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2 Projeto Político Pedagógico da Zona Costeira e Marinha do Brasil – PPPZCM Brasília-DF, abril de 2021 Projeto Político Pedagógico da Zona Costeira e Marinha do Brasil (PPPZCM). Maria Henriqueta Andrade Raymundo; Erika de Almeida; Marcia Oliveira; Betânia Fichino; Thais Ferraresi Pereira. (Coord.). GIZ. Brasília/DF, abril de 2021. 237 p.; 21x29,7 cm. ISBN: 978-65-994634-0-2 Diagnóstico socioambiental participativo; caracterização da zona costeira e marinha; projeto político pedagógico; educação ambiental. Ficha técnica FACILITADORAS/ES DO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO PPPZCM NOS TERRITÓRIOS DA ZONA COSTEIRA E MARINHA DO BRASIL Adayse Bossolani da Guarda PainelMar Andrea Olinto de Lyra Sobral Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade - SEMAS/PE Antonio Jeovah de Andrade Meireles Universidade Federal do Ceará (UFC) Célia Regina Nunes da Neves CONFREM Clemente Coelho Junior Instituto Bioma Brasil Cynthia Lima Ranieri Instituto Albatroz Fabiana Cava GIZ Flavia Dias Suassuna Secretaria de Estado da Infraestrutura, dos Recursos Hídricos e do Meio Ambiente (SEIRHMA-PB). Flavia Maria Rossi de Morais Resex de Corumbau / ICMBio Jacqueline Rogério Carrilho Eichenberger Organização Núcleo Macacoprego Jakeline Borges de Souza CIPEA/IBAMA Jamile Trindade Secretaria do Meio Ambiente da Bahia/ SEMA-BA/DIEAS João Baccarin Xisto Paes RESEX de Cassurubá / ICMBio Jonathas da Silva Barreto Associação Ambiental Voz da Natureza José Conceição de Jesus Povo Pataxó Resex Corumbau - BA Josenilde Ferreira Fonseca Rede de Mulheres /CONFREM Kaio Lopes de Lima Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) Luciano Silva Galeno Comissão Ilha Ativa Luciene de Almeida Santos Associação de Moradores, Agricultores e Pescadores de Puxim da Praia – AMAPPP Luisa Evangelista Santos CEPENE Manuela Muzzi de Abreu APA Costa dos Corais / ICMBio Maria Aparecida Sodré IEMA Maria Cristina Nascimento Vieira INEMA - BA Maria Eduarda Nascimento Santos Jovem Protagonista Costa Corais Maria Martilene Rodrigues de Lima Movimento Pescadores e Pescadoras do Brasil (MPP) Paula Moraes Pereira DILIC/IBAMA Pedro Henrique Dias Marques Projeto GEF-Mar Priscilla Maria de Paula Lobão Parque Estadual Parcel Manuel Luis Raoni Braz Vieira Povo Pataxó - Resex Marinha Corumbau - BA Renan Guerra Secretaria do Meio Ambiente do Estado do Ceará Renata Pereira Conservação Internacional (CI) Renato de Almeida Universidade Federal do Reconcavo da Bahia (UFRB) Ronaldo Santos CONAQ Rosalvo de Oliveira Junior Secretaria do Meio Ambiente da Bahia/ SEMA-BA/GERCO Rosana Maria Bara Castella Secretaria do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo/PR Simone Madalosso Associação RARE do Brasil Tainara Nascimento Vidal CONFREM Thaís Cândido Lopes Coletivo Jovem - Albatroz Valéria da Silva Correia Associação de Moradores, Agricultores e Pescadores de Puxim da Praia – AMAPPP / RESEX Canavieiras Zanna Maria Mattos Universidade Estadual de Feira de Santana COLABORAÇÃO TÉCNICA NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO PPPZCM: Alex Barroso Bernal MMA Alex de Castro Fiuza ICMBio Ana Aparecida GIZ Ana C. M. Martins ICMBio Ana Elisa Bacellar ICMBio Ana Paula Leite Prates MMA Andrea Varella MMA Breno Herrera ICMBIO Camila Helena da Silva ICMBIO Camila Lobo ICMBio Carla Rossitto GIZ Dörte Segebart GIZ Elisa Malta GIZ Fabrício Escarlate ICMBio Flavia Cabral MMA Hugo Garcês GIZ June Müller MMA Larissa Godoy MMA Lia Mendes Cruz MMA Leonardo Rizzo de Melo e Souza MMA Luciana Ribas ICMBio Luciene Mignani MMA Mariana Roberto da Silva MMA Nadja Janke MMA Neusa Helena Barbosa MMA Paulo Roberto Russo ICMBio Rachel Landgraf de Siqueira MMA Rogerio Eliseu Egewarth ICMBio Tiessa Franco ICMBio TEXTO E SISTEMATIZAÇÃO: Maria Henriqueta Andrade Raymundo REVISÃO DE TEXTO: Betânia Fichino Breno Herrera Camila Helena Silva Erika de Almeida Hugo Garcês Lia Mendes Cruz Marcia Oliveira Ricardo Brochado Thais Ferraresi Pereira COORDENAÇÃO GERAL DO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO PPPZCM: Maria Henriqueta Andrade Raymundo Erika de Almeida Marcia Oliveira Betânia Fichino Thais Ferraresi Pereira EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Daniela Franca Ficha técnica Sumário 9 11 11 12 15 18 33 34 39 42 58 71 74 76 76 78 83 89 89 90 90 92 92 94 98 99 103 109 121 125 128 130 137 140 144 148 Lista de figuras – ilustrações Lista de quadros Lista de tabelas Lista de abreviaturas e siglas APRESENTAÇÃO ASPECTOS METODOLÓGICOS DO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO PPPZCM EIXO SITUACIONAL – PARTE 1: CARACTERIZAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA ZONA COSTEIRA E MARINHA DO BRASIL Introdução Sistema Costeiro-Marinho e sua interação com outros Biomas com interface na Zona Costeira e Marinha Biodiversidade, ecossistemas e áreas protegidas na Zona Costeira Marinha brasileira Uso e ocupação do solo na Zona Costeira Marinha A pandemia da Covid-19 na Zona Costeira Marinha A década dos oceanos Políticas públicas na Zona Costeira e Marinha Marcos e acordos internacionais Políticas públicas no Brasil Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC) Programa Nacional para a Conservação da Linha de Costa (Procosta) Plano Nacional de Combate ao Lixo no Mar (PNCLM) Política Nacional para os Recursos do Mar (PNRM) Plano Setorial para os Recursos do Mar (PSRM) Política Nacional para a Conservação e o Uso Sustentável do Bioma Marinho Brasileiro (PNCMar) Plano Estratégico Nacional de Áreas Protegidas (PNAP) e Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) Política nacional e políticas estaduais de educação ambiental EIXO SITUACIONAL – PARTE 2: DIAGNÓSTICO PARTICIPATIVO Aspectos socioambientais positivos da Zona Costeira e Marinha Problemas e desafios socioambientais da Zona Costeira e Marinha Mapeamento participativo da Zona Costeira e Marinha Saberes necessários para o uso sustentável e conservação da biodiversidade Demandas internas das instituições para o desenvolvimento de processos de formação Desafios para desenvolver educação ambiental Breve perfil de um conjunto de ações de capacitação e educação ambiental EIXO CONCEITUAL Significados do PPPZCM Significados de viver e atuar na Zona Costeira e Marinha do Brasil Nossas utopias realizáveis: a Zona Costeira que desejamos alcançar no prazo de 10 anos A Sociedade que queremos construir na Zona Costeira e Marinha do Brasil Sumário 155 159 161 162 163 164 166 168 200 206 215 216 217 223 227 228 234 Diretrizes do PPPZCM EIXO OPERACIONAL Objetivos gerais do PPPZCM Conjuntos estruturantes de ações do PPPZCM 1º conjunto de ações – gestão e governança do PPPZCM 2º conjunto de ações – diversidade de atores da Zona Costeira e Marinha do Brasil Lista das ações educativas da diversidade de atores sociais atuantes na Zona Costeira e Marinha do Brasil Monitoramento e avaliação do PPPZCM REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS RELAÇÃO DOS ANEXOS ANEXO 1 – participantes do processo formativo e de elaboração do PPPZCM ANEXO 2 – atividades realizadas no tempo territorial (dezembro/2019 a abril/2020) ANEXO 3 – principais políticas estaduais relacionadas ao gerenciamento costeiro ANEXO 4 – legislação das políticas estaduais de EA e suas respectivas CIEAS ANEXO 5 – mapas desenhados pelos participantes do processo formativo e de construção do PPPZCM ANEXO 6 – organizações institucionais que aderiram ao processo formativo e de construção do PPPZCM LISTA DE FIGURAS - ILUSTRAÇÕES Figura 1: Três eixos de um PPP – Conceitual, Situacional e Operacional 16 Figura 2: Estratégias metodológicas articuladas e integradas de construção do PPPZCM 19 Figura 3: Participantes do processo formativo e de elaboração do PPPZCM 21 Figura 4: Percentual de instituições respondentes do questionário do PPPZCM que atuam em cada uma das regiões da ZCM 23 Figura 5: Tipo de instituição respondente do questionário do PPPZCM 24 Figura 6: Foco de atuação das instituições respondentes do questionário do PPPZCM 24 Figura 7: Interação individual e/ou coletiva nos registros e sistematizaçõesda construção do PPPZCM 27 Figura 8: Registro coletivo e individual em interação durante as atividades 28 Figura 9: Caracterização socioambiental da Zona Costeira e Marinha do Brasil 33 Figura 10: Limites do mar territorial, ZEE e plataforma continental com área de expansão pleiteada 36 Figura 11: Limites geográficos e ambientes das zonas costeiras e oceânicas do Brasil, conforme a CNUDM 37 Figura 12: Limites da orla marítima no Brasil 38 Figura 13: Composição e área ocupada pelo Sistema Costeiro-Marinho (parte continental) nos biomas 40 Figura 14: Mapa dos Biomas e Sistema Costeiro-Marinho do Brasil 41 Figura 15: Unidades do Projeto GIUC 54 Figura 16: Carta-imagem multiespectral elaborada no CIEG a partir do satélite CBERS 2B de 29/01/2019 da área de derramamento até domingo (27/01/2019) e o avanço entre domingo e terça-feira (29/01/2019), em Brumadinho (MG) 61 Figura 17: Localidades atingidas pelas manchas de óleo 63 Figura 18: Como funciona o emissário submarino 66 Figura 19: Avaliação da qualidade das praias turísticas analisadas 67 Figura 20: Avaliação em porcentagem da qualidade das praias turísticas analisadas 68 Figura 21: Cronologia das políticas públicas, quanto ao Plano Nacional de Combate ao Lixo no Mar 82 Figura 22: Governança da gestão costeira no Brasil. 84 Figura 23: Projetos que integram o Programa Nacional para Conservação da Linha de Costa 88 Figura 24: Comitês executivos para as ações do X PSRM (2020-2023) 91 Figura 25: Tópicos do Diagnóstico participativo da ZCM 98 Figura 26: Aspectos Socioambientais Positivos da Zona Costeira e Marinha 100 Figura 27: Aspectos Socioambientais Positivos da Zona Costeira e Marinha por Região 101 Figura 28: Gráfico dos Problemas e Desafios Socioambientais da Zona Costeira e Marinha 104 Figura 29: Gráfico dos problemas e desafios da ZCM distribuídos por regiões 105 LISTA DE FIGURAS - ILUSTRAÇÕES Figura 30: Mapa da Região Norte e Nordeste: AP, PA, PI, MA 111 Figura 31: Mapa da Região Nordeste: PI, CE, RN 112 Figura 32: Mapa da região Nordeste: AL, PB, PE, SE 113 Figura 33: Mapa da região Nordeste: Bahia 114 Figura 34: Mapa da Região Nordeste: Sul da Bahia 115 Figura 35: Mapa da Região Sudeste e Sul: SP, SC, PR, RS 116 Figura 36: Mapa da Região Sudeste: ES, RJ 117 Figura 37: Mapa Síntese da Zona Costeira e Marinha (7 mapas reunidos) 118 Figura 38: Saberes necessários para a conservação e uso sustentável da biodiversidade 122 Figura 39: Gráfico de demandas das instituições relacionadas à capacitação 127 Figura 40: Gráfico de Desafios da Educação Ambiental apontado pelas Instituições atuantes na ZCM 129 Figura 41: Desafios para ações e processos de Educação Ambiental, por eixos de desafio e por região 130 Figura 42: Instituições responsáveis pelas ações de Capacitação 131 Figura 43: Carga horária das ações de capacitação: cursos realizados 132 Figura 44: Instituições parceiras na realização dos cursos 133 Figura 45: Gráfico das instituições responsáveis pela realização das ações de Educação Ambiental (EA) <?> Figura 46: Público envolvido nas ações de EA 135 Figura 47: Gráfico de parcerias das ações de EA 136 Figura 48: Gráfico de temáticas abordadas nas ações de capacitação (cursos) e ações de Educação Ambiental (EA) 137 Figura 49: Nuvem de palavras sobre as utopias de sociedade desejada 154 Figura 50: Diretrizes para a sociedade a ser construída na ZCM 159 Figura 51: Dois conjuntos estruturantes de ações do Eixo Operacional do PPPZCM 163 Figura 52: Rede de Comunidades de Aprendizagens do PPPZCM 164 Figura 53: Mapa da Região Norte e Nordeste: AP, PA, PI, MA 228 Figura 54: Mapa da Região Nordeste: PI, CE, RN 229 Figura 55: Mapa da região Nordeste: AL, PB, PE, SE 230 Figura 56: Mapa da região Nordeste: Bahia 231 Figura 57: Mapa da Região Nordeste: Sul da Bahia 232 Figura 58: Mapa da Região Sudeste e Sul: SP, SC, PR 233 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Informações sobre as RESEX Marinha 51 Quadro 2: Acordos internacionais relacionados à Zona Costeira e Marinha 77 Quadro 3: Marcos de Projetos Políticos Pedagógicos nas Políticas Públicas Socioambientais no Brasil a partir da Educação Ambiental 96 Quadro 4: Detalhamento das Categorias de Aspectos Positivos da ZCM 102 Quadro 5: Detalhamento das categorias de problemas e desafios socioambientais da ZCM 106 Quadro 6: Divisão dos 40 participantes em 7 Subgrupos para confecção dos mapas da ZCM 109 Quadro 7: Demandas institucionais para processos de capacitação na ZCM 126 Quadro 8: Princípios do Tratado de EA 139 Quadro 9: Linhas de ações estruturantes e seus indicadores de processo e resultados 203 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Encontros de socialização do PPPZCM 31 Tabela 2: Táxons marinhos ameaçados. Criticamente em Perigo – CR, Em Perigo 46 Tabela 3: Sítios Ramsar localizados na zona costeira e marinha 48 Tabela 4: Unidades de Conservação criadas ou ampliadas na ZCM entre 2016 e 2018 50 Tabela 5: Pontos afetados pelo óleo no litoral brasileiro 64 Tabela 6: Fauna Oleada – ocorrências até 15 de janeiro de 2020 65 Tabela 7: Objetivo Desenvolvimento Sustentável - ODS 14 75 Tabela 8: Leis que se relacionam com a Zona Costeira Marinha 78 Tabela 9: Principais Instrumentos para gestão costeira no Brasil de acordo com Decreto n. 5.300/2004 84 Tabela 10: Ações do IV Plano de Ação Federal da Zona Costeira – PAF-ZC 85 Tabela 11: Classificação por estágios de maturidade dos estados em relação ao processo de elaboração 87 Tabela 12: Ranking das temáticas enfatizadas no conjunto de conteúdos programáticos para capacitação 124 Tabela 13: TEMPO-TERRITORIAL 217 Tabela 14: Principais Políticas Estaduais relacionadas ao gerenciamento costeiro 223 Tabela 15: Legislação das Políticas Estaduais de EA e suas Respectivas CIEAS 227 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS Áreas Marinhas e Costeiras Protegidas Associação Nacional de Órgãos Municipais de Meio Ambiente Articulação Nacional de Políticas Públicas de Educação Ambiental Área de Proteção Ambiental Áreas Úmidas Ministério Federal do Meio Ambiente, Proteção da Natureza e Segurança Nuclear da Alemanha Comitê de Bacia Hidrográfica Comissão Interinstitucional de Educação Ambiental Comissão Interministerial para os Recursos do Mar Comissão Nacional para o Fortalecimento das Reservas Extrativistas e dos Povos Extrativistas Costeiros Marinhos Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento Comissão de Limites da Plataforma Continental Educação Ambiental Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – da USP Fundação Nacional do Índio Fundo Brasileiro de Educação Ambiental Fundo Brasileiro para a Biodiversidade Fundação Joaquim Nabuco Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit Grupo de Integração do Gerenciamento Costeiro Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade Instituições de Ensino Superior Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada AMCPs ANAMMA ANPPEA APA AUs BMU CBH CIEA CIRM CONFREM CNUDM CNUMAD CLPC EA ESALQ FUNAI FunBEA FUNBIO Fundaj GIZ GI-GERCO IBAMA IBGE ICMBIO IES IPEA Instrução Normativa Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Governo Estadual da Bahia Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Áreas Úmidas Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Laboratório de Análise e Desenvolvimento de Indicadores para Sustentabilidade, vinculado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Ministério do Meio Ambiente Movimento dos Pescadores e Pescadoras artesanais Sistema Brasileiro de Monitoramento e Avaliação de Políticas Públicas de Educação Ambiental Objetivos do Desenvolvimento Sustentável Organização não governamental Organização Mundial da Saúde Organização das Nações Unidas Planos de Ação Nacional para a Conservaçãodas Espécies Ameaçadas de Extinção Plano Nacional de Adaptação às Mudanças Climáticas Plano Nacional de Combate ao Lixo no Mar Plano Estratégico Nacional de Áreas Protegidas Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro Política Nacional de Educação Ambiental Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas Projeto Político Pedagógico Projeto Político Pedagógico da Zona Costeira e Marinha Programa Nacional de Educação Ambiental Programa Nacional para a Conservação da Linha de Costa Política Nacional para os Recursos do Mar Política Nacional para a Conservação e o Uso Sustentável do Bioma Marinho Brasileiro Projeto de Lei Projeto Político Pedagógico mediado pela educação ambiental IN Inema INCT INPE LDB LADIS MMA MPP MonitoraEA ODS ONG OMS ONU PAN PNA PNCLM PNAP PNGC PNEA PNGATI PPP PPPZCM ProNEA Procosta PNRM PNCMar PL PPPea Reserva Extrativista Rede Brasileira de Educação Ambiental Sistema de Informação Georreferenciada Secretaria Nacional de Saneamento do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) Sistema Nacional de Unidades de Conservação Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global Unidades de Conservação Universidade Federal da Bahia Universidade Federal do Paraná Universidade de São Paulo Zona Costeira e Marinha do Brasil Zonas Econômicas Exclusivas Zoneamento Ecológico-Econômico Costeiro Zonas Úmidas RESEX REBEA SIG SNS SNUC TRATADO DE EA UC UFBA UFPR USP ZCM ZEE ZEEC ZUs Apresentação O Projeto Político Pedagógico da Zona Costeira e Marinha do Brasil (PPPZCM) que se apre- senta neste documento foi construído pelo Projeto TerraMar e Projeto GEF Mar, no período de setembro/2019 a fevereiro/2021. O Projeto TerraMar é uma iniciativa do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em parceria com o Ministério Federal do Meio Ambiente, Proteção da Natureza e Segurança Nuclear (BMU) da Alemanha e apoio técnico da cooperação alemã para o desenvolvimento sustentável, por meio da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, e tem por objetivo apoiar a gestão ambiental territorial integrada do espaço continental e marinho, contribuindo para a conservação da biodiversidade. O Projeto Áreas Marinhas e Costeiras Protegidas – GEF Mar é uma iniciativa do MMA, em parce- ria com o ICMBio, governos estaduais, Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO), Banco Mundial e sociedade civil, e tem como objetivo apoiar a expansão de um sistema globalmen- te significativo, representativo e eficaz de Áreas Marinhas e Costeiras Protegidas (AMCPs) no Brasil, e identificar mecanismos para a sua sustentabilidade financeira. Os dois projetos, TerraMar e GEF Mar, possuem em seu escopo linhas voltadas para capacita- ção, visando a atuação na gestão ambiental territorial na zona costeira e marinha com foco no uso sustentável e conservação da biodiversidade. A confluência dos dois Projetos, com a sobreposição de atuação em determinadas áreas, tornou estratégica uma ação integrada en- tre eles, motivando-os a elaborar conjuntamente o PPPZCM. APRESENTAÇÃO 16 UM PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO (PPP) É UM DOCUMENTO VIVO E DINÂMICO QUE, DE ACORDO COM MMA (2005), consiste na formulação e enunciação de uma proposta educacional com diretrizes filosóficas, bases conceituais e políticas até a sua operacionalização. O PPP nunca é um produto acabado e definitivo ou uma cartilha normatizadora. O documento que resulta do processo de elaboração do PPP traz uma educação pautada na visão de sociedade desejada, traçando uma proposta de ação pedagógica e social. Um PPP, em linhas gerais, é constituído de três eixos estruturantes: conceitual, situacional e operacional (ibid., 2005). ���� ���������� ��������� �� �� ������ ��������������� ������ ����� ����������� �� ������� ���� ����������� � ������� � �� ���� ������������ ���� ��������� ����� � ������� ����� �� � � ���� ���� ����������� ����������������� � ������� ������� �� �������� � ������ ����� ��� �� ��� ���� ��� Figura 1: Três eixos de um PPP – Conceitual, Situacional e Operacional As políticas públicas socioambientais vêm adotando os projetos políticos pedagógicos como uma ferramenta estratégica da educação ambiental devido ao seu forte potencial de mobili- zação, articulação e integração de atores, ações e políticas públicas. O objetivo geral da elaboração do PPPZCM foi criar diretrizes pedagógicas e institucionais que contribuam para o desenvolvimento de processos educativos com o foco no uso sustentável e conservação da biodiversidade da Zona Costeira e Marinha do Brasil (ZCM). APRESENTAÇÃO 17 A elaboração do PPPZCM foi realizada por meio de um conjunto de estratégias participativas, que envolveu cerca de 1200 pessoas que puderam contribuir de alguma forma para este PPP. Destaca-se, como parte da metodologia, o processo de formação e construção deste proje- to político pedagógico junto a 40 pessoas integrantes do poder público, organizações não governamentais, povos originários, comunidades tradicionais, associações comunitárias e Instituições de Ensino Superior (IES) das várias regiões da Zona Costeira e Marinha do Brasil. O PPPZCM é assumido como um instrumento político-pedagógico de gestão educativa e está organizado a partir dos eixos situacional, conceitual e operacional que devem ser dialoga- dos, um influenciando o outro numa perspectiva sistêmica do processo de planejamento, gestão e educação. O presente documento demarca o término da primeira fase do PPPZCM que foi de constru- ção e a partir de agora a nova fase será iniciada, ou seja, a sua implementação, monitora- mento e avaliação no período entre 2021 e 2023. Deste modo, evidencia-se que um PPP é muito mais que um documento, ele se refere a um processo educativo que deve ser conti- nuado e permanente. Aspectos metodológicos do processo de construção do PPPZCM “Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, e vá tecendo, entre todos os galos.” (João Cabral de Melo Neto) Dentre os referenciais teóricos que fundamentam a educação ambiental na proposta metodo- lógica destacam-se os marcos legais da Política e Programa Nacional de Educação Ambiental (Lei nº 9795/99) e o Tratado Internacional de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global. A estrutura geral do processo de construção do PPPZCM estava alicerçada em metodologias de abordagem qualitativa de pesquisa e planejamento, além de processos metodológicos de ensino-aprendizagem, educação ambiental e intervenção educadora referendadas em OCA, 2016; TASSARA E ARDANS, 2005; TOZONI-REIS, 2005; VASCONCELOS, 2002; BRANDÃO, 2001; MINAYO, 2001; VEIGA, 2000; FREIRE, 1992; BORDA, 1982; CHARTIER, 1982. ASPECTOS METODOLÓGICOS DO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO PPPZCM 19 As metodologias de abordagem qualitativa se preocupam com “o universo de significados, aspirações, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. Porém, o conjunto de da- dos quantitativos e qualitativos não se opõe, os dados podem se complementar”, (MINAYO, 2001, p. 22). Neste sentido, a construção do PPPZCM priorizou estratégias e técnicas diversas para que fos- se possível identificar e incluir neste documento a diversidade de olhares, pensares e fazeres da Zona Costeira e Marinha. Não houve a intenção de fazer um “censo demográfico”, mas, sim de promover diálogos, escutas e reflexões com as representações dos atoresdos territórios da ZCM como o poder público, movimentos sociais, povos originários e comunidades tradi- cionais, organizações não governamentais e instituições do ensino superior. O PPPZCM foi elaborado por meio de um processo participativo no período de setembro de 2019 a fevereiro de 2021, contando com a participação de cerca de 1100 pessoas e 500 orga- nizações comunitárias e institucionais. A construção foi realizada de acordo com as estratégias metodológicas indicadas na Figura 2. ������������������������� ���������������� ������� ������������ � ���� ������������� � �������� � ������ ��� �������� ������� �� ����� ���� ��� ������ � � ������� � ����� ������������ � ��������� � ���� ����� ���� ��� �� Figura 2: Estratégias metodológicas articuladas e integradas de construção do PPPZCM ASPECTOS METODOLÓGICOS DO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO PPPZCM 20 Importante destacar que essas estratégias foram pensadas e executadas de forma orgânica, articulada, integrada e transversal, portanto, algumas estratégias aconteceram de forma si- multânea, sem que uma excluísse a outra ou tivesse uma ordem sequencial. Essas estraté- gias caracterizam-se como os alicerces de toda a proposta metodológica de elaboração do PPPZCM. A seguir encontra-se uma breve descrição de cada uma dessas estratégias. ARTICULAÇÃO E PLANEJAMENTO A concepção de planejamento adotada na elaboração do PPPZCM foi incremental e articu- lada, considerando-se que o processo de construção de um projeto político pedagógico é educador, sendo assim “não é inflexível, rígido e estanque, mas pode modificar-se ao cami- nhar, revisitando as atividades e reflexões realizadas, articulando cada novo passo aos ante- riores e incrementando-os a partir da avaliação crítica dos aprendizados por eles propicia- dos” (OCA, 2016, p. 83). O planejamento e articulação foram transversais no processo de ponta a ponta, buscando garantir participação e aprendizados, não se tratando de algo isolado, mas, sim de um processo que deve- ria propiciar aprofundamentos, acolhimento, adesão, compartilhamentos e comprometimento. Neste sentido, a presente estratégia metodológica propiciou articulações intra e interinstitu- cionais, alinhamento metodológico e pedagógico entre equipes, construção de agendas co- letivas, parcerias, ações em cooperação e a importante adesão ao PPPZCM. PROCESSO FORMATIVO Entre os meses de setembro e novembro de 2019, os Projetos TerraMar e GEF-Mar articularam e convidaram cerca de 40 pessoas para contribuírem diretamente na construção do PPPZCM por meio da participação em um processo formativo. Criou-se assim uma rede de aprendi- zagens com integrantes do poder público, organizações não governamentais, povos originá- rios, comunidades tradicionais, associações comunitárias e Instituições de Ensino Superior (IES) das várias regiões da Zona Costeira e Marinha do Brasil. O processo formativo do PPPZCM estava fundamentado em metodologias de ensino-apren- dizagem com base na pedagogia da práxis, pedagogia da alternância e pessoas que apren- dem participando. A metodologia da práxis, referenciada em Paulo Freire, permitia que todo o processo fosse um movimento contínuo de refletir, agir e refletir. ASPECTOS METODOLÓGICOS DO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO PPPZCM 21 A pedagogia da alternância traz a perspectiva de processos educadores que valorizam os saberes presentes nos espaços formais de educação, bem como na comunidade e trabalho numa articulação, organização e produção da diversidade de conhecimentos. De acordo com Bourgeon (1979) e Chartier (1982), a pedagogia da alternância considera o lugar da vivência profissional e comunitária como fontes de saberes, ponto de partida e de chegada do processo de aprendizagem. O processo formativo do PPPZCM desenvolveu-se em alternância por meio de dois tempos e espaços de formação, sendo o Espaço e Tempo-Fixo aquele realizado com a presença e mediação da equipe pedagógica do PPP e o Tempo-Territorial com várias ações orientadas pela equipe pedagógica, porém planejadas, articuladas e desenvolvidas pelos próprios par- ticipantes da formação em seus respectivos territórios envolvendo suas comunidades, insti- tuições entre outros atores. O início do processo formativo foi com o Tempo-Fixo sendo realizado um encontro presen- cial de imersão nos dias 04, 05 e 06 de dezembro de 2019, em Brasília/DF. Figura 3: Participantes do processo formativo e de elaboração do PPPZCM Este encontro orientou o Tempo-Territorial, ou seja, a realização de ações pedagógicas em rede pelos 40 participantes (Anexo 1) na Zona Costeira e Marinha, durante o período de de- zembro/2019 a abril/2020 com objetivos de ampliar a participação, diálogos e reflexões que contribuíssem para a elaboração do PPPZCM. ASPECTOS METODOLÓGICOS DO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO PPPZCM 22 Salienta-se que este Tempo-Territorial, com a relação de atividades realizadas no Anexo 2, desenvolvido pela rede de atores resultou em 34 rodas de conversa, oficinas e/ou reuniões com o envolvimento de, aproximadamente, 700 pessoas da Zona Costeira e Marinha que pu- deram apontar e dialogar sobre seus saberes, percepções e sugestões para subsidiar os três eixos (situacional, conceitual e operacional) do PPPZCM. O cenário da pandemia da Covid-19 trouxe a necessidade de adaptação da metodologia pre- vista para o processo formativo junto aos 40 participantes, portanto a continuidade foi de- senvolvida de forma remota por meio de cinco módulos pedagógicos realizados entre maio e dezembro de 2020. O caráter formativo junto a esse grupo da rede de aprendizagens do PPPZCM estava presente com a intencionalidade pedagógica do processo de ação-reflexão-ação permanente media- da pela equipe pedagógica do PPP e pelo próprio acúmulo de saberes e vivências dos parti- cipantes em suas respectivas comunidades e instituições na Zona Costeira e Marinha. Deste modo, ocorreu um processo que era de construção do PPP e ao mesmo tempo de formação e autoformação, no qual todas as pessoas eram aprendizes, educadoras e educadores con- tribuindo para a elaboração do projeto político pedagógico. QUESTIONÁRIO Registra-se aqui a importância da estratégia metodológica do questionário que ampliou a participação e enriqueceu as contribuições ao PPPZCM. Ele foi aplicado no período de 09/01 a 16/04/2020 sendo destinado às instituições do poder público, organizações não governa- mentais, movimentos sociais, setor privado, instituições de ensino superior e outras institui- ções interessadas em participar do processo. O questionário foi utilizado como mais uma técnica de escuta das percepções socioambientais e dos vários aspectos pedagógicos e suas inter-relações na Zona Costeira e Marinha do Brasil. Intencionalmente o questionário teve a maioria de suas perguntas de forma aberta para que permitisse a livre expressão de ideias e sugestões, buscou-se assim criar um espaço de maior acolhimento da pluralidade dos atores sociais atuantes na ZCM. Portanto, o questio- nário contribuiu para a construção de dados qualitativos e quantitativos, além do registro ordenado de informações. ASPECTOS METODOLÓGICOS DO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO PPPZCM 23 Na sequência, apresenta-se um sucinto perfil das 272 organizações institucionais que res- ponderam ao questionário do PPPZCM, sendo possível observar que a grande maioria, com 63,60%, atua na região Nordeste, enquanto 7,72% atuam na região Norte (Figura 4). ������ ��� ������ ����� �������� � �� ����� ��� � ������� �� �������������������� ����� Figura 4: Percentual de instituições respondentes do questionário do PPPZCM que atuam em cada uma das regiões da ZCM Conforme mostrado na Figura 5, das 272 instituições respondentes, 41% correspondem ao po- der público, 32% são organizações da sociedade civil seguidas pelas Instituições de Ensino Superior (IES) com 18%. ASPECTOS METODOLÓGICOS DO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO PPPZCM 24 Figura 5: Tipo de instituição respondentedo questionário do PPPZCM Quanto ao foco de atuação dessas instituições, destacou-se a educação ambiental e a con- servação ambiental com 20% e 18% respectivamente (Figura 6). Figura 6: Foco de atuação das instituições respondentes do questionário do PPPZCM ASPECTOS METODOLÓGICOS DO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO PPPZCM 25 Dentre as características do conjunto das instituições chama-se a atenção para 72% que afirmaram participar de algum colegiado, fórum ou espaço de gestão participativa na Zona Costeira e Marinha. Ainda sobre o perfil das instituições que contribuíram para a construção do PPPZCM, por meio do questionário, registra-se que 62% informaram que realizam ações de educação ambiental; 56% desenvolvem ações de capacitação e 72% atuam junto às co- munidades tradicionais, juventudes e/ou mulheres, destacando-se que as instituições atuam com focos concomitantes. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA A revisão bibliográfica foi realizada com o levantamento de dados a partir de relatórios oficiais, planos, informativos, sites institucionais, publicações científicas entre outros documentos que pudessem contribuir para a caracterização socioambiental da Zona Costeira e Marinha. O ponto de partida da revisão bibliográfica, como uma das estratégias metodológicas de cons- trução do PPPZCM foi o conjunto de apontamentos, diálogos e reflexões feitas no primeiro encontro presencial do processo formativo do PPPZCM. No encontro, foram destacadas as características gerais e socioambientais da zona costeira e marinha, seus biomas e ecossistemas, o uso e ocupação do solo com seus impactos e con- flitos, o projeto político pedagógico e as políticas públicas que incidem no uso sustentável e conservação da biodiversidade, bem como nos processos de capacitação e educação am- biental na Zona Costeira e Marinha do Brasil. Desse modo, a revisão bibliográfica foi fundamental para alimentar a primeira parte do eixo situacional deste projeto político pedagógico, apresentando-se como um panorama geral da realidade da ZCM a partir de dados documentais e científicos. REGISTRO, SISTEMATIZAÇÃO E ANÁLISES DE DADOS O registro e a sistematização de dados exigem método, pois é uma reconstrução e reflexão de algo que foi vivido, descoberto, dialogado, construído e sentido por diferentes atores so- ciais, merecendo cuidado especial. O registro é um ato transversal do processo de elabora- ção do PPPZCM, portanto aconteceu de forma permanente e continuada. ASPECTOS METODOLÓGICOS DO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO PPPZCM 26 “O registro permite a sistematização de um estudo feito ou de uma situação de aprendizagem vivida. O registro é História, memória individual e coletiva eter- nizadas na palavra grafada” (FREIRE, 2005). Os registros e sistematizações no processo de construção do PPPZCM foram feitos por meio de painéis de visualização coletiva, cartazes, tarjetas, formulários, relatórios, vídeos e foto- grafias que foram produzidos em atividades de diálogos, de leituras, escutas, partilhas, in- teração e imersão individual e/ou coletivamente (Figura 7), em especial no âmbito do grupo de 40 pessoas do processo formativo. ASPECTOS METODOLÓGICOS DO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO PPPZCM 27 Figura 7: Interação individual e/ou coletiva nos registros e sistematizações da construção do PPPZCM ASPECTOS METODOLÓGICOS DO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO PPPZCM 28 Figura 8: Registro coletivo e individual em interação durante as atividades ASPECTOS METODOLÓGICOS DO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO PPPZCM 29 A partir dos registros dos participantes do processo de elaboração do PPPZCM a equipe peda- gógica se responsabilizou pela sistematização final utilizando-se das metodologias de aná- lises de conteúdo, frequência, narrativas e triangulação de dados com referenciais teóricos de Bardin (2016), Gil (2008), Minayo (2012), Patton (2002) e Kerlinger (1980). Kerlinger (1980, p.353) define a análise de dados como “a categorização, ordenação, manipu- lação e sumarização de dados”. Assim, os dados brutos do PPPZCM foram agrupados de for- ma sistematizada, criando-se categorias de análises que facilitam interpretações e reflexões. O PPPZCM formado pelos seus três eixos (situacional, conceitual e operacional) é fruto, tam- bém, dos registros, sistematização e análise de dados que propiciaram a costura dos senti- dos e significados sustentando as conexões, as interações, o cognitivo e afetivo das vivên- cias, percepções e envolvimentos diversos na elaboração deste projeto político pedagógico. SOCIALIZAÇÃO DE INFORMAÇÕES A elaboração do PPPZCM foi um processo gradativo de articulação, planejamento, mobili- zação social, participação, aprendizagens, formação, produção e análises de informações, destacando-se aqui a socialização de informações junto à diversidade de atores que vivem e atuam na Zona Costeira e Marinha do Brasil. A socialização de informações, também, foi gradativa ao longo de todo o processo de elabo- ração do PPPZCM à medida que as pessoas e organizações eram convidadas a se envolverem e contribuírem na construção do PPP. No entanto, vamos destacar aqui a estratégia metodológica específica que intitulamos de “socialização de informações”. Essa estratégia de socialização de informações foi realizada de forma remota entre o período de julho a outubro de 2020, com objetivos de compartilhar e problematizar os resultados parciais estimulando reflexões, apropriação das informações pelas pessoas envolvidas no processo de elaboração do PPPZCM, além de sensibilizar novos atores para a participação na construção do PPP. Neste sentido, foram realizados nove encontros de socialização organizados por atores di- versos, em especial representantes do processo formativo, que assumiam a responsabilida- de de pensar no formato, fazer a mobilização e facilitar os diálogos em conjunto com a equi- pe pedagógica do PPPZCM. A seguir a Tabela 1, mostra a lista dos encontros realizados. ASPECTOS METODOLÓGICOS DO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO PPPZCM 30 ASPECTOS METODOLÓGICOS DO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO PPPZCM 31 TABELA 1: Encontros de socialização do PPPZCM ENCONTROS DE SOCIALIZAÇÃO DATA (2020) PÚBLICO ENVOLVIDO Nº DE PESSOAS PARTICIPANTES Reunião de devolutiva do IBAMA Organização: CIPEA/IBAMA 16/07 Núcleos de Educação Ambiental do Ibama dos estados da ZCM 15 Oficina Devolutiva do Projeto Político Pedagógico da Zona Costeira e Marinha do Brasil (PPPZCM) Organização: Instituto e Projeto Coral Vivo 27/07 Projeto Coral Vivo, Redes de Educação Ambiental, Museu Nacional, UFRJ 13 Encontro virtual: Projeto Pedagógico da Zona Costeira Marinha Organização: GEF-Mar e TerraMar 06/08 ICMBio: Gerências Regionais, Coordenações Temáticas, UC’s apoiadas pelo GEF Mar, Centros de Pesquisa, Instrutores do GSA, CGGP. MMA: DAP, DECO, DESP, DGAT, DDOC. Bolsistas do Gef Mar. Conselheiros do Projeto GEF Mar: SAP/ MAPA, Marinha/SECIRM, MCTI, Coral Vivo, WWF, CONFREM, Academia/PPGMar, ABEMA 81 Webinário: Projeto Político Pedagógico da Zona Costeira Marinha Organização: PainelMar, Projeto Albatroz, Instituto Bioma Brasil, Comissão Ilha Ativa e Associação Ambiental Voz da Natureza 28/08 Universidades, Ongs, prefeituras, Ibama, Órgãos ambientais das UFs, Redes, Movimentos Sociais, etc. 63 Encontro com as CIEAs: Diálogos sobre o projeto Político Pedagógico da Zona Costeira e Marinha (PPPZCM) Organização: ANPPEA e CIEA/BA 03/09 Representantes das CIEAs dos 17 estados da ZCM. Secretarias de Estado de Meio Ambiente e Educação; Ibama; ICMBio; Ongs, Instituições de Ensino Superior; Movimentos Sociais; Instituto de Pesquisa; Prefeituras Municipais, etc. 114 Encontro do estado da Bahia Organização: SEMA/INEMA, NUPPEA/UFSB, UNEB, RESEX Corumbau/ICMBio, Vila Criativa, CBH-PIJ, GADAP 22/09 Prefeituras Municipais, órgãos do estado; Instituições de Ensino Superior, Movimentos Sociais, ONGs, colegiados estaduais, Rede de EA; etc. 63 Encontro com instrutores do ICMBio Organização: GSA/ICMBio 07/10 Analistas ambientaisdo ICMBio atuantes como Instrutores de processos formativos da instituição. 19 Encontro do G17 – GERCO / ABEMA Organização: G17 / ABEMA 13/10 Gestores do Grupo de Gerenciamento Costeiro dos 17 estados da ZCM 17 Encontro com a CONFREM Organização: CONFREM 28/10 Representantes da CONFREM de várias regiões da ZCM 12 EIXO SITUACIONAL “A prática de pensar a prática é a melhor maneira de pensar certo.” Paulo Freire O eixo situacional de um PPP “refere-se às características do contexto socioambiental e educativo, um diagnóstico que deve ser pensado como ponto de partida para a reali- zação de planos de trabalho não apenas no sentido curativo, mas também preventivo” (MMA, 2005). As informações do eixo situacional do PPPZCM estão organizadas em duas grandes partes: a primeira se refere à Caracterização Socioambiental da ZCM e a segunda é o Diagnóstico Participativo da ZCM. EIXO SITUACIONAL – Parte 1: CARACTERIZAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA ZONA COSTEIRA E MARINHA DO BRASIL A primeira parte do eixo situacional, chamada de “Caracterização Socioambiental”, foi rea- lizada por meio de uma revisão bibliográfica a fim de compor os olhares sobre alguns aspec- tos da realidade da ZCM. Esta parte do eixo situacional é importante para contribuir na contextualização socioambien- tal da região a que se refere este projeto político pedagógico. Trata-se, portanto, de uma revi- são bibliográfica com fins de registro das informações relevantes sobre a ZCM, sem análises ou inferências, caracterizando-se apenas como subsídios às percepções e reflexões coleti- vas sobre a realidade. Esta primeira parte está organizada em oito tópicos conforme ilustra- do na figura a seguir (Figura 9). ��������������������������������������� ������� ��� ���� ��������� ���� �� ��� ����������� ��� � �� �� ���� ����� � ���� ��������� �� � ���� ������ ���� �� ���� ������� �� ������������ ��� ������������ �� � ���� ���� ���� � ������ � �� ��� ����� �� �� � ���� ���� ���� � �� ���� �������������� ������ ���� ���� ���� � �� ���� �������� � �� ���� � � ������������������ � ���� ���� ��� �� ���� � ����������� ����� � ����������������� ���������� ��������� Figura 9: Caracterização socioambiental da Zona Costeira e Marinha do Brasil Introdução O Brasil possui vasta área oceânica, tendo atualmente 3,6 milhões (Ibama, 2012) de km², po- dendo atingir uma área de 5,7 milhões1 de km², o que virá a ser maior do que a metade do território nacional na parte continental. Essa área é constituída pelo Mar Territorial, de 12 mi- lhas náuticas contadas a partir da costa; pela Zona Econômica Exclusiva (ZEE), de 188 milhas náuticas (Figura 10 e Figura 11) a partir do Mar Territorial; e pela Plataforma Continental e a sua extensão além das 200 milhas náuticas. A extensão da plataforma continental é resultante de pleito brasileiro à Comissão de Limites da Plataforma Continental (CLPC), da Organização das Nações Unidas (ONU), que garanti- rá ao Brasil a soberania para pesquisa e explotação dos recursos naturais do leito e subsolo marinhos. Tal pleito para extensão está ocorrendo com base no Plano de Levantamento da Plataforma Continental Brasileira (LEPLAC), criado pelo Decreto nº 98.145, de 15 de setembro de 1989. Atualmente está em andamento o LEPLAC 2, o qual dividiu o território em três áreas distintas: Margem Sul, Margem Equatorial e Margem Oriental/Meridional. A proposta para a Região Sul foi aprovada na íntegra pela CLPC em março de 2019, incorporando assim cerca de 170.000 km² à nossa Plataforma Continental. A proposta da Margem Equatorial foi apre- sentada na Plenária da CLPC em 2018 e a da margem Oriental/Meridional, incluindo a ele- vação de Rio Grande, foi encaminhada em dezembro de 2018 e tem perspectivas de análise a partir de 2023 (Ibama, 2012; Marinha do Brasil, 2019, https://www.marinha.mil.br/secirm/ 1 MARINHA DO BRASIL. Plano de Levantamento da Plataforma Continental Brasileira. Disponível em https://www.marinha.mil.br/secirm/leplac. Acesso em: 24/11/2020. https://www.marinha.mil.br/secirm/leplac INTRODUÇÃO 35 leplac). Os limites do mar, definidos na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar – CNUDM, e as áreas de expansão pleiteadas são apresentadas na Figura 10 . A Zona Costeira brasileira, estabelecida como patrimônio nacional no § 4° do art. 225 da Constituição Federal, compreende uma faixa que se estende por mais de 8.000 km voltados para o Oceano Atlântico, levando em conta os recortes litorâneos. Em termos de latitude, o litoral brasileiro estende-se desde os 4°30’ Norte até os 33°44’ Sul, estando, assim, localiza- do nas zonas intertropical e subtropical. Possui largura terrestre variável, compreendendo 443 municípios costeiros distribuídos em 17 estados litorâneos. Inclui a faixa marinha de 12 milhas náuticas (mn), que coincide com o mar territorial, ampliando a área da zona costeira para 514 mil km2 (Ibama, 2012). Figura 10: Limites do mar territorial, ZEE e plataforma continental com área de expansão pleiteada Fonte: Marinha do Brasil – (acessado em 18/02/21) (https://www.marinha.mil.br/secirm/sites/www.marinha.mil.br.secirm/files/pictures/linhamar2019.jpg) https://www.marinha.mil.br/secirm/sites/www.marinha.mil.br.secirm/files/pictures/linhamar2019.jpg INTRODUÇÃO 37 Outro recorte territorial no âmbito da Zona Costeira, definido no Decreto N° 5.300/2004, é a orla marítima, uma faixa de largura variável, compreendendo também uma porção maríti- ma (até isóbata de 10m) e outra terrestre, podendo variar de 50 metros em áreas urbaniza- das a 200 metros em áreas não urbanizadas (Figura 11 , Figura 12) A isóbata de 10 metros (as- sinalada em todas as cartas náuticas) é a profundidade na qual a ação das ondas passa a sofrer influência da variabilidade topográfica do fundo marinho, promovendo o transporte de sedimentos. Já a área terrestre é demarcada na direção do continente a partir da linha de preamar ou do limite final de ecossistemas, caracterizadas por feições como de praias, du- nas, áreas de escarpas, falésias, costões rochosos, restingas, manguezais, marismas, lagu- nas, estuários, canais ou braços de mar, quando existentes, onde estão situados os terrenos de marinha e seus acrescidos (MMA, 2006). Essa faixa corresponde às áreas mais susceptíveis a elevação do nível do mar, cuja gestão deve valorizar a perspectiva da manutenção das características paisagísticas e os serviços ecossistêmicos prestados (OLIVEIRA E CABRAL, 2014). Figura 11: Limites geográficos e ambientes das zonas costeiras e oceânicas do Brasil, conforme a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM), Fonte: Marinha do Brasil. INTRODUÇÃO 38 Figura 12: Limites da orla marítima no Brasil. Fonte: Marinha Brasileira A ampla extensão da costa brasileira implica em diferentes condições climáticas e ambientais, resultando em grande diversidade de ecossistemas costeiros e marinhos. A costa brasileira é comumente dividida em quatro regiões distintas, considerando suas características oceano- gráficas, biológicas e tipo de substrato predominante: (i) Região Norte (foz do rio Oiapoque à foz do rio Parnaíba); (ii) Região Nordeste (foz do rio Parnaíba à Salvador); (iii) Região Central ou Leste (Salvador ao Cabo de São Tomé); e, (iv) Região Sudeste-Sul (Cabo de São Tomé ao Chuí) (ICMBIO, 2019). Sistema Costeiro-Marinho e sua interação com outros Biomas com interface na Zona Costeira e Marinha Do ponto de vista biogeográfico, a Zona Costeira Marinha não se caracteriza como um bioma específico, embora os processos marinhos e costeiros inerentes justifiquem seu tratamen- to como uma unidade ambiental, em que ocorrem sedimentos, vegetação, fauna e feições geomorfológicas particulares, que compõem paisagens litorâneas e marinhas característi- cas. Contudo, por apresentar uma multiplicidade de feições e características físicas e bióti- cas de cada porção do litoral brasileiro, essa região é tratada como Sistema Costeiro-Marinho(IBGE, 2019). O Sistema Costeiro-Marinho é caracterizado como uma zona de transição ecológica entre os ecossistemas terrestres e marinhos, sendo em sua maioria formada pela parte marítima. A parte continental é equivalente a apenas 6,27% da sua área total, entretanto, interage e com- partilha a abrangência com outros biomas (Figura 13), em uma superposição que possibili- ta a delimitação de subsistemas costeiro-marinhos em cada bioma, com exceção evidente- mente do Pantanal (IBGE, 2019). SISTEMA COSTEIRO-MARINHO E SUA INTERAÇÃO COM OUTROS BIOMAS COM INTERFACE NA ZONA COSTEIRA E MARINHA 40 Figura 13: Composição e área ocupada pelo Sistema Costeiro-Marinho (parte continental) nos biomas Fonte: IBGE, Diretoria de Geociências, Coordenação de Recursos Naturais e Estudos Ambientais (IBGE,2019). Para o limite da parte marítima do Sistema Costeiro-Marinho foi adotado as bordas externas (offshore) dos três Grandes Ecossistemas Marinhos brasileiros (os LMEs, sigla em inglês de Large Marine Ecosystems) - plataforma Norte do Brasil, plataforma Leste do Brasil e platafor- ma Sul do Brasil - com limites externos das principais correntes ou, em alguns casos, até a borda de plataformas continentais (IBGE, 2019). Contudo, o Sistema Costeiro e Marinho não abrange toda a Zona Econômica Exclusiva. Figura 14: Mapa dos Biomas e Sistema Costeiro-Marinho do Brasil Biodiversidade, ecossistemas e áreas protegidas na Zona Costeira Marinha brasileira A despeito da sua imensidão, do ponto de vista biológico, a maior parte da área dos oceanos é de baixa produtividade, sendo equivalente aos desertos em terra. Já as zonas costeiras, for- madas por uma estreita faixa terrestre e marinha situada na borda dos continentes, são alta- mente produtivas, complexas, e ricas em biodiversidade. Na zona costeira, são encontrados ecossistemas como praias arenosas, dunas, manguezais, recifes de corais e costões rochosos. Em conjunto, os ecossistemas costeiro-marinhos são responsáveis por diversas “funções eco- lógicas”, tais como proteção da linha de costa contra processos erosivos; mitigação dos efei- tos de inundações; ciclagem de matéria orgânica e produção de nutrientes; abastecimento do lençol freático e proteção contra a intrusão salina; além dos diversos recursos pesqueiros que alimentam e sustentam milhares de pessoas, se constituindo um desafio permanente à gestão costeira (ICMBIO, 2019). O ambiente costeiro e marinho abriga um mosaico de ecossistemas de alta relevância am- biental. Na costa brasileira, por exemplo, ocorrem os únicos ambientes recifais do Atlântico Sul, que se distribuem por aproximadamente 3 mil km de costa, do Maranhão ao sul da Bahia. Além da biodiversidade que abriga, os recifes de corais contribuem muito para a pesca e para a fabricação de remédios e ajudam a proteger a costa da ação destrutiva das ondas (CASTRO, 2016). A fauna de coral formadora dos recifes é constituída por espécies na maioria endêmi- ca, o que confere ao Brasil enorme responsabilidade na proteção e uso sustentável desses ambientes (IBAMA, 2012). BIODIVERSIDADE, ECOSSISTEMAS E ÁREAS PROTEGIDAS NA ZONA COSTEIRA MARINHA BRASILEIRA 43 Na região costeira marinha estão as maiores manchas residuais da Mata Atlântica, inclusi- ve sua maior manifestação contínua, que envolve as encostas da Serra do Mar nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná, apresentando biodiversidade superior à da Floresta Amazônica (IBAMA, 2012). Também os manguezais, de expressiva ocorrência na zona costeira desde o Amapá até Santa Catarina, cumprem funções essenciais na reprodução biótica da vida marinha e no equilíbrio das interações entre a terra e o mar (IBAMA, 2012). Os manguezais da região Norte do Brasil se destacam no contexto internacional por corres- ponderem à mais extensa faixa contínua de manguezais protegidos do mundo, , destacando- -se também por sua produtividade e importância socioeconômica, como na produção de ca- ranguejos e mariscos, atividades mais importantes para as famílias extrativistas nas unidades de conservação litorâneas. Estima-se que esse ecossistema contribui com cerca de 50% da produção total da pesca artesanal (ICMBIO, 2019). Segundo o atlas dos Manguezais do Brasil (2018), 87% de todo ecossistema manguezal brasileiro está em unidades de conservação. Os estuários e manguezais ocorrem em áreas abrigadas, próximas à linha de costa, consti- tuem-se como áreas de transição entre os rios e os mares e abrigam uma enorme diversida- de de espécies, representando cerca de 0, 16% do território do país (CASTRO, 2016, p. 21). As dunas são ambientes que se formam a partir da interação entre sedimentos de origem marinha, o vento que os transporta em direção ao continente, e a vegetação que atua como barreira física aos sedimentos transportados, compondo ambientes litorâneos associados a praias e restingas. Esse ecossistema possui área equivalente a 318.312 hectares, dos quais 37,1% estão em UCs de proteção integral e 5,7% em UCs de uso sustentável. Já as restingas são faixas de areia depositadas paralelamente ao litoral, caracterizadas como um conjunto de fitofisionomias distintas que refletem diferenças geomórficas, pedológicas e climáticas existentes no litoral brasileiro. Possui área de 469.183 hectares, sendo 20,4% protegidos em UCs de proteção integral e 48,7% em UCs de uso sustentável (IBAMA, 2012). As marismas são ambientes salobros, lagunares ou estuarinos, de baixa energia, pantano- sos, planos, costeiros e de águas rasas que se desenvolvem na região intermarés, permane- cendo parcialmente inundados pela maioria das preamares (maré alta). As marismas são ecologicamente equivalentes aos manguezais adaptados ao frio e às geadas da costa meri- dional do Brasil. Formam hábitats importantes para moluscos, crustáceos, insetos, peixes, BIODIVERSIDADE, ECOSSISTEMAS E ÁREAS PROTEGIDAS NA ZONA COSTEIRA MARINHA BRASILEIRA 44 aves e mamíferos. Com área estimada em 12.149 hectares, este ecossistema possui apenas 0,63% de seu território protegido por UCs, o menor percentual entre os ecossistemas costei- ros e marinhos (IBAMA, 2012). As praias são um dos ambientes mais conhecidos e se constituem a partir de depósitos de areias acumuladas pelos agentes de transporte fluvial ou marinho, apresentando largura va- riável em função da maré. A praia é frequentemente associada a outros ecossistemas costeiros como estuários, deltas, restingas, mangues, dunas, rios e lameiros intertidais. Acompanham todo o litoral, do Amapá ao Rio Grande do Sul, e estão ameaçadas pela especulação imobi- liária, pelo turismo descontrolado, pela expansão de marinas e pela poluição urbana e in- dustrial. Dos 82.778 hectares de praias do País, apenas 20.011 hectares (24,2%) estão sob a proteção por diferentes categorias de UCs (IBAMA, 2012). Ao longo da costa norte do território estão presentes os estuários, lagoas costeiras e mangue- zais, onde se pode encontrar quelônios, mamíferos, aves e peixes diversos. Ao largo da Região Nordeste, a ausência de grandes rios e a predominância das águas quentes da Corrente Sul Equatorial determinam o ambiente propício para a formação de recifes de corais, suporte de grande diversidade biológica (IBAMA, 2012). No Sudeste-Sul a presença da Água Central do Atlântico Sul sobre a plataforma continental e a sua ressurgência eventual, ao longo da costa, contribuem para o aumento da produtivi- dade e, mais ao sul, o deslocamento na direção norte nos meses de inverno da Convergência Subtropical, formada pelo encontro das águas da Corrente do Brasil com a Corrente das Malvinas, confere à região características climáticas mais próximas a temperadas, influen- ciando profundamente na composição da fauna local (IBAMA, 2012). O costão rochoso é o ambiente formado pelo encontro do mar com as rochas, por ser con- siderado muito mais uma extensão do ambiente marinho que do terrestre, conta essencial- mente com espécies marinhas de crustáceos (como os caranguejos), moluscos(como ma- riscos e ostras), anêmonas e outros invertebrados (ouriço, estrela-do-mar e pepino-do-mar) (BECKER, SILVA, LIMA, 2016, p. 18). No Brasil, parte dos costões é formada por rochas de ori- gem vulcânica e parte deriva de extensões de serras rochosas, próximas ao litoral, que atingem o fundo do mar, constituindo, assim, ambientes extremamente heterogêneos (IBAMA, 2012). Já a plataforma continental é a parte do fundo marinho que começa da linha da praia e que está submersa pelas águas do oceano, variando de poucos quilômetros até mais de 400 km. BIODIVERSIDADE, ECOSSISTEMAS E ÁREAS PROTEGIDAS NA ZONA COSTEIRA MARINHA BRASILEIRA 45 Em seguida vem o talude continental com ambientes como vales submersos, cânions e ha- bitats coralíneos de profundidade – verdadeiros organismos engenheiros que criam uma es- trutura complexa de abrigo, proteção e alimento (PIRES, 2016). Existem também ilhas e montes submarinos, localizados fora da plataforma continental e muitas vezes sem ligação com o continente que, em função disso, são ambientes singulares tanto nos aspectos abióticos quanto bióticos (SILVA-JR, GERLING, 2016). A biodiversidade das áreas costeiras e marinhas brasileiras ainda é pouco conhecida. O relató- rio “Panorama da conservação dos ecossistemas costeiros e marinhos no Brasil” (MMA, 2010) estimou em pouco mais de 1.300 as espécies inventariadas para os invertebrados bentôni- cos, entre 750 e 1209 as espécies de peixes (já no processo de avaliação do estado de conser- vação das espécies da fauna, conduzido entre 2009 e 2014, foram considerados 1.347 táxons de peixes, cartilaginosos ou ósseos, no ambiente marinho), aproximadamente 59 espécies de mamíferos, e mais de 100 espécies de aves associadas aos sistemas costeiros e marinhos. Das sete espécies de tartarugas marinhas conhecidas no mundo, cinco são encontradas na costa brasileira, e têm praias e ilhas oceânicas como importantes locais para desova e abri- go. Das mais de 20 espécies de corais recifais que ocorrem no Brasil (entre as 350 espécies re- gistradas no mundo), oito são endêmicas, ou seja, exclusivamente brasileiras (ICMBIO, 2019). Como parte dos compromissos assumidos pelo país na Convenção da Diversidade Biológica, o Brasil faz periodicamente a avaliação do estado de conservação das espécies de fauna e flora. Entre 2009 e 2014 o ICMBio coordenou o processo abrangente de avaliação, que con- templou análise de vertebrados e um conjunto selecionado de invertebrados, incluindo im- portantes grupos marinhos, com base no método consagrado da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Foram avaliados 2.178 táxons marinhos, e destes 160 fo- ram classificados como ameaçados de extinção (Tabela 2), a lista completa das espécies amea- çadas e os dados que levaram a tal classificação encontram-se no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (ICMBIO, 2019). BIODIVERSIDADE, ECOSSISTEMAS E ÁREAS PROTEGIDAS NA ZONA COSTEIRA MARINHA BRASILEIRA 46 TABELA 2: Táxons marinhos ameaçados. Criticamente em Perigo – CR, Em Perigo – EN e Vulneráveis – VU (ICMBio, 2018b) GRUPO TAXONÔMICO NOME POPULAR CATEGORIA DE AMEAÇÃO TOTAL CR EN VU Mammalia Mamíferos 2 4 2 8 Aves Aves 7 8 5 20 Reptilia Répteis (Ex. tartarugas) 2 2 1 5 Actinopterygii Peixes ósseos 7 6 30 43 Elasmobranchii Peixes cartilaginosos (Ex. tubarões e arraias) 27 8 19 54 Myxini Peixes bruxa - - 1 1 Echinodermata Equinodermos (Ex. ouriços e estrelas-do-mar) 1 1 8 10 Crustacea Crustáceos (Ex. carangueijos) 1 1 - 2 Mollusca Moluscos (Ex. vieiras) 3 1 2 6 Outros invertebrados (Brachiopoda, Enteropneusta 1 1 - 2 Annelia Anelídeos - 1 1 2 Cnidaria Cnodários (Ex. corais) - 2 2 4 Porifera Poríferos (esponjas do mar) - - 3 3 TOTAL 51 35 74 160 BIODIVERSIDADE, ECOSSISTEMAS E ÁREAS PROTEGIDAS NA ZONA COSTEIRA MARINHA BRASILEIRA 47 Em relação às Zonas Úmidas (ZUs), a biodiversidade nessas áreas é muito grande e contribui de maneira substancial para a biodiversidade da paisagem. As ZUs pertencem aos ecossiste- mas mais ameaçados do mundo, pois estão sujeitas a muitos impactos antropogênicos tan- to terrestres quanto aquáticos (GOPAL; JUNK, 2000 apud IBAMA, 2012). Reconhecendo essa importância, o Brasil assinou a Convenção de Ramsar (IUCN, 1971) com o compromisso de inventariar e demarcar suas áreas úmidas, considerando que esse ecos- sistema envolve diversas peculiaridades “na interface entre ambientes terrestres e aquáti- cos, continentais ou costeiros, naturais ou artificiais, permanentemente ou periodicamen- te inundados por águas rasas ou com solos encharcados, doces, salobras ou salgadas, com comunidades de plantas e animais adaptadas à sua dinâmica hídrica”, descrevem JUNK E PIEDADE (2015). O Brasil reconhece como sítio Ramsar 24 unidades de conservação e três Sítios Ramsar Regionais, somando 27 Sítios na Lista de Ramsar (MMA, s.d. d), sendo que 13 deles estão situados na Zona Costeira e Marinha (Tabela 3). BIODIVERSIDADE, ECOSSISTEMAS E ÁREAS PROTEGIDAS NA ZONA COSTEIRA MARINHA BRASILEIRA 48 TABELA 3: Sítios Ramsar localizados na zona costeira e marinha Nº Sítios Ramsar localizados na ZCM UF Tipo Ano 1 Parque Nacional Cabo Orange AP Unidade de Conservação 2013 2 Estuário do Amazonas e seus Manguezais AP, PA, MA, PI e CE Regional 2018 3 Parque Estadual Marinho do Parcel de Manuel Luiz e Baixios do Mestre Alvaro e Tarol MA Unidade de Conservação 2000 4 Área de Proteção Ambiental Reentrâncias Maranhenses MA Unidade de Conservação 1993 5 Área de Proteção Ambiental da Baixada Maranhense MA Unidade de Conservação 2000 6 Reserva Biológica Atol das Rocas RN Unidade de Conservação 2015 7 Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha PE Unidade de Conservação 2018 8 Parque Nacional Marinho dos Abrolhos BA Unidade de Conservação 2010 9 APA Cananéia - Iguape – Peruíbe SP Unidade de Conservação 2017 10 Estação Ecológica de Guaraqueçaba PR Unidade de Conservação 2017 11 APA Estadual de Guaratuba PR Unidade de Conservação 2017 12 Parque Nacional da Lagoa do Peixe RS Unidade de Conservação 1993 13 Estação Ecológica do Taim RS Unidade de Conservação 2017 Fonte: Adaptado de MMA, s.d. de RAMSAR, s.d. BIODIVERSIDADE, ECOSSISTEMAS E ÁREAS PROTEGIDAS NA ZONA COSTEIRA MARINHA BRASILEIRA 49 Nas ZUs, os recifes de coral e os manguezais são considerados especialmente vulneráveis às mudanças climáticas, por sua fragilidade e limitada capacidade de adaptação, de forma que os danos a eles causados podem ser irreversíveis (IBAMA, 2012). Segundo Figueiroa et al. (2016, p. 362) “no Brasil, uma das estratégias utilizadas para con- servação do meio ambiente e gestão da zona costeira é a criação de áreas protegidas, em es- pecial de unidades de conservação”. Tal estratégia é prevista nos marcos legais do gerencia- mento costeiro, que atribui competências para promover, articular e apoiar a implantação de UC (MMA, 1997). Nesse sentido, em consonância com o PNGC, estão entre as diretrizes do Plano Estratégico Nacional de Áreas Protegidas (PNAP) gerir áreas protegidas situadas na zona costeira e marinha, considerando a criação e gestão de unidades de conservação para recu- peração de estoques pesqueiros, a proteção de ecossistemas que caracterizam uma região do país e a inclusão das Zonas Econômicas Exclusivas (ZEE) nas suas delimitações (PRATES; GONÇALVES; ROSA, 2012). Juntamente com as UCs, as terras indígenas e territórios quilombolas exercem papel funda- mental na proteção e conservação da biodiversidade e dos recursos naturais, funcionando, muitas vezes, como barreira para o avanço dos desmatamentos, da fronteira agrícola e es- peculação fundiária (IBAMA, 2012). Em 2006, o PNAP também reconheceu terras indígenas e territórios quilombolas como áreas protegidas. Atualmente, 26% da zona costeira e marinha brasileira estão protegidos sob a forma de uni- dades de conservação, com um total de 184 UCs, das quais 70 são de esfera federal, 80 esta- duais e 34 municipais.Considerando o tipo de uso, 77 UCs são de proteção integral e 107 UCs de uso sustentável, em sua maioria Áreas de Proteção Ambiental (APA), Parques e Reservas Extrativistas (RESEX), mas também incluindo Monumentos Naturais, Estações Ecológica, Refúgios de Vida Silvestre, Reservas Biológicas, Áreas de Relevante Interesse Ecológico e Reservas de Desenvolvimento Sustentável, que totalizam uma área de aproximadamente 963 mil km² (ICMBIO, 2019). Essas unidades têm sido estabelecidas com a finalidade de proteger habitats singulares ou com alta complexidade biológica, e habitats com presença de espécies ameaçadas de extin- ção, além de servir como instrumento para a recuperação dos estoques pesqueiros e regular o acesso e o uso sustentável dos recursos naturais pelas populações tradicionais. A proteção das áreas marinhas por meio da ampliação das UCs é, ainda, um desafio (IBAMA, 2012, p.167). BIODIVERSIDADE, ECOSSISTEMAS E ÁREAS PROTEGIDAS NA ZONA COSTEIRA MARINHA BRASILEIRA 50 Neste sentido, entre 2016 e 2018, foram ampliadas ou criadas nove UCs marinho costeiras, o que resultou no aumento de mais de 100% da área do sistema federal de UCs e um aumento de 1,5% para 26,3% de nossas áreas marinhas protegidas, conforme Tabela 4, abaixo. TABELA 4: Unidades de Conservação criadas ou ampliadas na ZCM entre 2016 e 2018 Denominação Bioma Estado Categoria Área (ha) Encaminhamentos Alcatrazes Marinho SP RVS 67.479 Criada em 02/08/2016 Taim Marinho/ Costeiro RS ESEC 32.797 Ampliada em 05/06/2017 Cadeia Vitória- Trindade Marinho ES APA 40.237.708 Criada em 20/03/2018 Cadeia Vitória- Trindade Marinho ES Mona 6.915.536 Criada em 20/03/2018 São Pedro e São Paulo Marinho PE APA 40.237.708 Criada em 20/03/2018 São Pedro e São Paulo Marinho PE Mona 6.915.536 Criada em 20/03/2018 Itapetininga Marinho/ Costeiro MA RESEX 16.294 Criada em 05/04/2018 Arapiranga- Tromai Marinho/ Costeiro MA RESEX 186.908 Criada em 05/04/2018 Baía do Tubarão Marinho/ Costeiro MA RESEX 292.855 Criada em 05/04/2018 TOTAL 94.902.821 BIODIVERSIDADE, ECOSSISTEMAS E ÁREAS PROTEGIDAS NA ZONA COSTEIRA MARINHA BRASILEIRA 51 Entre estas, destaca-se o significativo esforço para a promoção do uso direto e sustentável dos recursos naturais e fortalecimento das comunidades tradicionais por meio de três reservas extrativistas no maranhão (Arapiranga Tromaí, Baía do Tubarão, Itapetininga) que somam 400 mil hectares de áreas estuarinas e aproximadamente 13 mil famílias. Este conjunto de áreas é reconhecido como prioritário para a conservação, usos sustentáveis e repartição de bene- fícios da biodiversidade. Contemplando manguezais e outros ambientes estuarinos com al- tíssima produtividade e enorme importância social, além de ser berçário de espécies mari- nhas ameaçadas, como o peixe boi marinho, área de ninhais e repouso de aves migratórias e ameaçadas, área de lagos, presença de babaçuiais, jaçurais e com grande potencial turístico. QUADRO 1: Informações sobre as RESEX Marinha RESEX MARINHA “As reservas extrativistas têm como objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, assegurando o uso sustentável dos recursos naturais da unidade” (Art.18 da Lei 9985/2000). As resex têm como diferencial o seu conselho ser deliberativo. Em 1992 foi criada a primeira unidade marinha nessa categoria, a Resex de Pirajubaé em Santa Catarina. Desde então as resex trouxeram aprendizados para as ações de fortalecimento da gestão socioambiental. Um exemplo foi a CONFREM (Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas e Povos Tradicionais Extrativistas Costeiros e Marinhos), que se organizou em 2009 com os objetivos de atuar pelo reconhecimento e andamento da criação de novas resex marinhas assegurando o direito a produção de espaço próprio dos extrativistas; estabelecer uma rede de todas as resex marinhas, garantir a manutenção dos saberes das populações tradicionais pesqueiras, assim como atuar na conservação dos rios, mares, manguezais e fauna marinha e costeira. Também temos a “Rede de Mulheres Pescadoras” que vem cada vez mais se fortalecendo ao longo do litoral brasileiro, já estando estabelecidas em diversos locais, tais como: Resex Delta do Parnaíba, Salgados paraense e maranhense, Costa dos Corais, Sul da Bahia, entre outras localidades. Esse movimento busca dar voz às mulheres, diminuindo a segregação deste gênero. A organização destes grupos de mulheres contribui no aumento da autoestima, concretização de direitos, acesso às políticas públicas e construção de conhecimentos. Fonte: QUEM SOMOS | CONFREM (wordpress.com) – acessado em 03/12/2020 As reservas extrativistas federais correspondem à categoria de unidade de conservação mais frequente no ambiente marinho nessa esfera de gestão (ICMBIO, 2019). Até o momento, foram criadas 24 resex marinhas, essas áreas buscam a garantia e reconhecimento do seu território já utilizado para proteger os seus meios de vida e cultura, além de assegurar o uso sustentá- vel dos recursos naturais da unidade (ICMBIO, 2020). As resex marinhas abrigam aproxima- damente 48 mil famílias beneficiárias, ou seja, com direitos em relação a esses territórios e ao uso dos recursos naturais, mas vinculados à sustentabilidade. https://confrem.wordpress.com/pagina-principal/quem-somos/ BIODIVERSIDADE, ECOSSISTEMAS E ÁREAS PROTEGIDAS NA ZONA COSTEIRA MARINHA BRASILEIRA 52 Destacam-se também as áreas de proteção ambiental (APA), bastante extensas, em que o or- denamento pesqueiro e o uso coletivo dos recursos são determinantes. No litoral e no mar as áreas são da União e, portanto, são passíveis de ordenamento que visa ao uso coletivo em diálogo com estratégias de conservação, tais como áreas de exclusão de pesca com que se busca promover a recuperação de estoques e proteção de ambientes mais sensíveis (tam- bém chamadas de ACRES – áreas de conservação e recuperação de espécies) (ICMBIO, 2019). Cabe destaque, também, para os enormes conjuntos de UCs marinhas do Arquipélago São Pedro e São Paulo e do Arquipélago Trindade e Martim Vaz, estas compõem o conjunto de novas unidades de conservação marinhas, que se destacam pela riqueza em biodiversidade e cumprem uma função estratégica na delimitação e proteção do mar territorial brasileiro e da Zona Econômica Exclusiva (ZEE). Essas quatro UC somam mais de 90 milhões de hectares, contribuindo sobremaneira para o salto da área marinha protegida no Brasil. Além da enor- me importância destas UCs quanto às suas abrangências territoriais e incidência sobre im- portantes recursos marinhos conhecidos e incalculáveis ainda desconhecidos pela ciência, cabe destacar a importância do processo de criação e previsões legais dadas em seus decre- tos (Decretos nº 9312 e nº 9313 de 19/03/2018), quanto à cooperação entre o Ministério do Meio Ambiente e o Ministério da Defesa. Entende-se que estes processos trouxeram importantes precedentes para uma relação de gestão das áreas marinhas brasileiras em maior integração de esforços e alinhamento de ob- jetivos entre o ICMBio e a Marinha do Brasil. A lei federal que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza - SNUC estabelece que “quando existir um conjunto de unidades de conservação (...) próxi- mas, justapostas ou sobrepostas, e outras áreas protegidas (...), constituindo um mosaico, a gestão do conjunto deverá ser feita de forma integrada e participativa” (Lei 9985/2000, art. 26). Através dos Mosaicos de Áreas Protegidas, entre outras estratégias de integração da ges- tão de UC, portanto, a gestão da biodiversidade é alçada no nível local (UCs isoladamente) ao regional (conjunto de UC), por meio do diálogo entre diferentes atores governamentais e não-governamentais, considerando as dimensões territoriais biológicas, socioeconômicas, políticas e culturais. A integração da gestão de UCs é uma estratégia bastante importante para promover a conser- vação e uso sustentável de recursos em escala mais regionalizada,em consonância com um olhar mais sistêmico e em acordo com preceitos da abordagem ecossistêmica. Cabe destacar BIODIVERSIDADE, ECOSSISTEMAS E ÁREAS PROTEGIDAS NA ZONA COSTEIRA MARINHA BRASILEIRA 53 aqui que a abordagem ecossistêmica, como estratégia para a gestão integrada da terra, da água e dos recursos vivos que promove a conservação e o uso sustentável de forma equi- tativa, foi considerada como a estrutura principal para ação na Convenção de Diversidade Biológica(CDB), conforme decisão II/8 da COP2 em Jacarta 19952, desdobrando assim em pre- missa para a CDB. Tal como a indicação para sua utilização na gestão de áreas protegidas no Brasil, no princípio X do Plano Estratégico Nacional de Áreas Protegidas (PNAP). Tais arranjos regionais têm sido abordados desde antes da publicação do SNUC, onde po- demos citar o Núcleo de Unidades de Conservação do Rio de Janeiro (NURUC-RJ) no final da década de 90. Antes disso, conforme Pinheiro (2010) houve o surgimento da proposta de Mosaico em 1994, com base na experiência com gestão integrada de quatro UCs estaduais na região do Vale do Ribeira. Experiência formalizada em 2008 como o Mosaico de Áreas Protegidas do Jacupiranga. No contexto Marinho Costeiro, damos destaque a uma das primeiras iniciativas de promoção da integração da gestão de UCs no âmbito do SNUC, que se iniciou no ano de 2000 por meio do denominado “Projeto Gestão Integrada de Unidades de Conservação Marinho Costeiras do Estado de Santa Catarina” (Projeto GIUC-SC). O projeto se propõe a gerar um modelo de integração, tendo como base cinco UCs federais (ESEC Carijós, REBIO do Arvoredo, APA do Anhatomirim e a RESEX do Pirajuba é uma estadual (PEST do Tabuleiro). Este arranjo abrange um território com diversas semelhanças quanto às sinergias e dificulda- des de gestão no litoral de Santa Catarina, conforme Figura 15. Mesmo não tendo sido criado o mosaico à época, a iniciativa trouxe uma série de prerrogativas de integração da gestão de UCs em ambientes marinho costeiros e foi, em parte, formalizado em 2011 como Núcleo de Gestão Integrada de Unidades Marinho-Costeiras de Santa Catarina – NGI-UMC/SC, com cin- co UCs federais e quatro Centros Especializados do ICMBio e alterado em 2020 como Núcleo de Gestão Integrada de Florianópolis (NGI-Florianópolis), mantendo somente as quatro UCs com sede na cidade de Florianópolis, SC. 2 https://www.cbd.int/ecosystem/background.shtml https://www.cbd.int/ecosystem/background.shtml https://www.cbd.int/ecosystem/background.shtml https://www.cbd.int/ecosystem/background.shtml Figura 15: Unidades do Projeto GIUC BIODIVERSIDADE, ECOSSISTEMAS E ÁREAS PROTEGIDAS NA ZONA COSTEIRA MARINHA BRASILEIRA 55 Neste contexto, o ICMBio tem promovido a criação dos Núcleos de Gestão Integrada, ten- do criado a Política de Integração e Nucleação Gerencial – PINGe por meio da PORTARIA nº 102/2020, com a criação, desde 2016, de cerca de 60 NGIs dentro desta lógica. Estes arranjos configuram-se como importantes instrumentos para a gestão da sociobiodi- versidade marinho-costeira, seja para o ordenamento da pesca artesanal ou industrial, cos- teira ou oceânica, seja para a promoção da organização do uso e ocupação da faixa costeira e contribuição das bacias hidrográficas a montante entre tantas outras atividades humanas. A conservação da biodiversidade e uso sustentável da ZCM é essencial para garantir a ampla gama de serviços ecossistêmicos prestados por estes ambientes, tais como a “prevenção de inundações, da intrusão salina e da erosão costeira; a proteção contra tempestades; a reci- clagem de nutrientes e de substâncias poluidoras, e a provisão direta ou indireta de habitats e de recursos para uma variedade de espécies explotadas” (MMA, 2010. p. 15). Em um país megadiverso de dimensões continentais, é fundamental priorizar as ações de conservação, focando nas medidas potencialmente mais efetivas para conservar ou reverter a degradação ambiental ou colapso populacional de componentes chave, assim como pro- mover a articulação dos diversos atores e instituições que atuam na agenda (ICMBIO, 2019). Os serviços ecossistêmicos providos pelos ambientes marinho-costeiros brasileiros são tam- bém amplamente usufruídos pela sociedade, o que se expressa nas múltiplas referências cul- turais ao mar e ao litoral, além disso, regiões costeiras são as áreas com maiores concentra- ções de ocupação humana. Em muitos locais, numerosas comunidades humanas dependem diretamente dos recursos do mar, fazendo uso de baixa intensidade em espaços coletivos. Nesses casos, há a defesa de que tais espaços sejam inclusive denominados ‘maretórios’ (Lucca, 2018 apud ICMBIO, 2019), em adaptação do conceito de território para os ambientes das marés, dada sua im- portância ambiental e socioeconômica, suas estruturas de governança complexas e o uso compartilhado e negociado dos recursos. Como exemplos de serviços ecossistêmicos e re- cursos, temos as praias, que são essenciais ao lazer e referência cotidiana de vida, além do turismo e toda economia que gira em torno dessa atividade; a produção pesqueira, passan- do por camarões, lagostas, ostras e ampla diversidade de peixes, extraídos pela pesca arte- sanal e industrial; a crescente atividade de aquicultura; a produção de óleo e gás; a infraes- trutura de portos para escoamento da produção agrícola e industrial; e, menos percebidos BIODIVERSIDADE, ECOSSISTEMAS E ÁREAS PROTEGIDAS NA ZONA COSTEIRA MARINHA BRASILEIRA 56 conscientemente, mas fundamentais, os serviços ecossistêmicos de regulação, que garan- tem produção de oxigênio ao planeta. Dentre todos os exemplos, os recursos pesqueiros são uma das mais importantes fontes de renda de populações tradicionais nas unidades de conservação marinhas (ICMBio, 2019). Conforme dados e informações desenvolvidos no âmbito da Avaliação Ecossistêmica do Milénio, identifica-se que a produção pesqueira mundial tem sofrido grande pressão e mui- tos bancos de pesca estão em grave situação de degradação. Esta degradação tem afetado mais gravemente o acesso a esta importante fonte de proteína de baixo custo e relativo fácil acesso, especialmente para as parcelas mais vulneráveis da sociedade (Millennium Ecosystem Assessment, 2005). Nesse contexto, em 2018, foi publicada a 2ª atualização das Áreas Prioritárias para a Conservação, Utilização Sustentável e Repartição dos Benefícios da Biodiversidade da Zona Costeira e Marinha, que teve como objetivo identificar as principais áreas para a conserva- ção da biodiversidade marinha e costeira, além de estabelecer diretrizes e ações prioritárias para cada uma das áreas identificadas. Os principais resultados desta ação são: i) Banco de dados das Áreas Prioritárias para a Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade da Zona Costeira e Marinha; ii) Mapa de importância biológica; iii) Mapas de sensibilidade ambiental a diferentes ameaças; e iv) Diretrizes e ações prioritárias para as Áreas Prioritárias, que estão disponíveis no site do MMA. Os mapas de espécies ameaçadas apontam maior concentração na região litorânea, revelan- do a tendência de o número de espécies ameaçadas estar espacialmente associado às áreas de maior desenvolvimento e ocupação humana. No entanto, essa distribuição está condicio- nada ao que se conhece das espécies da flora do Brasil (IBAMA, 2012, p. 158). Em números absolutos, o conjunto Mata Atlântica e Zona Costeira-Marinha apresenta o maior número de espécies da fauna ameaçadas de extinção em UCs federais (IBAMA, 2012, p. 162). Nesse sentido, os PAN – Planos de Ação Nacional para a Conservação das Espécies Ameaçadas de Extinção são instrumentos de gestão que estabelecem, de forma participativa, as ações prioritárias para a conservação de espécies ameaçadas, que para fins de planejamento po- dem ser agrupadas por critérios taxonômicos, territoriais, por vetores de ameaça, dentre ou- tros. O ICMBio coordena a elaboração e implementação dos PAN para a fauna, estando
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