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Aula 02 As concepções de homem relacionadas ao desenvolvimento humano o inatismo

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Meta da aula
Apresentar a importância das diversas concepções de 
homem, segundo modelos que foram influenciados 
pelas descobertas em vários campos do saber, assim 
como sua repercussão nos estudos psicológicos.
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
1. conceituar inatismo e identificar suas inter-relações 
com teorias filosóficas;
2. identificar as inter-relações do inatismo com a 
psicologia e com as descobertas científicas em 
outras áreas do saber, permitindo identificar como 
a concepção de homem alterou-se ao longo de sua 
história;
3. analisar a importância de contextualizar o 
conhecimento sobre o homem.
2AULAAs concepções de homem relacionadas ao desenvolvimento humano: o inatismoMarise Bezerra Jurberg
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Psicologia e Educação | As concepções de homem relacionadas ao desenvolvimento humano: 
o inatismo
36 CEDERJ
Espero que você continue animado com as aulas desta disciplina. Se você prestar 
atenção à palavra “animado”, vai constatar que ela provém de anima, que 
significa “alma“, em latim. Daí que expressões como “Eu te amo com toda a 
minha alma”, ou “A atriz interpretou o papel com toda a sua alma” significam 
que estamos expressando que algo é superior, melhor que o habitual. Como 
esse conceito de alma encontra-se agora em sua mente?
Pegue uma folha de seu caderno e tente descrevê-lo agora. Guarde-o para 
mais tarde, quando terminar a leitura, para fazer comparações sobre isso. O 
conceito de alma é muito importante nas diversas concepções do ser humano 
ao longo da nossa história.
Figura 2.1: Como o conceito de alma encontra-se 
agora em sua mente?
Fonte: http://www.sxc.hu/photo/993150
Após a leitura da primeira aula, você deve ter percebido que os conceitos de 
fenômenos que, posteriormente, seriam objeto de estudo da Psicologia – que 
só se firma como ciência no século XIX – começaram como preocupações de 
pensadores, e de filósofos. A herança filosófica da Psicologia remonta ao estudo 
do psiquismo como equivalente à consciência, mas esse conceito é posterior 
a esse período. Antes se discutiam as relações entre a alma, ou espírito, e o 
INTRODUÇÃO
A
si
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A
kb
ar
CEDERJ 37
corpo. Hoje não temos dúvidas de que somos constituídos de corpo e mente. 
Somos indivíduos (e, portanto, indivisíveis) únicos. Além disso, estamos inseri-
dos nas dimensões espaço e tempo. Tais dimensões nos incitam a realizar uma 
incursão na História, na cultura e nos diversos grupos sociais, para entender 
como a humanidade tem apresentado ideias e valores que nortearam diferen-
tes concepções sobre o homem. Ora elas priorizavam dispositivos inatos, ora 
destacavam fatores do ambiente: inatismo e ambientalismo.
Desde a Antiguidade, diversos filósofos preocuparam-se com a natureza do 
conhecimento. Através da visão de diversos estudiosos sobre como conhece-
mos o mundo, poderemos inferir as diferentes concepções acerca do homem, 
através de recortes da história da humanidade. Gadotti (2008), ao tratar da 
história das ideias pedagógicas, inclui o pensamento oriental, mas aqui nos 
deteremos nos pensamentos referentes ao Ocidente, já que foram os que mais 
influenciaram nossa cultura.
O INATISMO NOS FILÓSOFOS DA ANTIGUIDADE
O inatismo (em latim in natu, ou “nascer com”), em termos 
gerais, constitui um sistema filosófico que defende que as ideias são 
inatas, existindo em estado latente, de forma que conhecer é acioná-las 
ou recordá-las. Teve origem com Platão (429-347 a.C.), para quem as 
ideias estão na própria alma do homem, uma vez que não podem ser 
encontradas na natureza.
Sócrates (469-399 a.C.), como educador, tinha a preocupação de 
despertar e estimular o impulso para o autoconhecimento, assim como 
a busca pessoal e a busca pela verdade. Discutindo essas ideias, Platão e 
seu discípulo Aristóteles estudaram a forma pela qual apreendemos as 
experiências por que passamos. Porém, assumiram posições divergentes 
da de Sócrates quanto à natureza da realidade e quanto ao método de 
observação a ser utilizado.
Para Platão, possuímos ideias inatas, e a realidade só pode ser 
compreendida pelas ideias abstratas eternas de objetos, que já existem 
em nossas mentes. O método do platonismo é a dialética, que opera 
para encontrar as ideias de justiça, bondade etc. É ela que nos leva às 
ideias. A teoria das ideias é o ponto culminante da filosofia platônica. 
Ideias essas que formam uma hierarquia em cujo cimo estão as três mais 
importantes: a ideia do próprio Deus, a ideia do Bem e a ideia superior.
di a l é t i c a
Segundo o Dicio-
nário Houaiss, é 
a modalidade de 
classificação em que 
cada uma das divi-
sões e subdivisões 
contém apenas dois 
termos; na dialética 
platônica, repartição 
de um conceito em 
dois outros, geral-
mente contrários e 
complementares.
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o inatismo
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Já para Aristóteles, a realidade situa-se no mundo concreto dos 
objetos que nossos sentidos percebem. Em sua concepção educacional, 
aponta três fatores como essenciais que determinam o desenvolvimento 
espiritual do ser humano: disposição inata, hábito e ensino. Ambos dife- Ambos dife-
rem também em relação ao método de observação da realidade: para o 
platonismo, só podemos obter o conhecimento pelo uso da mente e da 
reflexão sobre o mundo das ideias; na visão aristotélica, o conhecimento 
só pode ser obtido por meio da experiência e da observação. Defendem, 
portanto, posições inatistas e ambientalistas, que seriam, mais tarde, 
classificadas como racionalistas e empiristas, respectivamente.
Figura 2.2: À esquerda, Platão, filósofo grego, discípulo de 
Sócrates. À direita, seu discípulo Aristóteles. Detalhe da 
Escola de Atenas, por Rafael Sanzio (1510).
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Sanzio_01_Plato_
Aristotle.jpg
Se pensarmos na visão platônica relacionada à Psicologia, ensina 
ele que o ser humano é formado de alma e corpo e que a alma é formada 
por três elementos:
CEDERJ 39
•	 a parte racional, com sede no cérebro; ela é livre, espiritual e 
imortal;
•	 a irascível, residindo no peito;
•	 a apetitiva, localizada nas entranhas. 
Na sociedade, a organização do Estado deve assemelhar-se à alma 
humana, dividida em três classes:
•	 a parte racional seria formada pelos filósofos e pelos que com-
poriam os encargos públicos;
•	 a irascível, formada pela classe dos guerreiros, para a defesa 
social;
•	 a apetitiva, por operários e lavradores, responsáveis pela sub-
sistência. 
Mais tarde ele reconheceu a impraticabilidade de sua teoria política 
entre indivíduos que são seres humanos, e não divinos.
Em relação à visão aristotélica, verificamos que sua posição não 
é idealista, mas realista, uma vez que seu objeto de estudos é o mundo 
animado, ou seja, aquilo que tem vida, que se diferencia essencialmente 
do mundo inorgânico. O princípio da atividade, portanto, é a alma. 
Tais estudos podem ser classificados, como o fazem muitos autores, 
como característicos de uma fase denominada Psicologia Filosófica. 
Esta perdurou até o século XVII, a partir do qual a visão aristotélica 
de ciência continuaria a fomentar discussões que se centralizam ainda 
em duas possíveis vertentes: o conhecimento teria como fonte as sen-
sações – e, portanto, o papel da experiência é mais importante – ou 
estas não conseguem nos fornecer uma visão fidedigna da realidade, a 
não ser que usemos a razão.
O INATISMO NAS ÉPOCAS MEDIEVAL E MODERNA
Podemos considerar a Idade Média como um período de grande 
desenvolvimento cultural nas universidades e o período eminente do 
catolicismo.A
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Figura 2.3: Monge medieval preparando manuscritos.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Escribano.jpg
Além do ensino nas primeiras universidades criadas, o ensino 
filosófico era seguido em escolas ligadas à teologia (escolástica) e per-
durou até o final do século XVII. A filosofia escolástica, fortemente 
influenciada por Aristóteles, tinha, como uma de suas preocupações 
principais, a questão da realidade das ideias gerais ou universais. Três 
escolas ocuparam-se dessa questão:
•	 a escola realista, que defendia que as ideias existiam realmente 
antes das coisas;
•	 a escola nominalista, para a qual as ideias nada mais eram do que 
nomes e que só existiam depois que as coisas eram percebidas;
•	 a escola conceptualista, que admitia as ideias gerais, mas no 
nível individual.
escolástica 
Constitui uma linha dentro da filosofia medieval, de características notadamente cris-
tãs, que surgiu da necessidade de responder às exigências da fé que era ensinada pela 
Igreja, instituição que dividia o poder com os reinados e que se atribuía a função de 
guardiã dos valores espirituais e morais de toda a Cristandade. A Escolástica deve 
seu nome às artes ensinadas nas escolas medievais e perdurou do começo do século 
IX até ao fim do século XVI, ou seja, até ao fim da Idade Média.
Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/
File:Laurentius_de_Voltolina_001.jpg 
CEDERJ 41
As doutrinas platônicas foram retomadas, no século IV, por santo 
agostinho, associadas à doutrina cristã; inspirado em Platão, destaca-se 
pela profundidade de suas ideias, associando o caráter especulativo dos 
gregos com a praticidade latina. Suas principais preocupações eram 
ligadas a problemas práticos e morais, tais como a liberdade, o mal, a 
predestinação. Destacou-se como padre e, no século XIII, são tomás de 
aquino torna-se uma das figuras mais destacadas no campo da Escolás-
tica, inspirado na filosofia de Aristóteles. 
santo agostinho 
(354-430), filho de 
mãe devota e cristã, 
depois canonizada 
(Santa Mônica), foi 
o mais célebre dos 
padres latinos. Nas-
ceu na África, que na 
época era romana, e, 
após uma vida licen-
ciosa, converteu-se 
ao cristianismo aos 
33 anos de idade, 
quando se batizou. 
Foi um teólogo- 
filósofo. No campo 
da Filosofia, seguiu 
as ideias de Platão, 
tentando adaptá-las 
à teologia cristã. 
Para isso, fundamen-
ta-se na demons-
tração racional da 
existência de Deus, 
assim como na imu-
tabilidade das leis 
que regem o conhe-
cimento humano. 
Como Platão, defen-
de a imortalidade da 
alma, cuja origem é 
divina, e pretendeu a 
conciliação entre fé e 
inteligência. 
são tomás de aquino (1225-1274), denominado o “Doutor Angélico”, é con-
siderado o maior teólogo da igreja no Ocidente. Dentre suas obras, destacam-se a 
Suma teológica e a Suma contra os gentios, que são expressões da ortodoxia cató-
lica. Representa a Escolástica em toda a sua pureza. Construiu um sistema teológi-
co-filosófico, tentando uma distinção e, ao mesmo tempo, uma conciliação entre fé 
e razão. Para ele, é próprio da Filosofia o conhecimento das coisas à luz da razão; 
a Teologia serve-se da razão, porém, esta opera à luz da revelação e dos dogmas 
do cristianismo. Para a filosofia tomista, a espécie inteligível não é o objeto mate-
rial entendido, ou seja, a representação da coisa, mas o meio pelo qual a mente 
entende as coisas do mundo exterior. Isto corresponde aos dados do conhecimento, 
permitindo-nos conhecer coisas, e não ideias. As coisas não podem entrar no nosso 
cérebro, pois são conhecidas através de imagens.
nicolau copérnico (1473-1543) foi astrôno-
mo e matemático. Foi também cônego da Igreja 
Católica, governador e administrador, jurista, 
astrólogo e médico. Sua teoria do heliocentris-
mo, contrariando a então vigente teoria geocên-
trica, é tida como uma das mais importantes 
hipóteses científicas de todos os tempos, tendo 
constituído o ponto de partida da astronomia 
moderna, embora desacreditado e mal divulga-
do na época. 
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro: 
Copernicus.jpg
É na Idade Média, quando a educação formal restringia-se a 
nobres e sacerdotes e era realizada sob a égide da Igreja Católica, que 
um cientista polaco é responsável por uma mudança radical. A revolu-
ção promovida por nicolau copérnico, que desfere o primeiro golpe na 
concepção de homem e da realidade quando ousa retirar o planeta Terra 
do centro do Universo, ou seja, negando o geocentrismo e defendendo a 
teoria heliocêntrica (de héliou, que significa “sol”, em grego), e colocando 
o Sol como centro de nosso sistema planetário.
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O italiano Galileu Galilei (1564-1642), ao defender e divulgar a 
teoria heliocêntrica, proposta anteriormente por Copérnico, é acusado 
de herege e a perseguição a que foi submetido pela Inquisição tornou-se 
quase tão célebre quanto suas descobertas como astrônomo.
Figura 2.4: Galileu ante o Tribunal da Inquisição.
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/88/Galileo_facing_
the_Roman_Inquisition.jpg
Na Idade Moderna, que vai do século XV (1453) até o século 
XVII (1789), ocorreram grandes invenções e descobrimentos maríti-
mos; foi um período de absolutismo real, com uma descristianização 
do mundo moderno, pela implantação da Reforma protestante. Do 
ponto de vista cultural, a Idade Moderna não pode ser separada da 
Ao discorrer sobre a “revolução copernicana” que representou a resposta 
do filósofo Emanuel Kant (1724-1804) aos problemas do inatismo e do 
empirismo, Chauí (1999) tece algumas considerações sobre a revolução 
de Copérnico. Descreve que, na Antiguidade e na Idade Média, ainda se 
considerava que o mundo possuía limites, que era formado por um con-
junto de sete esferas concêntricas, tendo a “Terra”, imóvel, em seu centro. 
Nessas esferas, os planetas estariam presos (neles incluíam o Sol e a Lua 
como planetas). Esse sistema astronômico era denominado geocêntrico, 
pois em grego Gaia, ou Geia, significa “Terra”. A teoria heliocêntrica, 
além de colocar o Sol no centro do sistema, incluiu outras descobertas, 
como os movimentos da Terra e do Sol, que já havia sido classificado 
como estrela e não como planeta por outros astrônomos.
CEDERJ 43
Idade Contemporânea, pois esta constitui uma continuação da primeira. 
O período denominado Renascença (renascimento das Letras e das 
Artes), iniciado na Itália no século XIV e caracterizado pelo estudo e 
pela admiração dos cânones artísticos da Antiguidade clássica, marca a 
transição para a Idade Moderna.
As profundas transformações na visão do homem, associadas às 
grandes descobertas (a bússola, a imprensa, o uso militar da pólvora, 
a descoberta da América) são acompanhadas pelo desenvolvimento de 
duas correntes filosóficas – empirismo e racionalismo.
Figura 2.5: A bússola, instrumento para indicar os pontos 
cardinais.
Fonte: http://www.sxc.hu/photo/236787
De um modo geral:
•	 O empirismo defende que todas as nossas ideias são prove-
nientes de nossas percepções sensoriais (visão, audição, tato, 
paladar, olfato) e que podem ser assimiladas através do processo 
de aprendizagem.
•	 No racionalismo, os princípios lógicos seriam inatos à mente 
do homem, motivo pelo qual a razão deve ser a fonte básica 
do conhecimento. Somente a razão humana, operando com 
princípios lógicos, pode atingir o conhecimento verdadeiro, 
universalmente aceito. 
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A partir do século XVII, ainda na Idade Moderna, novas discus-
sões voltam a fundamentar-se no valor de se adotar o racionalismo ou o 
empirismo, na tentativa de explicar o conhecimento. Seus maiores defen-
sores foram, respectivamente, na França, René Descartes (1596-1650), 
considerado o pai da filosofia moderna, e John Locke (1632-1704), na 
Inglaterra, rejeitando as ideias inatas.
Na visão cartesiana, anterior à de Locke, a razão é privilegiada: 
“Penso, logo existo” (“Cogito, ergo sum”) e a racionalidade é defendida 
como a via de acesso ao conhecimento. O racionalismo defendido por 
seu maior precursor (Descartes, em Discurso do método) preconizava 
que a experiência sensorial constitui uma fonte permanente de erros e 
confusões sobre a complexa realidade do mundo. Só através dos prin-
cípios da lógica, próprios da razão humana, pode-se atingir a verdade, 
ou o conhecimento universal.
O cartesianismo utiliza-se da “dúvida metódica”, proposta como 
uma via para se chegar à certeza; ela não é uma dúvida sistemática, 
com a finalidade apenas de manter o próprio ato de duvidar, como o 
é para os céticos. As ideias em geral são incertas e instáveis, sujeitas à 
imperfeição dos sentidos. Algumas, porém, apresentam-se ao espírito 
com nitidez e estabilidade. Tal fenômeno ocorre em todas as pessoas, 
da mesma maneira, e independe das experiências dos sentidos. As ideias 
gerais, universais, residem na mente de todas as pessoas e são inatas.
Figura 2.6: René Descartes.
Fonte: http: / /pt.wikipedia.org/wiki /
F i chei ro :Frans_Hals_ -_Portret_van_
Ren%C3%A9_Descartes.jpg
CEDERJ 45
Resumindo o cartesianismo, pode-se dizer que ele admite, como 
ideias absolutamente certas – das quais a inteligência não pode abstrair 
–, as ideias de pensamento e de extensão. O cartesianismo adota a dúvida 
sistemática como método, o mecanismo como princípio e o espiritualismo 
e o deísmo como princípios metafísicos.
Na Inglaterra, John Locke rejeitava as ideias inatas, colocando a 
fonte de todo o nosso conhecimento na experiência e na sensação, com 
o auxílio da reflexão; para ele, o psiquismo seria uma página em branco, 
na qual seriam inscritas as impressões que nos chegassem pelos sentidos. 
No século seguinte, novas discussões e controvérsias ocupam os 
filósofos, até alcançarem certo consenso acerca das faculdades inerentes 
ao psiquismo humano: a inteligência, a vontade e as emoções. Em seus 
primórdios, portanto, as explicações psicológicas que advieram da filo-
sofia tiveram, como ponto de partida, o estudo das faculdades mentais, 
ou a pesquisa da verdade, o que seria realizado através da compreensão 
dos nexos existentes entre os acontecimentos. Foram muitas as discus-
sões sobre a possibilidade de que o pensamento corresponderia ou não 
à realidade percebida, preocupação que remonta às discussões de Platão.
de í s m o
Atitude dos que 
rejeitam toda espécie 
de revelação divina 
e, portanto, a auto-
ridade de qualquer 
igreja. Porém, acre-
ditam na existência 
de um Deus, des-
provido de atribu-
tos intelectuais ou 
morais, o qual pode 
ou não ter criado o 
Universo.
Atende ao Objetivo 1
1. É importante para você saber conceituar inatismo e identificar suas 
inter-relações com a Filosofia.
Relacione a frase “O racionalismo deu origem a teorias sobre as funções da 
mente” com o conceito de inatismo, segundo os filósofos que discutiram 
tais ideias, até a Idade Moderna.
ATIVIDADE
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Psicologia e Educação | As concepções de homem relacionadas ao desenvolvimento humano: 
o inatismo
46 CEDERJ
O INATISMO NA IDADE CONTEMPORÂNEA
Paralelamente, no final do século XIX as ciências físicas e naturais 
começam a se desenvolver, centrando-se na quantificação e na experimen-
tação. Nesse período, destacam-se dois cientistas que revolucionaram as 
concepções vigentes sobre o homem, trezentos anos após Galileu ter tira-
do a Terra do centro do sistema solar. Agora, é o ser humano que perderá 
seu lugar no centro da criação. Em uma época em que se acreditava que 
uma pessoa morria porque chegara sua hora, por desígnios divinos, foi 
difícil aceitar que seres inferiores, invisíveis a olho nu, pudessem atacar 
nosso corpo e destruí-lo.
O primeiro golpe na vaidade do ser humano veio com Louis Pasteur 
(1822-1895), químico francês e professor da Sorbonne. Ele descobriu 
que a fermentação, observada na fabricação de diversas bebidas (vinho, 
cerveja, vinagre), era causada pela ação de micro-organismos. Essa ação 
podia ser evitada através de um processo simples de esterilização, mais 
tarde denominado pasteurização (técnica que consistia em aquecê-las a 
75 graus centígrados, a fim de matar esses micróbios). Seus estudos sobre 
micro-organismos levaram-no a reconhecer o papel que desempenham em 
RESPOSTA COMENTADA
Para filósofos, desde a Antiguidade, era discutida a natureza inata 
ou não das ideias humanas, dando origem a duas tendências que 
se mantiveram durante a Idade Média e a Idade Moderna, per-
sistindo ainda na modernidade: a empirista e a racionalista. Estas 
ainda perduram nas divisões das teorias psicológicas, que ainda 
são agrupadas em duas grandes categorias: teorias que defendem 
as associações entre eventos percebidos pelos sentidos e teorias 
racionalistas, preocupadas com os processos racionais ou cognitivos. 
Os filósofos mais importantes como defensores do inatismo foram 
Platão, com sua teoria das ideias abstratas e eternas de objetos, 
que já existem em nossas mentes, e Descartes, respectivamente na 
Antiguidade e na Idade Moderna. De acordo com o cartesianismo, 
somente através dos princípios da lógica, próprios da razão humana, 
pode-se atingir a verdade, ou seja, o conhecimento universal. O ina-
tismo, nessas duas épocas, referia-se ao que é inato em termos de 
funções da mente, com a finalidade de promover o conhecimento.
CEDERJ 47
diversas doenças e epidemias, as quais começou a evitar através da vacina-
ção. Certa época, uma doença alastrava-se e estava dizimando um rebanho 
de ovelhas do interior da França. Ele avisou às autoridades que se tratava 
de uma epidemia, a qual estava sendo transmitida através dos animais 
mortos deixados à beira dos rios. Para que ela fosse contida, propôs vaci-
nar a metade dos rebanhos de cada fazenda por onde passariam os cursos 
de água contaminados, e só depois que os animais vacinados e marcados 
sobreviveram pôde comprovar a efetiva ação dos micro-organismos na 
transmissão de doenças. Assim como os animais, as pessoas também não 
morriam por causas indeterminadas, mas porque eram atacadas por seres 
microscópicos. Como acreditar que o ser humano – criado à semelhança 
divina – pudesse sucumbir a criaturas tão inferiores?
Figura 2.7: Saber da existência de micro-organismos mudou a 
forma do homem olhar o mundo e a si mesmo.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:E_coli_at_10000x,_original.jpg
Combatendo micróbios
Pasteur expôs a “teoria germinal das enfermidades infecciosas”, 
segundo a qual toda enfermidade infecciosa tem sua causa (etiolo-
gia) num micróbio com capacidade de propagar-se entre as pessoas. 
Deve-se buscar o micróbio responsável por cada enfermidade para 
se determinar um modo de combatê-lo. Pasteur passou a investigar 
os microscópicos agentes patogênicos, terminando por descobrir 
vacinas, em especial a antirrábica. Fundou, em 1888, o Instituto 
Pasteur, um dos mais famosos centros de pesquisa atuais.
Figura 2.8: Louis Pasteur em seu laboratório.
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f6/Tableau_Louis_
Pasteur.jpg 
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Psicologia e Educação | As concepções de homem relacionadas ao desenvolvimento humano: 
o inatismo
48 CEDERJ
O segundo golpe veio do naturalista inglês Charles Darwin (1809-
1882), que publicou sua teoria sobre a origem e a evolução das espécies 
em 1859: On the Origin of Species by means of Natural Selection. Essa 
obra provocou numerosas controvérsias, uma vez que se opunha ao 
criacionismo, conforme a religião católica pregava havia séculos. Para 
o darwinismo, as espécies atuais são o resultado de uma longa e gradual 
adaptação evolutiva de espécies mais antigas, através de mecanismos 
de seleção natural, que faz sobreviver o mais apto na luta pela vida. A 
seleção natural completa-se com a seleção sexual, pela qual as fêmeas 
são atraídas pelos machos portadores de determinadas características 
que garantam a sua sobrevivência e a de seus filhotes (DARWIN, 2000). 
Atualmente, outros fatores estão sendo incluídos, como determinantes de 
novas espécies, tais como a teoria das variações somáticas e genéticas e 
de determinantes geográficos, fisiológicos e o isolamento de populações.
Figura 2.9: Durante sua vida, Charles Darwin tornou- 
se famoso como um influente cientista, estudando 
tópicos controversos.
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/ 
8/8b/Hw-darwin.jpg
CEDERJ 49
O INATISMO E A PSICOLOGIA
Até o final do século XIX, portanto, a Psicologia era mediada pelo 
conhecimento filosófico, uma vez que seu objeto de estudos abrangia 
tanto visões mais gerais do mundo como também se interessava pelos 
grandes sistemas filosóficos. Somente em suas últimas décadas observa-se 
uma tendência a distanciar a Psicologia da Filosofia, ao ser privilegiada 
a possibilidade de transformá-la em uma ciência autônoma. O mesmo 
aconteceu com a Educação, que passou a buscar, na Psicologia, fontes 
de informação para a formulação de teorias educativas científicas. Daí o 
nascimento da Psicologia da Educação, na primeira década do século XX.
O criacionismo consiste na mais difundida explicação sobre a criação e 
desenvolvimento do Universo, incluindo galáxias, planetas e a própria 
vida. Um sistema de crenças segundo o qual tudo teria sido criado por 
uma entidade inteligente, superior, normalmente identificada como Deus. 
Com o avanço das ciências naturais e sua desvinculação da religião, novas 
explicações foram deduzidas sobre a origem do Universo, do homem, do 
nosso planeta e da vida. Tais mudanças geraram e até hoje geram contro-
vérsias e conflitos entre certos grupos religiosos. Os cristãos, assim como os 
fundamentalistas, configuram-se como os principais mantenedores dessa 
polêmica, através do embate entre criacionistas versus evolucionistas. 
Nos Estados Unidos da América do Norte, por exemplo, país considerado 
desenvolvido segundo critérios econômicos e tecnológicos, em mais de 
vinte estados ainda é proibido o ensino da teoria da evolução de Darwin.
Figura 2.10: A criação de Adão: patriarca da humanidade no cris-
tianismo, no judaísmo e no islamismo. Pintura de Michelangelo, 
na Capela Sistina.
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f2/Creation_
of_Adam.jpg
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Psicologia e Educação | As concepções de homem relacionadas ao desenvolvimento humano: 
o inatismo
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O caminho da busca por cientificidade veio através de um médico 
francês, claude Bernard, que defendia a necessidade de se criarem méto-
dos mais precisos e que propiciassem maior controle no tratamento de 
doentes e enfermos, iniciando a fisiologia e a medicina experimentais. 
Não aceitava mais que se continuasse a tratar os pacientes com ensaios 
e erros, com acertos ocasionais. No lugar de fazer experiências com 
pacientes, era necessário um método que permitisse verificar hipóteses 
e criou, assim, as regras da experimentação, comparando tratamentos e 
controlando a influência de variáveis do organismo e do meio.
O método experimental, por ele criado, tornou-se o modelo de 
cientificidade e passou a ser adotado pelas diversas áreas de conheci-
mento, inclusive determinando a fase experimentalista também na Psi-
cologia, fase que perduraria até o final do século passado, como modelo 
hegemônico deste campo de saber.
claude Bernard 
(1813-1878) foi pro-
fessor de Medicina 
Experimental no 
College de France, 
chamando a atenção 
de seus colegas para 
a nova disciplina 
comparativa, tendo 
publicado, em 1865, 
um livro sobre o 
assunto, o qual lhe 
conferiu, quatro 
anos após, a eleição 
para a Academia 
Francesa. 
Não confunda experimentalismo com empirismo, este último já definido 
na Aula 1. Para os empiristas, o conhecimento tem sua origem FORA 
do indivíduo e é interiorizado através dos SENTIDOS. Os pressupostos 
do método experimental para a verificação de hipóteses implicam, em 
sua versão clássica, trabalhar com dois grupos, cujas respostas serão 
comparadas: a um deles é aplicado um determinado tratamento (grupo 
experimental), e ao outro (grupo de controle) não se introduz nenhu-
ma variável, tomando-se o cuidado de manter as mesmas condições do 
primeiro. Tal controle permitiria que ambos os grupos fossem homogê-
neos. As respostas dos sujeitos de ambos os grupos seriam comparadas, 
e as diferenças encontradas seriam atribuídas ao tratamento utilizado. 
Atualmente este método vem sendo aperfeiçoado, inclusive em face 
do desenvolvimento da estatística, e passou a incluir diversos tipos de 
planejamento experimental e a possibilidade de pesquisar vários grupos 
simultaneamente para os testes de hipóteses. No lugar de se tentar anali-
sar a ação de determinada droga, por exemplo, com uma única dosagem, 
pode-se testar várias doses ao mesmo tempo, utilizando grupos de pessoas 
em diferentes faixas etárias, como se faz nos planejamentos fatoriais.
!
Atende ao Objetivo 2
2. Através desta atividade, buscamos atingir mais um dos objetivos de nossa 
aula: identificar as inter-relações do inatismo com a Psicologia e com as 
descobertas científicas em outras áreas do saber. Neste sentido, responda 
à seguinte questão:
ATIVIDADE
CEDERJ 51
A teoria evolucionista ainda sofre críticas e desconfiança, embora 
também tenha sido ampliada, apresentando novas evidências e algumas 
correções. Ainda dentro da Biologia, diversas contribuições da etologia e 
da genética vêm revolucionando as aplicações do mapeamento do genoma 
humano, gerando concepções sobre o homem que jamais poderiam ser 
imaginadas. Tais concepções estão em um processo constante de vir-a-ser.
INATISMO NA PSICOLOGIA E NA EDUCAÇÃO
A busca pela cientificidade atingirá também a Psicologia, que seguirá 
o mesmo caminho das Ciências Naturais. É nesse período que Wilhelm 
Wundt (1832-1929) cria o primeiro Laboratório de Psicologia Experimen-
tal em 1879, na Universidade de Leipzig. Tornou-se o líder do movimento 
conhecido como estruturalismo, para o qual o objeto de estudos deve ser 
a consciência, servindo-se, para esse fim, da introspecção e analisando 
Como descobertas científicas na Astronomia e na Biologia modificaram as 
concepções do homem?
RESPOSTA COMENTADA
Ao tirar a Terra do centro do Universo e o homem do centro da criação 
divina, Galileu e Darwin, respectivamente no período medieval e na 
Idade Moderna, provocaram uma revolução nas ideias sobre a concep-
ção do homem. As mudanças radicais não costumam ser aceitas sem 
perseguições de grupos que sentem seus ideais ou crenças abalados. 
A revolução galileana foi precursora de outras grandes teorias da Física, 
que vêm mudando substancialmente esta área de saber. As concepções 
baseadas no inatismo deixam de ser uma verdade universal, o que 
mudou a concepção de homem como um ser criado completo e não 
sujeito às variáveis do meio ambiente.
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o inatismo
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os processos mentais em seus elementos. Além dessas características, os 
estruturalistas tentam localizar, no sistema nervoso, as estruturas relacio-
nadas aos elementos que compõem tais processos (DAVIDOFF, 1983). 
Em Lepzig, os resultados das pesquisas de seu fundador, sobre emoção 
e sentimentos, foram publicadas no livro Elementos de Psicologia Fisio-
lógica. Lá também trabalharam Weber e Fechner, realizando pesquisas 
psicofísicas sobre estímulos limiares: absolutos (a menor intensidade de 
um estímulo capaz de torná-lo perceptível por um determinado órgão 
sensorial) e relativos (dependendo do estado do organismo no momen-
to). Ambos elaboraram as célebres leis de Fechner e Weber, acerca das 
sensações. Também neste laboratório J. M. Catell (1860-1944) inicia suas 
pesquisas sobre tempo de reação, aplicando a experimentação, o que o 
levou à formulação de leis sobre as diferenças individuais. Tentou aplicar 
os conhecimentos da Psicologia a diversas áreas do conhecimento, inclu-
sive a Educação, para a qual construiu diversos testes mentais.
Os primeiros anos do século que acabou de findar foram marcados 
pelo avanço na criação de testes e instrumentos de medida, tanto nos EUA 
como na Europa. Na França, Alfred Binet publica, em 1903, o livro Étude 
experimental de l’intelligence, em que apresenta a possibilidade de medir 
a inteligência, criando um teste que, depois de traduzido para o inglês, 
passou a denominar-se Stanford-Binet. Foram criados testes que mediam 
um fator geral de inteligência e outros que identificavam o nível de fatores 
específicos, que tinham relação com a capacidade intelectual.
Outros testes foram sendo criados, com o intuito de medir as 
capacidades mentais e as aptidões, a fim de determinar as possibilidades 
dos educandos em relação à aprendizagem. A onda psicométrica tentou 
utilizar ferramentas que facilitassem o trabalho do educador.
ALÉM DA DICOTOMIA INATISMO-AMBIENTALISMO
Na aula anterior, assim como na Introdução desta, você aprendeu 
que, em suas origens, estas duas áreas do saber – Psicologia e Filosofia – 
confundiam-se. Viu também como as relações entre Psicologia e Educação 
eram igualmente norteadas por premissas criadas no campo daFilosofia. 
Agora, vamos tentar mostrar como conhecimentos advindos de outras 
áreas repercutiram nos avanços da Psicologia e nas teorias e nas práticas 
educativas, ora defendendo o inatismo, ora privilegiando o ambientalismo.
CEDERJ 53
A dicotomia inato-ambiental separa a multidiversidade – que 
caracteriza o ser humano – em apenas duas possibilidades. Ela pode 
ser denominada de outras formas, tais como: hereditário x aprendido, 
essencialismo x construtivismo social, sociedade x natureza ou ainda 
“nature” x “nurture”. 
É necessário que você atente para o fato de que, embora essas duas 
posições pareçam dar conta do objeto da Psicologia, não podemos nos 
contentar em tentar compreender os fenômenos psíquicos que ocorrem 
dentro do indivíduo apenas com essas duas vertentes. Conforme ressalta 
Paulilo (1996), precisamos admitir que processos externos e internos têm 
significação anterior à existência do ser humano, ou seja, há variáveis 
que são oriundas da história da sociedade na qual o indivíduo nasce e 
vive. Tentando aplicar as teorias psicológicas, a Psicologia da Educação 
buscou fundamentação nas três áreas que estavam em franco desen-
volvimento no início do século passado: os estudos sobre diferenças 
individuais e a preocupação psicométrica (uso de testes de inteligência, 
atenção, aptidões), as pesquisas sobre processos e tipos de aprendizagem 
e, finalmente, os estudos sobre o desenvolvimento infantil.
No que concerne ao estudo das diferenças individuais:
•	 O interesse pelas diferenças individuais entre os indivíduos 
começou na área das Ciências Físicas, especificamente na Astro-
nomia, quando foi constatada uma diferença nos cálculos de 
velocidades e distâncias de corpos celestes, ao serem compara-
dos os resultados de diferentes astrônomos. Uma aproximação 
do tempo real deveria ser estimada, a partir de uma equação 
pessoal dos erros. Daí resultaram estudos psicofísicos no Labo-
ratório de Leipzig, incluindo testes de tempo de reação.
•	 Na Psicologia, estes estudos influenciaram uma visão psico-
métrica da inteligência, buscando entender a forma pela qual 
a inteligência se estrutura; neste modelo, coexiste uma pressu-
posição de que a inteligência é composta de habilidades e que 
estas podem ser medidas por provas de capacidade mental.
•	 Além desse, outros paradigmas foram marcantes para o estudo 
da inteligência: o desenvolvimento da psicologia cognitiva – que 
concerne aos processos mentais responsáveis pelo funcionamen-
to do pensamento – e a ciência biológica, ao tratar das bases 
neurais de inteligência, atualmente denominada neurociência. 
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Quanto à aprendizagem, comecemos por uma definição abrangente:
•	 Constitui o modo como os seres vivos adquirem novos conhe-
cimentos, desenvolvem suas competências e modificam seus 
comportamentos, valores e atitudes, em função de suas expe-
riências. Nesta definição, foram contemplados tanto fatores 
inatos quanto fatores do ambiente sociocultural, na medida em 
que dependerá de pressupostos políticos, econômicos, históricos 
e ideológicos vigentes em determinado espaço e determinado 
tempo, todos relacionados à visão do mundo e aos conheci-
mentos de que dispomos no momento.
•	 Como um PROCESSO, a aprendizagem pode ser estudada 
segundo um conjunto de DIMENSÕES, e não apenas as duas 
dimensões opostas, propostas pela dicotomização entre inatismo 
e ambientalismo. As teorias associacionistas serão mais deta-
lhadas na Aula 3, por estarem relacionadas ao ambientalismo.
•	 Dentre as teorias da aprendizagem, as que se fundamentam 
nos processos cognitivos são as que mais se aproximariam da 
visão inatista, uma vez que os cognitivistas acreditam que a 
inteligência compreende uma gama de representações mentais 
das informações (proposições, imagens, etc.) e uma série de 
processos que podem operar sobre essas representações. O 
construtivismo piagetiano, a ser apresentado de forma sucinta, 
a seguir, possui princípios igualmente ligados ao inatismo.
Quanto ao desenvolvimento infantil, várias teorias o estudaram, 
mas na presente aula você irá se familiarizar com aquelas cujos prin-
cípios denotem uma visão inatista. Dentre as teorias da aprendizagem, 
que serão abordadas em outras aulas, o construtivismo de Jean Piaget 
(1896-1980) apresenta, em sua estrutura, mecanismos próprios, deter-
minados principalmente pela maturação biológica. Utilizando o método 
estruturalista, o autor centraliza seus estudos mais no sujeito do que no 
objeto, este último visto como perturbador da estrutura cognitiva. Piaget 
tomou as descobertas de Konrad Lorenz – juntamente com os resultados 
de sua própria pesquisa – como base para sua inovadora psicobiologia.
O conhecimento, dentro do construtivismo piagetiano, é “cons-
truído” de acordo com os estágios do desenvolvimento do ser humano. 
Tais estágios são fixos e universais, como o são os processos de matura-
ção, e são independentes da aprendizagem. As constantes trocas com o 
CEDERJ 55
meio, a partir das ações do ser humano, propiciam adaptação progressiva, 
objetivando uma equilibração constante. A aprendizagem beneficia-se 
desses progressos, mas não o influencia. Certos tipos de aprendizagem 
só serão possíveis quando o organismo alcançardeterminados níveis de 
desenvolvimento das estruturas cognitivas. Desde que iniciou sua car-
reira, Piaget tinha interesse em fenômenos de adaptação ontogenética 
que tinham repercussão na filogênese.
Segundo alguns autores, como Figueiredo (1991) e Palangana 
(1994), a visão piagetiana é vista como interacionista, em face da neces-
sidade de a criança interagir com o meio para que ocorra a gênese do 
pensamento. O interacionismo determinou o fim da dicotomia inatismo 
x ambientalismo, inclusive porque esses dois termos possuem conotações 
diferentes em outras áreas do saber.
As mil faces da Psicologia
Você deve estar se perguntando por que, ao observarmos a história da 
Psicologia, nos deparamos com um conjunto de discursos composto por 
inúmeras escolas, com diferentes orientações, o que lhe dá a aparência 
de um corpo em pedaços, sem unidade, como observa Patto (1994). 
Realmente, o objeto atual da Psicologia, com suas inúmeras especialida-
des, desde a Psicologia Biológica à Psicologia Social, abarca um grande 
número de possibilidades para os que se dedicam a essa área de estudos.
!
O INATO NA PERSPECTIVA ETOLÓGICA
Uma nova perspectiva de base inatista apareceu nos últimos cin-
quenta anos, com o desenvolvimento de estudos etológicos. A etologia, 
definida como a biologia do comportamento, surgiu na Europa, com 
o objetivo de estudar os mecanismos do comportamento através de 
uma perspectiva evolucionária. Ocupou-se inicialmente das atividades 
instintivas nas diversas espécies, em ambiente natural. Destacam-se, 
nessa fase, os trabalhos pioneiros de Konrad Lorenz e Niko Tinbergen 
(1951), sobre instintos em aves, introduzindo a noção de imprinting 
(ou “estampagem”) para atos instintivos – e, portanto, inatos – que 
necessitam de certo estágio do desenvolvimento do animal, assim 
como a presença de certo estímulo para que sejam gravados.
etologia
Disciplina dedicada, 
em seus primórdios, 
ao estudo do com-
portamento animal, 
mas que passou a 
estudar a espécie 
humana. O termo 
provém do grego 
-ethos (conduta, 
costumes, compor-
tamento) e logos 
(estudo, tratado). Ela 
se utiliza de estudos 
em ambiente natural 
e também em labo-
ratórios, possuindo 
caráter interdiscipli-
nar e combinando 
conhecimentos de 
neuroanatomia, 
ecologia e teoria da 
evolução.
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Os comportamentos animais desenvolvem-se como resultado da 
interação de influências genéticas e ambientais. Certas condutas possuem 
determinantes mais inatos do que comportamentais. Em outras, ocorre o 
oposto. Os comportamentos denominados em geral como instintivos são 
geneticamente programados e geralmente sofrem muito pouca influência 
da experiência ou da aprendizagem. Eles fazem parte do repertório de 
condutas e de habilidades essenciais para a vida e a sobrevivência da 
espécie, em geral, e do indivíduo, em particular.
O ato de chupar o dedo – e, após o nascimento, o mamilo da mãe – nos 
bebês humanos ocorre mesmo dentro do ventre materno e constitui um 
dos comportamentos instintivos com que já nascemos.
Na figura a seguir, você verá o próprio Lorenz sendo seguido por 
filhotes de ganso que, ao nascerem, estão programados para seguir o primeiro 
objeto que apresente movimento. Na ausência da mãe, eles depararam-se 
com Lorenz movimentando-se próximo ao ninho, e, assim, sofreram o 
processo de estampagem, passando a segui-lo como o fariam em relação à 
mãe, que normalmente é o primeiro ser vivo com que os filhotes convivem.
Figura 2.11: Lorenz e os filhotes de ganso.
Fonte: http//pt.www.cerebromente.org.br/n14/
experimento/lorenz/index.lorenz.html
CEDERJ 57
Dentre as descobertas desses pioneiros, há ainda as que se rela-
cionam aos “estímulos sinais”, ou estímulos deflagradores de compor-
tamentos inatos, como o grito de alerta à aproximação de predadores. 
No caso das aves, por exemplo, a visão de um simples contorno que 
caracterize um ganso ou uma águia provocará reações diversas, não 
importando os demais detalhes da figura percebida.
Em seu livro Fundamentos da etologia (1981), Lorenz aborda 
diversos temas, tais como: metodologia etológica, aspectos ligados ao 
comportamento e à cognição como modificadora de comportamentos. 
Defende a ideia de que muitos dos mais importantes padrões de compor-
tamento dos animais – aqueles tradicionalmente chamados instintivos 
– eram inatos, fixos, e não podiam ser modificados ou eliminados pelo 
meio. O critério para determinar se certo padrão de comportamento é 
inato é verificar se ele ocorre em todos os indivíduos normais da espécie. 
Leva-se em consideração idade e sexo, sem que tenha havido aprendi-
zado anterior e que esse comportamento se apresente sem necessidade 
de tentativas e erros.
Lorenz e Tinbergen testaram diversos modelos de gansos e águias e che-
garam à conclusão de que a relação entre pescoço e cauda é que servia 
de parâmetro para a percepção da águia predadora, fazendo com que os 
animais buscassem refúgios. A mesma figura apresentada, ora amarrada 
na parte dianteira, ora na parte traseira, deflagrava ou não sinais de aler-
ta. A seguir, o modelo de cartolina preta utilizado pelos dois cientistas.
Quando se observa um bando de macacos, o grito de alerta para águias e 
felinos é diferente: no primeiro caso, o bando procura proteção no centro 
da copa de árvores, local de difícil acesso aos voos rasantes da ave predado-
ra; quando se trata de felinos, o bando se refugia nos galhos menores, mais 
difíceis de serem escalados, em face do peso desses últimos predadores.
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Comportamentos instintivos acontecem espontaneamente, como 
que provocados por causas internas ao próprio animal. São comporta-
mentos de busca, que prescindem de um estímulo externo. É como se 
houvesse um reservatório (modelo hidráulico) que vai se enchendo, à 
proporção que aumenta uma necessidade primária, até que o animal tem 
de diminuir a pressão, através de um comportamento fixo, mesmo que o 
objeto que satisfaria a necessidade em questão não esteja presente. É o caso 
de pombos, por exemplo, que, quando afastados da fêmea, podem tentar 
copular com um pombo empalhado, um pedaço de pano ou mesmo um 
objeto da gaiola. Para Lorenz, o comportamento do homem é semelhante 
aos dos outros animais e está sujeito às mesmas leis causais da natureza.
Agressão e autocontrole
O ponto crucial da visão de Lorenz a respeito da natureza humana, 
exposto no livro Sobre a agressão, é que o ser humano, assim como 
acontece com outros animais, tem o impulso inato do comportamento 
agressivo em relação à sua própria espécie. Esse impulso deveria estar 
limitado, provocando poucos danos ao outro, como acontece em geral, 
entre outros animais, nas disputas por fêmeas ou por território. Entre 
os humanos, no entanto, a agressão pode levar à morte do oponente, 
consequência que contraria a necessidade de sobrevivência da espécie. 
Nos seres humanos foram observadas duas grandes diferenças: a primeira 
é o poder em termos destrutivos, com o crescente arsenal disponível para 
matar. Se antes as armas demandavam contato com o inimigo ou com o 
opositor, como eram os casos em que eram usados machados, espadas 
e armas brancas em geral, passando pela lança e pelo arco e flecha, o 
agressor podia ver o sofrimento causado ao outro, o que deveria inibir o 
comportamento agressivo. Com a nova utilização da pólvora e a invenção 
do revólver e, depois, de armas que impediam a visão das reações das 
vítimas da agressão, o alvo ficoucada vez mais longínquo. Até que a 
humanidade chegou à “assepsia” de apertar um botão e lançar mísseis 
de longo alcance que sequer são associados à grandeza da destruição 
que provocam e tampouco à população dizimada. Dessa forma, o equilí-
brio natural entre o potencial de agressão e a inibição a ela passou a ser 
dificilmente percebido. A tecnologia destruiu a possibilidade de que a 
espécie humana iniba o comportamento agressivo ao perceber a vítima 
apresentando gestos ou posturas de submissão, como fazem os cães e 
outros mamíferos, que se deitam de barriga para cima, mostrando-se, 
dessa forma, vulneráveis e sem capacidade de reagir.
Para Lorenz, o conhecimento pautado na filogênese, nas capaci-
dades e habilidades inatas, não leva a pensarmos que não sejamos livres. 
Ao contrário, nosso crescente conhecimento de nós mesmos aumenta o 
nosso poder de autocontrole. Se compreendermos melhor as causas de 
nossa agressão, mais aptos seremos para tomar medidas para controlá-la. 
CEDERJ 59
Em 1973, Lorenz, Tinbergen e Von Frisch receberam o Prêmio 
Nobel por suas descobertas, tendo este último se destacado por suas 
pesquisas sobre a comunicação entre abelhas, quando percebeu que, 
de alguma forma, elas passavam informação às demais sobre o local da 
fonte de alimento, ao chegarem à colmeia: a famosa “dança do oito”, 
como ficou conhecida. 
Para assistir ao vídeo (em inglês) sobre imprinting, com Konrad 
Lorenz em ambiente natural, acesse http://www.youtube.com/
watch?v=2UIU9XH-mUI.
Neste aqui (em italiano), aparece a reação de alarme à figura 
do gavião e imprinting em patos e gansos: http://www.you-
tube.com/watch?v=v8c4iXaYNwo
O vídeo K. Lorenz, el padre de la etologia (em espanhol) trata 
da agressão em animais (mais defensiva ou ritualizada) e no 
homem: http://www.youtube.com/watch?v=T-0Pub1ma4U
Por fim, assista a este vídeo (em espanhol): http://www.you-
tube.com/watch?v=f-nBJRhDVWI. Nele é mostrado como Von 
Frisch decifrou o código usado pelas abelhas na passagem da 
informação pela colmeia.
Karl Von Frisch e a descoberta da dança das abelhas
Zoólogo austríaco nascido em Viena, Karl Von Frisch se destacou estu-
dando o comportamento das abelhas. Fez importantes descobertas sobre 
seus sentidos, como a utilização desses pelos demais membros de sua 
sociedade, para troca de informações. Conseguiu decodificar a linguagem 
das abelhas, verificando que elas usam a radiação solar como método 
de orientação mesmo quando o Sol não está visível; observou que as 
abelhas comunicam ao resto da colmeia a localização de uma fonte de 
alimento através de dois tipos de movimentos rítmicos: a dança circular, 
para indicar que a comida se encontra num raio de menos de 75m, e a 
agitação violenta do abdome, que assinala distâncias maiores. A direção 
do eixo central da dança indica a direção do Sol, enquanto o número de 
voltas indica a distância até o alimento. Estudos posteriores detectaram 
sinais combinados e mais complexos na troca dessas informações.
Fonte: http://www.i-l-g.at/preistraegerbild35.htm
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As pesquisas de Harry Harlow (1959) sobre as relações maternais 
de macacos com a mãe de pano e a mãe de arame evidenciaram que a 
preferência não era definida pela mãe que fornecia alimento, mas a que 
facilitava o apego pelo contato macio, pelo aconchego. 
Nessa fase inicial, denominada etologia tradicional, as pesquisas 
realizadas focalizaram os mecanismos causais imediatos e a ontogênese 
do comportamento. Somente dez anos depois Bowlby (1969) vai deno-
minar o vínculo entre mãe e filho de “apego”, chamando a atenção 
para o fato de que formar vínculos tem, como uma de suas principais 
consequências, a criação de novas interações sociais entre ambos, garan-
tindo um desenvolvimento saudável. A abordagem etológica influenciou 
diversos psicólogos, inclusive Piaget, que utilizou, para criar sua inova-
dora psicobiologia, as descobertas de Konrad Lorenz, juntamente com 
os resultados de suas próprias pesquisas, através de observações do 
desenvolvimento em crianças.
Para assistir os experimentos de Harry Harlow sobre a mãe 
substituta, assista aos seguintes vídeos (em inglês): http://www.
youtube.com/watch?v=fLrBrk9DXVk e http://www.youtube.
com/watch?v=hsA5Sec6dAI
Após 1975, os estudos passam à fase denominada etologia com-
portamental, focalizando mais as questões sobre evolução e os estudos 
sobre etologia humana. Diversas áreas foram contempladas, mas se nos 
detivermos na questão da formação do vínculo afetivo entre macho e 
fêmea, verificaremos que os etologistas apontam, no Homo sapiens, diver-
sas mudanças nos mecanismos de reprodução. Tais mudanças teriam sido 
resultado do andar bípede e da posição ereta do corpo, o que reduzia as 
chances de a fêmea conseguir sustentar um feto – cujo cérebro estava se 
desenvolvendo gradativamente, ao longo da evolução – dentro de uma 
cavidade pélvica estreitada pelo bipedismo. 
Quanto ao apego dos pais em relação aos filhotes, a neotenia faci-
litou-lhes o desenvolvimento, principalmente porque ela vem associada 
às características dos rostos dos bebês, que funcionam como estímulos e 
sinais para a proteção e a ternura, como assinalam Bussab e Otta (1992). 
neotenia
Processo que retarda 
a maturação da espé-
cie humana, em com-
paração com outros 
primatas, permitindo 
uma infância muito 
longa, além do cres-
cimento do cérebro, 
especialmente o neo-
córtex. 
CEDERJ 61
Afirmam que foi a contínua interação entre o apego e o investimento 
parental que deu origem ao amor entre pais e filhos e que, como evoluímos 
em um contexto de vínculos afetivos individualizados, também permitiu o 
desenvolvimento da própria sociedade (BUSSAB; OTTA, 2000).
Figura 2.12: O vínculo entre pais e filhos ajuda o desenvol-
vimento da sociedade.
Fonte: http://www.sxc.hu/photo/992546
Segundo diversos autores, a biologia do comportamento ultra-
passa concepções dicotômicas como as de inato x aprendido ou natu-
reza x cultura. Para Ana Maria Carvalho (1989), na espécie humana o 
ambiente é fortemente marcado pela cultura, que pode ser desvinculada 
da evolução biológica; para a autora, “a cultura produziu o cérebro que 
a produz” (op. cit., p. 89).
Muitos dos estudos e pesquisas na área da Etologia atualmente 
seguem a denominação de Psicologia Evolucionista (ou Evolucionária, 
ou Psicologia Biológica). 
V
iv
ek
 C
h
u
g
h
Não confunda o termo Psicologia Evolucionista com Psicologia Evolutiva, ou 
Psicologia do Desenvolvimento. Esta última está mais ligada à ontogênese, 
ou seja, ao desenvolvimento do indivíduo. E isso é diferente da filogênese, 
ligada à primeira, que se refere ao desenvolvimento das espécies.
!
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o inatismo
62 CEDERJ
Podemos ainda nos perguntar: Qual seria a utilidade de um 
pensamento biológico, como o da Etologia, para a Psicologia? Quem 
responde é Bertelli (2008, p. 2):
O objeto da Psicologia, de um modo geral, é o ser humano. E nós, 
seres humanos, somos seres biológicos e sociais, ao mesmo tempo. 
A integração das perspectivas biológicas e sociais é necessária para 
compreender o fenômeno humano. Nenhuma das visões (biológica 
e social), sozinha, é capaz de explicar o ser humano. A teoria da 
Evolução, utilizada pela Etologia como pressuposto teórico, pode 
ampliar a compreensão das causas do comportamento humano. 
Atende ao Objetivo 3
3. Ao verificar o comportamento agitado de um aluno, a professora chama 
seus pais para uma entrevista. A mãe explica que seu filho é assim porqueseu marido também o era, quando criança, afirmando que “tal pai, tal filho”. 
Já pensara em levá-lo a um psiquiatra para que receitasse um calmante.
A professora argumenta que o menino acalma-se após o recreio e princi-
palmente nos dias em que tem aulas de artes, participando e interagindo 
com os grupos de trabalho. Sugere um diagnóstico psicológico e, talvez, 
uma atividade esportiva, uma vez que o menino lhe contou que passa 
horas sentado em frente ao computador.
Como você classificaria as tendências da mãe e da professora, em termos 
inatistas e ambientalistas?
RESPOSTA COMENTADA
No comportamento da professora, nota-se uma orientação mais 
ambientalista, além do reconhecimento de que natureza e ambiente 
interagem contínua e reciprocamente, o que nos permite inferir uma 
tendência interacionista nos processos que envolvem a criança. 
ATIVIDADE
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CONCLUSÃO
A verdade em ciência pode ser definida como a hipótese de 
trabalho melhor adequada para abrir caminho para uma 
próxima que seja melhor.
(LORENZ)
E agora? Você deve estar se perguntando o que tudo isto tem a ver 
com a Pedagogia? Qual a importância e as inter-relações entre posições 
inatistas, para a Psicologia da Educação? 
Durante séculos os estudiosos tentaram chegar a um consenso 
a respeito da origem dos princípios racionais, da capacidade para a 
intuição e de raciocínio do homem. Será que as pessoas já nascem com 
potencialidades, dons e aptidões que serão desenvolvidos de acordo 
com o amadurecimento biológico ou tudo isso é desenvolvido através 
da experiência com o mundo externo? Essa discussão, que se iniciou a 
partir de dois dos maiores filósofos da História, Platão e Aristóteles, 
ocupou filósofos no período medieval e chegou à modernidade com 
diferentes nomes, apresentando o ser humano como um agente estático, 
sem a possibilidade de sofrer mudanças. Desta forma, quando o homem 
nasce, tudo está definido, toda a atividade de conhecimento é exclusiva 
do sujeito e o meio dela não participa. 
Já a predominância do meio ambiente, como única fonte na 
produção do conhecimento, característica do empirismo, destaca a 
importância da educação e da instrução na formação do homem. 
No interacionismo, não cabe a divisão em somente duas categorias 
isoladas e não é aceita a dicotomia inato x aprendido. Quanto às 
atitudes da mãe, há uma tendência ao inatismo; para ela, o com-
portamento do filho seria devido, exclusivamente, a fatores internos, 
o que limita as possibilidades e a multidiversidade de alternativas de 
que ela poderia dispor. A necessidade de contextualização, ou seja, 
de aceitar a influência de diferentes variáveis, tanto internas quanto 
externas, constitui uma premissa básica para o conhecimento psico-
lógico e suas aplicações à educação, favorecendo uma concepção 
abrangente e mais compreensiva do ser humano.
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o inatismo
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O estudo do empirismo e do inatismo é importante devido ao fato de 
que, atualmente, muitas questões polêmicas giram em torno destas duas 
teorias, tais como o desenvolvimento da homossexualidade, a formação 
de líderes, o desenvolvimento de superdotados, as técnicas de inseminação 
artificial, dentre outras.
Outra premissa do inatismo – o ser humano concebido como 
biologicamente determinado – nos remete à concepção de uma sociedade 
“naturalmente” organizada, hierarquizada, onde cada ser humano tem 
seu lugar segundo suas capacidades herdadas. Isto desencorajará as ini-
ciativas de mudanças pessoais, impossibilitando inclusive a mobilidade 
social, assim como dos movimentos que vierem a propor transformações 
sociais em larga escala.
Na educação, a concepção inatista tem levado a que pais e educa-
dores esperem que as crianças amadureçam “naturalmente”, atingindo os 
níveis de desenvolvimento esperado para cada faixa etária. Por outro lado, 
faz com que não esperem muito daqueles que não apresentam um bom prog-
nóstico, em função de uma herança genética ou cultural mais desfavorecida. 
Cria-se uma expectativa de que se deve deixar que o aluno desabroche por 
ele mesmo, pois acabará demonstrando suas aptidões e potencialidades. 
O papel do professor é o de facilitar que a essência se manifeste e que, 
quanto menos ele interferir, mais facilmente surgirão a espontaneidade e 
a criatividade do aluno. Assim, o sucesso ou o fracasso escolar constituirá 
responsabilidade única do aluno, como assinala Patto (1991).
A teoria inatista baseia-se em uma concepção de ser humano que 
se inspira no racionalismo e no idealismo. O primeiro fundamenta-se na 
crença de que o único meio para se chegar ao conhecimento é pelo uso 
da razão. Todos chegarão a ele, uma vez que a razão é inata, imutável 
e igual em todos os seres humanos. Para o idealismo, o real é o mundo 
das ideias e dos significados. Dar realidade às ideias, oferecer respostas 
ideais (de ideias) às questões reais constitui a forma de compreender a 
realidade (NUNES, 1986). Os fatores maturacionais e hereditários são 
priorizados nessa perspectiva. O ser humano nasce com potencialidades, 
dons e aptidões que serão desenvolvidos, à proporção que amadurece, em 
termos biológicos (fisiológico e neurológico). Dotado de dons divinos, 
o homem não teria necessidade ou possibilidade de mudança. Ele não 
agiria sobre o meio ambiente, nem receberia influências significativas do 
contexto sociocultural. 
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Para entender o desenvolvimento, o inatismo parte do pressuposto 
de que o homem, em seu processo de aprendizagem, apenas aperfeiçoa o 
que lhe foi dado de forma inata. A aplicação dessa concepção na educa-
ção gera imobilismo e resignação, uma vez que as diferenças individuais 
não podem ser superadas, isentando a escola, a família, o educador – e 
a própria sociedade – de qualquer responsabilidade. 
ATIVIDADE FINAL
Leia os dois textos a seguir, de autoria de dois professores da USP/SP: o primeiro, de 
Ana Maria Carvalho, sobre contribuições da etologia para o conceito de Homem, 
disponível na revista Biotemas, 2 (2): 81-92, 1989; o segundo, de autoria do etólogo 
Cesar Ades, sobre a vida e a obra de Tinbergen.
A Etologia tem contribuído para a recuperação da noção de homem como 
um ser bio-psico-social, abandonando a concepção insular do ser humano 
que dominou as ciências humanas (inclusive algumas áreas da Psicologia) na 
primeira metade do século XX, que destaca o homem da natureza e coloca-o 
em oposição a esta. A concepção etológica do ser humano é a de um ser 
biologicamente cultural e social (CARVALHO, 1989).
É interessante notar o quanto Tinbergen, que valorizava a análise e 
acreditava que a explicação última para os fatos do comportamento seria 
fisiológica, adotava uma perspectiva sistêmica, não reducionista: “Tudo 
no comportamento de um animal está relacionado a quase todo o resto.” 
Ele propunha que a organização dos mecanismos que controlam a ação 
se compõe de uma “hierarquia“ de níveis de integração. À liberação de 
tendências comportamentais gerais segue a de tendências mais específicas, 
estas levando a tendências mais específicas ainda e assim por diante, até serem 
produzidas as unidades mais moleculares do comportamento (ADES, 2011).
Agora responda: Em relação ao inatismo, em que diferem as opiniões de Carvalho 
(1990) e as de Tinbergen?
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o inatismo
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RESPOSTA COMENTADA
A Etologia animal e humana revolucionou muitos conceitos, demonstrando que o 
determinismo do inato não é automático, mas depende de certascondições do 
ambiente, de certos “estímulos sinais”, ou estímulos deflagradores, e que estes devem 
ocorrer em determinados “períodos críticos” da ontogênese. Contribuiu, com a teoria 
do apego, para a compreensão da formação de vínculos afetivos, principalmente 
entre mãe e filho. A base biológica do homem, como afirma Carvalho (1989) deve 
ser analisada dentro do contexto sociocultural. Mesmo possuindo uma abordagem 
baseada na fisiologia, o etólogo Tinbergen, conforma assinala Ades (s/d), não 
aceita o reducionismo inato, afirmando que o desenvolvimento das ações huma-
nas é composto de diversos níveis de integração, níveis estes que, dependendo da 
ação em questão, obedecem a uma hierarquia: em certos comportamentos podem 
predominar fatores inatos; em outros, o ambiente é que predomina, mas sempre 
haverá participação de ambos os fatores.
R E S U M O
A dicotomia corpo x alma, preocupação de pensadores na Antiguidade e na Idade 
Média, passou a denominar-se empirismo e racionalismo, gerando várias teorias 
controversas ainda dentro do campo da Filosofia. Com o avanço da Psicologia, a 
alma passou a ser comparada ao psiquismo, sem mais conotações de fundo religioso. 
A capacidade de raciocinar, imaginar, criar imagens mentais e organizá-las logica-
mente passa a se referir à atividade psíquica. A contribuição da Biologia, através 
da Etologia, provou que nem todo comportamento herdado, ou pré-programado, 
pode vir a fazer parte do repertório do indivíduo, relativizando o conceito de 
inato. Outros desenvolvimentos nos campos da Psicologia, da Biologia e da 
Neurociência evidenciam, cada vez mais, a necessidade de interação, e não de 
separação entre inato e aprendido. Somente abordagens interacionistas podem 
das conta da complexidade de estímulos – internos e externos – que influenciam 
nosso comportamento.
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INFORMAÇÃO SOBRE A PRÓXIMA AULA
Dentro da visão ambientalista, as ideias aristotélicas serão mais aprofundadas, 
assim como a posição de Locke. Este rejeitava as ideias inatas e colocava a fonte 
de todo o nosso conhecimento na experiência e na sensação, com o auxílio da 
reflexão. Veremos mais sobre isso lá!
Mesmo o inatismo piagetiano, um inatismo mais relacionado aos estágios de 
desenvolvimento desde a infância e até a adolescência, coloca em evidência que 
as estimulações do ambiente são essenciais, para a passagem de um para outro 
nível de desenvolvimento. Na psicopedagogia, reconhecer a predominância do 
inato deixa de lado a responsabilidade dos pais, da escola e da própria sociedade 
no desenvolvimento infantil – e, por consequência, no desenvolvimento humano – 
anulando qualquer influência que venha do ambiente psicológico e sociocultural.
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