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morfossintaxe-aula11mar2020

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Universidade	Federal	do	Rio	de	Janeiro	
Disciplina:	Morfossintaxe	do	Português	(LEV210)	
Professora:	Silvia	Cavalcante	
https://sites.google.com/site/silviare/Home/cursos	
silviare@letras.ufrj.br	
Rio	de	Janeiro,	11	de	março	de	2020.	
	
CLASSES	DE	PALAVRAS	
	
O	REI	QUE	MORA	NO	MAR	
Ferreira	Gullar	
O	Santo	e	o	Rei:	Encantarias	de	Sebastião	
G.R.E.S	Paraíso	do	Tuiuti	-	Samba-Enredo	2020	
	
	
Diz	a	lenda	que	na	praia	
dos	Lençóis	no	Maranhão	
há	um	touro	negro	encantado	
e	que	esse	touro	é	Dom	Sebastião.	
Dizem	que,	se	a	noite	é	feia,	
qualquer	um	pode	escutar	
o	touro	a	correr	na	areia	
até	se	perder	no	mar	
onde	vive	num	palácio	
feito	de	seda	e	de	ouro.	
Mas	todo	encanto	se	acaba	
Se	alguém	enfrentar	o	touro.	
Isso	é	o	que	diz	a	lenda.	
Mas	eu	digo	muito	mais:	
Se	o	povo	matar	o	touro,	
a	encantação	se	desfaz.	
Mas	não	é	o	rei,	é	o	povo	
que	afinal	desencanta.	
Não	é	o	rei,	é	o	povo	
que	se	liberta	e	levanta	
como	seu	próprio	senhor:	
QUE	O	POVO	É	O	REI	ENCANTADO	
NO	TOURO	QUE	ELE	MESMO	INVENTOU	
	
Todo	vinte	de	janeiro	
Nos	altares	e	terreiros	
Pelos	campos	de	batalha	
Uma	vela	pro	divino	
O	imperador	menino	
Um	Sebastião	não	falha	
	
Nas	marés,	o	desejado	
Infiéis	pra	todo	lado	
Enfrentou	a	Lua	cheia	
	
No	deserto,	um	grão	de	areia	
Dom	Sebastião	vagueia	
Sem	futuro,	nem	passado	(2x)	
	
Renasce	sob	nós,	um	caboclo	encantado	
Na	praia	dos	lençóis,	é	o	touro	coroado	
Vestiu	bumba-meu-boi	
Até	mudou	o	fado	
No	couro	do	tambor	foi	batizado	
	
Poeira,	ê!	Poeira!	
Pedra	bonita	pôs	o	santo	no	altar	
Sangrou	a	terra,	onde	a	paz	chorou	a	guerra	
Mas	ele	vai	voltar	
	
Rio,	do	peito	flechado	
Dos	apaixonados	
Rio-batuqueiro	
	
Oxossi,	orixá	das	coisas	belas	
Guardião	dessa	aquarela	
Salve	o	Rio	de	Janeiro	
	
Orfeus	tocam	liras	na	favela	
A	cidade	das	mazelas	
Pede	ao	santo	proteção	
Grito	o	teu	nome	no	cruzeiro	
Ó	padroeiro!	Toda	minha	devoção	
	
No	Morro	do	Tuiuti	
No	alto	do	terreirão	(2x)	
O	cortejo	vai	subir	
Pra	saudar	Sebastião	(2x)	
	
	
	
Tecendo	a	Manhã	
João	Cabral	de	Melo	Neto	
Motivo	
Cecília	Meireles	
	
	
Um	galo	sozinho	não	tece	uma	manhã:	
ele	precisará	sempre	de	outros	galos.	
De	um	que	apanhe	esse	grito	que	ele	
e	o	lance	a	outro;	de	um	outro	galo	
que	apanhe	o	grito	de	um	galo	antes	
e	o	lance	a	outro;	e	de	outros	galos	
que	com	muitos	outros	galos	se	cruzem	
os	fios	de	sol	de	seus	gritos	de	galo,	
para	que	a	manhã,	desde	uma	teia	tênue,	
se	vá	tecendo,	entre	todos	os	galos.	
E	se	encorpando	em	tela,	entre	todos,	
se	erguendo	tenda,	onde	entrem	todos,	
se	entretendendo	para	todos,	no	toldo	
(a	manhã)	que	plana	livre	de	armação.	
A	manhã,	toldo	de	um	tecido	tão	aéreo	
que,	tecido,	se	eleva	por	si:	luz	balão.	
	
	
Eu	canto	porque	o	instante	existe	
e	a	minha	vida	está	completa.	
Não	sou	alegre	nem	sou	triste:	
sou	poeta.	
	
Irmão	das	coisas	fugidias,	
não	sinto	gozo	nem	tormento.	
Atravesso	noites	e	dias	
no	vento.	
	
Se	desmorono	ou	se	edifico,	
se	permaneço	ou	me	desfaço,	
—	não	sei,	não	sei.	Não	sei	se	fico	
ou	passo.	
	
Sei	que	canto.	E	a	canção	é	tudo.	
Tem	sangue	eterno	a	asa	ritmada.	
E	um	dia	sei	que	estarei	mudo:	
—	mais	nada.	
	
	
Mulheres	de	Atenas	
Chico	Buarque	
Mirem-se	no	exemplo	
Daquelas	mulheres	de	Atenas	
Vivem	pros	seus	maridos	
Orgulho	e	raça	de	Atenas	
	
Quando	amadas,	se	perfumam	
Se	banham	com	leite,	se	arrumam	
Suas	melenas	
Quando	fustigadas	não	choram	
Se	ajoelham,	pedem	imploram	
Mais	duras	penas;	cadenas	
	
Mirem-se	no	exemplo	
Daquelas	mulheres	de	Atenas	
Sofrem	pros	seus	maridos	
Poder	e	força	de	Atenas	
	
Quando	eles	embarcam	soldados	
Elas	tecem	longos	bordados	
Mil	quarentenas	
E	quando	eles	voltam,	sedentos	
Querem	arrancar,	violentos	
Carícias	plenas,	obscenas	
	
Mirem-se	no	exemplo	
Daquelas	mulheres	de	Atenas	
Despem-se	pros	maridos	
Bravos	guerreiros	de	Atenas	
	
Quando	eles	se	entopem	de	vinho	
Costumam	buscar	um	carinho	
De	outras	falenas	
Mas	no	fim	da	noite,	aos	pedaços	
Quase	sempre	voltam	pros	braços	
De	suas	pequenas,	Helenas		
	
Mirem-se	no	exemplo	
Daquelas	mulheres	de	Atenas:	
Geram	pros	seus	maridos	
Os	novos	filhos	de	Atenas	
	
Elas	não	têm	gosto	ou	vontade	
Nem	defeito,	nem	qualidade	
Têm	medo	apenas	
Não	tem	sonhos,	só	tem	presságios	
O	seu	homem,	mares,	naufrágios	
Lindas	sirenas,	morenas	
	
Mirem-se	no	exemplo	
Daquelas	mulheres	de	Atenas	
Temem	por	seus	maridos	
Heróis	e	amantes	de	Atenas	
	
As	jovens	viúvas	marcadas	
E	as	gestantes	abandonadas	
Não	fazem	cenas	
Vestem-se	de	negro,	se	encolhem	
Se	conformam	e	se	recolhem	
Às	suas	novenas,	serenas	
	
Mirem-se	no	exemplo	
Daquelas	mulheres	de	Atenas	
Secam	por	seus	maridos	
Orgulho	e	raça	de	Atenas	
	
	
Morre	Katherine	Johnson,	a	cientista	que	ajudou	a	humanidade	a	chegar	à	Lua	
Matemática	afro-americana,	que	inspirou	o	filme	‘Estrelas	Além	do	Tempo’,	foi	pioneira	nas	
missões	especiais	da	NASA	
Antonia	Laborde	
Washington	-	25	Feb	2020	-	08:42BRT	
(El	País:	https://brasil.elpais.com/ciencia/2020-02-25/morre-katherine-johnson-a-cientista-que-ajudou-a-
humanidade-a-chegar-a-lua.html)	
	
“O	senhor	me	diz	quando	e	onde	quer	que	aterrisse	[a	nave],	e	eu	lhe	direi	onde,	quando	e	como	lançá-la”,	disse	em	
uma	ocasião	a	cientista	Katherine	Johnson	(Newport	News,	Virgínia	Ocidental,	1918).	A	NASA	informou	na	segunda-
feira	a	morte	aos	101	anos	da	“mente	brilhante”	de	sua	equipe,	fundamental	na	chegada	da	humanidade	à	Lua.	A	
agência	espacial	honrou	um	legado	que	derrubou	as	barreiras	raciais	e	sociais	em	“uma	época	em	que	os	
computadores	usavam	fraldas”,	como	ela	costumava	dizer.	A	dupla	discriminação	que	Johnson	sofreu	durante	
décadas	por	ser	mulher	e	afro-americana,	assim	como	seu	árduo	trabalho,	ficaram	imortalizados	no	filme	Estrelas	
Além	do	Tempo	(2016),	em	que	foi	encarnada	pela	atriz	Taraji	P.	Henson.	
	
Por	trás	da	histórica	aterrissagem	da	Apolo	11	na	Lua,	Johnson	foi	uma	das	figuras	que	levaram	os	Estados	Unidos	à	
vitória	em	sua	corrida	espacial	com	a	União	Soviética.	Trabalhou	mais	de	14	horas	por	dia	no	programa	de	retorno	da	
missão	comandada	por	Neil	Armstrong,	conhecida	como	Lunar	Orbit	Rendezvous.	“Eu	havia	feito	os	cálculos	e	sabia	
que	estavam	certos,	mas	era	como	dirigir	nesta	manhã;	qualquer	coisa	poderia	acontecer”,	disse	em	uma	entrevista	
publicada	à	época	pela	NASA.		
	
Johnson	foi	uma	pioneira.	Nos	primeiros	anos	de	existência	da	NASA,	quando	ainda	se	chamava	Comitê	Assessor	
Nacional	de	Aeronáutica,	calculou	à	mão	as	trajetórias	dos	foguetes	e	as	órbitas	terrestres.	Usava	réguas	de	cálculo,	
papel	quadriculado	e	calculadoras	de	escritório.	Até	1958,	ela	e	outras	cientistas	afro-americanas	trabalhavam	em	um	
escritório	de	computação	separadas	dos	brancos.	Também	usavam	outro	refeitório	e	banheiros	diferentes	no	que	
hoje	é	conhecido	como	Centro	de	Pesquisa	Langley,	em	Hampton	(Virgínia).	Nesse	local	ela	analisou	nos	anos	sessenta	
a	trajetória	para	a	missão	Redstone	3	de	Alan	Shepard,	a	primeira	que	enviou	um	norte-americano	ao	espaço.	
Também	verificou	à	mão	os	cálculos	realizados	por	um	arcaico	computador	da	NASA,	um	IBM	7090,	que	traçou	as	
órbitas	do	voo	que	John	Glenn	fez	ao	redor	do	planeta	em	1962.	Apesar	da	relevância	de	seu	trabalho,	quase	ninguém	
sabia	seu	nome	e	não	era	reconhecida	por	seu	trabalho.		
	
“Katherine	Johnson	se	negou	a	ser	limitada	pelas	expectativas	da	sociedade	sobre	seu	gênero	e	raça,	ao	mesmo	
tempo	em	que	ampliou	os	limites	do	alcance	da	humanidade”,	disse	o	à	época	presidente	Barack	Obama	quando	em	
2015	lhe	concedeu	na	Casa	Branca	a	Medalha	da	Liberdade,	a	maior	condecoração	civil	dos	EUA.	Não	foi	a	única	
homenagem	que	a	cientista	espacial	recebeu:	em	2017	a	NASA	batizou	um	dos	seus	edifícios	como	Centro	de	
Pesquisa	Computacional	Katherine	G.	Johnson.	“A	família	da	NASA	nunca	se	esquecerá	da	coragem	de	Katherine	
Johnson	e	os	feitos	que	não	poderíamos	ter	conquistado	sem	ela”,	disse	na	segunda-feira	o	diretor	da	agência	espacial	
norte-americana,	Jim	Bridenstine.	“Sua	história	e	seu	talento	continuam	inspirando	o	mundo”,	acrescentou.		
	
O	brilhantismo	da	filha	de	uma	professora	e	um	fazendeiro	ficou	evidentedesde	cedo.	Foi	estudar	matemática	na	
Universidade	de	West	Virginia	com	14	anos	e	depois	fez	uma	pós-graduação	no	mesmo	local,	se	transformando	na	
primeira	afro-americana	a	consegui-lo.	Foi	uma	das	três	melhores	alunas	da	classe.	A	mãe	de	três	filhas	trabalhou	
como	professora	até	ficar	sabendo	das	vagas	de	trabalho	no	Comitê	Assessor	Nacional	de	Aeronáutica.	Sua	carreira	
decolou	com	a	velocidade	de	uma	nave	especial	e	seu	papel	na	agência	que	se	transformou	na	NASA	era	tão	
fundamental	que	o	astronauta	John	Glenn,	antes	de	começar	o	histórico	voo	orbital,	exigiu	que	“a	garota”	revisasse	os	
dados.	“Se	ela	disser	que	são	bons”,	afirmou,	“então	estou	pronto	para	partir”.	Essa	garota	era	Katherine	Johnson.

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