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admin,2-OFederalismo-FormaçãoHistóricaConstitucional

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o FEDERALISMO: FORMAÇÃO 
mSTÓRICA CONSTITUCIONAL 
INTRODUÇÃO 
JOÃO CAMILLO DE OLIVEIRA TÔRRES ,. 
SnIÁRIO: Introdução. I. Unidade na diversidade. 2. 
A solução norte-americana. 3. Pausa para meditação. 
-/. ['ma revolução que temeu a si própria ... 5. Res­
tauração e consolidação. 6. Perspectivas de renovação. 
7. Comparações. i.I. ExclIrslls sôbre a divisão admi­
nistratil'a. 8. Federação e desenvolvimento econômico. 
Apêndice. 
A dificuldade inicial que encontramos ao estudar o te­
ma da Federação no Brasil provém, além de uma tradicional­
mente inexata conceituação da idéia, de um falso determinis­
mo geográfico que estabelece uma correlação de causas e efei­
tos de caráter geográfico, numa questão eminentemente po­
lítica. A Geografia chamada política, isto é, aquilo que os ma­
pas nos mostram como espaços coloridos e regularmente 
contornados, separando unidade políticas, não provém de cir­
cunstâncias puramente geográficas, mas da História. Se na 
parte de conceituação podemos passar de raspão, lembrando, 
apenas, que federar significa associar partes dantes dispersas, 
e é o resultado de um esfôrço de concentração do poder, des­
centralizar é um conceito administrativo e relaciona-se com a 
delegação da autoridade central. Misturar, como temos feito, 
descentralização com federação, querer usar uma por outra, 
ou estabelecer um critério de mais ou de menos) não passa, 
simplesmente de confusão de conceitos distintos e baralha-
• Do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. 
R. Ci. pol.. Rio de Janeiro. 3 (2): 21-51. abr.(jlln. 1969 
mento de raciocínio? 1 Ademais. que hoje, no século XX, cer­
tos raciocínios válidos para nossos avós não funcionam mais 
e que, a par de Direito Constitucional e de Direito Adminis­
trativo, há a Ciência Política e as técnicas de A.dministração, 
com base em critérios bem diferentes. Fiquemos, porém, na 
questão geográfica. que influi por demais na História do Bra­
sil. 
Certamente os critérios administrativos de uma nação de 
âmbito territorial vastíssimo, conforme é o Brasil, obviamen­
te não serão os mesmos que adotaríamos num pequeno país. 
~Ias, a Geografia do Brasil não impõe nada que não quiser­
mos impor por outras razões. A. menos que adotássemos o 
princípio dos vales ou considerássemos o critério dos Felipes, 
e, reconhecendo dois Brasis e, assim, distribuíssemos a admi­
nistração. Geogràficamente. o Brasil possui várias unidades, 
geralmente relativas aos vales dos rios (o rio é fator de uni­
dade entre as margens: trata-se ele um preconceito anacrô­
nico. o de fazer de rios limites natllrais). A" Geografia elo Bra­
sil, aliás, é cheia de paradoxos. Se a mão elo Governante não 
houvesse traçado as divisões internas elo Brasil, com as quais 
nós nos acostumamos desde a infância, nada haveria que jus­
tificasse o sistema atual. Tudo começou com as preocupações 
del-rei D. Jo.:"o III. com as terras novamellte achadas na Amé­
nca. 
Portugal não se preocupa\a exatamente em colonizar e 
ocupar territórios. Estabelecia feitorias para comerciar com 
os nativos, na complexa operação do comércio internacional 
entre a África. a Índia e as Flandres. em que entravam os 
mais variados produtos, na linha do capitalismo monârq 11 ico 
de D. ~IA;\;UEL e D. JOÃo III. ~Ias o Brasil não tinha produ­
tos comerciáveis. não possuía as imensas riquezas da Índia, 
não tinha ouro, marfim e escravos como a África. E poucos 
anos após o descobrimento. verificou D. JOÃo IH que se 
impunha realmente colonizar o Brasil, estabelecer colônias 
como outrora haviam feito Grécia e Fenícia e já havia algu-
1 Em nosso A Formação do Federalismo 1/0 8""j[ (São Paulo, 1961) discutimo. 
pormenorizadamente a questão teórica da ('onccitu<I<;ão de Federação c da distinção entre 
"federar" e "descentraliLar". 
Re\ist<l de (j':"nLia l'()líti'~1 
- 23 -
mas tímidas experiências por aí, nas ilhas do Atlântico, prin­
cipalmente. E como quem faz uma operação de loteamento, 
el-rei dividiu o território brasileiro em faixas, da linha de 
Tordesilhas ao mar e deu cada uma a quem tivesse meios, 
coragem e disposição para colonizar o Brasil. Surgiram ten­
tativas de povoamento, modestas vilas e engenhos por tôda 
parte. E veio, como dizem os compêndios, o malôgro das ca­
pitanias. Na realidade, o êxito foi superior: aquêles quase 
náufragos e primitivos pioneiros conseguiram duas coisas: 
aclimataram no Brasil uma série ele culturas e aprenderam 
outras dos índios; fundaram vários núcleos de povoamento ao 
longo do litoral. Depois, dentro ele uma fatalidade histórica 
no Brasil, desistiu o Govêrno da ação pela iniciativa parti­
cular e na base de unidades autônomas, para recorrer ao E~­
tado e seu poder unitivo. Veio TO:\IÉ DE SOUZA. Mas, cada 
vila de donatário e seu continente já formavam áreas defi­
nidas, células com seu núcleo e protoplasma. Daí, em grande 
parte, surgiram os atuais Estados, com algumas retificações 
posteriores, por fôrça de circunstâncias históricas. Concreta­
mente, veio Minas Gerais: a revolta dos Emboabas contra a 
aristocracia bandeirante apoiada no Rei, provocou a separação 
do território mineiro e a queda do meridiano de Tordesilhas, 
forçou o aparecimento de Goiás e :\Iato Grosso - o Império 
criaria o Amazonas e o Paraná. ~ Sente-se, porém, que se não 
fôsse a diversão mineira e o que é hoje Sul da Bahia, Espírito 
Santo, Minas e Rio de Janeiro seriam duas províncias com 
frente para o mar, indo até Goiás, paralelas, digamos assim, 
com Bahia, São Paulo, etc. O mapa do Brasil é, apenas, o 
resultado da separação traçada pelo rei de Portugal entre as 
áreas de jurisdição dos capitães generais, com base em cen­
tros de povoamento oriundos, ou dos antigos donatários, ou 
de fonte oficial ou semi-oficial (Rio, Salvador, São Paulo) ou 
da ação pioneira dos emboabas e bandeirantes - Minas Ge­
rais, Goiás, Mato Grosso. Como não havia um govêrno co­
mum a toclos o Estado cio Brasil, descle a queda da União 
::! Sôbre a exata significação da GUlTra dos E.mboadas e as relac;õcs entre o Ouro de ~Iina!l 
(" os tratados de ~Iadri e Santo Idelfonso, vi nOssa H;\tóriea de .\I;'w5 Gerai.\ (2.& edição, Belo 
Horuonte. l'I6i). 
abril/junho 1969 
- 24 -
Ibérica, como não havia comunicação interna entre as capi­
tanias, estas pràticamente não se comunicavam internamen­
te em comércio e viagens regulares, senão em casos especiais 
(o caminho nôvo das Minas, o mais trafegado no interior do 
Brasil, as ligações Minas e Goiás, São Paulo e Cuiabá, etc). O 
Brasil era um arquipélago administrativo, que as contingên­
cias do povoamento terminariam transformando no conheci­
do e muito citado arquipélago cultural. Quando a família real 
aportou no Rio, as capitanias já eram províncias no sentido 
cultural do têrmo, habitadas por povos de índoles diferen­
tes, com sentimentos localistas diversos, com modo de falar 
próprio. A esperteza política dos mineiros já era proverbial 
ao tempo da Independência e contra ela procurava JosÉ 
BONIFÁCIO acautelar o Príncipe Regente D. PEDRO ... 
Não foi a Geografia, foi a História que traçou o mapa 
variegado e multiforme do Brasil. A História por seu agente 
máximo: a Política, as altas razões do Estado sempre onipre­
sente. 
1. Unidade na Diversidade 
Proclamada a Independência, graças à monarquia, o Bra­
sil não seria um reino, mas um Império. Muitas razões influí­
ram nisto, desde a moda (I'\ APOLEÃO estava morrendo em 
Santa Helena, mas a sua influência se fazia sentir), como tam­
bém a aversão ao Direito Divino dos Reis - pela tradição 
romana (e era de bom-tom lembrar Roma, àqueles tempos), 
o Imperador recebia uma delegação da comunidade e, tam­
bém, o reconhecimento de que, sendo soberano sôbre um 
vasto país, devia ser um Imperador, não rei. Reino era coisa 
de país pequeno, Império, de país grande. Isto, aliás, foi argu­
mento usado. 
E as províncias? Logo, a 18 de setembro, no brasão de 
armas do nascente Império, elas apareciam, um círculo de 19 
estrêlas, rodeando a esfera annilar. Note-se que a idéia de 
estrêlas a simbolizarprovíncias era um símbolo federal e 
americano - já o haviam adotado os Estados U lúdos. Estas 
Rc\ ista de Ci('mia Polítil" 
- 25 
estrêlas reapareciam na Ordem do Cruzeiro do Sul (D. PE­
DRO I, com seu bom gôsto e seu espírito romântico, volvia 
sempre aos temas tropicais): ao invés da reprodução da cons­
telação, uma cruz de estrêlas, em número igual ao das pro­
víncias. 
A Constituição do Império logo dizia no artigo 2.0: 
"seu território é dividido em províncias na forma que atual­
mente se acha". Era o reconhecimento do fato sócio-cultural 
das províncias, nascidas da História, aquelas específicas que 
aí havia, não outras: concretamente Minas, Bahia, Pernam­
buco, etc. O Parlamento também reconhecia o fato: cada 
província tinha o número de deputados de acôrdo com a 
população e a metade de senadores. Mas, era muito econô­
mica, no que se refere aos podêres das províncias. Haveria 
um Conselho Geral da Província, eleito, de atribuições res­
tritivas e um presidente de província, nomeado. Na parte 
administrativa, a Constituição reservava dois magros artigos 
às províncias, e, a respeito dos Conselhos Gerais, apenas um 
pouco mais: 19. Um pormenor que nem todos conhecem a 
respeito do regime puramente unitário do Império (da In­
dependência ao Ato Adicional): não havia orçamento pro­
vincial e o orçamento geral do Império reservava as dotações 
para as províncias. 
Sente-se que D. PEDRO adotava um unitarismo assim 
tão rígido, por fôrça de duas experiências desagradáveis da 
fase inicial de seu govêrno. Primeiramente, vira, com a guer­
ra da Independência, que não era fácil ao govêrno, do Rio 
de Janeiro, fazer-se obedecido por todo o território brasileiro: 
custara-lhe muito implantar a Independência nas províncias 
do Norte. Mais: quando regente, queixava-se de ser, de fato 
e apenas, o vice-rei do Rio de Janeiro. Mais, por aquela épo­
ca, eram fortes os sentimentos de amor-próprio provincial e, 
significativamente, FREI CA:-.lECA, o grande adversário do 
jovem Imperador, defendia em seu jornal o separatismo co­
mo coisa muito natural. :l E daí a presença de uma ideologia 
.; Frei C\.\t:c.\ CSUt"\l'U um artigo dc\t'ras l'xtraordinário. no flual justificava, como 
'i cuisa mai~ natural dêste mundo, que cada Pro\íncia se fizes."'C independente. adotando o 
Tt"gime político que lhe agradasS(" mais, E mostra\a com exemplo! .. 
ahriljjullho 196!1 
- ~(i -
federalista, com êsse nome exato, entre as correntes de opi­
nião que provocaram a agitação que levou ao 7 de abril. Po­
demos dizer que D. PEDRO I foi derrubado pela conjunção de 
três ideologias: o federalismo, o parlamentarismo e o nativis­
mo (era o português a chefiar a nação agressivamente brasi­
leira de então). Daí ninguém se espantar se o artigo 1.0 do 
projeto de reforma da Constituição, apresentado após a abdi­
cação, proclame enfàticamente: "0 Govêrno do Império do 
Brasil será uma monarquia federativa". Isto, mais a abolição 
do Poder :\loderador, da vitaliciedade do Senado, e a cria­
ção de assembléias provinciais era o que desejava a maioria 
exaltada da Câmara dos Deputados. Tudo isto foi bastante 
combatido, não só pelo Senado, que muito naturalmente 
(era o poder conservador e todos os senadores de nomeação 
de D. PEDRO I) reagia. Mas. na Câmara dos Deputados tam-
bém vozes combateram a reforma, quer entre moderados, 
como EVARISTO, HO:'\ÓRIO HERMETO e VASCO:'\CELOS, como 
também, e naturalmente, caramllrllS, como REBOUÇAS - o 
líder negro foi quem melhor defendeu a inteireza da Cons­
tituição de D. PEDRO I. 4 
Conseguida a fórmula mediana - não se tocaria n0 sis­
tema geral do Império (menos a abolição do Conselho de 
Estado), mas criar-se-iam assembléias de Província - veio a lei 
de 12 de outubro de 1832 e, afinal, o Ato Adicional. O pro­
jeto que deu origem a êle, de autoria de uma Comissão com­
posta de BER:'\ARDO PEREIRA DE VASCO:'\CELOS, A:'\TÔ:--':IO PAU­
LI:\'O LL\IPO DE ABREU e FRA:'\CISCO DE PAULA DE ARAÚJO E 
ADIEIDA, ofereceu seu projeto a 7 de junho de 1834. ~luita 
coisa do mesmo foi rejeitada: e como as atas parlamentares do 
período são muito concisas, não conseguimos apurar as razões 
das alterações. Parece que ninguém, menos o gênio de V AS­
CO:'\CELOS, percebeu a importância de certas inovações revo­
lucionárias, ou mesmo bastante reacionárias. Podemos dizer 
que a aprovação do projeto de VASCO:\'CELOS teria evitado o 
problema da Federação em 1889 mas teria impedido a abo-
l \'Cf o .. di~lIrs{)<; amplo' (' muito ht:ln (oll'"truído,,> qUl" proferiu. em ~tI;t obra -
Ut'curc!(lçÕf',\ d(i "ida Par{amo/lm (Rio. IH7U). 
Rt:\ ista dt: Ciêlll ia I'olíti, a 
- c.!.i -
lição .. :\. história dos anos de 1888 e 1889 foi escrita em 
conseqüência de não terem aprovado o projeto como estava 
redigido. 
São os seguintes os dispositivos que caíram em plenário, 
de histórica importância. Caíram, aparentemente, sem de­
bates. 
a) O artigo 10, que trata da competência da Assem­
bléia, dizia logo no § 1.0: "Sôbre as pessoas não lines, exce­
tuado o que diz respeito ao seu tráfego externo". Ora, par­
tindo da fórmula americana, que TAVARES BASTOS cita, apesar 
de ser a nulificação de tôda a sua ideologia, "freedom is na­
tional, s/aver)' is sectional", não teria havido abolição da es­
cravatura, pois as províncias escravagistas conservariam por 
muito tempo o nefando instituto. Foi a centralização impe­
rial que permitiu, de fato, as leis de 28 de setembro e de 13 
de maio. Isto e mais o poder moderador. Uma tentativa em 
têrmos violentos, como nos Estados Unidos, não daria em 
guerra de secessão, mas na tomada do govêrno do Rio pelas 
fôrças escravagistas, concentradas em Minas e Rio de Janeiro. 
:\. capital do Império era bloqueada pelas províncias mais 
fortemente interessadas na escravidão. 
b) Já o artigo 22 dispunha, entre as atribuições dos 
Presidentes de Província. o seguinte. em seus §§ 1.° e 2.°, 
respectivamente: 
"I. ° - Nomear, dentre os deputados provinCIaIS, até 
seis conselheiros, a quem ouvirá na sanção das leis, e em todos 
os negócios graves da administração provincial e removê-los 
quando julgar conveniente .. -\s funções dos conselheiros ces­
sam em todo caso. logo que toma posse nôvo Presidente". 
"2.° - ~omear, para um ou mais municípios, delega­
dos, que serão incumbidos de aprovar provisàriamente as pos­
turas das Câmaras ~1 unicipais, promover a sua observância 
e executar as ordens do Presidente da Província." 
O primeiro elos dois incisos teria tornado a ideologia fe­
deralista sem sentido: teria surgido um parlamentarismo 
provincial e o Império a funcionar com um regime em esti-
,",ril junho 1969 
- 28 -
lo canadense e australiano, de associação entre federação e o 
govêrno de gabinete. O segundo seria um corretivo à auto­
nomia dos municípios e um executivo municipal técnico, ao 
lado da Câmara. Não falta quem defenda a idéia hoje, pela 
triste experiência de muitas eleições de prefeitos que te­
mos ... 
O Parlamento aprovou as assembléias provinciais e o 
presidente nomeado, com poder executivo pleno. Muito mais 
tarde, a idéia dos conselhos viria a ser defendida; foi proje­
to de lei aprovado pela assembléia do Rio Grande do Sul, 
vetado por inconstitucional (era atribuição da Assembléia 
Geral) e copiosa e brilhantemente defendido pelo Visconde 
de OURO PRÊTO) em seu sólido e profundo relatório sôbre a 
Reforma Administrativa e M unicipal. ~, 
O importante é que o futuro Visconde de ABAETÉ) ao 
apresentar à Regência o Ato Adicional para ser sancionado, 
proclamou que êle fizera justiça ao ideal federalista. Admitia­
se que o Império tornara-se uma federação, graças à autono­
mia das assembléias. Na prática, teríamos um poder legisla­
tivo com amplas atribuições. um executivo nomeado, que 
chefiava a administração sediada na província, fôsse geral, fôs­
se provincial, quer civil, quer militar. 
O sistema do Império tinha as seguintes vantagens: 
a) evitava paralelismos de serviços públicos; 
b) criava um representante do govêrno central nas pro­
víncias;c) permitia a delegação (em certa época, pràticamente 
todos os empregados públicos gerais nas Províncias podiam 
ser preenchidos por atos dos presidentes); 
d) criava um centro de unidade e ação na atividade ad­
ministrativa local. 
Eram seus defeitos: 
a) atribuiu às Províncias o ensino primário, que devia 
ser nacional, por ser expressão de um direito do cidadão; 
:; ni~lltimos as idéias do Vi~cond(' de Ol'RQ PRÊTO em . ., Democracia Curoada (2. 1 
c.'dição. Petrópolis. I !Hi4 c . .J Formaçãu do f"drrali,,,,,u riO Brmi/. já dtada). 
Rc\ isla de Ciência Polílit<l 
- ~9 -
b) entregou o contrôle da administração provincial a 
um agente do gabinete, e assim, da política do partido domi­
nante, o que terminou criando graves tensões entre o executi­
vo provincial de um partido e o legislativo, de outro; 
c) pela importância eleitoral do presidente, havia mu­
danças constantes e descontinuidade administrativa. 
Um efeito paradoxalmente benéfico de um mal: como 
os presidentes eram agentes da política dos gabinetes, êles 
montavam e desmontavam as máquinas partidárias nas pro­
víncias, e assim, evitavam o monopólio da política por um 
grupo, natural conseqüência da implantação da democracia 
num território despovoado. 
Resta considerar duas questões especializadas, a da Jus­
tiça e a das Finanças: 
I. Houve uma fase de aplicação do Ato Adicional, em 
que se entendeu que o poder judiciário fôsse provincial: tal­
vez, por uma já presente influência americana, admitia-se o 
caráter provincial da justiça de primeira instância. A famo­
sa lei de Interpretação do Ato Adicional repôs as coisas em 
seus lugares e manteve-se claro o caráter nacional da magis­
tratura, os juízes de direito sendo, bem, juízes de fora - à 
parte, representantes da soberania nas localidades. Os resul­
tados, sabemos, foram benéficos, pois D. PEDRO 11 era, em ex­
tremo, zeloso na nomeação e promoção dos magistrados. 
2. Com relação ao problema financeiro, anota o Vis­
conde de URUGUAI} não sem ironia, as esperanças exageradas 
do Ato Adicional, que parecia ter estabelecido o reino de Sa­
turno de virgiliana origem. Mas o resultado foi a falência 
generalizada das Províncias, sendo o Govêrno imperial força­
do a consignar, nos orçamentos, dotações do auxílio às Provín­
cias, não em forma de empréstimos, mas de doações, mesmo. 
O orçamento para o exercício de 1840-1841 consignou um su­
primento de 669 contos de réis (moeda da época), para auxi­
liar a tôdas as Províncias, menos Rio de Janeiro, São Paulo e 
Rio Grande do Sul. .. Durou, aliás, ] 3 anos o sistema de 
ahriljjunho 1969 
suprimentos, que somente cessou com a lei de Interpretação 
e a volta da justiça e outros serviços ao Govêrno central. 
Resumindo, nós podemos dizer que o Império tentou. 
com alguns resultados e alguns insucessos, estabelecer um cri­
tério de unidade na diversidade. com base num sistema de 
contrôles e delegações que, em certos casos (Polícia, por 
exemplo) funcionaria perfeitamente. O sistema fundava-se 
na Inspeção do órgão inferior pelo superior, que podia, ade­
mais, afastar o agente. Isto, do Imperador ao inspetor de quar­
teirão, consoante a fórmula. Tah'ez que, se houvessem vin­
gado as propostas do projeto VASCO:\CELOS. os resultados fôs­
sem satisfatórios. fl 
2 o A Solllção Norfe-Americana 
A Federação estava por detds de todos os movimentos 
políticos que agitaram o Brasil nos derradeiros dias de D. PE­
DRO 11, dias que seriam os últimos, de qualquer modo, pela 
doença do soberano. Os republicanos liberais falavam mais 
em Federação do que em qualquer outra coisa, os positivistas 
sonhavam com as matrias, pequenas repúblicas do tamanho da 
Bélgica e, assim, a plena separação, os liberais moderados 
queriam autonomia plena, respeitando, porém, as bases ge­
rais da Constituição: os liberais exaltados, com ReI BARBOSA 
à frente, queriam a plena federação; JOAQUI~I I\'ABUCO, que 
representava uma linha diferente, de fidelidade monárquica 
e democracia social, também desfraldava a bandeira federa­
lista. Parece que o jovem RIO BRA:\CO era o único elemen­
to da nova geração que não apoiava a Federação e a consi­
derava retrocesso. A razão de tudo isto era simples: as Provín­
cias, durante os largos anos da paz imperial e graças à sábia 
política ferroviária, teimosamente executada, haviam progre­
dido e queriam go\'êrno próprio. Era a ideologia federalis­
da expressão do espírito de patriotismo local. impondo go-
(I Yidc E\tudos Práticos .\()bre a Admitlistrnção das Prol'incia.~, (Rio, 1865) - § 19.~ 
(I volume, p. 2~~2) c §§ 203. 204 c 205 (p. 245-2;)0), cuja leitura seria simplesmente edi­
ficantc aos bra'iileiros de um ,éculo dcpoi~. Y31l' () (!ir/um do francês: "PIus ça rhange. 
plu!I C>cst la même chosc" (Y. Apêndk(') 
Re\·ista de Ciioncia Política 
- ~l -
vemos que fôssem criaturas da política local. A Questão mi­
litar, derrubando sübitamente o Império, permitiu que RUI 
surgisse ministro de uma ditadura e. afinal adotasse, pelas 
armas, a Federação. 
Como se sabe, a Constituição de 1891 foi decalcada no 
estatuto yanhee. De um modo geral, copiou-se o que havia 
em vVashington e, com o tempo, graças ao trabalho de uma 
nova geração de juristas, adotou-se, também, a jurisprudência 
dos tribunais dos Estados L' nidos, como regra de fé, em ma­
téria jurídica. Passavam, segundo insuspeitos depoimentos, 
como reacionários e retrógados, os magistrados que ainda re­
zassem pela cartilha de PIl\IE:\T A BUE:\O e URUGUAI, ao in­
vés dos mestres norte-americanos. Só num ponto importante, 
a mostrar como o conceito de federalismo era diferente entre 
nós, discreparia o texto brasileiro dos modelos norte-america­
nos: se o projeto previa a eleição presidencial indireta, para 
assinalar seu caráter nacional, expressão de tôdas as regiões 
no plenário da Constituinte (a única rebeldia no Congres­
so unânime), adotou-se o alvitre da eleição popular, para 
permitir que o presidente fôsse expressão de grupos defini­
dos, não da comunidade em geral. Como foi dito na ocasião, 
"é mais uma questão de :\'orte e de Sul do que se pensa". 
O regionalismo falou mais forte e os presidentes passariam 
a ser eleitos por uma região determinada, não por todo o 
País ... 
A Constituição de 1891 foi muito estudada em seus as­
pectos jurídicos, formais, como texto; a sua aplicação, porém, 
encobria uma realidade completamente diversa, diversidade 
esta, ligada ao nosso tema. ;\'0 Império, as mudanças de ga­
binete em São Cristóyão significa\'am a substituição de tôda 
a administração e, afinal, deslocamento da maioria no parla­
mento. Ora, a Federação (associada ao sufrágio universal, 
logo depois da Abolição) representou a entrega dos gover­
nos locais aos que dêle tomassem posse no ato da revolução. 
-: Vide Formação do Ff'dt'ra!l\mo 110 Bra.H/. p. 1.')7 t' seguintes. Convém recordar 
que, à vista do texto adotado, estabeleceu-se tranqüilamente o domínio da dupla "café-com­
kitc", isto é, São Paulo (' \1 ina .. , a gOH.Tnar o país durante meio "éculo. 
abril! junho 19m 
- ~~ -
o assunto foi bem estudado por VÍTOR l\'U:'\ES LEAL: a asso­
ciação do sistema representativo em país sem condições so­
ciais para isto, com a plena autonomia das províncias deu, 
exatamente, no que se verificou - o total contrôle político 
pelo grupo dominante; partidos únicos no gênero do PRM, 
no Sul, com a ressalva do Rio Grande do Sul, com a sua cons­
tituição positivista, a continuidade física de BORGES DE ME­
DEIROS e a luta constante dos maragatos ou das famílias oli­
gárquicas no Norte, de qualquer modo, afinal, a presença de 
uma estrutura monolítica em cada Estado, transformada a 
república numa espécie de Sacro Império, com seus prínci­
pes-eleitores, condes-eleitores e barões-eleitores. 8 De fato, os 
presidentes eram eleitos pelos governadores, que faziam os 
deputados e senadores, também: o povo só elegia, de fato, em 
muitos casos, os vereadores. Em outros, nem isto. No Impé­
rio, antes da Lei SARAIVA, convém dizer, o Senador NABUCO 
DE ARAÚJO formularao seu conhecido sorites; nêle o fulcro 
estava nos presidentes "que faziam as eleições". Mas o poder 
moderador, superpartidário, podia mudar os ministérios: daí 
a gangorra. Depois, os governadores continuaram a fazer as 
eleições; não havia o que os tirasse, como antes. f'.les passa­
ram a fazer também os presidentes. Daí o nome que se deu ao 
sistema inaugurado por CAMPOS SALES "política dos governa­
dores". A única limitação era a do tempo: deviam sair e de 
fato saíam, nas datas certas, os presidentes e governadores. 
Mas o grupo dominante era inalterado: as carreiras políticas 
faziam-se como carreiras de funcionários, por acesso ... 
Quando RUI quis quebrar o sistema, na campanha civilista, 
foi tranqüilamente esmagado. 
U ma observação à margem do sistema de 1891: não se 
vexava RUI BARBOSA de dizer que copiara a constituição dos 
Estados Unidos; proclamava-o enfàticamente e parece que 
punha tôdas as suas complacências em dizê-lo. Quem lê, ho­
je, certos textos (plataformas e manifestos do candidato civi­
lista) pensa, à primeira vista, que estivesse fazendo ironia, tão 
~ "ide ~l',"ES L 1::.\ L , Vítor. Loroneli.Hno, e1lxada ,.. I'oto (Rio. 1948) e o nosso A 
Estratificação Social no Rrmi! (S5o Paulo, 19fi.}) onde o fenômeno é estudado ('m seus 
diferentes aspe("tos. 
Rcyista de Cii'ncia Política 
- 3:~ -
repetidamente diz que copiou a constituição americana. Mas. 
vê-se que estava falando sério e que aquilo era título de gló­
ria e cita, logo, a copiosa jurisprudência americana em favor 
da tese que estava defendendo. Dizia sempre que a Consti­
tuição fôra copiada da yanhee e que devíamos entendê-lo à 
luz dos mestres estadunidenses. Hoje seria considerado des­
primoroso alegar-se que certo texto de lei fôsse cópia de mo­
dêlo estrangeiro e, como prova da mudança de mentalidade 
(não citemos preconceitos contra os americanos, hoje), lem­
braríamos que RUI diz, mesmo, coPiar; hoje tal verbo, em 
situações análogas, é quase insultante. 
3. Pallsa para Aleditaçiío 
o sistema de 1891 veio abaixo quando o dispositivo po­
lítico que o apoiava cindiu-se por motivo de ambições desen­
contradas: a Revolução de 1930 mostrou, afinal, que o esque­
ma que funcionara quase meio século era, de fato, resultan­
te de um equilíbrio instável, totalmente precário. Tudo fun­
cionava em virtude de um acôrdo tácito entre os principais 
donos da política; mas se interêsses contrariados, como no 
caso da sucessão de \VASHIXGTOX LUIZ, jogassem uns contra 
os outros, tudo viria abaixo. Como de fato veio. Outro 
exemplo de precariedade do sistema, êsse de política estadual: 
o fim do monopólio de comando no PRM. Até então a au­
toridade do governador sôbre o partido era reconhecida, pois 
a morte repetida dos presidentes de Minas e o afastamento 
espontâneo de outros permitia que em Minas só houvesse 
um chefe: em 1931, de súbito, apareceram três: o Presidente 
OLEGÁRIO MACIEL, e os ex-Presidentes :\XTÔ:'I:IO CARLOS e 
BERNARDES, ambos querendo atuar. 
A Constituição de 1934 durou, como no poema, o tempo 
de uma rósea manhã: nunca entrou em vigor e, propriamen­
te, não existiu do ponto de vista histórico. Foi um esfôrço 
para criar uma pausa de legalidade, num processo revolucio­
nário em andamento, processo que teve origem na quebra 
da legitimidade do pacto de ] 891. :\'ão daria certo. pois as 
ahriU junho 19fi9 
- 34 -
fôrças dominantes não se interessavam em suspender a trans­
formação que se operava no País. A nação, assustada com mi­
lícias integralistas de um lado e golpes comunistas de outro, 
aceitaria uma continuidade de goyêrno, já que o Sr. GETÚLIO 
VARGAS começava a apresentar-se com feição de líder autên­
tico, ao demonstrar capacidade de apresentar objetivos que 
satisfizessem às necessidades coletivas, os meios de atendê-los 
e de fazer alterações sem quebrar os padrões habituais. Nas­
ceu e morreu em meio da indiferença do povo a Carta de 
1934. ~fas, era até muito interessante como construção ju­
rídica: tentava aperfeiçoar em muitos aspectos o nosso direito 
público. E na linha de nosso tema: unificava o processo, lan­
çava as bases de uma legislação de trabalho e previdência, que 
viriam a criar uma área de ação do govêrno federal, destina­
da a colocar, definitivamente, na penumbra, os governos es­
taduais. Talvez merecesse melhor destino a primeira das cons­
tituições brasileiras do século XX - mas "já se ouve o tro­
pel das marchas sôbre Roma, isto é sôbre o pólo das atrações", 
anunciava profeticamente o Sr. FRA:\"CISCO CAMPOS ... 
4. Uma revolução qlle temell a si própria. " " 
Considerado do ponto de vista da Federação, o Estado 
N ôvo reflete uma curiosa contradicão entre a realidade e os , 
hábitos mentais dos homens. De fato, aboliu-se a Federação: 
não havia órgãos representativos locais, o executivo entregue 
a interventores, com um governador em ~linas, cuja posição 
jurídica foi definida claramente, um Conselho Consultivo 
de missão entre fiscalizadora e deliberativa. X a realidade, só 
havia o Presidente da República, cujo poder não possuía li­
mitações. Mas permanecia o extravagante título do País, Es­
tados Unidos do Brasil (cuja extinção em 1967 representa, 
na verdade, o reconhecimento de um fato - ninguém usava 
o título oficial), continuava a haver uma administração es­
tadual, sendo, porém, lícito dizer-se que os Estados eram au­
tarquias, com orçamento próprio e rendas próprias, mas de 
previdência. Um aspecto importante: não havia constituições 
Rc"ista de Cii"ncia Política 
- 35 -
estaduais e ninguém deu pela coisa, senão quando, às vésperas 
do pleito que marcaria a mudança do regime, alguns gover­
nadores andaram outorgando novos estatutos, que ninguém 
chegou a ler. O de Minas Gerais pràticamente foi divulgado 
com a notícia da deposição do Sr. GETÚLIO VARGAS. Foi do­
cumento tão inédito que, se alguém preparar uma coleção 
das constituições estaduais, provàvelmente a omitirá, não por 
uma razão de princípio, por não considerá-la uma verdadeira 
constituição. mas simplesmente por não se lembrar de que 
existiu. 
O Estado 1\ ôvo, afinal, pode ser resumido em duas pa­
lavras no que tange ao Federalismo: manteve no texto cons­
titucional e nos modos de falar tôda a simbólica da Federação: 
aboliu-a, na prática. Qual seria a intenção dos homens? Se­
ria, de fato, a supressão da Federação? Mas, então lhes faltou 
coragem. Talvez, no fundo, acreditassem nela, mas preferi­
ram suspendê-la provisàriamente, até que o nôvo regime 
alcançasse os seus fins próprios e fôsse possível restabelecer 
a democracia. 
Durante o Estado :\'ôvo acentuaram-se transformações no 
sentido da ampliação da legislação trabalhista e de previ­
dência social, assim como de política econômica: a adminis­
tração federal começou a crescer e o número de agentes do 
Govêrno central nos Estados entrou a multiplicar-se. Duran­
te todo o período VARGAS - Govêrno Provisório, regime 
constitucional e Estado:\' ôvo - acentuou-se o predomínio da 
União, criou-se tôda uma esfera administrativa, antes ignora­
da, de responsabilidade do Govêrno federal e atuando no 
interior - era uma terceira fase que se abria, na qual, embo­
ra conservando os Estados parte de sua autonomia e com atri­
buições mais ou menos idênticas às do A.to Adicional, amplia­
va-se a área federal. Se o Presidente da Província era um de­
legado do Govêrno imperial, para administrar os negócios 
gerais na Província e exercer uma certa inspeção sôbre os 
negócios provinciais para evitar desyio, e o fazia pela dire­
ção direta da administração provincial e pela fiscalização da 
ação legislatiya atran's do direito de "eto. se na I República 
a "rill junho 1969 
- 36 -
os governos estaduais gozavam de total domínio e plena au­
tonomia, desconhecidas quase completamente áreas de ativi­
dade do Govêrno federal no interior (reduzidas às reparti­
ções arrecadadoras, aos Correios, aos Telégrafos e ao Exér­
cito) e assim se tornavam os centros da política nacional, no 
sistema nascido depois ele 1930 as capitais dos Estadospas­
saram a ser a sede de uma importante rêde de serviços fede­
rais, que colocavam em segundo plano a administração lo­
cal: se houvesse um delegado da Presidência da República, 
supervisionando tôdas as repartições federais nos Estados, 
teria, certamente. um poder maior elo que o elos goyerna­
dores. 
r,. Restallração e Consolidação 
A. Segunda Guerra Mundial teve duplo efeito no desen­
volvimento das idéias políticas: 
a) restabeleceu o valor das idéias de liberdade e repre­
sentação, em crise desde o início do século, pelo empobreci­
mento ideológico do liberalismo, pela inconsistência dos par­
tidos, pela falta de objetivos gerais da política - e, como isto, 
muitos livros se escreveram para dar conteúdo nôvo à De­
mocracia, sem que se precisasse de usar os argumentos antigos 
e, embora seja numerosa a literatura a respeito, gostaria de 
recordar a influência de MARITAI:\", que, ademais de dar uma 
base filosófica sistemática e racionalmente fundada à idéia 
democrática que, aliás, sempre fôra muito pobre filosàfica­
mente, superara o abismo entre as idéias de Democracia e 
Cristianismo; 
b) incluiu definitivamente entre os objetivos do Esta­
do democrático a segurança para todos e, portanto, o fim da 
miséria, do desconfôrto e da ignorância. Eram as famosas 
q1latro liberdades; 
c) em conseqüência da participação dos domínios colo­
niais na libertação das metrópoles e da guerra, levada a todos 
os cantos do mundo, a política passou a ser pensada em têr-
Revista de Ci"mia Políti,,, 
- 3i -
mos mundiais e o mundo começou a considerar que todos 
os povos possuíam iguais direitos de acesso aos bens de cultu­
ra e da civilização - e que havia nações subdesenvolvidas. 
Como conseqüência, surgiram planos nacionais e inter­
nacionais de luta contra a fome, contra a insegurança eco­
nômica, contra os desníveis de desenvolvimento. No quarto 
de século que se sucedeu à derrota do Eixo, não se fêz senão 
acentuar êsse movimento, por vêzes de forma desordenada. 
Tudo isto yeio influir na elaboracão da nova Constitui-, 
ção que, conservando os esquemas gerais (presidencialismo 
e federação do tipo americano), consolidou e incorporou ao 
direito constitucional democrático as conquistas sociais, con­
substanciadãs num título (V) da Ordem Econômica e Social, 
aliás muito bem elaborado doutrinàriamente, no qual não 
110S deteremos, por ser matéria alheia ao tema. Queremos 
apenas registrar o fato, pois representava, afinal de contas, 
uma possibilidade infinita de ampliação da área de influên· 
cia do Govêrno federal. Podemos dizer assim que o signifi­
cado da carta de 1946 reside no fato de consolidar e incor­
porar ao direito público de fundo democrático o direito do 
Estado, vale dizer, da União, de intervir na vida econômica, 
ter uma política econômica e social, pondo fim ao indivi­
dualismo liberal. 
O regime de 1946, como o de 1961, terminou por uma 
revolta do govêrno de Minas, agora, contra as tendências que 
surgiam de modificação da ordem social, presentes no Govêr­
no federal. Com a revolução de abril de 1964, embora con­
servado nominalmente o estatuto de 1946, verificou-se que 
seus dias estavam contados, não sàmente por uma série de 
atos editados por forma não ortodoxa e regular, como tam­
bém, por ter sido uma ação de claro e inequívoco rompimento 
da ordem vigente. 9 Se, em sua curta e conturbada história, 
a Carta de 1946 tinha visto muitos afastamentos de presiden­
tes, geralmente, procurava-se uma fórmula capaz de ocultar a 
~ Ver sôbre o movimento de I ~It)-t l' suas implitaçõcs ideológicas Ra:ão t' D~stino da 
Revolução (Petrópolis, 1964); sôbre os fundamentos teóricos da crise brasileira estamos con­
cluindo um ensaio Os Avatar~s do esPírito revolucionário. 
abril;junho 1969 
- 38 -
quebra da ordem legal das coisas. Salvavam-se as aparências 
sempre, embora todos sentissem que a ordem jurídica se trans­
formava, ràpiclamente, num disfarce. Como na imagem conhe­
cida de EçA) era o "manto diáfano da fantasia", isto é, do res­
peito à lei, a encobrir a "nudez forte da verdade", isto é, 
uma realidade política totalmente confusa. uma realidade 
política de fôrças em luta e de nenhuma ordem jurídica real­
mente admitida em sua substância. Havia. efetivamente, 
uma legalidade mais ou menos respeitada. nunca uma legi­
timidade plena ... 
Do ponto de vista da Federação, essa realidade era a se­
guinte: conservavam-se as fórmulas tradicionais, mas os Es­
tados começavam a definhar: em face de um Govhno federal, 
tendendo à onipotência. os Estados minguaYam. A Federação 
mantinha-se, de fato, por tradição. Surgiam, por exemplo, ór­
gãos como a SUDE~E, uma espécie de Govêrno supra-estadual, 
mais poderoso que todos os Estados. E os governadores, antes 
os arrogantes donos da política republicana, passaram a fazer 
antecâmara aos ministros, pedindo verbas para seus serVICOS . . . 
maIS essenCIaIS. 
6. Perspectivas clt' renovação 
:\ decisão tomada no último dia de março de 1964 signi­
ficou o rompimento com a ordem jurídica anterior, muito 
embora ninguém desejasse senão evitar que a evolução dos 
acontecimentos precipitasse ° País numa transformação re­
volucionária. Como os fatos costumam falar mais alto do que 
a vontade deliberada dos homens, as intenções foram vencidas 
pela fôrça dos acontecimentos, britada a legitimidade consti­
tucional de 1946 (ou mais rigorosamente a quase-legitimida­
de, para usar da linguagem de FERRERo), a boa vontade da­
queles que pensavam ter havido apenas o afastamento manu­
militari de um Govêrno que estava pondo abaixo a ordem 
jurídica, foi ultrapassada pelos fatos. :'\ão se impediu uma 
revolução. mas fêz-se outra_ :\final. em 1967. nasceria outra 
Re,ista de Ci0mia Polítka 
- 39 -
constituição, que consolidaria a nova ordem jurídica. O Go­
vêrno CASTELO BRA:\'CO representou um paradoxo - man­
teve-se nominalmente uma constituição, para evitar que se 
ficasse no vazio jurídico: mas ela ia sendo, aos poucos, des­
montada, até que viesse a nova. E essa, para o nosso caso? 
As fontes que, em geral, inspiraram as transformações 
do presente estão, grandemente, associadas à doutrina da Es­
cola Superior de Guerra. Resumidamente, ela se funda em 
dois princípios: 
a) o da Segurança Xacional, que envolve um amplo 
contexto de relações, que vão da ordem social, da democra­
cia como garantia do indivíduo, até o desenvolvimento eco­
nômico; 
b) o dos Objetivos Xacionais Permanentes, que cons­
tituem temas em que todos os partidos, classes e correntes 
devem estar, sempre, distintos dos Objetivos Nacionais 
Atuais, que são variáveis e atendem a circunstâncias. Por ou­
tras palavras: na Política influem Razões Nacionais, Interês­
ses Seccionais e Paixões da Hora. 
A. doutrina da ESG influiu bastante na elaboração legis­
lativa paralela à Carta de 1964 e nela também. E, certamente 
no que tange à nova colocação do tema da Federação. Natu­
ralmente essa foi mantida - mas, como muito sentido da es­
tética política, aboliu-se a denominação de Estados Unidos, 
sem sentido e que jamais entrou em uso. Continuava, porém, 
a definir o Brasil como república federativa e os Estados com 
direito a constituições próprias, embora de escassa área de 
ação. A área da competência da União tornou-se maior. (No 
parágrafo seguinte transcreveremos o que dizem as Cartas de 
1891,1946 e 1967, sôbre a competência da União, para se ver 
a evolução). No que diz respeito ao problema da discrimi­
nação de rendas, que vem dando trabalho desde os dias do 
Ato Adicional (como prova o Visconde de URUGUAI que, 
como presidente do Rio de Janeiro teve de elaborar, ex­
nihilo, o primeiro orçamento provincial e nos famosos Estu­
dos Práticos sôbre a Administração das Províncias escreveu 
ahril/junho 1909 
- 40 -
tantas pagmas sôbre o assunto) foi colocado ele modo siste­
mático numa tentativa de planejamento da repartição tri­
butária. Na Emenda Constitucional 11.° 18, adotou-se até 
um sistema de classificação de tributos, por espécie e fixan­
do-se a atribuição decada esfera de influência. A Constitui­
cão, embora mantendo mais ou menos a mesma discrimina-
o 
ção, mudou a disposição da matéria. para conservar a ma-
neira tradicional. 
Onde, provàvelmente, o regime principiado com o Go­
n:~rno CASTELO BRA:\'CO começou a inovar na área que estu­
damos, foi, sem dúvida, na Reforma Administrativa. Dois 
princípios foram adotados pelo Decreto-lei n. ° 200/66: 
a) o do planejamento: tentar fixar critérios gerais esca­
lonados, de tal modo que, para cada linha de atividade. haja 
uma única repartição, abolindo as distorções e os paralelismos 
anteriores: 
b) descentralização: o órgão central seria apenas nor­
mativo e planejador, cabendo a execução aos órgãos locais. 
Um exemplo interessante é o do Instituto Nacional de 
Previdência SociaL a mais importante repartição federal, ho­
je, e a primeira a pôr em prática os princípios da Reforma Ad­
ministrativa e cuja instituição marca o nôvo regime. É a se­
guinte a organização do INPS: 
a) autoridades norma ti \'as centrais, constituídas pelo 
Presidente do Instituto, seu Diretor-Executivo, os SecreLt­
rios-Executivos para cada linha especializada: Serviços Ge­
rais, Seguros Sociais e Patrimônio. A êstes órgãos centrais ca­
bem, apenas, as grandes decisões: elaboração do orçamento­
programa, demissão e admissão de servidores, fixação de nor­
mas gerais e a interpretação das leis e regulamentos: 
b) órgãos de orientação e contrôle, estaduais, destina­
dos a acompanhar e controlar a execução das normas: no lu­
gar das antigas delegacias temos uma Superintendência Re­
gional e Coordenadores ele linhas, correspondentes às di­
versas Secretarias-Executivas. Ao Superintendente, em prin­
cípio. cabe supervisionar e dirigir a administração do INPS 
- 41 -
no Estado e aos coordenadores, comandar a execução em cad 1 
setor especializado e verificar se a execução está sendo fei a 
corretamente, etc.; 
c) agentes de execução local: agências e postos de b~­
nefícios. O Ir\PS é a mais revolucionàriamente descentra li­
zada repartição pública do Brasil. Até hoje muitas pessoas a d­
miram-se quando informamos que os processos de benefíc io 
são decididos nas agências e sobem à Coordenação de Se~;u­
ros Sociais únicamente para a revisão ou em caso de dúvidas 
ou divergências de pontos de vista. 
Ora, como há representantes e correspondentes em to­
dos os municípios, e agências amplamente descentralizadas 
nos maiores, o resultado é que o INPS cobre hoje o país com 
uma rêde de serviços sem precedentes em nossa História. E 
como conseqüência, obviamente, temos algo de nôvo: uma 
repartição única para cada tipo de serviços e plenamente des­
centralizada. Diante disto, o critério federal de vários cer.tros 
de decisão autônomos, locais ou específicos, desaparece. . O 
estudo da ação futura do INPS poderá servir de base para 
uma recolocacão radical do tema da Federacão no Brasil , , 
'/ . Comparações 
:\'ada melhor ilustra a evolução da Federação que I) tex­
to sêco de três constituições típicas. 
Era a seguinte a competência da União. no regn.lc de 
1891 : 
Artigo 34 - Compete pri"ativame11le ao Congres~,o l'a­
cional: 
5.° - Regular o Comércio Internacional, bem como o 
dos Estados entre si e com o Distrito Federal, alfandegar por­
tos, criar ou suprimir entrepostos. 
6.° - Legislar sôbre navegação dos rios que banhem 
mais de um Estado. ou se estendam a territórios estra ngeiros. 
,,"ril, jllnho 196\1 
- 42 -
7.0 - Determinar o pêso, o valor, a lllscnçao, o tipo e 
a denominação das moedas. 
8.° - Criar bancos de emissão, legislar sôbre ela e tri­
butá-la. 
9.° - Fixar o padrão dos pesos e medidas. 
10 - Resolver definitivamente sôbre o limite dos Esta­
dos entre si, os do Distrito Federal e os do Território N'acio­
nal com as nações limítrofes. 
11 - Autorizar o govêrno a declarar guerra, se não ti­
ver lugar ou malograr-se o recurso do arbitramento e a fazer 
a paz. 
12 - Resolver definitivamente sôbre os tratados e con­
venções com as nações estrangeiras. 
13 Mudar a capital da União. 
14 Conceder subsídios aos Estados na hipótese do 
Art. 5.°. 
15 - Legislar sôbre o servIço dos correIOS e telégrafos 
federais. 
16 .-\dotar o regime cOl1\'eniente à segurança das fron· 
teiras. 
17 Fixar anualmente as fôrças de terra e mar. 
18 Legislar sôbre a organização do exército e da ar-
mada. 
19 - Conceder ou legar passagens a fôrças estrangeiras 
pelo território do País, para operações militares. 
20 - Mobilizar e utilizar a guarda nacional ou milícia 
cívica, nos casos previstos pela Constituição. 
21 - Declarar em estado de sítio um ou mais pontos do 
território nacional na emergência de agressão por fôrças es­
trangeiras ou de comoção interna e aprovar ou suspender o sÍ-
Rc\ista de Ciênlia Po!ítit;! 
- 43 -
lÍo que houver sido declarado pelo poder executivo, ou seus 
agentes responsáveis na ausência do Congresso. 
22 - Regular as condições e o processo da eleição para 
os cargos federais, em todo o país. 
23 - Legislar sôbre o direito civil, comercial e criminal 
ela República e o processual da justiça federal. 
24 - Estabelecer leis uniformes sôbre a naturalização. 
25 - Criar e suprimir empregos públicos federais, fixar­
lhes as atribuições e estipular-lhes os vencimentos. 
26 - Organizar a justiça federal nos têrmos dos Arts. 
55 e seguinte da seção lU. 
Conceder anistia. 
28 Comutar e perdoar as penas impostas, por crimes 
ele responsabilidade, aos funcionários federais. 
29 Legislar sôbre terras e minas de propriedades da 
União. 
30 - Legislar sôbre a organização municipal do Distri­
to Federal, bem como sôbre a polícia, o ensino superior e os 
elemais serviços que na capital forem reservados para o govêr­
no da União. 
31 - Submeter à legislação especial os pontos do Terri­
tório da República necessários para a fundação de arsenais 
ou outros estabelecimentos e instituições de conveniência 
federal. 
32 - Regular os casos de extradição entre os Estados. 
(Note-se que a matéria vem como atribuição do Poder 
Legislativo da União). 
Já em 1946, a situação era a seguinte: 
Artigo 5.° - Compete à União: 
I - Manter relações com os Estados estrangeiros e com 
êles celebrar tratados e convenções. 
,tI>ril junho 1969 
- H-
II - Declarar guerra e fazer a paz. 
III - Decretar, prorrogar e suspender o estado de sítio. 
IV - Organizar as fôrças armadas, a segurança das fron· 
teiras e a defesa externa. 
V - Permitir que fôrças estrangeiras transitem pelo ter­
ritório nacional, ou por motivo de guerra nêle permaneçam 
temporàriamente. 
VI - Autorizar a produção e fiscalizar o comércio de 
material bélico. 
VII - Superintender, em todo território nacional. os 
serviços de política marítima, aérea e de fronteiras. 
VIII - Cunhar e emitir moeda e instituir bancos de 
emissão. 
IX - Fiscalizar as operações de estabelecimento de 
crédito, de capitalização e de seguro. 
X - Estabelecer o plano nacional de viação. 
XI - Manter o serviço postal e o Correio Aéreo :\acio-
na!. 
XII - Explorar diretamente ou mediante autorização 
ou concessão, os serviços de telégrafos, de radiocomunicação. 
de radiodifusão, de telefones interestaduais e internacionais, 
de navegação aérea e de vias férreas que liguem portos maríti· 
mos a fronteiras nacionais ou que transponham o limite de 
um Estado. 
XIII - Organizar defesa permanente contra os efeitos 
da sêca, das endemias rurais e das inundações. 
XIV - Conceder anistia. 
XV - Legislar sôbre: 
a) Direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, 
aeronáutico, do trabalho e agrário; 
b) Normas gerais de direito financeiro; de seguro e 
providência social, de defesa e proteção da saúde e de regime 
penitenciário; 
Rc, i"a de Ciência Políli", 
-15 
c) Produção e consumo; 
d) Diretrizes e bases da educação nacional; 
e) Registros públicos e juntas comerciárias; 
f) Organização, instrução, justiça e garantias de polí­
cias militares e condições gerais da sua utilização pelo Go­
vêrno Federal nos casos de mobilização e de guerra;g) Desapropriação; 
h) Requisições civis e militares em tempo de guerra: 
i) Regime dos portos e da nayegação de cabotagem; 
j) Tráfego interestadual; 
k) Comércio exterior e interestadual; instituições de 
crédito, câmbio e transferência de yalôres para fora do País; 
I) Riquezas do subsolo, mineração. metalurgia. águas, 
energia elétrica, florestas, caça e pesca; 
m) Sistema monetário e de medidas; título e garan­
tias dos metais; 
n) :t\' aturalização, entrada. extradição e expulsão de es­
trangeiros; 
o) Emigração e imigração; 
p) Condições de capacidade para o exercício elas pro­
fissões técnico-científicas e liberais; 
q) Uso dos símbolos nacionais: 
r) Incorporação dos selvícolas à comunhão nacional. 
Atualmente temos: 
Artigo 8.° - Compete à União: 
I - Manter relações com Estados Estrangeiros e com 
êles celebrar tratados e convenções; participar de organiza­
ções internacionais. 
II - Declarar guerra e fazer a paz. 
IH - Declarar estado ele sítio. 
IV - Organizar as fôrças armadas; planejar e garantir 
a segurança nacional. 
,",ril :jullho 19G9 
-111 -
v - Permitir, nos casos previstos em lei complementar, 
yue fôrças estrangeiras transitem pelo território nacional ou 
nêle permaneçam temporàriamente. 
VI - Autorizar e fiscalizar o comércio de material bé-
lico. 
VII - Organizar e manter a polícia federal com a fina­
lidade de prover: 
a) os serviços de polícia marítima. aérea e de frontei-
ras; 
b) a repressão ao tráfego de entorpecentes: 
c) a apuração de infrações penais contra a segurança 
nacional, a ordem política e social, ou em detrimento de bens, 
serviços e interêsses da União, assim como de outras infra­
ções, cuja prática tenha repercussão interestadual e exija re­
pressão uniforme segundo se dispuser em lei: 
d) a censura de diversões públicas. 
VIII - Emitir moeda. 
IX - Fiscalizar as operações de crédito, capitalização c 
de seguros. 
X - Estabelecer o plano nacional de viação. 
XI - Manter o serviço postal e o Correio .-\éreo Xacio-
na!. 
XII - Organizar a defesa permanente contra as cala­
midades públicas, especialmente a sêca e as inundações. 
XIII - Estabelecer e executar planos regionais de de­
senvolvimento. 
XIV - Estabelecer planos nacionais de educação e saú-
de. 
XV - Explorar. diretamente ou mediante autorização 
ou concessão: 
a) os serviços de telecomunicações: 
b) os serviços e instalações de energia elétrica de qual­
quer origem ou natureza: 
Re\'ista de Ci"l1cia Política 
- 47 
c) a navegação aérea; 
d) as vias de transporte entre portos marítimos e fron­
teiras nacionais ou que transponham os limites de um Es­
tado ou Território. 
XVI - Conceder anistia. 
XVII - Legislar sôbre: 
a) a execução da Constituição e dos servIços federais; 
b) direito civil, comercial, penal, processual, eleito­
ral, agrário, aéreo, marítimo e do trabalho; 
c) normas gerais e direito financeiro; de seguro e pre­
vidência social, de defesa e proteção da saúde; de regime pe­
nitenciário; 
d) produção e consumo; 
e) registros públicos e juntas comerciais: 
f) desapropriação; 
g) requisições civis e militares em tempo de guerra; 
h) jazidas, minas e outros recursos minerais; metalur­
gIa; florestas, caça e pesca; 
i) águas, energia elétrica e telecomunicações; 
j) sistema monetário e de medidas; título e garantia 
dos metais; 
1) política de crédito; câmbio, comércio exterior e in­
terestadual; transferência de valôres para fora do País; 
m) regime dos portos e da navegação de cabotagem, 
fluvial e lacustre; 
n) tráfego e trânsito nas vias terrestres; 
o) nacionalidade, cidadania e naturalização; mcorpo­
ração dos selvícolas à comunhão nacional; 
p) emigração e imigração: entrada, extradição e expul­
são de estrangeiros; 
q) diretrizes e bases da educação nacional: normas ge­
rais sôbre os desportos; 
r) condições de capacidade para o exercício das profis­
sões liberais e técnico-científicas: 
ahriJljunho 1969 
-lR -
S) uso dos símbolos nacionais; 
t) organização administrativa e judiciária do Distrito 
Federal e dos Territórios; 
u) sistema estatístico e cartográfico nacionais; 
v) organização, efeitos, instrução, justiça e garantias 
elas polícias militares e condições gerais de sua cOl1\'ocação, in­
clusive sua mobilizacão. , 
7. I . Excursus sôbre a divisiio admillistrativa. 
0:ão nos têm faltado ensaios de rever o mapa elo Brasil. 
segundo os mais variados critérios, com algumas contradições 
interessantes: se uns querem Estados pequenos, para serem 
bem administrados, outros preferem grandes, para terem bas­
tante poder. Tudo é relativo: "tamanho não é documento", 
eliz o samba de l\OEL ROSA. O que não se entende é que, se 
,'amos dissolver a atual divisão, de caráter histórico-social, 
que gerou tipos definidos (mineiros, paulistas, etc.), com 
suas respectivas lealdades - os Estados brasileiros são autên· 
ticas províncias, isto é, comunidades de vida, de costumes, 
culturalmente diversificadas, não meras e artificais divisões 
administrativas - e substituí-la por outra, feita no mapa, ain­
da se fale em Federação. Não seria mais lógico, se há razões ele 
queixas contra a divisão atual, deixar de lado a Federação, 
considerar os Estados como províncias apenas (como em 
França, onde a Bretanha, a Normandia, etc. continuam a 
existir) e redistribuir os serviços locais segundo um critério 
de descentralização: os problemas locais seriam resolvidos pe­
los órgãos locais de cada ministério, abolindo-se a divisão entre 
repartições estaduais e federais: a Delegacia de Educação de 
tal região exerceria, por delegação do Ministério da Educa­
ção, todos os atos relativos à administração do ensino em sua 
jurisdição, tanto primário, como secundário, etc. Certamente 
haveria, nas capitais dos Estados ou grandes centros, órgãos 
regionais de supervisão e contrôle, e também, as jurisdições 
não coincidiriam entre si. Por exemplo: a jurisdição das 
agências do INPS diferentes das zonas de influência das de­
legacias elo \IEC. Haveria tantos mapas administrativos. 
quantos fôssem os serviços básicos, quantos fôssem os mi­
nistérios. Mas, como os Estados são realmente províncias com 
suas lealdades características, tôdas as tentativas de redivisão 
falharão, pois, na hora de executar qualquer plano, os filhos 
de uma província não permitirão haja seção ou fusão. Se os 
mineiros não gostam de ouvir falar em separatismo do Triân­
gulo, uma fusão dos estados nordestinos provocaria uma 
guerra civil. 
8. Federação e desenvolvimento econômico 
A. geração que fêz a república já estava preocupada com 
o problema do desenvolvimento econômico e queria desco­
brir meios para isso. Os Estados Unidos, finda a Guerra de 
Secessão, lançavam-se numa fase de progresso violento e isto 
nos enchia de inveja. Como seguir-lhes o exemplo? Como 
Economia Política não fôsse coisa que se conhecesse por en­
tão nestas paragens e como as condições efetivas de nossa na­
tureza eram igualmente ignoradas, acreditava-se que, ado­
tadas instituições políticas iguais, o resto viria por si ... E 
como perdurava o preconceito liberal de que sendo todos os 
homens (e tôdas as comunidades) iguais, bastaria a supressão 
dos entraves legais, para que todos progredissem igualmente. 
~ão se sabia, então, que a Democracia dá a liberdade ao povo, 
que está aí, com as suas condições específicas, não criando um 
povo livre e igual, um povo ideal. Os homens não são iguais, 
senão em têrmos filosóficos e absolutos, mas, de fato, há dife­
renças individuais, diferenças sociais, além das diferenças de 
povo para povo, nascidas da História. Ora, a Carta de 1891 
deu liberdade às Províncias que passaram a poder decidir 
acêrca de seus destinos. Então, umas entraram a progredir e 
outras a decair, de conformidade com as condições específicas 
de cada qual. São Paulo, com as estradas de ferro do café, li­
gando o planalto e Santos, com clima que facilitava a vinda 
do europeu, no auge da alta do café, valeu-se da liberdade 
para um progresso violento. O Rio de Janeiro,com a deca­
dência do café no vale do Paraíba e sofrendo duramente o 
ailriljllnho 1969 
- 50-
impacto da abolição, os libertos indo para as fa"elas - decaiu. 
Fiquemos em dois exemplos próximos. Depois entraria a fun­
cionar uma lei conhecida: os pobres, cada "ez mais pobres c 
os ricos, mais ricos. Passamos a ter, de portas a dentro, o pa­
norama de desequilíbrio que mostra o mundo - temos, ao 
sul do paralelo 19, uma situação de desenvol"imento satis­
fatória, do tipo europeu; no l\' ordeste, o panorama de deca­
dência e miséria da índia; na Amazônia e no Oeste, algo como 
a África. Por certo que a presença dêsses três ní"eis de de­
sen"olvimento dentro do mesmo país constitui para as re­
giões pobres, uma promessa de solução, já que o Govêrno 
é o mesmo e êle poderá usar de recursos de uma região para 
ajudar a outra, enquanto no panorama mundial não há quem 
force as nações ricas a ajudarem às pobres ... Mas, enquanto 
isto não acontece muito positi"amente, de"emos reconhecer 
que o equilíbrio federativo é uma burla, pois não temos Esta­
dos iguais, mas realmente uma cascata de situações. 
Um exemplo prático de como a maneira pela qual, tra­
dicionalmente, se estruturou a Federação, tem prejudicado o 
desenvol"imento, temos no caso da educação; da mesma for­
ma pela qual se critica o paradoxo de ser gratuito o ensino 
uni"ersitário, normalmente de uma minoria e oferecido a in­
divíduos de maior idade e que podem, inclusi\'e, trabalhar 
para custear os estudos e pago o ensino secundário, já que 
quase todo é particular (e com isto, prhiamente, seleciona­
se econômicamente o ingresso nas uni\'ersidacles), vemos, com 
a Federação, o ensino primário, que de\'e ser oferecido a to­
dos, condicionado às possibilidades dos Estados - e com isto 
muitos não conseguiram acabar com o analfabetismo, enquan­
to outros possuem até o ensino universitário, que está condi­
cionado, realmente, ao grau de desen"oh'imento, pois não 
haverá mercado de trabalho para altas especializações cien­
tíficas em meio pobre. Como resultado, em São Paulo, o Go­
vêrno estadual mantém ótimas escolas primárias, secundárias 
e superiores e em outros Estados não temos o mínimo. Se se 
invertesse a situação, o Govêrno federal teria recursos para 
dar escolas primárias para todos. os governos estaduais podc-
- 51 -
riam ter mais colégios, c ha"cria uni"ersiclades de acôrdo 
com as exigências do meio. 
Resta considerar a questão elo planejamento. Os econo­
mistas geralmente admitem o planejamento regional e êste 
tende a desconhecer os limites estaduais. As unidades na­
turais e econômicas reais nada de comum apresentam com 
os Estados atuais. O fato é bem conhecido, há muitos exem­
plos e a tendência dominante forçará ainda mais a questão. 
O fato histórico é que a Federação acentuou os elesní­
"eis regionais que existiam ao tempo de sua implantação e 
a impressão a que se chega é que a solução ele máximo pro­
blema nacional, isto é, a integração regional, o fim dos dese­
quilíbrios regionais. a conquista efetiva e o aproveitamento 
do Extremo Oeste e a Amazônia, sàmente se efetuará por 
uma ação forte do Govêrno central. saltando por cima das 
barreiras criadas pela Federação. ;\' o século XVII I, os di plo­
matas e generais de D. JOÃo V e D. JosÉ (ALEXA1'-:DRE DE Gus­
~[ÃO, POMBAL) BOBADELA, CACERES, etc.), com uma in­
teligente aplicação do ouro de ~Iinas (apesar dos pro­
testos dos mineiros, que não queriam pagar os quintos devi­
dos a el-rei, a mostrar a tendência a sobrelevar os interêsses 
locais sôbre os gerais) conseguiram, nos tratados ele Madri e 
Santo Idelfonso e mais na guerra dos Sete Povos, derrubar a 
linha de Tordesilhas e triplicar o território brasileiro. Há um 
século atrás, SOLA:-':O LOPEs, como que movielo por um im­
pulso de revanchismo, tenta, com a Guerra do Paraguai, de 
certo modo, anular a obra dos estadistas lusos do século an­
terior. Simbàlicamente, êle vinha do Paraguai, reduto gua­
rani e missionário, e a guerra se travou, no território brasi­
leiro, em regiões ligadas à questão de limites. Significativa­
mente, a luta no Rio Grande ocorreu nos mesmos locais da 
guerra de Sete Povos, na área imortalizada pelo Uruguai, que 
cantava a vitória de BOBADELA sôbre os índios. Hoje, resta-nos 
consolidar econômicamente a obra dos estadistas do século 
XVIII e dos heróis da Grande Guerra, cujo centenário re­
gistramos nos anos que correm. E isto, sàmente por ação do 
govêrno federal. por um poderoso esftJrço unitário. 
abril' junho 1969 
APE.NDICE 
A CRISE FIXANCEIRA DAS PROVÍXCIAS 
Por sua atualidade e por ser a síntese da História do problema 
financeiro e administrativo da Federação, transcrevemos as páginas 
do Visconde de URI'GL\I, que, escritas em 1865, poderiam sê-lo 11m 
século depois: 
"§ 203 - Eram êsses recursos insuficientes. 
Ka divisão da despesa em provincial e geral, feita pelos orça­
mentos anteriores, e que estava em vigor, era a que se fazia com jus­
tiças territoriais, paróquias, etc., considerada provincial e acresciam a 
que se fazia com Catedrais, Cabidos, Seminários, e outros ramos 
de serviço, que as Assembléias provinciais, com aquiescência da As­
sembléia e Govêrno Geral, chamaram a si, e outras novas que exigia 
a nova ordem de coisas, como a elas Assembléias provinciais, suas 
Secretarias, etc. 
Assim, ao mesmo tempo que esperava, todos das novas ins­
tituições grandes melhoramen tos, e tinham natural tendência as As­
sembléias provinciais para aumentar a despesa, viam-se elas nos 
maiores embaraços para acudir às já conhecidas e decretadas, e fazer 
marchar o serviço e expediente ordinário. Podiam impor desde logo. 
Mas era natural que, pelo menos, hesitassem em estrear pela adoção 
das mais impopulares de tôdas as medidas. Demais eram mui escassos 
os conhecimentos econômicos e administrativos; a matéria do im­
pôsto não estava estudada e era muito mal conhecida; a principal 
matéria sôbre a qual se poderia impor estava prewnta; tomada pelos 
impostos gerais; novos impostos provinciais iriam entravar-se com 
êstes e ofendê-los. A matéria de 110\'OS impostos era uma espécie de 
leito de PROCL'STO! 
§ 204 - Apuros das Províncias. 
A Assembléia provincial de Minas representava que sua receita 
apenas cobria um têrço de suas despesas. Xos mesmos apuros se via 
a Província da Bahia, cuja receita sendo orçada em 400 contos de 
R. Cio pol.. Rio de Janeiro. 3 (2) : 52-",;. abr.!jun. 1969 
53 
réis, haviam sido apenas cobradas 430 e tantos. A receita provincial 
de Santa Catarina andava por 40 contos, a sua despesa excedia a 43. 
O Ministro da Fazenda remetia à Câmara dos Deputados a lei do 
orçamento provincial de Sergipe, por ir de encontro aos arts. 30, 
33 e 34 da lei de 3 de Outubro de 1834, porquanto fixando sua 
despesa em 138:7805500, e orçando sua receita em 25:375$, no seu 
artigo 38 dispunha que o respectivo Presidente requisitasse do Go­
vêrno Geral autorização para suprir o deficit pelas rendas gerais, quan­
do êsse suprimento, na forma do art. 33 citado, somente podia ter 
lugar para se preencher o deficit das rendas provinciais orçadas na 
lei de 3 de Outubro de 1833. 1 
As Assembléias provinciais de Pernambuco, Bahia e Santa Ca­
tarina representavam à Assembléia Geral a dificuldade em que se 
achavam para suprir o dcficit verificado, entre as rendas que lhes 
haviam sido deixadas pela lei de 8 de Outubro de 1834, e as despe­
sas provinciais que já estavam decretadas antes da publicação da 
mesma lei, pedindo que pela caixa geral, fôsse suprido êsse defieit. 
Estavam de pior condição de que antes do ato adicional. 
A da Bahia pedia uma de duas coisas, ou que se determinasse a 
quota com que deveria concorrer para as despesas gerais, pertencen­
do-lhe tôdas as rendas aí arrecadadas (sistema por mais de uma vez 
apresentado, e por mais de uma repelido) , ou que os impostos de ex­
portação lhe ficassem pertencendo. 
§ 205 - Suprimentos às Pro\'Íncias. 
Por virtude ao art. 24 da Lei de 24 de Outubro de 1835, tinha 
de cessar no ano financeirode 1836-1837 o suprimento às Provín­
cias, estabelecido pelo art. 33 da Lei de 3 de Outubro de 1834. 
Ia Ficar a administração de quase tôdas as Províncias sem re­
cursos para poder marchar. 
A êsse deplorável estado de coisas acudiu logo a lei de 22 de 
Outubro de 1836, determinando no art. 23 - Que o Govêrno supri­
ria desde já, pelos cofres da renda geral, o deficit das Províncias, 
cujas rendas não chegassem para suas despesas, não excedendo porém 
o suprimento a diferença que houvesse entre a despesa provincial 
fixada pela lei de 8 de Outubro de 1833, e a renda que fôra deixada 
a cada Província, pela lei de 31 de Outubro de 1835. 
A lei de 11 de Setembro de 1837 marcou a quantia de 580 con­
tos para suprimento, que repartiu pelas Províncias da Bahia, Per­
nambuco, Minas Gerais, Pará, Goiás, ~Iato Grosso, Piauí, Espírito 
Santo, Santa Catarina, Sergipe e Rio Grande do Norte. 
1 Vide o pare"-er da Comissão das Assembléias pro\ inciais lido t:lll sessão da Câmara 
dos Deputados de 25 de Agôsto de 183,~. 
abril'jullho 19m 
- 54 
.-\ admini~tração provincial em II PrO\íncias não podia man­
ter-se com seus recursos! 
A lei de 30 de Outubro de 11)31) marcou para o ano financeiro 
de 1839-1840 a quantia de 580:000S000, suprimento para cobrir () 
deficit das rendas pro\'inciais, repartido pelas mesmas 11 Pro\'íncias. 
O orçamento para o ano financeira de 19·10-18-! I concedeu a 
quantia de 669:000S000, contemplando mais as Províncias das Ala­
goas, Paraíba, :\faranhão e Cead, 15 Prodncias. 
Somente não tinham suprimento três. Rio de Janeiro, São Paulo 
e Rio Grande do Sul. 
O orçamento do ano financeiro de 18-! 1-18-!2 marcou a quall­
tia de 693:000S000 para as mesmas províncias entre as quais a J('­
fwrtio. 
O orçamento para o ano linanceiro de 18-!2-18-13, conti· 
nuando o suprimento, mandou deduzir dêle a importância da des­
pesa com os Juizes de Direito, que passou a geral. 
Feita a dedução dêsses ordenados reduziu a lei de 2-! de Outu­
bro de 1843 o suprimento às províncias à quantia de 475:300S, e de­
terminou que fôsse reduzido à metade no exercicio de 1944-1845, 
cessando totalmente nos subseqüentes e portanto no de 1845-1846. 
Sem embargo de declaração tão categórica, a lei do orçamento 
de 2 de Setembro de 1846 autorizou o govêrno para suprir as Pro­
víncias designadas com metade das quantias ultimamente votadas, 
sendo êsse suprimento aplicado ao pagamento dos empregados do 
culto público nas mesmas Províncias. 
E a Resolução n.O 393 do l.0 de Outubro de 18·Hi autorizou o 
Go\'êrno a suprir nos anos financeiros de 1845-1846, 1846-18.f7. 
18H-1848 os cofres provincianos do Ceará com 40 contos, O'i d;t 
Paraíba com 39, do Rio Grande do Norte com 20. 
Assim depois de feita a di\'isão da renda geral e provincial e de 
emancipadas financeiramente as Províncias, no que era pro\'inciaI. 
foram quase tôdas supridas pela renda geral pelo espaço de I,~ 
anos. 
Era esta a natural e ine\'Ítá\'el conseqüência da maneira \'lCIOSa 
por que fôra feita a divisão da renda, sem os estudos e preparações 
necessárias, le\'adas as reformas de afogadilho pela ofegante impa­
ciência progressista, que sómente olhava para tão importantes as­
suntos, por um lado, o político, como se a política pudesse pres­
cindir do estado econômico do país! 
E sômente cessou e podia cessar aquêle ~uprillleI1to, reconhecen­
do-se geral a despesa com a Guarda Nacional, com as justiças de l.a 
instância, e com () culto público. objeto, ha\'idos então fomo pro­
\lnClaIS. 
Rcyisla ,k Ciência l'olíti, a 
- 55 -
Não cessou contudo o auxílio às Províncias completamente. 
Os orçamentos gerais em 1851, 1852, 1853, 1854, 1855, 1856 e 
1857, consignaram quantias para auxiliar obras provinciais. 
Algumas províncias tiveram subvenções especiais e destacadas 
para certos fins. :! 
E não tem falhado quem queira faler das Províncias uma espé­
cie de Estados, de Naçõezinhas! Com que recursos? Que cabeças! 
Com efeito se por um lado eram justificáveis êsses suprimentos 
pelo estado das rendas na maior parte das Províncias, pelo da sua 
indústria, e dificuldade de deparar com matéria para novos impostos 
que fossem produtivos, é fora de dúvida que em algumas Assem­
bléias provinciais não havia espírito de ordem, nem de economia. 
Por exemplo o Aviso de 24 de Janeiro de 1844 declarava que era 
censurável a Assembléia provincial da Bahia em decretar avultada 
quantia para jubilações e pensões, e para o Teatro, quando recebia 
do Tesouro o suprimento de 150:0005000, que deixavam de ser 
aplicados a objetos urgentes gerais. 
A Seção do Império do Conselho de Estado em Consulta de 
3 de julho de 1843, Relator o Sr. B. P. DE VASCO:-lCELLOS, votos os Srs. 
MIRAl'iDA RIBEIRO e OLIl'iDA, dando conta do exame de leis da Assem­
bléia provincial de Pernambuco, estranhava a concessão de 66 lote­
rias a diversos estabelecimentos e Irmandades, tocando 20 a um 
teatro. E isto quando era necessário que os cofres gerais acudissem 
aos provinciais faltos de recursos!" 
::: Além disso têm sido prestados pelos cofres gerais socorros às Províncias nos casos 
de sêca. fome e epidemias, como por exemplo ao Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, pelas 
Resoluções de 17 de Agôsto de 1845, de 29 de Agôsto de 1846, e leis de 6 de setembro 
de 1859, e 11 de Setembro de 1852. E neguem que a Cnião tem sido o palladium das 
Pro\"íncias! 
abril; junho 1969

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