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H*- Glossário David Pereira Neves Agente Etiológico. É o agente causador ou responsável pela origem da doença. Pode ser um vírus, bactéria, fungo, protozoário, helminto. Agente Infeccioso. Parasito, sobretudo, microparasitos (bactérias, fungos, protozoários, vírus etc.), inclusive hel- mintos, capazes de produzir infecção ou doença infecciosa (OMS, 1973). Anfixenose. Doença que circula indiferentemente entre humanos e animais, isto é, tanto os humanos quanto os ani- mais funcionam como hospedeiros do agente. Exemplo: doença de Chagas, na qual o Trypanosoma cruzi pode cir- cular nos seguintes tipos de ciclo: ciclo silvestre: gambá-triatomíneo-gambá; ciclo peridoméstico: ratos, cão-triatomíneo-ratos, cão; ciclo doméstico: humano-triatomíneo-humano; cão, gato-triatomíneo-cão, gato. Antroponose. Doença exclusivamente humana. Por exem- plo, a filariose bancrofiiana, a necatorose, a gripe etc. Antropozoonose. Doença primária de animais, que pode ser transmitida aos humanos. Exemplo: brucelose, na qual o homem é um hospedeiro acidental. Cepa. Grupo ou linhagem de um agente infeccioso, de ascendência conhecida, compreendida dentro de uma es- pécie e que se caracteriza por alguma propriedade bioló- gica e/ou fisiológica. Ex.: a cepa "Laredo" da E. his- tolytica se cultiva bem a temperatura ambiente, com mé- dia patogenicidade. Contaminação. É a presença de um agente infeccioso na superficie do corpo, roupas, brinquedos, água, leite, alimen- tos etc. Doença Metaxênica. Quando parte do ciclo vital de um parasito se realiza no vetor; isto é, o vetor não só transporta o agente, mas é um elemento obrigatório para maturação e/ ou multiplicação do agente. Ex.: malária, esquistossomose. Enzoose. Doença exclusivamente de animais. Por exem- plo, a peste suína, o Dioctophime renale, parasitando rim de cão e lobo etc. Endemia. É a prevalência usual de determinada doença com relação a área. Normalmente, considera-se como en- dêmica a doença cuja incidência permanece constante por vários anos, dando uma idéia de equilíbrio entre a doença e a população, ou seja, é o número esperado de casos de um evento em determinada época. Exemplo: no início do inver- no espera-se que, de cada 100 habitantes, 25 estejam gripados. Epidemia ou Surto Epidêmico. É a ocorrência, numa co- letividade ou região, de casos que ultrapassam nitidamente a incidência normalmente esperada de uma doença e derivada de uma fonte comum de infecção ou propagação. Quando do aparecimento de um único caso em área indene de uma doença transmissível (p. ex.: esquistossomose em Curitiba), podemos considerar como uma epidemia em potencial, da mesma forma que o aparecimento de um único caso onde havia muito tempo determinada doença não se registrava (p. ex.: varíola, em Belo Horizonte). Epidemiologia. É o estudo da distribuição e dos fatores determinantes da frequência de uma doença (ou outro even- to). Isto é, a epidemiologia trata de dois aspectos fun- damentais: a distribuição (idade, sexo, raça, geografia etc.) e os fatores determinantes da freqüência (tipo de patógeno, meios de transmissão etc.) de uma doença. Exemplo: na epi- demiologia da esquistossomose mansoni, no Brasil, devem ser estudados: idade, sexo, raça, distribuição geográfica, criadouros peridomiciliares, suscetibilidade do molusco, há- bitos da população etc. (Ver Capitulo 3 Epidemiologia). Espécies Alopátricas. São espécies ou subespécies do mesmo gênero, que vivem em ambientes diferentes, devido a existência de barreiras que as separaram. Espécies Simpátricas. São espécies ou subespécies do mesmo gênero, que vivem num mesmo ambiente. Espécie Euritopa. É a que possui ampla dislribuiqão geográ- fica, com ampla valência ecológica, e até com hábitats variados. Espécie Estenótopa. É a que apresenta distribuição geo- gráfica restrita com hábitats restritos. Estádio. É a fase intermedihia ou intervalo entre duas mudas da larva de um &pode ou helrninto. Ex.: larva de 1" estádio, larva de 3* estádio, estádio adulto (em entomologia, estádio adulto é sinônimo de instar). Capitulo 1 3 Estágio. É a forma de transição (imaturos) de um artrópode ou heirninto para completar o ciclo biológico. Ex.: estágio de ovo, larva ou pupa (portanto, o estágio larva pode passar por dois ou três estádios). Fase Aguda. É aquele período após a infecção em que os sintomas clínicos são mais marcantes (febre alta etc.). É um período de definição: o indivíduo se cura, entra na fase crô- nica ou morre. Fase Crônica. É a que se segue a fase aguda; caracteri- za-se pela diminuição da sintomatologia clínica e existe um equilíbrio relativo entre o hospedeiro e o agente infecc,ioso. O número do parasitos mantém uma certa constância. E im- portante dizer que este equilíbrio pode ser rompido em fa- vor de ambos os lados. Fômite. É representado por utensílios que podem veicu- lar o parasito entre hospedeiros. Por exemplo: roupas, serin- gas, espéculos etc. Fonte de Infecção. "É a pessoa, coisa ou substância da qual um agente infeccioso passa diretamente a um hos- pedeiro. ~ s i a fonte de infecção pode estar situada em qual- quer ponto da cadeia de transmissão. Exemplos: água con- taminada (febre tifóide), mosquito infectante (malária), car- ne com cisticercos (teníase)." OMS, 1973. Hábitat. É o ecossistema, local ou órgão onde determi- nada espécie ou população vive. Ex.: o Ascaris lumbricoides tem por hábitat o intestino delgado humano. Heteroxeno. Ver Parasito heteroxênico. Hospedeiro. É um organismo que alberga o parasito. Exemplo: o hospedeiro do Ascaris lumbricoides é o ser hu- mano. Hospedeiro Definitivo. É o que apresenta o parasito em fase de maturidade ou em fase de atividade sexual. Hospedeiro Intermediário. É aquele que apresenta o pa- rasito em fase larvária ou assexuada. Hospedeiro Paratênico ou de Ti-ansporte. É o hospedeiro intermediário no qual o parasito não sofre desenvolvimen- to, mas permanece encistado até que o hospedeiro definiti- vo o ingira. Exemplo: Hymenolepis nana em coleópteros. Incidência. É a freqüência com que uma doença ou fato ocorre num período de tempo definido e com relação à população (casos novos, apenas). Exemplo: a incidên- cia de piolho (Pediculus humanus) no Grupo Escolar X, em Belo Horizonte, no mês de dezembro, foi de 10%. (Dos 100 alunos com piolho, 10 adquiriram o parasito no mês de dezembro.) Infecção. Penetração e desenvolvimento, ou multiplicação, de um agente infeccioso dentro do organismo de humanos ou animais (inclusive vírus, bactérias, protozoários e helmintos). Infecção Inaparente. Presença de infecção num hos- pedeiro, sem o aparecimento de sinais ou sintomas clínicos. (Nesse caso, pode estar em curso uma patogenia discreta, mas sem sintomatologia; quando há sintomatologia a infec- ção passa a ser uma doença infecciosa.) Infestação. É o alojamento, desenvolvimento e reprodu- ção de artrópodes na superficie do corpo ou vestes. (Pode- se dizer também que uma área ou local está infestado de artrópodes.) Letalidade. Expressa o número de óbitos com relação a determinada doença ou fato e com relação a população. Por ex.: 100% das pessoas não-vacinadas, quando atingidas pelo vírus rábico, morrem. A letalidade na gripe é muito baixa. Morbidade. Expressa o número de pessoas doentes com relação a população. Exemplo: na época do inverno, a mor- bidade da gripe é alta [isto é, o número de pessoas doentes (incidência) é grande]. Mortalidade. Determina o número geral de óbitos em de- terminado período de tempo e com relação a população. Exemplo: em Belo Horizonte morreram 1 .O32 pessoas no mês de outubro de 2004 (acidentes, doenças etc.). Parasitemia. Reflete a carga parasitária no sangue do hospedeiro. Exemplo: camundongos X apresentam 2.000 tripanossomas por cm3 de sangue. Parasitismo. É a associação entre seres vivos, em que existe unilateralidade de benefícios, sendo um dos as- sociados prejudicadospela associação. Desse modo, o pa- rasito é o agressor, o hospedeiro é o que alberga o parasi- to. Podemos ter vários tipos de parasitos: Endoparasito. O que vive dentro do corpo do hos- pedeiro. Exemplo: Ancylostoma duodenale. Ectoparasito. O que vive externamente ao corpo do hospedeiro. Exemplo: Pediculus humanus (piolho). Hiperparasito. O que parasita outro parasito. Exemplo: E. histolytica sendo parasitado por fungos (Sphoerita en- dogena) ou mesmo por cocobacilos. Parasito Acidental. É o que parasita outro hospedeiro que não o seu normal. Exemplo: Dipylidium caninum, parasitando criança. Parasito Errático. É o que vive fora do seu hábitat normal. Parasito Estenoxênico. É o que parasita espécies de ver- tebrados muito próximas. Exemplo: algumas espécies de Plasmodium só parasitam primatas; outras, só aves etc. Parasito Eurixeno. É o que parasita espécies de verte- brados muito diferentes. Exemplo: o Toxoplasma gondii, que pode parasitar todos os mamíferos e até aves. Parasito Facultativo. É o que pode viver parasitando, ou não, um hospedeiro (nesse último caso, isto é, quando não está parasitando, é chamado vida livre). Exemplo: larvas de moscas Sarcophagidae, que podem desenvolver-se em fe- ridas necrosadas ou em matéria orgânica (esterco) em de- composição. Parasito Heterogenético. É o que apresenta altemância de gerações. Exemplo: Plasmodium, com ciclo assexuado no mamífero e sexuado no mosquito. Parasito Heteroxênico. É o que possui hospedeiro de- finitivo e intermediário. Exemplos: Trypanosoma cruzi, S. mansoni. Parasito Monoxênico. É o que possui apenas o hos- pedeiro definitivo. Exemplos: Enterobius vermicularis, A. lumbricoides. Parasito Monogenético. É o que não apresenta alternân- cia de gerações (isto é, possui um só tipo de reprodução sexuada ou assexuada). Exemplos: Ascaris lumbricoides, Ancylostomatidae, Entamoeba histolytica. Parasito Obrigatório. É aquele incapaz de viver fora do hospedeiro. Exemplo: Toxoplasma gondii, Plasmodium, S. mansoni etc. Capitulo 1 Parasito Periódico. É o que frequenta o hospedeiro intervaladamente. Exemplo: os mosquitos que se alimentam sobre o hospedeiro a cada três dias. Parasitóide. É a forma imatura (larva) de um inseto (em geral da ordem Hymenoptera) que ataca outros invertebra- dos, quase sempre levando-os a morte (parasitóide = para- sito proteleano). Ex.: os micromenópteros Telenomous fariai e Spalangia endius desenvolvendo-se, respectivamente, em ovos de triatomíneos e pupas de moscas. Partenogênese. Desenvolvimento de um ovo sem inter- ferência de espermatozóide (parthenos = virgem, mais genesis = geração). Ex.: Strongvloides stercoralis. Patogenia ou Patogênese. É o mecanismo com que um agente infeccioso provoca lesões no hospedeiro. Ex.: o S. mansoni provoca lesões no organismo através de ovos, formando granulomas. Patogenicidade. É a habilidade de um agente infec- cioso provocar lesões. Ex.: Leishmania braziliensi tem urna patogenicidade alta; Taenia saginata tem patogeni- cidade baixa. Patognomônico. Sinal ou sintoma característico de uma doença. Ex.: sinal de Romana, típico da doença de Chagas. Pedogênese. É a reprodução ou multiplicação de uma forma larvária (pedos =jovem, mais genesis = geração). Ex.: a formação de esporocistos secundários e rédias a partir do esporocisto primário. Período de Incubação. É o período decorrente entre o tempo de infecção e o aparecimento dos primeiros sinto- mas clínicos. Ex.: esquistossomose mansoni-penetração de cercária até o aparecimento da dermatite cercariana (24 horas). Periodo Pré-Patente. É o período que decorre entre a in- fecção e o aparecimento das primeiras formas detectáveis do agente infeccioso. Ex.: esquistossomose mansoni-período entre a penetração da cercária até o aparecimento de ovos nas fezes (formas detectáveis), aproximadamente, 43 dias. Poluição. É a presença de substâncias nocivas (produ- tos químicos, por exemplo) mas não-infectantes, no ambiente (ar, água, leite, alimentos etc.). Portador. Hospedeiro infectado que alberga o agente infeccioso, sem manifestar sintomas, mas capaz de trans- miti-lo a outrem. Nesse caso, é também conhecido como "portador assintomático"; quando ocorre doença e o por- tador pode contaminar outras pessoas em diferentes fases, f temos o "portador em incubação", "portador convalescen- te", "portador temporário", "portador crônico". Premunição ou Imunidade Concomitante. É um tipo es- pecial do estado imunitário ligado a necessidade da presen- ça do agente infeccioso em níveis assintomáticos no hos- pedeiro. Normalmente, a premunição é encarada como sen- do um estado de imunidade que impede reinfecções pelo agente infeccioso específico. Ex.: na malária, em algumas re- giões endêmicas, o paciente apresenta-se em estado crôni- co constante, não havendo reagudização da doença. Existe um equilíbrio perfeito entre o hospedeiro o hóspede. Prevalência. Termo geral utilizado para caracterizar o número total de casos de uma doença ou qualquer outra ocorrência numa população e tempo definidos (casos anti- gos somados aos casos novos). Ex.: no Brasil (população definida), a prevalência da esquistossomose foi de 8 milhões de pessoas em 1992. Profdaxia. É o conjunto de medidas que visam a preven- ção, erradicação ou controle de doenças ou fatos prejudici- ais aos seres vivos. Essas medidas são baseadas na epide- rniologia de cada doença. (Prefiro usar os termos "profilaxia", quando uso medidas contra uma doença já estabelecida e "prevenção", quando uso medidas para evitar o estabeleci- mento de uma doença.) Reservatório. São o homem, os animais, as plantas, o solo e qualquer matéria orgânica inanimada onde vive e se multiplica um agente infecioso, sendo vital para este a pre- sença de tais reservatórios e sendo possível a transmissão para outros hospedeiros (OMS). O conceito de reservatório vivo, de alguns autores, é relacionado com a capacidade de manter a infecção, sendo esta pouco patogênica para o re- servatório. Sinantropia. É a habilidade de certos animais silvestres (mamíferos, aves, insetos) frequentar habitações humanas; isto é, pela alteração do meio ambiente natural houve uma adaptação do animal que passou a ser capaz de conviver com o homem. Ex.: moscas, ratos e morcegos silvestres frequentando ou morando em residências humanas. Vetor. É um artrópode, molusco ou outro veículo que transmite o parasito entre dois hospedeiros. Vetor Biológico. É quando o parasito se multiplica ou se desenvolve no vetor. Exemplos: o T cruzi, no T infestam; o S. mansoni, no Biomphalaria glabrata. Vetor Mecânico. É quanto o parasito não se multiplica nem se desenvolve no vetor, este simplesmente serve de transporte. Ex.: Tunga penetram veiculando mecanicamen- te esporos de fungo. i Virulência. É a severidade e rapidez com que um agen- te infeccioso provoca lesões no hospedeiro. Ex.: a E. his- tolytica pode provocar lesões severas, rapidamente. Zooantroponose. Doença primária dos humanos, que pode ser transmitida aos animais. Ex.: a esquistossomose hansoni no Brasil. O humano é o principal hospedeiro. Zoonose. Doenças e infecções que são naturalmente transmitidas entre animais vertebrados e os humanos. Atual- mente, são conhecidas cerca de 100 zoonoses. Ex.: doença de Chagas, toxoplasmose, raiva, brucelose (ver Anfixenose, Antroponose e Antropozoonose). Capitulo 1 David Pereira Neves Ao observamos os seres vivos - animais e vegetais - vemos que o seu inter-relacionamento é enorme e funda- mental para a manutenção da "vida". Podemos, mesmo, afir- mar que nenhum ser vivo é capaz de sobreviver e reprodu- zir-se independentemente de outro. Entretanto, esse rela- cionamento varia muito entre os diversos reinos, filos, or- dens, gêneros e espécies. A ecologia é a ciência que es- tuda a interdependência funcional entre bactérias, proto- zoários, vegetais, animais e meio ambiente, ou seja,"é o estudo da estrutura e função da Natureza". Convém sali- entar que as relações entre os seres vivos não são estáti- cas, ou seja, na natureza a característica maior é a interde- pendência dinâmica de seus componentes. Há uma adap- tação de cada um, tendendo ao equilíbrio, cuja estabilida- de jamais é alcançada, salvo como etapas sucessivas em demandas de novos e contínuos equilíbrios: é a "evolu- ção". Dessa forma, meio ambiente e seres vivos estão em permanente e contínuo processo de adaptação mútua, isto 6 , estão "evoluindo" sempre. Entretanto, para que essa evolução ocorra, o agente ou força que provocou o dese- quilíbrio ambiental agiu de maneira constante, progressiva e lenta. Porém, se o desequilíbrio for brusco, rápido ou muito abrangente, não haverá eyolução, mas, sim, destrui- ção das espécies envolvidas. E o que tem ocorrido nas áreas em que os humanos têm feito sentir toda a força modificadora de sua tecnologia sobre (ou mesmo contra) a Natureza. Por isso é fundamental que para um desenvol- vimento harmônico de uma região ou de um país, antes de toda e qualquer ação humana, há necessidade de se fazer o estudo do impacto ambiental da mesma. Daí a idéia vi- gente de que para se fazer uma "ação na Natureza" ela sempre deve priorizar o "desenvolvimento sustentável". Em verdade, "se os humanos não conhecerem e não pre- servarem os recursos naturais do Planeta, verão que os caminhos que levam ao progresso são os mesmos que nos levam ao caos" (Silva, D.B., 2002). Portanto, esse desen- volvimento sustentável só será possível quando formos capazes de entender que nossa espécie é uma engrenagem na "Roda da Vida", conforme mostramos na Fig. 2.1. Aí está mostrado a interação permanente que ocorre entre todos os elementos da natureza, incluindo a nossa espécie. É de fundamental importância que os especialistas em Saúde Pú- blica (inclusive os parasitologistas) se dêem conta dessa "Roda da Vida", pois "é assim que caminha a humanidade" ... Em nosso país existe um fenômeno civilizatório muito tí- pico, também acometendo os demais países de língua his- pânica: a influência dominadora, declarada ou sutil, da igreja católica e das classes coldnizadoras de Portugal e Espanha. Essa dominação e o obscurantismo não permitiram que ibé- ricos ou outros povos aqui viessem para permanecer e for- mar uma sociedade produtiva e culta. "Em verdade isso completa os quinhentos anos de ex- ploração e dominação econômica, religiosa, política, militar e cultural da 'dinastia' do poder. Essa dinastia trabalha com muita ciência e esperteza. Estão conscientes do que fazem e estão empenhados em divulgar o negativismo e o derrotismo: trabalham para a manutenção da dominação. Agora, com dois ano de governo do Lula (que está traba- lhando equilibradamente na direção certa), essa mesma di- nastia divulga notícias desanimadoras e hipócritas: 'veio para mudar, mas está igual ao anterior', ou tumultuam as're- formas. Nesse aspecto, os radicais entravam as negociações e incitam greves, os inocentes úteis corporativistas aderem e os reacionários se aproveitam, se unem e buscam tomar o poder novamente ..." (Parasitologia Básica, pág. 5). Como um país vivo, os fatores que regem a relação en- tre as espécies e o meio ambiente também comandam a re- lação entre as pessoas e as nações. Assim, além da pressão e da espoliação externa que padecemos, internamente vivenciamos um aviltamento da relação humana. A falência das políticas públicas programadas pelos governos anterio- res, acrescida de um salário mínimo irrisório e da concentra- ção de renda em cerca de 10% da população, prejudica toda a sociedade. Felizmente, vejo que mais de 60% da popula- ção está tomando consciência disso e buscando novos ca- minhos. E, conforme já foi feito em outros países organiza- dos e desenvolvidos, a "receita" foi esta: implementar o en- sino público, fortalecer os serviços e as políticas públicas, estimular a distribuição de riquezas através de mais trabalho e melhor remuneração, aumentar as oportunidades e a auto- estima pessoal e nacional! Capitulo 2 Fig. 2.1 A Roda da Vida: interação entre o meio ambiente e os humanos. As ações e reações são recíprocas entre a natureza, o indivíduo, a comunidade, a saúde, o trabalho, o lazer e a espiritualidade, pois cada elemento sofre e exerce influência sobre os demais. (Desenho original de D. F! Neves e Anamaria R. A. Neves: Parasitologia Básica, Coopmed Editora, 2003) Nosso momento histórico é agora e não podemos ter medo de mudar e reformar o que é necessário. Precisamos ousar na reorganização do social e na recuperação do am- biental. Daí o fascínio de vivermos agora! Pessoas compe- tentes e sensíveis para isso, nós temos; precisamos cora- gem, determinação e largueza de espírito para avançarmos na direção da justiça e do equilíbrio! E o que isso tudo tem a ver com a parasitologia e com as doenças parasitárias? Tem tudo, pois é na esteira da po- breza, da falta de educação e de saneamento básico que as doenças parasitárias encontram um campo fértil ... (Parasito- logia Dinâmica, capítulo 1). Além disso, a dinâmica popula- cional tem sido muito intensa em nosso país, com acentua- do êxodo rural e formacão de favelas na ~ e n f e n a das cida- des. Para se ter uma idéia, em 1940 tínhamos uma população total de 41 milhões de habitantes, com 30% (13 milhões) vi- vendo em ambiente urbano e 70% (28 milhões) vivendo na zona rural; hoje somos 170 milhões, com 80% (138 milhões) vivendo nas cidades e 20% (32 milhões) vivendo na zona rural. Em decorrência desse êxodo acelerado, associado a falta de higiene, de moradia adequada e serviços sanitários amplos, as doenças que eram chamadas de "endemias ru- rais" devem ser hoje estudadas como "endemias urbanas", com perfil epidemiológico diferenciado Fig. 2.2). O relacionamento entre os seres vivos visa dois aspectos fundamentais: a) obtenção de alimento; b) elou proteção. A obtenção de alimentos, quando enfocada sob o pris- ma celular, isto é, a obtenção de nutrientes para produção de energia ao nível da célula, é um dos capítulos mais apaixonantes da ciência moderna. A bioquímica celular es- tá hoje num grau muito elevado, mostrando a "uniformida- de" dos seres vivos quanto ao método de produzir energia, sejam animais uni ou pluricelulares. A descrição da bioquí- mica e da fisiologia celular foge ao escopo deste livro, mas pensamos que será útil aos interessados reportarem-se a li- vros especializados, para melhor conhecimento da matéria. ORIGEM DO PARASITISMO E TIPOS DE ADAPTACOES Como foi dito, os seres vivos na natureza apresentam grande inter-relacionamento, e como será mostrado, varia desde a colaboração mútua (simbiose) até o predatismo e canibalismo. O parasitismo, seguramente ocorreu quando na evolução de uma destas associações um organismo menor se sentiu beneficiado, quer pela proteção, quer pela obten- ção de alimento. Como conseqüência dessa associação e com o decorrer de milhares de anos houve uma evolução para o melhor re- lacionamento com o hospedeiro. Essa evolução, feita a cus- ta de adaptações, tomou o invasor (parasito) mais e mais 8 Capitulo 2
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