Buscar

Tema 1 - Legislação de Proteção Animal

Prévia do material em texto

Ecologia, Manejo e Conservação da Vida Silvestre
Módulo 1
As pesquisam que utilizam animais passaram de um formato investigativo e descritivo para predominantemente experimental, a partir do século XVI. Nesta época, muitas descobertas científicas promoveram o avanço na atenção à saúde humana e animal. Os experimentos desenvolvidos com animais passaram de um aspecto investigativo para invasivo, sem que a questão moral do uso de animais fosse debatida.
Atualmente, de forma rotineira, animais são utilizados para fins educacionais e experimentais. No ensino, a finalidade é ilustrar de forma prática conhecimentos adquiridos nas áreas de fisiologia, anatomia, estudos comportamentais, dentre outros. Na pesquisa, são explorados os mecanismos de doença e cura de diversas enfermidades e a busca por novos medicamentos para tratamento e prevenção de doenças.
Os animais utilizados em ensino e pesquisa são denominados:
CONVENCIONAIS - As espécies convencionais são aquelas mais comumente utilizadas, pela facilidade de manejo, criação, manutenção e por apresentarem similaridade filogenética com o homem. São elas:
· Camundongos (Mus musculus domesticus).
· Ratos (Rattus norvegicus).
· Cobaias ou porquinhos-da-índia (Cavia porcellus).
· Coelhos (Oryctolagus cunicullus).
· Hamsters sírios (Mesocricetus auratus
NÃO CONVENCIONAIS - As espécies não convencionais são as menos utilizadas e, normalmente, são usadas somente em pesquisas, por apresentarem um organismo mais complexo. Sua utilização deve ser amplamente justificada e somente é aceita quando não existir, para o estudo proposto, possibilidade de utilização de uma espécie convencional. As mais comuns são:
· Cão (Canis familiaris).
· Macaco Rhesus (Macaca mulatta).
Macacos são menos utilizados em pesquisas. Geralmente, são usados para estudos específicos de tratamento e imunização contra certas doenças.
O QUE É BIOÉTICA?
A Bioética é considerada uma ciência recente, do início do século XX, e tem sua origem na Ética. Ela nasceu da necessidade de se discutir sobre a responsabilidade ética do homem para com ele próprio e os seres vivos em geral.
A partir dos anos 1970, a Bioética começou a tomar dimensões maiores devido aos avanços tecnológicos na área de saúde. Em 1978, Warren Reich a definiu, em sua “Enciclopédia de Bioética”, como: O estudo sistemático das dimensões morais, incluindo a visão, a decisão, a conduta e as normas das ciências da vida e da saúde.
PRINCÍPIOS ÉTICOS DA EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL O princípio dos 3 Rs na experimentação animal
Com a virada do século XX e a ampliação das discussões éticas sobre o uso de animais, os pesquisadores William Russel e Rex Burch publicaram, em 1959, os princípios éticos que deveriam nortear o uso de animais em pesquisas, denominado princípio dos 3 Rs. O nome se deve ao fato de que cada princípio possui em sua grafia a inicial “R
· O primeiro princípio, Reduction ou redução, recomenda a utilização do menor número possível de animais que seja capaz de produzir resultados confiáveis e reprodutíveis. Como exemplos para alcançarmos este propósito, temos os bancos de dados para acesso a resultados, evitando-se estudos duplicados; o compartilhamento de animais em experimentos, com o devido planejamento e avaliação; e a padronização do modelo animal com qualidade sanitária e genética, proporcionando resultados uniformes e não dispersos.
· O segundo princípio, Replacement ou substituição, orienta que, em caso de existência de método alternativo validado, o uso de animais não é justificável. Como métodos alternativos, podemos citar:
· As técnicas in vitro, com cultivo celular ou tecidual.
· Os modelos computacionais para processos fisiológicos, com o uso da Bioinformática.
· Os procedimentos utilizando tecidos ou órgãos de animais já mortos.
· A utilização de animais invertebrados ou microrganismos.
· O terceiro princípio, Refinament ou refinamento, postula a aplicação de procedimentos que minimizem o sofrimento, a dor ou o estresse animal. Tal princípio pode ser praticado de inúmeras formas, tais como:
· Utilização de analgesia pré e pós-cirúrgica, bem como estabelecimento de cuidados pós-cirúrgicos.
· Capacitação técnica da equipe para procedimentos invasivos e críticos.
· Identificação precoce de sinais de dor, sofrimento e estresse para tomada de decisão premeditada.
PRINCÍPIOS LEGAIS DA EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL
No aspecto legal, o Decreto-Lei 24.645, de 1934, foi o primeiro a estabelecer as primeiras medidas de proteção aos animais e, em seu artigo 3º, considerava como maus tratos, dentre outros:
“I - Praticar ato de abuso ou crueldade em qualquer animal;
 IV - Golpear, ferir ou mutilar, voluntariamente, qualquer órgão ou tecido de economia, exceto a castração, só para animais domésticos, ou operações outras praticadas em benefício exclusivo do animal e as exigidas para defesa do homem, ou no interesse da ciência;
VI - Não dar morte rápida, livre de sofrimentos prolongados, a todo animal cujo extermínio seja necessário, para consumo ou não.”
Em 1979, a Lei 6.638 foi a primeira a estabelecer normas para a prática didático-científica da vivissecção de animais. A lei estabelecia que os biotérios e centros de experiência tinham permissão para a vivissecção animal, mas deveriam ser registrados em órgão competente. Estabelecia, ainda, que procedimentos em animais não poderiam ser realizados sem anestesia e sem a supervisão de técnico especializado e que os animais deveriam receber cuidados especiais, dentre outros. A Lei 9.605/98, também chamada de Lei de Crimes Ambientais, foi a primeira a imputar sanções penais e administrativas a quem cause danos ou prejuízos aos elementos constituidores do meio ambiente, dentre eles sua fauna (art. 29 a 37).
Lei 11.794/2008 – Lei Arouca- O marco da regulação do uso de animais em ensino e experimentação. A Lei Arouca estabelece critérios para “a criação e a utilização de animais em atividades de ensino e pesquisa científica, em todo o território nacional”. Dela, podemos citar as seguintes regras restritivas:
Art. 1º
§ 1º A utilização de animais em atividades educacionais fica restrita a:
I – Estabelecimentos de ensino superior.
II – Estabelecimentos de educação profissional técnica de nível médio da área biomédica.
Art. 2º
O disposto nesta Lei aplica-se aos animais das espécies classificadas como filo Chordata, subfilo Vertebrata.
A lei se refere aos animais vertebrados por considerar que estes possuem capacidade de sentir e sofrer e, portanto, estão predispostos a uma análise bioética que fundamente sua utilização.
· Animais devem receber cuidados especiais e somente podem ser submetidos às intervenções aprovadas nos protocolos experimentais.
· A eutanásia deve ser realizada ao final do experimento ou a qualquer momento, caso seja detectado sofrimento animal.
· Animais utilizados em experiências ou demonstrações que não forem submetidos a eutanásia podem, em caráter excepcional, sair do biotério, ouvida a respectiva CEUA, desde que destinados a pessoas idôneas ou entidades protetoras de animais devidamente legalizadas.
· O número de animais e o tempo de duração do projeto devem ser o mínimo necessários para a obtenção de resultados conclusivos.
· Experimentos que causem dor devem apresentar em seus protocolos técnicas para sedação, analgesia ou anestesia, com proibição do uso de bloqueadores neuromusculares ou bloqueadores musculares.
As práticas de ensino devem ser fotografadas, filmadas ou gravadas, para reprodução e ilustração de práticas futuras, evitando-se repetição desnecessária de procedimentos.
Em caso de emprego de métodos traumáticos, vários procedimentos podem ser realizados num mesmo animal, desde que todos sejam executados durante a vigência de um único anestésico. Nesse caso, o animal deve ser eutanasiado antes de recobrar a consciência.
A lei preconiza ainda que, independentemente do procedimento a ser realizado, seja na área de ensino, seja na área de pesquisa, o mesmo deve ser supervisionado por profissional de nível superior, graduado ou pós-graduadona área biomédica. Este deve estar vinculado à entidade de ensino ou à pesquisa credenciada pelo CONCEA.A Lei Arouca prevê ainda penalidades para as instituições que transgredirem regras e disposições estabelecidas pela norma, bem como para as pessoas que executem procedimentos de forma indevida, ou que não sejam autorizados pelo CONCEA. As penalidades variam de multa a interdição definitiva do estabelecimento de ensino/pesquisa.
BIOÉTICA APLICADA AOS ANIMAIS DE COMPANHIA E PRODUÇÃO
Conceito de bem-estar animal (BEA) - O conceito de bem-estar animal está relacionado ao equilíbrio entre os meios interno e externo capazes de gerar homeostase e inclui três elementos básicos:
Funcionamento biológico normal do animal
Aspectos relacionados à saúde física e nutrição
Estado emocional do animal
Como a ausência de dor e medo
Capacidade de expressar comportamentos normais
As Cinco Liberdades - Uma investigação responsável pela elaboração do Relatório Brambell, publicado em 1965, o qual recomendava as condições mínimas capazes de promover bem-estar e gerar o menor sofrimento possível aos animais em sistemas de produção. São elas:
1. Liberdade de fome e sede - Acesso irrestrito à água e a alimento adequado às suas necessidades, a fim de que se mantenham saudáveis.
2. Liberdade de desconforto - Permanência em ambiente adequado, provido de abrigo e área para descanso.
3. Liberdade de dor, lesão e doença - Programas preventivos contra doenças, ferimentos ou sofrimento, com pronta assistência médico-veterinária caso algum problema seja detectado.
4. Liberdade para expressar seu comportamento natural - Espaço adequado que favoreça a expressão de suas necessidades naturais e companhia de outros animais da mesma espécie, de acordo com seus hábitos e suas necessidades sociais.
5. Liberdade de medo e distresse - Condições de manutenção e tratamento que evite sofrimento psicológico e emocional.
Como resultado deste relatório e da publicação das Cinco Liberdades, foi criado, em 1979, o Farm Animal Welfare Council, órgão do governo britânico responsável pela elaboração da regulamentação sobre o sistema agropecuário na União Europeia, o qual influencia a discussão da bioética animal no Brasil. As Cinco Liberdades constituem indicadores de avaliação do bem-estar animal, a partir do comprometimento de organizações e profissionais envolvidos na produção animal (aplicável também aos animais utilizados em ensino e pesquisa) e serve de alerta à população em geral sobre como tratamos os animais e de que forma podemos modificar nossas atitudes
Legislação brasileira sobre bem-estar de animais de produção - No Brasil, o Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal, publicado através do Decreto 9.013/2017, prevê, que:
A Bioética e os animais de companhia - A relação de afeto e companheirismo do homem com seu animal de estimação e a percepção, por parte do homem, de que o animal consegue “compreendê-lo”, faz da humanização animal uma realidade. O ser humano passa a infantilizar o animal, adotando práticas comprometedoras de seu bem-estar. Algumas dessas práticas, como, por exemplo, dar banho no animal de forma muito frequente, para que ele fique sempre cheiroso, ou utilizar perfumes fortes após procedimento de tosa e banho, prejudicando o faro dos animais, ferem diretamente as Cinco Liberdades já citadas, por causarem estresse, desconforto e serem contrárias à natureza animal.
Terapia assistida por animais (TAA) - A TAA é conduzida por profissionais da área da saúde, e caracteriza-se pela interação de pacientes que apresentem problemas cognitivos, emocionais ou sociais com animais (geralmente cães e equinos) considerados saudáveis e sociáveis.
Cães
A melhoria no quadro de pacientes em coterapia com cães é notória, com diminuição do tempo de internação e redução na percepção de dor, além da melhora do humor e da sociabilidade de pacientes.
Cavalos
A equoterapia, ou terapia com cavalos, é também reconhecida pela Medicina e utiliza cavalos de competição já aposentados, com a justificativa de mantê-los ativos.
Módulo 2
PUBLICAÇÃO DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DOS ANIMAIS
A Declaração Universal dos Direitos dos Animais reconhece o valor da vida de todos os seres vivos e a obrigação do homem em respeitar e tratar os animais de forma digna. A Declaração não possui força jurídica, mas serve até hoje de base para a regulamentação de leis de proteção animal. A Declaração proclama que:
Art. 1º
Todos os animais nascem iguais perante a vida e têm os mesmos direitos à existência. (abolição total da exploração animal)
Art. 2º
Todo animal tem direito a ser respeitado.
O homem, enquanto espécie animal, não pode exterminar os outros animais ou explorá-los violando esse direito, e tem o dever de colocar os seus conhecimentos a serviço dos animais.
Todo animal tem direito à atenção, aos cuidados e à proteção do homem.
Art. 3º
Nenhum animal será submetido a maus-tratos ou a atos cruéis.
Se a morte de um animal for necessária, esta deve ser instantânea, sem
dor ou angústia.
Art. 4º
Todo animal pertencente a uma espécie selvagem tem o direito de viver livre no seu ambiente natural, seja terrestre, aéreo ou aquático e tem o direito de se reproduzir.
A privação de liberdade, ainda que para fins educativos, é contrária a este direito.
Art. 5º
Todo animal pertencente a uma espécie que viva tradicionalmente no ambiente do homem tem o direito de viver e de crescer no ritmo e nas condições de vida e de liberdade próprias da sua espécie.
Toda modificação deste ritmo ou destas condições impostas pelo homem com fins mercantis é contrária a este direito.
Art. 6º
Todo animal que o homem escolheu como seu companheiro tem direito a uma duração de vida conforme a sua longevidade natural.
O abandono de um animal é um ato cruel e degradante.
Art. 7º
Todo animal que trabalha tem direito a limitação razoável de duração e intensidade de trabalho, a alimentação reparadora e ao repouso.
Art. 8º
Experimentação animal que implique sofrimento físico ou psicológico é incompatível com os direitos do animal, quer seja uma experiência médica, científica, comercial ou qualquer que seja a forma de experimentação.
Técnicas substitutivas devem ser utilizadas e desenvolvidas.
ATUALIDADES JURÍDICAS SOBRE PROTEÇÃO DOS ANIMAIS
Em alguns países, como a Inglaterra ou os Estados Unidos, o Direito Animal é uma área específica dentro do Direito, o que não ocorre no Brasil. Nestes países, o sistema jurídico é o da commom law, isto é, formado pelo conjunto de costumes e decisões de tribunais.No Brasil, a Constituição Federal de 1988 prevê, em seu artigo 225, o direito comum ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e proíbe práticas que extingam espécies ou submetam os animais a crueldade.
O código Civil Brasileiro considera animais (seres semoventes, ou seja, seres móveis que se movimentam por conta própria) como coisas. Por serem desprovidos de personalidade, não possuem direi
O Código Civil Brasileiro considera animais (seres semoventes, ou seja, seres móveis que se movimentam por conta própria) como coisas. Por serem desprovidos de personalidade, não possuem direito
Projeto de Lei Complementar 27/2018 (PLC 27/18) acrescenta dispositivos à Lei nº 9.605/98, a fim de discutir a natureza jurídica dos animais, determinando que Os animais domésticos e silvestres possuem natureza jurídica sui generis, sendo sujeitos de direitos despersonificados, dos quais podem gozar e obter a tutela jurisdicional em caso de violação, sendo vedado o seu tratamento como coisa.
Críticas ao PLC foram feitas, sob alegação de possíveis problemas para a economia do país, :Pode-se exigir o uso de anestésico para abate de animais, uma vez que a lei estipula agora que os animais são sencientes e, por isso, não poderiam sofrer qualquer tipo de dor ao ser abatido. Imaginem quanto isso pode custar para todos os produtores de carne do país! Imaginem o valor que o quilo de alimento poderá custar para nós, consumidores.
É possível verificar que o Direito dos Animais é uma área ainda emcrescimento dentro do Direito, dada a necessidade de se fomentar discussões acerca da proteção dos animais e da lacuna existente quanto à regulamentação na área. Portanto, é necessário que se desenvolvam projetos visando a conscientização da sociedade e de profissionais da área do Direito, para que trabalhem conjuntamente na defesa dos direitos fundamentais do homem, que perpassam os direitos dos animais, em convivência harmoniosa. A comoção e a conscientização por parte da sociedade devem ser os propulsores para a elaboração de leis que regulamentem a proteção aos animais.
Módulo 3
MECANISMOS DE PROTEÇÃO ANIMAL
Ao longo da História, o antropocentrismo foi sendo substituído pelo ecocentrismo, reconhecendo que o homem faz parte de um ecossistema e que os outros seres são também merecedores de respeito e de direitos. O homem não mais se encontra no centro do Universo, mas é parte integrante deste, juntamente aos outros seres
CONCEA
O CONCEA é o órgão do atual Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações e foi criado pela Lei 11.794/08 (Lei Arouca), com a finalidade de garantir tratamento humanitário e ético a todos os animais utilizados em atividades de ensino ou pesquisa científica no território nacional. As referências adotadas pelo CONCEA para a proposição de normas se originam de agências regulatórias internacionais, principalmente dos Estados Unidos da América e de países da Europa, em virtude do avanço das discussões sobre políticas éticas para o uso de animais nestes países.
O CONCEA é um órgão deliberativo, normativo, consultivo e recursal. Com a sua criação e o estabelecimento de regras para o uso de animais em ensino e pesquisa, o princípio dos 3 Rs passou a ser obrigatoriamente adotado.
O Decreto 6.899/09 estabelece as normas para o funcionamento do CONCEA e cria o CIUCA. Como competências do CONCEA, podemos destacar as seguintes:
Formular e zelar pelo cumprimento das normas relativas à utilização humanitária e ética de animais com finalidade de ensino e pesquisa científica.
Credenciar instituições para criação ou utilização de animais com finalidade de ensino ou pesquisa científica, estabelecendo e revendo normas de credenciamento.
Monitorar e avaliar a introdução de técnicas alternativas que substituam a utilização de animais em ensino ou pesquisa científica.
Estabelecer e rever, periodicamente, as normas para uso e cuidados com animais para ensino e pesquisa científica, em consonância com as convenções internacionais das quais o Brasil seja signatário.
O CIUCA destina-se ao registro das instituições para criação ou utilização de animais com finalidade de ensino e pesquisa científica, dos protocolos experimentais ou pedagógicos em andamento no país, assim como dos pesquisadores, a partir de informações remetidas pelas CEUAs, além das solicitações de credenciamento institucional no CONCEA. 
O CONCEA também delibera quanto à aplicação de sanções para o uso indevido de animais, e considera como infração administrativa o que consta do artigo 46 do decreto, conforme descrito abaixo:
“I - criar ou utilizar animais em atividades de ensino e pesquisa científica como pessoa física em atuação autônoma;
II - criar ou utilizar animais em atividades de ensino e pesquisa científica sem estar credenciado no CONCEA ou em desacordo com as normas por ele expedidas;
III - deixar de oferecer cuidados especiais aos animais antes, durante e após as intervenções recomendadas nos protocolos dos experimentos(...);
IV - deixar de submeter o animal a eutanásia, dada as prescrições pertinentes a cada espécie, conforme as diretrizes do Ministério da Ciência e Tecnologia, sempre que, encerrado o experimento ou em qualquer de suas fases, for tecnicamente recomendado o procedimento ou quando ocorrer intenso sofrimento (...);
V - realizar experimentos que possam causar dor ou angústia sem sedação, analgesia ou anestesia adequadas;
VI - realizar experimentos cujo objetivo seja o estudo dos processos relacionados à dor e à angústia sem autorização específica da CEUA;
VII - utilizar bloqueadores neuromusculares ou relaxantes musculares em substituição a substâncias sedativas, analgésicas ou anestésicas;
VIII - reutilizar o mesmo animal depois de alcançado o objetivo principal do projeto de pesquisa;
IX - realizar trabalhos de criação e experimentação de animais em sistemas fechados em desacordo com as condições e normas de segurança recomendadas pelos organismos internacionais aos quais o Brasil se vincula;
X - realizar, em programa de ensino, vários procedimentos traumáticos num mesmo animal, sem que todos os procedimentos sejam executados durante os efeitos de um único anestésico ou sem que o animal seja sacrificado antes de recobrar o sentido;
XI - realizar pesquisa científica ou atividade de ensino reguladas por este Decreto sem supervisão de profissional de nível superior, graduado ou pós-graduado na área biomédica (...).”
CEUA
As CEUAs foram instituídas também pela Lei Arouca (Lei 11.794/08), a qual condiciona o credenciamento institucional no CONCEA à constituição prévia da CEUA. A Resolução Normativa n° 1, de 2010 (RN 01/10) do CONCEA, estabelece que cada instituição de ensino (técnico ou superior) ou pesquisa científica com animais (pública ou privada) deverá constituir sua própria CEUA, que deverá ser integrada, obrigatoriamente, por:
Médicos veterinários e biólogos.
Docentes e pesquisadores na área específica.
Um representante de sociedades protetoras de animais legalmente estabelecidas no país, na forma do regulamento.
Podemos observar que as CEUAs locais funcionam como braços do CONCEA, agindo em consonância com ele, na observância da aplicação de normas para aprovação, controle e vigilância das atividades de criação, ensino e pesquisa com animais. A CEUA não pode se omitir quanto à observância das normas estipuladas pelo CONCEA, sob risco de se submeter às sanções cabíveis, já descritas anteriormente. Os membros também respondem por prejuízos que, por dolo, venham a causar às atividades de ensino e pesquisa nas instituições que atuem.
Para que um procedimento de ensino ou pesquisa científica que utilize animais seja aprovado, ele deve ser apresentado à CEUA, que deverá deliberar sobre sua aprovação ou não, de acordo com os princípios éticos para uso de animais.
As CEUAs são responsáveis pela expedição de certificados junto a revistas científicas ou órgãos que fornecem verbas para o desenvolvimento de pesquisas, a fim de comprovar que possuem projetos aprovados. A não comprovação inabilita a publicação em periódico, assim como pode suspender o repasse de verba para o desenvolvimento da pesquisa.
ONGS E ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO ANIMAL
RSPCA
As primeiras leis destinadas à proteção animal surgiram na Inglaterra, no século XIX, com a criação da Sociedade para a Prevenção de Crueldades contra Animais. A partir de então, outras associações foram criadas na Europa e nos Estados Unidos.
A RSPCA possui filiais em diferentes países da Europa, Ásia e África com serviços veterinários, programas educativos para escolas e centros de adoção de animais, dentre outros.
UIPA
No Brasil, a UIPA, criada em 1895, em São Paulo, é pioneira na proteção aos animais, existindo até hoje, e se originou de manifestos publicados em jornais da época, convocando a população a discutir sobre maus-tratos a animais. O Estado de São Paulo foi o que mais se destacou nas discussões sobre políticas de proteção animal no país, apesar da criação de outras organizações fora do estado.
A UIPA foi uma das responsáveis pela publicação da Lei 9.605/98, que torna crime os maus-tratos imputados a animais, além de fundar o movimento antivivisseccionista brasileiro. Além disso, foi responsável pela redação da Lei Municipal 14.146/06, que proíbe a circulação de veículos de tração animal no Município de São Paulo. A UIPA conta ainda com uma clínica médico-veterinária para atendimento de animais pertencentes à população carente e promove adoção de cães e gatos, após avaliação do pretendente à adoção. Foi declarada legalmente como de utilidade públicaestadual e municipal e é fomentada por meio de doações de seus associados.
SUIPA
A SUIPA foi inaugurada em 1943, no Rio de Janeiro. Inicialmente voltada ao tratamento de cães recolhidos das ruas da cidade, passou a atuar ativamente, reivindicando, junto às autoridades, o cumprimento de medidas de proteção aos animais. Participou ainda de movimentos contra as “carrocinhas”, que coletavam animais errantes em via públicas e os destinava à eutanásia, além de combater maus-tratos a cavalos utilizados em charretes e auxiliar na apreensão de animais silvestres encontrados em locais inadequados. É também considerada como de utilidade pública, sem fins lucrativos, e mantém atendimento médico-veterinário a animais de populações carentes a preços populares, financiando seus gastos com doações de seus associados.
No Brasil, a regulamentação para uso de animais em ensino e experimentação foi alcançada com a Lei Arouca, de 2008 (Lei 11.794/08), que reconhece a senciência de vertebrados e regulamenta a forma como estudos e pesquisas devem ser conduzidos em um âmbito ético e responsável, baseado nos princípios dos 3 Rs, de Russel & Burch.
A Lei Arouca criou, ainda, o CONCEA, órgão governamental responsável pela normatização de funcionamento de biotérios e de guias para cuidados com animais em ensino e experimentação. A obrigatoriedade da instituição de CEUAs para o credenciamento de estabelecimentos de ensino e pesquisa no CONCEA tornou indispensável a avaliação de projetos de ensino/pesquisa, que devem operar dentro de princípios éticos e legais, com possível responsabilização da instituição e de seus pesquisadores associados.
Os órgãos de proteção animal atuam de forma ativa dentro e fora das CEUAs, operando como membros avaliadores de procedimentos que envolvem animais. Essas instituições de proteção pressionam os órgãos governamentais a regulamentarem dispositivos que protejam animais contra maus-tratos e abusos, ao mesmo tempo em que trabalham para promover a conscientização da população de que pertencemos ao mesmo ecossistema e somos dignos de respeito e direitos.

Continue navegando