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O Padrão Bíblico para a Vida Cristã

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Todos os direitos reservados. Copyright © 2024 para a língua portuguesa da Casa Publicadora das
Assembleias de Deus. Aprovado pelo Conselho de Doutrina.
É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou
meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na web e outros), sem permissão
expressa da Editora.
Preparação dos originais: Cristiane Alves
Revisão: Daniele Pereira
Capa: Anderson Lopes
Projeto gráfico e editoração: Anderson lopes
Conversão para Ebook: Cumbuca Studio
CDD: 240 – Moral Cristã e Teologia Devocional
ISBN: 978-65-5968-322-2
e-ISBN: 978-65-5968-317-8
As citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e Corrigida, edição de 2009, da
Sociedade Bíblica do Brasil, salvo indicação em contrário.
Para maiores informações sobre livros, revistas, periódicos e os últimos lançamentos da CPAD, visite
nosso site: https://www.cpad.com.br
SAC — Serviço de Atendimento ao Cliente: 0800-021-7373
Casa Publicadora das Assembleias de Deus
Av. Brasil, 34.401, Bangu, Rio de Janeiro – RJ
CEP 21.852-002
1ª edição: 2024
https://www.cpad.com.br/
Sumário
Capítulo 1
A Realidade da Fé Cristã
Capítulo 2
A Realidade do Deus da Bíblia
Capítulo 3
A Realidade Bíblica do Pecado
Capítulo 4
A Realidade Bíblica da Salvação
Capítulo 5
A Realidade Bíblica da Santificação Cristã
Capítulo 6
A Realidade Bíblica do Cuidado com o Corpo
Capítulo 7
A Realidade Bíblica do Casamento
Capítulo 8
A Realidade Bíblica do Trabalho
Capítulo 9
A Realidade Bíblica das Finanças
Capítulo 10
A Realidade Bíblica do Senhor Jesus Cristo
Capítulo 11
A Realidade Bíblica da Esperança
Capítulo 12
A Realidade Bíblica do Evangelho na Cultura
Capítulo 13
A Realidade Bíblica de uma Fé que Faz a Diferença
Referências
1
A Realidade da Fé Cristã
Introdução
Todas as pessoas anseiam crer em alguma coisa ou em alguém. É da
nossa natureza ter fé, ainda que esta seja depositada em um objeto, em uma
ideologia ou em uma divindade. Por ocasião de sua criação, o homem foi
brindado por Deus, o seu Criador, com a dádiva da fé, da certeza da
existência de um Deus vivo e verdadeiro, único e presente todos os dias no
jardim do Éden. Era impossível não crer em Deus e na sua existência
naqueles dias.
O homem se esqueceu de Deus por um breve momento, e tendo dado
atenção ao Inimigo, pecou e perdeu a comunhão com o Eterno. A partir
daí, os descendentes de Adão foram se multiplicando, e com eles as ideias
de se aproximar de Deus, cada um do seu jeito. Assim, surgiram com o
passar do tempo as diversas formas de pensamento religioso e as tentativas
de o homem oferecer culto. Cultos monoteístas, politeístas, cultos aos astros,
à natureza, à ciência ou a outras formas de pensamentos proliferaram na
história da humanidade.
A fé cristã, tema deste estudo, está presente em praticamente todas as
partes do globo. Sua mensagem tem transformado milhões de vidas nos
últimos vinte séculos, e seus ensinos, mudado muitas culturas. Sua
influência é percebida por toda a sociedade, e a cada dia mais pessoas são
alcançadas pelo poder do evangelho de Jesus Cristo.
Mas o que faz dela uma fé diferente? Quais são os aspectos que a
distinguem no tocante à atração ou rejeição por parte das pessoas que
ouvem o evangelho? Por que a sua mensagem permanece relevante e
necessária para os nossos dias? Neste estudo, vamos tratar sobre os temas
centrais da fé cristã e de que forma podemos vivenciá-los.
I – A Origem da Fé Cristã
1. O cristianismo e sua origem
Partindo de uma perspectiva histórica e bíblica, a fé cristã se origina com
a primeira vinda do Senhor Jesus Cristo a este mundo, a fim de comunicar
o seu evangelho e cumprir as profecias acerca de sua vinda para salvar os
pecadores. De forma embrionária, tudo começou em Israel, onde o Eterno,
antes mesmo da fundação dessa pátria, chamou Abrão, um caldeu, para
uma caminhada de fé, dependendo unicamente da orientação divina. A
obediência de Abrão a Deus pela fé lhe rendeu o que Paulo chama de
“justificação”: “Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão em Deus, e isso lhe
foi imputado como justiça” (Rm 4.3). Abrão, cujo nome significa “pai
elevado”, teve seu nome mudado para Abraão, que significa “pai de uma
multidão”. Com o passar do tempo, os descendentes de Abraão passam a
figurar na história mundial inicialmente como uma tribo de pessoas, depois
como escravos no Egito, onde cresceram em número, e a seguir como um
povo liberto da escravidão de forma milagrosa, para serem um reino, cuja
base geográfica era a terra que Deus havia prometido ao patriarca, Canaã.
O povo de Deus, os hebreus, receberam do Senhor uma terra, a
liberdade e uma lei pela qual deveriam se pautar em suas relações com o
Eterno, com o próximo e consigo mesmos. Em diversas idas e vindas
flertando com a idolatria, mesmo sendo advertidos pelos emissários de
Jeová, os profetas, os hebreus passaram por uma correção divina por causa
das suas maldades. Essa correção dada por Deus foi a retirada temporária
da terra em que foram colocados, e, nesse período, os descendentes de
Abraão aprenderam que desobedecer a Deus tem um preço. O chamado
para que fossem uma nação que serviria de exemplo da glória de Deus aos
seus vizinhos passou a ser uma vergonha diante das nações com as quais
interagiram na busca pelo pecado. Mas Deus os trouxe de volta, e, desta
feita, amadurecidos, procuraram afastar a idolatria de seus arraiais.
Mas o povo de Deus, mesmo nessa nova fase, não estava imune às
mudanças geográficas e políticas que afetariam o mundo conhecido. Os
assírios foram derrotados e substituídos na história pelos babilônicos. Os
gregos vieram a seguir, e os romanos se estabeleceram após os gregos como
dominadores do mundo. Esses movimentos levaram séculos para se
sucederem, e, quando Jesus nasceu, os romanos eram os senhores do
mundo. Israel não era uma nação livre e esperava que o Messias, aquEle
que Deus enviaria, fosse libertá-los do domínio romano.
Esses dois últimos povos citados, os gregos e os romanos, influenciaram
bastante a origem do cristianismo. Earle A. Cairns comenta que
A contribuição romana foi ofuscada pelo ambiente intelectual criado
pela mente grega. A cidade de Roma pode ser identificada como o
ambiente político do cristianismo, mas foi Atenas que ajudou a criar
um ambiente intelectual propício à propagação do evangelho.
(CAIRNS, 1984, p. 31)
A formação e a história do povo de Israel e a sua interação com o
evangelho passam pelo plano de Deus de trazer o Messias a partir do povo
do pacto com Abraão, os hebreus. A especificidade dessa ação se tornou
conhecida pelas revelações de Deus aos profetas. Por meio deles, foi
anunciado o plano de Deus para a salvação da humanidade.
A partir de Israel, Jesus trouxe seu evangelho por intermédio de ensinos
acompanhados de milagres, curas, ressurreição de mortos e de perdão aos
que se arrependiam de seus pecados. Portanto, no âmbito geográfico, o
cristianismo se originou em Israel, pois foi lá que Jesus Cristo nasceu,
cresceu, foi batizado, iniciou e concluiu o seu ministério, morreu,
ressuscitou e foi recebido nos céus, segundo as Escrituras (1 Co 15.3-8).
Jesus treinou em seu ministério terreno discípulos que, após a vinda do
Espírito Santo, foram se espalhando pelo então Império Romano, de tal
forma que a fé cristã foi crescendo e alcançando o mundo então conhecido.
Esses homens e mulheres foram cheios do Espírito Santo para proclamar a
mensagem deixada por Cristo, e a comunicaram com palavras e ações. O
seu comportamento foi notório às sociedades em que estavam inseridos, e
muitos milagres eram feitos pelas mãos dos apóstolos e seguidores de Jesus
(At 5.12).
A expressão “cristianismo” vem de um nome dado aos seguidores de
Jesus que estavam em Antioquia: “cristãos” (At 11.26). Antes, eles eram
chamados de seguidores do Caminho, uma alusão à fala de Jesus, em que
Ele disse que era o “caminho” para se chegar até Deus.
2. O cristianismo e seu livro
Para que a fé possa ser considerada sólida, não basta que a sua históriae
ensinos sejam transmitidos de geração a geração. Ela precisa ter uma
confiabilidade em seu conteúdo e a certeza de que não foi alterada com o
tempo. A tradição passada através do tempo precisa ser registrada de forma
que perdure pelo tempo, sem sofrer variações, pois a solidez dessa
mensagem também dependerá da fidelidade com que foi repassada e
guardada de forma escrita. A importância disso reside na possibilidade de os
ensinos dessa fé e sua história ser consultada e estudada. Esse livro é a
Bíblia, e sua existência é um milagre.
Por mostrar que o homem precisa de Deus, que precisa confessar seus
pecados e que precisa depender do Espírito de Deus, a Bíblia e sua
mensagem têm sido um incômodo para aqueles que buscam desacreditar a
fé em Deus, o sacrifício de Jesus e a presença do Santo Espírito conosco (Jo
17.14). A Palavra de Deus também mostra a importância de o homem ser
justo, de ser fiel para com Deus, de abster-se de praticar o mal e de
obedecer à voz do Espírito. Tais coisas costumam ser vistas pelo homem
natural como motivos para ferir o seu orgulho.
Por isso, a fé cristã valoriza a Bíblia acima de qualquer outro livro,
tradição, pensamento humano ou qualquer prática que possa colocar em
risco a sua veracidade e inspiração, pois ela veio de Deus. Não somente
porque seus ensinos mostram ao homem o caminho a seguir para agradar
ao Senhor, mas, acima de tudo, porque ela é a revelação de Deus para
humanidade.
3. O cristianismo e sua mensagem
O cristianismo se baseia em algumas premissas bem simples e diretas. A
primeira é que Deus existe e criou todas as coisas que existem. O mundo
que vemos, os animais, as pessoas, os oceanos, o espaço sideral, todos são
obras de suas mãos. Salmos 33.6,9 diz que “Pela palavra do Senhor foram
feitos os céus; e todo o exército deles, pelo espírito da sua boca [...]. Porque
falou, e tudo se fez; mandou, e logo tudo apareceu”. E apocalipse 4.11 diz:
“Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder, porque tu criaste
todas as coisas, e por tua vontade são e foram criadas”. Esdras ora ao
Senhor dizendo: “Tu só és Senhor, tu fizeste o céu, o céu dos céus e todo o
seu exército, a terra e tudo quanto nela  há,  os mares e tudo quanto
neles há; e tu os guardas em vida a todos, e o exército dos céus te adora” (Ne
9.6). E a obra prima da criação foram o homem e a mulher, criados com a
capacidade de se comunicar e de se relacionar com Deus.
A segunda premissa é que, ao criar o homem, Deus o fez sem pecado,
mas o homem esqueceu-se do Senhor e pecou contra Ele, desobedecendo-
lhe e atraindo para si o afastamento do Eterno e a chegada da morte física e
eterna. Ao olharmos o livro de Gênesis, veremos que havia uma íntima
comunhão entre o Criador e a criatura, pois Adão usufruía todos os dias de
um diálogo com Deus (Gn 3.8). Essa é uma premissa fundamental para que
se entenda posteriormente como o pecado entrou na humanidade
O cristianismo também ensina que Deus iniciou o processo de redenção
do homem, por meio do plano da salvação. Para que esse plano fosse
executado com perfeição, Ele enviou o seu Filho, Jesus Cristo, para se
oferecer como sacrifício pelos nossos pecados. E para que não houvesse
dúvidas da intenção de Deus sobre a nossa salvação, Ele anunciou seu plano
aos profetas hebreus, homens que recebiam do Senhor a revelação para que
suas palavras ficassem registradas a fim de serem conferidas após seu
conteúdo acontecer.
Além disso, o cristianismo assegura que, uma vez alcançado pela
salvação, o homem e a mulher se aproximam de Deus e recebem o Espírito
Santo, a pessoa de Deus que mora em nós, que santifica e faz com que o
poder do Eterno esteja nos transformando, de tal forma que sejamos mais
parecidos com Jesus em seu comportamento, na oração e na santificação. É
o poder do Espírito Santo na vida daqueles que creem em Jesus que faz a
diferença e manifesta a glória de Deus para o mundo.
Portanto, o cristianismo não se baseia somente na perspectiva de que o
homem é pecador e está afastado de Deus. Se fossem somente essas
verdades a serem apresentadas, o cristianismo seria uma fé sem esperança.
Mas o Deus que trouxe a revelação de que o homem é pecador é o mesmo
Deus que proveu a salvação para a humanidade. O evangelho mostra Deus
habitando em nós pelo Espírito Santo.
4. A Palavra de Deus é confiável?
Essa tem sido uma das perguntas mais feitas pelas pessoas que tem
dúvidas sobre a revelação, a escrita e a precisão com que as palavras do
Texto Sagrado foram preservadas por aqueles que tinham a
responsabilidade de repassar para as gerações seguintes. Em geral, se coloca
em xeque a fidelidade com que as informações foram repassadas com o
passar do tempo, com o objetivo de dizer que a mensagem que temos em
mãos foi alterada no decorrer da história.
A Palavra de Deus nos foi repassada pelo trabalho dedicado de homens
que, inspirados pelo Santo Espírito, deram suas vidas para preservar a
mensagem que temos em nossas mãos. Esses homens se especializaram na
preservação do texto e na sua reprodução em novas cópias. Eles eram
chamados de copistas.
Essas foram as pessoas que, pela providência de Deus, foram
escolhidas para preservar o Antigo Testamento durante séculos. Um
escriba começava seu dia de transcrição lavando cerimonialmente
todo o seu corpo. A seguir, ele se vestia, com vestes judaicas
completas, antes de se sentar à sua mesa. Durante a escrita, se
chegasse ao nome hebraico de Deus, ele não podia começar a
escrever o nome com uma pena recentemente mergulhada na tinta,
temendo que ela manchasse a página. Depois de começar a escrever
o nome de Deus, ele não podia parar nem se permitir nenhuma
distração; mesmo que um rei entrasse na sala, o escriba era obrigado
a continuar sem interrupções, até que terminasse de escrever o santo
nome do único Deus verdadeiro.
As diretrizes massoréticas para a cópia do manuscrito também
exigiam o seguinte:
 O pergaminho devia ser escrito sobre a pele de um animal limpo.
 Cada pele deveria conter um número específico de colunas, que
deveriam ser iguais por todo o livro
 O comprimento de cada coluna não devia ser inferior a 48 linhas, nem
superior a 60.
 A largura da coluna devia ser exatamente de 30 letras.
 A medida de um fio devia aparecer entre cada consoante.
 A largura de nove consoantes tinha de ser inserida entre cada seção.
 Um espaço de cada três linhas tinha de aparecer entre cada livro.
 O quinto livro de Moisés (Deuteronômio) tinha de ser concluído com
uma linha completa, exatamente.
 Nada, nem mesmo a palavra mais curta, podia ser copiada de
memória, ela tinha de ser copiada letra a letra.
 O escriba devia contar o número de vezes que cada letra do alfabeto
aparecia em cada livro e comparar esse número com o original.
 Caso se descobrisse que um manuscrito continha um erro, ainda que
um só, era descartado. (MCDOWELL; MCDOWELL, 2015, p. 100)
O trabalho desses copistas era feito de forma séria, e, por isso, o
argumento de que os textos passados entre as gerações de copistas sofreram
modificações geralmente é trazido por pessoas que desconhecem os
processos de confecção de cópias dos textos antigos, ou que partem do
pressuposto de que qualquer variação passível de ser trazida nos textos que
temos em mãos é fruto de um erro.
II – A Fé Cristã e os Valores Absolutos
O pensamento dos nossos dias tende a não aceitar que a humanidade
deva conviver com pensamentos tidos por absolutos. Isso significa que, a
título de exemplo, não poderíamos crer nas verdades das Escrituras como
sendo verdades para todas as pessoas, e sim só para os que acreditam em
Jesus. Mas diante de Deus, nossas ações são vistas pela ótica das Escrituras,
como ações que são classificadas em certas ou erradas aos olhos de Deus.
1. A ética, o certo e o errado
Sempre que agimos em alguma área da vida, tomando decisões que
causarão impacto em nosso futuro, ou nas nossas relações sociais e na
relação com Deus, somos forçados a avaliar, com base nos resultados
obtidos, se o que fizemos foi certo ou errado. Essas duas palavras sãocruciais para que possamos compreender uma das mensagens do
cristianismo, pois o que fazemos, aos olhos de Deus, é classificado dessa
forma.
Com base na ética, uma das áreas de pesquisa da filosofia que estuda o
comportamento, este pode ser classificado como moral, imoral ou amoral, e
todas essas classificações estão vinculadas à cultura de quem praticou o ato
ou da pessoa que está analisando o fato consumado. Conforme ensina a
filosofia, uma criança nasce amoral, ou seja, sem a capacidade de entender
que suas ações são carregadas de sentido e de ser julgada pelo que faz. Com
o passar do tempo, essa criança terá seu comportamento considerado moral
ou imoral. Dessa forma, à medida que uma criança se desenvolve, suas
atitudes vão se moldando às orientações e ensinos familiares e à cultura
adquirida na escola ou fora dela. Tudo o que ela fará será visto dessa forma
com o passar do tempo. Se ela, ao se tornar uma adulta, decidir praticar
coisas ruins, independentemente de ter sido ou não ensinada sobre esses
valores, será tida, pela perspectiva ética, como uma pessoa imoral por
praticar atos que firam a moralidade aceita. Se praticar coisas que venham
a ser enxergadas como lícitas, então certamente ela será tida como uma
pessoa cuja moral é aceita pelo seu grupo.
Enquanto a maioria das religiões não procura avaliar se os atos de uma
pessoa são certos ou errados, e a consequência deles para a eternidade, o
cristianismo ensina que quando uma pessoa erra, praticando algo que Deus
condena, tal ato é chamado de pecado, uma ofensa direta contra Deus.
Isaías comenta que: “Mas as vossas iniquidades fazem divisão entre vós e o
vosso Deus, e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos
não ouça” (Is 59.2). Para Deus, o pecado é algo muito sério.
2. A necessidade de um absoluto
Quando se tem duas opiniões contraditórias, é preciso que se veja qual é
a certa. A Palavra de Deus é o balizador do cristianismo, pois o que ela
disser que é o certo, é o certo aos olhos de Deus, independentemente da
cultura em que o leitor da Escritura se encontre. Por mais que seja visto
como exclusivista, o cristianismo trata do que é certo e do que é errado
porque, no final das contas, isso é bem mais do que classificar o
comportamento. Definir o que é certo e o que é errado diante de Deus vai
determinar nossas ações nesta vida e a recompensa delas na eternidade.
Nada do que fazemos fica sem uma retribuição, seja nesta vida, seja na vida
após a morte.
3. Certo e errado
“Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal! Que fazem da
escuridade luz, e da luz, escuridade, e fazem do amargo doce, e do doce,
amargo!” (Is 5.20). Na contramão do que o pensamento dos nossos dias
tenta impor, de que não há um padrão de certo e de errado no que tange ao
comportamento humano, a Bíblia aponta que aos olhos de Deus há, sim, o
certo e o errado, e tal orientação se baseia na natureza do próprio Deus. O
certo é fazer a vontade de Deus, e o errado é cometer pecado. Quando
pecamos, nos colocamos contrários a Deus e sua lei, atraindo para nós
mesmos o juízo divino.
Tal postura, de considerar o errado como certo, já era vista nos dias do
profeta Isaías, e Deus adverte ao seu próprio povo sobre esse tipo de
atitude. Para que não houvesse dúvidas sobre a questão do comportamento
dos hebreus nos dias de Isaías, Deus não somente fala sobre o bem e o mal,
que podem parecer conceitos mais filosóficos, mas Ele exemplifica com algo
básico: luz e trevas. Os hebreus sabiam a diferença entre um ambiente
escuro e um ambiente iluminado, e isso não poderia ser mudado. A luz não
se confunde com as trevas. Deus, em seu ensinamento, mostra mais dois
elementos que eram antagônicos: o doce e o amargo. A título de exemplo, o
mel jamais poderá ser amargo, e uma folha de boldo jamais poderá ter um
sabor doce. Mas os que desobedeciam a Deus insistiam em trazer
pensamentos que tentavam modificar o certo e o errado para darem
continuidade aos seus pecados.
4. Por que definir o que é certo e o que é errado é
importante?
A mente humana foi elaborada por Deus para tomar decisões. Existem
até mesmo técnicas que são utilizadas para que uma pessoa tome decisões
mais acertadas, chamadas de “processo decisório”, em que se busca analisar
o cenário em que se está, que opções estão presentes e que escolha vai
causar menos problemas ou vai trazer mais índices de acertos em
determinada circunstância. Certamente não é um estudo cuja exatidão seja
matemática, pois se tratando de pessoas e, se for o caso, de uma atividade
empresarial, muitos outros fatores podem influenciar no resultado de uma
decisão tomada. Nem sempre é possível tomar todas as decisões certas,
mesmo assim este é recurso disponível para a tomada de decisões.
Quando se trata de algumas situações, ninguém questiona a existência de
um absoluto em relação ao que podemos considerar certo ou errado. Se
uma pessoa cai em queda livre de uma altura de 200 metros, certamente
sofrerá com o impacto da lei da gravidade e dificilmente poderá sobreviver
desse evento, e isso nos parece bem absoluto. Se uma pessoa, matriculada
em um curso cujo processo de avaliação vai mensurar o conhecimento por
meio de notas advindas de provas, decide ignorar todas as avaliações e se
concentra somente na última prova, com certeza, não vai se sair bem no
computo geral, e será reprovada em todo o curso, pois não conseguiu nem
estudar, nem pontuar devidamente conforme as regras preestabelecidas
pela instituição de ensino.
Isso também nos parece bem absoluto. Se o comandante de um navio
decide navegar por águas próximas do litoral, conhecidas pela quantidade
de rochas submersas existentes, e nessa proximidade bater em alguma delas,
com certeza, será responsabilizado pelos danos que fez ao navio. Isso
também nos parece bem absoluto e inquestionável, pois tal pessoa está se
arriscando a infringir regras de navegação que foram criadas para manter a
embarcação, os tripulantes, a carga ou passageiros e o meio ambiente
seguros.
Nessas três hipóteses apresentadas, ninguém questiona que a existência
de parâmetros específicos para tais cenários não pode ser ignorada. Definir
o que é certo e errado, portanto, faz a diferença, independentemente da
opinião das pessoas. Entretanto, quando se trata de questões relacionadas à
espiritualidade, a maioria das pessoas entende que não existem caminhos
exclusivos que conduzam uma pessoa a Deus. Para tais indivíduos, o ditado
“Todos os caminhos levam a Deus” é aceiro como uma premissa para que
se rejeite o evangelho e Jesus como sendo o único caminho para se chegar
até Deus.
III – A Mensagem do Cristianismo para os nossos Dias
1. O cristianismo tem uma mensagem de esperança
Disse certo pensador que, quando acontece uma desgraça no mundo, as
pessoas tendem a perguntar onde estava Deus naquele momento. Mais do
que dizer onde Deus está, a resposta mais acertada é mostrar que, apesar
das coisas ruins que acontecem no mundo em que vivemos, como guerras,
doenças, terremotos e fome, a Palavra de Deus nos aponta que aqueles que
creem em Jesus têm a esperança que vai além do pensamento humano.
A fé cristã não é uma crença que traz somente advertências às pessoas
para que ouçam a sua mensagem. Ela nos apresenta o caminho traçado por
Deus para que tenhamos a certeza de que o futuro não se resume ao que os
nossos olhos conseguem enxergar.
Numa era em que as pessoas tendem a ser refratárias a más notícias, a
Bíblia Sagrada não se furta ao ato de comunicar ao homem a sua real
situação: que é pecador, que precisa se arrepender de seus pecados, mas
que, apesar dessa situação, Deus proveu a salvação de que ele necessita.
Portanto, há esperança em Deus para a humanidade.
2. A salvação de Deus é para todos
Da mesma forma que o pecado entrou no mundo por um homem, Deus
proveu a salvação para todos por meio também de um homem. A salvação
oferecida por Deus cumpriu, de forma sobrenatural, as regras deste mundo:
Jesus nasceu, cresceu, foi cheio do Espírito, pregou o evangelho, morreu,
ressuscitou e comissionou seus discípulosa que transmitissem a sua
mensagem às gerações que se seguiriam. E em sua Palavra, Deus destaca
que a graça se manifestou a todos os homens (Tt 2.11), que é ofertada a
toda a humanidade. Ninguém, por mais pecador que seja, está fora do
alcance dessa graça divina, mas é preciso que tal pessoa se arrependa de
seus pecados.
3. O rei está voltando
A mensagem final do cristianismo se baseia numa perspectiva do Reino
proposto por Deus. Diferente de reis apontados na história, que se
corrompiam e deixavam de praticar a justiça, prejudicando a si e aos seus
governados e promovendo guerras, o Reino de Deus será justo, pois sua
base será a justiça divina. Não será um reino voltado para a satisfação
pessoal, pois “[...] não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no
Espírito Santo” (Rm 14.17).
Haverá um dia em que o Senhor Jesus Cristo reinará por todo o sempre.
Nenhuma injustiça será feita. Não teremos corrupção, nem morte, nem
outras coisas más com as quais precisamos conviver neste mundo. Ainda
que não consigamos desfrutar de tal dia em nossa existência terrena, pela fé
cremos que esse dia chegará, e que todos os que se entregaram a Jesus e
fizeram dEle o seu Rei e Senhor estarão com Ele no dia do seu triunfo.
4. Existe uma intolerância para com a fé cristã?
Em uma era como a nossa, em que as opiniões tendem a ter mais peso
do que a verdade real, é comum que percebamos um nível de intolerância
para com qualquer pensamento que se declare único, real, absoluto ou
exclusivista. O príncipe deste século tem conduzido milhões de pessoas a
crer que não existe uma verdade considerada absoluta, ou seja, que sirva
para todas as pessoas em todas as culturas. Junto com esse pensamento vem
a intolerância, tão requerida por alguns grupos e tão rejeitada por essas
pessoas quando são confrontadas em seus discursos.
Erwin Lutzer discorre sobre o sentido da intolerância em nossos dias
desta forma:
Permita-me deixar claro que a tolerância pode ser definida de duas
maneiras legítimas. [...] a tolerância legal é o direito que cada um
tem de acreditar em qualquer crença (ou em nenhuma) que se queira
acreditar. Tal tolerância é muito importante em nossa sociedade, e
nós, como cristãos, devemos manter nossa convicção de que
ninguém jamais deve ser coagido a crer no que cremos. A liberdade
religiosa não só deve ser mantida nas democracias ocidentais, mas
também promovida em outros países.
Segundo, existe a tolerância social, ou compromisso de respeitar
todas as pessoas mesmo que discordemos frontalmente de sua
religião e ideias. Quando nos envolvemos com outras religiões e
questões morais na feira ideológica, deve ser com cortesia e bondade.
Temos de viver em paz com todos os indivíduos, mesmo com os de
convicções divergentes, ou com os que não têm nenhuma crença.
Mas a tolerância da qual falo — se preferir, nosso ícone nacional —
é algo bastante diferente. Trata-se de uma tolerância desprovida de
crítica que evita o debate enérgico na busca da verdade. Essa nova
tolerância insiste que não temos direito de discordar de uma agenda
social liberal; não devemos defender nossas perspectivas de
moralidade, religião e respeito pela vida humana. Essa tolerância
respeita ideias absurdas, mas castiga qualquer um que acredite em
absolutos ou que reivindique ter descoberto alguma verdade.
(LUTZER, 2023, p. 31,32)
Conclusão
Concluímos que, obscurecidos pelo pecado, os homens tendem a
realmente rejeitar a Deus e à mensagem do evangelho de Jesus Cristo, mas
tais ações não irão mudar o que a Palavra de Deus nos diz acerca do
destino eterno de quem aceita ou rejeita a Jesus. A mensagem da Bíblia
permanece sendo uma referência para os nossos dias, pois foi Deus que a
inspirou e se responsabiliza pela sua veracidade. A salvação oferecida por
Deus, e tão anunciada pelos cristãos, é para todas as pessoas que recebam
pela fé o sacrifício feito por Jesus na cruz.
2
A Realidade do Deus da Bíblia
Deus, Grandioso Ser, jamais criado
Princípio e Fim não delimitam tua história
Excelso Espírito, Supremo e Iluminado
Pai Excelente, Santo e Puro, em áurea glória
Como explicar-te à criatura, que é tão breve
Que esculturaste da poeira esquecida
Mas adorar-te é o que se pode e o que se deve
Na gratidão, de quem do nada deste a vida
— Ozeias de Paula
Introdução
As religiões do mundo costumam ser divididas em religiões politeístas e
monoteístas. Enquanto naquelas há uma pluralidade de deuses, nestas
somente há espaço para um único Deus. O cristianismo é, por essência,
uma fé monoteísta.
A existência de um único Deus, em três pessoas, é um dos pilares do
cristianismo. A partir dessa premissa, tudo o que veremos na sequência
depende do entendimento de que Deus existe, que criou todas as coisas e
que se revelou a nós pela sua vontade. É Deus que dá origem à vida, a todas
as coisas, organiza o mundo e tudo o que nele há. Ele também é o
responsável pela criação do homem e da mulher. Esse Deus se revela de
forma específica revelando seu caráter, sua essência e sua vontade à
humanidade, e nos apresenta em sua Palavra o plano da salvação. Acerca
desse Deus e de sua revelação estudaremos neste capítulo.
I – Deus e sua Existência
1. Deus existe
A fé cristã se baseia na certeza da existência de Deus. A Bíblia, em
Gênesis 1.1, deixa claro não somente a existência dEle, mas igualmente o
seu poder e a sua iniciativa por meio do ato da criação quando nem mesmo
o tempo ainda era contado: “No princípio, criou Deus os céus e a terra”.
Esse primeiro verso das Escrituras nos mostra que o universo e o nosso
planeta não são eternos, ou seja, que foram criados. Mostra também que
houve uma atividade inicial, dada por Deus, para que tudo o que vemos
viesse a existir. E mostra que a Bíblia não se preocupa em demonstrar a
existência de Deus para pessoas que têm dúvidas. Na verdade, ela já parte
do pressuposto de que Deus existe antes de tudo.
Tudo o que vemos teve um começo, e isso se deu pela vontade de Deus.
Nada no mundo surgiu do acaso, do nada, pois o nada nada cria. E para
que não houvesse dúvidas acerca dessa realidade, Deus se “descortinou” a
todos, por meio de um processo inteligente, alcançável pelo entendimento
humano, chamado revelação.
Esse debate é importante, pois da existência de Deus decorrem outros
temas, como a sua revelação, seus planos, sua criação, sua vontade e os
últimos dias da humanidade nesta terra. Se Deus não existe, não há que se
falar de uma revelação que mostre quem esse Deus é, nem se pode
determinar o que fez. Se não há um Deus, não há que se estipular um
padrão moral de conduta que seja absoluto para todas as culturas, pois
qualquer forma de pensamento ou padrão moral que não seja estabelecido
por Deus seria considerado válido se Deus não existisse.
2. Uma revelação geral
O Deus criador mostrou sua existência à humanidade por meio de sua
criação, e essa revelação, chamada de “natural”, se baseia justamente na
certeza de que os atos criativos de Deus, ou seja, a sua obra, se manifestam
na natureza, têm a capacidade de, mesmo de forma limitada, mostrar que o
homem e o mundo tiveram uma origem, que não são frutos de um acidente
cósmico ou resultado de uma ação de forças impessoais.
É possível que o homem decida negar intelectualmente a Deus e sua
existência. Romanos 1.18 declara que “[...] do céu se manifesta a ira de
Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens que detêm a verdade
em injustiça”. Paulo deixa claro que há pessoas que, deliberadamente,
reconhecem a existência de Deus, mas preferem negá-la e transformá-la em
algo injusto. Esses homens são “indesculpáveis” (Rm 1.20, ARA) por
decidirem usar seus intelectos para rejeitar a Deus e sua justiça. Não se trata
da aceitação de uma ideia filosófica ou de uma discussão acadêmica, pois a
rejeição ao reconhecimento da existência de Deus é o primeiro passo para a
prática da injustiça.
Poderíamos pensar que a rejeição intelectual a Deus e a sua revelação
seriam vistas em ambientes de pouca possibilidade de instrução. Entretanto,
Timothy Keller realça a seriedadedo que vemos em nossos dias nos
ambientes acadêmicos, locais onde, em tese, as ideias poderiam ser
debatidas com isenção:
Os best-sellers de Richard Dawkins, Daniel C. Dennett e Sam Harris
partem do princípio de que a ciência em geral e a ciência
evolucionista em particular tornaram desnecessária e obsoleta a
crença em Deus. Dawkins fez a famosa afirmação de que “embora,
antes de Darwin, o ateísmo possa ter sido embasado pela lógica,
Darwin tornou possível ser um ateu intelectualmente realizado”. Em
The God Delusion ele vai além. Defende que é impossível ser um
pensador científico sério e nutrir crenças religiosas. Uma coisa exclui
a outra. Para fundamentar essa tese, ele observa que um estudo em
1998 mostrou que apenas cerca de 7% dos cientistas americanos da
Academia Nacional de Ciências acreditam em um Deus pessoal. Isso
prova que quanto mais inteligente, racional e cientificamente
orientado alguém for, menos capaz será de crer em Deus.
(KELLER, 2015, p. 114)
Tal fato deve nos chamar a atenção, pois dos ambientes acadêmicos
saem as grandes lideranças mundiais, que posteriormente insistirão em
desacreditar a Deus e sua Palavra, e a veracidade da fé cristã.
3. Uma revelação específica
O homem comum, ainda que esteja sob efeito do pecado, não está isento
de reconhecer que há um Deus que opera todas as coisas pela sua santa
vontade e justiça. É possível ilustrar tal fato observando o caso dos
habitantes da ilha de Malta, para onde Paulo e os demais prisioneiros
náufragos foram levados por Deus. Para que se aquecessem do frio, os
nativos da ilha, chamados por Lucas de “bárbaros”, acenderam uma
grande fogueira para os náufragos por causa do frio e da chuva.
Paulo recolhe algumas vides e é picado por uma cobra venenosa, motivo
pelo qual os habitantes da ilha concluem: “Certamente este homem é
homicida, visto como, escapando do mar, a Justiça não o deixa viver” (At
28.4). Aqueles homens não conheciam o Deus revelado nas Escrituras, mas
sabiam que há uma justiça divina que não deixa escapar dos seus atos
aqueles que praticam o mal. Graças àquele evento, os habitantes da ilha de
Malta puderam ouvir o evangelho, pois Paulo foi livrado por Deus da
morte.
Não há como negar que a consciência tem um poder incrível de
influência na forma de pensar do homem, ainda que este possa ignorar seus
avisos. Ela é o juiz interior que nos julga de acordo com os nossos feitos,
condenando-nos ou absolvendo-nos. Mas a revelação geral e a consciência
se mostram insuficientes diante da pecaminosidade do homem, e, por isso,
Deus proveu a sua Palavra inspirada para que houvesse uma comunicação
direta para com o intelecto humano.
4. Porque a revelação natural não é suficiente
A revelação natural tem, efetivamente, um alcance limitado para
apresentar Deus aos homens. Paul David Tripp traz a seguinte perspectiva:
Deus criou o mundo não apenas para nos proporcionar prazer por
meio de sua beleza e nos sustentar por meio de seus recursos, mas
também para servir a um propósito moral significativo. Tudo que
Deus criou foi projetado para nos confrontar com a existência e a
natureza de Deus e, ao fazê-lo, confrontar nossas ilusões de
autonomia e autossuficiência.
O ciclo das estações aponta para a sua sabedoria e fidelidade. O fato
de todos nós vermos a beleza da criação e sermos aquecidos pelo seu
sol e banhados por sua chuva nos mostra seu amor e misericórdia. As
tempestades trovejantes com queda de raios e ventos violentos
apontam para a imensidão de seu poder.
Mas Deus, em sua sabedoria, sabia que a revelação geral da criação,
a qual nos confronta com sua existência e glória, não poderia nos
transmitir o tipo de conhecimento — dele mesmo, o conhecimento
necessário de nós mesmos, uma compreensão do significado e do
propósito da vida, e uma consciência do desastre causado pelo
pecado e da condição caída do mundo ao nosso redor — que
pudesse nos salvar de nós mesmos, nos mover em direção a Ele por
sua graça redentora e nos conceder um plano de como deveríamos,
portanto, viver como filhos dessa mesma graça. E, assim, Deus deu-
nos a maravilhosa e surpreendente dádiva de sua Palavra. (TRIPP,
2023, p. 34, 35)
II – Ideias acerca da Pessoa de Deus
1. Ateísmo
Na história da humanidade, é possível ver que há uma divisão entre as
pessoas que creem que Deus existe, e que criou todas as coisas, e há as
pessoas que não acreditam na existência do Senhor e no seu poder. A este
último grupo, denominamos “ateus”, pessoas que discordam, em seus
pensamentos e ações, da existência de um Ser poderoso e supremo, que fez
todas as coisas e que intervém na história.
Essa ideia de que não há um Deus não é recente. Há milhares de anos,
Salmos 53.1 já advertia: “Disse o néscio no seu coração: Não há Deus”. A
negação acerca da existência de Deus começa no íntimo do homem, de
maneira velada, com a ideia da ausência divina como uma semente que está
em germinação. A Palavra de Deus não diz que essa negação é
exteriorizada de forma imediata, mas diz que ela começa no coração, entre
os pensamentos do homem.
O fruto dessa negação intelectual alcança as ações da pessoa, o que é
demonstrado pelo salmista no mesmo versículo: “Tem-se corrompido e
cometido abominável iniquidade”. Há uma séria conexão entre a crença na
não existência de Deus e as ações que conduzem o homem a praticar atos
abomináveis. A Bíblia afirma que a negação à existência de Deus tem
resultados bem práticos.
Geisler comenta que
Enquanto o politeísmo dominou grande parte do pensamento grego
antigo e o teísmo dominou a posição medieval, o ateísmo floresceu
no mundo moderno. É claro que nem todos que não tem fé em um
ser divino querem ser chamados de “ateus”. Alguns preferem a
atribuição positiva “humanistas”. Outros talvez sejam mais bem
descritos como “materialistas”. Mas todos são não-teístas, e a
maioria é antiteísta.
Ao contrário do teísta, que acredita que Deus existe além e no
mundo, e do panteísta, que acredita que Deus é o mundo, o ateu
acredita que não há Deus neste mundo e nem no além. Só existe um
universo ou cosmo, e nada mais.
Em geral, há tipos diferentes de ateísmo. O ateísmo tradicional
(metafísico) afirma que nunca houve, não há e jamais haverá um
Deus [...] o ateísmo conceitual acredita que há um Deus, mas ele
está escondido da nossa visão, obscurecido pelas nossas construções
conceituais. Finalmente, ateus práticos confessam que Deus existe,
mas acreditam que devemos viver como se ele não existisse.
(GEISLER, 2002, p. 83)
Outro aspecto do ateísmo é a negação da criação. Se Deus não existe,
então tudo o que vemos surgiu do acaso, e não com uma intencionalidade.
Esse pensamento tem achado guarida entre as pessoas que aceitam a Teoria
da Evolução como sendo uma lei, e entre aqueles que acreditam que tudo o
que existe é simplesmente matéria. Para tais pensadores, Gênesis 1 e 2 são
meras mitologias, e não fatos.
Matthew Henry, pregador e teólogo do século XVIII, reforçando a
veracidade dos dois primeiros capítulos de Gênesis, comentou que
(3) O modo pelo qual esta obra foi realizada: Deus criou, isto é, fez
do nada. Não havia nenhuma matéria pré-existente a partir da qual
o mundo foi produzido. Os peixes e as aves foram certamente
produzidos a partir das águas, e os animais e o homem da terra. Mas
esta terra e estas águas foram feitas do nada. Pelo poder comum da
natureza, é impossível que algo seja feito do nada. Nenhum artífice
pode trabalhar, a menos que ele tenha com que trabalhar. Mas pelo
poder infinito de Deus, não só é possível que algo seja feito do nada
(o Deus da natureza não está sujeito às leis da natureza), mas na
criação é impossível que ocorra o contrário, porque nada é mais
desrespeitoso para a honra da Mente Eterna do que duvidar de sua
onipotência. Assim, a excelência do poder pertence a Deus, como
também toda a honra e toda a glória
(4) Quando esta obra foi produzida: No princípio, isto é, no início do
tempo, quando este relógio foi colocado para funcionar pela
primeira vez. O tempo começou com a produção destes seres que
são medidos pelo tempo.Antes do início do tempo não havia nada
além daquele Ser Infinito que habita a eternidade. Se
perguntássemos por que Deus não fez o mundo antes, apenas
escureceríamos o conselho com palavras sem conhecimento. Pois
como poderia haver cedo ou tarde na eternidade? E ele o fez no
início do tempo, de acordo com os seus conselhos eternos antes de
todo o tempo. Os rabinos judeus têm um ditado que diz que houve
sete coisas que Deus criou antes do mundo, que têm apenas o
propósito de expressar a excelência delas: a lei, o arrependimento, o
paraíso, o inferno, o trono da glória, a casa do santuário e o nome do
Messias. Mas para nós, é suficiente dizer: No princípio era o Verbo,
João 1.1.
2. Aprendamos com isso: (1) Que o ateísmo é loucura, e os ateus são
os maiores loucos na natureza. Porque eles veem que há um mundo
que não poderia se fazer sozinho, e, no entanto, não reconhecem
que há um Deus que o fez. Sem dúvida alguma, eles não têm
desculpa, mas o deus deste mundo cegou as suas mentes. (2) Que
Deus é o Senhor soberano de todos por um direito incontestável. Se
Ele é o Criador, sem dúvida Ele é o dono, o proprietário dos céus e
da terra. (3) Que com Deus todas as coisas são possíveis. Portanto,
feliz é o povo que o tem por seu Deus, e cuja ajuda e esperança
esperam de seu nome, Salmos 121.2; 124.8. (4) Que o Deus a quem
servimos é digno de glória e louvor, e é exaltado acima de tudo e de
todos, Neemias 9.5,6. Se Ele fez o mundo, não precisa dos nossos
serviços, nem pode ser beneficiado por eles (At 17.24,25). Mesmo
assim Ele os requer e merece o nosso louvor, Apocalipse 4.11. Se
todas as coisas são dele, tudo deve ser para Ele. (HENRY, 2010, p. 3)
2. Panteísmo
O panteísmo é a visão que mostra Deus como sendo participante de sua
obra criada. Para o panteísta, Deus é tudo e tudo é Deus. Mas aqui reside
um problema. A Bíblia diz que Deus fez todas as coisas. Ela também diz
que o Deus criador se utiliza de sua criação para mostrar um pouco do seu
poder: “Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia as
obras de suas mãos” (Sl 19.1).
O salmista deixa claro que a criação e o seu Criador possuem uma
conexão, mas não se misturam, da mesma forma que uma pintura não é o
pintor, e sim uma obra deste. Diferente do ateu, o panteísta acredita que
Deus se misturou com a sua criação, e, dessa forma, os elementos da
natureza e do universo são Deus também. A criação tem sua importância
dentro do plano de Deus, e isso é inegável. Mas Deus não se mistura com a
sua criação.
3. Deísmo
O deísmo se baseia na perspectiva de que Deus criou todas as coisas,
sendo, portanto, um Deus todo poderoso. Entretanto, esse Deus limitou-se a
criar o mundo e os homens, mas não interfere na história da humanidade,
deixando, portanto, os homens viverem à sua própria sorte, de acordo com
o seu próprio entendimento. A partir dessa visão, os homens têm liberdade
para fazer o que desejarem, pois, para eles, Deus não intervirá na história,
nem nas ações dessas pessoas. A intervenção divina, para o deísmo, não
existe, visto que Deus não se importa mais com a sua criação. Já bastaria a
Ele ter criado o mundo e os homens. É como se Ele fosse um pai ausente,
que gerou um filho, mas deixa-o viver como desejar, com autonomia para
tomar suas decisões sem se importar com a eternidade.
Norman Geisler comenta que
O deísmo cresceu nos séculos XVI a XVIII, mas começou a morrer
no século XIX [...]. O deísmo cresceu na Europa, especialmente na
França e Inglaterra, e no final do século XVIII na América.
Todos os deístas concordam que há um Deus, que criou o mundo.
Todos os deístas concordam que Deus não intervém no mundo
mediante ações sobrenaturais. Mas nem todos os deístas concordam
quanto à preocupação de Deus com o mundo e à existência da vida
após a morte para os seres humanos. Geisler traz mais o que ele
chama de classificação entre os deístas:
Com base nessas diferenças, quatro tipos de deísmos são
distinguíveis. Os quatro variam da preocupação mínima por parte de
Deus até a preocupação máxima com o mundo, mas sem
intervenção sobrenatural.
O Deus sem preocupação. O primeiro tipo de deísmo foi em parte
de origem francesa. De acordo com essa visão, Deus não se preocupa
em governar o mundo que fez. Criou o mundo e o estabeleceu, mas
não tem consideração pelo que vem acontecendo com ele depois
disso.
O Deus sem preocupação moral. Na segunda forma de deísmo,
Deus se preocupa com os acontecimentos do mundo, mas não com
as ações morais dos seres humanos. O homem pode agir correta ou
incorretamente, justa ou injustamente, moral ou imoralmente. Deus
não se preocupa com isso.
O Deus com preocupação moral com esta vida. O terceiro tipo de
deísmo afirma que Deus governa o mundo e se preocupa com a
atividade moral dos seres humanos. Na verdade, exige obediência à
lei moral que estabeleceu na natureza. Mas não há futuro depois da
morte.
Deus com preocupação moral com esta vida e a próxima. O quarto
tipo de deísmo afirma que Deus regula o mundo, exige obediência à
lei moral baseada na natureza e preparou uma vida após a morte
com recompensas para os bons e castigos para os maus. Essa visão
era comum entre os deístas ingleses e americanos. (GEISLER, 2002,
p. 246)
Os deístas, portanto, acreditam em Deus e no seu poder de criação, mas
se negam a crer que Ele intervenha de modo sobrenatural no mundo que
criou.
4. Teísmo
O teísmo é a perspectiva de que Deus existe, criou todas as coisas, e que
se envolve diretamente em sua criação. Enquanto no deísmo Deus não
intervém em nada, no teísmo Deus está presente, atuando de forma direta
na história da humanidade, revelando sua vontade e zelando pela sua
criação. O teísmo rejeita o panteísmo por este tentar unir a criatura com o
Criador, fazendo dos dois, um. Rejeita também o deísmo, pois Deus é
presente na história da humanidade e intervém nela, e rejeita o ateísmo,
pois entende que Deus existe e sua existência pode ser comprovada de
diversas formas.
Conforme Geisler, as principais proposições do teísmo são:
Deus existe além e dentro do mundo. O teísmo afirma a imanência e
a transcendência de Deus. Deus existe além e independente do
mundo, mas governa todas as partes do mundo como causa
sustentadora. O mundo foi criado por Deus e é conservado por Ele.
O mundo foi criado ex nihilo. O mundo não é eterno. Foi criado
pelo decreto de Deus. Sua existência é totalmente contingente e
dependente. O universo não foi criado a partir de matéria
preexistente (ex matéria), como no dualismo ou materialismo, nem
feito da essência de Deus (ex deo), como no panteísmo. Ele foi criado
por Deus, mas a partir do nada.
Milagres são possíveis. Apesar de operar seu universo de forma
regular e ordenada pelas leis da natureza, Deus transcende essas leis.
A natureza não é tudo. Há uma esfera sobrenatural. Esse
sobrenatural pode invadir a esfera natural. O criador soberano não
pode ser trancado do lado de fora de sua criação. Apesar de Deus
normalmente agir de forma regular, ocasionalmente intervém de
forma direta. Essa invasão ocasional da natureza pelo sobrenatural é
chamada de “milagres”.
As pessoas são feitas à imagem de Deus. O teísmo acredita na
criação da humanidade à imagem de Deus. Isso significa que o
homem tem liberdade (v. livre-arbítrio) e dignidade, que devem ser
tratadas com o maior respeito. [...]
Há uma lei moral. Como o Deus teísta é um ser moral e como a
humanidade foi criada à sua imagem, e a consequência moral do
teísmo é que o dever supremo das pessoas é obedecer a lei moral.
Essa lei tem autoridade absoluta, já que vem de Deus. Ela está acima
de qualquer lei humana. É prescritiva, não apenas descritiva, como
são as leis da natureza. (GEISLER, 2002)
III – Deus de Amor e de Justiça
1. O amor de Deus
A Bíblia mostra a boa vontade de Deus para com a humanidade em
João 3.16. João nos mostra que o Pai proveu, em Jesus, a maior
demonstração de amor possível de ser expressa: de entregar seu próprio
Filho para morrer pelos seus inimigos. Apesar de a humanidade ter sido
alcançada pelo pecado e suas consequências,Deus trouxe a salvação,
revelando-se a si mesmo através da história de Israel, povo que Ele separou
para apresentar ao mundo o Senhor Jesus Cristo.
Há quem acredite que o amor de Deus é maior do que qualquer outra
coisa. Na estrada dessa premissa, essas pessoas imaginam que Deus é
somente amor e se esquecem de que Ele também é um Deus justo, e que a
justiça divina é um dos atributos de Deus, da mesma forma que o amor o é.
2. A justiça de Deus
Uma verdade com a qual precisamos lidar é que Deus é amor, mas
também preza pela justiça. A palavra “justiça” traz a ideia de “dar a cada
um aquilo que lhe é devido”. Conforme Romanos 2.6, em sua justiça, Deus
“recompensará cada um segundo as suas obras”. Em sua sabedoria e
santidade, Deus não pode atribuir inocência a alguém que pratica a
maldade e que é mau. Inocentar uma pessoa que cometeu um pecado, que
desafiou os mandamentos divinos, não faz parte da natureza divina, pois
tais ações implicam uma retribuição. Se uma pessoa faz o mal, ela receberá
como recompensa uma pena pela sua ação. Essa é a definição de justiça.
Diferente dos homens, que são injustos e tentam praticar coisas pelas quais
responderão nesta vida e na eternidade, Deus sempre julga de forma
correta.
Todas as pessoas desejam que, um dia, se precisarem, a justiça esteja ao
seu lado. Mas a verdade é que, em tese, a justiça existe para que possa punir
quem fez o mal e recompensar quem trilhou caminhos que a lei orientou.
Então, lei e justiça andariam juntas. A lei seria a base para se estipular uma
justiça, pois a lei precisa indicar o que é uma ação tida por certa dentro de
uma sociedade, e, assim fazendo, estabelece-se um padrão do que é justo ou
não. A Lei de Deus, no aspecto espiritual, é que determina o que é o certo e
o errado,
É preciso notar que o amor de Deus é manifesto em João 3.16, quando
Ele, por amor, envia seu Filho para nos salvar, mas é preciso pontuar que
essa salvação é necessária para que se cumpra a justiça de Deus.
3. A graça de Deus
Quando falamos de graça, estamos nos referindo a um favor que
recebemos, mas que não merecemos, um ato de generosidade. Em sua
soberania, Deus estabeleceu as regras que seriam o patamar para nos
relacionarmos com Ele. Esse relacionamento não seria pelas obras, pois
estas seriam diferentes umas das outras, da mesma forma que nós somos
diferentes uns dos outros. Ele estabeleceu a graça, numa demonstração de
misericórdia para com os transgressores. Enquanto os homens tentam se
achegar a Deus por meio de suas obras, Deus nos oferece a sua graça para
que nos aproximemos dEle.
Conclusão
Tratar acerca da pessoa de Deus é um grande desafio para os que não
creem na inspiração das Escrituras, pois para os que creem, o desafio é
apresentar essas verdades conforme as Escrituras.
Diante das diversas opções de classificar Deus e sua existência, a Bíblia
Sagrada mostra claramente que não estamos sozinhos, que o Senhor existe
e que é pela fé que podemos nos achegar a Ele: “Ora, sem fé é impossível
agradar-lhe, porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus cria
que ele existe e que é galardoador dos que o buscam” (Hb 11.6).
3
A Realidade Bíblica do Pecado
Introdução
Uma das características do cristianismo é o ensino de que o homem
possui uma forte tendência a rejeitar o que é bom e praticar o que é mau.
Tal prática desagrada e ofende a Deus, pois Ele nos criou para que
fizéssemos o que é certo e justo. Essa prática do que é mau chamamos de
pecado, algo que faz com que nos afastemos de Deus e sejamos condenados
a uma existência de conflitos com aqueles que nos cercam e com aquEle
que nos criou nesta vida, e ao inferno, na eternidade.
I – O que É o Pecado
1. Conceitos extrabíblicos sobre o pecado
Uma das características do pecado é o obscurecimento do entendimento
humano. Isso significa que qualquer coisa que lhe seja dita e que
corresponda a uma reprovação por seus atos errados, poderá ser
intelectualmente rechaçada por um coração orgulhoso.
Há uma corrente de pensamento que defende ser o pecado um
mecanismo de opressão de um grupo de pessoas por outro, de tal forma
que, se os oprimidos estiverem livres dessa opressão, não cometerão o
pecado. Para essa vertente, a pecaminosidade humana existe, mas é fruto de
um produto da sociedade. Outra corrente ensina que ações como a
violência e o desajuste sexual não têm uma origem espiritual, e sim
material, pois se o homem é fruto de uma evolução, esses elementos são
traços de características animais passadas geneticamente.
Para outros pensadores, o pecado é uma ilusão a ser combatida por meio
intelectual, pois para eles, se Deus não existe, logo, a ideia do pecado, que é
uma afronta contra esse Deus, também não deveria existir. Na prática, a
sociedade dos nossos dias rejeita a ideia da existência do pecado como um
mal que aflige a humanidade e que deve ser combatido; dessa forma, atribui
a ele mera percepção religiosa ou filosófica, não sendo, portanto, algo que
deva fazer parte das preocupações dos homens. Tudo isso são evidências de
que o pecado tem o poder de afetar o intelecto e as ações humanas,
distorcendo a capacidade de entender e aceitar as coisas espirituais.
2. O conceito bíblico sobre o pecado
A Bíblia descreve o pecado como um ato de rebeldia contra Deus.
Segundo o Dicionário Wycliffe, (2002, p. 1485), “pecado não é somente
alguma coisa contrária ao que Deus disse que o homem não deveria fazer,
mas é também algo contrário ao que Deus não quer que o homem faça,
com base nos princípios revelados”. A expressão mais utilizada para definir
o pecado é “errar o alvo”, ou seja, ter na sua frente um objeto e não
conseguir acertá-lo, como se uma pessoa que tivesse em mãos um arco e
uma flecha, ou mesmo uma funda, e não conseguisse atingir o alvo à sua
frente, ou porque este estava em movimento, ou porque quem atirou a
flecha ou a pedra não mirou de forma correta.
Se você alguma vez já praticou algum esporte ou participou de alguma
atividade recreativa cujo objetivo era acertar objetos em um ponto fixo,
sabe do que estou falando. É um feito atirar e acertar uma bola de papel em
um cesto de lixo de 20 centímetros de raio a uma distância de 3 metros. A
bolinha de papel é leve e facilmente perde a força com que foi lançada por
causa da resistência do ar. Se tentar fazer isso com outro objeto mais
pesado, pode ter uma possibilidade de acerto maior, mas se errar, terá a
mesma frustração. Se o alvo não for acertado, a tentativa é frustrada.
Mas o pecado traz também a definição de se esquecer de Deus, e isso é
tão danoso quanto errar o alvo. Adão e Eva até se lembraram das
orientações de Deus para que não comessem do fruto, mas rapidamente se
deixaram levar por outro discurso. Eles simplesmente se esqueceram de
Deus, da sua presença, do fato de que os havia criado e que Ele sempre
vinha conversar com o casal na viração do dia. Quando nos esquecemos de
Deus e transgredimos a sua lei, nos colocamos contra Ele e seus
mandamentos.
Davi exemplifica muito bem o fato de que os escritores sagrados tinham
consciência da existência do pecado: “Porque eu conheço as minhas
transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim” (Sl 51.3). Ele se
esqueceu de Deus quando esteve com Bate-Seba e quando ordenou a morte
do marido dela, mas via diante de si as consequências do seu pecado.
Geisler, sobre o pecado, descreve que
A partir de um ponto de vista teológico, o pecado é tudo aquilo que
não atinja a natureza moral de Deus. Paulo escreveu que “todos
pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23). Deus
disse: “Eu sou o Senhor, que vos faço subir da terra do Egito, para
que eu seja vosso Deus, e para que sejais santos: porque eu sou
santo” (Lv 11.45). Fica claro, portanto, que o padrão objetivo final é
a perfeição moral absoluta de Deus, e tudo aquilo que fuja disso será
pecado. (GEISLER, 2014, p. 86)
3. A origem do pecado
É natural que queiramos saber como as coisas surgiram, desde objetos a
grandes ideias. Nosso mundo foi criado por Deus, e nós também. Ocorre
que uma de suascriaturas, Satanás, mesmo dotado de proximidade da
glória de Deus, decidiu que seria semelhante ao Altíssimo, e por isso foi
retirado de sua condição de perfeição, tornando-se a fonte de todo o mal. O
profeta Ezequiel, falando acerca do rei de Tiro, profecia também atribuída
a Satanás, diz que “perfeito eras em teus caminhos, desde o dia em que
fostes criado, até que se achou iniquidade em ti” (Ez 28.15). Esse verso nos
mostra duas coisas: Satanás não é um deus, embora se ache um; e o pecado
pode corromper até a mais perfeita criatura.
Satanás, uma vez privado de sua glória por causa de sua rebeldia, se
dirige para transmitir seu mal a outras duas criaturas que foram feitas por
Deus, o homem e a mulher. Estes foram feitos à imagem de Deus, mas
estavam sujeitos ao mal, pois não eram refratários ao pecado. Eles deveriam
depender de Deus o tempo todo para que não pecassem, e justamente em
um momento em que se esqueceram de Deus, foram fisgados pelo discurso
de Satanás, pecaram contra o Eterno e foram julgados por essa
desobediência.
A partir daí, surgiram todas as desgraças que acometem a humanidade
desde mentiras, assassinatos, acusações, guerras, desrespeito entre os casais,
até morte. O pecado provém de Satanás, o pai da mentira, que peca e
mente desde o princípio (Jo 8.44).
4. O pecado original: uma análise bíblica
A teologia cristã se vale de certos termos para apresentar conceitos
gerais. Dentre esses termos utilizados está o chamado “pecado original”. Ele
é utilizado para representar o início do pecado na raça humana. Como
dissemos, é um conceito, e Geisler o explica da seguinte forma:
As Escrituras ensinam que o pecado de Adão afetou muito mais que
a ele próprio (Rm 5.12-21; 1 Co 15.21,22). Essa questão é chamada
pecado original e postula três perguntas: até que ponto, por quais
meios e em que base o pecado de Adão é transmitido ao restante da
humanidade? Qualquer teoria do pecado original precisa responder
as três perguntas e satisfazer os seguintes critérios bíblicos:
Solidariedade. Toda a humanidade, em algum sentido, está unida ou
vinculada, como numa única entidade, a Adão (por causa dele, todas
as pessoas estão fora da bem-aventurança do Éden; Rm 5.12-21; 1
Co 15.21,22). Corrupção. Por estar a natureza humana tão
deteriorada pela Queda, pessoa alguma tem a capacidade de fazer o
que é espiritualmente bom sem a ajuda graciosa de Deus. A essa
condição chamamos corrupção total — ou depravação — da
natureza. Não significa que as pessoas não possam fazer algum bem
aparente, apenas que nada do que elas façam será suficiente para
torná-las merecedoras da salvação. E esse ensino não é
exclusivamente calvinista. Até mesmo Armínio (mas não todos os
seus seguidores) descreveu o “livre-arbítrio do homem em favor do
verdadeiro Bem”, na condição de “preso, destruído e perdido... não
tem nenhuma capacidade a não ser aquela despertada pela graça
divina”. A intenção de Armínio, assim como depois a de Wesley, não
era manter a liberdade humana a despeito da Queda, mas asseverar
que a graça divina era maior até mesmo que a destruição provocada
pela Queda. Assim a corrupção é reconhecida na Bíblia. Salmos 51.5
menciona Davi sendo concebido em pecado, ou seja: seu pecado
remontava à concepção. Romanos 7.7-24 sugere que o pecado,
embora morto, estava em Paulo desde o princípio. Mais
categoricamente, Efésios 2.3 declara que todos somos “por natureza
filhos da ira”. “Natureza” (phusis) fala da realidade fundamental ou
origem de uma coisa. Daí ser corrupto o “conteúdo” de todas as
pessoas. Posto que a Bíblia ensina estarem corrompidos os adultos e
que cada um produz o seu igual (Jó 14.4; Mt 7.17,18; Lc 6.43), os
seres humanos forçosamente produzem filhos corruptos. A natureza
corrupta produzindo filhos corruptos é a melhor explicação da
universalidade do pecado. Embora vários trechos dos Evangelhos se
refiram à humildade e à receptividade espiritual das crianças (Mt
10.42; 11.25,26; 18.1-7; 19.13-15; Mc 9.33-37,41,42; 10.13-16; Lc
9.46-48; 10.21; 18.15-17), nenhum as afirma incorruptas.
Realmente, algumas crianças são até mesmo endemoninhadas (Mt
15.22; 17.18; Mc 7.25; 9.17).
A pecaminosidade de todos. Romanos 5.12 declara que “todos
pecaram”. Romanos 5.18 diz que mediante um só pecado todos
foram condenados, o que subentende que todos pecaram. Romanos
5.19 diz que mediante o pecado de um só homem todos foram feitos
pecadores. Textos que falam da pecaminosidade universal não fazem
exceções à infância. Crianças impecáveis seriam salvas sem Cristo,
mas isso é antibíblico (Jo 14.6; At 4.12). Ser merecedor de castigo
também indica o pecado. Todas as pessoas, até mesmo as crianças
pequenas, estão sujeitas ao castigo. “Filhos da ira” (Ef 2.3) é um
semitismo que indica o castigo divino (cf. 2 Pe 2.14). As imprecações
bíblicas contra crianças (Sl 137.9) indicam esse fato. E Romanos 5.12
diz que a morte física (cf. 5.6-8,10,14,17) chega a todos porque todos
têm pecado, aparentemente até as crianças. As crianças, antes da
idade de responsabilidade ou consentimento moral (a idade
cronológica provavelmente varia com o indivíduo), não são
pessoalmente culpadas. As crianças não têm o conhecimento do bem
e do mal (Dt 1.39; cf. Gn 2.17). Romanos 7.9-11 declara que Paulo
“vivia” até à chegada da lei mosaica (cf. 7.1), a qual fez “reviver o
pecado”, que o enganou e matou espiritualmente. (HORTON,
2018, p. 269-271)
II – As Consequências do Pecado
1. O homem foi criado bom
Segundo as Escrituras, o ser humano foi criado perfeito, sem pecado.
Chamamos isso de estado de inocência, no qual o homem e a mulher não
tinham a consciência do mal. Eclesiastes 7.29 diz que “Deus fez o homem
reto [...]”. Mas mesmo tendo sido criado sem imperfeição alguma, o
homem cedeu à tentação ofertada por Satanás e consumou seu pecado.
A partir de sua desobediência a Deus, dando ouvidos à proposta de
Satanás, o homem passou a ser mau. Observe que o homem usou da
liberdade que tinha para desobedecer a Deus: Gênesis 3 nos conta que
Satanás não obrigou o casal a comer do fruto que Deus lhes havia vedado,
entretanto Adão e Eva, convencidos por Satanás, comeram da árvore.
2. Degradação da raça humana
A humanidade pode até negar a existência do pecado, mas não pode
negar a consciência de que estão errados quando cometem um pecado.
Gênesis 3.7 diz: “Então, foram abertos os olhos de ambos, e conheceram
que estavam nus [...]”. O pecado tira a inocência do ser humano. Em vez
de dar consciência ao homem, ou mais inteligência e sabedoria, o pecado
degenera o pensamento, as relações sociais e obscurece a imagem de Deus
no ser humano.
Se eles buscaram ser parecidos com Deus, conhecedores do bem e do
mal, logo perceberam que a decisão que tomaram, incitados por Satanás,
lhes mostrou que o mal que desconheciam agora os dominava. Não
conheceriam a diferença entre o bem e o mal como meros observadores,
isentos de serem alcançados pela maldade. Eles levariam dentro de si aquela
moléstia, e seus descendentes também. Os homens se tornaram violentos,
gananciosos, assassinos, desrespeitosos de compromissos, doentes e
insatisfeitos com o que possuíam. Criaram deuses para si e o adoraram, e
nesses cultos degradaram a imagem e semelhança que tinham de Deus em
si.
3. Degradação do mundo em que vivemos
É curioso perceber que o pecado afetou não somente a humanidade,
mas igualmente o mundo em que ela vive. Questões como alterações
climáticas, poluição, alterações na produtividade dos alimentos tem sua
origem nos efeitos do pecado. O apóstolo Paulo nos diz que a criação
aguarda ser redimida (Rm 8.23). E por qual motivo? Os problemas
ambientais que vemos hoje são oriundos da pecaminosidade humana, seja
por força de ações, seja por omissões. O descaso com o ambiente em que
vivemos nos mostra o quanto nos afastamos de Deus, buscando usufruir da
sua criação sem a devida responsabilidade ou senso de preservação.
Mesmo a Terra Prometida por Deus a Moisés e ao povo foi alvo desse
descaso. A Lei de Moisés designava que a terra deveria descansar no sétimo
ano, após tersido lavrada e as colheitas realizadas. Esse descanso era “um
sábado ao Senhor” (Lv 25.4), mas os hebreus, desprezando esse
mandamento, fizeram o possível para gastar o ciclo reprodutivo da terra,
numa grave violação à lei do Eterno. Se antes eram escravos, e pela
bondade de Deus, livres e donos de uma terra considerada pelo Criador
como muito boa, agora se mostravam irresponsáveis com as orientações de
Deus. Décadas se passariam até que os hebreus se reagrupassem e voltassem
para restaurar a terra que eles mesmos haviam deteriorado. O preço do
descaso para com as orientações de Deus no tocante ao meio ambiente lhes
custou caro.
4. Pecados de maior gravidade
A palavra de Deus mostra que qualquer ação que ofenda a Deus é
pecado. Possuir um olhar arrogante é tão pecaminoso quanto semear
contenda entre seus irmãos (Pv 6.16-19). Ao que nos parece, há uma
gradação na prática de pecados, e sem dúvida há pecados que possuem um
poder destrutivo maior para quem o comete e para as pessoas que estão em
seu entorno.
Wayne Grudem comenta que
Alguns pecados são piores do que outros, pois trazem consequências
mais danosas para nós e para os outros e, no tocante ao nosso
relacionamento pessoal com Deus Pai, provocando-lhe o desprazer e
geram ruptura mais grave na nossa comunhão com ele.
As Escrituras às vezes falam de níveis de gravidade do pecado.
Estando Jesus diante de Pôncio Pilatos, disse ele: “Quem me entrega
a ti maior pecado tem” (Jo 19.11). A referência é aparentemente a
Judas, que convivera com Jesus durante três anos, e, no entanto,
deliberadamente o traía entregando-o à morte.
Quando Deus revelou a Ezequiel visões de pecados no templo de
Jerusalém, disse-lhe o seguinte depois de mostrar algumas coisas aos
profetas: “Pois verás ainda maiores abominações” (Ez 8.6).
(GRUDEM, 2022, p. 413)
Pecados de maior gravidade não se iniciam do nada. Eles tendem a ser a
soma de pequenos outros pecados, e que vão “subindo” numa hierarquia
maligna até se tornarem grandes pecados contra Deus e contra o ser
humano.
III – Consequências para quem Comete o Pecado
1. As mortes física e espiritual
Após criar o homem e colocá-lo no Éden, Deus advertiu que ele não
comesse do fruto gerado pela árvore do conhecimento do bem e do mal,
para que não morresse. Por ter dado mais ouvidos ao que Satanás lhes
disse, e tendo desobedecido a Deus, homem e mulher se sujeitaram à morte,
o fim da existência física. Não somente isso, mas todos os filhos de Adão e
Eva herdaram a pecaminosidade de seus pais e a morte que os levou.
Há aqui o que a teologia cristã chama de solidariedade. A partir de
Adão, o pecado e a morte como consequência foram transmitidos aos seus
descendentes. “Pelo que, por um homem, entrou o pecado no mundo, e
pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por
isso que todos pecaram” (Rm 5.12).
Portanto, para a teologia cristã, solidariedade não é o ato de partilhar
coisas com outras pessoas, de ser generoso, e sim a consequência que
herdamos de nossos primeiros pais, Adão e Eva, de pecar e de morrer como
resultado de nossas ações pecaminosas. Segundo a Carta aos Hebreus, “[...]
aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo, depois disso, o juízo”
(Hb 9.27). Na morte, o ser humano tem as suas conexões com este mundo
cessadas. Com a quebra da comunhão com Deus, vem também a morte
espiritual, a separação entre o homem e Deus. Essa é a segunda grande
consequência do pecado. Primeiro cessa-se a comunhão com Deus, e
depois, cessa-se a vida.
Geisler fala que
A morte é a separação de Deus, e a morte espiritual é a separação
espiritual de Deus. Isaías declarou: “Mas as vossas iniquidades fazem
divisão entre vós e o vosso Deus, e os vossos pecados encobrem o seu
rosto de vós, para que vos não ouça” (Is 59.2). No instante em que
Adão pecou, ele experimentou o isolamento espiritual de Deus; isto
fica evidenciado pela vergonha que ele sentiu a ponto de se esconder
do seu Criador. “Então, foram abertos os olhos de ambos, e
conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram
para si aventais. E ouviram a voz do SENHOR Deus, que passeava no
jardim pela viração do dia; e escondeu-se Adão e sua mulher da
presença do SENHOR Deus, entre as árvores do jardim”. (Gn 3.7,8).
(GEISLER, 2014)
2. A perdição eterna
A perdição eterna se dá após a morte física. Finda a existência do ser
humano, resta-lhe uma eternidade com ou sem Deus. A perdição eterna é
justamente a consequência de quem se esqueceu de Deus nesta vida, que
não se arrependeu de seus pecados e não aceitou a mensagem do evangelho
trazida por Jesus Cristo.
Ainda na esteira das consequências do pecado, Horton comenta que
O pecado, por sua própria natureza, é destrutivo. Já descrevemos
boa parte dos seus efeitos. Mesmo assim, é necessário aqui um breve
resumo. O estudo das consequências do pecado deve considerar a
culpa e o castigo. Há vários tipos de culpa (heb. ‘asham, Gn 26.10; gr.
enochos, Tg 2.10). A culpa individual ou pessoal pode ser distinguida
da comunitária, que pesa sobre as sociedades. A culpa objetiva
refere-se à transgressão real, quer posta em prática pelo culpado,
quer não. A culpa subjetiva refere-se à sensação de culpa numa
pessoa, que pode ser sincera e levar ao arrependimento (Sl 51; At
2.40-47; cf. Jo 16.7-11). Pode, também, ser insincera (com a
aparência externa de sinceridade), mas ou desconhece a realidade do
pecado (e só corresponde quando apanhada em flagrante e exposta à
vergonha e castigada, etc.) ou evidencia uma mera mudança
temporária e externa, sem uma reorientação real, duradoura e
interna (por exemplo, o Faraó). A culpa subjetiva pode ser
puramente psicológica na sua origem e provocar muitas aflições sem,
porém, fundamentar-se em qualquer pecado real (1 Jo 3.19,20). A
penalidade, ou castigo, é o resultado justo do pecado, infligido por
uma autoridade aos pecadores e fundamentado na culpa destes. O
castigo natural refere-se ao mal natural (indiretamente da parte de
Deus) incorrido por atos pecaminosos (como a doença venérea
provocada pelos pecados sexuais e a deterioração física e mental
provocada pelo abuso de substâncias). O castigo positivo é infligido
sobrenatural e diretamente por Deus. O pecador é fulminado, etc.
Os possíveis propósitos do castigo são relacionados a seguir. (1) A
retribuição ou a vingança pertencem exclusivamente a Deus (Sl 94.1;
Rm 12.19). (2) A expiação traz a restauração do culpado (esta
realizada em nosso favor pela expiação vicária oferecida por Cristo).
(3) O julgamento leva o culpado a dispor-se a restituir o que foi
tirado ou destruído, e assim pode ser comprovada a obra que Deus
realizou numa vida (Êx 22.1; Lc 19.8). (4) A correção influencia o
culpado a não pecar no futuro. Esta é uma expressão do amor de
Deus (Sl 94.12; Hb 12.5-17). (5) O castigo do culpado serve para
dissuadir a outros do mesmo comportamento. A dissuasão é usada
frequentemente nas advertências divinas (Sl 95.8-11; 1 Co 10.11).
Os resultados do pecado são muitos e complexos. Podem ser
considerados em termos de quem e o que é afetado por ele. O
pecado tem seu efeito sobre Deus. Embora sua justiça e sua
onipotência não sejam prejudicadas pelo pecado, as Escrituras dão
testemunho de seu ódio por ele (Sl 11.15; Rm 1.18), de sua paciência
para com os pecadores (Êx 34.6; 2 Pe 3.9), de sua busca pela
humanidade perdida (Is 1.18; 1 Jo 4.9-10,19), de sua mágoa por
causa do pecado (Os 11.8), de sua lamentação pelos perdidos (Mt
23.37; Lc 13.34) e de seu sacrifício em favor da salvação da
humanidade (Rm 5.8; 1 Jo 4.14; Ap 13.8). De todas as revelações
bíblicas a respeito do pecado, estas talvez sejam as mais humilhantes.
Todas as interações de uma sociedade humana outrora pura estão
pervertidas pelo pecado. As Escrituras protestam, repetidas vezes,
contra as injustiças praticadas pelos pecadores contra os “inocentes”
(Pv 4.16, sociais; Tg 2.9, econômicas; Tg 5.1-4, físicas; Sl 11.5; etc).
O mundo físico também sofre os efeitos do pecado. A decadência
natural do pecado contribui para os problemas dasaúde e do meio
ambiente. Os efeitos mais variados do pecado podem ser notados na
mais complexa criação de Deus: a pessoa humana. Ironicamente, o
pecado traz benefícios (segundo as aparências). O pecado pode até
mesmo produzir uma alegria transitória (Sl 10.1-11; Hb 11.25,26). O
pecado também produz pensamentos enganosos, segundo os quais o
mal parece bem. Como consequência, as pessoas mentem e
distorcem a verdade (Gn 4.9; Is 5.20; Mt 7.3-5), negando o pecado
pessoal (Is 29.13; Lc 39-52) e até mesmo a Deus (Rm 1.20; Tt 1.16).
Em última análise, o engano do que parece ser bom revela-se como
mau. A culpa, a insegurança, o tumulto, o medo do juízo e coisas
semelhantes acompanham a iniquidade (Sl 38.3,4; Is 57.20,21; Rm
2.8,9; 8.15; Hb 2.15; 10.27). (HORTON, 2018, p. 294-296)
Conclusão
Diante de tudo o que vimos, não podemos considerar o pecado como
algo neutro, como uma teoria humana que tenta justificar um
comportamento o errado, ou como uma simples ideia religiosa que busca
destacar a propensão humana às falhas de caráter. O pecado é uma ação ou
comportamento que desagrada a Deus, que nasce no coração do homem e
se estende às suas relações sociais e ambientais. O pecado contamina o
homem, deturpa a imagem de Deus no ser humano e destrói a sua
existência de diversas formas. Por causa de sua gravidade, era necessário
que Deus provesse um meio pelo qual o homem pudesse ser salvo e voltasse
a ter a comunhão que tinha com Ele. Sobre isso, falaremos acerca da
salvação ofertada por Deus em Jesus.
4
A Realidade Bíblica da Salvação
Introdução
A fé cristã se pauta em realidades bíblicas, apresentadas numa sequência
lógica, e as que estudamos anteriormente foram: a existência de Deus e a
malignidade do pecado. Nesta lição, trataremos de um terceiro tema
subsequente a esses dois: a realidade da salvação oferecida por Deus e a sua
operação contra o pecado. Se por um lado, a Bíblia nos ensina a má notícia
sobre a nossa condição, a de que somos pecadores e estamos afastados de
Deus, por outro lado, a Bíblia nos ensina a boa notícia, o evangelho, que
Deus proveu, em Jesus Cristo, a salvação de que necessitamos para ser
reconciliados com Ele.
A salvação tem, como doutrina e prática, a sua importância, pois dela
depende o resgate da humanidade pelo sacrifício de Jesus Cristo.
I – A Necessidade da Salvação
1. O que é a salvação
A expressão “salvação” pode assumir mais de um significado. Uma
empresa pode estar indo à falência, e um plano de recuperação para aquela
instituição pode ser a “salvação” daquela atividade empresarial e da
manutenção dos empregos dos seus funcionários. Em alguns países, jovens
delinquentes são motivados a servir nas forças armadas para sua “salvação”,
aprendendo a ser disciplinados e tomarem um rumo na vida que não seja a
prática de crimes. Náufragos à deriva podem ser “salvos” por uma
embarcação que esteja passando na rota onde estão e tirá-los daquele
ambiente inóspito. Portanto, a palavra salvação pode ter vários significados.
De forma geral, ela designa o ato de trazer livramento, de colocar numa
posição protegida, de dar segurança, de livrar da morte.
No aspecto da revelação bíblica, a palavra salvação ganha um
significado bem específico: o de salvar o homem de seus pecados. Esse
sentido envolve naturalmente mais de um elemento para que o
entendimento completo do seu significado possa ser entendido. No Antigo
Testamento Deus é visto como trazendo salvação ao seu povo, entretanto, o
seu objetivo sempre foi demonstrar o seu poder para trazer salvação dos
pecados, reconciliando consigo a humanidade. É Ele que começa o plano
da salvação, anuncia aos profetas e, quando chega o momento, envia o seu
Filho Unigênito ao mundo para cumprir o seu propósito. Mateus destaca
dessa forma o grande plano de Deus quando Jesus ainda nem havia
nascido: “E ela dará à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus, porque ele
salvará o seu povo dos seus pecados” (Mt 1.21). Nesse versículo podemos
perceber os elementos básicos que fundamentam a salvação:
 Deus enviou seu Filho. A salvação dos pecados do homem começa em
Deus. Ele foi o primeiro a prover o necessário para que a salvação
viesse a acontecer.
 Nascido de mulher. Jesus não era um ser desencarnado ou um espírito que
iludiu as pessoas que o viam. Ele cumpriu as leis deste mundo, nasceu,
cresceu, iniciou e concluiu seu ministério terreno, morreu e ressuscitou,
mostrando a veracidade de que “pela desobediência de um só homem,
muitos foram feitos pecadores, assim, pela obediência de um, muitos
serão feitos justos” (Rm 5.19).
 Chamado Jesus. Deus nomeou o Salvador, seu Filho, com um nome que
o acompanharia por séculos, e até pela eternidade. “E em nenhum
outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro
nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (At
4.12).
 Para salvar o seu povo. A salvação tem início entre o povo hebreu, para
onde Jesus foi enviado. Posteriormente, a salvação alcançou os gentios.
Como Deus fez promessas para os descendentes de Abraão, foi entre
eles que a salvação de Deus foi inicialmente anunciada e cumprida.
Eles tinham como referência as profecias trazidas pelos profetas que
Deus lhes havia enviado.
 Dos seus pecados. Deus não desejava salvar os hebreus do jugo romano ou
de qualquer outra nação. A salvação visava trazer de volta a comunhão
entre Deus e o homem caído, para que, uma vez perdoado e
restaurado, e tendo paz, pudesse passar a eternidade com o Senhor.
2. A origem da salvação
A salvação tem sua origem no próprio Deus. Foi Ele que planejou todo o
cenário pelo qual ela aconteceria, e uma das coisas que precisamos entender
é que o homem não pode salvar a si mesmo. A “moeda de troca” proposta
pela humanidade para tentar se chegar a Deus são as obras, mas estas são
insuficientes. Ao escrever aos Romanos, explicando-lhes sobre esse assunto
e tomando por base a Lei dada pelo próprio Deus a Moisés, o patriarca diz:
“Por isso, nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei,
porque pela lei vem o conhecimento do pecado” (Rm 3.20).
Nem as obras, nem a cultura podem trazer salvação. Há quem pense
que uma sociedade culta e educada está isenta do pecado. Educação e
cultura são bem-vindas para que uma sociedade possa se desenvolver, mas o
intelecto humano não responde à propensão humana para a maldade. O
pecado é uma realidade da qual a humanidade não pode se desvencilhar, e,
pelo fato de o pecado ofender a Deus, Ele estabeleceu os critérios pelos
quais o ser humano possa ser reconciliado com Ele, ainda que pertença a
uma sociedade altamente desenvolvida. Em sua sabedoria e justiça, Deus
nos deu a sua graça, que iguala a todos os homens: “Deus encerrou a todos
debaixo da desobediência, para com todos usar de misericórdia” (Rm
11.32). É desconcertante para o ser humano orgulhoso deparar-se com o
fato de que não pode salvar a si mesmo, mas isso não muda a realidade da
mecânica da salvação.
O homem deve responder à graça de Deus para que seja salvo.
3. O meio pelo qual provém a salvação
Como vimos, a salvação de que o homem necessita por causa de seus
pecados não pode ser conseguida pelas obras. Estas estão contaminadas. E
que meio Deus escolheu para trazer essa salvação? A graça divina.
Max Lucado, tentando explicar a importância da graça de Deus em
nossas vidas, nos traz uma parábola no livro Nas Garras da Graça que tentarei
resumir da seguinte forma:
Um pai morava com 5 filhos em um castelo, e desses filhos, somente
o mais velho era obediente. Os quatro outros filhos eram conhecidos
por sua rebeldia. No local em que moravam, havia um rio, do qual o
pai lhes advertira a não se aproximarem por ser um rio cuja maré
era forte e poderia levar uma pessoa. Os filhos rebeldes resolveram
testar a força do rio, e foram levados pelas águas a um país distante.
O povo daquela terra era selvagem, havia ventos frios e montanhas
inóspitas marcavam a geografia do lugar. Mesmo sem ter noção de
onde estavam, eles perceberam que aquele não era o lugar em que
haviam sido criados para ficar.

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