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19 Sinopse de caso - agressão no transito

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SINOPSE DO CASE: AGRESSÃO NO TRÂNSITO[footnoteRef:1] [1: Case apresentado à disciplina Psicologia Jurídica na Unidade de Ensino Superior Dom Bosco – UNDB.] 
1. INTRODUÇÃO
O caso em tela retrata mais um episódio de agressão no transito: “Depois de um longo dia de trabalho estressante, João entra em seu carro direcionando-se a sua casa. Já dentro do veículo recebe uma ligação de sua esposa e começa a discutir com ela enquanto dirige. Em outra via coincidentemente encontra-se Sérgio, vizinho de João. Sérgio também está voltando do trabalho, mas se encontra alegre pois teve um dia calmo e recebeu a promoção que tanto desejava. 
A placa no acostamento indicava a união de vias antes paralelas. Sérgio que estava na faixa a parte que iria se unir, descontraidamente dá a seta e desloca o veículo para direita, o qual é atingido de raspão pelo carro de João que permanecia na sua via, mas dirigia demasiadamente rápido.
Após ambos estacionarem no acostamento João sai do carro enfurecido, confiante de que o outro motorista foi imprudente e tem que pagar pelos prejuízos. Sérgio apesar de assustado mantem-se calmo e tenta estabelecer um diálogo com João, argumentando que são vizinhos e que há possibilidade de resolver isso pacificamente. Todavia, João tomado pela raiva desfere um soco contra Sérgio, que tem seu nariz quebrado devido ao impacto.”
Baseando-se no episódio de agressão no transito retratado, se faz mister avaliar o comportamento dos agentes com base em algumas teorias trabalhadas em sala de aula. Buscando compreender o conflito, adequando a abstração das teorias ao caso concreto.
2. DESENVOLVIMENTO 
2.1 TEORIA DA EMOÇÃO 
A emoção, a sensação e a percepção estão intrinsicamente ligadas a maneira que expressamos ou percebemos determinadas condutas, no caso de João e Sérgio, pode-se identificar a presença de estímulos internos e externos que vieram a propiciar o ocorrido. O fator emocional é determinante na tomada de decisões, e dependendo do contexto em que está inserido gera reações diferentes. 
Antes do conflito com João, Sérgio estava relaxado, feliz e descontraído, isso devido ao ótimo dia de trabalho e a promoção que recebeu, esses acontecimentos influíram em Sérgio causando-lhe emoções básicas como a felicidade e emoções positivas que representam o estado mental e corporal de Sérgio, causando-lhe prazer. Após a colisão dos carros Sérgio de feliz passou subitamente a ter medo, que está relacionado a situação ameaçadora a que agora fazia parte. 
Segundo Kaplan e Sadock 1993 p.230, a emoção é “um complexo estado de sentimentos, com componentes somáticos, psíquicos e comportamentais ...”, logo, o medo que Sérgio sentiu refletiu em seu corpo causando-lhe tensão nos músculos e frequência cardíaca acelerada, refletiu em sua mente causando-lhe ansiedade e impedindo o rápido raciocínio e refletiu em seu comportamento fazendo-lhe tremer. Depois do susto do impacto estacionou o carro e os reflexos do medo começaram a diminuir, devido a isso Sérgio pôde olhar com mais clareza a situação sendo capaz de argumentar com João pacificamente. 
Diferente de Sérgio, João estava estressado antes do conflito. O estresse foi ocasionado pelo trabalho, o intenso cansaço, e a discussão com sua esposa, o que ensejou emoções negativas em João, relacionadas ao desagrado. As emoções negativas podem se reverter em conflitos pois modificam as sensações e percepções do agente, e esse por sua vez devido ao estado emocional em que se encontrava ficou mais sensível à ruídos, sons, luz, e poderia entender qualquer comportamento como provocativo. 
No momento em que os carros encostaram um no outro João estava no telefone, logo, nota-se que o fato de estar estressado e a distração da ligação o fizeram prestar menos atenção na estrada, não vendo o carro que havia dado sinal e se deslocado em sua direção. Depois do ocorrido João que já estava irritado agora apresentava a emoção negativa da raiva, só que voltada para a agressão. Essa emoção também causou reflexos somáticos, psíquicos e comportamentais em João, que só são semelhantes aos de Sérgio no campo somático, pois os outros estão ligados a raiva que gera reflexos mais violentos.
Ao descer do carro João não foi capaz de perceber os argumentos de Sérgio como um ato pacifico e sim como uma provocação, pois a emoção da raiva ocasionou a atenção seletiva, (MYERS, 1999, P. 205) “que atua para confirmar as percepções que se ajustam aos pensamentos da pessoa”. Além disso estando sob estado de violenta emoção, João também teve a memória prejudicada, pois apesar de serem vizinhos, naquele momento João foi incapaz de lembrar dos momentos bons, a raiva só recordava as lembranças ruins. E por consequência de todos esses elementos que condicionaram ao seu estado atual e a dificuldade de se autocontrolar, João agrediu Sérgio.
2.2 TEORIA DAS PSICOPATOLOGIAS
Inicialmente é de suma importância explicar sinteticamente do que se trata a teoria em questão. Campbell (1986, apud DALGALARRONDO, 2008, p.27) define psicopatologia: “como o ramo da ciência que trata da natureza essencial da doença mental. Em relação ao caso concreto a teoria das psicopatologias se adequa a compreensão do comportamento de um dos agentes, no caso João. O comportamento violento do agente não se deve somente ao estresse do dia-a-dia no trabalho, apesar de não haver constatação do diagnostico, por ser função exclusiva dos profissionais da saúde, uma observação atenta pode demonstrar sinais de transtorno psiquiátrico.
Sérgio apresenta uma postura que demonstra sua capacidade de retomar o controle de suas emoções, deixando nítida sua calma diante do ocorrido e sua tentativa de apaziguar a situação. Já João apresenta sinais de Transtorno de ansiedade, considerado um dos males do mundo moderno. Esse transtorno mental é alimentado pelo cotidiano de João, por meio do estresse, tensões no trabalho, pressões na família, e privações sociais. Dentre os sintomas que João demonstra no caso exposto estão: Angustia, preocupação, tensão e instabilidade emocional. O que acaba resultando em um intenso desgaste psíquico do agente, explicando porque João não foi capaz de raciocinar sobre o acidente e transbordou em violência. 
Além disso, segundo FIORELLI:
 Transtornos psiquiátricos relacionados ao estresse apresentam manifestações de ordem somática que incluem vários
tipos de distúrbios, desde sensação de fraqueza até alterações na pressão arterial e perturbações gastrointestinais, génito-urinárias etc. (FIORELLI, Psicologia Jurídica, 2015, p. 118.)
É possível afirmar que todos esses fatores, somáticos, psíquicos e comportamentais influem nas condutas de João e em como ele se relaciona com o meio que o rodeia. Ademais esse transtorno refletem em todas as áreas de sua vida, sendo predominante sua influência sobre as emoções e as ações impulsivas. 
3. CONCLUSÃO 
	A luz das teorias apontadas conclui-se que o acidente de transito relatado resultou em agressão física em decorrência de irracionalidade momentânea ocasionada por fortes emoções por parte de João e sinais de transtorno de ansiedade. Foi possível observar que Sérgio, que também participou do acidente teve uma resposta diferente ao ocorrido, o que nos faz constatar que as emoções agem de formas diferentes em pessoas diferentes, porque dependem do contexto, da intensidade, do estado em que a pessoa se encontra no momento do conflito e de diversos outros fatores. Em suma, as teorias utilizadas tiveram a importância de nos fazer compreender os possíveis fatores que motivaram esse caso de agressão/violência no transito e também foram capazes de elucidar algumas questões relativas ao comportamento humano.
4. REFERENCIAS 
DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. 2ª. Edição. Porto Alegre: Artmed, 2008.
FIORELLI, José Osmir. Psicologia jurídica/ José Osmir Fiorelli, Rosana Cathya Ragazzoni Mangini. - 6. ed. - Sáo Paulo: Atlas, 2015
KAPLAN, H. I.; SADOCK, B. J. Compendio de psiquiatria. 6. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.
MYERS,D. G. lntroduçãoa psicologia geral. Rio de Janeiro: LTC, 1999

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