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w w w. u n i s u l . b r capa_curva.pdf 1 15/07/16 09:51 UnisulVirtual Palhoça, 2016 Direito Eleitoral Universidade Sul de Santa Catarina Créditos Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul Reitor Sebastião Salésio Herdt Vice-Reitor Mauri Luiz Heerdt Pró-Reitor de Ensino, de Pesquisa e de Extensão Mauri Luiz Heerdt Pró-Reitor de Desenvolvimento Institucional Luciano Rodrigues Marcelino Pró-Reitor de Operações e Serviços Acadêmicos Valter Alves Schmitz Neto Diretor do Campus Universitário de Tubarão Heitor Wensing Júnior Diretor do Campus Universitário da Grande Florianópolis Hércules Nunes de Araújo Diretor do Campus Universitário UnisulVirtual Fabiano Ceretta Campus Universitário UnisulVirtual Diretor Fabiano Ceretta Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Ciências Sociais, Direito, Negócios e Serviços Amanda Pizzolo (coordenadora) Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Educação, Humanidades e Artes Felipe Felisbino (coordenador) Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Produção, Construção e Agroindústria Anelise Leal Vieira Cubas (coordenadora) Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Saúde e Bem-estar Social Aureo dos Santos (coordenador) Gerente de Operações e Serviços Acadêmicos Moacir Heerdt Gerente de Ensino, Pesquisa e Extensão Roberto Iunskovski Gerente de Desenho, Desenvolvimento e Produção de Recursos Didáticos Márcia Loch Gerente de Prospecção Mercadológica Eliza Bianchini Dallanhol Livro didático UnisulVirtual Palhoça, 2016 Designer instrucional Elizete Aparecida De Marco Coimbra Direito Eleitoral Mauro Antonio Prezotto Livro Didático Copyright © UnisulVirtual 2016 Professora conteudista Mauro Antonio Prezotto Designer instrucional Elizete Aparecida De Marco Coimbra Projeto gráfico e capa Equipe UnisulVirtual Diagramador(a) Edison Valim Revisor Diane Dal Mago Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul P93 Prezotto, Mauro Antonio Direito eleitoral : livro didático / Mauro Antonio Prezotto ; design instrucional Elizete Aparecida De Marco Coimbra. – Palhoça : UnisulVirtual, 2016. 274 p. : il. ; 28 cm. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-506-0082-6 e-ISBN 978-85-506-0083-3 1. Direito eleitoral. 2. Crime eleitoral. 3. Direitos políticos. I. Coimbra, Elizete Aparecida De Marco. II. Título. CDD (21. ed.) 341.28 ISBN 978-85-506-0082-6 e-ISBN 978-85-506-0083-3 pag_iniciais.indd 4 10/10/16 10:36 Sumário Introdução | 7 Capítulo 1 Direitos políticos | 9 Capítulo 2 Atores do processo eleitoral | 55 Capítulo 3 Processo eleitoral | 97 Capítulo 4 Representações e ações eleitorais | 151 Capítulo 5 Crimes eleitorais | 215 Considerações Finais | 259 Referências | 261 Sobre o Professor Conteudista | 273 Introdução O presente livro tem por objetivo apresentar as leis que regem o processo eleitoral e o seu funcionamento no Brasil, cujo tema é objeto de estudo da Unidade de Aprendizagem intitulada Direito Eleitoral. O direito eleitoral se ocupa do estudo das normas constitucionais e infraconstitucionais que regem os direitos políticos e seu exercício, bem como a formação da vontade popular, ou seja, o exercício da soberania popular a que alude o artigo 14 da Constituição da República de 1988. O direito eleitoral pode ser entendido como o ramo do direito público que se ocupa da regulamentação do exercício dos direitos políticos, abrangendo todas as fases do macroprocesso eleitoral, desde o alistamento eleitoral, portanto, até a diplomação dos candidatos eleitos. Quanto às fontes do direito eleitoral podemos citar primeiramente a Constituição Federal, de onde emanam os preceitos fundamentais, o regramento acerca do sistema de governo (Art. 1º), nacionalidade (Art. 12), os direitos políticos (Art. 14), os partidos políticos (Art. 17), a competência para legislar sobre a matéria (Art. 23, I) e a organização da Justiça Eleitoral (Art. 118). Na legislação infraconstitucional temos a Lei nº 4.737/65, que institui o Código Eleitoral (CE); a Lei Complementar nº 64/90, denominada de Lei das Inelegibilidades; a Lei nº 9.404/97, conhecida como Lei Eleitoral; a Lei nº 9.096/96, também denominada de Lei dos Partidos Políticos – LPP e as resoluções expedidas pelo TSE, nos termos do artigo 105 da Lei Eleitoral. Especificamente em relação ao Código Eleitoral (CE), é importante anotar que vários dispositivos não têm mais aplicabilidade, porquanto a Constituição Federal de 1988 dispôs sobre o mesmo assunto, mas de modo diverso, não tendo sido recepcionado pelo atual texto constitucional, ou mesmo porque a legislação infraconstitucional editada após 1965 (ano da publicação da Lei nº 4.737 – Código Eleitoral) veio a modificá-lo, revogando, portanto, o dispositivo até o momento vigente, seja de forma expressa, seja tacitamente. O livro está constituído em cinco capítulos que abordam os conteúdos relacionados ao direito eleitoral, ou seja, ao exercício dos direitos políticos. No primeiro capítulo, estudaremos todas as normas que regulam a aquisição, os aspectos relacionados ao seu exercício, em especial quanto à capacidade eleitoral passiva, bem como as restrições ao seu exercício decorrentes das hipóteses de perda ou suspensão e das causas de inelegibilidades previstas na Constituição Federal e na legislação infraconstitucional. No segundo capítulo, vamos conhecer os diversos atores que integram o processo eleitoral. São entidades e pessoas que intervêm no processo de escolha dos representantes do povo, sem os quais a democracia brasileira não se realizaria, a soberania popular não se expressaria. O terceiro capítulo apresenta o conteúdo relacionado às diferentes fases do processo eleitoral, entendido este como sendo o procedimento concatenado em etapas, visando a materializar e concretizar o exercício da soberania popular, por meio da escolha do cidadão, especialmente para a composição do poder legislativo e do poder executivo. Ao estudar as diferentes fases do processo eleitoral, poderemos compreender melhor o funcionamento do processo eleitoral, o qual comumente chamamos de eleição. No quarto capítulo, estudaremos as representações e ações eleitorais previstas na legislação eleitoral, as quais visam a apurar e reprimir os ilícitos eleitorais praticados no curso do processo eleitoral e punir os responsáveis pelas irregularidades, preservando, assim, a lisura e a legitimidade das eleições. Por fim, no quinto capítulo, veremos os principais aspectos relacionados aos crimes eleitorais. Estudaremos a classificação doutrinária dos diversos crimes e as características principais dos diversos tipos penais eleitorais, os quais visam, ao lado das representações e ações eleitorais, a resguardar a legitimidade do processo de escolha do eleitor. Esperamos que o presente livro sirva de instrumento para conhecer e compreender as particularidades de nosso sistema eleitoral e todos os aspectos relacionados à aquisição e exercício dos direitos políticos, tornando-se assim cidadãos cientes dos direitos e deveres para o permanente processo de construção da democracia brasileira. Bons estudos! 9 Capítulo 1 Direitos políticos 1 Seção 1 Noções introdutórias Ainda que não seja exclusivo dos regimes democráticos, é impossível falar de direitos políticos sem pensar em democracia. Silva (2011, p. 125-126) destaca que democracia é meio e instrumento para a realização de valores que são essenciais para a convivência humana, sendo a democracia “um processo de convivência social em que o poder emana do povo, há de ser exercido, direta e indiretamente, pelo povo e em proveito do povo.” A democracia se assenta em dois princípios básicos: a) soberania popular, pelo qual o povo é a fonte única de poder – todo poder emana do povo; b) participação direta e indireta do povo no poder, a qual se opera pelo exercício dos poderes políticos. A ConstituiçãoFederal (CF) de 1988 dedica um capítulo específico para tratar dos direitos políticos, por meio de normas que disciplinam o exercício da soberania popular (Arts. 14 a 16), normas essas que são o desdobramento do princípio estabelecido no artigo 1º, parágrafo único. Conforme Ferreira (1989, p. 288-289), os direitos políticos “são aquelas prerrogativas que permitem ao cidadão participar na formação e comando do governo”. Os direitos políticos são as prerrogativas ou atributos de intervenção e participação na organização administrativa e gerência dos interesses comuns da sociedade. 1 PREZOTTO, Mauro Antonio. Direito Eleitoral. Palhoça: UnisulVirtual, 2016. p. 9-54. 10 Capítulo 1 Acerca da importância dos direitos políticos, Ferreira (2015, p. 41) destaca que: Os direitos políticos fulguram, com destaque, no festejado Título II da Constituição da República, em capítulo próprio (IV), sendo imperativo qualificá-los como direitos fundamentais, não apenas pela topográfica expressa na Carta, mas pelo conteúdo que encetam em face da opção do Constituinte de adoção de um regime democrático. Neste sentido, enquanto a nacionalidade representa o vínculo territorial por nascimento ou pela naturalização, a cidadania qualifica os participantes da vida do Estado, sendo, pois, atributo das pessoas integradas à sociedade, decorrente do direito de participar do governo, direta ou indiretamente. Cidadão é o indivíduo titular dos direitos políticos com direito de votar, de ser votado e de intervir em assuntos de grande relevância. Sobre estes conceitos, Dias (2013, p. 105) traz importante diferenciação entre nacionalidade e cidadania: Do ponto de vista jurídico, a nacionalidade é o vínculo que une cada indivíduo com um Estado determinado. A relação que se estabelece é jurídico-política. A nacionalidade não estabelece nem fundamenta inicialmente os direitos civis, mas políticos. [...] A nacionalidade se refere ao fato de que alguém faça parte da comunidade nacional e esteja integrado nela; tenha condição de nacional contrapondo-se à de estrangeiro. [...] A cidadania, por outro lado, faz referência à condição de membro ativo do Estado, caracterizada pela titularidade dos direitos políticos. [...]. Enquanto cidadão é sempre nacional, o nacional pode não ser cidadão. É a participação ativa, a titularidade do direito de participar no governo o que determina a condição de cidadão. Os direitos políticos, portanto, dizem respeito à soberania popular, que é exercida pelo sufrágio, entendido esse como o direito de escolha. O indivíduo que se submete ao poder sem dele participar, sem exercê-lo, é súdito e não cidadão. Segundo Silva (2011), a democracia pode ser direta, onde o povo exerce, sem intermediários, os poderes de governo, legislando, administrando e julgando. E indireta, na qual o povo escolhe periodicamente representantes para atuar em seu nome, governando, legislando, exercendo, enfim, todas as funções estatais; e semidireta, que se caracteriza por utilizar instrumentos da democracia direta e da semidireta, ou seja, é a conjugação dos dois primeiros tipos de democracia. 11 Direito Eleitoral A democracia brasileira é, a um só tempo, direta e também representativa. É o que estabelece a CF/88, ao dizer que a manifestação popular, ou o sufrágio, dá- se de forma direta e por meio de representantes: “Art. 1º, parágrafo único: Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. (BRASIL, 1988, grifo nosso). Como vimos na democracia direta, o cidadão decide, sem intermediários, sobre os assuntos de interesse da comunidade, utilizando-se, para tanto, de instrumentos como o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular, conforme artigo 14, incisos I e II, da CF/88. A Lei nº 9.709/98 regulamentou os institutos do plebiscito, referendo e iniciativa popular, estabelecendo: “Art. 1º A soberania popular é exercida por sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com igual valor para todos, nos termos desta Lei e das normas constitucionais pertinentes, mediante: I – plebiscito; II – referendo; III – iniciativa popular. O plebiscito é a consulta feita à população previamente à edição de ato legislativo ou administrativo, para que ela delibere sobre os assuntos de grande relevância. No referendo a consulta à população é feita posteriormente à edição do ato legislativo ou administrativo, para que ela o aprove ou rejeite. Por fim, a iniciativa popular é a prerrogativa de a população apresentar projeto de lei à Câmara dos Deputados, mediante a assinatura de no mínimo um por cento do eleitorado nacional, distribuídos pelo menos em cinco Estados, com no mínimo três décimos por cento dos eleitores de cada um deles, conforme artigo 61, § 2º da CF/88, tendo, então, tramitação segundo as regras regimentais do Parlamento. São três instrumentos - embora pouco utilizados - importantes para o exercício do poder diretamente pelo povo. Seja na democracia direta, seja na representativa, o povo é soberano e exerce essa soberania por meio do direito de sufrágio, que segundo o artigo 14 da CF/88 é universal. O termo universal precisa ser analisado com o devido cuidado, porquanto, ao contrário do que possa parecer, não está ele a indicar que todo nacional possui o direito ao exercício do sufrágio, mas, apenas aqueles habilitados perante a Justiça Eleitoral. 12 Capítulo 1 Conforme Gomes (2014, p. 48), o sufrágio pode ser universal ou restrito (este é subdividido em censitário, cultural e masculino), igual ou desigual. Sufrágio universal é aquele em que o direito de votar é atribuído ao maior número possível de nacionais. As eventuais restrições só devem fundar-se em circunstâncias que naturalmente impedem os indivíduos de participar do processo político. Restrito, diferentemente, é o sufrágio concedido tão só a uns quantos nacionais, a uma minoria. A doutrina aponta três espécies de sufrágio restrito: censitário, cultural ou capacitário e masculino. Censitário é o sufrágio fundado na capacidade econômica do indivíduo. Nele somente se atribui cidadania aos que auferirem determinada renda, forem proprietários de imóveis ou recolherem aos cofres públicos certa quantia pecuniária a título de tributo. Cultural ou capacitário é o sufrágio fundado na aptidão intelectual dos indivíduos. Os direitos políticos somente são concedidos àqueles que detiverem determinadas condições intelectuais, demostradas mediante diploma escolar. A vigente Constituição acolheu em parte esse tipo de sufrágio. Com efeito, nega a capacidade eleitoral passiva aos analfabetos, pois estabelece que eles são inelegíveis (art. 14, § 4º). Todavia, se quiserem, poderão votar (art.14, § 1º, II, a), embora não possam ser votados. [...] Masculino é o sufrágio que veda a participação de mulheres no processo político. A exclusão se faz só com fulcro no sexo. [...] O sufrágio igual decorre do princípio da isonomia. Os cidadãos são equiparados, igualados, colocados no mesmo plano. O voto de todos apresenta idêntico peso político, independente de riquezas, idade, grau de instrução, naturalidade ou sexo. Significa dizer que todas as pessoas têm o mesmo valor no processo político-eleitoral: one mam, one vote. [...].” No sufrágio desigual admite-se a superioridade de determinados eleitores e, portanto, possuem maior número de votos. No Brasil, adotamos o sufrágio universal o qual é atribuído ao maior número de pessoas devidamente habilitadas segundo as regras eleitorais vigentes, de modo que não se limita por distinções de gênero, cor, raça, capacidade financeira ou patrimonial, sexo ou cultural. 13 Direito Eleitoral 1.1 Aquisição dos direitos políticos Conforme vimos anteriormente, o direito de sufrágio, isto é, o direito de escolha é atribuído a um universo de pessoas, qualificadas como eleitores. É com o alistamento eleitoral perante a Justiça Eleitoral que se adquirem os direitos políticos,ou seja, os atributos de intervenção no governo do município, do estado e do país. 1.1.1 Alistamento eleitoral O alistamento eleitoral consiste na inscrição do indivíduo que preenche todos os requisitos exigidos pela legislação, no rol de eleitores. O alistamento eleitoral possui regras que estão estabelecidas no artigo 14 da CF/88. Dessa forma, ele é: a) obrigatório para os maiores de dezoito anos; b) facultativo para analfabetos; para os maiores de setenta anos; para os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos. Ainda de acordo com o artigo 14, § 2º da CF/88 são considerados inalistáveis, ou seja, não podem se alistar como eleitores, os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos. As normas referentes ao exercício dos direitos políticos estão disciplinadas na Lei nº 4.737/65, chamada também de Código Eleitoral (CE), que embora seja anterior à CF/88, foi parcialmente recepcionado pela Carta Constitucional. Os artigos 4º, 5º e 6º do CE são dispositivos que não foram integralmente recepcionadas pela atual Constituição da República, isso porque, quanto ao alistamento e voto, a norma regente é aquela inserida no artigo 14 da CF/88. Com essa constatação, podemos dizer que o indígena não está impedido de se alistar eleitor, porquanto a CF não impôs como condição para o alistamento a fluência na língua pátria. Esse entendimento restou sedimentado pelo TSE pela Res. nº 23.274, de 01/06/2010. O termo se refere ao cidadão brasileiro chamado para a seleção, tendo em vista a prestação do Serviço Militar inicial, conforme art. 3º do Decreto nº 57.654/66 que regulamentou a Lei nº 4.375/64, que dispõe sobre o serviço militar. Todavia, nem todos aqueles chamados para a seleção para o serviço militar tem o direito a voto restringido. Somente estarão impedidos de exercer o direito ao voto aqueles que efetivamente tenham sido selecionados e estejam prestando o serviço militar obrigatório. Por outro lado, conforme decidiu o TSE na Consulta respondida através da Resolução n. 15.850, de 03/11/1989, os alunos de Órgão de Formação da Reserva (médicos, dentistas, farmacêuticos e veterinários) que estão prestando o serviço militar inicial obrigatório, estão inseridos na proibição constitucional, sendo inalistáveis e, portanto, estão impedidos de exercer o direito ao voto. 14 Capítulo 1 Importante ainda registrar, de acordo com o artigo 14 da Res. TSE nº 21.538/2003, que regulamenta o alistamento eleitoral, o cidadão que completar 16 anos até a data da eleição poderá se alistar eleitor. Ou seja, o marco para verificação da idade, para fins de inscrição eleitoral, é a data da eleição. Também de acordo com o artigo 16 da Res. TSE nº 21.538/2003 o analfabeto que deixar de sê-lo deverá requerer a sua inscrição eleitoral, não estando sujeito à multa prevista no artigo 8º do CE. Já o brasileiro nato que não se alistar até os 19 anos ou o naturalizado que não se alistar até um ano depois de adquirida a nacionalidade brasileira incorrerá em multa imposta pelo juiz eleitoral e cobrada no ato da inscrição, consoante estabelece o artigo 15, do CE. A multa pelo não alistamento no prazo estabelecido deixará de ser aplicada ao não alistado se esse requerer sua inscrição eleitoral até o centésimo quinquagésimo primeiro dia anterior à eleição subsequente à data em que completar 19 anos (CE, artigo 8º combinado com artigo 91 da Lei nº 9.504/97, também conhecida como Lei Eleitoral). Os direitos políticos são adquiridos com o alistamento eleitoral, ou seja, com a inscrição do indivíduo no rol de eleitores. A função do alistamento consiste basicamente em: a) qualificar e inscrever o cidadão no rol de eleitores; b) conhecer e declarar o direito ao sufrágio (direito de escolha); c) organizar o eleitorado. Sendo a qualificação, o procedimento administrativo realizado pela Justiça Eleitoral para verificar se o cidadão preenche os requisitos necessários para ser eleitor. A qualificação e a inscrição estão previstas no CE (artigo 42 ao artigo 50), regulamentado pela Res. TSE nº 21.538/2003. 15 Direito Eleitoral Os requisitos para o alistamento eleitoral são: a) ser brasileiro nato ou naturalizado; b) ter no mínimo 16 anos de idade; c) possuir domicílio na zona eleitoral onde pretende se alistar; d) não ser inalistável. A CF/88 estabelece quem é considerado brasileiro nato e naturalizado: Artigo 12. São brasileiros: I - natos: a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país; b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil; c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira; II - naturalizados: a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral; b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira. § 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição [...]. De acordo com o Decreto nº 70.436, de 18/04/72, que “regula a igualdade de tratamento entre brasileiros e portugueses, concernente aos direitos e obrigações civis e ao gozo dos direitos políticos”, a igualdade de direitos e obrigações civis e o gozo de direitos políticos serão reconhecidos por decisão do Ministro da Justiça, mediante portaria. 16 Capítulo 1 A prova da idade se faz mediante a apresentação de um dos documentos previstos no artigo 44 do CE, como carteira de identidade ou carteira emitida pelos órgãos criados por lei federal, controladores do exercício profissional; certificado de quitação do serviço militar; certidão de nascimento ou casamento, extraída do Registro Civil; instrumento público do qual se infira, por direito, ter o requerente a idade mínima de 16 anos e do qual constem, também, os demais elementos necessários à sua qualificação. Para os cidadãos maiores de 18 anos e do sexo masculino é obrigatória a apresentação de certificado de quitação do serviço militar, conforme artigo 44, II, CE. Para fins eleitorais, o domicílio eleitoral não se confunde necessariamente com o domicílio civil. Assim, o eleitor pode indicar como domicílio eleitoral o lugar onde reside, o local onde trabalha ou o local onde possui vínculo patrimonial ou comunitário, conforme entendimento do TSE no REsPE nº 16.397/2000. O alistamento é realizado por meio do processamento eletrônico de dados, conforme Lei nº 7.444/85, segundo a qual, o requerimento de alistamento eleitoral deverá ser submetido à apreciação do juiz eleitoral, o qual poderá determinar a realização de diligência para esclarecer eventual dúvida quantos aos requisitos para o alistamento. Preenchidos todos os requisitos estabelecidos pela legislação, o requerimento de alistamento será deferido pelo juiz eleitoral e o indivíduo terá seu nome inscrito no rol de eleitores. Como o alistamento eleitoral pode ser fiscalizado pelos partidos políticos, o Código Eleitoral estabelece que, da decisão que defere a inscrição do cidadão, qualquer partido político poderá recorrer, no prazo de 10 dias, contados da data em que as listas de alistamento sejam publicadas. Se o juiz eleitoral indeferir o pedido de alistamento é possível ao alistando interpor recurso no prazo de 5 dias, conforme artigo 7º, da Lei nº 6.996/82.Importante consignar que de acordo com o artigo 91 da Lei nº 9.504/97 nenhum requerimento de alistamento ou transferência será recebido nos 150 dias que antecedem a eleição. Em razão do processamento eletrônico, os títulos eleitorais não são mais datados e assinados a cada eleição e o comprovante de votação é entregue no momento da votação, pelo presidente da mesa receptora. Como garantia ao alistamento eleitoral, o CE assegura ao empregado a ausência ao serviço, sem prejuízo da remuneração, por até dois dias para se alistar eleitor, devendo fazer a comunicação com antecedência mínima de 48 horas (artigo 48, CE). 17 Direito Eleitoral O CE em seu artigo 47 assegura ainda a gratuidade das certidões de nascimento ou casamento, quando destinadas ao alistamento eleitoral. 1.1.2 Transferência de domicílio eleitoral Conforme artigo 55 do CE, cabe ao eleitor que mudar de domicílio requerer ao juiz eleitoral do novo domicílio a sua transferência, a qual somente será deferida se preenchidos os seguintes requisitos: a) entrada do requerimento no cartório eleitoral até o 151º dia anterior à data da eleição; b) ter transcorrido pelo menos um ano da inscrição primitiva; c) ter residência mínima de três meses no novo domicílio; d) estar quite com a Justiça Eleitoral. Não se exigirá o cumprimento dos requisitos citados nas letras “b” e “c” acima, quando se tratar de transferência de servidor público civil ou militar, ou membro de sua família, por motivo de remoção ou transferência. A comprovação da nova residência é feita mediante declaração do próprio eleitor, de acordo com a Lei nº 6.996/82. O pedido de transferência deverá ser publicado na imprensa oficial, podendo os interessados apresentar impugnação no prazo de 10 dias. Da decisão do juiz eleitoral que indeferir o pedido de transferência caberá recurso por parte do eleitor no prazo de 5 dias. Da decisão que deferir o pedido poderá recorrer qualquer partido político, no prazo de 10 dias contados da colocação da respectiva listagem à disposição dos partidos. No caso de transferência de domicílio eleitoral, o eleitor não poderá votar em eleição suplementar no novo domicílio. Eleição suplementar é aquela realizada em virtude da anulação da primeira realizada na mesma circunscrição eleitoral. 18 Capítulo 1 Os partidos poderão acompanhar os pedidos de alistamento, transferência, revisão, segunda via e quaisquer outros atos, bem como requerer a exclusão de eleitor inscrito ilegalmente e assumir a defesa do eleitor cuja exclusão esteja sendo promovida. 1.1.3 Cancelamento do alistamento eleitoral De acordo com a legislação eleitoral (Art. 71, CE), o alistamento pode ser cancelado nas seguintes hipóteses: a) Alistamento dos inalistáveis (estrangeiros, conscritos e os privados dos direitos políticos – Arts. 5º e 42, CE); b) Alistamento fora do domicílio; c) Perda ou suspensão dos direitos políticos, depois de alistado; d) Pluralidade de inscrição (alistar-se em mais de um domicílio); e) Falecimento do eleitor; f) Deixar de votar em 3 eleições consecutivas, não pagar a multa ou não se justificar no prazo de 6 (seis) meses, a contar da data da última eleição a que deveria ter comparecido. O cancelamento do alistamento eleitoral leva à exclusão do eleitor do cadastro de eleitores e será promovido de ofício pelo juiz eleitoral, ou seja, independentemente de pedido, ou mediante requerimento de representante de partido político, do próprio eleitor ou do Ministério Público Eleitoral. No processo de exclusão do eleitor do cadastro de eleitores, será assegurado o direito de defesa que pode ser efetuado pelo próprio eleitor interessado, por qualquer outro eleitor ou por representante de partido político. A autoridade que aplicar a pena de suspensão ou perda dos direitos políticos deverá comunicar à Justiça Eleitoral. Os oficiais de registro civil deverão enviar até o dia 15 de cada mês ao juiz eleitoral da respectiva zona comunicação dos óbitos dos alistáveis ocorridos no mês anterior. 19 Direito Eleitoral Havendo denúncia de fraude no alistamento eleitoral de uma zona eleitoral ou município, o Tribunal Regional poderá determinar a realização de correição e, desde que provada a fraude, ordenará a revisão do eleitorado. Quando for constatada a inscrição do mesmo eleitor em mais de uma zona eleitoral, o Tribunal Regional comunicará ao juiz competente para o cancelamento que deverá recair, preferencialmente: a) Na inscrição que não corresponda ao domicílio eleitoral; b) Naquele cujo título não haja sido entregue ao eleitor; c) Naquele cujo título não haja sido utilizado para o exercício do voto na última eleição; d) Na inscrição mais antiga. O pedido de exclusão será publicado em edital com prazo de 10 (dez) dias para ciência dos interessados, que poderão contestar dentro de 5 (cinco) dias, podendo ser realizada dilação probatória de 5 a 10 dias, devendo o juiz proferir decisão em 5 dias. Da decisão do juiz eleitoral que determinar a exclusão do eleitor do cadastro eleitoral caberá recurso para o Tribunal Regional Eleitoral, que deverá ser interposto no prazo de 3 dias, contados da publicação da decisão. O recurso poderá ser interposto pelo eleitor excluendo, por representante de partido político ou pelo Ministério Público Eleitoral. Da decisão que mantém a inscrição eleitoral cabe recurso, também no prazo de 3 dias, que poderá ser interposto por representante de partido ou pelo Ministério Público Eleitoral. Durante todo o processo até chegar à decisão definitiva que determinar a exclusão, o eleitor pode votar validamente. Todavia, interpostos recursos contra as decisões que deferem as inscrições, uma vez providos os recursos pelo Tribunal Regional ou pelo TSE, os votos serão nulos se em número suficiente para alterar a representação partidária ou classificação de candidato eleito pelo sistema majoritário, (Art. 72, CE). Cessada a causa do cancelamento, poderá o interessado requerer novamente a sua qualificação e inscrição. 20 Capítulo 1 1.2 Sufrágio e voto Uma vez alistado, o cidadão adquire a capacidade eleitoral ativa, ou seja, o direito de escolha ou direito de votar. O sufrágio é o direito subjetivo do cidadão de escolher o seu representante no poder legislativo e o governante, bem como o direito de ser escolhido. É o meio pelo qual a soberania popular se exprime. Sufrágio e voto não possuem o mesmo significado. Conforme ensina Gomes (2014, p. 50), o sufrágio é direito subjetivo do cidadão, sendo o voto a expressão desse direito. De acordo com Gomes: O voto é um dos instrumentos mais democráticos, pois enseja o exercício da soberania popular e do sufrágio. Cuida-se de ato pelo qual os cidadãos escolhem os ocupantes dos cargos político-eletivos. Por ele, concretiza-se o processo de manifestação da vontade popular. Embora expresse um direito público subjetivo, o voto é também um dever cívico e, por isso, é obrigatório para os maiores de 18 anos e menores de 70 anos (CF, Art. 14, § 1º). O voto é ato fundamental do exercício do sufrágio, e é a concretização deste. O voto é, nos termos do artigo 14, § 1º da CF/88: a) obrigatório: para os maiores de 18 anos; e b) facultativo para os analfabetos, os maiores de 70 anos e para os maiores de 16 e menores de 8 anos. É necessário compatibilizar a regra constitucional que estabelece ser o voto obrigatório, com a noção de sufrágio, enquanto direito do cidadão. Nesse sentido, segundo Silva (2011. p. 359), a obrigatoriedade referida no artigo 14, § 1º, alínea a, da CF diz respeito ao comparecimento do eleitor à seção eleitoral no dia da eleição, oportunidade que poderá escolher uma das opções apresentadas, ou anular o seu voto, ou votar em branco. 21 Direito Eleitoral O voto, enquanto expressão da vontade do eleitor possui garantias inafastáveis, estabelecidas no artigo 14, caput da CF que são: a) voto direto; b) voto secreto; c) com igual valor para todos. Ao estabelecer queo voto é direto, a CF/88 afastou a possibilidade do exercício do direito de escolha por meio de intermediários. Dessa forma, o eleitor deverá se fazer presente na seção eleitoral para, pessoalmente, realizar ou concretizar o seu direito de escolha. Portanto, o voto, enquanto concretização do sufrágio, constitui-se em ato personalíssimo. Outro atributo essencial ao exercício do direito de sufrágio é a garantia do sigilo do voto. Trata-se de mecanismo que visa a assegurar a liberdade de escolha do eleitor. Protegê-lo de pressões, de interferências indevidas na sua escolha. O eleitor é o dono do seu voto, o qual não deve ser revelado, sob pena de conspurcar o processo de escolha. Por fim, o terceiro atributo do voto é o reconhecimento de que cada eleitor tem um voto, com o mesmo peso, o mesmo valor. Ou seja, não haverá eleitor com voto que possa valer mais do que outro. Todos os votos possuem o mesmo peso e valor político. Estabelecidas as garantias constitucionais relativas ao exercício do direito de sufrágio, vamos conhecer outras regras específicas a serem observadas. Os eleitores do sexo masculino maiores de 16 e menores de 18 ficam impedidos de votar quando e enquanto conscritos. Observe que o § 2º do artigo 14, da Constituição Federal, estabelece que os conscritos são inalistáveis. Todavia, considerando que aquele que tem entre 16 e 18 anos pode se alistar eleitor, o alistamento eleitoral continuará válido, porém, esses cidadãos – os conscritos – ficarão impedidos de exercer o direito de sufrágio, enquanto estiverem prestando o serviço militar obrigatório. Continua... 22 Capítulo 1 Continuação Outra situação que merece especial atenção diz respeito aos presidiários – aquele que ainda não tenha sido condenado definitivamente pela justiça - esse possui o direito de votar, devendo a Justiça Eleitoral adotar as condições para o exercício desse direito. Isso ocorre porque a restrição ao exercício dos direitos políticos decorrente de condenação criminal se dá a partir do trânsito em julgado da decisão condenatória, perdurando até o término do cumprimento da pena. Ou seja, preso temporário não tem seus direitos políticos suspensos, conforme veremos de forma mais detalhada na próxima seção. O eleitor que estiver obrigado a votar e não o fizer estará sujeito à aplicação de multa, além dos impedimentos previstos no artigo 7º do CE, salvo se apresentar justificativa para a sua ausência. O prazo para apresentar justificativa é de 60 dias, contados da eleição, de acordo com o artigo 7º da Lei nº 6.091/74 e artigo 80 da Res. TSE nº 21.538/2003. Para o eleitor que se encontrar no exterior na data do pleito, o prazo de justificativa será de 30 dias, contados de sua entrada no país (artigo 16 da Lei n° 6.091/74). Os eleitores em trânsito no território nacional poderão exercer o direito de voto na eleição para Presidente da República, Governador, Senador, Deputado Federal, Deputado Estadual e Deputado Distrital, devendo ser instaladas urnas nas capitais e nos municípios com mais de 100 mil eleitores, conforme estabelece o artigo 233-A do CE. Para exercer o direito de voto neste caso, o eleitor deverá habilitar- se perante a Justiça Eleitoral no período de até 45 dias da data marcada para a eleição, indicando o local onde pretende votar. Para os eleitores que se encontrarem fora da unidade da Federação de seu domicílio eleitoral somente é assegurado o direito à habilitação para votar em trânsito nas eleições para Presidente da República. Os membros das Forças Armadas, os integrantes dos órgãos de segurança pública a que se refere o artigo 144 da CF/88, bem como os integrantes das guardas municipais mencionados no § 8º do mesmo artigo 144, poderão votar em trânsito se estiverem em serviço por ocasião das eleições. Em relação aos eleitores para os quais o voto é facultativo, não há penalidades, ou seja, para aqueles referidos no artigo 14, § 1º, II, CF/88. Também não haverá penalidades ao eleitor enfermo ou deficiente cujo exercício do voto seja demasiadamente oneroso ou impossível, conforme estabelece a Res. TSE nº 21.920/2004. Do exercício da soberania popular decorre o direito de votar (ius singulli) e de ser votado (ius honorum). Para exercer o direito de votar basta estar inscrito no rol de eleitores. 23 Direito Eleitoral Seção 2 Perda ou suspensão dos direitos políticos Como vimos até aqui, com o alistamento eleitoral o cidadão é integrado ao corpo eleitoral. A partir de sua inscrição no rol de eleitores, ele encontra-se habilitado a participar nas deliberações de interesse da sociedade, seja de forma direta (nos casos de plebiscito, referendo e iniciativa de projeto de lei), ou de forma indireta, escolhendo os representantes no legislativo e no executivo. Em síntese, com o alistamento o cidadão adquire os direitos políticos. Uma vez adquiridos, os direitos políticos não podem sofrer restrição a não ser nas hipóteses legais. A primeira dessas hipóteses nós vimos na seção anterior, e ocorre quando há o cancelamento do alistamento eleitoral. Todavia, a CF/88 estabelece que não haverá cassação de direitos políticos, mas estabelece as hipóteses de perda ou suspensão. O cancelamento do alistamento eleitoral e a perda ou suspensão dos direitos políticos, embora produzam efeitos idênticos, ou seja, retiram o direito de votar e ser votado, são institutos diferentes e ocorrem por razões distintas. Apresentadas as hipóteses de cancelamento do alistamento eleitoral, agora vamos analisar as situações que levam à perda e à suspensão dos direitos políticos. Sobre o tema dispõe a Constituição Federal: Artigo 15. É vedada a cassação dos direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de: I – cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado; II – incapacidade civil absoluta; III – condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos; IV – recusa em cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do artigo 5º, VIII; V – improbidade administrativa, nos termos do artigo 37, § 4º. (BRASIL, 1988). Para melhor compreensão, vamos tratar separadamente os casos de perda e de suspensão dos direitos políticos, conforme segue. `Como aponta Gomes (2012, p. 9), “[...] perder é deixar de ter, possuir, deter ou gozar algo; é ficar privado. Como é óbvio, só se perde o que se tem. A ideia de perda liga-se à definitividade; a perda é sempre permanente, embora se possa recuperar o que perdeu”. 24 Capítulo 1 A perda dos direitos políticos implica a impossibilidade definitiva de o cidadão exercer o direito de votar e de ser votado. Ou seja, atinge a capacidade eleitoral ativa e passiva. O indivíduo que perde os direitos políticos, perde definitivamente o direito de sufrágio. 2.1 Cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado A primeira e única hipótese legal de perda dos direitos políticos se refere ao cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado (Art. 15, I, CF). Conforme Mendes (2015, p. 697), a nacionalidade é adquirida de forma originária – quando decorre do nascimento, independendo da sua vontade (Art. 12, I, CF) – ou de forma secundária – aquela obtida voluntariamente pelo indivíduo (Art. 12, II, CF). O inciso I do artigo 15 da Constituição Federal trata especificamente dos casos de nacionalidade adquirida, ou secundária, ou seja, dos casos de naturalização. Quando o indivíduo naturalizado brasileiro tem cancelada a sua naturalização por decisão judicial da qual não caiba mais recurso – transitada em julgado – perde, consequentemente, os direitos políticos. Com efeito, a aquisição e fruição dos direitos políticos pressupõem a nacionalidade; sem essa, não existem aqueles. Uma vez decretado o cancelamento da naturalização, incumbe ao juiz que julgar a respectiva ação comunicar à Justiça Eleitoral para o imediato cancelamento do alistamento eleitoral, conforme artigo 71, inciso II e § 2º do CódigoEleitoral. A despeito de não haver expressa previsão constitucional, nos casos de perda da nacionalidade brasileira originária – artigo 12, § 4º, inciso II, Constituição Federal –também haverá, como consequência, a perda dos direitos políticos, porquanto, como vimos anteriormente, a nacionalidade brasileira é pressuposto do alistamento eleitoral e, portanto, para a aquisição dos direitos políticos, como anota Ramayana (2006. p. 168): A perda da nacionalidade (vínculo jurídico de união entre cidadão e o Estado) acarreta a perda dos direitos políticos. [...]. Cai a lanço notar o fato de que, mesmo não contemplada na CRFB, a aquisição de outra nacionalidade, como no caso de perda dos direitos políticos, na prática acarretará efetivamente a perda, pois o nacional estará sujeito ao decreto presidencial e às consequências da decisão administrativa. Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que: I – tiver cancelada a sua naturalização por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional; II – adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos: a) de reconhecimento de nacionalidade originária por lei estrangeira; b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em Estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis. 25 Direito Eleitoral Portanto, tanto quanto o cancelamento da naturalização leva à perda dos direitos políticos, a aquisição de outra nacionalidade, conforme artigo 12, § 4º, II, CF/88, também acarretará a perda do direito de sufrágio. 2.2 Suspensão dos direitos políticos A suspensão dos direitos políticos consiste na interrupção temporária do exercício do direito de votar e ser votado. Vejamos cada uma das hipóteses de suspensão elencadas no artigo 15 da Constituição Federal. 2.2.1 Incapacidade civil absoluta O inciso II, do artigo 15 da CF/88, refere-se aos absolutamente incapazes de pessoalmente exercer os atos da vida civil, os quais, conforme o artigo 3º do Código Civil, são todos aqueles menores de 16 anos. A hipótese aqui tratada não decorre de prática de qualquer ilícito, não sendo, portanto, uma sanção. É consequência de um fato jurídico biológico. No presente caso, temos uma hipótese de suspensão dos direitos políticos que perdurará enquanto presente a incapacidade. 2.2.2 Condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem os efeitos da pena A suspensão dos direitos políticos também decorre de uma sentença criminal condenatória da qual não caiba mais recurso, e perdurará enquanto ainda produzir efeitos a decisão judicial condenatória. A suspensão dos direitos políticos, no presente caso, é efeito decorrente, ou secundário, da sentença criminal condenatória transitada em julgado. Esse dispositivo, consoante entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) é autoaplicável (STF. AgRRMS n. 22.470-SP, 27/09/1996), ou seja, não depende de regulamentação. A suspensão dos direitos políticos decorrente da condenação criminal transitada em julgado tem incidência em todas as espécies de crimes, pouco importando a pena aplicada, alcançando inclusive a condenação por contravenção penal, bem como nos casos de aplicação de medida de segurança. 26 Capítulo 1 Portanto, incide nos casos de: a) sursis – suspensão condicional da pena (STF RE nº 179.502-6), enquanto durar o respectivo prazo; b) pena privativa de liberdade – dura enquanto estiver sendo cumprida; c) livramento condicional - enquanto durar o prazo de prova; d) pena restritiva de direitos – enquanto estiver cumprindo ou a pena ainda for exigível; e) pena pecuniária – enquanto não for quitada. Todavia, não abrange os casos em que há suspensão condicional do processo, bem como nos casos de transação penal, posto que, nessas hipóteses, não existe a condenação. A suspensão dos direitos políticos perdura enquanto não cessar o cumprimento da pena ou enquanto não ocorrer a sua extinção, consoante a Súmula 9 do TSE: “A suspensão de direitos políticos decorrente de condenação criminal transitada em julgado cessa com o cumprimento ou a extinção da pena, independendo de reabilitação ou prova de reparação de dano”. Não devemos confundir a suspensão dos direitos políticos em decorrência da condenação criminal transitada em julgado (enquanto durarem os seus efeitos) com a inelegibilidade prevista no artigo 1°, inciso I, alínea “e”, da Lei Complementar nº 64/90, chamada de Lei das Inelegibilidades, na redação dada pela Lei Complementar nº 135/2010. A suspensão dos direitos políticos tem fim com a cessação dos efeitos da pena. Já por força do artigo 1°, I, “e” da LC 64/90, quem for condenado pelos crimes previstos naquele dispositivo legal fica inelegível desde a decisão proferida por órgão colegiado até 8 anos após o cumprimento da pena, consoante veremos adiante. Ou seja, a partir de uma decisão criminal condenatória proferida por órgão colegiado (nos crimes indicados na alínea “e”, do inciso I, do artigo 1º, da LC nº 64/90), o apenado torna-se inelegível para qualquer cargo até o trânsito em julgado da decisão. Com o trânsito em julgado o apenado tem os seus direitos políticos suspensos, o que equivale a dizer que não poderá votar nem ser votado, suspensão que perdurará pelo prazo do cumprimento da pena imposta. Cumprida a pena, o apenado permanece inelegível por mais 8 anos, contados do término do cumprimento da pena imposta. 27 Direito Eleitoral 2.3 Recursa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa O inciso VII do artigo 5º da CF/88 estabelece que “ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica, salvo se invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei.” Podemos citar dois casos de obrigação a todos imposta; • função de jurado; • prestação do serviço militar. De acordo com o artigo 436 do Código de Processo Penal (CPP), o serviço do júri é obrigatório a todos os brasileiros maiores de 18 anos, com exceção daqueles relacionados no artigo 437 do mesmo diploma legal. Porém, é possível a recusa em cumprir a obrigação fundada em convicção religiosa, filosófica ou política, situação que obrigará o cidadão a prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos, suspensão essa que perdurará enquanto não prestar o serviço imposto, conforme artigo 438, do CPP. O segundo caso de obrigação a todos imposta diz respeito à prestação do serviço militar. Estabelece o artigo 143 da CF: Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei. § 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essencialmente militar. (BRASIL, 1988) A Lei nº 8.239/91 regulamentou os §§ 1º e 2º do artigo 143 da CF/88, dispondo sobre o serviço alternativo ao serviço militar. Os que se recusarem prestar o serviço alternativo terão os seus direitos políticos suspensos até o efetivo cumprimento das obrigações, consoante o artigo 4º da referida Lei: Art. 4º [...] § 1º A recusa ou cumprimento incompleto do Serviço Alternativo, sob qualquer pretexto, por motivo de responsabilidade pessoal do convocado, implicará o não-fornecimento do certificado correspondente, pelo prazo de dois anos após o vencimento do período estabelecido. § 2º Findo o prazo previsto no parágrafo anterior, o certificado só A Lei nº 4.375/64 trata do serviço militar. 28 Capítulo 1 será emitido após a decretação, pela autoridade competente, da suspensão dos direitos políticos do inadimplente, que poderá, a qualquer tempo, regularizar sua situação mediante cumprimento das obrigações devidas. (BRASIL, 1964). Alguns doutrinadores sustentamque o caso em análise implica a perda dos direitos políticos, tendo por pressuposto o critério da definitividade ou não temporalidade da restrição aos direitos políticos. No caso específico da recusa de cumprir a obrigação alternativa ao serviço militar, consoante a regra do § 2º do artigo 4º da Lei nº 8.239/91, por não existir um prazo certo, implicaria a perda e não suspensão dos direitos políticos. Nesse sentido, Mendes (2015, p. 751) insere o inciso IV, do artigo 15, CF/88 entre os casos de perda dos direitos políticos. Mesmo entendimento adotado por Guedes (2013, p. 688), ainda que a própria lei faça referência à suspensão dos direitos políticos e não à perda. Para a maioria dos eleitoralistas, entre eles Marcos Ramayana e José Jairo Gomes, a recusa de cumprir obrigação imposta a todos, ou prestação alternativa, configura caso de suspensão dos direitos políticos. Adotando o critério de verificação do caráter da restrição, ou seja, se definitiva ou temporária, consideramos pertinente a segunda corrente na qual a recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa implica a suspensão dos direitos políticos, que perdurará enquanto não atendida, ou não cumprida a prestação. 2.4 Improbidade administrativa O último caso de restrição aos direitos políticos previsto no artigo 15 da CF/88 se refere à condenação por ato de improbidade administrativa, consoante o disposto no § 4º do artigo 37 do texto constitucional. Art. 37, § 4º Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível. (BRASIL, 1998) A Lei nº 8.429/92, que dispõe sobre os atos de improbidade e respectivas sanções, estabelece três espécies de improbidade administrativa: 29 Direito Eleitoral a) os que importem enriquecimento ilícito (artigo 9º); b) os que causam lesão ao patrimônio público (artigo 10); e c) os que atentam contra os princípios da administração pública (artigo 11). Entre as penas cominadas pela prática de ato de improbidade administrativa, a Lei de Improbidade estabelece no artigo 12 a suspensão dos direitos políticos, que varia de 3 até 10 anos: a) de 3 a 5 anos, nos casos do artigo 11; b) de 5 a 8 anos, no caso do artigo 10; e c) de 8 a 10 anos, nos casos do artigo 9º. Porém, não é toda e qualquer condenação por ato de improbidade administrativa que implicará a suspensão dos direitos políticos. Somente haverá suspensão quando a sentença condenatória expressamente estabelecer essa penalidade. Outro aspecto relevante é que a pena de suspensão dos direitos políticos aplicada na sentença condenatória por ato de improbidade administrativa somente começa a produzir seus efeitos a partir do trânsito em julgado da decisão condenatória, conforme expressamente consignado no artigo 20 da Lei de Improbidade. Dessa forma, o prazo de suspensão dos direitos políticos por ato de improbidade administrativa começa a fluir a partir do trânsito em julgado da sentença condenatória, perdurando até o término final do período de suspensão fixado na decisão condenatória. Importante anotar que a condenação por ato de improbidade administrativa pode configurar ainda causa de inelegibilidade, nos termos e limites estabelecidos pela Lei Complementar n. 64/90 (artigo 1º, inciso I, alínea “l”). Lei nº 8.429/92, artigo 20: A perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos só se efetivam com o trânsito em julgado da sentença condenatória. 30 Capítulo 1 Seção 3 Condições de elegibilidade Para ser candidato, ou seja, para exercer a capacidade eleitoral passiva o cidadão deve atender os requisitos de elegibilidade. Conforme Gomes (2014. p. 151) elegibilidade diz respeito à aptidão para ser eleito. “Elegível é o cidadão apto a receber votos em um certame, que pode ser escolhido para ocupar cargos políticos-eletivos.” Costa (2013. p. 67) assevera que elegibilidade e condições de elegibilidade não possuem o mesmo significado. Diz o doutrinador: A Constituição Federal, em seu art. 14, prescreve quais são as condições de elegibilidade, é dizer, os pressupostos para que surja no mundo jurídico o direito de ser votado (elegibilidade). Não se pode confundir, destarte, condições de elegibilidade e elegibilidade; aquelas são suporte fáctico que, concretizado, faz nascer o fato jurídico do qual dimana o direito de ser votado (elegibilidade). Ali, pressupostos; aqui efeito. A elegibilidade, direito de ser votado, decorre da concretização das condições de elegibilidade. Enquanto a capacidade eleitoral passiva é obtida com o alistamento eleitoral, a capacidade eleitoral passiva é alcançada por etapas, tendo em vista a exigência de idade mínima para concorrer a cada dos cargos eletivos. Nesse sentido, aos 18 anos o cidadão adquire o direito de se candidatar a vereador, aos 21 anos pode concorrer a prefeito e vice, deputado estadual, distrital e federal, aos 30 anos pode concorrer a governador e vice e aos 35 anos pode concorrer a senador, presidente e vice-presidente da república. Portanto, aos 35 anos de idade o cidadão atinge a alcança a capacidade eleitoral passiva plena. De acordo com Gomes (2014, p. 152): [...] as condições de elegibilidade são exigências ou requisitos positivos que devem, necessariamente, ser preenchidos por quem queira registrar candidatura e receber votos validamente. Em outras palavras, são requisitos essenciais para que se possa ser candidato e, pois, exercer a cidadania passiva. 31 Direito Eleitoral Conforme classificação sugerida por Costa (2014, p. 75), as condições de elegibilidade são próprias – aquelas previstas no § 3º, do artigo 14 da CF/88 e impróprias – aquelas previstas nos §§ 4º e 8º do artigo 14 também da CF/88 e na legislação infraconstitucional. A situação do militar alistável, prevista no § 8º do artigo 14 da CF/88, será tratada como exceção à regra da filiação partidária, de modo que a título de condição de elegibilidade imprópria, serão oportunamente apenas aquelas previstas no artigo 11 da Lei nº 9.504/97. 3.1 Condições de elegibilidade próprias Conforme já mencionado, as condições de elegibilidade consideradas próprias, conforme Costa (2014, p.75), são aquelas previstas no § 3º, do artigo 14, da CF/88, a seguir analisadas. 3.1.1 Nacionalidade brasileira A nacionalidade diz respeito ao vínculo existente entre o indivíduo e determinado Estado. De acordo com Bastos (2002. p. 447-448), todo indivíduo ou é nacional ou é estrangeiro, sendo a nacionalidade o vínculo jurídico que indica as pessoas que integram a sociedade. “Em síntese, pois, nacional é a pessoa natural do Estado. É todo aquele que se encontra preso ao Estado por um vínculo jurídico que o qualifica com seu integrante [...]”. Desse modo, somente podem ser votados, ou seja, podem se candidatar a um cargo eletivo os brasileiros natos e os naturalizados, conforme artigo 12, I e II CF/88. A CF/88 excepciona a regra da nacionalidade para os Portugueses que possuem residência permanente em nosso país há pelo menos de 5 anos e desde que haja reciprocidade aos brasileiros em Portugal, reciprocidade essa que precisa ser provada conforme prevê o artigo 12, § 1º, CF/88. Embora, como regra geral, são considerados elegíveis os brasileiros natos e os naturalizados, há cargos eletivos - pelo voto direito do cidadão - que são privativos de brasileiro nato. De acordo com o artigo 12, § 3°da CF, os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República somente podem ser ocupados por brasileiro nato, o que exclui, por óbvio, os naturalizados. 3.1.2 Pleno exercício dos poderes políticos Os poderes políticos estão relacionados à capacidade eleitoral ativa e passiva e os casos de perda ou suspensão estão previstos no artigo 15 da CF/88, conforme vimos anteriormente. 32 Capítulo 1 Somente podem ser candidatos aqueles que estejamem pleno gozo dos direitos políticos, ou seja, que não tenham qualquer restrição que impeça o seu exercício. 3.1.3 Alistamento eleitoral Como já estudamos, o alistamento eleitoral é meio de aquisição dos direitos políticos. A partir dele que o indivíduo nacional se torna eleitor, passando a integrar o corpo eleitoral, estando apto a exercer os atributos inerentes aos direitos políticos. 3.1.4 Domicílio na circunscrição do pleito O quarto requisito, ou condição para ser candidato se refere ao domicílio eleitoral. Para que o cidadão possa exercer a capacidade eleitoral passiva ele deve possuir domicílio, isto é, estar inscrito como eleitor na circunscrição eleitoral onde pretende se candidatar. Portanto, domicílio eleitoral nada mais é do que o lugar onde o cidadão vota. A Lei nº 9.504/97, artigo 9º, exige o tempo mínimo de domicílio na circunscrição de 1 ano antes da data do pleito. Circunscrição eleitoral é o espaço territorial onde ocorre determinada eleição. Na eleição presidencial a circunscrição é o país; na eleição para governador e vice- governador, deputados federais e estaduais e senadores é o estado; e na eleição para prefeito, vice-prefeito e vereadores a circunscrição é o município. 3.1.5 Filiação partidária Nosso sistema eleitoral está organizado de tal modo que o direito de lançar candidatos para ocupar cargos públicos eletivos é privativo de determinadas entidades denominadas partidos políticos. Eles possuem o monopólio das candidaturas. Não se admite no Brasil, portanto, a existência de candidaturas avulsas, isto é, de candidaturas desvinculadas de partidos. Dessa forma, ninguém poderá se candidatar a qualquer cargo eletivo a não ser por meio de um partido político. O ingresso do cidadão no partido se dá mediante filiação partidária, conforme veremos em seção própria. Por ora basta sabermos que a filiação a um partido político constitui condição para o exercício da capacidade eleitoral passiva. 33 Direito Eleitoral Importante observar que a Lei nº 9.504/97 estabelece um prazo mínimo de filiação partidária para concorrer a cargo eletivo, conforme estabelecido pela Lei nº 13.165/15, que dá nova redação ao artigo 9º da Lei nº 9.504/97, definindo que “para concorrer às eleições, o candidato deverá possuir domicílio eleitoral na respectiva circunscrição pelo prazo de, pelo menos, um ano antes do pleito, e estar com a filiação deferida pelo partido no mínimo seis meses antes da data da eleição” (BRASIL, 1997). Todavia, a Lei nº 9.096/95, conhecida como Lei dos Partidos Políticos (LPP) dispõe que é facultado ao partido político estabelecer, em seu estatuto, prazo de filiação partidária superior ao previsto na lei, com vistas à candidatura a cargos eletivos. Desse modo, se fixado no estatuto do partido prazo superior a 6 meses para concorrer a cargo eletivo, é esse – o do estatuto - o prazo a ser observado como condição de elegibilidade. Há uma única exceção à exigência de filiação partidária e ela se refere aos militares da ativa. De acordo com o artigo 142, § 3º, inciso V, da CF/88, o “militar, enquanto em serviço, não pode estar filiado a partidos políticos.” (BRASIL, 1998). Inobstante essa proibição, a CF em seu artigo 14 estabelece: Art. 14, § 8º O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições: I – se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade; II – se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação para a inatividade. (BRASIL, 1998). Compatibilizando as duas normas constitucionais, o TSE passou a entender que para o militar da ativa ser candidato basta ser escolhido em convenção partidária de determinado partido e requerer o registro de candidatura (TSE. Res. nº 21.787/2004). Dessa forma, resta plenamente atendida as duas regras constitucionais, assegurando assim o pleno exercício da capacidade eleitoral passiva dos militares. Ainda sobre a norma do § 8º, do artigo 14, da CF transcrito anteriormente, é importante esclarecer que para o militar que possuir menos de 10 anos de serviço, para ser candidato, ele deverá se desligar definitivamente da corporação a que pertence. 34 Capítulo 1 O militar que possuir mais de 10 de serviço, após a escolha em convenção e que tenha o registro de candidatura deferido pela Justiça Eleitoral (TSE. Ac. N. 20.169/2002), será agregado, ou seja, deixará de ocupar vaga na escala hierárquica da corporação a que serve. Se não for eleito, retorna à atividade após as eleições. Sendo eleito passará automaticamente à inatividade no ato da diplomação. 3.1.6 Idade mínima A CF/88 em seu artigo 14, § 3º, inciso VI estabelece idade mínima para concorrer a cargo eletivo estabelecido conforme o cargo em disputa, conforme o quadro a seguir: 3.1 – Quadro de idade e cargos eletivos Idade Cargo eletivo 35 anos Presidente, vice-presidente e senador. 30 anos Governador e vice-governador. 21 anos Deputado federal, estadual e distrital, prefeito e vice-prefeito. 18 anos Vereador Fonte: Elaboração do autor, 2016. Conforme o texto constitucional, a capacidade eleitoral passiva tem início aos 18 anos de idade, quando o cidadão pode concorrer somente ao cargo de vereador e se torna plena aos 35 anos de idade, quando pode concorrer a qualquer cargo eletivo. Para efeito de verificação da idade toma-se como referência a data da posse, exceto quanto ao cargo de vereador, hipótese em que a idade será aferida na data do registro de candidatura, conforme artigo 11, § 2°, Lei nº 9.504/97. 3.1.7 Condições de elegibilidade impróprias Abordaremos como condição de elegibilidade imprópria apenas as situações previstas na legislação infraconstitucional, artigo 11 da Lei nº 9.504/97, quais sejam: Ser escolhido em convenção Convenção partidária é a reunião realizada pelos partidos visando a deliberar sobre a formação de coligação partidária para a disputa da eleição, bem como para a escolha dos candidatos à eleição proporcional e majoritária. Somente tem direito a apresentar candidato às eleições o partido que realizar convenção partidária. Conforme artigo 11, § 1º, I da Lei nº 9.504/97, a prova de que 35 Direito Eleitoral o cidadão foi escolhido candidato é a ata da convenção partidária, que deve ser acompanhada de autorização do candidato, por escrito, para que o partido ou a coligação possa requerer o registro de candidatura; declaração de bens, assinada pelo candidato; certidões criminais fornecidas pelos órgãos de distribuição da Justiça Eleitoral Federal e Estadual; fotografia do candidato nas dimensões estabelecidas em instrução da Justiça Eleitoral; e propostas defendidas pelos candidatos, essa última é exigida apenas para aqueles que concorrem ao cargo de Prefeito, de Governador de Estado e de Presidente da República. Desincompatibilização Outro requisito para a admissão do registro de candidatura se refere à prova da desincompatibilização do cargo ocupado, ou seja, o candidato deve provar que se exonerou do cargo ocupado, ou se afastou do exercício das funções que exerce no serviço público, ou mesmo em entidades privadas, o que se exige em determinadas situações que estão previstas nos incisos I a VII, do artigo 1º da LC 64/90, as quais estudaremos na próxima seção deste capítulo. Seção 4 Inelegibilidades Enquanto a elegibilidade é o direito público subjetivo de ser votado, a inelegibilidade, conforme Costa (2013, p. 175), “é o estado jurídico de ausência ou perda da elegibilidade”. Trata-se de impedimento ao exercício da capacidade eleitoral passiva. A inelegibilidade impede o cidadão de se candidatar a cargo político eletivo. Ou seja, quem é inelegível não possui direito de disputar o pleito eleitoral. A inelegibilidade não é propriamente uma sanção aplicada em razão do cometimento de algum ato ilícito, assim definido pela legislação, embora em determinados casos deva ser tratada como tal – sanção -. É, pois, uma condiçãonegativa de restrição a direito político fundamental, o direito de ser votado. Para o STF a inelegibilidade não possui natureza de sanção porquanto se assenta, ou integra a elegibilidade, que “é a adequação do indivíduo ao regime jurídico – constitucional e legal complementar – do processo eleitoral.” O STF deu ao termo elegibilidade uma compreensão mais ampla, pela qual a elegibilidade implica a presença das condições de elegibilidade e a ausência de causa de inelegibilidade, conforme se extrai de trecho da ementa do acórdão proferido na Ação Direta de Constitucionalidade (ADC) nº 29/2012: 36 Capítulo 1 1. A elegibilidade é a adequação do indivíduo ao regime jurídico – constitucional e legal complementar – do processo eleitoral, razão pela qual a aplicação da Lei Complementar nº 135/10 com a consideração de fatos anteriores não pode ser capitulada na retroatividade vedada pelo art. 5º, XXXVI, da Constituição, mercê de incabível a invocação de direito adquirido ou de autoridade da coisa julgada (que opera sob o pálio da cláusula rebus sic stantibus) anteriormente ao pleito em oposição ao diploma legal retromencionado; subjaz a mera adequação ao sistema normativo pretérito (expectativa de direito). [...] (BRASIL, 2012) Portanto, como aduz Gomes (2014, p. 166), a elegibilidade, assim como a inelegibilidade “podem ser pensadas como estado ou status eleitoral da pessoa, integrantes, portanto, de sua personalidade”. A inelegibilidade, quanto à sua origem, pode ser consequência de um ilícito praticado (característica de sanção) – inelegibilidade cominada -, conforme artigo 22, XIV, da LC 64/90, como também pode decorrer de mera situação fática em que se encontra o cidadão – inelegibilidade in nata -, como ocorre nos casos previstos nos §§ 4º a 7º, do artigo 14, da CF/88 e no artigo 1º, da LC nº 64/90. As inelegibilidades, por representarem restrição a direito fundamental – direto à capacidade eleitoral passiva – além daquelas situações consignadas na CF/88, somente podem ser estabelecidas por meio de lei complementar. É o que estabelece expressamente o § 9º, do artigo 14 do texto constitucional. Portanto, as inelegibilidades podem ser classificadas, quanto à sua natureza, em: a) constitucionais: aquelas previstas nos §§ 4º a 7º do artigo 14 CF; e b) infraconstitucionais: as previstas na Lei Complementar nº 64/90. As inelegibilidades podem ser classificadas ainda quanto à abrangência, em: a) absolutas: aquelas que constituem impedimento para a disputa de qualquer cargo eletivo, durante o período de incidência; b) relativas: aquelas que impedem o exercício da capacidade eleitoral passiva exclusivamente para determinados cargos ou em razão da presença de determinadas circunstâncias. 37 Direito Eleitoral Sob o aspecto temporal, as inelegibilidades podem ser atuais as que se acham presentes no momento do registro de candidatura e supervenientes àquelas que surgem após a data limite para o registro. Por fim, pode-se classificar ainda as inelegibilidades como diretas, aquelas que atingem diretamente a pessoa envolvida no fato que lhe dá origem e reflexas, ou seja, aquelas que provocam o impedimento de terceira pessoa, como é o caso do cônjuge do titular do cargo de chefe do poder executivo. 4.1. Inelegibilidade constitucional A CF/88 estabelece nos §§ 4º a 7º, do artigo 14, as situações de inelegibilidade constitucional. A seguir trataremos cada uma das situações: 4.1.1 Os estrangeiros, os conscritos e os menores de 16 anos Abrange os inalistáveis, ou seja, aqueles que não possuem direitos políticos, mencionados no § 4º do artigo 14, da Constituição Federal. 4.1.2 Os analfabetos Embora possa votar, ou seja, possui capacidade eleitoral ativa, o analfabeto não detém capacidade eleitoral passiva, não podendo ser candidato. De acordo com o entendimento da Justiça Eleitoral, é admitida a aplicação de testes com o fim de aferir a alfabetização do candidato: [...] Registro de candidatura. Analfabetismo. Dúvida. Declaração de próprio punho. Aplicação de teste. Possibilidade. Art. 27, § 8º, da Res.-TSE nº 23.373/2011. [...] 1. A dúvida quanto à declaração de próprio punho apresentada pelo candidato autoriza a aplicação de teste pelo juízo eleitoral, a fim de constatar a condição de alfabetizado. Precedentes. 2. ‘O exercício anterior de mandato eletivo não é suficiente para afastar a incidência da inelegibilidade decorrente de analfabetismo, mormente diante do insucesso no teste aplicado pela Justiça Eleitoral (AgR-REspe - nº 14241/PI, Rel. Min. Dias Toffoli, PSESS de 12.12.2012). [...]” (Ac. de 29.10.2013 no AgR- REspe nº 16734, rel. Min. Luciana Lóssio). Os testes aplicados para aferir se o candidato é ou não alfabetizado não sujeita o avaliando à situação vexaminosa. http://inter03.tse.jus.br/InteiroTeor/pesquisa/actionGetBinary.do?tribunal=TSE&processoNumero=16734&processoClasse=RESPE&decisaoData=20131029 http://inter03.tse.jus.br/InteiroTeor/pesquisa/actionGetBinary.do?tribunal=TSE&processoNumero=16734&processoClasse=RESPE&decisaoData=20131029 38 Capítulo 1 4.1.3 Terceiro mandato consecutivo para chefe do poder executivo De acordo com o § 5º do artigo 14 da CF/88, o chefe do poder executivo, e quem o houver substituído ou sucedido no curso do mandato, poderá ser reeleito para um único mandato subsequente. A despeito de ser tratada como causa de inelegibilidade para muitos doutrinadores, o § 5º do artigo 14 da CF refere à condição de reelegibildade. Dessa forma, a partir da edição da Emenda Constitucional nº 16/97, o chefe do poder executivo passou a ter direito a uma segunda eleição consecutiva para o mesmo cargo. Conforme Costa (2014, p. 150-151), a “reelegibilidade é a elegibilidade para o mesmo cargo, por um período subsequente.” Todavia, o direito de concorrer a um novo mandato não é automático, é necessário que o cidadão preencha todos os requisitos, ou condições de elegibilidade e que não esteja submetido a nenhuma causa de inelegibilidade. Importante destacar que o direito à reelegibilidade não pressupõe a desincompatibilização do cargo ocupado. Vale dizer, o chefe do poder executivo pode se candidatar a um novo mandato para o mesmo cargo, sem necessidade de renunciar, podendo, portanto, exercer todos os atos a ele inerentes. Até a eleição de 2008, o entendimento da Justiça Eleitoral era no sentido de que em se tratando de circunscrição eleitoral diversa, era possível a terceira eleição consecutiva para o cargo de chefe do poder executivo. Ou seja, aquele que exerceu por dois mandatos consecutivos o cargo de prefeito, por exemplo, de determinado município, poderia mudar seu domicílio eleitoral para outro município e ali ser candidato ao cargo de prefeito, na eleição imediatamente subsequente. Todavia, na eleição de 2008, o TSE, ao apreciar o Recurso Especial nº 32.507/2008, decidiu, no caso conhecido como prefeito itinerante, que a proibição à terceira eleição consecutiva prevista no § 5º do artigo 14, CF/88 incide independentemente da circunscrição eleitoral. A matéria chegou ao STF, que fixou interpretação da regra do § 5º, do artigo 14, CF idêntica àquela adota pelo TSE, consoante se extrai da ementa da decisão a seguir transcrita: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. REELEIÇÃO. PREFEITO. INTERPRETAÇÃO DO ART. 14, § 5º, DA CONSTITUIÇÃO. MUDANÇA DA JURISPRUDÊNCIA EM MATÉRIA ELEITORAL. SEGURANÇA JURÍDICA. I. REELEIÇÃO. MUNICÍPIOS. INTERPRETAÇÃO DO ART. 14, § 5º, DA CONSTITUIÇÃO. PREFEITO. PROIBIÇÃO DE TERCEIRA ELEIÇÃO EM CARGO DA MESMA NATUREZA, AINDA QUE EM MUNICÍPIO DIVERSO. O 39 Direito Eleitoral instituto da reeleição tem fundamento não somente no postulado da continuidade administrativa, mas também no princípio republicano, que impede a perpetuação de uma mesma pessoa ou grupo no poder. O princípio republicano condiciona a interpretação e a aplicação do próprio comando da norma constitucional, de modo que a reeleição é permitida por apenas uma única vez.Esse princípio impede a terceira eleição não apenas no mesmo município, mas em relação a qualquer outro município da federação. Entendimento contrário tornaria possível a figura do denominado “prefeito itinerante” ou do “prefeito profissional”, o que claramente é incompatível com esse princípio, que também traduz um postulado de temporariedade/alternância do exercício do poder. Portanto, ambos os princípios – continuidade administrativa e republicanismo – condicionam a interpretação e a aplicação teleológicas do art. 14, § 5º, da Constituição. O cidadão que exerce dois mandatos consecutivos como prefeito de determinado município fica inelegível para o cargo da mesma natureza em qualquer outro município da federação. [...]. (BRASIL, 2012). Portanto, a proibição à terceira eleição consecutiva ao cargo de chefe do poder executivo incide, inclusive, nos casos de circunscrição diversa. 4.1.4 Desincompatibilização do cargo de chefe do poder executivo De acordo com o § 6º do artigo 14, CF/88, o titular do cargo de chefe do poder executivo, para concorrer a outro cargo precisa se desincompatibilizar do cargo ocupado, ou seja, renunciar ao cargo, no prazo limite de 6 meses antes da data da eleição. Não havendo a renúncia nesse prazo, torna-se inelegível para aquela eleição. Observe que se o titular do cargo de chefe do poder executivo, sendo reelegível, pretender concorrer à segunda eleição consecutiva ao mesmo cargo, não precisa se desincompatibilizar do cargo, ou seja, pode concorrer ao mesmo cargo estando em seu pleno exercício, conforme destacamos anteriormente. Todavia, em se tratando de eleição para cargo diverso, exige-se a renúncia 6 meses antes da eleição, sob pena de tornar-se inelegível. Sobre o tema decidiu o TSE: [...] Prefeito. Primeiro mandato. Candidato. Vice-prefeito. Eleição seguinte. Exigência. Afastamento. Cargo. Art. 14, § 6o, da Constituição Federal. 1. O § 6o do art. 14 da Constituição Federal estabelece que, para concorrerem a outros cargos, o presidente da República, os governadores de estado e do Distrito Federal e os prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito. 2. Desse modo, o prefeito, em primeiro mandato, não pode candidatar-se ao cargo de vice-prefeito se não houver se desincompatibilizado no período de seis meses que antecede o pleito. [...]. (Res. no 22.763, de 15.4.2008, rel. Min. Caputo Bastos.) 40 Capítulo 1 Cabe ainda anotar que essa necessidade de desincompatibilização só atinge o chefe do poder executivo. Isso permite concluir que se o vice, enquanto estiver nessa condição, poderá concorrer a qualquer cargo eletivo sem necessidade de desincompatibilização (artigo 1°, § 2°, LC nº 64/90). Em resumo: o titular e o vice podem ser reeleitos uma só vez. Cumprido o segundo mandato, o titular não poderá candidatar-se novamente nem ao cargo de titular, nem ao cargo de vice. Se o vice suceder o titular em qualquer época, poderá concorrer ao cargo de titular, vedada a reeleição e a possibilidade de concorrer novamente ao cargo de vice (TSE Res. 21.791/2004). O vice que não substituiu o titular nos últimos 6 meses e nem o sucedeu poderá ser candidato ao cargo do titular, podendo, neste caso, candidatar-se à reeleição. 4.1.5 Inelegibilidade de cônjuges e parentes do chefe do poder executivo A inelegibilidade aqui referida somente se verifica no âmbito da jurisdição do titular do cargo de chefe do poder executivo. Dessa forma, o cônjuge ou parente do prefeito não é inelegível se concorrer a qualquer cargo em município diverso. O mesmo pode ser dito em relação ao cônjuge e aos parentes do governador de Estado ou do Distrito Federal, que pode concorrer a qualquer cargo fora do estado de jurisdição do titular. Trata-se de causa de inelegibilidade reflexa que atinge o cônjuge ou o companheiro do titular do cargo de chefe do poder executivo. Portanto, não alcança os parentes do vice, salvo se este tiver substituído o titular nos últimos 6 meses ou sucedido a qualquer tempo. Com base nas decisões do TSE, acerca dessa causa de inelegibilidade bem como da posição da doutrina, podemos apontar as seguintes situações: a) Quando o chefe do poder executivo, no exercício do primeiro mandato, renunciar 6 meses antes da data da eleição, falecer ou tiver seu diploma cassado, os seus parentes e seu cônjuge, podem concorrer a qualquer cargo no mesmo território. Podem concorrer, inclusive, ao cargo de chefe do poder executivo, vedada, nesse caso, a possibilidade de reeleição. b) Os parentes e cônjuge do vice, que substituiu o titular nos 6 meses que antecedem a eleição ou que o tenha sucedido, são inelegíveis no território de jurisdição daquele. Continua... 41 Direito Eleitoral Continuação c) É possível a composição de chapa entre parentes, conforme já decidiu o TSE (Res. nº 22.799/2008 e Res. nº 23.087/2009). d) A inelegibilidade aqui abordada abrange também os casos de união estável, concubinato e relação estável homoafetiva (TSE. Respe 24.564/2004). e) A dissolução da sociedade ou vínculo conjugal no curso do mandato não afasta a inelegibilidade, consoante a Súmula Vinculante n. 18 do STF. De acordo com a ressalva na parte final do § 7º do artigo 14, CF/88, a inelegibilidade não resta configurada se o parente já é titular de mandato eletivo e concorre à reeleição. Assim, o filho do prefeito, que já exerce o mandato de vereador, pode concorrer à reeleição, na mesma jurisdição do pai, independente de desincompatibilização. 4.2. Causas de inelegibilidades infraconstitucional A Lei Complementar nº 64/90 sofreu sensível modificação em seu texto, com a edição da Lei Complementar n. 135/2010, a chamada “Lei da Ficha Limpa”. Em síntese, foram introduzidas novas hipóteses de incidência da inelegibilidade, além de ter havido a tentativa de unificação dos prazos de inelegibilidade previstos no inciso I, do artigo 1º. Outra modificação importante foi a dispensa do trânsito em julgado para produzir o efeito da inelegibilidade, no caso de decisões judiciais condenatórias. A partir da edição da LC nº 135/2010, o prazo de inelegibilidade decorrente de condenação na Justiça Eleitoral, na Justiça Comum e na Justiça Federal, nos processos por ela mencionados, passa a correr a partir do trânsito em julgado da respectiva decisão ou de decisão colegiada. Cabe ainda lembrar que a LC nº 135/2010 teve sua constitucionalidade reconhecida por decisão da maioria dos membros do STF nas Ações Diretas de Constitucionalidade nº 29 e 30 e na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4578, julgadas em 16 de fevereiro de 2012. Após a edição da LC nº 135/2010, podemos agrupar as causas de inelegibilidade infraconstitucional em seis grupos distintos, tem em vista o fato gerador, conforme apontadas a seguir: 42 Capítulo 1 a) inelegibilidade decorrente de condenações da justiça: artigo 1º, I, alíneas d, e, h, j, l, n e p; b) inelegibilidade decorrente de rejeição de contas de administrador púbico: artigo 1º, I, alínea g; c) inelegibilidade decorrente da perda de cargo eletivo ou de provimento efetivo: artigo 1º, I, alíneas b, c, f, o e q; d) inelegibilidade decorrente da renúncia a cargo eletivo, em razão da instauração de processo visando à perda do mandato: artigo 1º, I, alínea k; e) inelegibilidade decorrente da exclusão do exercício da profissão: artigo 1º, I, alínea m; f) inelegibilidade decorrente da responsabilização em processo de liquidação judicial ou extrajudicial de estabelecimento de crédito: artigo 1º, I, alínea i. Feitas essas considerações, no item a seguir passemos a analisar as hipóteses de inelegibilidade previstas na LC nº 64/90, com as alterações da LC nº 135/2010. 4.2.1 Inelegibilidade absoluta São considerados inelegíveis, ou seja, não podem concorrer a qualquer cargo: a) Os inalistáveis e os analfabetos. Essa causa de inelegibilidade também está prevista no § 4º do artigo 14 da CF/88, conforme referido anteriormente. b) O parlamentar que haja
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