Buscar

aula-OPB-galves1998

Prévia do material em texto

Faculdade de Letras / UFRJ 
Professora: Silvia Cavalcante 
Rio de Janeiro, 17 de abril de 2020. 
 
Características da Sintaxe do Português Brasileiro 
 
O Português Brasileiro tem sido descrito como uma gramática bem diferente do Português Europeu. Em 
determinados casos, não só a frequência de uso, mas a escolha de uma determinada forma e não outra 
diferente da forma europeia faz acreditar que estamos diante de duas gramáticas: 
 
“Duas Línguas-I serão consideradas diferentes se contêm na sua parametrização pelo menos um 
parâmetro fixado diferentemente. Quando isso ocorre, não só as duas gramáticas produzem 
enunciados diferentes, mas também atribuem a enunciados superficialmente idênticos (por exemplo 
no arranjo dos constituintes) estruturas diferentes”. (Galves, 1998:80) 
 
Três tipos de dados para caracterizar a gramática brasileira: (a) enunciados produzidos numa comunidade e 
reconhecidos impossíveis, em absoluto ou com uma certa interpretação, na outra; (b) enunciados possíveis 
nas duas línguas, porém com frequências diferentes; (c) enunciados possíveis nas duas línguas, mas com uma 
extensão diferente das restrições operando sobre eles. 
1. OS ENUNCIADOS DIFERENTES 
1.1 Sintaxe Pronominal: 
 
(1) vi ele ontem na rua (PB) 
(2) vi-o a ele ontem na rua (PE) 
(3) vi-o a ele ontem na rua, mas não a ela (PE) (foco contrastivo) 
(4) vi-o ontem na rua 
(5) Me chocou tremendamente (PB) 
(6) Agora não tinha me lembrado (PB) 
(7) Essas indústrias novas que estão se implantando (PB) 
(8) Agora não me tinha lembrado (PE) 
(9) Essas indústrias novas que se estão implantando (PE) 
 
“A existência de pronomes clíticos caracteriza as línguas românicas em geral, mas elas diferem entre 
si quanto à sintaxe de colocação. O uso do pronome tônico em posição objeto chega a diferenciar o 
PB das outras línguas românicas e a aproximá-lo de línguas que não têm sistema de clíticos, nem 
sistema casual nos pronomes, e usam a mesma forma no nominativo e no acusativo. É o caso de 
línguas como o chinês.” 
 
1.2 A projeção dos constituintes e a distinção sujeito / tópico 
 
(10) Essa competência ela é de natureza mental (Pontes, 1981) 
(11) A Clarinha ela cozinha que é uma maravilha (Duarte, 1995) 
(12) Você acredita que um dia teve uma mulher que ela queria que a gente entrevistasse ela por 
telefone? (Tarallo, 1993) 
(13) A balança está consertando. 
(14) O relógio quebrou o ponteiro. 
(15) Carpete de madeira: 
 2 
- não empena. 
- não encera. 
(16) Calvin: Onde está a minha cueca de dinossauros? 
Mãe: Está lavando! 
(17) Carpete de madeira não encera. 
(18) A cueca de dinossauros do Calvin está lavando. 
(18’) As cuecas de dinossauro do Calvin estão lavando. 
(19) Carpete de madeira não se encera. (PE) 
(20) A cueca de dinossauro do Calvin está a ser lavada. (PE) 
 
2. AS DIFERENÇAS NA FREQUÊNCIA 
 
(21) Ø iremos todos ao cinema amanhã 
(22) A Joana viu Ø na televisão ontem 
(23) A Joana viu-a / ela na televisão ontem 
(24) Nós iremos todos ao cinema amanhã (Duarte, 1995) 
 
 
2.1. A REPRESENTAÇÃO DO SUJEITO 
2.1.1 Preenchimento do sujeito de referência definida (Duarte, 1993; 2000) 
 
(25) Mesmo que eu não fizesse o pré-vestibular, eu acho que eu passaria por causa da base que eu tinha. 
(26) Aí vocês vão entrar em atrito porque vocês vão começar a brigar. 
(27) Essa minha tia que mora aqui, ela é solteirona e eu acho que ela é super feliz, sabe? Eu não acho que 
ela seria feliz assim... Ela é uma pessoa que ajuda os outros pra caramba. Ela não ficou solteira porque 
não apareceu pretendente. Ela ficou solteira porque ela quis. 
 
Sujeito pronominal pleno: mais frequente no PB do que nas outras línguas românicas de sujeito nulo. 
 PE 
(Duarte, 1995) 
Esp. Buenos Aires 
(Soares da Silva, 2006) 
Esp. Madri 
(Soares da Silva, 2006) 
Italiano 
(Marins,2009) 
 Oco. / Total – % Oco. / Total – % Oco. / Total – % Oco. / Total – % 
1PS 248/421 – 59% 330/527 – 63% 336/517 – 65% 179/239 – 75% 
1PP 86/140 – 61% 40/65 – 62% 90/101 – 89% 34/41 – 83% 
2PS 82/110 – 75% 78/100 – 78% 113/144 – 78% 104/133 – 78% 
2PP 18/28 – 68% – 6/6 – 100% 25/26 – 96% 
2PS indireta – 101/168 – 60% 80/116 – 69% – 
2PP indireta – 12/19 – 63% 6/9 – 67% – 
3PS 205/285 – 72% 208/258 – 81% 213/242 – 88% 250/272 – 92% 
3PP 98/132 – 74% 65/84 – 77% 99/109 – 91% 38/40 – 95% 
Total 738/1116 – 66% 843/1221 – 68% 943/1244 – 76% 630/751 – 84% 
Tabela 1: Frequência de sujeito nulo em Línguas Românicas (România Nova / România Velha) por pessoa gramatical 
 
 
 3 
Pessoa Oco. / Total – % 
1PS 
-o (-i) 
zero 
138/479 – 29% 
37/153 – 24% 
1PP 
-mos 
zero 
15/53 – 28% 
3/67 – 9% 
2PS ind. 13/119 – 11% 
2PP ind. 0/8 – 0% 
3PS 165/419 – 39% 
3PP 44/127 – 35% 
Total 415/1425 – 29% 
Tabela 2: Frequência de sujeito nulo na fala culta carioca por pessoa gramatical (Duarte, 1995) 
 
 
 Nulo Pleno Total 
 Oco. - % Oco. - % Oco. 
Italiano 746 - 86% 121 - 14% 867 
Espanhol (Madrid) 937 - 76% 422 - 26% 1238 
PE 738 - 66% 378 - 34% 116 
PB (Ensino superior) 415 - 29% 1009 - 71% 1424 
PB (Ensino médio) 843 - 20% 3421 - 80% 4262 
Tabela 3: Sujeitos Nulos e Plenos na fala (adaptado de Marins, 2009 e de Duarte, 2003) 
 
 
2.1.2 Preenchimento do sujeito de referência arbitrária: fala culta (Duarte, 1995) 
 
“Duarte (1995) analisou as entrevistas de fala espontânea do acervo de “Recontato” (anos 90) do 
Projeto NURC/RJ, com o intuito de observar a perda do princípio “Evite Pronome” (Cf. Chomsky, 1981) 
no PB, na expressão do sujeito pronominal de referência tanto definida quanto arbitrária e conclui que 
as mudanças ocorridas para o sujeito de referência definida acabaram por afetar a representação do 
sujeito de referência arbitrária, ou indeterminada, o que se verifica na preferência por formas 
pronominais plenas em detrimento das formas nulas.” (Cavalcante, 1999) 
 
(28) Você tem uma visão mais ampla, mais longínqua das coisas. Você tem uma visão mais... do espaço 
físico. Você não fica tão contido quanto aqui. Aqui você sai, você vê muito concreto na tua frente, você 
esbarra com isso. Lá não! 
(29) Hoje em dia quando a gente levanta as coisas, é que a gente vê tudo o que aconteceu. Mas na época 
a gente não podia acreditar. (...) A gente não acreditava nisso, primeiro porque a gente era novo. 
 
2.1.3 Preenchimento do sujeito de referência arbitrária: escrita (Cavalcante, 1999) 
 
(30) “ somos effectivamente governados por um chefe de gabinete irresponsável e, sem  querermos 
neste momento pronunciar-nos sobre a direcção que está imprimindo aos negocios,  concluimos 
que a primeira experiencia da constituição está produzindo alguma cousa que nem é o regimen 
parlamentar nem o regimen presidencial. (072-4,E,II) 
(31) “Quem sabe se algum dia  não duvidarão da existencia do Sr. Lucena, como hoje duvidão alguns da 
existencia de Homero? (109,C,II) 
 4 
(32) “Quantos edifícios mais precisam cair para a gente conhecer os outros Sérgios Nayas da Câmara?” 
(063,C,V) 
(33) “...caso você queira usar as duas mãos para 0 se ensaboar.” (105,C,V) 
(34) “Poder-se-ia dizer que, embora Nicteroy, capital dessa provincia, não seja cidade de grande pompa, 
nem de activo commercio, a sua visinhança da corte impõe aos presidentes despezas de 
representação...” (117,O,I) 
(35) “Não é só porque se está na França, que a gente vai deixar passar as bobagens da TV brasileira” (248-
9,C,V) 
(36) “0 Simularam que  o iam soltar. Mas o que se fez foi  acusarem-no de rearticulação subversiva” 
(118-22,C,IV) 
(37) “Tentou o Disque-Entulho, mas ali  informaram que a Comlurb não faz recolhimento em terrenos 
baldios, nem em estabelecimentos comerciais. Na Vigilância Sanitária do estado  lhe deram o 
telefone de outro departamento da Comlurb.  Encaminharam a leitora à seção de Ramos, que 
atende a Ilha do Governador com o serviço "fumacê". Em Ramos  disseram que o fumacê não cuida 
do Aedes Aegypti, pois o carro só passa à tarde (...) na Região Administrativa  disseram que só havia 
um carro, que estava quebrado.Tentou a Vigilância Sanitária Federal para saber o telefone da Sucam. 
Não conseguiu.  Estavam em greve.” (241-7, E, V) 
 
 
 
Gráfico 1: Estratégias de Indeterminação do sujeito em textos de jornais cariocas (Cavalcante, 1999) 
 
 
2.1.4 Preenchimento do sujeito de infinitivo (Cavalcante, 2006) 
 
PE: 
(a) O Joãoi é difícil de j pagar 
(b) O Joãoi é difícil de sej pagar 
(c) *O Joãoi é difícil de j pagar as suas contas 
PB: 
(d) O Joãoi é difícil de i/j pagar 
(e) O Joãoi é difícil de sej pagar 
(f) O Joãoi é difícil de i pagar as suas contas 
 
 
(38) Não, só a dificuldade de se obter certas coisas. (Nurc/RJ, AC, H3) 
(39) é uma cidade agradabilíssima de se viver (Nurc/RJ, 70, M1) 
45% 46%
55%
61% 62%
47%
37%
43%
31%
18%
7%
16%
2%
7% 8%
0% 0% 0% 0.5%
4%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1848-1869 1891-1910 1935-1942 1964-1968 1996-1998
se nós eles a gente você
 5 
(40) é uma das cidades que tem o melhor, melhor é, padrão de vida, ou seja uma das melhores cidades do 
mundo pra se morar. (Nurc/RJ, AC, M1) 
(41) Mas havia tanta coisa pra se fazer no jardim que nós fizemos uma parte do jardim muito grande 
(Nurc/RJ, 70, M2) 
(42) Acho que é, eu acho que é difícil inclusive a gente definir o modo de se vestir do carioca, né, (Nurc/RJ, 
70, H1) 
(43) uma coisa linda na hora que ele... entrou na... no maracanãzinho uma coisa assim... impressionante... 
você não mandar ninguém fazer silêncio e... e se fazer um silêncio... dentro do maracanãzinho... 
(Nurc/RJ, AC, M2) 
(44) não adianta você fazer o pré-vestibular (Nurc/RJ, AC, H1) 
(45) é muito melhor você morar separada entendeu, (Nurc/RJ, AC, M1) 
 
 
 PB 
PE 
 Anos 70 Recontato Anos 90 
se 7 10% 3 6% 12 12% 7 9% 
a gente 1 1% 5 10% 3 3% 0 0% 
você 20 30% 12 23% 53 51% 0 0% 
zero 39 58% 32 62% 36 35% 75 91% 
TOTAL 67 52 104 82 
Tabela 4: Preenchimento do Sujeito de Infinitivo no PB e no PE: fala culta (Cavalcante, 2006) 
 
 
2.1.4 Preenchimento de sujeitos não argumentais (Duarte, 2003) 
 
(46) Acabou a tinta da impressora / A impressora acabou a tinta 
(47) Não há / não tem nenhum político bom no Brasil vs. Você não tem político bom no Brasil 
(48) Parece que vocês não pensam na vida / Vocês parecem que não pensam na vida. 
 
 
2.1.5 Construções de Tópico-Sujeito (Melo, 2015) 
 
(49) O dente já tá saindo a anestesia (Fala espontânea) 
(50) A parede caiu o reboco (Buscas on line) 
(51) A televisão da sala estragou a tela quando eu tava vendo o Jornal Nacional. (Fala espontânea) 
(52) O ônibus estava subindo a ladeira na saída de Aurelino Leal em direção a Itabuna, mas segundo o 
motorista que ainda estava acordado no momento do socorro, nos informou que o carro quebrou a 
caixa de marcha e começou a voltar de ré. Ele ainda pisou no freio, mas também falhou, e aí não teve 
como ele conter o veículo. (Buscas on line) 
(53) Essa merda de tablet fica caindo a net toda hora (Buscas on line) 
(54) O bebê cresce a unha e arranha o rostinho todo. Tem que cortar a unha dele pra ele não machucar 
(Fala espontânea) 
(55) Uma parenta dum amigo nosso morreu a avó. (Buscas on line) 
(56) A minha filha amadureceu a cabeça porque ficou grávida e teve que criar o meu neto. (Fala 
espontânea) 
 
 
2.1.6 Sujeito nulo de referência arbitrária (Cavalcante, 2007) 
 
 6 
(57) Então  pode ligar pra Imperial pra pedir, coca-cola, pão, presente ou não sei o quê, ou casadinho sei 
lá pra fazer o lanche né, já vinha aquilo entregue em casa (Inq133-RE-M2) 
(58) antigamente tinha ...  punha a mesa pra tomar lanche ... quando eu era criança, punha-se a mesa 
pra tomar lanche ... quatro horas  punha a mesa. (inq002-RE-M3) 
(59) hoje, o carnaval do Rio se restringe a, à , Av. Rio Branco, com os blocos, ou então com, o famoso 
Sambódromo aí onde que industrializou-se , o carnaval (inq52-RE-H3) 
(60) No Brasil eles são organizados muito mais a nível municipal do que a nível nacional, talvez pelo próprio 
tamanho do Brasil, é difícil fazer alguma coisa nacional aqui, e com o passar dos tempos em diversos 
países, se organizaram centrais sindicais pra melhor encaminhar a luta (Inq164-RE-H2) 
 
 
2.2 REPRESENTAÇÃO DO OBJETO DIRETO 
 
Freire (2011) 
(61) O Cebolinha vai adorar o computador! Só preciso dar um jeito dele não quebrá-lo em dois minutos! 
(PB: Almanaque do Cebolinha, n.º 77, outubro de 2003 – História em quadrinhos) 
(62) Sujou as jóias de propósito para as distinguir! (PE: Série Ouro Disney, n.º 35, junho de 2001 – História 
em quadrinhos) 
(63) Eu também já tive o meu bonequinho! Era o ursinho Bilu! Pra onde eu ia, sempre levava ele! Na escola, 
no parque, no cinema… (PB: Almanacão de férias da Turma da Mônica, n.º 36, 2002 – História em 
quadrinhos) 
(64) Então quem aterrorizava as fábricas do tio Patinhas no Canadá não eram os wendigos, e sim os índios 
nanicós! E eles raptaram o tio Patinhas! (PB: Tio Patinhas, n.º 471, outubro de 2004 – História em 
quadrinhos) 
(65) Quando ele morreu, o seu fantasma passou a sair à meia noite para procurar a gaita de foles pelo 
castelo! E agora, graças a vocês, o fantasma recuperou a sua gaita de foles! (PE: Disney Especial, n.º 
222, outubro de 2004 – História em quadrinhos) 
(66) Quase pronta, mãe! Só vou deixar um bilhete para o Zé. Tenho que deixar  onde ele não deixe de ver 
! (PB: Zé do Boné em O Globo, 17-06-2004 – Tira em quadrinhos) 
(67) “Excêntrico é pouco! Disse-me que um fantasma anda a roubar-lhe coisas do castelo e exige que eu 
investigue o caso!” “E o senhor vai investigar ?” (PE: Disney Especial, n.º 222, outubro de 2004 – 
História em quadrinhos) 
 
 
 PB PE 
[+or/-let] [+or/+let] [-or/+let] [+or/-let] [+or/+let] [-or/+let] 
clítico 15% 44% 73% 66% 82% 87% 
pronome 21% 6% 0% 0% 0% 0% 
SN 19% 15% 10% 17% 8% 6% 
zero 45% 35% 17% 17% 10% 7% 
Tabela 5: Estratégias de retomada do objeto direto anafórico no PB e no PE: escrita (Adaptado de Freire, 2011) 
 
 
 7 
 
Gráfico 2: Realização do Objeto direto anafórico na escrita PB x PE (Freire, 2011) 
 
Soledade (2011) 
 
(68) No fundo [a fortuna]i é para quem sabe adquiri-lai. (O Noviço, 1845 - Martins Pena) 
(69) Já se vê que [esse homem]i é grosseiro. Certamente, que não tenho a fortuna de oi conhecer. (Luxo e 
Vaidade, 1860 – Joaquim Manuel de Macedo) 
(70) Neiva: E o pai, te dá alguma coisa? 
Dolores: Só desgosto! Eu bem que fui no quartel, pra ver se o comandante enquadrava ele, mas não 
deu em nada. (No Coração do Brasil,1992 - Miguel Falabella) 
(71) Jeremias: Só lhe suplico deixar-me usar [este monóculo]i, ... Jamais me separarei deste cristalino disco 
de penetrante visualidade na alma humana. 
Madalena: Está bem. Consentirei que use o monóculoi. (O Simpático Jeremias, 1918 - Gastão Tojeiro) 
(72) A filha, antes de sair para a igreja, teve a idéia de ir procurar [a mãe]i. Correu até o muro, o véu de 
renda batido pelo vento, tentando encontrar a mãe adoradai. E pra seu horror, viu a pobre mulheri do 
outro lado do arame farpado. (No Coração do Brasil,1992 - Miguel Falabella) 
(73) Ela sim! Por causa dela já não durmo, já não como, já não bebo. Vi-a pela primeira vez, há uma semana, 
no Castelões. Comia [uma empada]i! Com que graça ela segurava a apetitosa iguariai entre o fura-bolo 
e o mata-piolho, assim, olhe. Vê-la e perder a cabeça foi obra de um momento. (Caiu o Ministério!, 
1883 – França Junior) 
(74) …vá, vá seu crápula, e não me apareça mais aqui, vá logo, aproveite e lhe entregue [esses livros]i e diga 
a ela que é para enfiar i...ela sabe onde. (A Mulher Integral, 1975 – Carlos Eduardo Novaes) 
(75) Eu vou botar outro anúncio no jornal. Papel, lápis, mesa. Escrevo [o anúncio] i. Como escrevo i (Um 
Elefante no Caos, 1955 – Millôr Fernandes) 
 
 
15%
44%
73%
66%
82%
87%
21%
6%19%
15%
10%
17%
8%
6%
45%
35%
17% 17%
10% 7%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
[+or/-let] [+or/+let] [-or/+let] [+or/-let] [+or/+let] [-or/+let]
PB PE
clítico pronome SN zero
 8 
 
Gráfico 3: Percentuais de SujeitoNulo (Duarte, 1993) e objeto nulo (Soledade, 2011) em peças brasileiras 
 
2.3 CONCORDÂNCIA NAS CONSTRUÇÕES COM SE 
 
Duarte e Lopes (2003) 
(76) Um futuro mais remoto é que aproveitará essas felizes disposições, por quanto já se vai conhecendo 
os grandes inconvenientes da disseminação de uma população exígua por milhares de legoas 
quadradas (O Dezenove de Novembro, 1854) 
(77) Parece que [n]o Pyranga, mais do que em qualquer parte, se procura degenerar o systema 
representativo, e quando, não se encontra adversários no campo abre-se a guerra mesmo contra os 
correlegionários (O Constitucional, Ouro Preto, 1878). 
 
Cavalcante (2001) 
(78) “Não duvide, assassinam-se plurais neste país.” (217,C,V) 
(79) “Em situações como estas, pode-se aplicar metodologias de antecipação do cenário eleitoral.” 
(125,O,V) 
(80) “E como já se presumia tendências à medida insólita, não foi difícil encontrar a porta de salvação ao 
estender a reeleição, que não podia ser um privilégio exclusivo do atual ocupante do palácio 
presidencial.” (071,O,V) 
(81) “Tornou-se patente a necessidade de organizar, para o caso de uma guerra futura, zonas onde se 
pudesse com toda segurança recolher os feridos, sendo nellas interditadas por acordo mutuo as 
operações de guerra.” (289,O,III) 
(82) “Como se pode acusar os mandarins da política brasileira de tudo, menos de não saber aritmética, fica 
claro que o corte das bolsas não visa a efeitos fiscais, mas constitui, isto sim, mais um lance da política 
do Governo para a universidade pública.” (218,O,V) 
(83) “Esta situação faz-me lembrar a história de um sujeito que, por ter dito certa verdade a seu irmão, o 
rei de Cocanha, foi conduzido sollidamente algemado para uma fortaleza distante, onde se guardavam 
os réos de lesa-majestade...” (016,C,II) 
 
 
80%
77%
75%
54%
50%
33%
28%
33%
11%
35%
42%
74%
60%
98%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1845 1852 1918 1937 1955 1975 1992
Sujeito Nulo Objeto Nulo
 9 
2.4 A POSIÇÃO DO SUJEITO 
2.4.1 VS RESTRITA 
Cavalcante (2014;2017) 
O PB caracteriza-se por ser uma gramática com ordem SV rígida e VS restrita. 
 
(84) a. As crianças pulam 
 b. __ pulam as crianças 
 c. O dente do menino machucou. 
 d. __ machucou o dente do menino. 
 
VS restrita: a contextos inacusativos ou inversão locativa: 
(85) a. Um acidente horrível aconteceu. 
 b. Aconteceu um acidente horrível. 
 c. A Maria está na esquina. 
 d. Na esquina está a Maria. 
 
 
Ordem VS em contextos apresentativos com verbos transitivos: 
(86) a. Apita o árbrito. 
 b. Ergue o braço o juiz. 
 
Outros padrões de VS que não são mais característicos da gramática do PB: 
(87) a. Quantos livros leu a Maria? 
 b. Perguntei que fizeram os meus amigos. 
 c. Perguntei o que fizeram os meus amigos. 
 d. Em quem votou o Marcelo? 
 
A posição do sujeito na sentença também codifica a estrutura informacional: Para Costa (2001) os sujeitos 
pré-verbais constituem informação velha/ acessível; sujeitos pós-verbais constituem informação nova. A 
informação nova constitui o foco da sentença, que pode ser informacional (5) ou contrastivo (6): 
 
(88) A: Alguém telefonou? 
 B: Telefonou o João. 
(89) A: O Pedro telefonou hoje cedo. 
 B: Telefonou o João (não o Pedro). 
 
VS em Subordinadas: 
(90) a. Outro dia quando voltei do Vidigal com teu Pai, encontrei-a n’aquelles trajes de banho, sentada no 
muro da rua, na occasião em que passavam os operarios da fabrica; mais tarde quando voltei para 
casa estava ella sentada na calçada de casa da Amelia, no meio de trabalhadores que capinavam a 
ladeira. (Oswaldo Cruz, 19/04/1891) 
b. Conheço os passeios de que me falla Christiano, pelo Bois, pelo Sena, pelo caminho de cintura, por 
Versailles, (Christiano Ottoni, sd) 
c. A guerra entre a Russia e Japão não deixou de influir seo tanto na diminuição do consumo do café 
pelo estado de desordem e pobreza em que estão as populações da Polonia e adjacencias. 
(Jeronymo, 08/06/1905) 
 
VS em Interrogativas: 
(91) a. Mas o que poderá produzir-me essa ventura? (Jayme Saraiva, 12/10/1936) 
b. Como vai a Celina? (M. Guilhermina Penna, 07/01/1916) 
c. Como vai a Marieta? (M. Guilhermina Penna, 05/04/1910) 
 10 
d. Quando chegará o feliz tempo em que viveremos junctos, n'aquella aprazivel morada? (Oswaldo 
Cruz, 21/04/1891) 
e. E como está o excellente Sacerdote teu Director? Com o maior fervor rezo por elle. (Zelia, 
21/11/1914) 
 
VS para codificar foco informacional ou contrastivo: 
(92) a. Jantaraõ aqui commigo Julio e Vôvô e o Thomas e nos noslembramos devoces todos que 
costumavamos a jantarmos juntos nesse dia: (Barbara Ottoni, 15/05/1887) 
b. Aqui esteve Jerominho o amavel e bondoso Padre Jeronimo - Muito nos encantou. (Zelia, 
26/01/1908) 
c. Hontem estreiou a nova companhia lyrica, dizem os jornaes que a soprano é muito boâ e o tenor 
que estreiou não é de todo máo mas assim mesmo tentaram vaial-o, o povinho das torrinhas já 
habituou-se a isso, temos vontade de ir uma vez. (Emilia Fonseca, 10/10/1905) 
d. O Dão já aqui está desde alguns dias. Veio com elle um collega de Edmundo, o Joaqm de Barros, 
de Cocaes. Se não fôra a presença de tais hospe-des o porão estaria um perfeito deserto, cum a tua 
retirada e de Alvaro. (Affonso Penna, 21/01/1902) 
 
 
 
Gráfico 4: Posição do Sujeito em cartas pessoais ao longo do tempo por data de nascimento do missivista (Cavalcante, 2018) 
 
 1801-1825 1825-1850 1851-1875 1876-1900 1901-1925 1926-1950 1951-1975 
SV 
168 129 495 1354 519 1351 1481 
80% 80% 86% 88% 89% 94% 92% 
VS 
39 31 72 153 50 64 102 
19% 19% 13% 10% 9% 4% 6% 
Suj-Cliv 
2 1 7 35 11 24 23 
1% 1% 1% 2% 2% 2% 1% 
Total 209 161 574 1542 580 1439 1606 
Tabela 6: Posição do sujeito ao longo do tempo em cartas brasileiras por data de nascimento (Adaptado de Cavalcante, 2018) 
 
 
 
80% 80%
86% 88% 89%
94% 92%
19% 19%
13%
10% 9%
4% 6%
1% 1% 1% 2% 2% 2% 1%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1801-1825 1826-1850 1851-1875 1876-1900 1901-1925 1926-1950 1951-1975
SV VS Suj-Cliv
 11 
 
 
Gráfico 5: Posição do Sujeito e estatuto informacional ao longo do tempo em cartas pessoais brasileiras (Cavalcante, 2018) 
 
 
1801-1825 1826-1850 1851-1875 1876-1900 1901-1925 1926-1950 1951-1975 
Local Carta Traço Sem. Sentença Sentença Forma Suj. Verbo Verbo 
(despedida) (inanimado) (Sub./Int.) (Int. Form.) (Demonst.) (inacusativo) (Inacusativo) 
Est. Inform. Pos. do Verbo Pos. do Verbo Verbo Verbo Sentença Sentença 
(F. Inform.) (V2) (V2) (inacusativo) (Inacusativo) (Int. Form.) (Int. Form.) 
Pos. do Verbo Verbo Verbo Pos. do Verbo Sentença Est. Inform. Pos. do Verbo 
(V2) (inacusativo) (Inacusativo) (V2) (Int. form.) (F. Contrastivo) (V2) 
Sentença Sentença Est. Inform. Traço Sem. Pos. do Verbo Pos. do Verbo Traço Sem. 
(Sub.) (Subord.) (F. Inform.) ("Deus") (V2) (V2) (inanimado) 
Verbo Local Carta Local Carta Forma Suj. 
(Inacusativo) (despedida) (despedida) (Demons.) 
Tabela 7: Fatores selecionados como favorecedores de VS por data de nascimento (Adaptado de Cavalcante, 2018) 
 
 
2.4.2 A perda de sujeito posposto em interrogativas qu- 
(Kato, Duarte, Cyrino, Berlinck, 2006) 
 
Em quem votou o Marcelo? 
 
Século XIX: VS em interrogativas 
(93) O que pensa tua filha do nosso projeto? (1845) 
(94) E por que tanto chora a menina? (1845) 
(95) Por que desapareceu ele lá de casa? (1882) 
(96) Mas o que tens tu ? (1882) 
 
Século XX: VS restrita a verbos monoargumentais 
94%
82%
12%
81%
90%93%
56%
67%
94%
88%
64%
58%
94%92%
79%
36%
95%
88%
82%
20%
98%95%
88%
38%
99%
90%
80%
43%
6%
18%
76%
19%
10% 7%
44%
0%
6%
12%
30%
26%
6% 8%
18%
7%
5%
12%
15%
10%
2% 5%
8%
19%
1%
10%
19%
7%
12%
33%
6%
16%
3%
57%
3%
70%
4%
44%
1% 2%
50%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
D
A
D
O
EV
O
C
A
D
O
F.
 IN
F.
F.
 C
O
N
TR
.
D
A
D
O
EV
O
C
A
D
O
F.
 IN
F.
F.
 C
O
N
TR
.
D
A
D
O
EV
O
C
A
D
O
F.
 IN
F.
F.
 C
O
N
TR
.
D
A
D
O
EV
O
C
AD
O
F.
 IN
F.
F.
 C
O
N
TR
.
D
A
D
O
EV
O
C
A
D
O
F.
 IN
F.
F.
 C
O
N
TR
.
D
A
D
O
EV
O
C
A
D
O
F.
 IN
F.
F.
 C
O
N
TR
.
D
A
D
O
EV
O
C
A
D
O
F.
 IN
F.
F.
 C
O
N
TR
.
1801-1825 1826-1850 1851-1875 1876-1900 1901-1925 1926-1950 1951-1975
SV VS Suj-Cliv
 12 
(97) Onde andará a Neiva? 
(98) Como era mesmo a história? 
(99) E desde quando país tem perna? 
(100) Do que tu tá falando? 
(101) Desde quando a gente precisa saber escrever pra vender bala? 
(102) O que é que a senhora está dizendo? 
 
Ordem SV e qu- in situ: 
(103) E a senhora acha que eu devo fazer o quê? 
(104) E a gente diz o quê? 
 
 
Perda da inversão não acusativa: 
 
Verbos inacusativos: 
(105) Nesses planos estávamos, quando apareceu este homem, não sei donde, (...)(1845) 
 
Inversão germânica (XVS): 
(106) Emília, aos cinco anos estava eu órfão, e tua mãe, minha tia, foi nomeada por meu pai sua 
testamenteira e minha tutora. (1845) 
(107) Tem ele nove anos e será prudente criarmo-lo desde já para frade. (1845) 
 
 
Inversão Românica (XVOS) 
(108) Tocou à minha cunhada, como principal bem de fortuna e fonte de renda, a conhecida fábrica de meias 
da rua de Santa Engrácia. (1896) 
(109) Ora, daí em diante, começaram a chegar à minha mulher as negras notícias a meu respeito. (1896) 
 
VSX: 
(110) Então irei eu para um campo florido, sorridente e em paz... 
(111) Olha só! Já começa ele a chorar de barriga cheia. 
(112) Calma, está todo mundo olhando. (1973) 
 
VXS restrita a construções monoargumentais, em especial com verbos copulativos: 
(113) O resfriado tem só uma grama rasteira, é nítida a mudança de aspecto da chapada para o resfriado e 
do resfriado para a vereda. (1967) 
(114) Não é mais dramático um salto daqui de cima... (1973) 
 
 
Gráfico 6: Correlação entre diminuição de sujeito nulo e VS em interrogativas 
20%
23%
25%
46%
50%
67%
73%
3%
15% 14%
57%
77%
95%
87%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1845 1882 1918 1937 1955 1975 1992
sujeito pleno SV em interrogativas
 13 
 
2.5 SISTEMA PRONOMINAL 
2.5.1 COLOCAÇÃO PRONOMINAL 
 
Duarte e Pagotto (2005) 
(115) e os sabados sempre fa-co Paõ doce e melembro de de que sevoce estivesse aqui avia meajudar equan-
do elles vem açadinhos do forno eu digo logo se Tixe istivesse aqui como elle avia de gostar. (Carta 30, 
avó) 
(116) Da um a-braço a Ninia e a Tio Lulu e temvia muitos beijos e abraços Sua Didinha que muito os ama. 
(Carta 39, avó) 
(117) Da um abraço a Bebê e dise-lhe: fase de conta que é vovô quem te abraça. (Carta 5, avô) 
(118) [...]: abraça-te e abençoa-te de coraçaõ Teu avô e amigo C. B. Ottoni. (Carta 8, avô) 
 
 
Contexto 
Avó Avô 
cl-V V-cl %cl-V cl-V V-cl %cl-V 
V1 absoluto 3 2 60% 0 4 0% 
V1 início oração 1 0 100% 0 9 0% 
V2 18 2 90% 4 9 31% 
Prep.+ Inf. 2 0 100% 1 5 17% 
Operador 27 0 100% 25 0 100% 
Total 51 4 93% 30 27 53% 
Tabela 8: Percentual de próclise por contexto sintático nas missivas da Família Ottoni (Duarte e Pagotto, 2005) 
 
Cavalcante, Duarte, Pagotto (2011) 
(119) Contextos V1 
a. Aguardava-me para, depois de conhecido o resultado definitivo do pleito de 27 de Junho ultimo, 
congratular-me com Vossa Excelência pela brilhante e merecida victoria alcançada (Carta 7/f.1) 
b. Antes de dar meo parecer acerca do incendio que destruio uma parte do corpo principal do edificio 
e a torre central em que se achava o relogio da Fabrica do gaz, permitta-me que preceda-o de alguns 
esclarecimentos relativos ao serviço do gaz. (Carta 5/f.1) 
c. Satisfaço a tua encomenda enviando-te a reforma Judiciaria impressa em um folheto. (Carta 3/f.1) 
d. Cartas como essa tua, meu Ruy, são para mim de grande preço: confortam-me na difficil vida que 
levo (Carta 1/ f.1) 
e. Causou bôa impressão o teres sido nomeado membro de uma associação de ahi, todos elogião a 
escolha, fazen-te os maiores elogios. (Carta 12/f.9) 
 
(120) Contextos V2 
a. Golpe tremendo lacerou-te o coração! (Carta 2/f.1) 
b. Nesta outra dirijo-me ao amigo para dizer-lhe que nem hoje nem nunca me atribua o intuito de 
magoal-o em artigos d´O Paiz. (Carta 9/f.1) 
c. mostrei aos dois o trecho de tua carta referente a esse ponto, immediatamente prestarão-se a 
examinar tudo (Carta 15/f.1) 
d. porque assim eu tomava já uma resolução e vinha muito a proposito, pois apparecerão-me dois 
alugadores para a minha casa (Carta 14/f.10) 
 
(121) Contextos V2: Variação do Português Clássico 
a. Olha: – eu te considero como um dos mais distinctos alumnos que tenho tido; amo-te como a filho, 
e tenho fé de que has de ser uma das glorias do Gymnasio Bahiano. (Carta 1/ f.1) 
b. O futuro te espera grandioso: - prepara-te dignamente para elle. (Carta 1/f.1) 
 14 
c. não creio e francamente te digo (Carta 11/f.2) 
d. Até que, encontrando-me com o Doutor Lacombe a quem não via a mais de seis mezes, elle me 
contou então tudo (Carta 11/f.1) 
 
(122) Contextos de V1: Inovação do Português Brasileiro 
Mandei procurar muitas vezes o tal Conde, para te pagar os 15 contos, te afianço que esse canalha 
paga, espero ate o fim do mez isto. (Carta 11/f.5) 
 
(123) Contextos de próclise obrigatória 
Conformou-se, como se conformou com a não construcção das novas fabricas, que a Companhia 
exime-se de construir (Carta 5/f.9) 
 
Contexto 
Carlos Aguiar Outros Missivistas 
cl-V V-cl %cl-V cl-V V-cl %cl-V 
V1 absoluto 8 20 29% 0 15 0% 
V1 início oração 3 38 7% 1 14 7% 
V2 22 10 69% 7 9 44% 
Prep.+ Inf. 12 13 48% 1 11 8% 
Operador 131 6 96% 22 11 67% 
Total 176 87 67% 31 60 34% 
Tabela 9: Percentual de Próclise nas cartas a Rui Barbosa: Carlos Aguiar vs. Outros Missivistas (Cavalcante, Duarte e Pagotto, 2011) 
 
Implementação da próclise em cartas pessoais (Cavalcante, Rocha, Thomaz, 2019) 
 
 
Gráfico 7: Implementação da próclise em cartas pessoais brasileiras (Cavalcante, Rocha, Thomaz, 2019) 
 
 
0%
7%
17%
5%
20%
78% 84%
8%
36%
43%
16%
38%
78%
90%
38%
82%
75%
52%
70%
97% 97%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1826-1850 1851-1875 1876-1900 1901-1925 1926-1950 1951-1975 1975-2000
#V1 V1 XV
 15 
2.5.2 TU X VOCÊ 
 
Lopes e Cavalcante (2011); Lopes, Cavalcante e Marcotulio (2011) 
(124) só tu sabes a extensão do nosso amor. 
(125) tú é a dona do meu coração. 
(126) Agora você deve estar mais tranquillo e mais contente. 
 
Variantes de Dativo (OI): te ~ a ti ~ para/ a você ~ lhe ~ Ø 
(127) a. O diccionario serviu bem e mamãe mandou pelo Tito agradecer a você, bem como tudo que 
mandou-lhe. 
b. Já tive noticia de ter João recebido os 100$, o-que de-novo lhe agradeço. 
c. Agradeço Ø muito o cuidado que voce tem tido de mim, espero a receita que me prometteu. 
d. Agradeço -te desde-já a fineza e peço -te, meo caro Antonico, que aceites um apertado abraço do 
Seo amigo velho e caro 
 
Variantes de Acusativo (OD): te ~ você ~ 0 ~ lhe ~ o/a 
(128) a.Desejo que esta te encontre gozando saude. 
b. a minha irman esta esperãdo voçe no dia 18 com o Antoninho e Dalves 
c. Guimba esteve na Penha no Domingo, vai outra vez neste que vem, elle não te foi procurar na duvida 
de Ø encontrar. 
d. Desejo que esta lhe encontre gozando saude. 
e. a saudade atormenta- me a-todo momento pareço ouvir- te falar, ou então ouvir- te jamar pelo meu 
nome, pareço vel-a, mas tudo-isso não passa de uma ilusão (...) 
 
Variantes Oblíquas: Prep.+ ti, Prep. + você 
(129) a. e eu então pensava só em voce o-quanto tens sofrido por minha causa 
b. Continuo na mesma marcha, mantendo sempre com o meu pensamento em ti 
 
Loka, loka, loka 
Loka, loka, loka 
Cadê você, que ninguém viu? 
Desapareceu, do nada sumiu 
'Tá por aí tentando esquecer 
O cara safado que te fez sofrer 
Cadê você? Onde se escondeu? 
Porque sofre se ele não te mereceu 
Insiste em ficar em cima desse muro 
Espera a mudança em quem não tem futuro 
Deixa esse cara de lado 
Você apenas escolheu o cara errado 
Sofre no presente por causa do seu passado 
Do que adianta chorar pelo leite derramado? 
 
 
Põe aquela roupa e o batomEntra no carro, amiga, aumenta o som 
E bota uma moda boa 
Vamos curtir a noite de patroa 
Azarar uns boys, beijar na boca 
Aproveitar a noite, ficar louca 
E bota uma moda boa 
Vamos curtir a noite de patroa 
Azarar uns boy, beijar na boca 
Aproveitar a noite, ficar louca 
Esquece ele e fica louca, louca, louca 
Agora chora no colo da patroa, louca, louca 
Esquece ele e fica louca, louca, louca 
Agora chora no colo da patroa, louca, louca 
 
 
 
 
 16 
3. A extensão das restrições 
 
(130) (falando dos pasteis) O rapaz que trouxe Ø da pastelaria era teu afilhado (*PE) 
(131) (falando do objeto desaparecido) Eu informei a polícia da possibilidade do Manuel ter guardado Ø na 
sala de jantar. (*PE) 
(132) (falando do tesouro) O pirata partiu para as Caraíbas depois de ter guardado Ø cuidadosamente (*PE) 
(133) *O que o rapaz que trouxe Ø pastelaria era o teu afilhado? 
(134) *O que ele informou a polícia da possibilidade do Manuel ter guardado Ø na sala de jantar? 
(135) *O que o pirata partiu para as Caraíbas depois de ter guardado Ø cuidadosamente? 
(136) Ao teu amigo, sabes se já lhe pagaram os direitos de autor? (PE) 
(137) Sabes se, ao teu amigo, já lhe pagaram os direitos de autor? (PE) 
(138) O João, imagina que o amigo dividiu com ele os direitos de autor! (PE) 
(139) *Imagina que, o João, o amigo dividiu com ele os direitos de autor! (PE) 
(140) Eu acho que o povo brasileiro ele tem uma grave doença (PB) 
(141) Pedro pensa que, essas crianças, a Maria esqueceu de pegar elas na escola (PB) 
 
4. O PE o PB são duas línguas-I diferentes 
 
A gramática brasileira: 
1. substitui o clítico acusativo de terceira pessoa pelo pronome tônico, e por uma categoria pelo pronome 
tônico, e por uma categoria vazia de natureza pronominal; 
2. limita a posição dos clíticos à adjacência do verbo temático; 
3. produz um sujeito nulo de interpretação indeterminada, que requer certos contextos para receber uma 
interpretação referencial específica, contrariamente ao PE ou a outras línguas românicas de sujeito nulo; 
4. produz estruturas em que um objeto assume função de sujeito sem que nenhuma marca morfológica 
seja necessária para legitimar essa mudança. 
 
“... cada Língua-I atribui um estatuto diferente ao mesmo enunciado. As palavras são as mesmas, e o arranjo 
sintático é superficialmente o mesmo. Apesar disso, as interpretações disponíveis não são as mesmas. Em 
função da sua gramática, e independentemente de considerações pragmáticas, os falantes atribuem relações 
diferentes aos componentes da oração.” 
 
Referências: 
CAVALCANTE, S. R. O.; THOMAZ, D. S. ; ROCHA, L. C. . A implementação da próclise na escrita de missivistas 
brasileiros nascidos entre os séculos XIX e XX. LABORHISTÓRICO, v. 5, p. 142-165, 2019. 
CAVALCANTE, S. R. O. Mudança na posição do sujeito em cartas pessoais brasileiras: a ordem VS e o estatuto 
informacional do sujeito. DIADORIM (RIO DE JANEIRO), v. 20, p. 101-121, 2018. 
CAVALCANTE, S. R. O.; DUARTE, M. E. L. ; PAGOTTO, Emílio . Clíticos no século XIX: uma questão de posição 
social?. In: Callou, Dinah; Brabosa, Afrânio. (Org.). A Norma Brasileira em Construção: cartas a Rui Barbos 
(1866-1899). Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 2011, v. único, p. 167-217. 
CAVALCANTE, S. R. O. . O sujeito indeterminado da escrita dos séculos XIX e XX: uma mudança encaixada?. 
In: Rosa Virgínia Mattos e Silva. (Org.). Para a história do Português Brasileiro: Primeiros estudos. 1ed.São 
Paulo: Humanitas / FFLCH / USP, 2001, v. 2, p. 233-249. 
CAVALCANTE, S. R. O. . O sujeito nulo de referência indeterminada na fala culta carioca. Diadorim (Rio de 
Janeiro), v. 2, p. 63-82, 2007. 
CAVALCANTE, S. R. O. O uso de se com infinitivo do português clássico ao português europeu e brasileiro 
modernos. Estudos da Língua(gem) (Impresso), v. 8, p. 1-20, 2010. 
CAVALCANTE, S. R. O. POSIÇÃO DO SUJEITO E POSIÇÃO SOCIAL: UM CASO DE COMPETIÇÃO DE GRAMÁTICAS 
EM CARTAS DOS SÉCULOS XIX E XX. Filologia e Linguística Portuguesa (Online), 2014. 
 17 
DUARTE, M. E. L. ; EUGENIA, L. D. M. . Cllítico Acusativo, Pronome Lexical e Categoria Vazia no Português do 
Brasil. In: Fernando Tarallo. (Org.). Fotografias Sociolingüísticas. Campinas, SP: Pontes / Unicamp, 1989, v. , 
p. 19-34. 
DUARTE, M. E. L. ; LOPES, C. R. S. . De Vossa Mercê a Você: análise da pronominalização de nominais em 
peças brasileiras e portuguesas setecentistas e oitocentistas. In: Sílvia Brandão; M. Antónia Mota. (Org.). 
Análise Constrastiva de Variedades do Português: primeiros estudos. Rio de Janeiro: In-Fólio, 2003, v. , p. 61-
78. 
DUARTE, M. E. L. ; PAGOTTO, Emílio . Gênero e norma: avós e netos, classes e clíticos no final do século XIX. 
In: Lopes, Célia Regina dos Santos. (Org.). A Norma Brasileira em Construção: fatos lingüísticos em cartas 
pessoais do século 19. 1a.ed.Rio de Janeiro: In-Fólio, 2005, v. , p. 67-82. 
DUARTE, M. E. L. . A perda do Princípio "Evite Pronome" no Português Brasileiro. SINTESES - REVISTA DOS 
CURSOS DE POS-GRADUACAO - IEL - UNICAMP, CAMPINAS -SÃO PAULO, v. 1, n.1, p. 87-105, 1996. 
DUARTE, M. E. L. . Do pronome nulo ao pronome pleno: a trajetória do sujeito no português brasileiro. In: 
ROBERTS, IAN & KATO, MARY A.. (Org.). PORTUGUÊS BRASILEIRO: UMA VIAGEM DIACRÔNICA. CAMPINAS, 
SP: ED. DA UNICAMP, 1993, v. , p. 107-128. 
DUARTE, M. E. L. . Realizaram, Realizou-se ou Realizamos. . .? As formas de indeterminação do sujeito em 
cartas de jornais no século XIX. In: DUARTE; DINAH CALLOU; CÉLIA REGINA DOS S.LOPES. (Org.). Para a 
História do Português Brasileiro Notícias de Corpora e outros estudos. Rio de Janeiro: In-Fólio, 2002, v. IV, p. 
155-165. 
DUARTE, M. E. L. . The loss of the Avoid Pronoun Principle in Brazilian Portuguesa. In: M.A.KATO; E.V.NEGRÃO. 
(Org.). BRAZILIAN PORTUGUESE AND THE NULL SUBJECT PARAMETER. 01ed. FRANKFURT am MAIN/MADRID: 
VERVUERT/IBEROAMERICANA, 2000, v. , p. 17-36. 
FREIRE, G. C. . Acusativo e dativo anafóricos de 3ª pessoa na escrita brasileira e lusitana. Revista da ABRALIN, 
v. 10, p. 11/2-32, 2011. 
GALVES, C. A gramática do Português Brasileiro. In. Línguas e Instrumentos Linguísticos. Campinas, Pontes / 
Unicamp,v. 1. p. 79-98, 1998. 
KATO, M.A.; DUARTE, M. E. L. ;CYRINO, S. ; BERLINCK, R. . Português brasileiro no fim do século XIX e na virada 
do milênio. In: Suzana Cardoso, Jacyra Mota e Rosa Virgínia M. e Silva. (Org.). Quinhentos anos de história 
linguística do Brasil.. Salvador: Empresa Gráfica da Bahia/ Funcultura/ Governo da Bahia, 2006, p. 413-438. 
LOPES, C. R. dos S. ; CAVALCANTE, S. R. O. . A cronologia do Voceamento no Português brasileiro: expansão 
de você-sujeito e retenção do clítico-te. Lingüistica (Madrid), v. 25, p. 30-65, 2011. 
SOLEDADE, Carolina de la Vega. A realização do objeto direto anafórico em peças de autores brasileiros dos 
séculos XIX e XX: dados empíricos para observação de mudança no Português Brasileiro. 2011. Dissertação 
(Mestrado em Letras (Letras Vernáculas)) - Universidade Federal do Rio de Janeiro. 
	1. OS ENUNCIADOS DIFERENTES
	1.1 Sintaxe Pronominal:
	1.2 A projeção dos constituintes e a distinção sujeito / tópico
	2. AS DIFERENÇAS NA FREQUÊNCIA
	2.1. A REPRESENTAÇÃO DO SUJEITO
	2.1.1 Preenchimento do sujeito de referência definida (Duarte, 1993; 2000)
	2.1.2 Preenchimento do sujeito de referência arbitrária: fala culta (Duarte, 1995)
	2.1.3 Preenchimento do sujeito de referência arbitrária: escrita (Cavalcante, 1999)
	2.1.4 Preenchimento do sujeito de infinitivo (Cavalcante, 2006)
	2.1.4 Preenchimento de sujeitos não argumentais (Duarte, 2003)
	2.1.5 Construções de Tópico-Sujeito (Melo, 2015)
	2.1.6 Sujeito nulo de referência arbitrária (Cavalcante, 2007)
	2.2 REPRESENTAÇÃO DO OBJETO DIRETO
	2.3 CONCORDÂNCIA NAS CONSTRUÇÕES COM SE
	2.4 A POSIÇÃO DO SUJEITO
	2.4.1 VS RESTRITA
	2.4.2 A perda de sujeito posposto em interrogativas qu-
	2.5 SISTEMA PRONOMINAL
	2.5.1 COLOCAÇÃO PRONOMINAL
	2.5.2 TU X VOCÊ
	3. A extensão das restrições
	4. O PE o PB são duas línguas-I diferentes
	Referências:

Continue navegando