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Livro_EticaeCidadania_20200828182259-4

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e-Tec Brasil31
Aula 5 – A conduta cidadã
Nesta aula, vamos abordar a conduta de cada cidadão em re-
lação aos seus direitos e deveres para com à coletividade a que 
faz parte. Vamos refletir sobre a ética presente no cotidiano do 
cidadão não somente em relação ao que ele pode exigir do Es-
tado mas no que diz respeito ao cumprimento de seus deveres.
Ao abordar o tema da conduta ética, é fundamental tratar a questão da re-
lação entre o indivíduo e o Estado, ou seja, a cidadania. Já na Roma Antiga 
– um período que durou 12 séculos e se iniciou em VIII a.C. com a fundação 
de Roma - se estabeleceu os direitos e deveres que cada indivíduo tem para 
com o Estado. 
5.1 Evolução do conceito de cidadania
Originado na Grécia antiga (1100 a.C. até 146 a.C.) o termo cidadania indica 
aquele que habita uma cidade (civitas) e dizia respeito à sua atuação efetiva 
o que significava dizer que nem todos eram cidadãos, mas somente aqueles 
que usufruíam de privilégios em determinadas classes sociais. O conceito, 
naquela época excluía mulheres, crianças e escravos e incluía somente os 
homens totalmente livres, ou seja, aqueles que não precisavam trabalhar para 
viver. Imagine que o número de cidadãos era bem reduzido.
Figura 5.1: Grécia Antiga.
Fonte: Domínio Público/Wikimedia Commons.
Na Roma Antiga, cidadania estava relacionada ao exercício de direitos polí-
ticos, civis e religiosos atribuída somente aos patrícios (homens livres, des-
cendentes dos fundadores da cidade); negada aos plebeus (descendentes 
de estrangeiros) assim como aos escravos (todos aqueles que não saldavam 
suas dívidas, os traidores e os prisioneiros de guerra). Com a expansão militar 
romana, o advento da Lei das Doze Tábuas (450 a.C.) assegurou aos plebeus 
o acesso ao exercício da cidadania.
Com a queda do Império Romano e o início da Idade Média, as relações 
entre o cidadão e o Estado passaram a ser controladas pela Igreja Católica 
e com o Feudalismo, a vassalagem estabeleceu uma relação intensa de de-
pendência do camponês. O homem medieval nunca foi cidadão. De alguma 
maneira, foram “suspensos” os princípios de cidadania.
A Revolução Francesa, que iniciou em Paris em 14 de julho de 1789, com a 
Queda da Bastilha, alterou o quadro político daquele país e foi um marco na 
instauração de um Estado democrático voltado para os interesses de todos 
os cidadãos e um exemplo seguido por outros países. Com o início da Idade 
Moderna foram introduzidos os princípios de liberdade e igualdade na busca 
pela justiça e contra os privilégios.
Figura 5.2: Obra de Eugène Delacroix representando 
“Marianne” que personifica a República Francesa.
Fonte: Domínio Público/Wikimedia Commons.
A queda da Bastilha foi o 
evento decisivo para o início da 
Revolução Francesa de 1789. A 
Bastilha era uma velha fortaleza 
construída em 1370, utilizada 
pelo regime monárquico como 
prisão de criminosos comuns. 
Para saber mais acesse: http://
www.infoescola.com/historia/
queda-da-bastilha/.
Ética e Cidadaniae-Tec Brasil 32
O conceito de cidadania no Estado Democrático de Direito, conforme explica 
Luiz Flávio Borges d’Urso está relacionado a
“um status jurídico e político mediante o qual o cidadão adquire direi-
tos civis, políticos e sociais; e deveres (pagar impostos, votar, cumprir 
as leis) relativos a uma coletividade política, além da possibilidade de 
participar na vida coletiva do Estado. Esta possibilidade surge do prin-
cípio democrático da soberania popular.”
Disponível em: <http://www.oabsp.org.br/palavra_presidente/2005/88/>. 
Acesso em: 04 dez. 2011.
Assim, participar ativamente da condução da gestão pública faz parte do 
exercício pleno da cidadania importando não somente em apontar as melho-
rias a serem realizadas, mas também em atuar na direção de sua realização. 
A inclusão política se faz por meio do exercício pleno da cidadania o que é 
reforçado pela colocação de Dalmo de Abreu Dallari (1998, p. 14),
“A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a pos-
sibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. 
Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social 
e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade den-
tro do grupo social”.
Observe que as palavras de Dallari (1998) indicam que “participar ativamen-
te da vida e do governo” é um direito do povo. Você tem exercido este 
direito, em seu município? No Brasil, a Constituição de 1988 foi um marco 
na conquista do povo pelo seu direito a participar da tomada de decisões no 
país. No dia 27 de julho de 88, em que foi promulgada a nova Constituição, 
Ulysses Guimarães disse:
“essa será a Constituição cidadã, porque recuperará como cidadãos 
milhões de brasileiros, vítimas da pior das discriminações: a miséria”. 
“Cidadão é o usuário de bens e serviços do desenvolvimento. Isso hoje 
não acontece com milhões de brasileiros, segregados nos guetos da 
perseguição social”.
Para relembrar o que foi o 
Impeachment do Presidente 
Fernando Collor de Mello leia 
a reportagem disponível em: 
http://g1.globo.com/politica/
noticia/2012/09/impeachment-
de-collor-faz-20-anos-relembre-
fatos-que-levaram-queda.html.
e-Tec BrasilAula 5 – A conduta cidadã 33
Movimentos populares como a Ação Ci-
dadania Contra a Miséria e pela Vida, li-
derado por Betinho e a ação dos “caras 
pintadas” que incentivou o impeachment 
do Presidente Fernando Collor de Mello 
são exemplos do exercício destes direitos. 
Outro exemplo é o recolhimento correto dos impostos que deve ser feito por 
todos os cidadãos da mesma maneira que devem contribuir para a manuten-
ção da segurança e do patrimônio público. Considerando estes exemplos, 
você diria que temos exercido a cidadania de maneira plena?
Vale também ressaltar que a cidadania empresarial é também uma maneira 
de as organizações cumprirem com seus deveres ao mesmo tempo em que 
usufruem de seus direitos na relação com os públicos que de alguma manei-
ra são impactados por suas atividades. A cidadania empresarial está presente 
quando uma organização oferece aos seus funcionários mais do que prevê 
a lei, como no caso de berçário, creche, assistência médica extensiva a fa-
miliares, integração de pessoas com deficiência ao ambiente de trabalho e 
promoção de seu relacionamento saudável com os colegas, etc. Este é um 
termo que tem sido cada vez mais utilizado no Brasil desde que o Instituto 
Ethos de Responsabilidade Social iniciou suas atividades, em 1998, estimu-
lando o investimento em projetos sociais e ambientais pela iniciativa privada.
Resumo
Nesta aula, vimos que o conceito de cidadania evoluiu desde a Roma e a 
Grécia Antigas até os dias de hoje, mudando ao longo do tempo face aos 
novos cenários políticos que se apresentavam. Durante o Feudalismo, vimos 
que os princípios relacionados à cidadania ficaram “suspensos” com a insta-
lação de relações de dependência entre o homem e o Estado que passava a 
ser controlado pela Igreja Católica.
Atividades de aprendizagem
•	 Observe a conduta das pessoas que você conhece (a sua própria, inclusi-
ve!) e analise se todos estão praticando plenamente a cidadania no senti-
do de exercer o direito à gestão pública seja de seu município, seu estado 
ou do nosso país.
A Declaração dos Direitos 
Humanos que se encontra 
na íntegra no link http://
www.onu-brasil.org.br/
documentos_direitoshumanos.
php, foi proposta pela ONU – 
Organização das Nações Unidas 
e assinada por todos os Estados 
Membros garantindo “a todos 
os membros da família humana 
e de seus direitos iguais e 
inalienáveis é o fundamento
da liberdade, da justiça 
e da paz no mundo”. 
Figura 5.3: logotipo do movimento 
liderado por Betinho.
Fonte: http://www.acaodacidadania.com.br
Ética e Cidadaniae-Tec Brasil 34
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Aula 6 – Cidadãos: direitos 
e deveres cotidianos
Nesta aula, vamos refletir sobre o exercício cidadão face à ad-
ministração pública. Vamos também discutiro conhecido “jei-
tinho brasileiro” de se resolver as situações delicadas. 
Há aqueles que afirmam que se trata de um traço cultural do povo brasileiro, 
enquanto outros defendem a afirmação de que se trata de pura falta de ética 
mascarada pela culturalidade. Vamos conhecer o que alguns pesquisadores 
dizem a respeito e refletir sobre seus ensinamentos, comparando-os com o 
que vemos no nosso cotidiano.
6.1 Cidadão ou consumidor do governo?
Em seu artigo, Mintzberg (1998, p. 151), retoma o questionamento feito 
por Tom Peters sobre a máxima que conhecemos: “o direito de uma pessoa 
termina quando começa o direito da outra”. Leia atentamente o trecho do 
artigo de Mintzberg: 
“Eu não quero, diz Tom Peters, um burocrata da prefeitura me criando 
dificuldades. Eu quero tratamento apropriado, rápido,eficaz e profis-
sional. Mas o que acontece se meu vizinho quiser uma permissão para 
aumentar a casa dele, fazendo sombra sobre a minha?Quem é o clien-
te da prefeitura neste caso?” MINTZBERG, 1998.
Você sabia?
Henry Mintzberg (nascido nos EUA em 1939) é reconhecido mundial-
mente como uma referência nas áreas de estratégia e gestão de negócios. 
Mintzberg afirma que o gestor gerencia os negócios em três níveis: ação, 
informação e pessoas. 
Thomas Peters (nascido em 1942/EUA) é uma referência mundial na ges-
tão de negócios. “Destruição Criativa” e “Descontinuidade” são temas 
que ele aborda alertando para a gestão nociva da manutenção de antigos 
paradigmas.
Com base no que vimos até agora, vale lembrar Matias-Pereira (2010, p. 37) 
quando indica que o conceito de cliente pode ser ampliado quando se fala 
em administração pública “considerando o cidadão como um cliente que 
recebe serviços ao mesmo tempo em que se concebe a organização como 
um sistema integrado de provedores internos e externos”. 
Observe como temos aqui afirmações que se complementam: o cidadão 
pode ser visto como um consumidor na medida em que interage com a 
gestão pública como provedor externo de informações, recolhimento de tri-
butos, conservação de patrimônio público, etc. Vale aqui ressaltar que na 
iniciativa privada, as organizações cada vez mais têm envolvido os consumi-
dores no desenvolvimento e aperfeiçoamento de seus produtos e serviços.
Também as organizações têm sido cobradas pela sociedade pelo exercício 
da “cidadania empresarial” ou seja, seu comprometimento com a gestão do 
que é público por meio de parcerias estratégicas. O exercício da cidadania 
empresarial não se limita ao recolhimento de tributos, é mais amplo do que 
isso. São exemplos de cidadania empresarial: programas de inclusão social 
por meio de investimento social; integração de pessoas com deficiência no 
ambiente de trabalho, indo muito além do que exige a legislação; preserva-
ção meio ambiente, entre outros.
6.2 O “jeitinho” é um traço 
cultural brasileiro?
O antropólogo Roberto da Matta (2009), ao discutir o tema: “O jeitinho brasi-
leiro é uma forma de corrupção?” ensina que esta forma de resolver situações 
difíceis contando com a benevolência dos outros poderia ser mundial, não 
fosse em países como a Alemanha ou Suíça onde impera a rigidez no cum-
primento das normas. Para este autor, o mesmo “jeitinho” que facilita a vida 
no cotidiano também coloca o brasileiro acima da lei: “o jeitinho se confunde 
com corrupção porque desiguala o que deveria ser tratado com igualdade”. 
Para da Matta, há uma questão sociológica envolvida no “jeitinho” que es-
tabelece uma relação ruim com a norma estabelecida para todos. O cidadão 
exige o cumprimento da lei pelo político que ocupa um cargo público, mas 
por outro lado, pede a um parente que faça “vista grossa” sobre um tributo 
não recolhido. Como lidar com a ética nesta situação? Como dizer que o 
representante do povo foi antiético e precisa ter seus direitos políticos cassa-
dos se o próprio cidadão transgride a lei.
Leia o artigo “Você tem 
cultura?” escrito por Roberto da 
Matta e disponível no link http://
www.arq.ufsc.br/urbanismo5/
artigos/artigos_mr.pdf
Acesso em: 21 dez. 2012. 
Compreenda a reflexão que o 
autor faz sobre “o agir cultural” 
brasileiro de dizer 
que não tem cultura. 
Ética e Cidadaniae-Tec Brasil 36
Resumo
Aprendemos nesta aula, que a relação entre os cidadãos e o governo precisa 
ser muito mais intensa do que o mero recolhimento de tributos e sua apli-
cação na área pública. A participação do cidadão na gestão faz a diferença 
entre ser apenas consumidor e ser cidadão atuante na gestão pública. Vimos 
também que o “jeitinho brasileiro” é uma maneira que encontramos de 
resolver situações difíceis usando subterfúgios ou contando com a bene-
volência dos outros. 
Atividades de aprendizagem
•	 Discuta com seus colegas as seguintes colocações: Al Gore quando era 
vice-presidente dos EUA afirmou que o povo americano é consumidor 
do governo; Henry Mintzberg se diz mais do que mero consumidor do 
governo. Qual sua percepção sobre estas duas colocações? O que dizem 
seus colegas a respeito?
Anotações
Subterfúgio: pretexto 
para evitar uma dificuldade. 
Fonte: http://michaelis.uol.
com.br/moderno/portugues/
index.php?lingua=portugues-
portugues&palavra= 
subterf%FAgio
e-Tec BrasilAula 6 – Cidadãos: direitos e deveres cotidianos 37
e-Tec Brasil39
Aula 7 – Ética profissional
Nesta aula, veremos o conceito de profissão e as virtudes que 
seu exercício exige. 
Discutiremos a relação entre a habilidade técnica no exercício da profissão e 
a prática das virtudes universais que permeiam as profissões.
7.1 O que é profissão?
O “exercício habitual de uma tarefa, a serviço de outras pessoas” é o concei-
to que Sá (2009, p. 155) atribui à profissão. Os benefícios, tanto para quem 
desempenha esta tarefa como para quem é beneficiado por sua execução 
também integram este conceito.
Figura 7.1: Profissões.
Fonte: IFPR 2013.
A ética, para Sá (2009) ,permeia o exercício da profissão na medida em que a 
conduta profissional condizente com a moral e a regulação feita pela lei ga-
rantem benefícios para os profissionais, a categoria à qual pertencem e para 
a sociedade. Vale aqui ressaltar que a conduta ética universal independe das 
culturas cujos costumes são diferenciados, ou seja, o zelo, a honestidade, 
e a competência são virtudes desejadas em qualquer exercício profissional 
independente da área de atuação ou cultura em que for desenvolvido. Uma 
frase de Sá (2009, p. 164) é significativa: “A profissão não deve ser um meio, 
apenas de ganhar a vida, mas de ganhar pela vida que ela proporciona, re-
presentando um propósito de fé”. 
7.2 Virtudes exigidas 
na conduta profissional
Para o exercício de uma profissão, habilidades técnicas são exigidas. A per-
gunta que coloco para sua reflexão é: somente habilidades técnicas são su-
ficientes para que seja virtuoso o exercício de uma profissão? Na matéria 
publicada na edição especial “Veja na História”, observa-se que durante a 
Segunda Guerra Mundial, médicos nazistas utilizaram as técnicas da pro-
fissão para uma determinada finalidade que inclui pesquisas. Não é preciso 
dizer que tais práticas foram e continuam sendo condenadas pela ausência 
absoluta de respeito à dignidade humana, virtude necessária à prática de 
qualquer profissão. Sei que o exemplo é extremo, mas coloco aqui para que 
não nos esqueçamos que a prática de nossas profissões requer acima de 
tudo o exercício da moral e da ética colocando em prática as virtudes univer-
sais que permeiam os relacionamentos, em nossa sociedade. 
7.3 Código de ética de uma profissão
Em seu livro, Sá (2009, p. 152) ensina que “a profissão pode enobrecer pela 
ação correta e competente, pode também ensejar a desmoralização, através 
da conduta inconveniente, com a quebra de princípios éticos.” Ao pertencer 
a uma classe profissional, qualquer que seja sua natureza, o indivíduo assu-
me um compromisso com a sociedade e com os colegas de profissão. O que 
dizer de um médicoou um enfermeiro que negligencia os cuidados com um 
paciente? E um professor que desrespeita um aluno? Veja os políticos! Te-
mos aqueles que se dedicam ao exercício da representação popular e aque-
les citados negativamente pela mídia. Observe como existe uma tendência a 
generalizar a atuação profissional, fazendo referências negativas ou positivas 
a uma classe profissional apenas pela observação de um ou de alguns indiví-
duos cuja ética é questionável pela sociedade.
Leia a matéria publicada na 
edição especial Veja na História, 
disponível no link http://veja.
abril.com.br/especiais_online/
segunda_guerra/edicao006/
sub2.shtml
Acesso em: 22 jan. 2012. 
Reflita sobre exemplos de outras 
atuações profissionais em que 
somente o domínio da técnica 
não é suficiente para garantir a 
conduta ética do profissional.
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	Aula 5 – A conduta cidadã
	5.1 Evolução do conceito de cidadania
	Aula 6 – �Cidadãos: direitos
e deveres cotidianos
	6.1 Cidadão ou consumidor do governo?
	6.2 �O “jeitinho” é um traço
cultural brasileiro?
	Aula 7 – Ética profissional
	7.1 O que é profissão?
	7.2 �Virtudes exigidas
na conduta profissional
	7.3 Código de ética de uma profissão

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