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Todos os direitos reservados. Copyright © 2024 para a língua portuguesa da Casa Publicadora das Assembleias de Deus. Aprovado pelo Conselho de Doutrina. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na web e outros), sem permissão expressa da Editora. Preparação dos originais: Cristiane Alves Revisão: Daniele Pereira Capa: Anderson Lopes Projeto gráfico e editoração: Anderson lopes Conversão para Ebook: Cumbuca Studio CDD: 240 – Moral Cristã e Teologia Devocional ISBN: 978-65-5968-322-2 e-ISBN: 978-65-5968-317-8 As citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e Corrigida, edição de 2009, da Sociedade Bíblica do Brasil, salvo indicação em contrário. Para maiores informações sobre livros, revistas, periódicos e os últimos lançamentos da CPAD, visite nosso site: https://www.cpad.com.br SAC — Serviço de Atendimento ao Cliente: 0800-021-7373 Casa Publicadora das Assembleias de Deus Av. Brasil, 34.401, Bangu, Rio de Janeiro – RJ CEP 21.852-002 1ª edição: 2024 https://www.cpad.com.br/ Sumário Capítulo 1 A Realidade da Fé Cristã Capítulo 2 A Realidade do Deus da Bíblia Capítulo 3 A Realidade Bíblica do Pecado Capítulo 4 A Realidade Bíblica da Salvação Capítulo 5 A Realidade Bíblica da Santificação Cristã Capítulo 6 A Realidade Bíblica do Cuidado com o Corpo Capítulo 7 A Realidade Bíblica do Casamento Capítulo 8 A Realidade Bíblica do Trabalho Capítulo 9 A Realidade Bíblica das Finanças Capítulo 10 A Realidade Bíblica do Senhor Jesus Cristo Capítulo 11 A Realidade Bíblica da Esperança Capítulo 12 A Realidade Bíblica do Evangelho na Cultura Capítulo 13 A Realidade Bíblica de uma Fé que Faz a Diferença Referências 1 A Realidade da Fé Cristã Introdução Todas as pessoas anseiam crer em alguma coisa ou em alguém. É da nossa natureza ter fé, ainda que esta seja depositada em um objeto, em uma ideologia ou em uma divindade. Por ocasião de sua criação, o homem foi brindado por Deus, o seu Criador, com a dádiva da fé, da certeza da existência de um Deus vivo e verdadeiro, único e presente todos os dias no jardim do Éden. Era impossível não crer em Deus e na sua existência naqueles dias. O homem se esqueceu de Deus por um breve momento, e tendo dado atenção ao Inimigo, pecou e perdeu a comunhão com o Eterno. A partir daí, os descendentes de Adão foram se multiplicando, e com eles as ideias de se aproximar de Deus, cada um do seu jeito. Assim, surgiram com o passar do tempo as diversas formas de pensamento religioso e as tentativas de o homem oferecer culto. Cultos monoteístas, politeístas, cultos aos astros, à natureza, à ciência ou a outras formas de pensamentos proliferaram na história da humanidade. A fé cristã, tema deste estudo, está presente em praticamente todas as partes do globo. Sua mensagem tem transformado milhões de vidas nos últimos vinte séculos, e seus ensinos, mudado muitas culturas. Sua influência é percebida por toda a sociedade, e a cada dia mais pessoas são alcançadas pelo poder do evangelho de Jesus Cristo. Mas o que faz dela uma fé diferente? Quais são os aspectos que a distinguem no tocante à atração ou rejeição por parte das pessoas que ouvem o evangelho? Por que a sua mensagem permanece relevante e necessária para os nossos dias? Neste estudo, vamos tratar sobre os temas centrais da fé cristã e de que forma podemos vivenciá-los. I – A Origem da Fé Cristã 1. O cristianismo e sua origem Partindo de uma perspectiva histórica e bíblica, a fé cristã se origina com a primeira vinda do Senhor Jesus Cristo a este mundo, a fim de comunicar o seu evangelho e cumprir as profecias acerca de sua vinda para salvar os pecadores. De forma embrionária, tudo começou em Israel, onde o Eterno, antes mesmo da fundação dessa pátria, chamou Abrão, um caldeu, para uma caminhada de fé, dependendo unicamente da orientação divina. A obediência de Abrão a Deus pela fé lhe rendeu o que Paulo chama de “justificação”: “Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça” (Rm 4.3). Abrão, cujo nome significa “pai elevado”, teve seu nome mudado para Abraão, que significa “pai de uma multidão”. Com o passar do tempo, os descendentes de Abraão passam a figurar na história mundial inicialmente como uma tribo de pessoas, depois como escravos no Egito, onde cresceram em número, e a seguir como um povo liberto da escravidão de forma milagrosa, para serem um reino, cuja base geográfica era a terra que Deus havia prometido ao patriarca, Canaã. O povo de Deus, os hebreus, receberam do Senhor uma terra, a liberdade e uma lei pela qual deveriam se pautar em suas relações com o Eterno, com o próximo e consigo mesmos. Em diversas idas e vindas flertando com a idolatria, mesmo sendo advertidos pelos emissários de Jeová, os profetas, os hebreus passaram por uma correção divina por causa das suas maldades. Essa correção dada por Deus foi a retirada temporária da terra em que foram colocados, e, nesse período, os descendentes de Abraão aprenderam que desobedecer a Deus tem um preço. O chamado para que fossem uma nação que serviria de exemplo da glória de Deus aos seus vizinhos passou a ser uma vergonha diante das nações com as quais interagiram na busca pelo pecado. Mas Deus os trouxe de volta, e, desta feita, amadurecidos, procuraram afastar a idolatria de seus arraiais. Mas o povo de Deus, mesmo nessa nova fase, não estava imune às mudanças geográficas e políticas que afetariam o mundo conhecido. Os assírios foram derrotados e substituídos na história pelos babilônicos. Os gregos vieram a seguir, e os romanos se estabeleceram após os gregos como dominadores do mundo. Esses movimentos levaram séculos para se sucederem, e, quando Jesus nasceu, os romanos eram os senhores do mundo. Israel não era uma nação livre e esperava que o Messias, aquEle que Deus enviaria, fosse libertá-los do domínio romano. Esses dois últimos povos citados, os gregos e os romanos, influenciaram bastante a origem do cristianismo. Earle A. Cairns comenta que A contribuição romana foi ofuscada pelo ambiente intelectual criado pela mente grega. A cidade de Roma pode ser identificada como o ambiente político do cristianismo, mas foi Atenas que ajudou a criar um ambiente intelectual propício à propagação do evangelho. (CAIRNS, 1984, p. 31) A formação e a história do povo de Israel e a sua interação com o evangelho passam pelo plano de Deus de trazer o Messias a partir do povo do pacto com Abraão, os hebreus. A especificidade dessa ação se tornou conhecida pelas revelações de Deus aos profetas. Por meio deles, foi anunciado o plano de Deus para a salvação da humanidade. A partir de Israel, Jesus trouxe seu evangelho por intermédio de ensinos acompanhados de milagres, curas, ressurreição de mortos e de perdão aos que se arrependiam de seus pecados. Portanto, no âmbito geográfico, o cristianismo se originou em Israel, pois foi lá que Jesus Cristo nasceu, cresceu, foi batizado, iniciou e concluiu o seu ministério, morreu, ressuscitou e foi recebido nos céus, segundo as Escrituras (1 Co 15.3-8). Jesus treinou em seu ministério terreno discípulos que, após a vinda do Espírito Santo, foram se espalhando pelo então Império Romano, de tal forma que a fé cristã foi crescendo e alcançando o mundo então conhecido. Esses homens e mulheres foram cheios do Espírito Santo para proclamar a mensagem deixada por Cristo, e a comunicaram com palavras e ações. O seu comportamento foi notório às sociedades em que estavam inseridos, e muitos milagres eram feitos pelas mãos dos apóstolos e seguidores de Jesus (At 5.12). A expressão “cristianismo” vem de um nome dado aos seguidores de Jesus que estavam em Antioquia: “cristãos” (At 11.26). Antes, eles eram chamados de seguidores do Caminho, uma alusão à fala de Jesus, em que Ele disse que era o “caminho” para se chegar até Deus. 2. O cristianismo e seu livro Para que a fé possa ser considerada sólida, não basta que a sua históriae ensinos sejam transmitidos de geração a geração. Ela precisa ter uma confiabilidade em seu conteúdo e a certeza de que não foi alterada com o tempo. A tradição passada através do tempo precisa ser registrada de forma que perdure pelo tempo, sem sofrer variações, pois a solidez dessa mensagem também dependerá da fidelidade com que foi repassada e guardada de forma escrita. A importância disso reside na possibilidade de os ensinos dessa fé e sua história ser consultada e estudada. Esse livro é a Bíblia, e sua existência é um milagre. Por mostrar que o homem precisa de Deus, que precisa confessar seus pecados e que precisa depender do Espírito de Deus, a Bíblia e sua mensagem têm sido um incômodo para aqueles que buscam desacreditar a fé em Deus, o sacrifício de Jesus e a presença do Santo Espírito conosco (Jo 17.14). A Palavra de Deus também mostra a importância de o homem ser justo, de ser fiel para com Deus, de abster-se de praticar o mal e de obedecer à voz do Espírito. Tais coisas costumam ser vistas pelo homem natural como motivos para ferir o seu orgulho. Por isso, a fé cristã valoriza a Bíblia acima de qualquer outro livro, tradição, pensamento humano ou qualquer prática que possa colocar em risco a sua veracidade e inspiração, pois ela veio de Deus. Não somente porque seus ensinos mostram ao homem o caminho a seguir para agradar ao Senhor, mas, acima de tudo, porque ela é a revelação de Deus para humanidade. 3. O cristianismo e sua mensagem O cristianismo se baseia em algumas premissas bem simples e diretas. A primeira é que Deus existe e criou todas as coisas que existem. O mundo que vemos, os animais, as pessoas, os oceanos, o espaço sideral, todos são obras de suas mãos. Salmos 33.6,9 diz que “Pela palavra do Senhor foram feitos os céus; e todo o exército deles, pelo espírito da sua boca [...]. Porque falou, e tudo se fez; mandou, e logo tudo apareceu”. E apocalipse 4.11 diz: “Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder, porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade são e foram criadas”. Esdras ora ao Senhor dizendo: “Tu só és Senhor, tu fizeste o céu, o céu dos céus e todo o seu exército, a terra e tudo quanto nela há, os mares e tudo quanto neles há; e tu os guardas em vida a todos, e o exército dos céus te adora” (Ne 9.6). E a obra prima da criação foram o homem e a mulher, criados com a capacidade de se comunicar e de se relacionar com Deus. A segunda premissa é que, ao criar o homem, Deus o fez sem pecado, mas o homem esqueceu-se do Senhor e pecou contra Ele, desobedecendo- lhe e atraindo para si o afastamento do Eterno e a chegada da morte física e eterna. Ao olharmos o livro de Gênesis, veremos que havia uma íntima comunhão entre o Criador e a criatura, pois Adão usufruía todos os dias de um diálogo com Deus (Gn 3.8). Essa é uma premissa fundamental para que se entenda posteriormente como o pecado entrou na humanidade O cristianismo também ensina que Deus iniciou o processo de redenção do homem, por meio do plano da salvação. Para que esse plano fosse executado com perfeição, Ele enviou o seu Filho, Jesus Cristo, para se oferecer como sacrifício pelos nossos pecados. E para que não houvesse dúvidas da intenção de Deus sobre a nossa salvação, Ele anunciou seu plano aos profetas hebreus, homens que recebiam do Senhor a revelação para que suas palavras ficassem registradas a fim de serem conferidas após seu conteúdo acontecer. Além disso, o cristianismo assegura que, uma vez alcançado pela salvação, o homem e a mulher se aproximam de Deus e recebem o Espírito Santo, a pessoa de Deus que mora em nós, que santifica e faz com que o poder do Eterno esteja nos transformando, de tal forma que sejamos mais parecidos com Jesus em seu comportamento, na oração e na santificação. É o poder do Espírito Santo na vida daqueles que creem em Jesus que faz a diferença e manifesta a glória de Deus para o mundo. Portanto, o cristianismo não se baseia somente na perspectiva de que o homem é pecador e está afastado de Deus. Se fossem somente essas verdades a serem apresentadas, o cristianismo seria uma fé sem esperança. Mas o Deus que trouxe a revelação de que o homem é pecador é o mesmo Deus que proveu a salvação para a humanidade. O evangelho mostra Deus habitando em nós pelo Espírito Santo. 4. A Palavra de Deus é confiável? Essa tem sido uma das perguntas mais feitas pelas pessoas que tem dúvidas sobre a revelação, a escrita e a precisão com que as palavras do Texto Sagrado foram preservadas por aqueles que tinham a responsabilidade de repassar para as gerações seguintes. Em geral, se coloca em xeque a fidelidade com que as informações foram repassadas com o passar do tempo, com o objetivo de dizer que a mensagem que temos em mãos foi alterada no decorrer da história. A Palavra de Deus nos foi repassada pelo trabalho dedicado de homens que, inspirados pelo Santo Espírito, deram suas vidas para preservar a mensagem que temos em nossas mãos. Esses homens se especializaram na preservação do texto e na sua reprodução em novas cópias. Eles eram chamados de copistas. Essas foram as pessoas que, pela providência de Deus, foram escolhidas para preservar o Antigo Testamento durante séculos. Um escriba começava seu dia de transcrição lavando cerimonialmente todo o seu corpo. A seguir, ele se vestia, com vestes judaicas completas, antes de se sentar à sua mesa. Durante a escrita, se chegasse ao nome hebraico de Deus, ele não podia começar a escrever o nome com uma pena recentemente mergulhada na tinta, temendo que ela manchasse a página. Depois de começar a escrever o nome de Deus, ele não podia parar nem se permitir nenhuma distração; mesmo que um rei entrasse na sala, o escriba era obrigado a continuar sem interrupções, até que terminasse de escrever o santo nome do único Deus verdadeiro. As diretrizes massoréticas para a cópia do manuscrito também exigiam o seguinte: O pergaminho devia ser escrito sobre a pele de um animal limpo. Cada pele deveria conter um número específico de colunas, que deveriam ser iguais por todo o livro O comprimento de cada coluna não devia ser inferior a 48 linhas, nem superior a 60. A largura da coluna devia ser exatamente de 30 letras. A medida de um fio devia aparecer entre cada consoante. A largura de nove consoantes tinha de ser inserida entre cada seção. Um espaço de cada três linhas tinha de aparecer entre cada livro. O quinto livro de Moisés (Deuteronômio) tinha de ser concluído com uma linha completa, exatamente. Nada, nem mesmo a palavra mais curta, podia ser copiada de memória, ela tinha de ser copiada letra a letra. O escriba devia contar o número de vezes que cada letra do alfabeto aparecia em cada livro e comparar esse número com o original. Caso se descobrisse que um manuscrito continha um erro, ainda que um só, era descartado. (MCDOWELL; MCDOWELL, 2015, p. 100) O trabalho desses copistas era feito de forma séria, e, por isso, o argumento de que os textos passados entre as gerações de copistas sofreram modificações geralmente é trazido por pessoas que desconhecem os processos de confecção de cópias dos textos antigos, ou que partem do pressuposto de que qualquer variação passível de ser trazida nos textos que temos em mãos é fruto de um erro. II – A Fé Cristã e os Valores Absolutos O pensamento dos nossos dias tende a não aceitar que a humanidade deva conviver com pensamentos tidos por absolutos. Isso significa que, a título de exemplo, não poderíamos crer nas verdades das Escrituras como sendo verdades para todas as pessoas, e sim só para os que acreditam em Jesus. Mas diante de Deus, nossas ações são vistas pela ótica das Escrituras, como ações que são classificadas em certas ou erradas aos olhos de Deus. 1. A ética, o certo e o errado Sempre que agimos em alguma área da vida, tomando decisões que causarão impacto em nosso futuro, ou nas nossas relações sociais e na relação com Deus, somos forçados a avaliar, com base nos resultados obtidos, se o que fizemos foi certo ou errado. Essas duas palavras sãocruciais para que possamos compreender uma das mensagens do cristianismo, pois o que fazemos, aos olhos de Deus, é classificado dessa forma. Com base na ética, uma das áreas de pesquisa da filosofia que estuda o comportamento, este pode ser classificado como moral, imoral ou amoral, e todas essas classificações estão vinculadas à cultura de quem praticou o ato ou da pessoa que está analisando o fato consumado. Conforme ensina a filosofia, uma criança nasce amoral, ou seja, sem a capacidade de entender que suas ações são carregadas de sentido e de ser julgada pelo que faz. Com o passar do tempo, essa criança terá seu comportamento considerado moral ou imoral. Dessa forma, à medida que uma criança se desenvolve, suas atitudes vão se moldando às orientações e ensinos familiares e à cultura adquirida na escola ou fora dela. Tudo o que ela fará será visto dessa forma com o passar do tempo. Se ela, ao se tornar uma adulta, decidir praticar coisas ruins, independentemente de ter sido ou não ensinada sobre esses valores, será tida, pela perspectiva ética, como uma pessoa imoral por praticar atos que firam a moralidade aceita. Se praticar coisas que venham a ser enxergadas como lícitas, então certamente ela será tida como uma pessoa cuja moral é aceita pelo seu grupo. Enquanto a maioria das religiões não procura avaliar se os atos de uma pessoa são certos ou errados, e a consequência deles para a eternidade, o cristianismo ensina que quando uma pessoa erra, praticando algo que Deus condena, tal ato é chamado de pecado, uma ofensa direta contra Deus. Isaías comenta que: “Mas as vossas iniquidades fazem divisão entre vós e o vosso Deus, e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça” (Is 59.2). Para Deus, o pecado é algo muito sério. 2. A necessidade de um absoluto Quando se tem duas opiniões contraditórias, é preciso que se veja qual é a certa. A Palavra de Deus é o balizador do cristianismo, pois o que ela disser que é o certo, é o certo aos olhos de Deus, independentemente da cultura em que o leitor da Escritura se encontre. Por mais que seja visto como exclusivista, o cristianismo trata do que é certo e do que é errado porque, no final das contas, isso é bem mais do que classificar o comportamento. Definir o que é certo e o que é errado diante de Deus vai determinar nossas ações nesta vida e a recompensa delas na eternidade. Nada do que fazemos fica sem uma retribuição, seja nesta vida, seja na vida após a morte. 3. Certo e errado “Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal! Que fazem da escuridade luz, e da luz, escuridade, e fazem do amargo doce, e do doce, amargo!” (Is 5.20). Na contramão do que o pensamento dos nossos dias tenta impor, de que não há um padrão de certo e de errado no que tange ao comportamento humano, a Bíblia aponta que aos olhos de Deus há, sim, o certo e o errado, e tal orientação se baseia na natureza do próprio Deus. O certo é fazer a vontade de Deus, e o errado é cometer pecado. Quando pecamos, nos colocamos contrários a Deus e sua lei, atraindo para nós mesmos o juízo divino. Tal postura, de considerar o errado como certo, já era vista nos dias do profeta Isaías, e Deus adverte ao seu próprio povo sobre esse tipo de atitude. Para que não houvesse dúvidas sobre a questão do comportamento dos hebreus nos dias de Isaías, Deus não somente fala sobre o bem e o mal, que podem parecer conceitos mais filosóficos, mas Ele exemplifica com algo básico: luz e trevas. Os hebreus sabiam a diferença entre um ambiente escuro e um ambiente iluminado, e isso não poderia ser mudado. A luz não se confunde com as trevas. Deus, em seu ensinamento, mostra mais dois elementos que eram antagônicos: o doce e o amargo. A título de exemplo, o mel jamais poderá ser amargo, e uma folha de boldo jamais poderá ter um sabor doce. Mas os que desobedeciam a Deus insistiam em trazer pensamentos que tentavam modificar o certo e o errado para darem continuidade aos seus pecados. 4. Por que definir o que é certo e o que é errado é importante? A mente humana foi elaborada por Deus para tomar decisões. Existem até mesmo técnicas que são utilizadas para que uma pessoa tome decisões mais acertadas, chamadas de “processo decisório”, em que se busca analisar o cenário em que se está, que opções estão presentes e que escolha vai causar menos problemas ou vai trazer mais índices de acertos em determinada circunstância. Certamente não é um estudo cuja exatidão seja matemática, pois se tratando de pessoas e, se for o caso, de uma atividade empresarial, muitos outros fatores podem influenciar no resultado de uma decisão tomada. Nem sempre é possível tomar todas as decisões certas, mesmo assim este é recurso disponível para a tomada de decisões. Quando se trata de algumas situações, ninguém questiona a existência de um absoluto em relação ao que podemos considerar certo ou errado. Se uma pessoa cai em queda livre de uma altura de 200 metros, certamente sofrerá com o impacto da lei da gravidade e dificilmente poderá sobreviver desse evento, e isso nos parece bem absoluto. Se uma pessoa, matriculada em um curso cujo processo de avaliação vai mensurar o conhecimento por meio de notas advindas de provas, decide ignorar todas as avaliações e se concentra somente na última prova, com certeza, não vai se sair bem no computo geral, e será reprovada em todo o curso, pois não conseguiu nem estudar, nem pontuar devidamente conforme as regras preestabelecidas pela instituição de ensino. Isso também nos parece bem absoluto. Se o comandante de um navio decide navegar por águas próximas do litoral, conhecidas pela quantidade de rochas submersas existentes, e nessa proximidade bater em alguma delas, com certeza, será responsabilizado pelos danos que fez ao navio. Isso também nos parece bem absoluto e inquestionável, pois tal pessoa está se arriscando a infringir regras de navegação que foram criadas para manter a embarcação, os tripulantes, a carga ou passageiros e o meio ambiente seguros. Nessas três hipóteses apresentadas, ninguém questiona que a existência de parâmetros específicos para tais cenários não pode ser ignorada. Definir o que é certo e errado, portanto, faz a diferença, independentemente da opinião das pessoas. Entretanto, quando se trata de questões relacionadas à espiritualidade, a maioria das pessoas entende que não existem caminhos exclusivos que conduzam uma pessoa a Deus. Para tais indivíduos, o ditado “Todos os caminhos levam a Deus” é aceiro como uma premissa para que se rejeite o evangelho e Jesus como sendo o único caminho para se chegar até Deus. III – A Mensagem do Cristianismo para os nossos Dias 1. O cristianismo tem uma mensagem de esperança Disse certo pensador que, quando acontece uma desgraça no mundo, as pessoas tendem a perguntar onde estava Deus naquele momento. Mais do que dizer onde Deus está, a resposta mais acertada é mostrar que, apesar das coisas ruins que acontecem no mundo em que vivemos, como guerras, doenças, terremotos e fome, a Palavra de Deus nos aponta que aqueles que creem em Jesus têm a esperança que vai além do pensamento humano. A fé cristã não é uma crença que traz somente advertências às pessoas para que ouçam a sua mensagem. Ela nos apresenta o caminho traçado por Deus para que tenhamos a certeza de que o futuro não se resume ao que os nossos olhos conseguem enxergar. Numa era em que as pessoas tendem a ser refratárias a más notícias, a Bíblia Sagrada não se furta ao ato de comunicar ao homem a sua real situação: que é pecador, que precisa se arrepender de seus pecados, mas que, apesar dessa situação, Deus proveu a salvação de que ele necessita. Portanto, há esperança em Deus para a humanidade. 2. A salvação de Deus é para todos Da mesma forma que o pecado entrou no mundo por um homem, Deus proveu a salvação para todos por meio também de um homem. A salvação oferecida por Deus cumpriu, de forma sobrenatural, as regras deste mundo: Jesus nasceu, cresceu, foi cheio do Espírito, pregou o evangelho, morreu, ressuscitou e comissionou seus discípulosa que transmitissem a sua mensagem às gerações que se seguiriam. E em sua Palavra, Deus destaca que a graça se manifestou a todos os homens (Tt 2.11), que é ofertada a toda a humanidade. Ninguém, por mais pecador que seja, está fora do alcance dessa graça divina, mas é preciso que tal pessoa se arrependa de seus pecados. 3. O rei está voltando A mensagem final do cristianismo se baseia numa perspectiva do Reino proposto por Deus. Diferente de reis apontados na história, que se corrompiam e deixavam de praticar a justiça, prejudicando a si e aos seus governados e promovendo guerras, o Reino de Deus será justo, pois sua base será a justiça divina. Não será um reino voltado para a satisfação pessoal, pois “[...] não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm 14.17). Haverá um dia em que o Senhor Jesus Cristo reinará por todo o sempre. Nenhuma injustiça será feita. Não teremos corrupção, nem morte, nem outras coisas más com as quais precisamos conviver neste mundo. Ainda que não consigamos desfrutar de tal dia em nossa existência terrena, pela fé cremos que esse dia chegará, e que todos os que se entregaram a Jesus e fizeram dEle o seu Rei e Senhor estarão com Ele no dia do seu triunfo. 4. Existe uma intolerância para com a fé cristã? Em uma era como a nossa, em que as opiniões tendem a ter mais peso do que a verdade real, é comum que percebamos um nível de intolerância para com qualquer pensamento que se declare único, real, absoluto ou exclusivista. O príncipe deste século tem conduzido milhões de pessoas a crer que não existe uma verdade considerada absoluta, ou seja, que sirva para todas as pessoas em todas as culturas. Junto com esse pensamento vem a intolerância, tão requerida por alguns grupos e tão rejeitada por essas pessoas quando são confrontadas em seus discursos. Erwin Lutzer discorre sobre o sentido da intolerância em nossos dias desta forma: Permita-me deixar claro que a tolerância pode ser definida de duas maneiras legítimas. [...] a tolerância legal é o direito que cada um tem de acreditar em qualquer crença (ou em nenhuma) que se queira acreditar. Tal tolerância é muito importante em nossa sociedade, e nós, como cristãos, devemos manter nossa convicção de que ninguém jamais deve ser coagido a crer no que cremos. A liberdade religiosa não só deve ser mantida nas democracias ocidentais, mas também promovida em outros países. Segundo, existe a tolerância social, ou compromisso de respeitar todas as pessoas mesmo que discordemos frontalmente de sua religião e ideias. Quando nos envolvemos com outras religiões e questões morais na feira ideológica, deve ser com cortesia e bondade. Temos de viver em paz com todos os indivíduos, mesmo com os de convicções divergentes, ou com os que não têm nenhuma crença. Mas a tolerância da qual falo — se preferir, nosso ícone nacional — é algo bastante diferente. Trata-se de uma tolerância desprovida de crítica que evita o debate enérgico na busca da verdade. Essa nova tolerância insiste que não temos direito de discordar de uma agenda social liberal; não devemos defender nossas perspectivas de moralidade, religião e respeito pela vida humana. Essa tolerância respeita ideias absurdas, mas castiga qualquer um que acredite em absolutos ou que reivindique ter descoberto alguma verdade. (LUTZER, 2023, p. 31,32) Conclusão Concluímos que, obscurecidos pelo pecado, os homens tendem a realmente rejeitar a Deus e à mensagem do evangelho de Jesus Cristo, mas tais ações não irão mudar o que a Palavra de Deus nos diz acerca do destino eterno de quem aceita ou rejeita a Jesus. A mensagem da Bíblia permanece sendo uma referência para os nossos dias, pois foi Deus que a inspirou e se responsabiliza pela sua veracidade. A salvação oferecida por Deus, e tão anunciada pelos cristãos, é para todas as pessoas que recebam pela fé o sacrifício feito por Jesus na cruz. 2 A Realidade do Deus da Bíblia Deus, Grandioso Ser, jamais criado Princípio e Fim não delimitam tua história Excelso Espírito, Supremo e Iluminado Pai Excelente, Santo e Puro, em áurea glória Como explicar-te à criatura, que é tão breve Que esculturaste da poeira esquecida Mas adorar-te é o que se pode e o que se deve Na gratidão, de quem do nada deste a vida — Ozeias de Paula Introdução As religiões do mundo costumam ser divididas em religiões politeístas e monoteístas. Enquanto naquelas há uma pluralidade de deuses, nestas somente há espaço para um único Deus. O cristianismo é, por essência, uma fé monoteísta. A existência de um único Deus, em três pessoas, é um dos pilares do cristianismo. A partir dessa premissa, tudo o que veremos na sequência depende do entendimento de que Deus existe, que criou todas as coisas e que se revelou a nós pela sua vontade. É Deus que dá origem à vida, a todas as coisas, organiza o mundo e tudo o que nele há. Ele também é o responsável pela criação do homem e da mulher. Esse Deus se revela de forma específica revelando seu caráter, sua essência e sua vontade à humanidade, e nos apresenta em sua Palavra o plano da salvação. Acerca desse Deus e de sua revelação estudaremos neste capítulo. I – Deus e sua Existência 1. Deus existe A fé cristã se baseia na certeza da existência de Deus. A Bíblia, em Gênesis 1.1, deixa claro não somente a existência dEle, mas igualmente o seu poder e a sua iniciativa por meio do ato da criação quando nem mesmo o tempo ainda era contado: “No princípio, criou Deus os céus e a terra”. Esse primeiro verso das Escrituras nos mostra que o universo e o nosso planeta não são eternos, ou seja, que foram criados. Mostra também que houve uma atividade inicial, dada por Deus, para que tudo o que vemos viesse a existir. E mostra que a Bíblia não se preocupa em demonstrar a existência de Deus para pessoas que têm dúvidas. Na verdade, ela já parte do pressuposto de que Deus existe antes de tudo. Tudo o que vemos teve um começo, e isso se deu pela vontade de Deus. Nada no mundo surgiu do acaso, do nada, pois o nada nada cria. E para que não houvesse dúvidas acerca dessa realidade, Deus se “descortinou” a todos, por meio de um processo inteligente, alcançável pelo entendimento humano, chamado revelação. Esse debate é importante, pois da existência de Deus decorrem outros temas, como a sua revelação, seus planos, sua criação, sua vontade e os últimos dias da humanidade nesta terra. Se Deus não existe, não há que se falar de uma revelação que mostre quem esse Deus é, nem se pode determinar o que fez. Se não há um Deus, não há que se estipular um padrão moral de conduta que seja absoluto para todas as culturas, pois qualquer forma de pensamento ou padrão moral que não seja estabelecido por Deus seria considerado válido se Deus não existisse. 2. Uma revelação geral O Deus criador mostrou sua existência à humanidade por meio de sua criação, e essa revelação, chamada de “natural”, se baseia justamente na certeza de que os atos criativos de Deus, ou seja, a sua obra, se manifestam na natureza, têm a capacidade de, mesmo de forma limitada, mostrar que o homem e o mundo tiveram uma origem, que não são frutos de um acidente cósmico ou resultado de uma ação de forças impessoais. É possível que o homem decida negar intelectualmente a Deus e sua existência. Romanos 1.18 declara que “[...] do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens que detêm a verdade em injustiça”. Paulo deixa claro que há pessoas que, deliberadamente, reconhecem a existência de Deus, mas preferem negá-la e transformá-la em algo injusto. Esses homens são “indesculpáveis” (Rm 1.20, ARA) por decidirem usar seus intelectos para rejeitar a Deus e sua justiça. Não se trata da aceitação de uma ideia filosófica ou de uma discussão acadêmica, pois a rejeição ao reconhecimento da existência de Deus é o primeiro passo para a prática da injustiça. Poderíamos pensar que a rejeição intelectual a Deus e a sua revelação seriam vistas em ambientes de pouca possibilidade de instrução. Entretanto, Timothy Keller realça a seriedadedo que vemos em nossos dias nos ambientes acadêmicos, locais onde, em tese, as ideias poderiam ser debatidas com isenção: Os best-sellers de Richard Dawkins, Daniel C. Dennett e Sam Harris partem do princípio de que a ciência em geral e a ciência evolucionista em particular tornaram desnecessária e obsoleta a crença em Deus. Dawkins fez a famosa afirmação de que “embora, antes de Darwin, o ateísmo possa ter sido embasado pela lógica, Darwin tornou possível ser um ateu intelectualmente realizado”. Em The God Delusion ele vai além. Defende que é impossível ser um pensador científico sério e nutrir crenças religiosas. Uma coisa exclui a outra. Para fundamentar essa tese, ele observa que um estudo em 1998 mostrou que apenas cerca de 7% dos cientistas americanos da Academia Nacional de Ciências acreditam em um Deus pessoal. Isso prova que quanto mais inteligente, racional e cientificamente orientado alguém for, menos capaz será de crer em Deus. (KELLER, 2015, p. 114) Tal fato deve nos chamar a atenção, pois dos ambientes acadêmicos saem as grandes lideranças mundiais, que posteriormente insistirão em desacreditar a Deus e sua Palavra, e a veracidade da fé cristã. 3. Uma revelação específica O homem comum, ainda que esteja sob efeito do pecado, não está isento de reconhecer que há um Deus que opera todas as coisas pela sua santa vontade e justiça. É possível ilustrar tal fato observando o caso dos habitantes da ilha de Malta, para onde Paulo e os demais prisioneiros náufragos foram levados por Deus. Para que se aquecessem do frio, os nativos da ilha, chamados por Lucas de “bárbaros”, acenderam uma grande fogueira para os náufragos por causa do frio e da chuva. Paulo recolhe algumas vides e é picado por uma cobra venenosa, motivo pelo qual os habitantes da ilha concluem: “Certamente este homem é homicida, visto como, escapando do mar, a Justiça não o deixa viver” (At 28.4). Aqueles homens não conheciam o Deus revelado nas Escrituras, mas sabiam que há uma justiça divina que não deixa escapar dos seus atos aqueles que praticam o mal. Graças àquele evento, os habitantes da ilha de Malta puderam ouvir o evangelho, pois Paulo foi livrado por Deus da morte. Não há como negar que a consciência tem um poder incrível de influência na forma de pensar do homem, ainda que este possa ignorar seus avisos. Ela é o juiz interior que nos julga de acordo com os nossos feitos, condenando-nos ou absolvendo-nos. Mas a revelação geral e a consciência se mostram insuficientes diante da pecaminosidade do homem, e, por isso, Deus proveu a sua Palavra inspirada para que houvesse uma comunicação direta para com o intelecto humano. 4. Porque a revelação natural não é suficiente A revelação natural tem, efetivamente, um alcance limitado para apresentar Deus aos homens. Paul David Tripp traz a seguinte perspectiva: Deus criou o mundo não apenas para nos proporcionar prazer por meio de sua beleza e nos sustentar por meio de seus recursos, mas também para servir a um propósito moral significativo. Tudo que Deus criou foi projetado para nos confrontar com a existência e a natureza de Deus e, ao fazê-lo, confrontar nossas ilusões de autonomia e autossuficiência. O ciclo das estações aponta para a sua sabedoria e fidelidade. O fato de todos nós vermos a beleza da criação e sermos aquecidos pelo seu sol e banhados por sua chuva nos mostra seu amor e misericórdia. As tempestades trovejantes com queda de raios e ventos violentos apontam para a imensidão de seu poder. Mas Deus, em sua sabedoria, sabia que a revelação geral da criação, a qual nos confronta com sua existência e glória, não poderia nos transmitir o tipo de conhecimento — dele mesmo, o conhecimento necessário de nós mesmos, uma compreensão do significado e do propósito da vida, e uma consciência do desastre causado pelo pecado e da condição caída do mundo ao nosso redor — que pudesse nos salvar de nós mesmos, nos mover em direção a Ele por sua graça redentora e nos conceder um plano de como deveríamos, portanto, viver como filhos dessa mesma graça. E, assim, Deus deu- nos a maravilhosa e surpreendente dádiva de sua Palavra. (TRIPP, 2023, p. 34, 35) II – Ideias acerca da Pessoa de Deus 1. Ateísmo Na história da humanidade, é possível ver que há uma divisão entre as pessoas que creem que Deus existe, e que criou todas as coisas, e há as pessoas que não acreditam na existência do Senhor e no seu poder. A este último grupo, denominamos “ateus”, pessoas que discordam, em seus pensamentos e ações, da existência de um Ser poderoso e supremo, que fez todas as coisas e que intervém na história. Essa ideia de que não há um Deus não é recente. Há milhares de anos, Salmos 53.1 já advertia: “Disse o néscio no seu coração: Não há Deus”. A negação acerca da existência de Deus começa no íntimo do homem, de maneira velada, com a ideia da ausência divina como uma semente que está em germinação. A Palavra de Deus não diz que essa negação é exteriorizada de forma imediata, mas diz que ela começa no coração, entre os pensamentos do homem. O fruto dessa negação intelectual alcança as ações da pessoa, o que é demonstrado pelo salmista no mesmo versículo: “Tem-se corrompido e cometido abominável iniquidade”. Há uma séria conexão entre a crença na não existência de Deus e as ações que conduzem o homem a praticar atos abomináveis. A Bíblia afirma que a negação à existência de Deus tem resultados bem práticos. Geisler comenta que Enquanto o politeísmo dominou grande parte do pensamento grego antigo e o teísmo dominou a posição medieval, o ateísmo floresceu no mundo moderno. É claro que nem todos que não tem fé em um ser divino querem ser chamados de “ateus”. Alguns preferem a atribuição positiva “humanistas”. Outros talvez sejam mais bem descritos como “materialistas”. Mas todos são não-teístas, e a maioria é antiteísta. Ao contrário do teísta, que acredita que Deus existe além e no mundo, e do panteísta, que acredita que Deus é o mundo, o ateu acredita que não há Deus neste mundo e nem no além. Só existe um universo ou cosmo, e nada mais. Em geral, há tipos diferentes de ateísmo. O ateísmo tradicional (metafísico) afirma que nunca houve, não há e jamais haverá um Deus [...] o ateísmo conceitual acredita que há um Deus, mas ele está escondido da nossa visão, obscurecido pelas nossas construções conceituais. Finalmente, ateus práticos confessam que Deus existe, mas acreditam que devemos viver como se ele não existisse. (GEISLER, 2002, p. 83) Outro aspecto do ateísmo é a negação da criação. Se Deus não existe, então tudo o que vemos surgiu do acaso, e não com uma intencionalidade. Esse pensamento tem achado guarida entre as pessoas que aceitam a Teoria da Evolução como sendo uma lei, e entre aqueles que acreditam que tudo o que existe é simplesmente matéria. Para tais pensadores, Gênesis 1 e 2 são meras mitologias, e não fatos. Matthew Henry, pregador e teólogo do século XVIII, reforçando a veracidade dos dois primeiros capítulos de Gênesis, comentou que (3) O modo pelo qual esta obra foi realizada: Deus criou, isto é, fez do nada. Não havia nenhuma matéria pré-existente a partir da qual o mundo foi produzido. Os peixes e as aves foram certamente produzidos a partir das águas, e os animais e o homem da terra. Mas esta terra e estas águas foram feitas do nada. Pelo poder comum da natureza, é impossível que algo seja feito do nada. Nenhum artífice pode trabalhar, a menos que ele tenha com que trabalhar. Mas pelo poder infinito de Deus, não só é possível que algo seja feito do nada (o Deus da natureza não está sujeito às leis da natureza), mas na criação é impossível que ocorra o contrário, porque nada é mais desrespeitoso para a honra da Mente Eterna do que duvidar de sua onipotência. Assim, a excelência do poder pertence a Deus, como também toda a honra e toda a glória (4) Quando esta obra foi produzida: No princípio, isto é, no início do tempo, quando este relógio foi colocado para funcionar pela primeira vez. O tempo começou com a produção destes seres que são medidos pelo tempo.Antes do início do tempo não havia nada além daquele Ser Infinito que habita a eternidade. Se perguntássemos por que Deus não fez o mundo antes, apenas escureceríamos o conselho com palavras sem conhecimento. Pois como poderia haver cedo ou tarde na eternidade? E ele o fez no início do tempo, de acordo com os seus conselhos eternos antes de todo o tempo. Os rabinos judeus têm um ditado que diz que houve sete coisas que Deus criou antes do mundo, que têm apenas o propósito de expressar a excelência delas: a lei, o arrependimento, o paraíso, o inferno, o trono da glória, a casa do santuário e o nome do Messias. Mas para nós, é suficiente dizer: No princípio era o Verbo, João 1.1. 2. Aprendamos com isso: (1) Que o ateísmo é loucura, e os ateus são os maiores loucos na natureza. Porque eles veem que há um mundo que não poderia se fazer sozinho, e, no entanto, não reconhecem que há um Deus que o fez. Sem dúvida alguma, eles não têm desculpa, mas o deus deste mundo cegou as suas mentes. (2) Que Deus é o Senhor soberano de todos por um direito incontestável. Se Ele é o Criador, sem dúvida Ele é o dono, o proprietário dos céus e da terra. (3) Que com Deus todas as coisas são possíveis. Portanto, feliz é o povo que o tem por seu Deus, e cuja ajuda e esperança esperam de seu nome, Salmos 121.2; 124.8. (4) Que o Deus a quem servimos é digno de glória e louvor, e é exaltado acima de tudo e de todos, Neemias 9.5,6. Se Ele fez o mundo, não precisa dos nossos serviços, nem pode ser beneficiado por eles (At 17.24,25). Mesmo assim Ele os requer e merece o nosso louvor, Apocalipse 4.11. Se todas as coisas são dele, tudo deve ser para Ele. (HENRY, 2010, p. 3) 2. Panteísmo O panteísmo é a visão que mostra Deus como sendo participante de sua obra criada. Para o panteísta, Deus é tudo e tudo é Deus. Mas aqui reside um problema. A Bíblia diz que Deus fez todas as coisas. Ela também diz que o Deus criador se utiliza de sua criação para mostrar um pouco do seu poder: “Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras de suas mãos” (Sl 19.1). O salmista deixa claro que a criação e o seu Criador possuem uma conexão, mas não se misturam, da mesma forma que uma pintura não é o pintor, e sim uma obra deste. Diferente do ateu, o panteísta acredita que Deus se misturou com a sua criação, e, dessa forma, os elementos da natureza e do universo são Deus também. A criação tem sua importância dentro do plano de Deus, e isso é inegável. Mas Deus não se mistura com a sua criação. 3. Deísmo O deísmo se baseia na perspectiva de que Deus criou todas as coisas, sendo, portanto, um Deus todo poderoso. Entretanto, esse Deus limitou-se a criar o mundo e os homens, mas não interfere na história da humanidade, deixando, portanto, os homens viverem à sua própria sorte, de acordo com o seu próprio entendimento. A partir dessa visão, os homens têm liberdade para fazer o que desejarem, pois, para eles, Deus não intervirá na história, nem nas ações dessas pessoas. A intervenção divina, para o deísmo, não existe, visto que Deus não se importa mais com a sua criação. Já bastaria a Ele ter criado o mundo e os homens. É como se Ele fosse um pai ausente, que gerou um filho, mas deixa-o viver como desejar, com autonomia para tomar suas decisões sem se importar com a eternidade. Norman Geisler comenta que O deísmo cresceu nos séculos XVI a XVIII, mas começou a morrer no século XIX [...]. O deísmo cresceu na Europa, especialmente na França e Inglaterra, e no final do século XVIII na América. Todos os deístas concordam que há um Deus, que criou o mundo. Todos os deístas concordam que Deus não intervém no mundo mediante ações sobrenaturais. Mas nem todos os deístas concordam quanto à preocupação de Deus com o mundo e à existência da vida após a morte para os seres humanos. Geisler traz mais o que ele chama de classificação entre os deístas: Com base nessas diferenças, quatro tipos de deísmos são distinguíveis. Os quatro variam da preocupação mínima por parte de Deus até a preocupação máxima com o mundo, mas sem intervenção sobrenatural. O Deus sem preocupação. O primeiro tipo de deísmo foi em parte de origem francesa. De acordo com essa visão, Deus não se preocupa em governar o mundo que fez. Criou o mundo e o estabeleceu, mas não tem consideração pelo que vem acontecendo com ele depois disso. O Deus sem preocupação moral. Na segunda forma de deísmo, Deus se preocupa com os acontecimentos do mundo, mas não com as ações morais dos seres humanos. O homem pode agir correta ou incorretamente, justa ou injustamente, moral ou imoralmente. Deus não se preocupa com isso. O Deus com preocupação moral com esta vida. O terceiro tipo de deísmo afirma que Deus governa o mundo e se preocupa com a atividade moral dos seres humanos. Na verdade, exige obediência à lei moral que estabeleceu na natureza. Mas não há futuro depois da morte. Deus com preocupação moral com esta vida e a próxima. O quarto tipo de deísmo afirma que Deus regula o mundo, exige obediência à lei moral baseada na natureza e preparou uma vida após a morte com recompensas para os bons e castigos para os maus. Essa visão era comum entre os deístas ingleses e americanos. (GEISLER, 2002, p. 246) Os deístas, portanto, acreditam em Deus e no seu poder de criação, mas se negam a crer que Ele intervenha de modo sobrenatural no mundo que criou. 4. Teísmo O teísmo é a perspectiva de que Deus existe, criou todas as coisas, e que se envolve diretamente em sua criação. Enquanto no deísmo Deus não intervém em nada, no teísmo Deus está presente, atuando de forma direta na história da humanidade, revelando sua vontade e zelando pela sua criação. O teísmo rejeita o panteísmo por este tentar unir a criatura com o Criador, fazendo dos dois, um. Rejeita também o deísmo, pois Deus é presente na história da humanidade e intervém nela, e rejeita o ateísmo, pois entende que Deus existe e sua existência pode ser comprovada de diversas formas. Conforme Geisler, as principais proposições do teísmo são: Deus existe além e dentro do mundo. O teísmo afirma a imanência e a transcendência de Deus. Deus existe além e independente do mundo, mas governa todas as partes do mundo como causa sustentadora. O mundo foi criado por Deus e é conservado por Ele. O mundo foi criado ex nihilo. O mundo não é eterno. Foi criado pelo decreto de Deus. Sua existência é totalmente contingente e dependente. O universo não foi criado a partir de matéria preexistente (ex matéria), como no dualismo ou materialismo, nem feito da essência de Deus (ex deo), como no panteísmo. Ele foi criado por Deus, mas a partir do nada. Milagres são possíveis. Apesar de operar seu universo de forma regular e ordenada pelas leis da natureza, Deus transcende essas leis. A natureza não é tudo. Há uma esfera sobrenatural. Esse sobrenatural pode invadir a esfera natural. O criador soberano não pode ser trancado do lado de fora de sua criação. Apesar de Deus normalmente agir de forma regular, ocasionalmente intervém de forma direta. Essa invasão ocasional da natureza pelo sobrenatural é chamada de “milagres”. As pessoas são feitas à imagem de Deus. O teísmo acredita na criação da humanidade à imagem de Deus. Isso significa que o homem tem liberdade (v. livre-arbítrio) e dignidade, que devem ser tratadas com o maior respeito. [...] Há uma lei moral. Como o Deus teísta é um ser moral e como a humanidade foi criada à sua imagem, e a consequência moral do teísmo é que o dever supremo das pessoas é obedecer a lei moral. Essa lei tem autoridade absoluta, já que vem de Deus. Ela está acima de qualquer lei humana. É prescritiva, não apenas descritiva, como são as leis da natureza. (GEISLER, 2002) III – Deus de Amor e de Justiça 1. O amor de Deus A Bíblia mostra a boa vontade de Deus para com a humanidade em João 3.16. João nos mostra que o Pai proveu, em Jesus, a maior demonstração de amor possível de ser expressa: de entregar seu próprio Filho para morrer pelos seus inimigos. Apesar de a humanidade ter sido alcançada pelo pecado e suas consequências,Deus trouxe a salvação, revelando-se a si mesmo através da história de Israel, povo que Ele separou para apresentar ao mundo o Senhor Jesus Cristo. Há quem acredite que o amor de Deus é maior do que qualquer outra coisa. Na estrada dessa premissa, essas pessoas imaginam que Deus é somente amor e se esquecem de que Ele também é um Deus justo, e que a justiça divina é um dos atributos de Deus, da mesma forma que o amor o é. 2. A justiça de Deus Uma verdade com a qual precisamos lidar é que Deus é amor, mas também preza pela justiça. A palavra “justiça” traz a ideia de “dar a cada um aquilo que lhe é devido”. Conforme Romanos 2.6, em sua justiça, Deus “recompensará cada um segundo as suas obras”. Em sua sabedoria e santidade, Deus não pode atribuir inocência a alguém que pratica a maldade e que é mau. Inocentar uma pessoa que cometeu um pecado, que desafiou os mandamentos divinos, não faz parte da natureza divina, pois tais ações implicam uma retribuição. Se uma pessoa faz o mal, ela receberá como recompensa uma pena pela sua ação. Essa é a definição de justiça. Diferente dos homens, que são injustos e tentam praticar coisas pelas quais responderão nesta vida e na eternidade, Deus sempre julga de forma correta. Todas as pessoas desejam que, um dia, se precisarem, a justiça esteja ao seu lado. Mas a verdade é que, em tese, a justiça existe para que possa punir quem fez o mal e recompensar quem trilhou caminhos que a lei orientou. Então, lei e justiça andariam juntas. A lei seria a base para se estipular uma justiça, pois a lei precisa indicar o que é uma ação tida por certa dentro de uma sociedade, e, assim fazendo, estabelece-se um padrão do que é justo ou não. A Lei de Deus, no aspecto espiritual, é que determina o que é o certo e o errado, É preciso notar que o amor de Deus é manifesto em João 3.16, quando Ele, por amor, envia seu Filho para nos salvar, mas é preciso pontuar que essa salvação é necessária para que se cumpra a justiça de Deus. 3. A graça de Deus Quando falamos de graça, estamos nos referindo a um favor que recebemos, mas que não merecemos, um ato de generosidade. Em sua soberania, Deus estabeleceu as regras que seriam o patamar para nos relacionarmos com Ele. Esse relacionamento não seria pelas obras, pois estas seriam diferentes umas das outras, da mesma forma que nós somos diferentes uns dos outros. Ele estabeleceu a graça, numa demonstração de misericórdia para com os transgressores. Enquanto os homens tentam se achegar a Deus por meio de suas obras, Deus nos oferece a sua graça para que nos aproximemos dEle. Conclusão Tratar acerca da pessoa de Deus é um grande desafio para os que não creem na inspiração das Escrituras, pois para os que creem, o desafio é apresentar essas verdades conforme as Escrituras. Diante das diversas opções de classificar Deus e sua existência, a Bíblia Sagrada mostra claramente que não estamos sozinhos, que o Senhor existe e que é pela fé que podemos nos achegar a Ele: “Ora, sem fé é impossível agradar-lhe, porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus cria que ele existe e que é galardoador dos que o buscam” (Hb 11.6). 3 A Realidade Bíblica do Pecado Introdução Uma das características do cristianismo é o ensino de que o homem possui uma forte tendência a rejeitar o que é bom e praticar o que é mau. Tal prática desagrada e ofende a Deus, pois Ele nos criou para que fizéssemos o que é certo e justo. Essa prática do que é mau chamamos de pecado, algo que faz com que nos afastemos de Deus e sejamos condenados a uma existência de conflitos com aqueles que nos cercam e com aquEle que nos criou nesta vida, e ao inferno, na eternidade. I – O que É o Pecado 1. Conceitos extrabíblicos sobre o pecado Uma das características do pecado é o obscurecimento do entendimento humano. Isso significa que qualquer coisa que lhe seja dita e que corresponda a uma reprovação por seus atos errados, poderá ser intelectualmente rechaçada por um coração orgulhoso. Há uma corrente de pensamento que defende ser o pecado um mecanismo de opressão de um grupo de pessoas por outro, de tal forma que, se os oprimidos estiverem livres dessa opressão, não cometerão o pecado. Para essa vertente, a pecaminosidade humana existe, mas é fruto de um produto da sociedade. Outra corrente ensina que ações como a violência e o desajuste sexual não têm uma origem espiritual, e sim material, pois se o homem é fruto de uma evolução, esses elementos são traços de características animais passadas geneticamente. Para outros pensadores, o pecado é uma ilusão a ser combatida por meio intelectual, pois para eles, se Deus não existe, logo, a ideia do pecado, que é uma afronta contra esse Deus, também não deveria existir. Na prática, a sociedade dos nossos dias rejeita a ideia da existência do pecado como um mal que aflige a humanidade e que deve ser combatido; dessa forma, atribui a ele mera percepção religiosa ou filosófica, não sendo, portanto, algo que deva fazer parte das preocupações dos homens. Tudo isso são evidências de que o pecado tem o poder de afetar o intelecto e as ações humanas, distorcendo a capacidade de entender e aceitar as coisas espirituais. 2. O conceito bíblico sobre o pecado A Bíblia descreve o pecado como um ato de rebeldia contra Deus. Segundo o Dicionário Wycliffe, (2002, p. 1485), “pecado não é somente alguma coisa contrária ao que Deus disse que o homem não deveria fazer, mas é também algo contrário ao que Deus não quer que o homem faça, com base nos princípios revelados”. A expressão mais utilizada para definir o pecado é “errar o alvo”, ou seja, ter na sua frente um objeto e não conseguir acertá-lo, como se uma pessoa que tivesse em mãos um arco e uma flecha, ou mesmo uma funda, e não conseguisse atingir o alvo à sua frente, ou porque este estava em movimento, ou porque quem atirou a flecha ou a pedra não mirou de forma correta. Se você alguma vez já praticou algum esporte ou participou de alguma atividade recreativa cujo objetivo era acertar objetos em um ponto fixo, sabe do que estou falando. É um feito atirar e acertar uma bola de papel em um cesto de lixo de 20 centímetros de raio a uma distância de 3 metros. A bolinha de papel é leve e facilmente perde a força com que foi lançada por causa da resistência do ar. Se tentar fazer isso com outro objeto mais pesado, pode ter uma possibilidade de acerto maior, mas se errar, terá a mesma frustração. Se o alvo não for acertado, a tentativa é frustrada. Mas o pecado traz também a definição de se esquecer de Deus, e isso é tão danoso quanto errar o alvo. Adão e Eva até se lembraram das orientações de Deus para que não comessem do fruto, mas rapidamente se deixaram levar por outro discurso. Eles simplesmente se esqueceram de Deus, da sua presença, do fato de que os havia criado e que Ele sempre vinha conversar com o casal na viração do dia. Quando nos esquecemos de Deus e transgredimos a sua lei, nos colocamos contra Ele e seus mandamentos. Davi exemplifica muito bem o fato de que os escritores sagrados tinham consciência da existência do pecado: “Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim” (Sl 51.3). Ele se esqueceu de Deus quando esteve com Bate-Seba e quando ordenou a morte do marido dela, mas via diante de si as consequências do seu pecado. Geisler, sobre o pecado, descreve que A partir de um ponto de vista teológico, o pecado é tudo aquilo que não atinja a natureza moral de Deus. Paulo escreveu que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23). Deus disse: “Eu sou o Senhor, que vos faço subir da terra do Egito, para que eu seja vosso Deus, e para que sejais santos: porque eu sou santo” (Lv 11.45). Fica claro, portanto, que o padrão objetivo final é a perfeição moral absoluta de Deus, e tudo aquilo que fuja disso será pecado. (GEISLER, 2014, p. 86) 3. A origem do pecado É natural que queiramos saber como as coisas surgiram, desde objetos a grandes ideias. Nosso mundo foi criado por Deus, e nós também. Ocorre que uma de suascriaturas, Satanás, mesmo dotado de proximidade da glória de Deus, decidiu que seria semelhante ao Altíssimo, e por isso foi retirado de sua condição de perfeição, tornando-se a fonte de todo o mal. O profeta Ezequiel, falando acerca do rei de Tiro, profecia também atribuída a Satanás, diz que “perfeito eras em teus caminhos, desde o dia em que fostes criado, até que se achou iniquidade em ti” (Ez 28.15). Esse verso nos mostra duas coisas: Satanás não é um deus, embora se ache um; e o pecado pode corromper até a mais perfeita criatura. Satanás, uma vez privado de sua glória por causa de sua rebeldia, se dirige para transmitir seu mal a outras duas criaturas que foram feitas por Deus, o homem e a mulher. Estes foram feitos à imagem de Deus, mas estavam sujeitos ao mal, pois não eram refratários ao pecado. Eles deveriam depender de Deus o tempo todo para que não pecassem, e justamente em um momento em que se esqueceram de Deus, foram fisgados pelo discurso de Satanás, pecaram contra o Eterno e foram julgados por essa desobediência. A partir daí, surgiram todas as desgraças que acometem a humanidade desde mentiras, assassinatos, acusações, guerras, desrespeito entre os casais, até morte. O pecado provém de Satanás, o pai da mentira, que peca e mente desde o princípio (Jo 8.44). 4. O pecado original: uma análise bíblica A teologia cristã se vale de certos termos para apresentar conceitos gerais. Dentre esses termos utilizados está o chamado “pecado original”. Ele é utilizado para representar o início do pecado na raça humana. Como dissemos, é um conceito, e Geisler o explica da seguinte forma: As Escrituras ensinam que o pecado de Adão afetou muito mais que a ele próprio (Rm 5.12-21; 1 Co 15.21,22). Essa questão é chamada pecado original e postula três perguntas: até que ponto, por quais meios e em que base o pecado de Adão é transmitido ao restante da humanidade? Qualquer teoria do pecado original precisa responder as três perguntas e satisfazer os seguintes critérios bíblicos: Solidariedade. Toda a humanidade, em algum sentido, está unida ou vinculada, como numa única entidade, a Adão (por causa dele, todas as pessoas estão fora da bem-aventurança do Éden; Rm 5.12-21; 1 Co 15.21,22). Corrupção. Por estar a natureza humana tão deteriorada pela Queda, pessoa alguma tem a capacidade de fazer o que é espiritualmente bom sem a ajuda graciosa de Deus. A essa condição chamamos corrupção total — ou depravação — da natureza. Não significa que as pessoas não possam fazer algum bem aparente, apenas que nada do que elas façam será suficiente para torná-las merecedoras da salvação. E esse ensino não é exclusivamente calvinista. Até mesmo Armínio (mas não todos os seus seguidores) descreveu o “livre-arbítrio do homem em favor do verdadeiro Bem”, na condição de “preso, destruído e perdido... não tem nenhuma capacidade a não ser aquela despertada pela graça divina”. A intenção de Armínio, assim como depois a de Wesley, não era manter a liberdade humana a despeito da Queda, mas asseverar que a graça divina era maior até mesmo que a destruição provocada pela Queda. Assim a corrupção é reconhecida na Bíblia. Salmos 51.5 menciona Davi sendo concebido em pecado, ou seja: seu pecado remontava à concepção. Romanos 7.7-24 sugere que o pecado, embora morto, estava em Paulo desde o princípio. Mais categoricamente, Efésios 2.3 declara que todos somos “por natureza filhos da ira”. “Natureza” (phusis) fala da realidade fundamental ou origem de uma coisa. Daí ser corrupto o “conteúdo” de todas as pessoas. Posto que a Bíblia ensina estarem corrompidos os adultos e que cada um produz o seu igual (Jó 14.4; Mt 7.17,18; Lc 6.43), os seres humanos forçosamente produzem filhos corruptos. A natureza corrupta produzindo filhos corruptos é a melhor explicação da universalidade do pecado. Embora vários trechos dos Evangelhos se refiram à humildade e à receptividade espiritual das crianças (Mt 10.42; 11.25,26; 18.1-7; 19.13-15; Mc 9.33-37,41,42; 10.13-16; Lc 9.46-48; 10.21; 18.15-17), nenhum as afirma incorruptas. Realmente, algumas crianças são até mesmo endemoninhadas (Mt 15.22; 17.18; Mc 7.25; 9.17). A pecaminosidade de todos. Romanos 5.12 declara que “todos pecaram”. Romanos 5.18 diz que mediante um só pecado todos foram condenados, o que subentende que todos pecaram. Romanos 5.19 diz que mediante o pecado de um só homem todos foram feitos pecadores. Textos que falam da pecaminosidade universal não fazem exceções à infância. Crianças impecáveis seriam salvas sem Cristo, mas isso é antibíblico (Jo 14.6; At 4.12). Ser merecedor de castigo também indica o pecado. Todas as pessoas, até mesmo as crianças pequenas, estão sujeitas ao castigo. “Filhos da ira” (Ef 2.3) é um semitismo que indica o castigo divino (cf. 2 Pe 2.14). As imprecações bíblicas contra crianças (Sl 137.9) indicam esse fato. E Romanos 5.12 diz que a morte física (cf. 5.6-8,10,14,17) chega a todos porque todos têm pecado, aparentemente até as crianças. As crianças, antes da idade de responsabilidade ou consentimento moral (a idade cronológica provavelmente varia com o indivíduo), não são pessoalmente culpadas. As crianças não têm o conhecimento do bem e do mal (Dt 1.39; cf. Gn 2.17). Romanos 7.9-11 declara que Paulo “vivia” até à chegada da lei mosaica (cf. 7.1), a qual fez “reviver o pecado”, que o enganou e matou espiritualmente. (HORTON, 2018, p. 269-271) II – As Consequências do Pecado 1. O homem foi criado bom Segundo as Escrituras, o ser humano foi criado perfeito, sem pecado. Chamamos isso de estado de inocência, no qual o homem e a mulher não tinham a consciência do mal. Eclesiastes 7.29 diz que “Deus fez o homem reto [...]”. Mas mesmo tendo sido criado sem imperfeição alguma, o homem cedeu à tentação ofertada por Satanás e consumou seu pecado. A partir de sua desobediência a Deus, dando ouvidos à proposta de Satanás, o homem passou a ser mau. Observe que o homem usou da liberdade que tinha para desobedecer a Deus: Gênesis 3 nos conta que Satanás não obrigou o casal a comer do fruto que Deus lhes havia vedado, entretanto Adão e Eva, convencidos por Satanás, comeram da árvore. 2. Degradação da raça humana A humanidade pode até negar a existência do pecado, mas não pode negar a consciência de que estão errados quando cometem um pecado. Gênesis 3.7 diz: “Então, foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus [...]”. O pecado tira a inocência do ser humano. Em vez de dar consciência ao homem, ou mais inteligência e sabedoria, o pecado degenera o pensamento, as relações sociais e obscurece a imagem de Deus no ser humano. Se eles buscaram ser parecidos com Deus, conhecedores do bem e do mal, logo perceberam que a decisão que tomaram, incitados por Satanás, lhes mostrou que o mal que desconheciam agora os dominava. Não conheceriam a diferença entre o bem e o mal como meros observadores, isentos de serem alcançados pela maldade. Eles levariam dentro de si aquela moléstia, e seus descendentes também. Os homens se tornaram violentos, gananciosos, assassinos, desrespeitosos de compromissos, doentes e insatisfeitos com o que possuíam. Criaram deuses para si e o adoraram, e nesses cultos degradaram a imagem e semelhança que tinham de Deus em si. 3. Degradação do mundo em que vivemos É curioso perceber que o pecado afetou não somente a humanidade, mas igualmente o mundo em que ela vive. Questões como alterações climáticas, poluição, alterações na produtividade dos alimentos tem sua origem nos efeitos do pecado. O apóstolo Paulo nos diz que a criação aguarda ser redimida (Rm 8.23). E por qual motivo? Os problemas ambientais que vemos hoje são oriundos da pecaminosidade humana, seja por força de ações, seja por omissões. O descaso com o ambiente em que vivemos nos mostra o quanto nos afastamos de Deus, buscando usufruir da sua criação sem a devida responsabilidade ou senso de preservação. Mesmo a Terra Prometida por Deus a Moisés e ao povo foi alvo desse descaso. A Lei de Moisés designava que a terra deveria descansar no sétimo ano, após tersido lavrada e as colheitas realizadas. Esse descanso era “um sábado ao Senhor” (Lv 25.4), mas os hebreus, desprezando esse mandamento, fizeram o possível para gastar o ciclo reprodutivo da terra, numa grave violação à lei do Eterno. Se antes eram escravos, e pela bondade de Deus, livres e donos de uma terra considerada pelo Criador como muito boa, agora se mostravam irresponsáveis com as orientações de Deus. Décadas se passariam até que os hebreus se reagrupassem e voltassem para restaurar a terra que eles mesmos haviam deteriorado. O preço do descaso para com as orientações de Deus no tocante ao meio ambiente lhes custou caro. 4. Pecados de maior gravidade A palavra de Deus mostra que qualquer ação que ofenda a Deus é pecado. Possuir um olhar arrogante é tão pecaminoso quanto semear contenda entre seus irmãos (Pv 6.16-19). Ao que nos parece, há uma gradação na prática de pecados, e sem dúvida há pecados que possuem um poder destrutivo maior para quem o comete e para as pessoas que estão em seu entorno. Wayne Grudem comenta que Alguns pecados são piores do que outros, pois trazem consequências mais danosas para nós e para os outros e, no tocante ao nosso relacionamento pessoal com Deus Pai, provocando-lhe o desprazer e geram ruptura mais grave na nossa comunhão com ele. As Escrituras às vezes falam de níveis de gravidade do pecado. Estando Jesus diante de Pôncio Pilatos, disse ele: “Quem me entrega a ti maior pecado tem” (Jo 19.11). A referência é aparentemente a Judas, que convivera com Jesus durante três anos, e, no entanto, deliberadamente o traía entregando-o à morte. Quando Deus revelou a Ezequiel visões de pecados no templo de Jerusalém, disse-lhe o seguinte depois de mostrar algumas coisas aos profetas: “Pois verás ainda maiores abominações” (Ez 8.6). (GRUDEM, 2022, p. 413) Pecados de maior gravidade não se iniciam do nada. Eles tendem a ser a soma de pequenos outros pecados, e que vão “subindo” numa hierarquia maligna até se tornarem grandes pecados contra Deus e contra o ser humano. III – Consequências para quem Comete o Pecado 1. As mortes física e espiritual Após criar o homem e colocá-lo no Éden, Deus advertiu que ele não comesse do fruto gerado pela árvore do conhecimento do bem e do mal, para que não morresse. Por ter dado mais ouvidos ao que Satanás lhes disse, e tendo desobedecido a Deus, homem e mulher se sujeitaram à morte, o fim da existência física. Não somente isso, mas todos os filhos de Adão e Eva herdaram a pecaminosidade de seus pais e a morte que os levou. Há aqui o que a teologia cristã chama de solidariedade. A partir de Adão, o pecado e a morte como consequência foram transmitidos aos seus descendentes. “Pelo que, por um homem, entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram” (Rm 5.12). Portanto, para a teologia cristã, solidariedade não é o ato de partilhar coisas com outras pessoas, de ser generoso, e sim a consequência que herdamos de nossos primeiros pais, Adão e Eva, de pecar e de morrer como resultado de nossas ações pecaminosas. Segundo a Carta aos Hebreus, “[...] aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo, depois disso, o juízo” (Hb 9.27). Na morte, o ser humano tem as suas conexões com este mundo cessadas. Com a quebra da comunhão com Deus, vem também a morte espiritual, a separação entre o homem e Deus. Essa é a segunda grande consequência do pecado. Primeiro cessa-se a comunhão com Deus, e depois, cessa-se a vida. Geisler fala que A morte é a separação de Deus, e a morte espiritual é a separação espiritual de Deus. Isaías declarou: “Mas as vossas iniquidades fazem divisão entre vós e o vosso Deus, e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça” (Is 59.2). No instante em que Adão pecou, ele experimentou o isolamento espiritual de Deus; isto fica evidenciado pela vergonha que ele sentiu a ponto de se esconder do seu Criador. “Então, foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais. E ouviram a voz do SENHOR Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e escondeu-se Adão e sua mulher da presença do SENHOR Deus, entre as árvores do jardim”. (Gn 3.7,8). (GEISLER, 2014) 2. A perdição eterna A perdição eterna se dá após a morte física. Finda a existência do ser humano, resta-lhe uma eternidade com ou sem Deus. A perdição eterna é justamente a consequência de quem se esqueceu de Deus nesta vida, que não se arrependeu de seus pecados e não aceitou a mensagem do evangelho trazida por Jesus Cristo. Ainda na esteira das consequências do pecado, Horton comenta que O pecado, por sua própria natureza, é destrutivo. Já descrevemos boa parte dos seus efeitos. Mesmo assim, é necessário aqui um breve resumo. O estudo das consequências do pecado deve considerar a culpa e o castigo. Há vários tipos de culpa (heb. ‘asham, Gn 26.10; gr. enochos, Tg 2.10). A culpa individual ou pessoal pode ser distinguida da comunitária, que pesa sobre as sociedades. A culpa objetiva refere-se à transgressão real, quer posta em prática pelo culpado, quer não. A culpa subjetiva refere-se à sensação de culpa numa pessoa, que pode ser sincera e levar ao arrependimento (Sl 51; At 2.40-47; cf. Jo 16.7-11). Pode, também, ser insincera (com a aparência externa de sinceridade), mas ou desconhece a realidade do pecado (e só corresponde quando apanhada em flagrante e exposta à vergonha e castigada, etc.) ou evidencia uma mera mudança temporária e externa, sem uma reorientação real, duradoura e interna (por exemplo, o Faraó). A culpa subjetiva pode ser puramente psicológica na sua origem e provocar muitas aflições sem, porém, fundamentar-se em qualquer pecado real (1 Jo 3.19,20). A penalidade, ou castigo, é o resultado justo do pecado, infligido por uma autoridade aos pecadores e fundamentado na culpa destes. O castigo natural refere-se ao mal natural (indiretamente da parte de Deus) incorrido por atos pecaminosos (como a doença venérea provocada pelos pecados sexuais e a deterioração física e mental provocada pelo abuso de substâncias). O castigo positivo é infligido sobrenatural e diretamente por Deus. O pecador é fulminado, etc. Os possíveis propósitos do castigo são relacionados a seguir. (1) A retribuição ou a vingança pertencem exclusivamente a Deus (Sl 94.1; Rm 12.19). (2) A expiação traz a restauração do culpado (esta realizada em nosso favor pela expiação vicária oferecida por Cristo). (3) O julgamento leva o culpado a dispor-se a restituir o que foi tirado ou destruído, e assim pode ser comprovada a obra que Deus realizou numa vida (Êx 22.1; Lc 19.8). (4) A correção influencia o culpado a não pecar no futuro. Esta é uma expressão do amor de Deus (Sl 94.12; Hb 12.5-17). (5) O castigo do culpado serve para dissuadir a outros do mesmo comportamento. A dissuasão é usada frequentemente nas advertências divinas (Sl 95.8-11; 1 Co 10.11). Os resultados do pecado são muitos e complexos. Podem ser considerados em termos de quem e o que é afetado por ele. O pecado tem seu efeito sobre Deus. Embora sua justiça e sua onipotência não sejam prejudicadas pelo pecado, as Escrituras dão testemunho de seu ódio por ele (Sl 11.15; Rm 1.18), de sua paciência para com os pecadores (Êx 34.6; 2 Pe 3.9), de sua busca pela humanidade perdida (Is 1.18; 1 Jo 4.9-10,19), de sua mágoa por causa do pecado (Os 11.8), de sua lamentação pelos perdidos (Mt 23.37; Lc 13.34) e de seu sacrifício em favor da salvação da humanidade (Rm 5.8; 1 Jo 4.14; Ap 13.8). De todas as revelações bíblicas a respeito do pecado, estas talvez sejam as mais humilhantes. Todas as interações de uma sociedade humana outrora pura estão pervertidas pelo pecado. As Escrituras protestam, repetidas vezes, contra as injustiças praticadas pelos pecadores contra os “inocentes” (Pv 4.16, sociais; Tg 2.9, econômicas; Tg 5.1-4, físicas; Sl 11.5; etc). O mundo físico também sofre os efeitos do pecado. A decadência natural do pecado contribui para os problemas dasaúde e do meio ambiente. Os efeitos mais variados do pecado podem ser notados na mais complexa criação de Deus: a pessoa humana. Ironicamente, o pecado traz benefícios (segundo as aparências). O pecado pode até mesmo produzir uma alegria transitória (Sl 10.1-11; Hb 11.25,26). O pecado também produz pensamentos enganosos, segundo os quais o mal parece bem. Como consequência, as pessoas mentem e distorcem a verdade (Gn 4.9; Is 5.20; Mt 7.3-5), negando o pecado pessoal (Is 29.13; Lc 39-52) e até mesmo a Deus (Rm 1.20; Tt 1.16). Em última análise, o engano do que parece ser bom revela-se como mau. A culpa, a insegurança, o tumulto, o medo do juízo e coisas semelhantes acompanham a iniquidade (Sl 38.3,4; Is 57.20,21; Rm 2.8,9; 8.15; Hb 2.15; 10.27). (HORTON, 2018, p. 294-296) Conclusão Diante de tudo o que vimos, não podemos considerar o pecado como algo neutro, como uma teoria humana que tenta justificar um comportamento o errado, ou como uma simples ideia religiosa que busca destacar a propensão humana às falhas de caráter. O pecado é uma ação ou comportamento que desagrada a Deus, que nasce no coração do homem e se estende às suas relações sociais e ambientais. O pecado contamina o homem, deturpa a imagem de Deus no ser humano e destrói a sua existência de diversas formas. Por causa de sua gravidade, era necessário que Deus provesse um meio pelo qual o homem pudesse ser salvo e voltasse a ter a comunhão que tinha com Ele. Sobre isso, falaremos acerca da salvação ofertada por Deus em Jesus. 4 A Realidade Bíblica da Salvação Introdução A fé cristã se pauta em realidades bíblicas, apresentadas numa sequência lógica, e as que estudamos anteriormente foram: a existência de Deus e a malignidade do pecado. Nesta lição, trataremos de um terceiro tema subsequente a esses dois: a realidade da salvação oferecida por Deus e a sua operação contra o pecado. Se por um lado, a Bíblia nos ensina a má notícia sobre a nossa condição, a de que somos pecadores e estamos afastados de Deus, por outro lado, a Bíblia nos ensina a boa notícia, o evangelho, que Deus proveu, em Jesus Cristo, a salvação de que necessitamos para ser reconciliados com Ele. A salvação tem, como doutrina e prática, a sua importância, pois dela depende o resgate da humanidade pelo sacrifício de Jesus Cristo. I – A Necessidade da Salvação 1. O que é a salvação A expressão “salvação” pode assumir mais de um significado. Uma empresa pode estar indo à falência, e um plano de recuperação para aquela instituição pode ser a “salvação” daquela atividade empresarial e da manutenção dos empregos dos seus funcionários. Em alguns países, jovens delinquentes são motivados a servir nas forças armadas para sua “salvação”, aprendendo a ser disciplinados e tomarem um rumo na vida que não seja a prática de crimes. Náufragos à deriva podem ser “salvos” por uma embarcação que esteja passando na rota onde estão e tirá-los daquele ambiente inóspito. Portanto, a palavra salvação pode ter vários significados. De forma geral, ela designa o ato de trazer livramento, de colocar numa posição protegida, de dar segurança, de livrar da morte. No aspecto da revelação bíblica, a palavra salvação ganha um significado bem específico: o de salvar o homem de seus pecados. Esse sentido envolve naturalmente mais de um elemento para que o entendimento completo do seu significado possa ser entendido. No Antigo Testamento Deus é visto como trazendo salvação ao seu povo, entretanto, o seu objetivo sempre foi demonstrar o seu poder para trazer salvação dos pecados, reconciliando consigo a humanidade. É Ele que começa o plano da salvação, anuncia aos profetas e, quando chega o momento, envia o seu Filho Unigênito ao mundo para cumprir o seu propósito. Mateus destaca dessa forma o grande plano de Deus quando Jesus ainda nem havia nascido: “E ela dará à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados” (Mt 1.21). Nesse versículo podemos perceber os elementos básicos que fundamentam a salvação: Deus enviou seu Filho. A salvação dos pecados do homem começa em Deus. Ele foi o primeiro a prover o necessário para que a salvação viesse a acontecer. Nascido de mulher. Jesus não era um ser desencarnado ou um espírito que iludiu as pessoas que o viam. Ele cumpriu as leis deste mundo, nasceu, cresceu, iniciou e concluiu seu ministério terreno, morreu e ressuscitou, mostrando a veracidade de que “pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim, pela obediência de um, muitos serão feitos justos” (Rm 5.19). Chamado Jesus. Deus nomeou o Salvador, seu Filho, com um nome que o acompanharia por séculos, e até pela eternidade. “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (At 4.12). Para salvar o seu povo. A salvação tem início entre o povo hebreu, para onde Jesus foi enviado. Posteriormente, a salvação alcançou os gentios. Como Deus fez promessas para os descendentes de Abraão, foi entre eles que a salvação de Deus foi inicialmente anunciada e cumprida. Eles tinham como referência as profecias trazidas pelos profetas que Deus lhes havia enviado. Dos seus pecados. Deus não desejava salvar os hebreus do jugo romano ou de qualquer outra nação. A salvação visava trazer de volta a comunhão entre Deus e o homem caído, para que, uma vez perdoado e restaurado, e tendo paz, pudesse passar a eternidade com o Senhor. 2. A origem da salvação A salvação tem sua origem no próprio Deus. Foi Ele que planejou todo o cenário pelo qual ela aconteceria, e uma das coisas que precisamos entender é que o homem não pode salvar a si mesmo. A “moeda de troca” proposta pela humanidade para tentar se chegar a Deus são as obras, mas estas são insuficientes. Ao escrever aos Romanos, explicando-lhes sobre esse assunto e tomando por base a Lei dada pelo próprio Deus a Moisés, o patriarca diz: “Por isso, nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado” (Rm 3.20). Nem as obras, nem a cultura podem trazer salvação. Há quem pense que uma sociedade culta e educada está isenta do pecado. Educação e cultura são bem-vindas para que uma sociedade possa se desenvolver, mas o intelecto humano não responde à propensão humana para a maldade. O pecado é uma realidade da qual a humanidade não pode se desvencilhar, e, pelo fato de o pecado ofender a Deus, Ele estabeleceu os critérios pelos quais o ser humano possa ser reconciliado com Ele, ainda que pertença a uma sociedade altamente desenvolvida. Em sua sabedoria e justiça, Deus nos deu a sua graça, que iguala a todos os homens: “Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, para com todos usar de misericórdia” (Rm 11.32). É desconcertante para o ser humano orgulhoso deparar-se com o fato de que não pode salvar a si mesmo, mas isso não muda a realidade da mecânica da salvação. O homem deve responder à graça de Deus para que seja salvo. 3. O meio pelo qual provém a salvação Como vimos, a salvação de que o homem necessita por causa de seus pecados não pode ser conseguida pelas obras. Estas estão contaminadas. E que meio Deus escolheu para trazer essa salvação? A graça divina. Max Lucado, tentando explicar a importância da graça de Deus em nossas vidas, nos traz uma parábola no livro Nas Garras da Graça que tentarei resumir da seguinte forma: Um pai morava com 5 filhos em um castelo, e desses filhos, somente o mais velho era obediente. Os quatro outros filhos eram conhecidos por sua rebeldia. No local em que moravam, havia um rio, do qual o pai lhes advertira a não se aproximarem por ser um rio cuja maré era forte e poderia levar uma pessoa. Os filhos rebeldes resolveram testar a força do rio, e foram levados pelas águas a um país distante. O povo daquela terra era selvagem, havia ventos frios e montanhas inóspitas marcavam a geografia do lugar. Mesmo sem ter noção de onde estavam, eles perceberam que aquele não era o lugar em que haviam sido criados para ficar.
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