação retirava 
recursos que seriam gastos de outra maneira (SILVA, 2010). Um exemplo observado 
por ele foi o desempenho dos Estados Unidos, depois da Segunda Guerra Mundial, 
que melhorou e muito com a expansão maciça e acelerada do endividamento público. 
Na teoria da taxa de juros, Keynes trouxe à luz as razões pelas quais não se 
podia confiar que a taxa de juros equilibrasse automaticamente a poupança e o 
investimento. Ele afirmava que a taxa de juros não canalizava automaticamente as 
poupanças para os investimentos, da maneira concebida pelos neoclássicos. Logo, a 
procura de moeda não apenas como algo racional, mas também uma necessidade 
psicológica básica — tanto que concebia o juro como o preço para que um indivíduo 
se privasse da liquidez, não como recompensa pela abstinência. 
No princípio da demanda efetiva, a ideia era o oposto da lei de Say. Assim, 
quem determinava o volume da produção e do emprego era a demanda efetiva, que 
não é apenas a demanda efetivamente realizada, mas ainda o que se espera que seja 
gasto em consumo e investimento. Nessa visão, a expectativa dos capitalistas é muito 
importante. Nessa situação, a demanda efetiva pode ser maior ou menor que a 
capacidade produtiva de um país, em determinado momento. Por isso, a busca pelo 
pleno emprego torna-se um dos objetivos da macroeconomia, um objetivo que deve 
ser alcançado por vontades políticas (SILVA, 2010). 
Na propensão marginal a consumir e multiplicador, um incremento nos 
investimentos, pode iniciar um processo de expansão, isso porque aumenta a renda 
 
16 
 
e aumentam também os dispêndios. Por sua vez, isso acaba por aumentar as 
procuras de fatores de produção e suas rendas. Assim sendo, um incremento de 
investimento com certeza aumentaria o nível de renda em mais do que seu próprio 
montante. Essa força de alavancagem dependerá da propensão marginal a poupar. 
Por fim, o custo dos bens de capital, o rendimento monetário esperado e a taxa 
de juros do mercado. Ele compreendeu que as expectativas regem a escala de 
procura de investimento. São as expectativas de longo prazo que determinam a 
capacidade dos empresários de estimar rendas futuras e, assim, realizar seus 
investimentos no presente. 
 
Neoliberalismo econômico 
Para obtermos uma noção geral das ideias neoliberais, alguns dos tópicos mais 
importantes são: liberdade econômica e liberdade política; funções do governo 
neoliberal na sociedade; e controle do sistema monetário e política fiscal neoliberal. 
Esses conceitos tentavam explicar e solucionar os novos problemas da sociedade, ou 
seja, frutos de reações à crise econômica. 
A liberdade econômica e a liberdade política são, para os neoliberais, a 
melhor organização de uma sociedade. Ou seja, a liberdade econômica é parte da 
liberdade entendida em sentido amplo, o que significa que é um instrumento 
indispensável para a obtenção da liberdade política (SILVA, 2010). Nesse contexto, o 
tipo de organização econômica que promove a liberdade econômica, ou, o capitalismo 
competitivo, ainda promove a liberdade política, porque separa o poder econômico do 
poder político e, assim, permite que um controle o outro. Para que exista liberdade 
econômica de fato, deve ser mantida a liberdade de troca — como característica 
central da organização de mercado livre da atividade econômica. 
Já o governo neoliberal na sociedade concebe as funções do governo 
voltadas para garantir os direitos individuais — sem interferência nas esferas da vida 
pública e na esfera da vida econômica. Entre os direitos individuais, destaca-se a 
propriedade privada como direito natural, assim como o direito à vida, à liberdade e 
aos bens necessários para conservar ambas. A função do estado é de arbitrar e 
legislar — e não de regular — os conflitos que possam surgir na sociedade civil — 
onde os empresários e os trabalhadores estabelecem as relações produtivas, realizam 
contratos e disputam interesses. As teses do neoliberalismo se resumem na 
 
17 
 
expressão menos Estado e mais mercado (BELL, 1961). Portanto, a intervenção do 
estado na economia constitui uma ameaça aos interesses individuais, à livre iniciativa 
das empresas, à concorrência privada e ao próprio restabelecimento do equilíbrio. 
O controle do sistema monetário e a política fiscal neoliberal são as áreas 
mais importantes da política governamental e que são relevantes para a estabilidade 
econômica, constituídas pela política monetária, e pela política fiscal (SILVA, 2010). 
Os neoliberais sugerem que o meio de alcançar o equilíbrio monetário é ter um 
governo de leis, em vez de um governo de homens. Por meio da legislação, é possível 
controlar a direção da política monetária, evitando que fosse ela vítima dos caprichos 
das autoridades políticas. 
 
Fonte: www.suportegeografico77.blogspot.com 
Marxismo 
Para compreendermos os ensinamentos marxistas, precisamos dominar os 
principais pensamentos de Karl Marx — o mais influente de todos os intelectuais. Em 
suas obras, Marx buscou entender a lógica do modo de produção capitalista e suas 
relações com as instituições sociais e políticas. É um dos pensamentos mais difíceis 
de compreender e explicar, pois Marx produziu muito, suas ideias se desdobraram em 
várias correntes e foram incorporadas por inúmeros teóricos (BELL, 1961). 
A vida de Karl Marx foi marcada pelo incremento de conceitos importantes — 
que poucos discípulos se arriscaram a mudar — como a lei do movimento do capital; 
o conceito das classes sociais; a teoria do valor e a mais-valia; a teoria da acumulação 
de capital e a concentração econômica; e a ideia da alienação do trabalhador (SILVA, 
2010). 
 
18 
 
Na lei do movimento do capital, o capital não é uma coisa, é antes de tudo, 
uma relação social entre pessoas, efetivada através de coisas. Essa relação surgiu 
com a aparição da burguesia, que se apropriou dos meios de produção, formando o 
conhecido monopólio de classe. Além disso, Karl Marx identificou três tipos de 
capitais: capital constante (equipamentos e máquinas), capital variável (relacionado à 
força de trabalho) e capital-dinheiro. Para Marx (1983), na sociedade mercantil 
simples, todas as mercadorias são produzidas para serem trocadas no mercado, mas 
não existe ainda a divisão entre proprietários dos meios de produção e força de 
trabalho. Sendo assim, Marx construiu o seguinte esquema, onde M é mercadoria e 
D é dinheiro: sendo no capitalismo, o esquema D — M — D’ (SWEEZY, 1972). 
No conceito das classes sociais, os marxistas procuram explanar os conflitos 
existentes no sistema de classesdo capitalismo. De acordo com Marx (1983), as 
desigualdades sociais notadas no seu tempo eram provocadas pelas relações de 
produção do capitalismo — que dividem a sociedade em proprietários e não-
proprietários. São as desigualdades que constituem as bases das classes sociais. 
Hugon (1980) destaca que as relações entre os homens no capitalismo se 
caracterizam por relações de oposição, incompatibilidade, exploração e 
complementaridade entre as classes sociais. As relações entre as classes são 
complementares, pois uma só existe em relação à outra — só existem proprietários 
porque há uma massa de despossuídos, cuja única propriedade é sua força de 
trabalho (SILVA, 2010). 
Na teoria do valor e a mais-valia, o “valor” significa o que uma mercadoria 
vale como resultado de certas quantias de trabalho direta ou indiretamente nela 
corporificadas. Por isso, o valor consiste naquilo que o trabalhador pode, com o seu 
trabalho, acrescentar aos materiais básicos, já fornecidos pela natureza. Ou melhor, 
o valor de uma mercadoria é igual ao tempo de trabalho socialmente necessário para 
produzi-la (MARX, 1983). É daí que emana a doutrina da mais-valia absoluta e 
relativa. A mais-valia absoluta é a mais-valia que se obtém pelo prolongamento da 
jornada de trabalho. Já a mais-valia relativa é a mais-valia que se obtém mediante a 
diminuição do tempo de trabalho necessário (SILVA, 2010). 
Na teoria da acumulação de capital e a concentração econômica, uma vez 
realizada a acumulação inicial de capital — conforme os marxistas — a ânsia de 
acumular cada vez mais torna-se a força motriz de sustentação do sistema capitalista. 
 
19 
 
O capitalista, para sustentar sua posição social e seu poder político e econômico, 
depende da ampliação do volume de capital. Como efeito da acumulação de capital, 
acontece a concentração da riqueza e do poder econômico nas mãos de um número 
mais restrito de capitalistas. 
Por fim, na ideia da alienação do trabalhador, Karl Marx mostrou que a 
industrialização, a propriedade privada e o salário afastaram o trabalhador dos meios 
de produção — ferramentas, matérias-primas, terras e máquinas — que estavam 
agora sob o controle dos capitalistas. Logo, os trabalhadores ficaram alienados do 
fruto do seu trabalho, ou seja, os bens produzidos pertenciam ao capitalista. Karl Marx 
(1983) diz que essa é a base da alienação econômica do homem sob o capital. 
 
3 ECONOMIA POLÍTICA BRASILEIRA 
 
A economia política brasileira, nos últimos 60 anos, foi marcada por momentos 
de prosperidade e de recessão, de equilíbrio e de desequilíbrio, de autoritarismo e de 
populismo. Essa situação reflete o pós-Segunda Guerra Mundial e se estende até 
recentemente, em que o Brasil viveu um período de economia política liderada pelo 
Partido dos Trabalhadores (PT). Nesse sentido, o Brasil passou por uma série de 
políticas econômicas, implementou diferentes planos monetários, controlou a inflação 
de múltiplas maneiras, ampliou e reduziu o Estado de várias formas e mudou o regime 
de desenvolvimento para se ajustar aos tempos modernos. 
 
3.1 Do “milagre econômico” à crise da dívida externa 
 
De 1964 até 1984, o Brasil viveu o período do regime militar, com cinco 
presidentes militares: Humberto Castello Branco (1964–1966), Arthur da Costa e Silva 
(1967–1969), Emílio Garrastazu Médici (1969–1973), Ernesto Geisel (1974–1978) e 
João Figueiredo (1979–1984). O regime de exceção e o alinhamento militar permitiram 
certa continuidade no terreno político e no modelo de política econômica. 
No governo de Castello Branco, os principais objetivos da política econômica 
eram o combate gradual à inflação, a expansão das exportações e a retomada do 
crescimento. Na prática, esses três objetivos duraram até 1973 — sendo que a 
retomada do crescimento só foi concretizada a partir de 1967. 
 
20 
 
Segundo Hermann (2011b), o período de 1964 a 1973 ilustra um caso de nítida 
ausência de correlação entre democracia e desenvolvimento e de alta correlação 
entre autoritarismo e reforma econômica. O período de 1964 a 1973 pode ser dividido 
em duas fases: 
1. 1964–1967, o período de ajuste conjuntural e de ajuste estrutural da 
economia, buscando enfrentar o desequilíbrio inflacionário, o desequilíbrio externo e 
o quadro de estagnação econômica; 
2. 1968–1973, o período que se caracterizou por uma política monetária do tipo 
expansionista e por um vigoroso crescimento da atividade econômica (média de 11% 
ao ano), com a gradual redução da inflação e do desequilíbrio externo. 
Na primeira fase, 1964–1967, a economia operou com o Plano de Ação 
Econômica do Governo (PAEG), e na segunda fase, 1968–1973, com o Plano 
Estratégico de Desenvolvimento (PED). O PAEG tinha a finalidade de implementar 
um processo de estabilização dos preços de inspiração ortodoxa. Esse processo era 
acompanhado por importantes reformas estruturais do sistema financeiro, da estrutura 
tributária e do mercado de trabalho (IANNI, 1971). 
 
Fonte: www.remessaonline.com.br 
As metas do PAEG para a inflação indicavam uma inflação gradualista. Ou seja, 
a ideia não era eliminar o processo inflacionário em curto prazo, apenas atenuá-lo ao 
longo de três anos. O diagnóstico do PAEG era de que, entre os preços da economia, 
apenas os salários não estavam defasados — sendo estes apontados como uma das 
principais causas da inflação. Assim, a correção das tarifas públicas e da taxa de 
câmbio era apontada como uma medida necessária para o ajuste fiscal e o ajuste do 
balanço de pagamentos. 
 
21 
 
Foi nesse período que a economia brasileira passou a conviver com a “mágica” 
conciliação dos preços, ou a chamada correção monetária. Somente duas décadas 
depois é que o governo brasileiro e a sociedade começariam a se dar conta da 
contradição inerente a esse modelo de estabilização dos preços. 
Nesse contexto, a tarefa era “arrumar a economia” a fim de viabilizar a rápida 
retomada do crescimento econômico — que a princípio deveria ocorrer ainda no 
governo de Castello Branco. Contudo, o PAEG acabou sendo um plano anti-
inflacionário muito restritivo da atividade econômica e, ao final, foi pouco eficaz no 
combate à inflação. Os dados mostram que a inflação foi significativamente reduzida, 
mas não eliminada, já que era alimentada pela inflação corretiva e pela generalização 
da correção monetária dos ativos e dos contratos (HERMANN, 2011b). 
Além do mais, o período de 1964 a 1967 foi marcado por uma política 
econômica de restrição fiscal e de restrição monetária. Esse conjunto de condições 
macroeconômicas acabou inviabilizando uma recuperação econômica sólida ainda no 
período 1964–1967. Talvez o maior êxito econômico desse período tenha ocorrido na 
área fiscal: os déficits foram reduzidos e a reforma financeira na dívida pública 
possibilitou condições mais duradouras de financiamento não monetário (IANNI, 
1971). 
Por sua vez, o PED tinha um propósito muito mais desenvolvimentista do que 
o PAEG. Assim, o governo de Costa e Silva beneficiou-se em parte das dificuldades 
herdadas do governo Castello Branco. A percepção da ineficácia da política 
econômica, no sentido de promover o crescimento econômico, levou o governo Costa 
e Silva (1967–1969) a “afrouxar” a política monetária e a promover ações de 
investimentos públicos e políticas propícias à recuperação dos investimentos 
privados. 
Assim, o PED conduziu a economia brasileira de 1968 até 1973, com a 
continuidade do plano pelo governo de Médici. É nesse período que acontece o 
“milagre econômico”. Esse “milagre” consiste na combinação da expansão econômica 
com a redução das taxas de inflação e a total eliminação dos déficits do balanço de 
pagamentos. Esse período de elevado crescimento econômico só foi possível graças 
a algumas condições econômicas e políticas favoráveis e à habilidade do governo no 
aproveitamento das oportunidades que essa conjuntura oferecia— entre os anos 
1968 e 1973. 
 
22 
 
Essencialmente, os alicerces do “milagre econômico” brasileiro — entre 1968 e 
1973 — foram: 
 O quadro de ampla liquidez no mercado internacional; 
 A capacidade ociosa na economia, fruto da debilidade do cenário econômico 
do período anterior; 
 O regime autoritário vigente, que facilitava a implementação das políticas do 
governo; 
 A simpatia americana pelo regime militar brasileiro. 
No campo econômico, o “milagre” se revelou em diversos aspectos, como: 
 Na adoção do controle de preços, inclusive os salários; 
 Na política de juros tabelados (em níveis baixos); 
 Na política cambial de minidesvalorizações, estimulando as exportações; 
 Na política deliberada de captação de recursos no exterior para o controle do 
câmbio e o financiamento da expansão econômica. 
Historicamente, a herança que o período de 1964–1973 deixou ao governo 
Geisel (1974–1979) foi um misto de vantagens e problemas econômicos (HERMANN, 
2011b). Porém, nesse contexto, é fundamental que você perceba que o aspecto 
econômico mais relevante era o fato de que não era mais possível continuar o ritmo 
acelerado de crescimento do período do “milagre”. 
Além do novo cenário externo, a economia brasileira já vivia um esgotamento 
do modelo de crescimento. Os grandes problemas foram a correção monetária, com 
os seus efeitos perversos sobre a dinâmica dos preços, e a excessiva dependência 
externa do País em dois setores: industrial (bens de capital, petróleo e derivados) e 
financeiro (bancos e investimentos). Essas condições se agravaram com o primeiro 
choque dos preços do petróleo em fins de 1973 (BAER, 1988). 
O choque dos preços do petróleo, em 1973–1974, inaugurou uma longa fase 
de dificuldades econômicas para o Brasil, expressa pelo prolongado quadro de 
restrições externas. Logo, o período de 1974 até 1984 foi intenso politicamente e 
turbulento economicamente. Politicamente, foi o período em que aconteceram as 
principais pressões e mudanças políticas no sentido da redemocratização. Esse 
cenário influenciou muito as decisões de política econômica do governo Geisel. 
Já no contexto econômico, o período de 1974 a 1984 marca o auge e o 
esgotamento do modelo econômico de crescimento vigente no Brasil desde os anos 
 
23 
 
de 1950, isto é, o modelo de industrialização por substituição de importações, 
comandado pelo Estado e pelo endividamento externo. 
Assim, as dificuldades da economia brasileira ocorrem em meio a um cenário 
externo adverso, marcado por vários choques. Entre esses choques, você pode 
considerar dois aumentos do preço do petróleo no mercado internacional (1973 e 
1979) e o aumento dos juros norte-americanos entre 1979 e 1982, reduzindo a liquidez 
internacional. Assim, a estrutura produtiva e a dependência externa do Brasil já eram 
incompatíveis com o grave e conturbado contexto internacional. Daí, inicia-se a crise 
da dívida externa. 
 
Fonte: www.politize.com.br 
Para lidar com as dificuldades, o governo Geisel lançou o II PND (Plano 
Nacional de Desenvolvimento) para completar o processo de substituição das 
importações iniciado na era Juscelino Kubitschek. O modelo de ajuste estrutural tinha 
a finalidade de mudar o estágio de desenvolvimento industrial da economia brasileira, 
internalizando, em larga medida, os setores de bens de capital e insumos industriais 
(CASTRO, 1985). 
No final do período, observou-se que o ajuste estrutural foi bem-sucedido, já 
que reduziu a dependência externa do País em relação aos bens de capital e insumos 
cruciais ao crescimento econômico. Entretanto, o lado financeiro desse ajuste ficou 
demasiadamente comprometido. As dívidas estrangeiras e a dependência financeira 
externa mantiveram a necessidade de frequentes rodadas de ajuste externo, exigidas 
sempre que o mercado internacional parecia pouco receptivo às exportações e/ou à 
rolagem da dívida. 
Após o segundo choque do petróleo, em 1979, o governo brasileiro modificou, 
gradativamente, a análise do desequilíbrio externo do País. Em vez de propor mais 
 
24 
 
crescimento econômico a partir de investimentos, o governo passou a adotar uma 
estratégia de ajuste recessivo. Em outras palavras, o crescimento vigoroso do período 
do “milagre econômico” foi substituído por um ajuste de preços relativos e pelo 
controle da demanda interna (HERMANN, 2011a). 
Assim, o governo Figueiredo, de 1979 a 1984, herdou um forte aumento da 
inflação e a deterioração das contas públicas e externas. Isso tudo sinalizava ainda o 
esgotamento do modelo de crescimento do II PND. Nesse contexto, a correção de 
preços foi a tônica do modelo de ajuste externo do período 1979–1984. Naquele 
momento, crescia a ideia de que o desequilíbrio externo brasileiro refletia uma 
situação de excesso de demanda (BAER, 1988; CASTRO, 1985). 
Os registros históricos mostram que os anos de 1981 a 1984 confirmam esse 
prognóstico de forma mais dramática: desequilíbrio no balanço de pagamentos, 
aceleração inflacionária e forte desequilíbrio nas contas públicas. Essas dificuldades 
marcam o início de um longo período de estagnação na economia brasileira, que, com 
raras e curtas interrupções, estendeu-se até meados da década de 1990. Em suma, 
os anos 1980 são, na economia brasileira, a chamada “década perdida” (HERMANN, 
2011a). 
 
3.2 Do desequilíbrio inflacionário à reforma neoliberal 
 
Nos registros históricos, o curto período da chamada Nova República (1985– 
1989) ficou guardado na lembrança dos brasileiros como um conjunto de experiências 
malsucedidas de estabilização da inflação. Ao longo dos cinco anos do governo de 
José Sarney, foram lançados três planos monetários (CASTRO, 2011a):  
 Plano Cruzado, em 1986; 
 Plano Bresser, em 1987; 
 Plano Verão, em 1989. 
 
Apesar do fracasso no combate à inflação, o período de 1985 a 1989 foi 
relativamente positivo do ponto de vista do crescimento econômico, mas isso custou 
o equilíbrio das contas fiscais e externas. Tudo isso — as dificuldades do lado 
econômico — potencializou o lado político da redemocratização, que foi capitaneada 
pelo movimento das Diretas Já. 
 
25 
 
Além de restaurar as liberdades e os direitos políticos, as Diretas Já revelavam 
o sentimento de que, com a redemocratização, o lado econômico seria resolvido, da 
inflação até o retorno do crescimento, passando pela solução dos problemas sociais 
do País. Do ponto de vista político, a transição para a democracia foi dentro das 
expectativas, apesar dos contratempos criados com a morte de Tancredo Neves. O 
seu vice, José Sarney, acabou se tornando o novo presidente do Brasil, que sem a 
legitimidade das urnas — das eleições indiretas — buscou a legitimidade das ruas 
com o Plano Cruzado. 
Após amargar uma recessão em 1981–1983, a economia brasileira parecia, em 
1984, ter reencontrado a trajetória de crescimento que marcou a década de 1970. A 
economia em 1984 tinha bons resultados de crescimento, contas externas e contas 
fiscais. Contudo, a inflação continuava sendo um problema de destaque da economia 
brasileira, superando, em 1984, mais de 224% (CASTRO, 2011a). 
Assim, o propósito do Plano Cruzado era atacar duramente a inflação. Esse 
plano monetário foi geralmente referido como um plano “heterodoxo” em 
contraposição ao diagnóstico inflacionário dos “ortodoxos”. As teses heterodoxas de 
inflação no Brasil admitiam a possibilidade teórica de inflação de demanda, em que, 
acima do pleno emprego, as expansões fiscais provocariam a inflação. Além disso, 
observa-se que, em economias em desenvolvimento — como o caso brasileiro —, em 
que a mobilidade dos fatores de produção é menor e há gargalos de oferta, existem 
também inflações de custos. Essas inflações, por sua vez, se transformam em 
processos inflacionários pela existência do conflito distributivo — alimentado pela 
indexação contratual.26 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O sucesso inicial do Plano Cruzado foi visível. Ele foi capaz de levar, já em 
1986, a inflação para zero. Entretanto, a economia brasileira começou a apresentar 
outras dificuldades. Por exemplo, por causa de uma demanda muito aquecida, 
começaram a surgir sinais de desabastecimento da economia. Isso porque o Plano 
Cruzado congelou uma série de preços — o que resultou no desaparecimento desses 
produtos das prateleiras. Começaram a surgir filas com cada vez maior frequência, 
bem como o fenômeno do ágio. 
Soma-se a isso a piora das contas externas, como consequência do cenário 
econômico internacional com menor liquidez. Isso levou o País a decretar, em 1987, 
a moratória dos juros externos, o que diminuiu ainda mais a entrada de recursos 
FIQUE ATENTO! 
Uma das principais características dos planos monetários implementados no Brasil 
era a sua orientação ideológica sobre a origem da inflação. Em 1984, ficaram manifestas 
três maneiras de interpretar o processo inflacionário no Brasil. Em última instância, elas 
influenciavam as formas e as medidas dos governos e dos economistas desses governos. 
O primeiro grupo era dos proponentes do “pacto social”. Eles defendiam que a inflação no 
Brasil era o resultado de uma disputa entre os diversos setores da sociedade por uma 
participação maior na renda nacional, ou seja, existia um conflito distributivo. O segundo 
grupo eram os chamados “ortodoxos”. Baseados na teoria quantitativa da moeda, eles 
defendiam que a inflação no Brasil não tinha nada de peculiar, mas era causada pela 
excessiva expansão monetária e por um governo que gastava além da sua capacidade de 
arrecadar receitas. Em síntese, a causa da inflação no Brasil era o excessivo gasto público 
em uma economia em que o Estado crescera demais. Enquanto isso, o grupo dos 
“heterodoxos”, baseados em estudos econométricos, mostravam que a inflação era 
realimentada pela inflação passada (inflação inercial) e pelas variações no hiato do 
produto. Nesse sentido, a inflação inercial era a principal responsável pela inflação 
nacional — alimentada pelas cláusulas de indexação que a sociedade brasileira tinha 
adotado de maneira generalizada. Assim, o fim da inflação passaria pela desindexação da 
economia. 
 
27 
 
externos para financiar a dívida e/ou rolá-la com os credores. O resultado foi o fim do 
congelamento dos preços e o fim do Plano Cruzado. 
No mesmo ano (1987), o governo anunciou o Plano Bresser, um novo plano 
de estabilização. Nesse sentido, o Plano Bresser objetivava, fundamentalmente, 
promover um choque deflacionário na economia, evitando os erros do Plano Cruzado. 
Logo, a inflação foi diagnosticada como inercial e de demanda e, em consequência, o 
plano foi concebido como híbrido, com elementos heterodoxos e ortodoxos. 
O Plano Bresser teve certo sucesso inicial na redução da inflação, apesar de 
não a reduzir a zero. Além do mais, após o fracasso do Plano Cruzado com o 
congelamento dos preços, no Plano Bresser, o congelamento pretendido pelo governo 
não foi respeitado. Diante do temor de um novo congelamento, a sociedade já realizou 
remarcações preventivas de preços, que aumentaram ainda mais os desequilíbrios 
entre os preços relativos da economia (CASTRO, 2011a). 
Em 1988, o fato mais relevante foi a aprovação da nova Constituição do Brasil, 
finalizando a ruptura em relação ao regime militar. O ponto mais relevante da nova 
Constituição foi a prioridade dada aos direitos sociais, em especial à saúde, à 
educação, à dignidade no trabalho, ao direito de greve, entre outros. 
Tudo isso levou o Plano Bresser, após dois anos, ao insucesso (do gradualismo 
no combate à inflação). A solução foi a radicalização das propostas de desindexação 
da economia brasileira, com a implementação do Plano Verão. Segundo Castro 
(2011a), foram extintos todos os mecanismos de indexação, inclusive a Unidade de 
Referência de Preços (ou URP), que, ao atrelar os salários aos preços, com 
defasagem, era uma grande força de contenção da aceleração inflacionária. 
Em 1989, o Plano Verão foi anunciado também como um plano híbrido, que 
tinha elementos ortodoxos (como a redução de despesas de custeio, a reforma do 
Estado, a restrição de crédito, etc.) e heterodoxos (como o congelamento de preços e 
salários). Como o Plano Cruzado, o Plano Verão mudou a moeda na economia. Essa 
nova moeda — Cruzado Novo — foi estabelecida como equivalente ao dólar. Nesse 
sentido, não foram decretadas novas regras de indexação dos preços, sendo o 
congelamento de preços anunciado por tempo indeterminado (CASTRO, 2011a). 
Todavia, em 1989, as eleições presidenciais dificultaram a estabilidade fiscal 
das contas públicas. Além do mais, os elevados juros praticados foram incapazes de 
conter o movimento de antecipação do consumo, movido pelo temor de explosão dos 
 
28 
 
preços após o fim do congelamento (CASTRO, 2011a). O resultado foi que a inflação 
aumentou fortemente, atingindo mais de 80% no começo de 1990. 
Nesse contexto, foi eleito, pelo voto direto, o presidente Fernando Collor de 
Melo. Para vencer as eleições, Collor exibiu um discurso centrado na denúncia da 
corrupção, na assistência às camadas mais desfavorecidas da sociedade e em 
promessas de mudanças profundas na economia do Brasil (CASTRO, 2011a). As 
reformas propostas por Collor, de fato, introduziram uma ruptura agressiva com o 
modelo brasileiro de crescimento com elevada participação do Estado e proteção 
tarifária. Logo, dois aspectos dessa reforma eram cruciais: as privatizações — e a 
consequente redução do tamanho do Estado — e a abertura econômica. 
Essas reformas iniciadas por Collor em 1990 seriam aprofundadas no governo 
seguinte, de Fernando Henrique Cardoso (FHC), a partir de 1994. No campo 
econômico, o governo Collor lançou dois planos de estabilização a fim de combater a 
inflação, naquele momento um problema econômico desenfreado. 
Assim, foram lançados os Planos Collor I e Collor II. Na prática, esses dois 
planos fracassaram em reduzir a inflação, resultando em recessão econômica e perda 
de credibilidade das instituições governamentais, em especial em razão do confisco 
das poupanças. Soma-se a isso uma série de escândalos e esquemas de corrupção 
que minaram o governo de Collor, levando ao impeachment. 
Com a posse de Itamar Franco, em 1992, deu-se continuidade ao processo de 
reformas neoliberais. E, o mais importante, foram lançadas as bases do programa de 
estabilização que daria fim à hiperinflação no País. Nesse sentido, o novo programa 
de estabilização incluiria uma nova moeda (o Real), a taxa de câmbio de âncora para 
os preços e os elevados juros básicos da economia. Essas estratégias tinham o 
objetivo de dar equilíbrio à demanda na economia brasileira e “quebrar” o 
comportamento indexador dos agentes. 
A consequência negativa foi o desempenho ruim da economia no que tange ao 
crescimento econômico. Na realidade, entre 1990 e 1994, o crescimento da economia 
brasileira foi bastante variado, com uma média de 1,3% ao ano. É importante você 
notar que, além das turbulências econômicas, nesse período, o Brasil passou também 
por várias turbulências políticas — frutos de uma redemocratização ainda em curso. 
De acordo com Castro (2011b), de fato, o sequestro de liquidez realizado no 
Plano Collor I, em 1990, gerou uma forte retração na economia brasileira — queda de 
 
29 
 
4,3% do produto interno bruto (PIB). Em 1992, o PIB voltou a cair, só que apenas 
0,5%. Já em 1993–1994, a economia apresentou uma recuperação, com taxas de 
crescimento até expressivas, de 4,9% e 5,9%, respectivamente. Mas esse 
crescimento era fortemente puxado pelo bom resultado da agropecuária, que 
alavancava as exportações do País. Contudo, a crise mexicana, no final de 1994, 
conteve o crescimento econômico na sequência. 
 
Fonte: www.estadodaarte.estadao.com.brCom as reformas neoliberais e a abertura econômica, a balança de 
pagamentos foi positiva no começo de 1990, mas depois as importações aumentaram 
continuamente ao longo de todo o período. Em suma, o País passou a ter ofertas (de 
produtos) de todo o mundo, mudando a estrutura de preços internos. Já os fluxos de 
capital para o Brasil mudaram drasticamente, com os investimentos líquidos em 
carteira (muito de capital para especulação) predominando frente aos investimentos 
diretos. Na prática, os elevados juros domésticos favoreciam os investimentos 
especulativos no Brasil (GIAMBIAGI, 2011a). 
Com relação à dívida externa, entre 1995 e 1998 houve um desgaste dos 
indicadores de endividamento. A âncora cambial do Plano Real ficou muito 
desgastada com a crise da Ásia em 1997 e entrou em colapso com a crise da Rússia 
em 1998. Em todas elas, o Brasil foi seriamente afetado pelo “efeito contágio”, com a 
redução dos fluxos de capitais para o País e, em algumas situações, a própria fuga 
dos capitais que aqui já estavam (CASTRO, 2011b). 
Em 1999, a reeleição de FHC possibilitou a continuidade de um Brasil 
neoliberal. Com a crise, o câmbio fixo foi modificado para câmbio flutuante — e um 
acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) deu fôlego ao País para renegociar 
 
30 
 
os seus débitos com o resto do mundo. A desvalorização cambial do Real foi a tônica 
do segundo mandato de FHC. 
Nesse cenário, o governo tomou novas medidas para elevar a taxa de juros 
básica. Além disso, consolidou os estudos para a adoção do sistema de metas de 
inflação, que há anos vinha sendo implementado em diversos países. O País, então, 
iniciou um processo de retomada de crescimento que só viria a ser abortado — mais 
uma vez — pela combinação de crises em 2001 (GIAMBIAGI, 2011a). 
Em 2001, a economia brasileira foi fortemente afetada por uma combinação de 
eventos, incluindo a crise de energia, a crise argentina e os atentados terroristas de 
11 de setembro. Nesse cenário, o crescimento do País foi prejudicado, 
comprometendo o desempenho econômico do segundo governo de FHC. Em 2002, a 
derrota do candidato do governo nas eleições presidenciais se refletiria em novos 
tempos para o Brasil. 
 
3.3 O Brasil pós-2003 
 
A partir de 2003, o Brasil viveu um novo período político-ideológico, com a 
posse de Lula e a ascensão da esquerda ao poder, por meio do Partido dos 
Trabalhadores (PT). Esse período perduraria até 2015, ou seja, até o impeachment 
de Dilma Rousseff — totalizando três mandatos (2003–2006, 2007–2010, 2011–2014) 
e meio (2015) do PT. 
Do ponto de vista econômico, a perspectiva de um governo do PT servia como 
um teste importante para a economia brasileira, em razão das críticas ao modelo 
neoliberal e à dependência dos financiamentos do Fundo Monetário Internacional 
(FMI). Em 2002, o mercado financeiro ficou muito preocupado com a ascensão de 
Lula nas pesquisas para a presidência da República (GIAMBIAGI, 2011b). 
Em que pesem análises que procuravam fugir do pessimismo, muitos analistas 
internacionais temiam que o governo decretasse de alguma forma uma moratória da 
dívida externa em 2003, já que muitos julgavam que o PT adotaria políticas populistas 
e extremamente contra o mercado. Era o momento histórico em que os trabalhadores 
poderiam implementar um novo projeto de poder e de sociedade. 
Entretanto, à medida que o PT governava o Brasil — a partir de 2003 —, as 
suas perspectivas de poder e de sociedade iam se aproximando do centro político, o 
 
31 
 
que levou ao abandono de algumas ideias “radicais” de política econômica, como a 
“defesa da moratória da dívida externa” (GIAMBIAGI, 2011b). Ou seja, houve uma 
moderação no discurso do partido de esquerda que, naquele momento, ocupava o 
poder no Brasil. 
Assim, o Brasil pós-2003 manteve um conjunto de medidas econômicas — 
conjunturais e estruturais — que eram mais alinhadas ao modelo neoliberal do que ao 
modelo de esquerda. Portanto, além de continuar o pagamento da dívida externa, o 
PT deu sequência ao sistema de metas inflacionárias. O partido também continuou 
respeitando os limites de endividamento, o superávit primário e a manutenção dos 
indicadores econômicos conforme as recomendações do mercado e dos organismos 
internacionais. 
Na prática, o modelo de desenvolvimento econômico implementado pela 
esquerda do PT preservou a estabilidade macroeconômica forjada com o Plano Real. 
Contudo, as políticas públicas restritivas foram substituídas por políticas públicas 
expansionistas, em que o propósito era que o gasto público chegasse às classes 
sociais efetivamente mais necessitadas. 
Isso significa que existiu, por parte dos governos Lula e Dilma Rousseff, um 
esforço para levar o Brasil ao crescimento e ao desenvolvimento econômico. Nesse 
sentido, o Estado readquiriu o protagonismo econômico para todos os grandes 
projetos de investimento da economia brasileira, especialmente os investimentos em 
infraestrutura (rodovias, portos, aeroportos, grandes instalações, entre outros). 
O desempenho da economia brasileira a partir de 2003 foi decisivamente 
influenciado pela evolução da economia internacional e por cumprir, sobretudo, o 
sistema de metas de inflação. De 2003 até 2010, o País superou os efeitos da crise 
de 2002 e avançou no crescimento econômico. Nesse contexto, o Brasil inclusive 
viveu bons momentos econômicos, apesar da crise internacional de 2008, que colocou 
os Estados Unidos e a Europa em recessão. 
Nessa conjuntura — de 2003 até 2010 —, a economia política brasileira foi 
beneficiada por um conjunto de fatores internos e externos, como: 
 O crescimento da economia chinesa; 
 A elevada demanda das commodities brasileiras; 
 As novas explorações energéticas (especialmente etanol e pré-sal); 
 
32 
 
 Os eventos esportivos globais, como a copa do mundo de 2014 e as 
olimpíadas de 2016. 
No mercado doméstico, o Brasil viveu um crescimento acelerado do consumo 
interno. Os aumentos reais do salário mínimo e um conjunto de políticas públicas de 
renda e financiamento permitiram um consumo crescente pela sociedade brasileira. 
Em outras palavras, era uma combinação de recursos fáceis, crescimento econômico 
acelerado e inflação relativamente baixa. 
Isso tudo se completou com a melhoria da distribuição de renda, que passou a 
incluir um contingente populacional antes excluído no mercado de consumo. Esse 
deslocamento social elevou a popularidade de Lula, que passou a ser visto como uma 
figura emblemática para a política e a população brasileiras. 
 
Fonte: www.arquidiocesedemanaus.org.br 
Porém, a partir de 2011, com a posse de Dilma Rousseff, o Brasil passou a 
sentir os efeitos de um novo cenário externo e do esgotamento do Estado como 
protagonista da economia. Primeiro, você deve notar que os efeitos da crise 
internacional de 2008 começaram a chegar no Brasil, sobretudo os efeitos da queda 
dos preços das commodities. Além disso, o Estado brasileiro passou a ter problemas 
para manter o protagonismo na economia, como o agente econômico que guia os 
investimentos públicos e privados. (GIAMBIAGI, 2011b). 
Resumindo, em 2015, o Brasil voltou a um cenário de elevada inflação, baixo 
crescimento econômico, elevado nível de desemprego e piora de diversos indicadores 
sociais. Muitos economistas revelaram que o País, ao menos do ponto de vista dos 
 
33 
 
indicadores sociais, havia perdido boa parte das conquistas sociais e de renda obtidas 
entre 2003 e 2014. 
O fato é que, mesmo nesse período de crise econômica e política aguda, o PT 
deu continuidade às suas políticas econômicas alinhadas ao mercado, confirmando, 
ao longo de 14 anos, que rompera com a ruptura “dos trabalhadores”. No momento 
em que Dilma Rousseff começou a violar a liberdade do mercado, a, com ou sem 
justificativa, violar o sistema de metas de inflação e a desarrumar as contas públicas, 
o seu governo entrouem rota de colisão com os agentes econômicos alinhados à 
cartilha neoliberal. (GIAMBIAGI, 2011b). 
O impeachment de Dilma Rousseff abriu um período de transição — econômica 
e política — em que o seu vice, Michel Temer, assumiu o poder e passou a restaurar 
uma agenda neoliberal: com privatizações, ajustes no tamanho do Estado, reformas 
fiscais, trabalhistas e previdenciárias, bem como com os “rigores” do tripé 
macroeconômico (metas de inflação, metas fiscais e câmbio flutuante). 
 
4 A CRISE ECONÔMICA BRASILEIRA DE 2015 
 
A crise econômica brasileira que estourou em 2015 começou a ser formada em 
meados de 2011 e 2012, com a implantação de uma Nova Matriz Econômica (NME). 
A NME foi uma política implementada pelo Governo da época e se baseava no 
controle do câmbio, no aumento dos gastos públicos (expansão fiscal) e na redução 
dos juros. 
Em 2012, o Brasil era um país que havia conseguido manter a inflação 
controlada dentro das metas estabelecidas desde 2004. Ele havia alcançado o 
equilíbrio das contas públicas por meio de grandes resultados fiscais e da redução da 
sua dívida. Além disso, os investimentos cresciam acima do PIB. Contudo, o País 
ainda não tinha conseguido vencer um grande problema: os juros altos. 
Os juros da economia brasileira não eram condizentes com uma economia 
estável e segura. E o Governo entendeu que as causas dos juros altos eram o câmbio 
valorizado e a carga tributária elevada. 
Por isso, o Governo, em 2012, elegeu como prioridade a redução dos juros da 
economia, por meio de estímulos ao investimento, redução da carga tributária e 
controle de preços. Essas medidas eram uma tentativa de aumentar a competitividade 
 
34 
 
do Brasil e atrair capital produtivo. O Banco Central do Brasil (BCB) reduziu a taxa 
base de juros, e o Governo desonerou a folha de pagamentos de alguns setores e 
reduziu o preço da energia elétrica. Esses movimentos foram realizados esperando 
que o capital estrangeiro entrasse no País não para especulação, mas para 
investimento em produção, gerando emprego e renda. (GIAMBIAGI, 2011b). 
No entanto, em 2012 a inflação voltou a acelerar, o que exigiu um aumento da 
taxa de juros. No entanto, a política de redução de juros da NME foi realizada e a taxa 
do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic) foi reduzida, o que fez a taxa 
real de juros ficar abaixo de 2% ao ano. Isso, por sua vez, levou a taxa de inflação a 
aumentar ainda mais, como você pode observar na Figura 1. 
 
Ainda visando à expansão de investimentos, o Governo injetou dinheiro no 
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A ideia era tentar 
ampliar os investimentos e gerar um ciclo vicioso na economia, ou seja: investimentos 
gerariam empregos, que estimulariam a demanda, que, por sua vez, geraria mais 
investimentos. Entretanto, muitos desses investimentos do BNDES não foram 
utilizados com eficiência para beneficiar empresas estratégicas, o que não gerou bons 
resultados. 
Com o mesmo intuito, alguns setores considerados estratégicos receberam 
proteção e subsídios, como a indústria naval e a automotiva. Outro setor estratégico 
escolhido foi o petróleo. Com o pré-sal em jogo, o objetivo era fortalecer uma indústria 
petrolífera brasileira, mas essa política não apresentou os resultados esperados. 
 
35 
 
A política de controle de preços afetou diretamente a Petrobras, fazendo com 
que a empresa perdesse muito dinheiro, pois ela vendia a gasolina a um preço menor 
do que aquele pelo qual a comprava no mercado internacional. Sem crescimento 
significativo na sua produção, intensificando os investimentos e com o preço da 
gasolina controlado, o endividamento da Petrobras aumentou. 
Outro setor que sofreu forte impacto do controle de preços foi o de energia 
elétrica. Em meio a um período de escassez, em 2013 o Governo reduziu as tarifas 
de energia, o que levou a uma descapitalização das empresas de energia. Em 2015, 
essa política de preços não pôde mais ser sustentada, e os preços foram liberados, 
acarretando um choque de oferta, o que fez o BCB elevar novamente a taxa de juros. 
Como você pôde perceber, muito dinheiro público foi utilizado para colocar em 
prática os planos do Governo. Nesse período, a taxa doméstica de investimento foi 
elevada, mas não houve o crescimento econômico esperado e ainda ocorreu uma 
diminuição na Produtividade Total dos Fatores (PTF), reduzindo o PIB brasileiro. 
A intervenção do Governo gerou um déficit nas contas públicas, como você 
pode observar na Figura 2. Esse movimento foi acompanhado por uma queda no PIB, 
que passou de um crescimento de 3% em 2013 para 0,5% em 2014, finalmente 
chegando a –3,8% em 2015. O Brasil gastou muito em pouco tempo para estimular o 
crescimento da economia, mas esse crescimento não ocorreu. 
Veja, na Figura 2, que, até 2013, as receitas do Governo eram maiores que as 
despesas, mas a partir de 2014 esse cenário começa a mudar. Em 2015, as despesas 
já são maiores que as receitas. 
E mesmo diante de uma diminuição do PIB, o Governo não conseguiu reduzir 
seus gastos. Em 2015, a redução de gastos foi de apenas 1,1% diante da redução de 
3,8% do PIB. Essa falha no ajuste fiscal também pode ser atribuída ao péssimo 
momento político que o Brasil vivia. Como você deve saber, o Governo da época 
estava enfraquecido, principalmente pelos vários escândalos de corrupção, e não 
conseguiu levar adiante suas propostas de cortes nos gastos. (GIAMBIAGI, 2011b). 
 
36 
 
 
Esse cenário ficou ainda pior com a descoberta das “pedaladas fiscais” 
efetuadas intensivamente desde 2013. A administração pública federal 
propositalmente atrasava os repasses para órgãos das autarquias e bancos públicos 
com a finalidade de encobrir as suas despesas e enganar o balanço das contas 
públicas. Dessa forma, os bancos públicos emprestavam disfarçadamente dinheiro ao 
Governo. Mesmo sem o devido repasse, os bancos continuavam pagando as 
despesas do Governo, como os programas sociais, com recursos próprios. 
Esse ato é considerado crime pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), 
implementada em 2000 com a finalidade de proporcionar um controle maior dos 
gastos públicos. No art. 36 dessa lei (BRASIL, 2000), consta que é proibida a operação 
de crédito entre uma instituição financeira estatal e o ente da Federação que a 
controle, na qualidade de beneficiário do empréstimo. 
Essa proibição foi imposta visando a uma gestão fiscal responsável, porque 
esse tipo de operação mascara os dados reais das contas públicas e aparenta o 
cumprimento das metas fiscais estabelecidas em lei, enquanto isso, na verdade, não 
está acontecendo. O que estava acontecendo era que o Brasil enfrentava graves 
dificuldades financeiras e um desequilíbrio fiscal. 
Esse rombo nas contas públicas e uma dívida crescente elevaram o risco- -
Brasil, contribuindo ainda mais para a redução de investimentos no País, para a 
diminuição do consumo (devido à incerteza em relação à economia) e para o aumento 
dos juros. 
 
37 
 
O déficit no orçamento do Governo também influenciou ainda mais o aumento 
da inflação. Isso ocorreu porque, para cobrir esse déficit, o Governo emitiu títulos do 
Tesouro Nacional, cuja maioria é comprada pelos bancos por meio da criação de 
moeda. 
 
4.1 Impactos da crise econômica na sociedade brasileira 
 
Como você viu, a economia do Brasil estava muito fragilizada devido a uma 
série de insucessos. Obviamente, isso impactou diretamente a sociedade de diversas 
formas. Aqui, você vai ver três desses impactos. 
O principal é o aumento do desemprego. Como você pode ver na Figura 3, em 
2014, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 6,8% da 
população economicamente ativa estava desocupada. Em 2015, esse número passou 
para 8,5%, o que corresponde a 8,6 milhões de brasileiros desempregados 
(INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, c2018).Segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), pesquisa 
divulgada pelo Ministério do Trabalho, em 2015, 1,510 milhão de empregos formais 
fecharam no Brasil (BRASIL, 2015). Com a diminuição de empregos formais e o 
aumento do número de desempregados, o salário médio do brasileiro caiu. Em 2014, 
 
38 
 
o salário médio era R$ 1.950, mas em 2015 esse valor passou para R$ 1.853 
(BRASIL, 2015). 
A alta taxa de desemprego continuou persistindo em 2016, o que fez crescer o 
número de empregos informais. Assim, muitos brasileiros voltaram a trabalhar fazendo 
“bicos”, trabalhos sem renda fixa e sem os direitos e as garantias de um emprego com 
carteira assinada. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), no 
final de 2016, 45% da população que estava trabalhando encontrava-se na 
informalidade (DEUTSCHE WELLE, 2017). Como você já viu anteriormente, em 2015 
a inflação voltou a subir. Observe esse movimento na Figura 4. 
 
A inflação é o aumento generalizado dos preços. Dessa forma, o aumento da 
inflação faz com que a população perca poder de compra, pois os produtos e serviços 
se tornam mais caros. 
Outro impacto na população foi a alta do dólar; o real teve uma enorme 
desvalorização. Os exportadores veem isso com bons olhos, porque os produtos 
brasileiros ficam mais baratos em relação aos produtos de outros países. Mas, para a 
população em geral, a alta do dólar significa o encarecimento de viagens ao exterior 
e o aumento do preço dos produtos importados. Em 2015, o dólar chegou a valer mais 
de R$ 4,00 e as despesas dos brasileiros no exterior caíram de US$ 25,567 bilhões 
em 2014 para US$ 17, 357 bilhões em 2015, uma queda de mais de 32%. Observe a 
Figura 5, com os dados dos gastos de 2010 a 2016. 
 
39 
 
 
 
4.2 Soluções e caminhos traçados para sair da crise 
 
Depois de o Brasil entrar em uma grave crise econômica, o que resta agora é 
pensar em alternativas que tirem o País desse grande retrocesso. E, para isso 
acontecer, é preciso criar novamente um ambiente favorável a investimentos 
permanentes do setor privado que gerem emprego e renda, além de diminuírem os 
juros e a inflação. (GIAMBIAGI, 2011b). 
O maior e mais importante passo a ser dado, defendido por diversos 
economistas brasileiros, é o ajuste fiscal por meio da redução de gastos. O Governo 
precisa cortar gastos desnecessários para conseguir fechar as contas. Para isso, 
precisa avaliar a eficácia de órgãos e programas governamentais. 
Quando se fala em corte dos gastos públicos, você deve considerar o corte nos 
gastos correntes, ou seja, nos gastos realizados para manter a máquina pública. Mas 
a tendência do Governo é cortar os gastos com investimentos devido à rigidez 
orçamentária no Brasil. 
O projeto de emenda constitucional do teto dos gastos públicos foi um passo 
importante dado pelo Governo para tentar ajustar as contas. O teto dos gastos 
públicos estabelece um limite para o crescimento dos gastos de 2017 a 2037. A ideia 
é que os gastos públicos não podem crescer mais do que a inflação, e os órgãos 
públicos estão sujeitos a punições se as metas não forem cumpridas. Essa emenda 
 
40 
 
constitucional sinaliza para a economia um controle nas contas públicas e a potencial 
criação de um superávit. 
A reforma da Previdência é outro fator que visa colaborar com a redução dos 
gastos do Governo. O País vive um bônus demográfico, ou seja, a maior parte da 
população é economicamente ativa, mas, com a queda da taxa de natalidade, esse 
bônus é temporário e possui prazo para acabar. E, mesmo com o bônus demográfico, 
o Brasil já gasta 20% do PIB em previdência; esse gasto é semelhante ao de países 
considerados mais velhos. 
O corte de gastos também é importante para recuperar a poupança doméstica 
e, consequentemente, o investimento em infraestrutura. Como você deve saber, esse 
tipo de investimento é essencial para o País voltar a crescer. 
A redução dos gastos públicos impacta positivamente a inflação. Como o 
Governo passa a gastar menos, então a demanda de produtos e serviços consumidos 
Governo por ele cai, e isso também impacta o mercado de trabalho e a população 
assalariada. Todos esses fatores colaboram para a redução do nível de incertezas na 
economia e tornam o País mais atrativo a investimentos, o que permite uma redução 
nos juros básicos. (GIAMBIAGI, 2011b). 
 
5 SISTEMA ECONÔMICO BRASILEIRO 
 
Sistema é entendido como um conjunto de elementos articulados entre si, que 
devem ser analisados de forma integrada. No sistema econômico, um elemento 
essencial é o trabalho, utilizado pelo homem para melhorar seu padrão de vida, 
objetivando o bem-estar como base na lógica do desenvolvimento. No Brasil, o 
sistema econômico está centrado no sistema capitalista, que adota os paradigmas de 
liberdade de produção, em oposição à participação do Estado como agente 
econômico, e reforça a propriedade privada. 
A economia brasileira teve diversas transformações ao longo do tempo, desde 
a colonização, cuja formação econômica foi pautada na elevada concentração de 
terras, na monocultura da cana-de-açúcar e na utilização de mão de obra escrava, 
principalmente de africanos. Mesmo com a independência do Brasil de Portugal, o 
sistema colonial deixou fortes marcas na estrutura econômica e na sociedade 
 
41 
 
brasileira, ainda muito presentes nos tempos atuais. Celso Furtado (2001, p. 39) 
explica que: 
A exploração do Brasil […] foi uma empresa concebida nos mesmos termos 
do Império das Índias: como um simples empreendimento comercial. As 
necessidades da colonização mudarão, entretanto, a fisionomia externa da 
nova empresa. Essa mudança, porém, afetará apenas a roupagem exterior. 
O sentido de empresa comercial se conservará bem marcado. Esse sentido, 
que será o da evolução econômica da colônia, presidirá a formação da 
sociedade. A análise da economia colonial é tão importante para a 
compreensão da economia brasileira quanto a da formação histórica de 
Portugal para compreender-se a razão de ser das grandes expedições e o 
sentido que tomou a empresa de colonização. 
Posteriormente, com a expansão da produção cafeeira, houve a chegada de 
imigrantes europeus para trabalharem nas fazendas, atraídos por oportunidades de 
emprego e esperanças de terem suas próprias terras em um futuro próximo. Nesse 
período, também ocorreu a abolição da escravatura no Brasil, forçada pela própria 
estrutura que não mais estava satisfeita com esse tipo de organização. Em seguida, 
houve a Proclamação da República, com a intenção de transformar o país em uma 
grande república. Esses acontecimentos fizeram com que o salário fosse introduzido 
nas relações de trabalho. O trabalho remunerado fez com que o Brasil fosse inserido 
na ordem mundial capitalista, ainda que tardiamente, já que por muitos anos a divisão 
se deu pelos senhores (que concentravam a riqueza) e pelos escravos (forçados ao 
trabalho sem remuneração). 
Por muitos anos, a economia brasileira funcionava em torno do café, voltado 
principalmente para a exportação, como o principal produto do Brasil. No entanto, a 
partir de 1906, o mercado do café começou a sentir fortes impactos de acontecimentos 
externos, o que levou o governo a intervir nesse cenário, com a compra do café 
excedente, proibindo a ampliação das plantações e facilitando os empréstimos 
externos para compra do excedente produzido. Até que em 1929, o cenário se 
agravou com a queda da Bolsa de Nova York, que provocou uma grande crise 
mundial. O café brasileiro passou a não ser mais comprado, e os excedentes foram 
aumentando e sendo queimados pelo governo brasileiro. 
A partir desse momento histórico, a participação do Brasil no mercado 
internacional do café foi decrescendo. No início do século XX, o Brasil chegou a deter 
80% do total do mercado internacional do café. Já na década de 1990, dominava 
apenas entre 25% e 30% do mercado, tendo

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