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“O negócio jurídico é o meio de realização da autonomia privada e o contrato é o seu símbolo.” AMARAL, Francisco. DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO Jurisprudências BIANCA J. S. SOUZA Professora: Elvira Godiva Junqueira 2º Semestre - Direito; Faculdade Anhanguera An NEGÓCIO JURÍDICO O negócio jurídico, é a forma pela qual as relações jurídicas são criadas, extintas ou modificadas. Envolve a declaração da vontade de duas partes que buscam alcançar um determinado resultado. A validade do negócio jurídico requer: I - agente capaz; II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; e III - forma prescrita ou não defesa em lei. DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO Os defeitos do negócio jurídico são vícios que impedem que a vontade seja declarada livre e de boa-fé, e por esse motivo afetam o plano de validade do negócio jurídico, o que pode gerar a sua anulabilidade ou nulidade. O Código Civil aponta sete hipóteses de defeitos do negócio jurídico, sendo o Erro, Dolo, Coação, Estado de perigo, Lesão, Fraude contra Credores e simulação. Analisando cada uma dessas hipóteses, podemos encontrar as seguintes jurisprudências: I - Erro e Dolo Ementa: DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. ANULAÇÃO DE NEGÓCIO JURÍDICO. COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. EXISTÊNCIA DE USUCAPIÃO EM FAVOR DO ADQUIRENTE. OCORRÊNCIA DE ERRO ESSENCIAL. INDUZIMENTO MALICIOSO. DOLO CONFIGURADO. ANULAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO. (STJ - REsp: 1163118 RS 2009/0210626-4, Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de Julgamento: 20/05/2014, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 13/06/2014) Este caso trata-se de um julgamento do Superior Tribunal de Justiça (STJ) em relação a uma ação de anulação de um contrato de compra e venda de um imóvel. Segundo o acórdão, houve a ocorrência de um erro essencial por parte do comprador, que foi induzido maliciosamente pelos corretores da imobiliária a assinar o contrato, sem saber que já possuía o direito à propriedade do imóvel por meio da usucapião. O acórdão destaca que o erro é um vício do consentimento, que ocorre quando há uma falsa percepção da realidade por parte do agente, seja em relação à pessoa, ao objeto ou ao próprio negócio jurídico. Para que haja a desconstituição do ato, o erro deve ser substancial e real. No caso em questão, o erro foi considerado essencial, pois impediu que o comprador tivesse conhecimento da sua propriedade adquirida por meio da usucapião. A usucapião é definida como um modo originário de aquisição da propriedade em razão da posse prolongada da coisa, preenchidos os demais requisitos legais. No caso em questão, os requisitos para a prescrição aquisitiva já haviam sido preenchidos, o que significa que a usucapião já havia sido consolidada e, portanto, o comprador já era proprietário do imóvel. Nesse sentido, o contrato de compra e venda não teria validade, já que não seria possível dispor de um direito que já havia sido adquirido. Além disso, é destacado que houve um induzimento malicioso à prática do ato, o que configura o dolo. O dolo ocorre quando há um engano, uma fraude ou uma artimanha por parte de um dos contratantes com o objetivo de prejudicar o outro. Nesse caso, os corretores da imobiliária teriam ocultado informações relevantes ao comprador com o objetivo de obter a assinatura do contrato. Dessa forma, o STJ decidiu pela anulação do contrato de compra e venda do imóvel, tendo em vista a ocorrência de um erro essencial e de dolo por parte da imobiliária. II - Coação Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ANULATÓRIA. CONTRATO VERBAL. COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. EXISTÊNCIA DE COAÇÃO. NEGÓCIO JURÍDICO NULO. (TJ-MG - AC: 10672130353671001 MG, Relator: Alexandre Santiago, Data de Julgamento: 15/08/0016, Data de Publicação: 25/08/2016). Esse caso refere-se a uma decisão judicial proferida pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais em uma apelação cível. Trata-se de uma ação anulatória que questiona a validade de um contrato verbal de compra e venda de imóvel. De acordo com a decisão, o negócio jurídico em questão é nulo devido à presença do vício de consentimento, decorrente da coação sofrida pela autora. A coação é definida como a violência psicológica capaz de influenciar a vítima a realizar um negócio jurídico que ela não deseja internamente. No caso em questão, a autora, pessoa idosa e carente, teria transferido o imóvel para o nome do réu sob a promessa de casamento, o que configura a coação. Diante disso, o tribunal considerou nulo o negócio jurídico celebrado sob coação. III - Estado de Perigo Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. EMBARGOS À EXECUÇÃO. DESPESAS MÉDICO- HOSPITALARES DECORRENTES DE REALIZAÇÃO DE CIRURGIA NA MODALIDADE PARTICULAR. INTERNAÇÃO HOSPITALAR VIA SUS - SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE. ESTADO DE PERIGO CARACTERIZADO. (TJ-RS - AC: 70077809887 RS, Relator: Otávio Augusto de Freitas Barcellos, Data de Julgamento: 19/09/2018, Décima Quinta Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 27/09/2018). Trata-se de um caso julgado pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul em que os embargantes recorreram de uma decisão que julgou improcedente seus embargos à execução de dívida decorrente de despesas médico-hospitalares. No caso concreto, o paciente foi internado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e, em razão do risco iminente de morte, seus familiares foram compelidos a optar pelos serviços particulares, que geraram a dívida em questão. O relator do caso entendeu que o conjunto fático dos autos demonstrava a configuração do estado de perigo previsto no artigo 156 do Código Civil, que ocorre quando alguém assume obrigação excessivamente onerosa para salvar a si mesmo ou a pessoa de sua família de grave dano conhecido pela outra parte. Assim, o contrato de prestação de serviços foi anulado e os familiares não poderiam ser responsabilizados pelas dívidas contraídas em situação de evidente perigo, quando não tinham outra opção. O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul deu provimento ao apelo dos embargantes de forma unânime, o que significa que todos os desembargadores que participaram do julgamento concordaram com a decisão. Portanto, no caso em questão, os embargantes não precisarão pagar a dívida decorrente das despesas médico-hospitalares. IV - Lesão Ementa: APELAÇÃO EM AÇÃO DE ANULAÇÃO DE NEGÓCIO JURÍDICO E PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA. CELEBRAÇÃO DE CONTRATO. VÍCIO DE CONSENTIMENTO. LESÃO. MANIFESTA DESPROPORCIONALIDADE. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. (TJ-AM - AC: 06044242120188040001 AM 0604424- 21.2018.8.04.0001, Relator: Airton Luís Corrêa Gentil, Data de Julgamento: 12/04/2021, Terceira Câmara Cível, Data de Publicação: 13/04/2021) Este foi um caso julgado pela Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Amazonas, em que um apelante apresentou recurso contra uma decisão que recusou o pedido de anulação de um contrato e tutela de urgência. O argumento da apelante era que o contrato apresentava vício de consentimento, em razão de desproporcionalidade entre as obrigações assumidas pelas partes, caracterizando lesão. O relator reconheceu que a desproporcionalidade entre as obrigações assumidas pelas partes poderia configurar lesão, nos termos do art. 157 do Código Civil, e que a anulação do contrato seria possível caso uma das partes se aproveite da inexperiência ou premente necessidade da outra para obter vantagem excessiva ou desproporcional. Com base nesses argumentos, a Terceira Câmara Cível do TJ-AM deu provimento ao recurso apresentado pela apelante, determinando a anulação do contrato em questão. V- Simulação Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. Ação anulatória. Simulação. (TJ-SP - AC: 10070977420188260011 SP 1007097-74.2018.8.26.0011, Relator: Viviani Nicolau, Data de Julgamento: 09/11/2021, 3ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação:10/11/2021). A ementa trata de uma decisão judicial proferida pela 3ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP) em uma ação anulatória movida pelos filhos herdeiros do primeiro casamento de um homem que faleceu e deixou um imóvel que foi vendido por meio de uma procuração outorgada por ele para a sua última companheira, tendo como compradores a filha e o genro dela. Os filhos do primeiro casamento alegaram que houve simulação na transação imobiliária e que a condição debilitada de saúde do pai foi aproveitada pelos compradores. A sentença de primeira instância identificou a simulação e anulou a venda do imóvel. Os réus (compradores) interpuseram recurso de apelação para tentar reverter á decisão. No entanto, a 3ª Câmara de Direito Privado do TJ-SP recusou provimento ao recurso e confirmou a sentença de primeira instância, fundamentando sua decisão nas circunstâncias fáticas que confirmam a existência de simulação. Dentre essas circunstâncias, destacam-se o valor abaixo do venal e muito inferior ao valor de mercado do bem, a ausência de prova de pagamento e as dúvidas sobre a plena capacidade do vendedor, pessoa idosa e debilitada, incapaz de conhecer as condições do negócio. Com base nessas evidências, a Câmara entendeu que a simulação estava configurada e manteve a sentença que anulou a venda do imóvel. VI - Fraude Contra Credores Ementa: AÇÃO PAULIANA. FRAUDE CONTRA CREDORES (TJ-SP 10342810520138260100 SP 1034281-05.2013.8.26.0100, Relatora: Mary Grün, Data de Julgamento: 30/05/2018, 7ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 04/06/2018) Essa foi uma decisão do tribunal Superior de São Paulo que trata de um caso de ação Pauliana, que é uma ação judicial que permite aos credores prejudicados por uma fraude praticada pelo devedor reverter á transferência de bens ou direitos que podem prejudicar a sua garantia. Nesse caso específico, houve uma doação de um imóvel por parte da esposa do devedor para os filhos do casal, em um regime de comunhão parcial de bens, e essa doação foi considerada fraudulenta em relação aos credores. A decisão começa afastando uma preliminar de ausência de impugnação específica, o que significa que os argumentos apresentados pelos credores foram considerados válidos para o julgamento do caso. Foi analisado a doação do imóvel em questão, e conclui que não foi demonstrado que o imóvel doado foi adquirido em sub-rogação de bens particulares da esposa do devedor, o que significa que o imóvel era um bem comum do casal e, portanto, poderia ser alcançado pelos credores. Além disso, a decisão ressalta que a doação foi realizada após a constituição da obrigação do réu em relação aos seus credores, o que caracteriza a fraude contra credores. Também foi destacado que a insolvência do devedor não foi elidida pelos interessados, ou seja, não foi garantido que ele possuía outros bens suficientes para honrar suas dívidas. A decisão anulou a doação do imóvel por meio da ação Pauliana e nega provimento ao recurso interposto pelas filhas do casal. i iFonte: Jusbrasil; Livro ‘’ Defeitos do Negócio Jurídico’’, Edição de 2005 - Fabricio Z. Matiello (Autor)i https://www.amazon.com.br/s/ref=dp_byline_sr_book_1?ie=UTF8&field-author=Fabricio+Z.+Matiello&text=Fabricio+Z.+Matiello&sort=relevancerank&search-alias=stripbooks
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