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Rabisco de livro

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REALIDADE ALTERNATIVA 
Nuvole Bianche - Ludovico Einaudi \\ Jacob's Piano
INTRODUÇÃO
Queridos e preciosos leitores, com essa experiência posso afirmar que escrever um livro é ao mesmo tempo um ato de coragem e de liberdade. 
 
CAPÍTULO I
Parte I - 	O Poço
Tem dias que voo tão alto que intimido a mim mesmo, ultrapasso limites atmosféricos com minha coragem e sede de conquistar... E dias que me arrasto, movida por uma fagulha, em meio à crise existencial, uma pergunta tine nas entranhas – Quem sou eu? 
Acende uma vela no fundo do poço insalubre e úmido das crenças disfuncionais, e com essa pequena luminosidade lembra-se, mesmo que de forma embaralhada quem é, o que produz vaga força motriz para se arrastar.
A inércia a apavora depende da fagulha para lhe dizer quem é, ainda que não saiba com certeza, a incerteza basta porque a lembra que não há tempo.
- Ei, acorde, volte para superfície Josephine.
Enquanto luta para escalar as paredes escorregadias, os dedos sangram e Josephine desiste de tentar, permanece lá, mais uma vez retorna a inércia, a fagulha se apagou e ela coexiste consigo mesmo sem interferir no curso das coisas.
- Ei, acorde, volte para superfície Jose...
Ela ouve pela segunda vez essa frase que soa como se sua cabeça estivesse em baixo d’guá.
 Ei, acorde.
 Volte. 
Para superfície. 
Entre todos os seus Eu’s coabitando em seu interior, havia a Jose, enquanto Phine parecia abraçar as paredes do poço como se quisesse permanecer ali, Jose não. Jose lembrava quem realmente era, e tinha muitos planos sobre quem gostaria de ser, Jose que havia acendido a última fagulha na tentativa desesperada de sair dali. Ela não desistia, esse era seu maior defeito e qualidade, era incapaz de saber quando desistir de algo. 
Jose inclinou a cabeça para o topo daquela lúgubre circunferência que se estendia muitos metros para cima e viu um ser que parecia ter vindo de outro mundo, ela não entendia o motivo, mas ele demonstrava conhecê-la, e ela sentia uma conexão inconsciente por ele.
Em questão de segundos ele estende o braço, enquanto Jose mesmo sabendo estar muito longe para que ele seja capaz de ajudar, de alguma forma esse ato lhe confere uma força especial. Josephine recobra a consciência, assume o controle por inteiro e volta a ser ela mesmo, reconstrói sua identidade colhendo os fragmentos, Jose, Phine... ao se ver lúcida novamente, fitando os olhos no braço que se estendia a ela, que mais parecia uma força capaz de movê-la da prisão em que se encontrava sem ao menos tocá-la. 
Josephine tem uma brilhante ideia!! Por algum motivo a inércia a impedia de notar, e o que havia mudado? A perspectiva. Olhando por uma nova perspectiva, Josephine agora é capaz de identificar analiticamente espaços entre as úmidas rochas que envolviam o poço, nos quais ela agora poderia completar uma escalada até a tão desejada superfície. 
Sem mais perder um só segundo, de forma agitada, Jhosephine inicia a jornada com tenacidade, um passo de cada vez, às vezes os pedregulhos pareciam querer se soltar e então se concentrava ainda mais e mudava sua posição... Até perceber que ao dar o próximo passo seus dedos puderam sentir uma textura diferente das rígidas e viscosas rochas, uma macia e suave grama. 
E então, a superfície... Havia esquecido o quão bom era se sentir livre. Após suspirar o ar puro como se fosse o primeiro e o último e sorrir ao admirar a sinfonia verdejante daquele jardim, cintilado por algumas rosas amarelas e brancas, em um estalar lembrou-se do responsável por todo aquele sentimento, de quem havia feito-a acordar e acendido não somente uma fagulha, mas sim um facho de luz intenso e penetrante que produzia uma energia além da sua compreensão. Ao procurá-lo fatidicamente não o pode encontrar, após nutri-la, ele se foi... Josephine reluta com seu desejo de sair a sua procura desesperada, e vai embora. 
O tempo vai passando e nós nos reinventamos, a realidade reflete uma vida de constantes descobertas, profundamente mutáveis, tem gente que tem medo disso. Mudar não significa deixar de ser quem você é, trata – se de acompanhar o fluxo infinito da existência. 
Ao chegar em casa move-se diretamente para quarto, as circunstâncias a inspiraram a escrever, não sobre o ocorrido, mas sobre o sentimento que agora invadia seu peito tão ardentemente que provocava inquietude. Tilintou:
‘’Escrevo algo que se faz novo em mim a cada instante, de maneira que se torna paradoxal, porque as ideias se refazem mais rápido do que posso registrar. No fundo de minhas entranhas sinto a imensidão que não se descreve. O que escrevo é como a águia que percorre o céu imenso, imaculada. A escrita é matéria prima do universo, joia rara confortante. 
Então, passa a ser artístico, à medida que flui rapidamente, e em um panorama o tempo é só um véu transparente e uma onda de pensamentos invadem o recinto. Encaro o papel como um cativo admira sua carta de alforria, mas também como o exilado deixa seu lar e observa o avião partir. 
O avião vai se distanciando e a cada segundo a esperança vai mais longe, escorre entre os dedos e arde no peito, com o impacto do desespero de um asmático a quilômetros de uma fonte de corticoide. E enquanto escrevo as palavras voam, ou melhor, escapam, com a pressão que somente um telmisartana inibiria, semelhante a uma manada de búfalos assustados correndo em disparada. O peito aperta e a mente está tão embaralhada como um quebra cabeças de 12 mil peças. 
Os verbetes brincam de roda pelos meus capilares, enquanto cada frase brota. Esse pobre coração que estremece onde a ternura se faz presente em cada mundo imaginário que criei. Com palavras que saem do âmago de m’alma como o jato de champanhe que se é estourado todo fim de ano. E os fogos estralam enquanto mais uma vez como que rotineiramente eu observo o céu estrelado e imagino as possibilidades em um mar de esperanças naufragas. 
Josephine caminha lentamente até a janela e permanece atormentada pela experiência que tiverá, quem era ele? E por que a trouxe de volta? {...}
Aquela noite se fizera longa, seus pensamentos tilintavam, enquanto sentia um misto de curiosidade e medo. Medo de que aquele episódio ocorra novamente e de que dessa vez esteja só.
Mas afinal, o que de fato acontecerá? {...}
Parte II – Submersa
O mais difícil do processo de reconstrução de um Eu machucado, de reorganização mental de uma criança abandonada, da cura interior do traumatizado é não desistir de si mesmo. Isso dói. Em algum momento da vida você passa pela primeira etapa, o reconhecimento, nessa fase você precisa identificar o peso e a influência das suas dores na sua forma de agir e pensar. Quando se constrói uma identidade alicerçada nas dores, o resultado é uma adulta com crenças disfuncionais, baixa resiliência emocional, instabilidade e depressão. 
Em um clima de 24 graus, deitada sob a cama de lenções aconchegantes Josephine mergulha dentro de si e se vê submersa. Essa é a razão pelo qual alguém deve curar-se antes de relacionar-se amorosamente, porque você está tentando nadar em um mar tempestuoso, ninguém é responsável pelas suas ondas, quem se arrisca tende a se afogar. Josephine está tentando criar resistência suficiente para vencer o mar, ela está tentando não se afogar, mas às vezes as forças se esvaem e exausta se submete ao mar, e fica submersa. O problema da submersão é que não é necessário fazer força quando se está preso embaixo d’agua, a corrente já não tenta te afogar a todo custo, tudo parece calmo, silencioso, não existe resistência. Josephine abraça seu mar e dança com ele embaixo das ondas. Mas a submersão é paralisante, a vítima se torna inerte como um pepino em conserva. Para sair desse estado é necessário outra vez exercer força atroz para chegar à superfície e continuar a lutar contra as ondas na esperança de que um dia o mar fique calmo como uma piscina natural. 
- O mar está em mim e eu estou nele.
O mar de Josephine tem águas lindas, cristalinas, aquelas que se admira por horas sem cansar, mas também tem ondas bravasque se projetam há muitos metros de altura. Quem nele entra precisa saber nadar, se surfar pode até aproveitar, mas cuidado, você pode se afogar. 
Josephine está em uma jornada interessante, busca uma joia que pode tudo resolver, que faz seu mar se acalmar e tudo bem enfim ficar. Naquela tarde vasculha sua memória para lembrar-se do viajante que virá no poço, acredita que ele sabe onde encontrar, tenta ao menos de alguma característica lembrar. 
Existe algo na tempestade que serve de Consolo. Você não está sozinha, estamos todos tentando não nos afogar em nosso próprio caos. O toque mais bonito é o da alma, quando duas tempestades se encontram e buscam amenizar os ventos uma da outra, temos um ciclone? Ou de alguma forma elas encontram um ponto de equilíbrio e no finais ambos os mares ficam calmos porque vencem a tormenta juntos? Se esperar mar calmo ficará apenas na companhia do seu e de mais ninguém, porque cada pessoa possui seu próprio caos.
Parte III – A busca
Em uma tarde de primavera Josephine se encontra inquieta e decide planejar sua viagem até a ilha que tudo cura. Ela vivia em um conglomerado de reinos flutuantes e o seu era o mais pobre deles, liderado pelo rei Áquila que era valente, embora em um solo pobre em minérios e metais preciosos, sobreviviam da agricultura e exportavam para todos os outros reinos grande parte da comida do continente. 
"Chegar la" 
Tenho me perguntado o que isso significa, e se essa frase de fato possui algum sentido aplicável em nossa vida. O que é chegar lá? 
Talvez a sucessão intermitente de metas e sonhos que darão lugar a outros, que serão mais uma vez substituídos. Então, o que é chegar lá, senão uma constante de infelicidade? 
Chegar lá deveria ser apreciar o presente com toda vivacidade, amar o que temos hoje.
Elizabeth era esse tipo de pessoa. Não importava como estava o clima, chuvoso ou ensolarado, frio e nublado, independente das circunstâncias e eventualidades, estava sempre pronta a pensar mais nos outros do que em si mesmo. 
Era uma jovem de olhar doce e penetrante, com olhos negros que estavam sempre acompanhados de um delineado puxado e rímel, o que destacava ainda mais a vivacidade e meiguice de seus traços. Suas bochechas eram arredondadas e seu rosto era desenhado sutilmente, revelando a miscigenação brasileira, com um nariz pequeno e bem definido, assim como lábios delicadamente marcados, com volume médio perfeito. O padrão da mistura cultural, sua pele morena exalava um tom dourado e deixava rastro de dúvidas acerca de sua cor. Seus cabelos se encaracolavam e desciam sob suas costas entre curvas levemente volumosas, seu corpo também refletia um padrão brasileiro, com silhueta evidente, não era magra, era esculpida com uma distribuição proporcional o bastante para marcar sua cintura e lhe conferir um belo quadril. 
Emana de mim a necessidade voraz de fazê-la, é interessante o modo como minha mão desliza rapidamente sob o papel, exigindo o mínimo de raciocínio antes da escolha de cada letra que se une a um grupo para formar a palavra que pensei segundos antes. Deslizam como um pianista experiente toca sua música favorita.
Nem mesmo sabia descrever, mas ao escrever seria capaz de externalizar o que embora voraz, fostes tão abstrato dentro de si. Então sentou-se ainda com seu vestido sujo de lama, não precisava explicar a ninguém sobre o tempo que esteve fora, pois seu pai havia falecido antes mesmo de nascer e sua mãe estava ocupada demais reconstruindo sua vida após a perca que por vezes a negligenciava. E tudo bem, isso a conferia liberdade para descobrir, errar, consertar, viver, crescer... 
Abriu sua máquina de escrever de cor baunilha com sutis detalhes cor de rosa
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