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Necrose Avascular da cabeça do fêmur Profa. Dra. Thaisa Rino e Profa. Ms. Daniela Carrogi Definição É também conhecida como osteonecrose da cabeça femoral, sendo uma doença incapacitante que provoca diversas limitações nas atividades da vida diária e na própria deambulação. Pode acometer várias articulações do corpo, porém é muito mais frequente na articulação femoral. Definição Caracteriza-se pela morte do tecido ósseo, em decorrência da privação de suprimento sanguíneo, causando deformidade, também chamada de colapso, alterando a esferidade da cabeça femoral, resultando em uma movimentação inadequada no encaixe da articulação, danificando inclusive a articulação. Podendo ser de origem traumática, como: as fraturas, luxações e ampla desnudação do periósteo; Ou ainda não traumática em decorrência de longos períodos de corticoterapia, doenças metabólicas entre outras. Definição É também designada por necrose avascular, necrose isquêmica ou necrose asséptica. A necrose asséptica ocorre como uma complicação microscópica e precoce, que ocorre em consequência da isquemia tissular e a diferencia do colapso segmentar tardio, que se caracteriza pelo colapso do osso e da cartilagem adjacente ao osso necrosado e produz processos degenerativos da articulação acometida. Fonte: Revista Brasileira de Ortopedia, 1998. Figura: Anatomia vascular da cabeça do fêmur e representação do osso com necrose Definição As fraturas proximais do fêmur, os métodos de fixação dessas fraturas e as luxações acentuadas da articulação coxo-femoral podem interromper o aporte sanguíneo da região desencadeando um processo de necrose avascular de origem traumática. A principal fonte de irrigação sanguínea da cabeça do fêmur advém da artéria circunflexa femoral medial que na fossa troncantérica origina os vasos retinaculares que percorrem todo colo até atingir a borda cartilaginosa da cabeça femoral. Definição A artéria circunflexa femoral lateral irriga o trocânter maior e se ramifica juntamente com a circunflexa femoral medial. As fraturas transtrocantéricas são as fraturas mais comuns do terço proximal do fêmur, no entanto as fraturas do colo do fêmur são as que mais comumente produzem necrose isquêmica justamente pela anatomia vascular da região. Definição Anualmente ocorrem cerca de 10 a 20 mil novos casos de osteonecrose somente nos Estados Unidos, afetando a população em sua fase mais produtiva. A idade média é de 30 a 40 anos, sendo o sexo masculino mais acometido que o feminino, na proporção de 4:1, na grande maioria dos casos acomete os dois lados do quadril. Na fase inicial da doença pode-se constatar radiologicamente preservação do espaço articular, mas com a evolução do quadro patológico a cabeça femoral perde sua configuração esférica e o espaço articular vai reduzindo chegando a desenvolver processo de osteoartrose do quadril. Etiologia • Sequela de trauma: Fraturas ou luxações na articulação do quadril podem danificar os vasos sanguíneos e prejudicar a circulação óssea a ponto de causar uma necrose. • Consumo excessivo de álcool: Uma causa muito encontrada, sendo que bebidas destiladas apresentam mais relação. • Uso de corticoide: Muitas doenças, como asma e reumatismos, são tratadas com o uso de corticoides. A ocorrência de necrose nestes paciente está relacionada ao tempo de uso do medicamento e à quantidade ingerida. Por isso, o uso de medicamentos corticoides deve sempre acontecer sob supervisão médica. • Outras condições: Tabagismo, quimioterapia, radioterapia, alterações de coagulação como anemia falciforme e talassemias, leucemia, linfomas, doença do mergulhador, doenças reumáticas como o lúpus. Classificação A classificação da necrose avascular do quadril utiliza o sistema de Ficat. que correlaciona os sintomas apresentados com as alterações radiológicas. Com o advento tecnológico e o uso da ressonância magnética surgiram outros métodos de classificação que também são bastante utilizados, o mais útil deles é o Sistema da University of Pennsylvania que baseia-se nas alterações radiográficas apresentadas. Tratamento cirúrgico A artroplastia total do quadril é um método categórico no tratamento de osteonecrose da cabeça femoral, mas a idade dos pacientes influencia muito na escolha do procedimento cirúrgico. Como a faixa etária acometida pela osteonecrose do quadril varia entre 20 a 50 anos, a protetização total do quadril traz resultados desfavoráveis. Tratamento cirúrgico Entretanto, existem diversos estudos que relatam novas técnicas de tratamento a fim de adiar ao máximo a artroplastia, entre elas citamos a CD (“Core Descompression”) método caracterizado pela formação cirúrgica de túneis ósseos para descomprimir a medular e propiciar a neovascularização do local afetado. A osteotomia transtrocantérica de rotação de Sugioka visa mudar o centro de carga da cabeça femoral afastando da área necrótica. Um dos procedimentos mais utilizados é a descompressão da área necrosada com enxertia óssea (da tíbia ou fíbula). Avaliação Fisioterapêutica - Avaliação Clínica; * Exame físico: inspeção, palpação, goniometria, perimetria, teste de força muscular, testes específicos para articulação do quadril e avaliação postural; * Na anamnese, pode ser investigado: a história natural da doença (mecanismo de lesão, sintomatologia, evolução do quadro clínico, limitações, incluindo as atividades de vida diária) e também a história pregressa; Avaliação Fisioterapêutica - Pode ser utilizado; * Índice de severidade da osteoartrose do quadril (Lequesne et al. 1997,); * Método de graduação funcional do quadril (Merle D’Aubigné & Postel); Merle D’Aubigné & Postel, 1998. Fonte: Revista Brasileira de Ortopedia, 1998. Quadro: Método de graduação funcional do quadril Caso Clínico Paciente relatou ter sofrido um acidente automobilístico há dois anos onde fraturou o terço proximal do fêmur esquerdo (fratura transtrocantérica), que foi reduzida cirurgicamente através da aplicação de parafuso de fixação dinâmica (DHS) e placa de estabilização trocantérica. Caso Clínico Apresentou infecção no pós-operatório que foi controlada com antibioticoterapia. Faz uso de muletas desde a cirurgia e refere que após, aproximadamente, sete meses do acidente iniciaram os primeiros sintomas tais como dor, incapacidade de apoiar peso e dificuldade de movimentar o membro inferior esquerdo (MIE). Caso Clínico Desde então os sintomas se agravaram e o mesmo notou a presença de estalidos durante a movimentação ativa do quadril afetado. As limitações nas AVD’s progrediram impedindo-o de velejar e dificultando o seu trabalho como mecânico, no entanto ainda continua trabalhando. Caso Clínico Em janeiro de 2006 realizou exame radiológico cujo laudo registrou fratura do terço proximal do fêmur esquerdo reduzida com osteossíntese e consolidada, apresentando esclerose óssea da cabeça femoral esquerda sugestiva de osteonecrose e redução do espaço articular da coxo-femoral esquerda (fig. 1). Em abril de 2006 foi submetido à cirurgia para retirada da placa e do DHS (fig. 2) e no final do mesmo mês procurou atendimento fisioterapêutico. Figura: Radiografia da cabeça do fêmur: controle da osteossíntese (1/2006). Fonte: Revista Digital, 2009. Figura: Radiografia da cabeça do fêmur após a retirada da DHS e da placa em 4/2006). Fonte: Revista Digital, 2009. Caso Clínico A avaliação fisioterapêutica foi realizada no dia 26 de abril de 2006 na Clínica de Prevenção e Reabilitação Física da UDESC e as queixas referidas pelo paciente foram dor durante a movimentação ativa do quadril esquerdo, fraqueza muscular e dificuldade de caminhar descarregar peso no MIE. No momento o paciente não faz uso de medicamentos e aguarda artroplastia total do quadril. Caso Clínico À inspeção constatou-se postura antálgica e claudicação durante a marcha com muletas, redução da amplitude de movimento do MIE, crepitação e estalidos audíveis durante movimentação do quadril esquerdo,diferença de trofismo entre os membros inferiores confirmada na perimetria descrita abaixo cujo ponto de referência (0 cm) utilizado foi o platô tibial (tabela 1). Merle D’Aubigné & Postel, . Fonte: Revista Brasileira de Ortopedia, 1998. Tabela: Perimetria dos MMII Caso Clínico À palpação verificou-se uma leve hipotonia do MIE em comparação com o membro contralateral, cicatriz na região lateral da coxa esquerda com alguns pontos de aderência e cicatriz na região da lateral coxa direita. Foi também avaliada a discrepância de membros inferiores não sendo constatada significativa diferença. Na goniometria foram avaliadas as amplitudes de movimento ativa de ambas as articulações coxo-femorais (tabela 2). Merle D’Aubigné & Postel, . Fonte: Revista Brasileira de Ortopedia, 1998. Tabela: Goniometria da articulação coxo-femural Caso Clínico O paciente apresentava incapacidade de realizar a movimentação do quadril esquerdo associada à flexão do joelho por isso não foi realizada a goniometria desses movimentos. O exame da força muscular (FM) avaliou os principais grupamentos musculares do quadril e do joelho e está descrito na (tabela 3). Merle D’Aubigné & Postel, . Fonte: Revista Brasileira de Ortopedia, 1998. Tabela: Prova de função muscular dos MMII. Caso Clínico Os testes especiais realizados foram Tomas, que resultou positivo demonstrando o encurtamento dos músculos iliopsoas, principalmente do membro inferior direito, e Trendelenburg que teve resultado negativo para ambos membros inferiores. Caso Clínico À avaliação postural verificou-se que paciente apresenta alterações compensatórias a diminuição da mobilidade do quadril esquerdo, a dor, bem como forma de proteção. Dentre essas alterações encontramos: inclinação pélvica para direita, anteversão pélvica, rotação pélvica para direita, rotação interna dos joelhos e hiperextensão do joelho direito. Caso Clínico O resultado do Índice de Severidade da Osteoartrose do quadril de Lequesne et al, que avalia as principais dificuldades encontradas pelo paciente nas atividades da vida diária como caminhar, ficar muito tempo numa mesma posição, dormir, calçar sapatos entre outras, constatou extrema severidade, visto que na soma total o paciente alcançou 17 pontos. No método de graduação funcional do Quadril de Merle D’Aubigné & Postel 9, o paciente se enquadra no grau 4 da escala apresentando dificuldade para andar sem o auxílio das órteses e com limitação de mobilidade. Objetivo do tratamento O objetivo principal é: - manter a função do membro acometido; - diminuir a crepitação e os estalidos através da mobilização articular; - promover a conscientização corporal evitando as compensações posturais; - treinar a marcha com órteses; - preparar o paciente para uma possível intervenção cirúrgica. Tratamento As sessões de fisioterapia realizadas com o paciente deste estudo basearam-se na aplicação da cinesioterapia através de alongamentos ativos dos principais grupamentos musculares de membros inferiores com auxílio de faixas elásticas, Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (inibição autogênica), mobilizações ativas do quadril em todas as amplitudes usando a bola bigeminada, a bola suíça e exercícios na bicicleta estacionária. Tratamento Conservador • exercícios ativo-assistido, ativo e ativo-resistido em todos os planos, com ênfase na extensão, abdução e rotação interna, para manutenção do tônus muscular, mobilidade e prevenção de atrofia muscular; • exercícios ativos em todos os membros durante tratamento no tanque de Hubbard, com água aquecida, para diminuição do espasmo e exercícios que ajudam na diminuição do tônus muscular; Tratamento Conservador • facilitação neuromuscular proprioceptiva, utilizando padrões bilaterais e recíprocos; • crioterapia para redução de espasmos musculares antes de realizar os exercícios, quando necessário.
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