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Educação para a diversidade_ Gênero e sexualidade

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EDUCAÇÃO PARA A 
DIVERSIDADE: GÊNERO 
E SEXUALIDADE
Autoria: Flaviana Aparecida de Mello
 Michele de Oliveira Cruz
Indaial - 2022
UNIASSELVI-PÓS
1ª Edição
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Impresso por:
Reitor: Janes Fidelis Tomelin
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Tiago Lorenzo Stachon
Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: 
Tiago Lorenzo Stachon
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Jairo Martins
Marcio Kisner
Marcelo Bucci
Revisão Gramatical: Desenvolvimento de Conteúdos EdTech
Diagramação e Capa: 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech 
UNIASSELVI
M527e
 Mello, Flaviana Aparecida de
 Educação para a diversidade: gênero e sexualidade. / Flaviana Apa-
recida de Mello; Michele de Oliveira Cruz. – Indaial: UNIASSELVI, 2022.
 124 p.; il.
 ISBN Digital 978-65-5646-501-2
1. Educação. – Brasil. I. Cruz, Michele de Oliveira. II. Centro Univer-
sitário Leonardo da Vinci.
CDD 370
Sumário
APRESENTAÇÃO ............................................................................5
CAPÍTULO 1
EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS, CAMINHOS PARA UM 
DIÁLOGO ENTRE GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL ............... 7
CAPÍTULO 2
CORPOS, SEXUALIDADE, GÊNERO: A NECESSIDADE DE UM 
OLHAR EDUCATIVO SEM PRECONCEITOS ............................... 47
CAPÍTULO 3
EDUCAR PARA O RESPEITO À DIVERSIDADE E O PAPEL DOS 
DOCENTES .................................................................................... 87
APRESENTAÇÃO
A disciplina Educação para a diversidade: gênero e sexualidade apresenta-se 
enquanto uma temática fundamental para que possamos conhecer os conceitos 
balizares da educação e dos direitos humanos como fonte primordial para uma 
educação de respeito a diversidade de gênero e sexual. Além disso, conhecer 
sobre os significados socioculturais bem como as práticas de poder imputadas 
nas relações de gênero na sociedade e ainda conhecer sobre a construção e os 
conceitos da educação de modo plural que contribua para o respeito a diversidade 
e que imprima uma mudança no papel exercido pelos docentes no contexto 
educacional. 
Com a evolução dos estudos e pesquisas, presentemente temos a concepção 
de que a educação tem um papel muito mais do que simplesmente transmitir 
conteúdo para seus discentes, mas sim precisa contemplar a totalidade do 
conhecimento que envolve fatores biopsicossocial de cada ser humano. Podemos 
admitir que é no espaço educacional que muitas expressões da questão social 
se despontam, e assim se faz necessário ter o conhecimento e compreensão 
dos assuntos de ordem objetiva e subjetiva para poder atender as demandas dos 
discentes em sua totalidade, para além dos aspectos conteudistas. 
Nesse sentido, é fundamental que cada profissional que for atuar ou já atua 
no âmbito da educação, quer seja como docente e/ou qualquer outro cargo a 
exemplo: diretores, pedagogos, coordenação, assistentes sociais, psicólogos 
entre outros; necessitam compreender que a educação precisa partir de uma 
totalidade e estar atenta a todas as complexidades que tangenciam a vida em 
sociedade. 
Desse modo, ratificamos, portanto, a relevância de se apreciar toda 
a discussão que este livro se propõe, frente a realidade social de vida dos 
estudantes, seus familiares bem como do território em que elas vivenciam, no 
entanto, de modo crítico, reflexivo e criativo. Para isso, organizamos esta disciplina 
em três capítulos. 
No primeiro capítulo intitulado de: Educação e direitos humanos caminhos 
para um diálogo entre gênero e diversidade sexual, iniciamos com estudos sobre 
Direito a educação a partir da Constituição Federal de 1988 e sua relação com os 
direitos humanos e social em que você terá a oportunidade de aprender sobre a 
educação enquanto direito humano e social a partir da Constituição Federal de 
1988 e como se desdobra o tratamento da diversidade no campo educacional, bem 
como, aprenderá a conhecer os conceitos balizares da educação e dos direitos 
humanos como fonte primordial para uma educação de respeito a diversidade de 
gênero e sexual, ao fim do capítulo finalizaremos estudando, Educação, Gênero e 
diversidade sexual. 
No segundo capítulo, nominado de: Corpos, sexualidade, gênero: a 
necessidade de um olhar educativo sem preconceitos, iniciamos os estudos a 
respeito, dos significados socioculturais de gênero e as práticas de poder, em 
seguida, vamos estudar a respeito a atenção básica de saúde e a sua política 
nacional de atenção básica: princípios e diretrizes. Em seguida estudaremos a 
desigualdade entre os gêneros uma construção social e histórica e a importância 
do feminismo como uma possibilidade de compreensão e libertação da 
sexualidade e dos corpos. 
No terceiro e último capítulo, intitulado de: Educar para o respeito a 
diversidade e o papel dos docentes, abordamos sobre as relações de gênero e 
sexualidade no contexto escolar. E, em seguida vamos estudar sobre as relações 
de gênero, a postura e o trabalho dos docentes na convivência escolar. 
Nosso desígnio é que seu curso seja um procedimento de constituição 
cotidiana ativado, e com criticidade, no sentido de você se tornar sujeito da 
edificação do próprio conhecimento, de você instrumentalizar-se para a mudança 
da realidade social contribuindo com o seu fazer profissional e conhecimento a 
ser adquirido, para a sociedade e para a educação ser mais justa, plural, diversa, 
equitativa e inclusiva. 
Portanto, faça anotações e registre, produza esquemas paralelos, que te 
auxiliem a abarcar e conhecer mais a respeito da disciplina: Educação para a 
diversidade: Gênero e sexualidade. 
Desejamos bons estudos!
CAPÍTULO 1
EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS, 
CAMINHOS PARA UM DIÁLOGO 
ENTRE GÊNERO E DIVERSIDADE 
SEXUAL
A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 Instruir-se para o cotidiano de trabalho no âmbito da educação compreendendo 
a educação como um direito social e humano a partir da Carta Magna de 1988.
 Aprender sobre o conceito de gênero e a respeito da sexualidade enquanto 
componente inerente a vida. 
 Aprender sobre a importância de se trabalhar na perspectiva da educação 
com base nos direitos humanos a fi m de quebrar paradigmas em relação aos 
estudos de gênero e diversidade sexual. 
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 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE
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E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Este capítulo tem como objetivo conhecer os conceitos balizares da 
educação e dos direitos humanos como fonte primordial para uma educação de 
respeito a diversidade de gênero e sexual. Sendo assim, você aprenderá sobre 
a educação enquanto direito humano e social a partir da Constituição Federal de 
1988 e como se desdobra o tratamento da diversidade no campo educacional e 
ainda irá aprender sobre a educação relacionada ao gênero e diversidade sexual 
como um direito humano. 
Você terá o ensejo de aprimorar-se para a intervenção profi ssional 
cotidiana no âmbito da educação tanto pública quanto privada, atualizando seus 
conhecimentos com assuntos pertinentes a evolução da sociedade. 
Promover a instrução para o cotidiano de trabalho no âmbito da educação, 
conhecendo os conceitos balizares da educação e dos direitos humanos como 
fonte primordial para uma educação de respeito a diversidade de gênero e sexual. 
Irá aprender sobre o conceito de gênero e a respeito da sexualidade enquanto 
componente inerente a vida, bem como sobre a importância de se trabalhar 
na perspectiva da educação com base nos direitos humanos a fi m de quebrar 
paradigmas em relação aos estudos de gênero e diversidade sexual. 
Junto a isso, buscamos contribuir para queno decorrer dos estudos, você 
possa analisar e, ainda, criar o seu próprio mapa conceitual sobre as informações 
que norteiam a prática na educação para a diversidade com foco no gênero e 
sexualidade, fazendo o exercício da relação teoria e prática. 
Portanto, sugere-se que você verifi que os assuntos aqui abordados e alinhe 
com a sua realidade profi ssional e/ou o que almeja desenvolver em sua prática 
quando estiver inserido em algum espaço sócio-ocupacional. Assim, compomos 
um conjunto de possibilidades de abordagem do tema proposto nesse capítulo, 
em que corrobora com os estudos a respeito da educação para a diversidade: 
Gênero e sexualidade. 
Fique atento e vamos juntos na busca pelo conhecimento e aprimoramento 
profi ssional. 
Bons estudos!
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 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE
2 DIREITO A EDUCAÇÃO A PARTIR 
DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 
1988 E SUA RELAÇÃO COM OS 
DIREITOS HUMANOS E SOCIAL 
Para Santos e Thürler (2011), nesse cenário de imposições organizadas 
pela modernidade, é improvável atuar nas identidades sexuais e de gênero 
sem defi nirmos elos às leis elementares de base constitucionais, fundamentos 
primordiais e inseparáveis pertencentes a um verdadeiro Estado Democrático 
de Direito. A educação tem um papel na contemporaneidade que deve ser de 
extrapolar os conteúdos curriculares e desenvolver ações de orientação formação 
de cidadania, para que assim, possam se comprometer com a formação crítica, 
plural e que se desenvolva o respeito a diversidade. Compreendemos que tais 
preceitos representam a defesa da soberania, a cidadania, à dignidade da pessoa 
humana, e as convicções e valores sociais do trabalho e da livre ação e no 
pluralismo político e religioso. 
Representam os princípios fundamentais da República, elencamos os de 
edifi car uma sociedade livre, justa e solidária que promova o desenvolvimento 
nacional, que se comprometa em erradicar a pobreza e a marginalização, diminuir 
as desigualdades sociais regionais e locais, requerer o bem da coletividade, 
sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e demais contornos de 
discriminação, direitos bem como obrigações estão listados na Constitucional 
Federal desde 1988, com os princípios de garantia da Declaração Universal dos 
Direitos Humanos e outras convenções que determinam direitos universalizados, 
podendo, assim, evidenciar o que destaca o texto-base da Conferência Nacional 
de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais. 
Nesse mesmo sentido, ao situar tais debates no âmbito dos direitos humanos, 
a BRASIL-SECAD/MEC (2007) pensa que a legitimidade da pluralidade de 
gênero, de identidade de gênero e da livre expressão afetiva e sexual extrapola os 
importantes aspectos referentes ao direito à saúde reprodutiva. 
Considera-se que compõem os direitos humanos e os direitos extensivos 
à saúde reprodutiva, quanto os direitos sexuais, sem que eles necessitem ser 
classifi cados um subconjunto daqueles, pois os extrapolam.
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E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 
Nesse sentido, pode-se entender que sistemas de teorias e políticas focadas, 
inicialmente, conforme destaca Louro (2004a e 2004b), para a multiplicidade e a 
sexualidade, dos gêneros e dos corpos possam ajudar para modifi car e tornar a 
educação num método mais prazeroso, mais efi caz e mais claro. 
A Constituição Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988, conhecida 
como Constituição Cidadã, se contorna enquanto uma referência histórica, ético, 
político e jurídico nos importantes avanços defi nidos, em que, moldam-se as 
condições basilares para afunilar os debates e na ampliação das mobilizações 
sociais, promovendo a adesão de medidas institucionais direcionadas em 
assegurar a edifi cação e manutenção de uma cultura em defesa dos direitos 
humanos e do respeito às diversidades, proclamando a heterogeneidade e a 
pluralidade como valores nacionais. 
Na nossa Carta Magna, em seu artigo 5º (1988): “Todos são iguais perante 
a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos 
estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à 
igualdade, à segurança e à propriedade”. Nesse compasso, consideramos que a 
orientação sexual e a identidade de gênero necessitam ser interpretadas como 
condicionantes e determinantes da vida das pessoas provenientes outros fatores 
como o de vulnerabilidade (BRASIL, 2008). 
Nessa perspectiva, a garantia desses direitos essenciais não alcançam 
, na prática social, muitas partes da população, em que há ainda pessoas em 
condições diversifi cadas de vulnerabilidade aos processos de exclusão social em 
face de determinantes como: a condição fi nanceira, regional, de idade, gênero, 
etnia, cor e ainda pessoas em situação de rua, em situação de encarceramento, 
privadas da sua liberdade pessoa com defi ciência físico-mental, idosos, crianças 
e adolescentes, homossexuais, travestis, transexuais, lésbicas, bissexuais etc. 
Diante disso, Bento (2004) contribui com esse discurso ao mencionar 
que as maneiras de ser, atuar, refl etir e sentir conjeturam de modo perspicaz, 
intricado e intenso os contextos da experiência social. Seguindo nesse raciocínio, 
não existem corpos livres de investimento e expectativas sociais. Diante de 
tal afi rmativa se entende que, é necessário, continuamente, o acolhimento e a 
vigilância de institutos, remédios constitucionais, com o objetivo de diminuírem 
tais distorções ainda cristalizadas em nosso convívio social.
Discutir essas temáticas sem uma discussão quanto ao papel e a função 
social da educação escolar e acadêmica na sociedade contemporânea vai fi cando 
mais difícil, como defi ne Torres (2007), uma das funções sociais do colégio é 
organizar o cidadão para o exercício pleno da cidadania vivendo como profi ssional 
e habitante da cidade. 
12
 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE
Diante disso, o Texto-Base da Conferência Nacional LGBT exprime que um 
Estado Democrático de Direito não deve aceitar práticas sociais e institucionais 
que condenam, rotulam e marginalizam os indivíduos e grupos por questões que 
envolvem o sexo, orientação sexual e/ou identidade de gênero (CARVALHO, s.d.)
A prática sexual entre adultos do mesmo sexo é um direito de teor íntimo, 
isso diz respeito também a apresentação social do sentimento de pertencimento a 
um determinado gênero, não importa o sexo biológico (BRASIL, 2008). Assim, na 
inexistência da garantia de direitos humanos como esses, podemos nos perguntar 
ainda quanto ao papel e a função social da educação escolar na sociedade 
contemporânea (CARVALHO, s.d.).
Conforme a compreensão que neste ambiente se defi niu ou deveria se 
defi nir em um rico espaço democrático, no qual acorresse discussão referentes 
as questões concernentes ao ser humano: Homem ou Mulher, que serviria muito 
para a progressão do pensamento crítico, de formação da cidadania plena, de 
cidadãos politizados e atores ativos e engajados com as mudanças e melhoria 
social. 
Nesse sentido, considerando Santos e Thürler (2011), podemos assegurar 
que o ambiente educacional escolar e acadêmico seria um espaço privilegiado 
de ascensão dos direitos basilares essenciais aos humanos e da diversidade. 
Essas declarações são reafi rmadas pelas colocações nos cadernos da SECAD/
MEC (BRASIL, 2007, p.22) se lê “os princípios constitucionais de liberdade e 
solidariedade podem ser estendidos para a igualdade de gênero”. 
A vontade de ultrapassar as discriminações que dizem respeito às 
construções histórico-culturais das diferenças de sexo, que permeiam as relações 
escolares, e assim também é nas questões que atravessam algumas decisões 
a serem defi nidas no âmbito da legislação educacional se mantém velada e o 
não esclarecimento mais detido e derivações destes princípios sob a ótica das 
relações de gênero pode ocasionar também mais discriminação (CARVALHO, 
s.d.). 
O desempenho do exercícioda plena cidadania é sinônimo da tradução de 
povo no seu sentido democrático, a totalidade homens e mulheres de cidadãos, 
e partindo desse princípio os seus direitos vem progressivamente sendo 
reivindicados por todos os indivíduos independente de classes sociais, direitos 
que foram defi nidos e impressos e elencados na Carta Maior de 1988. 
Diante disso, Soares (1998) afi rma que tanto quando nos referimos aos 
direitos dos cidadãos, como quando nos aludimos aos direitos humanos, com 
a premissa de que associamos direitos humanos à ideia central de democracia 
13
E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 
e os conceitos fundamentais envolvidas no assunto mais amplo da educação 
(CARVALHO, s.d.). 
É relevante evidenciar que nas sociedades democráticas no mundo 
contemporâneo e desenvolvido, o sentido, o estímulo, a prática, a defesa da 
promoção dos direitos humanos estão agrupadas à vida política no amplo deleite 
do exercício da cidadania, em que já se deparam agregados aos valores de um 
povo, de uma nação, de uma região. 
No entanto, é especialmente nos países que mais infringem os direitos 
humanos, nas sociedades em que a discriminação é mais acentuada, pelo 
preconceito e pelas mais diversas maneiras de racismo e intolerância, que a 
noção de direitos humanos parece ambígua e destorcida (CARVALHO, s.d.). 
Para Soares (1998), em nosso país a geração mais jovem, que passaram 
pelos anos de terror da ditadura militar normalmente terão escutado sobre 
movimento de defesa dos direitos humanos em favor das pessoas que estavam 
sendo perseguidos por suas posturas e convicções de militância política contrária 
ao regime constituído e imposto; assim como, os sujeitos que foram encarceradas, 
torturadas, assassinadas, refugiadas, banidas, violentadas.
Após a parte mais cruel e repressora do regime militar, a concepção de que 
todos, não importando a posição social, são dignos das preocupações com as 
garantias e com a manutenção dos direitos fundamentais, não se efetivou como 
se esperava (CARVALHO, s.d.). Assim, a defesa e garantia dos Direitos Humanos 
(DH) passou a ser alcançada somente à defesa dos criminosos e apenados 
originários, em sua grande parte, a classes sociais populares. Diante disso, e 
deixou de possuir o interesse igualitário para segmentos da classe média que 
envolvia familiares e amigos daqueles presos políticos do período da ditadura. 
A partir daí, analisamos como já se defi ne uma parte da ambiguidade 
que permeia a ideia dos direitos humanos no Brasil, especialmente depois da 
defesa dos direitos das pessoas acuados pelo ditatura militar, se constituiria 
uma diferenciação intensa e cruel entre as classes sociais, entre intelectuais e 
iletrados, entre a classe média e a classe alta apartadas estavam as classes 
populares, abrangendo-se, notadamente, ampla parte da população negra. 
Cidadania e direitos à cidadania envolvem uma determinada ordem jurídico-
política de um país, de um Estado, que diz respeito a uma Constituição que defi ne 
e afi ança quem é cidadão, quais serão seus direitos e deveres, ele terá em torno 
de diversas variáveis, por exemplo, a idade, o estado civil, a condição de sanidade 
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 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE
corporal e mental, a questão de estar ou não quitado com a justiça penal, dentre 
outras. Seguindo em conformidade com o Artigo 5°, II – “ninguém será obrigado a 
fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. 
De acordo com Soares (1998), os direitos do cidadão e a adequada imagem 
de cidadania não são universais no sentido de que eles estão determinados e 
ligados a um particular e defi nida ordem política e normativa. Assim, esses, 
identifi camos cidadãos brasileiros, cidadãos norte-americanos e cidadãos 
argentinos, na compreensão que mudam os direitos e deveres dos cidadãos de 
um país para outro. 
A ideia da cidadania é predominantemente política, por não estar inteiramente 
vinculada a valores universais, mas a decisões políticas. SOARES (1998), mostra 
exemplos como: algum governante pode modifi car fortemente as prioridades 
quanto ao respeito dos deveres e aos direitos do cidadão; e mudar o código penal 
na questão de alterar sanções; pode alterar o código civil objetivando equiparar 
direitos entre os sexos, ele pode fazer com o código de família no sentido do 
respeito aos direitos e deveres dos cônjuges, na sociedade conjugal, e estender 
isso com os fi lhos, em relação um ao outro. 
Segundo Soares (1998), direitos de cidadania não são direitos universais, 
são direitos específi cos dos membros de um determinado país ou nação, de uma 
determinada ordem jurídico-política.
Em muitas situações, os direitos do cidadão se ajustam com os direitos 
humanos, que são os mais amplos e envolvem quase a totalidade do ser 
indivíduo. Em sociedades democráticas é, normalmente, o que acontece e, de 
forma alguma, direitos ou deveres do cidadão podem ser utilizados para justifi car 
violação de direitos humanos fundamentais porque os Direitos Humanos são 
universais e naturais (CARVALHO, s.d.). 
Os direitos do cidadão não são direitos naturais, eles são formulados e 
defi nidos em normas, leis, em conformidade com preceitos constitucionais e 
devem, portanto, estar defi nidos num determinado ordenamento e distribuição 
jurídica no país ou nação. 
Os direitos humanos são universais no sentido do que aquilo que é 
compreendido como um direito humano no Brasil, também se espera que possua o 
mesmo teor de exigência, de respeitabilidade em termos de garantia em qualquer 
nação do mundo, porque esses direitos não se restringem a um membro de uma 
sociedade política especifi ca, a um representante de um Estado determinado, mas 
se reportam à pessoa humana na sua complexidade, universalidade, plenitude e 
integridade. 
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E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 
Desse modo, são denominados de direitos naturais, exatamente porque 
englobam e dizem respeito à dignidade da natureza humana. São naturais, 
ainda pelo fato de antecederem a qualquer lei, e por essa razão não devem 
estar determinados numa lei, para serem exigidos, reconhecidos, protegidos e 
promovidos (CARVALHO, s.d.).
A Constituição Federal de 1988 implementou um Estado democrático e de 
direito a partir das concepções da igualdade e liberdade. Um Estado constitucional 
democrático e de direito, traduz em seu âmago valores focados na soberania, 
cidadania, a dignidade da pessoa humana, os princípios sociais do trabalho e da 
livre iniciativa (TAVEIRA, et al. 2015). 
O artigo 1º de Taveira et al. (2015) considera que é a maior grande referência 
desse signifi cado. No artigo 3° estão defi nidos os objetivos fundamentais da 
República Federativa do Brasil: a edifi cação de uma sociedade livre, justa e 
solidária, a defesa e a garantia do desenvolvimento nacional, extinção da pobreza 
e a marginalização, diminuição das desigualdades nacionais e locais e, elevação 
no nível de vida e do bem de todos, sem preconceitos de qualquer natureza; 
origem, raça, sexo, cor, idade e outras formas de discriminação. 
Os autores mencionados anteriormente dizem que, como forma de garantia 
constitucional, determinou-se a educação como direito social de todos, como uma 
ferramenta essencial na concretização da cidadania, objetivando uma sociedade 
mais justa e humanizada. Entretanto, a educação como direito de todos poderá se 
tornar realidade através de um importante pacto entre Estado e sociedade. 
Na Constituição Federal de 1988, a educação teve uma atenção especial, 
não somente se defi niu o direito à educação, de modo claro, determinou-se o seu 
papel nas áreas do ensino público. O direito à educação, podemos aqui mencionar 
em quais títulos e sessões se destacam:
• Título II, Dos Direitos e Garantias Fundamentais, Capítulo II – Dos 
Direitos Sociais, artigo 6º;
• Título VIII, Capítulo III, denominada Da Educação, Da Cultura e do 
Desporto,Seção I - Da Educação, artigos 205 a 214;
• Capítulo VII, em seu artigo 227.
O direito à educação nos moldes da garantia basilar e social é uma previsão 
clara, instituída no art. 6º: São reconhecidos como direitos sociais, a educação, a 
saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência 
social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desassistidos, em 
16
 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE
concordância com a Constituição Federal. Os artigos 205 a 208 apresentam essa 
temática protetiva, indicando as devidas defi nições desse direito basilar e social à 
educação (TAVEIRA et al., 2015).
Os artigos 205 a 208 são compreendidos como o centro da proteção do 
direito à educação, é responsabiliza um ator especial para sua concretização; o 
Estado, tanto pela sua garantia, como também pela sua efetividade (TAVEIRA et 
al., 2015).
 Assim, o referido artigo 205 da Constituição Federal (1988) preceitua que: 
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, 
será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, 
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para 
o exercício da cidadania e sua qualifi cação para o trabalho. 
FIGURA 1 – EDUCAÇÃO ENQUANTO DIREITO E AO MESMO 
TEMPO DEVE SER UM DEVER DO ESTADO
FONTE: A autora
À medida que os artigos 209 a 211 são conhecidos como regras 
organizacionais, que oportunizam e defi nem atitudes e estruturas, seja para as 
instituições privadas e as governamentais. O art. 212 prevê que a participação 
das instâncias Federal, Estadual e Municipal, no que concerne à aplicação de 
receita no sistema de educação (TAVEIRA et al., 2015).
17
E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 
De acordo com os autores CULAU et al. (2015) a educação é 
a porta para qualquer transformação social que se almeje alcançar 
dentro de um método democrático. Enquanto a educação em Direitos 
Humanos, por sua vez, é o que permite mover e conscientizar os 
indivíduos para a seriedade do respeito ao próximo. Educar em 
Direitos Humanos não é uma singela ocupação, é um aprendizado 
que faz parte de uma ação educacional. 
Para aquecer o debate, consulte o artigo a seguir: Modelos 
assistenciais: reformulando o pensamento e incorporando a proteção 
e a promoção da saúde. 
Disponível em: <https://educere.bruc.com.br/arquivo/
pdf2015/18221_7983.pdf>. Acesso em: 13 mar 2022.
Converse com sua equipe de trabalho e seus colegas de turma 
sobre a relevância da compreensão a respeito dos direitos humanos 
para a prática profi ssional dos diversos profi ssionais que atuam na 
área da educação.
Conforme observado no artigo 212 da Carta Maior, de 1988, a União 
concentrará, todos os anos, nunca menos de dezoito, aos entes federados, 
Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, 
da receita decorrente de impostos, resultado advindo de transferências, na 
manutenção e desenvolvimento do ensino. 
Já no artigo 213, defi ne fi nalidades e faz escolhas priorizando a distribuição 
dos recursos no âmbito da educação. Assim, determina: os recursos públicos 
serão encaminhados às escolas públicas, e pode ser direcionado a escolas 
comunitárias, confessionais ou fi lantrópicas, em conformidade com a em lei 
(TAVEIRA et al., 2015).
Temos também o artigo 214. Este normatiza que a formação do plano 
nacional de educação e os propósitos sociais da educação, o que conserva 
relação imediata com o direito fundamental à educação, que incluem: 
18
 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE
• eliminação do analfabetismo, ampliação para atingir 
a universalização do atendimento escolar, avanços 
continuados na qualidade do ensino, promoção de formação 
para o trabalho e organização para o âmbito humanístico 
bem como a tecnológica do estado brasileiro (TAVEIRA et 
al., 2015).
Todos estes princípios segundo os autores anteriormente citados, dizem 
respeito a fi ança e a concretização do direito basal à educação. Em relação, ao do 
direito à educação, foi publicada a Lei n. 8.069, de 13/7/1990 que ordena quanto 
ao Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências (TAVEIRA et 
al., 2015).
No referido Artigo 3º, constitui-se que a criança e o adolescente gozam de 
todos os direitos fundamentais relativos à pessoa humana, sem desvantagem da 
proteção integral de que versa esta Lei, garantindo-lhes, pela lei ou por outros 
recursos, todas as viabilidades e facilidades, no sentido de lhes possibilitar o 
desenvolvimento físico, mental, moral espiritual e social, e através de condições 
de liberdade e de dignidade (TAVEIRA et al., 2015).
Assim, Taveira et al. (2015) verifi cam que a educação foi estimada como 
condição fundamental e estruturante da Carta de 1988, nessa mesma linha 
também o Estatuto da Criança e do Adolescente. Ainda, de lado com o direito à 
educação, com o propósito de expandir o rol de direitos para todas às crianças e 
ao adolescente, o artigo 54 do Estatuto reprisou com algumas baixas alterações 
redacionais, os termos do artigo 208 da Carta Magna.
Nesse sentido, os mesmos autores supracitados aludem que o direito à 
educação se consolidou como uma garantia expressa não apenas na atual 
Constituição, mas ainda em leis infraconstitucionais. Está declarado, de modo 
igual, a garantia do direito à educação na Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
Nacional de 1996, foi infl uenciada nos fundamentos da liberdade, da solidariedade, 
no desenvolvimento de capacidade e habilidades para o trabalho e sem perder de 
vista a formação para a cidadania.
Em se tratando de direito de todos à educação, a lei estabelece o dever e as 
obrigações do Estado para a sua efetivação: o Estado na lei é compromissado em 
assegurar o ensino fundamental obrigatório e gratuito a todos, incluindo também 
os indivíduos que não tiveram acesso disponível na idade própria; é extensivo e 
progressivamente a obrigatoriedade e a gratuidade ao ensino médio, e promover 
atendimento educacional particularizado (TAVEIRA et al., 2015).
19
E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 
Caro estudante, para contribuir ainda mais com o seu 
conhecimento, deixamos como sugestão de leitura os seguintes 
livros:
O referido livro promove uma refl exão a respeito dos conceitos 
e tendências presente no discurso contemporâneo do campo da 
educação baseada na perspectiva dos direitos humanos. 
FONTE: CASTILHO, R. Educação e Direitos Humanos. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
O referido livro aborda uma discussão a partir de pesquisadores 
dos seguintes países: Brasil, Cuba, México, Portugal e Venezuela, 
com a fi nalidade de entrelaçar diálogos e teorias que ambicionam o 
convívio democrático e humanizado, a partir dos direitos socialmente 
conquistados.
FONTE: OLIVEIRA, M. et al. Educação e Direitos Humanos: campos 
de disputas e aproximações. Curitiba: Editora CRV, 2020.
20
 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE
Aos discentes com algum tipo de defi ciência e/ou transtornos, os referidos 
princípios, se apresentam nos artigos. 2º e 3º da LDB de 1996, na verdade 
retomam, ipsis litteris, os artigos 205 e 206 da Constituição de 1988 (SEVERINO, 
2008). O direito à educação, vislumbrando o futuro, possui um percurso importante 
a ser feito, porque não é sufi ciente garantir esse direito, mas é primordial 
sobretudo, concretizá-lo, com permanência do estudante no espaço escolar, 
qualidade na educação e que essa constitua universal. Reforçando que através 
da educação que se conquista a cidadania (TAVEIRA et al., 2015).
 Para a realização de uma escola de qualidade é necessário pensá-la e situá-
la no sentido de educação como direito social, com perspectiva de um cotidiano 
escolar que promova o respeito quanto as particularidades dos indivíduos, 
grupos etc., que edifi que um conjunto de dados que respeite a diversidade que 
promovam comunicação entre as diferençasraciais, culturais, étnicas, de gêneros 
e outros. Nessa perspectiva, é fundamental lutar contra ao etnocentrismo e buscar 
conservar valores fundamentais da sociedade (TAVEIRA et al., 2015).
Na apreensão da escola como importante espaço sociocultural, de acordo 
com os autores Taveira et al. (2015), determinados conceitos-chave tratados 
por Bourdieu, como habitus e campo, são fundamentais na construção do 
entendimento de como os sujeitos, que fazem parte do espaço escolar, se 
movimentam e se interrelacionam e sofrem interposição do meio, mesmo que 
isso não esteja explicito para ele, vivenciando experiências que muitas vezes são 
provenientes de circunstâncias preconceituosas e discriminatórias.
O habitus diz respeito a uma importante matriz promotora de comportamentos, 
visões de mundo e sistemas de categorização e de compreensão da realidade, 
essa se exprime e se incorpora aos indivíduos, ou mesmo que se apresente no 
grau da postura corporal (hexis) destes mesmos indivíduos (TAVEIRA et al., 2015).
Assim, ainda conforme os mesmos autores citados, eles acrescentam ainda 
que o habitus é apreendido e gerado na sociedade e incorporado pelas pessoas, 
e atua como organizador de hábitos/costumes signifi cando às ações das pessoas 
no meio social. Já o conceito de campo é acrescido a o de habitus. 
Bourdieu (1999) compreende que o campo se traduz no espaço em que se 
relacionam os indivíduos e, grupos e estruturas sociais, em um espaço que se 
movimenta na dinâmica do cotidiano e dos acontecimentos, e, portanto, segue 
leis próprias, conduzido através das disputas ocorridas em seu interior, e que 
possui como mola impulsionadora a ambição em ser bem-sucedido no meio social 
e nas relações defi nidas entre os seus membros, constitua-se no coefi ciente dos 
agentes, constitua-se no coefi ciente das estruturas. 
21
E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 
Em suma, o campo é o espaço privilegiado em que as coisas se desenvolvem 
em sociedade, isso vai resultar em diferente tipo de luta pelo poder, que é 
guiado por normas diferentes, em que a tensão é uma constante. Conscientes 
da fundamental seriedade da escola como campo cultural, é legitimo refl etir na 
formação de habitus que possibilitam o desenvolvimento recíproco, em um 
espaço que para sedimentar a constituição e sustentação de condutas para o 
pleno desenvolvimento cidadão (TAVEIRA et al., 2015).
 Para a efetivação disto é necessário tratar no ambiente escolar de aspectos 
que proporcionem uma educação crítica, que leve o aluno não apenas a reproduzir 
pensamentos, mas a questioná-los, e ao mesmo tempo, valorizar o indivíduo 
em sua complexidade cultural e à diferença. Tal prática educativa propicia o 
enfrentamento à discriminação e ao preconceito correntes na sociedade e, 
portanto, também na escola. Quando os preconceitos não são questionados a 
escola acaba se pondo a serviço da representação de padrões de comportamento 
que reforçam os procedimentos discriminadores (TAVEIRA et al., 2015).
Os mesmos autores citados anteriormente, acrescentam que a Declaração 
Universal sobre a diversidade cultural, em seu artigo 1º, atesta: a cultura contrai 
confi gurações distintas por meio do tempo e do espaço. Essa diversidade se 
desponta na personalidade e na pluralidade de identidades que caracterizam os 
grupos e as sociedades que compõem a humanidade. 
A diversidade cultural é a origem e o caminho de trocas, inovações 
e criatividades várias. É indispensável aos seres humanos, assim como a 
diversidade biológica é indispensável a natureza, constituindo um patrimônio 
comum da humanidade e, portanto, devendo ser respeitada e preservada em prol 
das gerações atuais e futuras (UNESCO, 2002). 
Diversos estudos ressaltam o fato de que o ambiente escolar se constitui 
como território de construção de identidades, conformações de relações sociais 
ou distinções, de administração de ideologias ou estereótipos. 
Por esse motivo, a escola se mostra também como local estratégico de 
articulação, um espaço para projetos que visam a transformação ao redor de 
uma educação que preserve a diversidade. Conforme a autora Gomes (2003), 
tal espaço deve ser percebido como local extraordinário para a suplantação de 
práticas racistas e demais preconceitos. 
É fundamental a percepção do ambiente escolar como um local de união, de 
confl uência de culturas, que proporcione um outro olhar, outra conduta, a fi m de 
reconhecer diferentes culturas que formam o universo que chamamos de escola. 
22
 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE
É preciso também reinventar a escola, para que ela seja afi nal, um ambiente 
de socialização. Ambiente no qual alunos e professores, ao invés de negarem ou 
ocultarem os próprios problemas, possam discuti-los e a fi m de que, mesmo com 
os obstáculos existentes, possam ser desenvolvidas ações que valorizem o ser 
humano (MOREIRA; CANDAU, 2005). 
Para atingir este propósito, um ambiente no qual o horizonte utópico possa 
ser empregado como fomento para uma nova educação, na qual todos sejam 
tratados de modo igualitário em suas diferenças, a escola precisa superar-se.
Segundo Candau (2008), sem horizonte imaginado, aversão, entusiasmo e 
a aspiração de uma sociedade justa e solidária, inclusiva, em que se pronunciem 
políticas de igualdade e de identidade, para a coletividade não há educação. 
A elaboração de novas posturas em relação a educação implica 
necessariamente na constituição de uma visão sensível ao diferente. É preciso 
renunciar ao feitio, monocultura e arraigado, que por vezes a educação ostenta. 
Para isso, são fundamentais os questionamentos que se fazem ante à realidade, 
sua desconstrução e a problematização da mesma (TAVEIRA et al., 2015).
É importante destacarmos nessa discussão, o Plano Nacional de Educação 
em Direitos Humanos (2006), fi rmado pelo Ministério da Educação e pela 
Secretaria Especial de Direitos Humanos, possui o entendimento de que a 
educação em direitos humanos ocorre simultaneamente à educação para a 
reconhecimento das diferenças.
Todavia, diante de inúmeras incongruências e deturpações assimiladas 
culturalmente no percurso histórico, faz-se necessário à admissão dos preceitos 
de base dos direitos humanos na educação escolar, compreendendo induzir ao 
conhecimento dos estudantes os direitos e deveres o cidadão no amplo exercício 
da cidadania pode usufruir no estado brasileiro (CARVALHO, s.d.). 
 É concentrado e claro, conforme Carvalho (s.d.), que a distância e o que 
está escrito nas leis e estabelecido pelo ordenamento jurídico e a prática social 
concreta. Um exemplo disso destacamos alguns exemplos na atualidade que 
foram noticiados nos meios midiáticos; não se aprova mais a escravidão, 
entretanto existe informação da existência do trabalho análogo ao regime de 
escravização em carvoarias, fazendas, centros urbanos entre outros.
 Nessa mesma direção, temos a não aceitação da questão do trabalho 
infantil e violência de muitos tipos contra crianças e adolescentes, contudo somos 
noticiados e tomamos conhecimento de crianças e adolescentes vivendo na rua 
e sendo exploradas no trabalho. Exemplos dessa natureza trazem aversão do 
23
E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 
acordo universal, em decorrência da exigência de determinados organismos 
internacionais no sentido de se impor requisitos e cláusulas sociais nos contratos 
comerciais, no sentido salvaguardar e resguardar a infância, contra a discriminação 
racial e contra o trabalho infantil. Dialogando com Soares (1998), defende-se que 
os direitos que são naturais e universais diferem de direitos que integram de uma 
agregação de direitos e deveres ligados às concepções de cidadão e cidadania. 
Os Direitos Humanos é que são universais; e universais são aqueles 
direitos comuns e inerentes a coletividade dos seres humanos sem distinção 
alguma de etnia (algum tempo atrás se falava raça, atualmenteo conceito de 
raça está ultrapassado), de nacionalidade, de cidadania política, de sexo, de 
classe social, e também de nível de escolaridade, de cor, de religião, de opção 
sexual, ou julgamento moral e de outras naturezas; são aqueles que decorrem do 
reconhecimento da dignidade intrínseca de todo ser humano (CARVALHO, s.d.).
Esses direitos que necessitam ser reconhecidos, assumidos, protegidos, 
assegurados, sem ter em conta, qualquer tipo de distinção, como essas altivezes 
enfatiza-se a de julgamento moral. Além de consistir essenciais à natureza 
humana, apropriados e universais – na perspectiva de que são inerentes a todos 
(sendo defi nidos como naturais, eles são universais, pelo fato de se atribuir que 
a natureza humana seja única), os Direitos Humanos além disso são históricos 
(CARVALHO, s.d.). 
Portanto, eles são naturais e universais por estarem agregados à natureza 
humana, mas são históricos e diante disso mudaram no transcorrer da História, 
e assim mudaram num mesmo país e difere o seu reconhecimento em diferentes 
países, num mesmo tempo. Para Soares (1998), no sentido históricos, isso revela 
que os Direitos Humanos têm evolucionado ao longo do tempo e tendem ainda 
transformações porvindoura. 
Assim, os Direitos Humanos, no que concerne a respeito da orientação 
sexual, por exemplo, constituiriam intoleráveis há aproximadamente uns vinte 
anos. Mas atualmente eles já integram a cultura e isso diz respeito notadamente 
o núcleo daqueles direitos compreendidos basilares, isto é, ninguém poderá ser 
discriminado, exposto a vexame, abandonado da comunidade política e social em 
razão de sua orientação sexual (CARVALHO, s.d.).
Carvalho (s.d.) ainda acrescenta aos nossos estudos que os Direitos 
Humanos além disso são indivisíveis e interdependentes, pois, na proporção 
que são incorporados ao rol dos direitos fundamentais da pessoa humana, esses 
direitos não podem mais esfacelados, por exemplo, possui o direito até esse 
24
 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE
patamar aqui, daqui em diante é só para os homens, ou só para as mulheres, ou 
só brancos e ricos, ou apenas os intelectuais etc. A igualdade não se traduz em 
igualdade, homogeneidade. 
O direito à igualdade implica, e não é uma incoerência, o direito à diferença, 
sendo que essa não é sinônimo de desigualdade, bem como igualdade não é 
sinônimo de homogeneidade e de uniformidade (CARVALHO, s.d.).
A diferença é uma associação horizontal, nós somos muito diferentes, essas 
diferenças vêm desde que nascemos homens ou mulheres; já é uma diferença 
notadamente fundamental, e não quer dizer que é uma desigualdade; será se 
essa diferença for interpretada no sentido de que os homens são superiores às 
mulheres, ou vice-versa (CARVALHO, s.d.).
A igualdade se traduz em isonomia, que é a igualdade perante a lei, da justiça, 
frente as oportunidades na sociedade, se democraticamente acessível a todos, 
e no aspecto socioeconômico (SOARES, 1998). E a igualdade compreendida 
como o direito à diferença: todos somos de forma igual possuidores do direito à 
diversidade cultural, do direito de ter respeitada as origens e os saberes culturais 
e tradicionais, de livre escolha ou por contingência de nascimento (CARVALHO, 
s.d.). 
Conforme os autores Santos e Thürler (2011), é essencial a procura de atos 
que busquem compreender ao alongado da vida, como se origina a construção 
das identidades de gênero e sexual, possibilitando-lhe o pleno gozo pleno do 
Estado Democrático de Direito, ou seja, a soberania, a cidadania, a dignidade da 
pessoa humana, os valores sociais relacionados ao trabalho e da livre iniciativa, o 
pluralismo político, e a garantia da oferta do bem estar social a coletividade, sem 
preconceitos de qualquer natureza, como; raça, sexo, cor, idade, segundo o que 
se prevê na Constituição Federal de 1988. 
O direito à educação não somente foi instituído na Carta Maior de 1988, mas 
além disso foi alçado à categoria de direito social e fundamental, e meios para seu 
amparo. Mediante a isso, para que essas fi anças sejam concretizadas é de suma 
importância o seu conhecimento profundo, e a sua justifi cação, pois é por essa via 
que a nação terá uma educação em todos os seus níveis do básico ao superior 
imperiosa de qualidade, que promova a prática da inclusão social e das relações 
étnico-raciais (TAVEIRA et al., 2015).
Desse modo, a educação cooperará com uma grande participação política, 
social e econômica e especialmente para a o reconhecimento do direito à 
diversidade e a defesa contra todas as formas de discriminação e desigualdade 
social (TAVEIRA et al., 2015).
25
E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 
Diante disso, a educação vai conjeturar na sociedade com poder mobilizador 
e concretizador, arrogando-se uma dimensão, que também pode constituir uma 
pedagogia para a inclusão social, de modo digno, em prol dos direitos e garantias 
do cidadão. Por fi m, consideramos que a escola possui essa importante função 
para a sociedade que concretiza na educação, igualdade e liberdade para todos, 
como garantia de cidadania, originários do Estado democrático e de direito 
(TAVEIRA et al., 2015).
 1 – Analise a sentença a seguir e julgue como CERTO ou 
ERRADO:
O direito à educação não somente foi instituído na Constituição 
Federal brasileira no ano de 1988, e podemos afi rmar que esse 
direito foi alçado à categoria de direito social e fundamental, e meios 
para seu amparo.
( ) CERTO
( ) ERRADO
2 – Analise a sentença a seguir e julgue como CERTO ou 
ERRADO: 
A escola deve se mostrar como um lócus estratégico de 
articulação, ou seja, um espaço para projetos que se destinam a 
preservar a educação de forma tradicional, conservadora, atendo-se 
tão somente ao repasse de conteúdos disciplinares.
( ) CERTO
( ) ERRADO
26
 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE
2.1 EDUCAÇÃO, GÊNERO E 
DIVERSIDADE SEXUAL
A educação entendida como direito humano é assimilada como um direito 
social que compõe a segunda geração de direitos, defi nidos e afi rmados após o 
século XIX. Referências não faltam à relevância do direito à educação, no entanto 
poucas as refl exões que têm buscado se a aprofundar o conteúdo deste direito 
numa compreensão vasta, sem limitá-lo à escolarização, abordagem que formou 
a tendência quase exclusiva dos trabalhos que vêm sendo realizados (CANDAU, 
2012). 
Candau (2012) menciona sobre a introdução do Relatório referente ao 
Direito à Educação, promovido pela Plataforma Brasileira de Direitos Humanos, 
Econômicos, Sociais e Culturais, em 2004 em que considera a Educação como 
Direito Humano que julga o ser humano na sua vocação ontológica de querer ser 
mais, se distinguindo dos outros seres vivos, procurando ultrapassar sua situação 
de existência no mundo. 
Segundo Candau (2012), a educação é um elemento essencial para a 
viabilização da realização dessa vocação humana. Não somente a educação 
escolar, mas a educação de forma ampla, a educação elaborada num sistema 
geral, que envolve a educação escolar, mas que não se basta nela, pelo fato do 
processo educativo se iniciar desde o nascimento e fi ndar apenas com a morte do 
indivíduo. Isto pode se dar espaço familiar, no meio social que o indivíduo vive, no 
trabalho, com seus amigos etc. O desenvolvimento educativo permeia a vida dos 
indivíduos. 
Os sistemas escolares integram este procedimento educativo pelos quais 
as aprendizagens basilares são desenvolvidas. Conhecimentos fundamentais 
são passados, preceitos, modos de procedimentos e aptidões são lecionados 
e aprendidos. Nas sociedades contemporâneas, o conhecimento escolar é 
praticamente um requisito para sobrevivência e bem-estar. 
As implicações do direito à educação, possuindo por referência como a 
família, os diversos espaços educativos informais, como as organizações da 
sociedade civil e os movimentos sociais, precisam ser aprofundados e de maneira 
satisfatória desenvolvidosna sociedade (CANDAU, 2012). 
É aceitável dizer que o desenvolvimento do direito à educação no nosso país, 
claramente um andamento acelerado nos últimos anos, pode ser compreendido 
por dois destaques: a ampliação da escolarização e a declaração da concepção de 
uma educação escolar comum a todos, baseada nos pressupostos da igualdade. 
27
E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 
No que se refere ao primeiro destaque, o direito à educação escolar, em 
princípio foi a ênfase posta no aumento dos anos de permanência obrigatória 
escolar, no sentido da universalização do ensino fundamental. Com este objetivo 
praticamente realizado de modo geral, passa-se também a viabilizar políticas de 
ampliação do acesso à educação em todos os seus níveis, do ensino básico ao 
ensino universitário (CANDAU, 2012). 
Essa expansão do sistema de ensino, segundo Candau (2012), evidencia e 
a presença dos diferentes grupos sociais e culturais que passaram a frequentar o 
espaço escolar e, desse modo, evidenciaram a heterogeneidade dos resultados, 
os elevados apontadores de subterfúgio e difi culdade no processo de ensino e 
aprendizagem, a distorção idade-série, especialmente de verifi cados sujeitos e 
grupos, trazendo para os debates as inquietações quanto a questão da qualidade 
da educação.
No entanto, esta expressão, da mesma forma em que mostra um aparente 
consenso, também apresenta diferentes interpretações e oculta diferentes marcos 
conceituais e políticos de se conceber a educação, articulando-a com o modelo 
de sociedade e cidadania que se pretende construir. Temos nesse sentido uma 
expressão polissêmica, de um conceito socialmente construído e que necessita 
de continuada reformulação, que empreenda fortes polêmicas e debates entre os 
educadores e na sociedade em sua totalidade (CANDAU, 2012). 
Esta polissemia da frase qualidade da educação pode ser vista nos discursos 
que se sucedem sempre que sentem a necessidade de adicionar um novo adjetivo 
à palavra qualidade: cita-se; qualidade em série como, a qualidade humana, a 
qualidade social, qualidade cidadã, qualidade corporativa etc. 
O que está em questão é o confl ito entre os diversos modos de viabilizar 
as relações entre educação, escola e sociedade. A educação escolar não deve 
ser limitada a um produto que se comercializa na perspectiva do mercado; e 
muito menos ter como menção praticamente que total a obtenção de verifi cados 
conteúdos, por mais socialmente reconhecidos que se constituam (CANDAU, 
2012). 
Deveria sim ter como meta principal a elaboração de uma cidadania 
participativa, a concepção de sujeitos de direito, a promoção e o desenvolvimento 
da vocação humana de toda a sociedade implicada nesse projeto. Este 
espraiamento na expansão do sistema escolar em relação as questões da 
qualidade deram abertura também ampliar o discurso sobre o tipo de educação 
que as escolas devem promover (CANDAU, 2012). 
28
 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE
Formatado na perspectiva da igualdade, o direito à educação é sustentado 
procurando-se ofertar uma escola igual para todos. Diante disso, sistemas de 
extensa escala de avaliação escolar são instalados, municípios e estados defi nem 
currículos para todas as suas escolas, é elaborado material didático padronizado, 
cadernos de exercícios para todos os estudantes, entre outros aspectos, na 
atualidade, um currículo trivial em nível nacional está sendo elaborado. Diante 
disso, a igualdade é muitas vezes é apreendida como homogeneização e 
uniformização do sistema (CANDAU, 2012). 
Nesse sentido, notadamente a partir dos anos de 1990, esta prerrogativa 
vem perdendo forças, tem sido desestabilizada por diversas políticas, programas 
e ações pautadas no sentido do reconhecimento da diversidade, normalmente 
agenciadas em resposta a pressão dos movimentos sociais (CANDAU, 2012). 
Conforme Candau (2012), políticas de ato afi rmativo e inclusivo; os currículos 
escolares sendo elaborados com conteúdo sobre história dos povos tradicionais e 
originários das cultura afro-brasileira, africana e indígena entre outros, educação 
quilombola, educação no campo, educação intercultural indígena, formulação de 
materiais pedagógicos pra esse dialogo contra a homofobia, o sexismo, do racismo 
no espaço escolar, entre outros, esses são alguns exemplos do desenvolvimento 
desta perspectiva. 
Ações dessa envergadura surgem suscitando diversos estudos e debates 
com os professores e na sociedade. Assim as políticas de igualdade e de 
reconhecimento da diversidade no solo da educação escolar se mostram, estar 
em contraposição e, em outros momentos, se erguem através de movimentos 
justapostos, sem a necessária articulação (CANDAU, 2012). 
Todavia, é necessário que se encontra ativamente agindo o movimento 
da sociedade civil, que nos últimos anos vem construindo e implementando 
novos direitos, na defesa e no respeito às diferenças e pela diminuição das 
desigualdades. 
Quando estudamos e trabalhamos na concepção do viés educacional, 
enfatizando seus indicadores, as desigualdades se mostram evidentemente, no 
tratamento desigual direcionados às verifi cadas faixas etárias, relacionados a 
questão, de etnia/raça, e do mesmo modo relacionado a sexualidade e gênero e 
em alguns grupos vulneráveis e com pouca ou nenhuma força política, o rural, o 
urbano. É fundamental despontar que o aluno, pertence a uma raça/etnia, possui 
sua sexualidade, um lugar social em que ele está inserido naquele espaço, algo 
que vai além de sua condição de classe social (HADDAD; GRACIANO, 2006). 
29
E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 
Esse exercício torna cada vez mais urgente a promoção de desenvolvimento 
processos de educação no que se refere aos direitos humanos que contribuem 
com a construção de uma cultura dos direitos humanos no contexto social de 
modo geral, particularmente, nos processos educativos (CANDAU, 2012). 
Você sabe que também existe o conceito da sigla LGBTQIAP+?
Ela signifi ca lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queers, 
intersexuais, assexuais, pansexuais e o sinal (+) aborda o espectro 
das identidades de gênero e sexualidade que as letras por mais que 
buscam dar visibilidade, não alcançam na totalidade. 
2.2 DIALOGANDO SOBRE GÊNERO
A temática da questão de gênero e de sexualidade se tornou assunto em 
muitas áreas no âmbito campo das humanidades. Uma das ilustres obras da 
antropologia a respeito do assunto é o livro: Sexo e temperamento, da antropóloga 
cultural Margaret Mead, publicado em 1935.
Se aquelas notórias costumes impulsivos que de acordo com a tradição 
denominamos como essencialmente femininas; passividade, sensibilidade e 
disposição de ninar crianças; podem naturalmente ser erigidas como modelo 
masculino numa tribo, e na outra ser diferente em que as mulheres, como para 
grande parte dos homens, não nos resta mais princípios seguir tais aspectos de 
conduta como unidos ao sexo. 
Se compreende a importância das particularidades culturais na divisão do 
papel social nas sociedades, modifi cando por completo de uma sociedade para 
a outra. Mead (1979) também indagou quanto ao argumento em relação a ideia 
de que existe funções consideradas naturais em que os sexos; femininos e 
masculinos devem agir conforme seus aspectos simplesmente biológicos.
Gênero, como conceito gramatical, é empregado na defi nição de homem e 
mulher, isto é, gênero masculino e feminino. De acordo com Ferreira (1986, p. 
844), gênero é uma “categoria que designa, através de desinências, uma divisão 
dos nomes pautada em normas tais como sexo e associações psicológicas”. 
30
 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE
Contudo, num aspecto social dentro dos princípios das ciências humanas e 
sociais, a defi nição de gênero tem se constituído sendo utilizada para distinguir 
socialmente os indivíduos. 
Esse conceito não é somete analítico, mas inclui tambémhistórica, no sentido 
de um contexto dominado e marcado predominantemente pelo masculino, no qual 
a mulher sempre esteve no lugar de retaguarda, compreendida como um gênero 
fragilizado, e o homem gênero de força e poder. 
Se gênero pode ser empregado para analisar as relações sociais defi nidas 
entre homens e mulheres, devemos entender que essas relações de gênero 
atravessam várias facetas, desde as construções e a atribuição de papéis 
masculinos e femininos, a construção de identidades, da sexualidade, da 
pluralidade de masculinidades e feminilidades, da hierarquia de gênero e, em 
decorrência dessas divisões muitas vezes, até a violência de gênero. 
As diferenças entre homens e mulheres se propagam na 
sociedade com base em concepções sobre o que é feminilidade 
e masculinidade. São disputas simbólicas, que defi nem respeito 
a dinâmica de reprodução social, nas organizações diversas 
como; na família, nas organizações religiosas, escolares, nos 
ambientes de trabalho e na vida política (MELLO, 2020, p. 11).
Nessa perspectiva, compreender gênero é necessário ir além do termo 
feminino e masculino, mas sem se afastar da identidade do que é ser masculino 
ou feminino. Atualmente, a identifi cação engloba impasses e entraves sociais, 
políticos e morais, em que pessoas que não se reconhecem no sexo em que 
nasceram, sofram com os padrões sociais em relação à identidade. Algo anterior 
ao nascimento de uma criança, na ocasião do exame em decorrência do 
ultrassom, a família, inicia o processo para adaptar seu lugar na sociedade, e a 
partir de suas genitálias é que tudo se decidirá. 
Se for menina, sua normalmente cor será rosa - decoração, roupas e 
pertences serão basicamente dessa cor. Se for menino, o padrão será a cor azul. 
Com o crescimento e o desenvolvimento das crianças, essa diferenciação se 
mantém nas vestimentas. Entretanto, essa dicotomia se apresenta através dos 
brinquedos e das brincadeiras adquiridos/permitidos para um e para outro - no 
caso, para outra – que isso será delimitado e percebido de maneira mais enfática.
O que é ser mulher? O que é ser homem? 
Um dos maiores subsídios do desenvolvimento teórico nessa temática foi a 
diferenciação entre gênero e sexualidade, anteriormente confundidos em grande 
parte das vezes. A historiadora Joan Scott (1995) foi uma das pioneiras quanto a 
31
E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 
fazer essa diferenciação entre gênero e o antigo projeto binário e biologista que 
fazia a separação entre sexos feminino e masculino. 
A autora defi ne que a diferenciação mais complexa de gênero ocorre na 
sociedade e ainda se articula com determinantes sociais como; classe social, 
papel na família, poder político, e demais fatores. A autora destaca a relevância da 
categoria gênero para o estudo histórico dos aspectos sociais. 
A identidade de gênero foi objeto de estudo de diversas estudiosas e 
pesquisadoras, especialmente as feministas, e pesquisadores também. Uma de 
importante destaque que contribuiu para a discussão na contemporaneidade foi 
Butler (2003). 
A partir de sua teoria queer, a autora desconstruiu ainda mais as ideias 
binárias relacionadas a gênero, envolvendo a atuação dos seres humanos, por 
exemplo, a maneira como se vestem, o comportamento etc. e, especialmente, se 
abarca, como elementos predominantes na constituição da identidade de gênero 
que há ampla diversidade.
Abraçando o pensamento desenvolvido pela teoria queer, as diferentes 
classifi cações de gênero podem ser determinadas em:
• Cisgênero: indivíduos que possuem o gênero que ajusta com o gênero 
cognominado ao indivíduo no nascimento. 
• Transgênero: esses indivíduos que possuem um gênero que não 
corresponde ao alcunhado no nascimento.
• Intersexual: indivíduos que têm desde o nascimento ambas; genitálias 
feminina e masculina ou ambivalência cromossômica, impedindo a 
signifi cação antecedente por um gênero ou outro.
• Gender-fl uid (gênero fl uido): indivíduos que não se reconhecem com tão 
somente um gênero, transitando entre eles.
Assim, Butler (2003) chama atenção para a importância de distinguirmos 
entre gênero e sexualidade. A identidade de gênero tem a ver com ser homem 
cisgênero, mulher cisgênero, homem transgênero, mulher transgênero e pessoas 
com gênero fl uido.
A separação defi nida pela sociedade do ser masculino e feminino, promoveu 
também a concepção de objetos, cores diferentes, para meninos e meninas, o 
mesmo com alguns comportamentos esperados para um e não para outro sexo 
para cada tipo de gênero, são concepções produzidas e reproduzidas pelo 
homem, atribuídas pela sociedade e todos as acompanham como um preceito, 
reforçado de geração em geração. 
32
 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE
É a naturalização do gênero, como se para ser homem ou mulher bastasse 
nascer com uma ou outra genitália.
Entretanto, será que é de tal modo tão singelo? 
A cisão entre o ser feminino e/ou masculino não é compreendida somente a 
partir determinismo biológico. Isso signifi ca que, tanto o homem e a mulher são 
resultados de uma dada realidade sociocultural. Foi evocando essas provocações 
problematizar que se oportunizou-se entender essas relações de poder defi nidas 
entre homens e mulheres que passou a existir o conceito de gênero. 
O termo adentrou a academia, na década de 1980, em um debate continuo 
com o movimento feminista e pesquisadoras de outras áreas: história, sociologia, 
antropologia, ciência política, entre outras. Portanto foi através dos estudos sobre 
mulheres que foi se estruturando o processo de desnaturalização do papel de 
submissão/inferioridade, que a mulher estava prometida socialmente, passou a se 
desestruturar.
Foi nesse sentido que o conceito de gênero nasceu: refl etir e desconstruir a 
percepção de que as desigualdades e as convenções sociais fossem relacionadas 
unicamente ao determinismo biológico. Porque é a sociedade que, regulada 
na genitália, defi ne arquétipos e funções diferentes para homens e mulheres. 
Como asseverou Louro (2007), para que se compreenda o espaço e as relações 
de homens e mulheres numa sociedade, deve-se verifi car não especifi camente 
homens e mulheres, mas sim tudo que socialmente se construiu sobre eles. 
Verifi camos, nesse sentido, que as diferentes culturas, em diferentes 
momentos históricos de suas formações sociais, defi niram, e ainda estabelecem, 
procedimentos, funções e imputações para mulheres e homens.
É fundamental observar que, se todas as sociedades determinassem 
comportamentos e referencias sociais a partir do sexo biológico de cada indivíduo, 
não teríamos as variadas maneiras de vivenciar a identidade de gênero, como é 
possível atualmente, apesar dos muitos preconceitos e homofobias existentes.
O sexo é um elemento biológico, associado que corresponde ao nosso 
corpo físico nosso órgão genital, seios, sistema reprodutor etc., o gênero é uma 
construção sociocultural.
Diante disso, cabe destacar que categoria gênero não é uma regra 
automaticamente imposta, sequer a localizamos escrita em um código de leis. 
Ela se formula no cotidiano, a partir de jogo continuado de poder e resistência. 
33
E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 
Essas associações estão em todas as áreas: educação, saúde, trabalho, política, 
religião, lazer na cultura de forma geral. 
É fundamental mencionar que o próprio conceito de gênero está no âmbito 
de um contexto sociocultural, resumidamente, ele é também uma construção e 
as pessoas estão condicionadas a essas construções e transformações. Existe, 
nesse sentido a diferença entre ser uma mulher em nosso país ou no Oriente. 
Essa altercação ainda pode ser relacionada ao tempo, isto é, existe uma diferença 
entre ser mulher no mundo contemporâneo e ter sido mulher no início do século 
XX. 
Primeiramente, gênero estava relacionado às discussões de/e para mulheres, 
visando a condição da mulhere no entendimento de como a categoria mulher 
era construída. A repercussão disso foi uma homogeneização das mulheres, 
na percepção de uma categoria excepcional, sem considerar outras diferenças 
importantes como classe, etnia/raça, geração e orientação sexual. 
2.2.1 Diversidade sexual
Em nossa sociedade atual, ocidental, educamos meninas e meninos de modo 
diferente, concedendo a cada um comportamento e desempenhos na sociedade 
que se entende como adequados a partir da genitália “descoberta” anteriormente 
ao nascimento de cada indivíduo. Assim, diferenças biológicas são empregadas 
na construção de diferenças sociais, muitas vezes, tidas como naturais. 
Por que há modelo padrões de desempenhos acatados corretos para 
meninas e meninos? 
Podemos observar que esses modelos padrões foram conferidos a partir do 
sexo biológico, podem infl uenciar comportamentos, profi ssões, cores de roupas, 
brincadeiras, e o mais que se refi ra a que se refi ra ao sexo biológico. 
Pensando nesse sentido, compreendemos que esse tipo de educação 
atrapalhou e tolheu homens e mulheres que enquanto crianças de brincar com que 
se sentiam atraídos e não lhes era permitido porque era considerado brincadeira 
de menino ou menina. Muitas pessoas se frustraram em não poder ter o poder 
de escolher a profi ssão que se identifi cava mais porque podia ser considerada 
profi ssão de homem ou profi ssão de mulher. 
34
 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE
Dessa maneira, é importante destacar que essa construção cultural e 
educacional da defi nição de papeis a serem desempenhados a partir do sexo 
biológico, não tem relação alguma com o que pode ou não ser feito por homens e 
mulheres, diante disso entendemos que existem homens que são cozinheiros, e 
são ótimos nessa função e em contrapartida mulheres que exercem trabalhos na 
construção civil de excelente qualidade.
Como também verifi camos que homens bailarinos que são nobilitados no 
mundo com um dos melhores bailarinos. 
Outro ponto importante é considerar que quando se fala em sexo, não 
estamos fazendo alusão de incitar e ensinar as crianças a fazerem sexo, pelo 
contrário, o objetivo é explicá-las no sentido biológico da funcionalidade dos seus 
corpos e suas diferenças. 
De maneira similar ao falar em sexualidade, necessitamos compreender 
que a sexualidade não signifi ca o ato sexual entre pessoas extrapola tudo isso; 
sexualidade é toda sensação de prazer que as pessoas sentem em ocasiões 
que bancam determinada atividade que lhes promovam, sensações agradáveis, 
leveza e prazer em estar fazendo. Isso se aplica por exemplo: uma pessoa que 
tem prazer em ler livros, e sentem bem fazendo leituras, esse é um claro exemplo 
que nesse ato implica o desenvolvimento sua sexualidade. 
Finalmente, quando nos reportamos sobre gênero, é compreender que 
foram papeis atribuídos socialmente e culturalmente por meio dos sexos, porém, 
devemos romper com esse modo infl exível de entender que homens e mulheres 
podem desde de sua infância brincar com qualquer brincadeira saudável, podem 
indicar a profi ssão que se sentem motivados e lhes desperta interesse, e também 
escolherem usar a cor de roupa que desejarem, visto que isso jamais irá interferir 
em sua sexualidade e também não no seu órgão biológico. 
35
E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 
Se você quiser conhecer mais sobre os assuntos abordados, 
vamos deixar a indicação de alguns livros que se articulam com o 
assunto tratado neste item: 
Esse livro se volta para um assunto cada vez mais fundamental 
no coloquial escolar: a sexualidade. Tema que já foi tabu ou fonte de 
polêmicas, em nossos dias tem reconhecida a sua centralidade nas 
relações sociais e na maneira como compreendemos a nós mesmos. 
Em um contexto de transformações profundas e ainda em curso, 
abordar a sexualidade é um desafi o tanto para pesquisadores quanto 
para profi ssionais da educação. De contorno sólido, contemporâneo e 
elucidado, esta obra introduz o leitor às discussões contemporâneas 
sobre sexualidade de maneira clara e didática.
FONTE: TORRES, M. A. A diversidade sexual na educação e os direitos de 
cidadania LGBT na escola. 2.ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013. 
36
 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE
Um livro didático e de referência que propõem uma refl exão 
acerca das questões de gênero e suas intersecções com temas 
relacionados à educação, sexualidade, currículo, feminismo no 
Semiárido Baiano.
FONTE: RIOS, P.P. S; MENDES, A. M. Educação, Gênero e diversidade sexual: 
fabricação das diferenças no espaço escola. Curitiba: Editora CRV, 2018. 
A orientação sexual é a afi nidade afetuosa que direciona as relações 
amorosas e sexuais. Sendo assim, apresentamos alguns tipos de orientação 
sexual:
• Homossexual: pessoas que sentem atração por pessoas do mesmo 
sexo. Conhecidos como gays, quando se referem a homens, e lésbicas, 
no caso das mulheres.
• Bissexual: indivíduos que possui atração afetiva e sexual por indivíduos 
de ambos os sexos defi nidos.
• Heterossexual: seres humanos que sentem atração afetiva e sexual por 
indivíduos do sexo oposto.
• Pansexual: pessoas que sentem atração por outras pessoas 
independentemente do sexo ou gênero delas.
• Assexual: pessoas que não desenvolvem fascínio sexual (o que não 
impede, essencialmente, que desenvolvam relações amorosas).
Com a expansão da democratização nas sociedades de Estado, os 
movimentos sociais que lutam pelos direitos LGBTQIAP+ conseguiram conquistar 
um espaço signifi cativo na política mundial, determinando, por exemplo, a 
homofobia como crime, mesmo que no momento ainda é difícil proceder denúncias 
e de obter provas desses tipos de crimes. 
3 – Analise a sentença e julgue como certa ou errada: 
O conceito de cisgênero se refere a indivíduos que possui o 
gênero que combina com o gênero designado ao sujeito a partir de 
seu nascimento.
( ) CERTO
( ) ERRADO
37
E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 
4 – Analise a sentença e julgue como certa ou errada: 
A bissexualidade se refere a indivíduos que sentem atração por 
pessoas tão somente pertencente ao gênero masculino;
( ) CERTO 
( ) ERRADO
Mediante a isso, ponderamos que existem ainda diversas questões incluindo 
a sexualidade, gênero e diversidade provocam polêmicas e/ou implicam tabus da 
sociedade, requerendo atenção e cuidados no desenvolvimento de abordagens e 
análises, no sentido de a interpretar a pluralidade de sujeitos sociais e suas lutas 
por dignidade e direito à vida. 
FONTE: A autora
FIGURA 2 – BREVE EXPLANAÇÃO SOBRE OS CONCEITOS 
GERAIS DE SEXO, GÊNERO E SEXUALIDADE
É importante destacar que no Brasil, os discursos sobre a diversidade sexual 
e de gênero teve um impulso na década de 1990, na ocasião da publicação dos 
estudos realizados pela historiada Guacira Lopes Louro a respeito da exclusão 
das minorias de gênero na história da educação. Segundo Dinis (2008, p. 479). 
38
 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE
A singularidade do trabalho de Louro está nos recursos 
metodológicos de suas análises, baseadas não mais no 
discurso marxista ou nas pedagogias da conscientização, mas 
nas teorias pós-estruturalistas, e a grande divulgação que teve 
a publicação de seu livro Gênero, sexualidade e educação: 
uma perspectiva pós-estruturalista. 
 5 – Analise a sentença e julgue como certa ou errada: 
Gênero: São papéis atribuídos aos sexos masculinos e feminino, 
determinados por um processo de educação e cultura moralista
( ) CERTO 
( ) ERRADO
6 – Analise a sentença e julgue como certa ou errada: 
Sexualidade: é uma necessidade básica, porém deve ser 
separado de outros aspectos da vida. Sexualidade é sinônimo de 
relação sexual e se limita à ocorrência ou não de orgasmo por essa 
razão jamais deve ser estudado nas escolas. 
( ) CERTO 
( ) ERRADO
É a partir daí a Educação tem refl etidoo tema numa concepção culturalista 
distante das questões biológicas referentes ao assunto (COSTA; BASSO, s.d).
O tema diversidade sexual e de gênero segundo Costa e Basso (s.d.) fi cou 
fora dos debates na Educação por certo tempo e isto, conforme os pesquisadores: 
Larrosa (1994) e Walkerdine (1998) apud Diniz (2008), se deu pois a educação foi 
atingida por uma compreensão do sujeito com base em suposições originarias 
como da psicologia da aprendizagem e da psicologia do desenvolvimento, 
cheia de menções normativas e naturalizadas, legalizadas pela biologia, e 
especifi camente por uma estabelecida leitura darwinista da evolução, tornando 
o olhar concernente a diversidade consistir em ser ordenada e sistematizada em 
uma escala ordenada de incremento.
39
E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 
Para Larrosa (1994, p. 40):
O sujeito individual narrado pelas diferentes psicologias da 
educação ou da clínica, esse sujeito que se desenvolve de 
forma natural sua autoconsciência nas práticas pedagógicas, 
ou que recupera sua verdadeira consciência de si com a 
ajuda das práticas terapêuticas, não pode ser tomado como 
um dado não problemático. Mais ainda, não é algo que se 
possa analisar independentemente desses discursos e dessas 
práticas, posto que é aí, na articulação complexa de discursos 
e práticas (pedagógico e/ou terapêuticos, entre outros), que ele 
se constitui no que é.
Contudo, conforme Vianna e Silva (2008), os conceitos de sexualidade 
devem ser ampliados, pois a construção das concepções de sexualidades 
aproxima-se de determinações inseridas nas relações sociais de gênero. Desta 
forma, esse temático passou tornou-se responsabilidade da área da saúde e da 
educação. Assim, na esfera escolar tornou-se responsabilidade, principalmente 
dos professores de Ciências (Ensino Fundamental – Séries Finais) e Biologia 
(Ensino Médio) (COSTA; BASSO, s.d.).
No entanto, sabe-se que os assuntos referentes ao gênero precisam 
perpassar não apenas as discussões referente a sexualidade, prevenção e corpo, 
mas especialmente por discussões que digam respeito as questões sociais, 
políticos e históricos que envolvem a construção dos signifi cados internos e 
externos ao ambiente escolar para que, as interações sociais sejam expostas do 
preconceito que as circundam (COSTA; BASSO, s.d.).
Sexo é um dado biológico, isto é, tudo aquilo relacionado ao 
nosso corpo físico (a genitália, os seios, o formato do corpo).
A respeito de abordagens sobre diversidade sexual e de gênero, 
sugerimos consultar o site “Grupo de Pesquisa Sexualidade e 
Escola”, em que você irá encontrar teses, dissertações, livros em pdf, 
indicações diversas de material relacionado ao tema. 
Disponível em: <http://sexualidadeescola.furg.br/index.php>. 
Acesso em: 13 set. 2021. 
40
 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE
Táticas de aversão não signifi cam necessariamente elevar o número de 
estudos e de referências à irradicação da homossexualidade na educação 
à mesma proporção de estudos e referências designadas às mulheres, mas 
oportuniza que a categoria gênero possa também defender na prática essa 
discussão, já que no aspecto teórico o comporta necessariamente (DINIS, 2008). 
É nesse sentido que os estudos culturais proporcionam uma importante 
contribuição, já que o debate não está na discordância singelos de conceitos como 
homem-mulher, masculino x feminino, heterossexual x homossexual, entretanto 
na fábrica de identidades elaborada pela educação ancorada em referências 
essencialistas e excludentes (DINIS, 2008).
Ainda em conformidade com Dinis (2008), ponderar categorias como 
heterossexualidade e homossexualidade enquanto historicamente lançados, 
defi ne-se em uma tática de resistência às investidas de duras fronteiras no interior 
das práticas sexuais, oportunizando a construção de uma variação temática 
extensa. 
Ao assinalar a construção histórico e cultural das identidades sexuais e 
de gênero, o professor pode ajudar o educando a encontrar as limitações e as 
chances impostas a cada pessoa quando se expõe aos estereótipos que são 
designados a uma identidade sexual e de gênero. 
Isso segue especialmente na direção contraria à determinada abordagem da 
questão homossexual feita pela mídia na produção de uma suposta “naturalização” 
do sujeito homossexual. No intuito de se desvencilhar do discurso moralista, que 
a entendia a homossexualidade como falta de caráter, desencaminhamento no 
fator educativo familiar ou objeto de patologias hormonais, afi rmava-se muito que 
a ideia de que o sujeito nasce homossexual ou heterossexual, isentando-o do 
comportamento homossexual, porque não era uma questão de escolha, mas de 
determinação (DINIS, 2008).
Existem alguns sites acadêmicos que reúne publicações de 
artigos acadêmicos de várias revistas eletrônicas acadêmicas, dentre 
eles deixamos como indicação o site da Scielo, sendo assim, segue 
a seguir o site para que possam acessar, e navegar. 
https://scielo.org/
41
E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 
Essa afi rmativa, ainda segundo Dinis (2008), tem incentivado mesmo 
algumas pesquisas biológicas que apostam na procura dos genes que determinam 
a orientação sexual. Esse debate tem constituído ainda propagado pelos meios 
de comunicação e pelas personagens homossexuais que atuam nas novelas, no 
cinema, na publicidade e nos programas voltados ao público jovem. 
No entanto, uma das precipitações desta naturalização das orientações 
sexuais diz respeito a relação com a diferença não avance no âmbito das políticas 
de tolerância, um respeito aos direitos do outro contando que esse outro se 
mantenha quieto no seu interminável espaço de si mesmo, deixando seguro 
os territórios demarcados de formas padronizadas de viver os comportamentos 
sexuais (DINIS, 2008).
Você sabe qual a importância do movimento LGBTQIAP+ para 
a desconstrução de paradigmas e tabus em relação ao modo das 
pessoas serem, viverem se relacionarem, bem como promoção do 
respeito a diferença e diversidade? 
Para saber um pouco mais, leia a matéria que deixamos o link 
a seguir:
FONTE: <https://www.politize.com.br/lgbt-historia-movimento/>. Acesso em: 15 set. 2021. 
Podemos afi rmar que o diverso não é exclusivamente um outro eu (homem, 
mulher, homossexual, heterossexual...) e com o qual devo estabelecer um 
exercício de vizinhança pautada na fi losofi a do politicamente correto. O outro é 
uma complexidade de tudo aquilo (humano, não-humano, visível, não visível) que 
me tira da pretensa harmonia que posso ter de uma identidade fi xa (um modo 
tradicional e padronizado de pensar, sentir, agir), estimulando-me com uma 
constante convocação para diversas formas de ser estar no mundo (DINIS, 2008).
 Um grande desafi o no exercício dinâmico da alteridade nos leva a um 
tratamento contrário mesmo às políticas de tolerância. Assim, debater a temática 
da diversidade sexual e de gênero não seria apenas uma condição isolada a 
grupos minoritários especiais e, por disso, algo a ser desprezado por um currículo 
que pretende atender a maioria heterossexual que frequenta o espaço escolar 
(DINIS, 2008).
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 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE
Dinis (2008) complementa que esse é precisamente um desafi o primordial 
que necessita ser encarado pelos próprios educadores, isto é, antes de educar a 
respeito da sexualidade, quem sabe os próprios educadores devam ser educados.
Se os educadores desejarem ser diligentes em seu trabalho com todos os 
jovens, eles necessitam iniciar a adquirir um espectro de seu fazer profi ssional 
mais universalizante da sexualidade em uma totalidade e da homossexualidade 
em particular (DINIS, 2008).
Portanto, ao invés de analisar a questão da homossexualidade como objeto de 
interesse unicamente para os indivíduos que são homossexuais, é preciso analisar 
as maneiras como as alocuções predominantes da heterossexualidade

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