Buscar

neves_-_parasitologia_humana_-_11ed-84

Prévia do material em texto

cutâneas, estas devem ser tratadas com pomadas próprias, 
à base de corticóide. Caso essas lesões estejam infecciona- 
das, pode-se usar pomadas a base de antibióticos e dar ba- 
nhos na pessoa com solução de permanganato de potássio 
em solução a 1 : 1.000. 
O aquecimento das roupas de corpo e de cama a 70°C, 
durante uma hora, mata todos os piolhos encontrados. Para 
P humanus, o inseticida de escolha é ainda o DDT a 10% 
polvilhado nas vestes, sendo eficaz naquelas populações de 
insetos ainda susceptíveis ao inseticida. O malathion e o lin- 
dane podem também ser utilizados como alternativos. 
Para P capitis, há sérias controvérsias sobre o uso de 
medicamentos no seu controle, porque as drogas utilizadas, 
sendo quase todas elas tóxicas, terão que ser direcionadas 
a uma área do corpo altamente vascularizadas que é a cabe- 
ça. Na clientela-alvo, constituída principalmente por públi- 
co infantil (que coça instintiva e frequentemente a cabeça e 
ainda leva os dedos a boca), poderá provocar ferimentos no 
couro cabeludo, facilitando ainda mais a absorção de inse- 
ticidas. Além do mais, para um determinado grupo de dro- 
gas, os piolhos já desenvolvem resistência apresentando, 
portanto, valor relativo e induzindo as pessoas a uma falsa 
sensação, tomando-as descuidadas com relação As práticas 
higiênicas pessoais. 
Para outra corrente de pesquisadores, não se pode cu- 
rar esta pediculose s&n piolhicidas, principalmente em se 
tratando de infestações maciças ou de sucessivas reinfes- 
tações em ambientes promíscuos. Neste caso, havendo le- 
sões na pele, a aplicação de piolhicidas só deverá ser feita 
após a remoção dos insetos e tratamento germicida. 
Entre os métodos de controle natural poderiam ser citados: 
1. Catação manual: com a destruição do inseto em segui- 
da (preferencialmente ao fogo ou em imersão em h c o s com 
álcool). Não é recomendável matá-los entre os dedos, pelos 
motivos anteriormente expostos com relação à transmissão de 
doenças. Esta atividade, quando realizada em mutirão, em es- 
colas ou comunidades, apresenta-se altamente eficiente. 
2. Penteação ou escovação frequentes: com o objeti- 
vo de se retirar principalmente adultos e ninfas. Este mé- 
todo torna-se mais eficaz quando utilizado um pente es- 
pecial, o pente-fino, que não apenas retira adultos e jo- 
vens, mas também mutila grande parte desses ectopara- 
sitos. Quando utilizado para retirada das lêndeas, deve 
ser movimentado no sentido da extremidade para a base 
dos cabelos. Age também injuriando as lêndeas, impedin- 
do-as de desenvolvimento. 
3. Ar quente: proveniente de secador de cabelo e apli- 
cado por alguns minutos, diariamente. Seu efeito é maior 
contra as lêndeas do que quanto aos adultos e jovens, já 
que aquelas são estacionárias nos cabelos. 
4. Raspagens de cabeça: embora atuando eficazmente e 
causando sentimento de vergonha e hostilidade aos 
parasitados, é um método ainda, empregado em certas co- 
munidade e de alto valor. 
5. Corte curto dos cabelos: só apresentando valor se 
cortado até 8mm a partir do couro cabeludo. 
6. Óleos, cremes, vaselina: quando usados nos cabelos, 
dificultam a sobrevivência do inseto, porque os fios de cabelo 
tomam-se escorregadios, agindo como obstáculo a aderência 
por parte das garras de adultos e ninfas ou dos cementos 
Fig. 50.4 - Pedículose do couro cabeludo provocada pelo Pediculus capitis, 
notando-se grande quantidade de lêndeas (ovos) (segundo Atlas Scherhg 
das Dermatoses Tropicais, n03 - Doenças Parasitárias). 
dos ovos. Quando o pente-fino for utilizado em cabelos pre- 
viamente massageados em óleos e azeites, a eficácia será au- 
mentada, porque tais substâncias imobilizam os insetos. 
7. Solução salina: a aplicação de água + sal nos cabe- 
los de indivíduos infestados, favorece a ocorrência de 
exosmose nas lêndeas e, conseqüentemente, sua morte. 
Nenhuma substância conhecida é capaz de dissolver o 
cemento que liga os ovos ao cabelo sem prejuízos aos ca- 
belos. Para alguns autores, a idéia de se utilizar ácido acé- 
tico ou vinagre para esta finalidade é, portanto, falsa. 
Ao se fazer uso de medicamento, para tratamento in- 
dividual ou em massa, deve-se ter em mente que quanto 
mais antigo o emprego de um piolhicida, maior a probabili- 
dade de se ter induzido alguma "resistência", em conseqüên- 
cia de seleção natural. Alguns deles, depositando-se nos 
tecidos dos hospedeiros, exercem efeitos cumulativos con- 
sideráveis. O fator tempo é, portanto, importante para a ava- 
liação dos riscos de um piolhicida. 
Independentemente do seu valor terapêutico há, atual- 
mente, as seguintes drogas disponíveis para tratamento: 
1. Benzoato de benzila (Acarsan, Escabiol, Miticoçan, 
Pruridol): desaconselhado em caso de infecções secundárias 
no couro cabeludo. 
2. Organoclorados (lindane, hexaclorocicloexano): é o 
isômero gama do BHC, cuja maior restrição é acumular-se 
nos tecidos adiposos e circular pelos diversos componen- 
tes das cadeias alimentares. Para alguns autores, pode cau- 
sar ainda irritabilidade, inquietação, nervosismo, insônia, 
convulsões. Grande parte dos piolhicidas encontrados no 
mercado brasileiro apresenta o lindane como princípio ativo. 
3. Compostos sulfurados: monossulfiram ou monos- 
sulfeto de tetraetiltiuram (Tetmosol). 
4. Produtos de ervas medicinas (Piolendes). 
5. Piretróides sintéticos: produtos mais recentes análogos 
ao piretro da flor do crisântemo e com pouca absorção pela 
pele: a) deltametrina (Deltacid); b) permetrina (Kwell); c) 
bioaletrina (Vapio). 
6. Produtos usados em tratamentos sistêmicos: a) 
sulfametoxazol-trimetropina, atuando apenas sobre ninfas e 
adultos; b) ivermectina, altamente efetiva contra os adultos 
e ninfas e parcialmente eficaz contra as lêndeas. 
Recentemente, ainda que realizada apenas em ensaios 
ex-vivo, alguma resistência a piretróides tem sido assinala- 
da em alguns países (Reino Unido, Israel, República Tche- 
ca e Argentina), sobretudo com relação a permetrina. 
Esses mesmos medicamentos associados a catação ma- 
nual, ar quente e raspagens podem ser utilizados também 
para o controle da l? pubis. 
Qualquer que seja a droga utilizada, a sua formulação 
liquida (loção) será sempre mais vantajosa do que a de 
xampu ou sabão. Ela deve ser utilizada na seguinte se- 
qüência: 
aplicar o produto nas áreas afetadas; 
cobrir com toalha durante 30 minutos; em se tratan- 
do de piretróides, massagear com a ponta dos de- 
dos, podendo deixar permanecer por um tempo mais 
longo; 
em seguida, lavar bem (sem arranhar a pele), com água 
e sabão. 
O tempo de 20 a 30 minutos é suficiente para matar o in- 
seto (knock down), mas não é suficiente para ser absorvi- 
do pela pele e intoxicar o hospedeiro. 
Esta operação deve ser repetida até três vezes, com in- 
tervalo de cinco a sete dias, pois os ovos não sofrem ação 
do inseticida; nas aplicações seguintes, as ninfas perecerão. 
É necessário bastante cuidado ao usar-se o inseticida, pois 
são tóxicos e algumas pessoas podem apresentar reações 
alérgicas. 
Há pouco tempo, um aparelho foi introduzido no merca- 
do destinado ao controle de piolhos da cabeça. O produto, 
denominado "Robi Combi", age de modo natural, através da 
combinação de dois métodos: 
a) por contato: permitindo a retirada e provocando injú- 
rias aos insetos adultos, já que se trata de um pente (con- 
trole mecânico); 
b) por choque elétrico: proporcionando a imobilização e 
morte do parasito, através de um baixo circuito de corrente 
(controle fisico). 
Capitulo 50 
 
Classe A r a c h n~ *a a 
José Oswaldo Costa 
José Ramiro Botelho 
Os aracnídeos são artrópodes com o corpo fundido em 
cefalotórax e abdome, com quatro pares de patas e sem an- 
tenas. Na parte anterior, chamada gnatosoma, localizam-se 
as peças bucais: quelíceras e os palpos ou pedipalpos. As 
quelíceras possuem "pinças" em suas extremidades, utiliza- 
das para cortar ou perfurar os tecidos. Nas aranhas, cada 
quelícera possui uma glândula peçonhenta e uma garrater- 
minal. Os palpos ou pedipalpos são órgãos que auxiliam na 
alimentação. Nos escorpiões, as quelíceras terminam em for- 
tes pinças, cuja função é segurar a presa. Em alguns ácaros, 
como nos carrapatos, existe ainda um órgão relacionado 
com os palpos e quelíceras - o hipóstomo, que auxilia na 
fixação do acarino aos tecidos do hospedeiro. A parte pos- 
terior chamada idiosoma, corresponde ao restante do corpo, 
onde estão inseridas as patas e podem ser vistos os orifici- 
os genital, anal, estigmas respiratórios, placas, sulcos etc. 
(Fig. 51.1). 
A classe Arachnida compreende as seguintes ordens de 
interesse médico e veterinário: Scorpiones - corpo alonga- 
do, com os segmentos anteriores mais longos do que os 
posteriores, cuja extremidade termina em um aguilhão curvo 
para inoculação de veneno. Escorpiões verdadeiros. 
Araneida: prossoma separado nitidamente do opis- 
tosoma por uma constrição; quelíceras com um dente e glân- 
dulas de secreção venenosa. São as aranhas. 
Acari: corpo fundido, achatado dorsoventralmente; pe- 
ças bucais situadas na falsa cabeça ou gnatosoma. Os es- 
tigmas ou aberturas traqueais são geralmente abdominais. 
Inclui os carrapatos ou ixodideos, os ácaros das sarnas, dos 
grãos e do pó domiciliar e ainda os "micuins" e "piolhinhos" 
de ninhos de aves. 
ARANHAS 
No Brasil, somente três gêneros de aranhas têm interes- 
se médico: 
De tamanho médio, com 3cm de comprimento; quando 
ameaçadas, colocam-se em posição de ataque. O seu casu- 
lo é branco e achatado e não faz teia. Vivem em arbustos, 
árvores, paredes rústicas, sob as cascas desprendidas dos 
troncos, em locas de pedras, refugiando-se da luz. Nos me- 
ses de maio a julho, época do acasalamento, machos e fê- 
meas penetram nos jardins, quintais, garagens e mesmo nas 
casas e se escondem durante o dia em sapatos, cortinas, 
atrás de móveis. A peçonha da armadeira é um complexo de 
diversas substâncias tóxicas, agindo no homem, principal- 
mente sobre o sistema nervoso periférico e secundariamente 
sobre o sistema nervoso central. A sua picada é extrema- 
mente dolorosa e persiste durante algumas horas, irradian- 
do-se por toda a região adjacente. Entre os sintomas obser- 
vados, destacam-se: hipotensão, prostração, tonturas, vô- 
mitos, dispnéia, sudorese abundante, principalmente na re- 
gião da nuca, aumento das secreções glandulares e es- 
pasmos. Crianças sempre correm grande perigo de vida, sen- 
Prosoma 
Opistosoma 
Fig. 51.1 - Divisões do corpo dos Acari. 
Idiosoma 
Capitulo 51 41 3 
do necessário tratamento nas primeiras horas. O tratamen- 
to é feito com soro antiaracnídico polivalente (5 a 10 ampo- 
las), em dose única, por via endovenosa. A armadeira ocu- 
pa o primeiro lugar em agressividade entre todas as aranhas 
do mundo e cerca de 90% dos acidentes ocorrem no interi- 
or das residências. 
Aranha pequena, lcm de comprimento, casulo semi-trans- 
parente, sedentária; suas teias são construídas em ambientes 
escuros, tais como: atrás de móveis, porões, quartos de des- 
pejo. Tem hábitos noturnos. Seu veneno é um dos mais ati- 
vos sobre o organismo humano. Uma única picada pode de- 
terminar a morte de uma criança ou mesmo de um adulto. A 
peçonha da Loxosceles é do tipo proteolítico e hemolítico, 
produzindo sintomatologia cutânea e renal. Dores intensas 
logo após o acidente são pouco frequentes, mas costumam 
tomar-se muito fortes, as vezes lancinantes, depois de algu- 
mas horas, ou no decorrer do primeiro dia. Febre, náuseas, 
vômitos e, as vezes, diarréia, são relatados. A aplicação do 
soro nas primeiras 14 a 24 b ra s após o acidente previne a he- 
moglobiniuia e as lesões renais. 
Aranha pequena, lcm de comprimento, um, a quatro 
casulos brancos e construindo teia irregular. E cosmo- 
polita, sedentária, anda pouco, arrastando o abdome. 
Vive em tocas, principalmente em campos de cultura. A 
peçonha da viúva-negra é uma neurotoxina de ação 
difusa sobre o sistema nervoso central, medula, nervos 
e músculos lisos. O latrodectismo caracteriza-se por dor 
aguda que se irradia por toda a área, angústia, ir- 
ritabilidade, tremores, contrações na área da picada, que 
depois se generaliza; rigidez abdominal e torácica, delírio, 
alucinações, sudorese, lacrimejamento, reflexos exagera- 
dos, taquicardia, uremia, albuminúria, paralisia visceral, 
priapismo etc. O tratamento é a base de medicações 
antiálgicas e estimulantes. Os sinais de recuperação apa- 
recem depois de alguns dias, em geral com grande fadi- 
ga, desânimo e prostração. Nos casos graves, emprega- 
se a soroterapia. 
No período de 1988 e 1989, foram notificados ao Minis- 
tério da Saúde 4.636 acidentes atribuídos a aranhas. Destes, 
60% foram causados por Phoneutria, 2 1 % por Loxosceles 
e 0,2 1 % por Latrodectus. 
Os escorpiões são alongados, com pedipalpos grandes, 
terminados em pinça e abdome delgado, com 12 segmentos, 
contendo um aguilhão de veneno terminal, aguçado. Vivem 
em regiões quentes e secas, escondendo-se sob pedras ou 
em buracos rasos durante o dia, saindo a noite a procura de 
alimentos (baratas - principalmente - insetos, aranhas e 
os próprios escorpiões). A presa é agarrada pelos pedi- 
palpos e rasgada lentamente pelas quelíceras; animais mai- 
ores são paralisados pela peçonha. Os pentes ventrais do 
abdome são órgãos tácteis. O acasalamento é precedido de 
uma dança de cortejamento. A fêmea é vivípara e os filhotes 
permanecem alguns dias sobre seu abdome. As duas es- 
pécies mais importantes são: 
Etyus serrulatus e Etyus bahiensis, e a última só excep- 
cionalmente pode levar a morte. 
O Etyus serrulatus caracteriza-se pela cor amarelada do 
corpo e presença de serrilha nos bordos dorsais dos seg- 
mentos anteriores ao ferrão. Sua peçonha é uma mistura de 
proteínas contendo vários componentes enzimáticos e es- 
timuladores da musculatura lisa e da permeabilidade capilar. 
Age sobre o sistema nervoso e as junções neuromuscula- 
Tabela 51.1 
Claase Aradtniifii 
Classe Ordens Subordens Família Gênero 
r ~ c o r ~ i o n e s [II Tityus 
Araneida 
Arachnida 
Acari 
Mesostigmata L Macronyssidae 
Dermanyssidae 
Trombidiformes L Demodecidae 
Trombiculidae 
- 1 Ixodides 
L Sarcoptidae 
Pyroglyphidae 
r Argasidae 
L Ixodidae 
Phoneutria 
Loxosceles 
Latrodectus 
Ornithonyssus 
Dermanyssus 
Demodex 
Trombicula 
Sarcoptes 
Dermatophagoides 
L Argas 
Ornithodorus 
Amblyomma 
Boophilus 
Rhipicephalus 
Capitulo 51

Continue navegando