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As piretrinas e piretróides, embora apresentando um bom efeito letal (knock down), conferem menor poder resi- dual. No Brasil, não apenas as piretrinas, mas sobretudo a deltametrina e a permetrina, entre os sintéticos (sabão, lo- ção, xampu e spray), têm sido empregadas para o controle de pulgas em animais domésticos. Para o controle no inte- rior dos domicílios, o K-othrine é o piretróide de eleição. A ação dos piretróides sintéticos é mais eficaz quando as- sociada a outros inseticidas (efeito sinérgico), em geral organofosfados ou IGRs, conforme demonstrado em es- tudos recentes. Ainda, recentemente, vários inseticidas para o controle de pulgas têm sido fabricados e empregados em diversos países, sob a forma de microencapsulados. O produto, ge- ralmente uma piretrina ou um fosforado (diazinon, chlor- pyrifos), sendo armazenado em microcápsulas de náilon ou poliuréia, garante uma liberação gradual e progressiva de seu princípio ativo, o que determina uma efetiva ação resi- dual. Pode ser utilizado tanto no ambiente, quanto diretamen- te sobre o animal infestado, graças a relativa segurança do modo de elaboração. Os reguladores de crescimento (IGRs), sendo subs- tâncias análogas aos hormônios juvenis, atuam de modo a reproduzir os efeitos hormonais, podendo interromper ou inibir a metamorfose dos insetos, desde que aplicados em dosagens especificas a intervalos de tempo regulares. O tra- tamento das larvas e pupas de pulgas com IGRs provoca o desenvolvimento anormal do adulto, acarretando sua mor- talidade. Nos EUA, duas dessas substâncias, o metopreno e o fenoxycarb, já se encontram disponíveis para uso, en- quanto outras como o hidropreno encontram-se em fase ex- perimental. Desde que os IGRs são fotodegradáveis, a sua utilização é limitada ao controle das infestações intradomi- ciliares. Apesar de não exercerem efeito direto sobre os adultos, apresentam boa eficácia sobre ovos, larvas e pupas, além de não serem tóxicos aos mamíferos. Os inibidores de desenvolvimento têm no lufenuron o seu princípio ativo. Esta substância impede a formação de quitina nas larvas de primeiro estágio (apêndice cefálico rompedor de ovos), inviabilizando-as de eclosão. Adrninis- trado mensalmente por via oral em cães e gatos, e atuando como produto sistêmico, interrompe as infestações nos ani- mais e no ambiente. Desde que seu efeito será observado apenas a partir da próxima geração de pulgas, ele tem sido, por isso, denominado vulgar e incorretamente "anticoncep- cional de pulgas". O produto foi introduzido pela Ciba- Geigy (= Novartis) no mercado brasileiro, sob o nome "Program". Outros produtos empregados no controle de pulgas em cães e gatos são o Frontline (fipronil) e o Advantage (imidacloprid + cloronicotinil + nitroguanidina sintética), ambos com efeito residual além de 30 dias. O uso de boratos em carpetes apresenta bom resultado, pois alte- ram o processo alimentar das larvas. Embora atualmente comercializados em certos países, os colares e outros artefatos ultra-sônicos não provaram ser eficazes para controle de pulgas. Desde que as pulgas são capazes de detectar o som na faixa de 100 a 10.000 quilohertz e que tais artefatos são fabricados para operar na freqüên- cia de 40-50KHz, eles não repelem pulgas nem tampouco afetam o seu salto ou mesmo alteram a sua reprodução ou o seu desenvolvimento, conforme demonstrado em várias publicações. Diante disso, a sua comercialização tem sido considerada ilegal em vários estados norte-americanos. Um programa de controle de pulgas, para ser qualifica- do como de boa qualidade, deverá envolver diferentes es- tratégias, através da utilização simultânea de métodos mecânicos e químicos. O tratamento das infestações nos animais domésticos deverá ser estendido ao ambiente e vice-versa. Seria, também, de fundamental importância saber que espécie(s) de pulga(s) constitui(em) o foco de infestação, tendo em vista as particularidades do ciclo bio- lógico, longevidade, preferência e intercâmbio de hos- pedeiros, e veiculação de doenças. Assim, no caso de infestação por X. cheopis, medidas de vigilância e com- bate aos roedores (anti-ratização e desratização) devem ser tomadas paralelamente. O controle químico requer cuidados, em face da toxici- dade dos inseticidas. As formulações em uso para comba- te de pulgas em animais domésticos incluem sabão, xampu, pó, talco, loção e coleiras impregnadas. Desde que a maior parte dos inseticidas não atua sobre ovos e pupas de pul- gas - não apenas devido a ação do princípio ativo, mas também em virtude da formulação empregada -, a aplicação deve ser repetida duas vezes, com um intervalo de uma se- mana. Quando polvilhado sobre o corpo do animal, o inse- ticida deverá ser mantido por meia hora; em seguida, lavar bem todo o pêlo do animal com água e sabão. O pó (talco) ou spray, quando aplicado na pelagem, deve ser aspergido rente a pele do animal, o que facilmente se consegue com o deslizamento de um pente fino no sentido inverso ao da im- plantação dos pêlos. No interior dos domicílios, a aplicação do inseticida (polvilhamento, bombeamento) deverá ser direcionada as frestas do assoalho, cantos de paredes, carpetes, tapetes, panos e trapos onde habitualmente repousam os animais domésticos. A aplicação intradomiciliar envolve as seguin- tes medidas de segurança: retirar, previamente, as crianças e os animais de es- timação (peixes, pássaros etc.) dos locais-alvo de tra- tamento; cobrir adequadamente todos os alimentos e utensílios de cozinha; retomar ao domicílio somente após completa ventila- cão. O uso indiscriminado de inseticidas no interior do domi- cílio e no ambiente peridomiciliar requer experiência e cuida- dos. Conseqüentemente, uma boa medida poderá ser a pres- tação de serviços por parte de empresas profissionais de reconhecida competência. Pesquisas relacionadas com o desenvolvimento de uma vacina antipulga (C. felis felis) encontram-se em andamento, porém com resultados conflitantes. O seu princípio baseia- se no emprego de antígenos da membrana do intestino de pulgas adultos como elemento imunizante. Capitulo 49 - Pedro Marcos Linardi Nessa ordem encontramos os insetos vulgarmente co- nhecidos como piolhos. São todos eles hematófagos, com metamorfose gradual - paurometábolos (ver Capítulo 38, Ciclo Biológico) - e parasitos de mamíferos. Segundo orientação moderna, essa ordem apresenta cer- ca de 532 espécies disiribuídas em 15 famílias, das quais ape- nas duas apresentam espécies que parasitam o homem: a) Pediculidae, com as espécies Pediculus capitis (Lineu, 1758) (= Pediculus humanus humanus), que é o piolho da cabe- ça e Pediculus humanus Lineu, 1758 (= Pediculus humanus corporis), que é o piolho do corpo ou "muquirana"; b) Pthiridae, com a espécie Pthirus pubis Lineu, 1758 (= Phthirus pubis), vulgarmente conhecida como "chato". Esses insetos antigamente pululavam na espécie huma- na. Depois, com o progresso, higiene individual, troca diá- na de roupa para dormir, advento de inseticidas eficazes, os Anoplura tornaram-se bastante raros, sendo então mais en- contrados nos mendigos e favelados. Atualmente, existe novo surto do piolho da cabeça, em todo o mundo, atacando grande número de crianças em ida- de escolar e, as vezes, adultos de todas as classes sociais. Parece que os principais fatores que levaram ao aparecimen- to dessa epidemia tenham sido os seguintes: resistência do P capitis aos inseticidas usuais, aumento da popula- ção humana e modificação dos hábitos sociais e afetivos, favorecendo o maior contato entre as pessoas (salas de aula cheias, transportes coletivos repletos e beijos faciais para cumprimentos), indiferença das autoridades com relação a infestação (ignorando-a ou considerando-a passivamente como inofensiva) e a falta de inspeção em determinados grupos, como, por exemplo, o de idade pré-escolar, que fun- cionariam como reservatórios.Já com o piolho do corpo, a explicação que justifica o não-aparecimento de novos sur- tos é que com o hábito de se trocar as roupas para dormir, os ovos do P humanus presentes nas dobras das roupas resfnam e morrem. Além do prurido intenso, esses insetos podem veicular o tifo exantemático (Rickettsia prowazeki), a febre das trin- cheiras (Bartonella quintana = Rochalimaea quintana) e a febre recorrente (Borrelia recurrentis). O tifo exantemáti- co é transmitido pelas fezes e esmagamento dos pilhos e al- guns surtos têm ocorrido recentemente em Burundi. A febre recorrente é transmitida pelo esmagamento dos insetos en- tre os dedos ou entre os dentes, sendo ainda uma doença comum na África Central e Oriental, especialmente entre as pessoas mais pobres e refugiados provenientes da Etiópia, podendo, assim, disseminar-se em virtude de futuros con- flitos. A febre das trincheiras é uma infecção emergente, que se pensava ter desaparecido após as Guerras Mundiais. Essa doença tem sido recentemente identificada em cidades da França (Paris), EUA (Seattle) e Japão (Tóquio). A sua transmissão ocorre pela picada e fezes de piolhos do corpo. Já o tifo murino (tifo endêmico) entre os roedores é mantida por piolhos, mas entre os roedores e o homem a transmis- são é feita por pulgas. A picada dos insetos provoca uma dermatite, causada pela reação do hospedeiro a saliva inje- tada ao início da hematofagia. O prurido intenso leva o pa- ciente a arranhar a pele, abrindo a porta de entrada para ger- mes patogênicos. Chama-se pediculose a infestação por piolhos sugado- res: pediculose do couro cabeludo e pediculose do corpo. A infestação determinada pelos "chatos" é denominada pitiríase, pitirose, fitiríase, fitirose, ou, impropriamente, "pediculose do púbis". Elas são caracterizadas por prurido, irritação da pele ou do couro cabeludo e infecções es- tafilocócicas secundárias (impetigo), podendo, também, de- terminar inflamação ganglionar satélite e alopecia. Quando infestações graves por piolho da cabeça estão associadas a más condições sociais e dietas inadequadas, as crianças parasitadas podem apresentar-se anêmicas pela deficiência de ferro subtraído pela hematofagia. Suas conseqüências se fazem sentir sobre a criança, os pais e os professores. A criança sente-se psicologicamen- te mal pela condição de parasitada, não raro escondendo a infestação num sentimento de vergonha. Esta ocultação da parasitose - por parte da criança, da família ou de escolas e comunidades - tem garantido a sobrevivência dos pio- Capitulo 50 407 lhos através dos tempos, realimentando a infestação. Os pais são também atingidos por este estigma, que pode dar idéia de falta de higiene em casa. Os educadores en- frentam o problema de evitar a transmissão da moléstia a outros alunos, isolando as cr ianças infestadas, enfrentando a situação desagradável de comunicar o fato aos pais e, até, em certos casos, serem levados a suspender as atividades escolares por alguns dias. Con- tudo, é a criança quem paga o tributo mais alto aos pio- i i lhos, através da hematofagia contínua, perturbação do ! 1 sono pelo prurido incessante e, consequentemente, pela diminuição do rendimento escolar. Em altas infestações, A a população de piolhos pode ultrapassar 1.000 in- divíduos. Desde que no Brasil a automedicação cos- tuma ser uma prática em larga escala, ela tem ocasiona- do - pelo fato de ser, por vezes, excessiva, incorreta, tóxica - alguns acidentes fatais. A picada do inseto ocasiona, ainda, uma dermatite, cau- sada pela reação do hospedeiro a saliva injetada ao início da hematófaga. O prurido leva o paciente a arranhar a pele, abrindo a porta de entrada para patógenos. Como os piolhos são insetos altamente específicos aos seus hospedeiros, e por ocuparem diferentes territórios no corpo dos mesmos, o seu estudo abre importantes pers- pectivas para o esclarecimento da co-evolução hospedeiro1 parasito, afinidades taxonômicas, geográficas e antropoló- gicas e consequentemente da incessante busca as origens do homem! MORFOLOGIA São pequenos, sem asas; Fig. 50.1 - A ) Ovo (lêndea); B) Pediculus capitis f&inea; C) Pthirus pubis picador-sugador. As pernas são fortes e no tarso nota-se féme,; m) metapódios (quatro de cada lado). uma forte garra que se opõe a um processo na tíbia; es- se conjunto (garra e processo tibial) forma uma pinça, com a qual o inseto fica firmemente "abraçado" ao pêlo (Fig. 50.2). Os ovos são colocados aderidos aos pêlos ou as fibras I e são conhecidos por lêndeas (Figs. 50.1 e 50.3). Elas são operculadas, de coloração branco-amarelada, medindo, apro- xmdamente, 0,8mm/0,3mm. Na Fig. 50.1, poderemos ver os aspectos gerais desses insetos. BIOLOGIA Existem duas espécies de Pediculus, com comporta- mento biológico diferente. Uma delas ligeiramente mai- or (3,Smm de comprimento) vive no corpo, e outra, me- nor (3,Omm) vive na cabeça do homem. Além disso, en- quanto a espécie que vive no corpo bota os ovos nas dobras das roupas, a outra bota-os na base dos pêlos da cabeça. A medida que os cabelos crescem, as Iên- deas a eles aderidas vão também se afastando cada vez mais para a extremidade, de modo que as situadas além de 0,7cm da base do cabelo seriam lêndeas mortas ou já eclodidas, uma vez que os ovos necessitam do calor da cabeça para eclodir. Os piolhos são insetos hematófagos obrigatórios em to- dos OS estágios evolutivos e sexos. Alimentam-se várias ve- Fig. 50.2 - Detalhe de um Pediculus capitis fixando-se a um pêlo. zes por dia. 408 Capitulo 50 Ovo-eclosão-ninfa 1-muda-ninfa 2-muda-ninfa 3-muda- adulto. São, portanto, paurometábolos. Cada Emea de fl capitis bota cerca de 7- 10 ovos diaria- mente e cerca de 200 ovos durante toda a vida; pode viver até 40 dias; fora do hospedeiro, sobrevive poucas horas e a viabilidade das lêndeas é também afetada. Já o fl humanus, em toda sua vida (três meses) bota cerca de 1 10 ovos. O ci- clo completo passa pelas fases de ovo, ninfa I, 11, I11 e adulto (paurometabolia - ver Capítulo 38 - Ciclo Biológico). O período de incubação é de oito a nove dias. A incu- bação é feita pelo calor do corpo humano: de ninfa I até adul- to, o ciclo demora cerca de 15 dias. Enquanto fl humanus é mais frequente na população adulta, sobretudo aquela faixa marginalizada da sociedade (prostitutas, mendigos, prisioneiros), fl capitis é mais pre- valente em crianças e jovens. A faixa etária predileta, em quase todo o mundo é de 6 a 13 anos, embora em Belo Ho- rizonte o maior pico tenha sido observado entre 1 e 5 anos, seguido de outro pico secundário aos 8 anos. Fig. 50.3 - Ciclo biológico do Pediculus capitis: incubação do ovo - oito a nove dias; de ninfa 1 até adulto - mais 15 dias. N1, N2, N3 - ninfas de lQ, ZQ e 3P estádios. Quando o hospedeiro troca de roupa, ou corta o cabelo rente, haverá esfriamento dos ovos que, então, morrerão. Por isso i? humanus é mais comum nos países de clima frio ou em soldados durante a guerra, quando a troca de roupas é menos frequente. Para fl capitis, o sexo feminino é o mais afetado, em to- das as faixas etárias (Fig. 50.4). Os índices de infestação são variáveis por raça humana, podendo estar relacionados não apenas com aspectos genéticos dos cabelos (forma e tipo), como também com hábitos culturais e status socio- econômico das comunidades (uso de óleos e cremes nos cabelos, catação e pediculofagia). Em Belo Horizonte, MG, a prevalência de fl capitis na população foi estimada en- tre 5-10%, a partir do estudo de amostras de cabelos contendo parasitos (adultos e lêndeas), recolhidas do chão de barbearias e salões de beleza. A infestação é mais prevalente no período de abril a setembro, com os maiores picos, respectivamente, em agosto e abril, concordantes com o início ou o reinício das atividades letivas, logo após o período de férias de cada semestre. Nos EUA, a infes- tação em negros é rara, enquanto naMalásia, os indianos são mais parasitados do que os malaios e estes, mais do que os europeus lá residentes. Segundo autores recentes, a pediculose do couro cabe- ludo parece não estar relacionada com o tamanho dos cabe- los, mais sim com o diâmetro e o espaçainento entre os fios de cabelo, preferindo os mais espessos e os mais densamen- te implantados. Assim, ao contrário da falsa crença de que "quanto mais cabelos ... mais piolhos", seria de interesse enfatizar que fl capitis é um habitante normal do couro ca- beludo e não dos cabelos. Relativamente ao i? pubis, essa espécie tem biologia semelhante ao fl capitis, e vive nos pêlos da região pubiana. Em infestações maciças, podem ser encontrados em pêlos axilares, sobrancelhas e barba, e até mesmo em cabelos da cabeça. Em levantamentos recentes, 1% das crianças ingle- sas apresentou nas cabeças. Os piolhos são transmitidos principalmente por contato. A coabitação em locais apertados, os transportes coletivos abraços e brincadeiras infantis etc. facilitam a transmissão. Os "chatos" são transtimidos por contato sexual. Os estímulos para que os piolhos mudem de hospedeiro são: temperatura, umidade e odor. A transmissão de Pediculus capitis e Pthirus pubis por meio de ovos seria um evento pouco provável, en- quanto a transmissão indireta dos adultos e ninfas via fômites (pentes, escovas, gorros, bonés, toucas, fro- nhas etc.), bastante limitada, tendo-se em vista a curta sobrevivência do inseto fora da cabeça ou do sítio de parasitismo. Entretanto, ambos os meios são válidos, em se tratando de fl humanus (vestes). TRATAMENTO Para a pediculose do corpo, recomenda-se retirar a rou- pa parasitada e mergulhá-la por duas horas em água fria contendo formo1 ou Lysoform. Esta operação deve ser repe- tida a cada quatro dias e em toda a família. Havendo lesões Capitulo 50
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