Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIP - UNIVERSIDADE PAULISTA Instituto de Ciências Humanas Curso de Psicologia Fichamento do texto: ANCONA-LOPEZ, M. Prática Psicológica e as Estratégias Inovadoras. In: RAMOS, C; SILVA. G.G; SOUZA, S. (org) Práticas psicológicas em instituições: Uma reflexão sobre os serviços-escolas. São Paulo: Vetor Editora, 2006, p.27-34. “São nos paradigmas presentes em nosso mundo que se formam ve conceitos do que é ciência e, consequentemente, Os critérios que garantem a legitimidade de um conhecimento, Isto significa que o cumpri- mento dos critérios do que é ciência em um dado tempo e em uma dada época permite atribuir a um certo modo de conhecer um fenômeno o atributo de conhecimento científico.” (p. 27) “Somos constituídos em uma dada cultura, em uma rede de valores e significados que nos antecedem e denunciam a estruturação de nossos grupos sociais, de nossas famílias e nos quais se desenvolve nossa subjetividade. Não somos necessariamente conscientes das crenças e valores subjacentes ao modo de estar no mundo que prevalece em nossa sociedade, e que subjaz ao modo de vivermos o nosso dia a dia. Os paradigmas estão silenciosamente presentes como um dos panos de fundo de nossa existência. Assim, no cotidiano, não estamos preocupados em saber se 0 amor maternal é instintivo, universal, aprendido, etc,, vivemos tendo o amor maternal como um valor que utilizamos quando pensamos em nós e em nossos filhos ou em outros pais e filhos.” (p.28) “Os paradigmas não estão silenciosamente presentes apenas em nossa vida cotidiana. Eles orientam toda a organização de uma sociedade, incluindo os seus conceitos de conhecimento, de ciência e das diversas ciências. Orientam a organização da comunidade.” (p.28) “O modo de organizar e desenvolver a educação também é fruto de um conjunto de crenças e valores paradigmáticos, Por essa razão, a vida acadêmica. que se organizou do modo como é hoje no mundo ocidental e no país dentro de um determinado paradigma, pode nos ajudar a pensar e refletir sobre as crenças e valores a partir dos quais se desenvolvem as teorias e técnicas psicológicas.”(p.28) “Mais além das teorias, porém, podemos reconhecer os paradigmas nos quais classe baseiam: o “cientificismo” que considera a existência de uma ordem da natureza passível de representação matemática e procura inserir os eventos nessa ordem natural afirmando à possibilidade de conhecer as leis que regem o mundo por meio do uso do método experimental, paradigma que subjaz às escolas behavioristas; O “fenomenismo" colocando em cheque a crença na representação objetiva do mundo e afirmando uma diferença entre ciências naturais e ciências humanas, paradigma que sustenta os humanismos e as psicanálises, etc.”(p.29) “Na vida concreta, conforme os valores c as crenças vão se transformando, re-configurando-se, os paradigmas mudam. Isso significa que há uma interação constante entre os paradigmas e os atos humanos. Por um lado os paradigmas são referência silenciosa para os atos e, na medida em que eles não podem conter todas as possibilidades de ação que vão se dando, os paradigmas começam a mudar, Por essa razão, são muito mais facilmente reconhecidos a posteriori.” (p.29) “A clínica há muito nos mostrava a interconectabilidade dos membros de uma família, no entanto, as práticas clássicas da Psicologia Clínica ensinavam a olhar a criança apenas na sua individualidade. A mudança do pressuposto de que a subjetividade se constitui como um sistema fechado em si mesmo para o pressuposto que afirma a interação mútua de todas as coisas e eventos, fertilizou o crescimento das abordagens sistêmicas e das terapias familiares modificando sensivelmente a clínica psicológica na sua concretude. Deu forma a novos modos de trabalhar à família, aliviando a tensão existente no profissional que antecipava essa necessidade, mas não tinha ainda à disposição as ferramentas para dar conta daquilo que vivia. Da mesma forma, O intercâmbio crescente dos psicólogos clínicos deixou evidente que na prática psicológica pululam direções interpretativas que não podem ser abarcadas por uma única teoria nem obedecem a um conjunto de técnicas pré-determinadas, e 1850 pode ser mais bem compreendido quando à explicitação do paradigma pós-moderno mostrou que O desenvolvimento dos processos de comunicação tornou inevitável a prevalência do pressuposto acerca da caleidos cópia do mundo, e isso se refletiu nas novas teorias da linguagem e consequentemente também modificou a prática clínica.” (p.30) “As considerações como essas, entre muitas outras, mostram que nas Clínicas de Psicologia se fazem presentes situações, as quais escapam da apreensão das teorias existentes é antecipam o paradigma, E na prática que encontramos as lacunas e deficiências teóricas e colocamos em cheque 0 conhecimento oficial, A clínica, ao contrariar o saber dominante, moita a busca de novos conhecimentos e estes trazem em a marca do parada que começa a se desenhar.” (p.30-31) “A exposição mostrava como na mídia e em diferentes modalidades da arte empreendida por artistas então jovens, presentava-se a instalação de rotinas de modificação do corpo e a arte conceitual figurativa prenunciava as implicações que a engenharia genética, a cirurgia plástica e outras formas de alteração do corpo teriam na ação de um novo modelo de homem (DEITCH, 1992).” (p.31) “A biotecnologia permite que a pessoa defina as características de seus filhos, a fecundação artificial possibilita que ela tenha filhos para além do que até então se considerava como limite biológico para a gestação, que ela engravide e tenha filhos de um parceiro já falecido ou desconhecido. As dietas e as cirurgias plásticas, os recursos voltados à estética corporal, as academias permitem que cada um de nós possa modificar toda a sua aparência. Já são possíveis mudanças de sexo e de cor, características consideradas imexíveis quando acreditamos no corpo natural que nos é dado. As pesquisas com células tronco apontam para novas modificações que poderão mudar a forma e a estrutura de nosso corpo. As ciências da computação começam a pesquisar o implante de chips nos cérebros substituindo o comando das ações mecânicas.”(p.32) “Se olharmos para a nossa clínica, veremos que ali também, esse novo paradigma, que a exposição chama de pós-humano, já está presente Nossos clientes modificam o seu corpo: frequentam academias, fazem dietas, cirurgias plásticas, implantes, inseminações artificiais, olham o rosto de seus filhos ainda no ventre, observam seus movimentos e reações já durante a gestação, através do avanço dos exames de ultra-som Alguns clientes já mudam o sexo, ou pensam em mudar. É evidente em muitas pessoas a presença do pressuposto de que o corpo é maleável pode ser modificado em grande parte conforme o desejarem, livres dos códigos genéticos que herdaram. Elas podem se inventar, se modificou tendo como referência a fantasia e o desejo mais do que a racionalidade.”(p.32) “Embora esses casos apareçam em nossas clínicas, amda surgem de modo pontual, mas, à mudança está ocorrendo e gradualmente se fazem mais constantes, São casos que podem não parecer muito importantes ponto de vista social quando considerados isoladamente, mas, que, em conjunto, mostram que a aceitação de uma aparência “natural” e de sema personalidade “natural” está sendo substituída pelo pressuposto, cada vez mais disseminado, de que é normal reinventar-se a si mesmo.” (p.33) “Consequentemente, os conceitos com os quais pensamos o corpo na clínica já se mostram insuficientes. A prática já exige o desenvolvimento de um novo conceito para o corpo e, ao fazê-lo, exige o desenvolvimento de uma nova compreensão do sell. Inevitavelmente à Psicologia precisará construir novos conceitos de homem, não apenas para responder uma imposição teórica que a obrigue a corresponder aos avanços científicos e tecnológicos, caso queira manter seu status enquanto ciência e profissão, mas, principalmente,porque os fatos e as experiências com que vs profissionais se deparam na clínica assim o exigem.” (p.33) “ Os Psicólogos são obrigados a se confrontarem com suas próprias crenças pessoais para fazer frente à demanda de seus pacientes. E não encontram respaldo nas teorias conhecidas, já que estas se dissolveram sob o paradigma do cientificismo que alijou os temas da espiritualidade, da religiosidade e da religião de seu universo de estudo.”(p.33) “Essas questões mostram, mais uma vez, que a clínica é o lócus ideal para a pesquisa e para o desenvolvimento de novas possibilidades criativas e rigorosas que dêem conta da ação junto ao cliente. Elas alertam para a necessidade do psicólogo clínico manter-se em movimento. Estar atento para as mudanças que surgem em seu consultório, para o novo homem que é o seu cliente e transformar seus questionamentos em problematizações que, se devidamente perseguidas, poderam gerar novos conhecimentos.” (p.34) “A relevância desse aspecto reside no fato de estender, para além dos consultórios, o atendimento psicológico, ainda na formação dos profissionais. Mas, onde foi parar o termo clinica-escola que, historicamente, nomeava tais Encontros? Creio que, por uma questão também histórica, os estágios de quarto e quinto ano foram legitimando outras inserções de neces alunos em outras instituições, diferentes das de atendimentos tradicionalmente chamados de clínicos (em consultórios), com direito a se emparelharem a estes, com importância para a formação. E isto é, no mé mino uma conquista. Creio ainda que, por uma dessas armadilhas discursivas das quais não nos damos conta, o termo clínica selou sua conotação de atendimento individual, na sombra do sentido de ser ele também uma instituição.”(p.35)
Compartilhar