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Princípios Recursais 1 Princípios Recursais Created Tags Processual Civil II Princípio do Duplo Grau de Jurisdição Parece não existirem maiores discussões a respeito do conceito de duplo grau de jurisdição, entendido como a possibilidade da revisão da solução da causa, ou seja, a permissão de que a parte possa ter uma segunda opinião concernente à decisão da causa. NEVES, p. 1579. Apesar da jurisdição ser una e indivisível, NEVES (p. 1580 entende que, para que exista um duplo grau de jurisdição, deve haver uma diferença hierárquica entre os órgãos jurisdicionais que, respectivamente, profere a primeira decisão e a reexamina. Vantagens do Duplo Grau de Jurisdição A natureza humana → é inerente ao ser humano o descontentamento com um decisão que é desfavorável para si, sendo importante, pois, a permissão da parte de uma segunda opinião; March 24, 2024 331 PM Princípios Recursais 2 A falibilidade humana → o juiz pode se equivocar na decisão, sendo importante a revisão da decisão; Evita a arbitrariedade do juiz → cientes da possibilidade de revisão da sua decisão, os juízes decidiriam conforme a lei; Suposta melhora da qualidade da prestação jurisdicional → o colegiado é composto por juízes mais maduros na carreira e com menor volume de demanda, o que permite uma análise detalhada do caso. Desvantagens do Duplo Grau de Jurisdição Prejudica a ideia de unidade da jurisdição → as decisões podem ser contraditórias; Afastamento do Princípio da Oralidade → os recursos são interpostos na forma escrita; Afasta a celeridade processual → a prestação jurisdicional é entregue de forma mais lenta; Desprestígio da Primeira Instância → este torna-se um órgão intermediário antes da decisão definitiva. OBS. NEVES (p. 1583 entende que este princípio não é um princípio constitucional. Esse é o melhor entendimento, não se podendo entender que a mera previsão constitucional de diferentes tribunais seja suficiente para daí concluir pela previsão implícita do duplo grau de jurisdição. A existência de tais tribunais garante o sistema recursal, mas não consagra o duplo grau de jurisdição, não sendo correto se entender que, somente pela razão de existirem tribunais, toda e qualquer demanda deva ser reexaminada por um deles. NEVES, p. 1583. Princípios Recursais 3 Princípio da Taxatividade (Legalidade) Somente pode ser considerado recurso o instrumento de impugnação que tiver expressamente previsto em lei federal como tal. A conclusão é gerada de uma interpretação do art. 22, I, da CF, que atribui à União a competência exclusiva para legislar sobre processo. Entendendo se que a criação de um recurso é nitidamente legislar sobre processo e sendo tal tarefa privativa da União, somente a lei federal poderá prever um recurso, que por essa razão estarão previstos no ordenamento processual de forma exaustiva, em rol legal numerus clausus. NEVES, p. 1584. Além de estarem no CPC, algumas espécies de recurso podem estar contidas em leis extravagantes; Este princípio impede que as partes criem recursos não previstos pelo ordenamento jurídicos; As leis estaduais e municipais não podem criar espécies de recursos; Os regimentos internos dos Tribunais também não podem criá-las → quanto ao agravo regimental, tem-se que, quando o tribunal apresenta em seu regimento interno os procedimentos para usar desse tipo de recurso, não há afronta ao Princípio da Taxatividade. Nesse caso não existe qualquer afronta ao principio da taxatividade, porque os regimentos internos não criam recursos ao prever o agravo regimental, mas tão somente determinam seu procedimento interno no Tribunal, o que, evidentemente, poderão fazer. O agravo é recurso já existente, expressamente previsto pelo Código de Processo Civil, sendo o agravo regimental apenas uma espécie desse recurso. NEVES, p. 1584. Princípios Recursais 4 Princípio da Singularidade (Unirrecorribilidade ou Unicidade) O princípio da singularidade admite tão somente uma espécie recursal como meio de impugnação de cada decisão judicial. Admite-se a existência concomitante de mais de um recurso contra a mesma decisão desde que tenham a mesma natureza jurídica, fenômeno, inclusive, bastante frequente quando há no caso concreto sucumbência recíproca ou litisconsórcio. NEVES, p. 1585. Caso a parte proponha sucessivamente ou concomitantemente dois tipos de recursos diferentes, ela estará violando este princípio; Não é possível manejar dois recursos ao mesmo tempo. Princípio da Voluntariedade Por tal princípio condiciona-se a existência de um recurso exclusivamente à vontade da parte, que demonstra a vontade de recorrer com o ato de interposição do recurso. Dessa forma, de nada adiantará à parte noticiar que pretende recorrer dentro do prazo legal deixar de interpor o recurso cabível, como por vezes ocorre em audiência, com o aviso da parte que pretende agravar de instrumento no prazo de 15 dias. Caso não recorra efetivamente nesse prazo, a expressão de sua vontade de recorrer posteriormente de nada terá adiantado. NEVES, p. 1589. Por conta deste princípio, o juiz é impedido de recorrer de ofício; Princípios Recursais 5 A parte expressa sua vontade de recorrer interpondo o recurso ou praticando um ato que demonstre a concordância com a decisão proferida. Princípio da Dialeticidade Costuma-se afirmar que o recurso é composto por dois elementos: o volitivo (referente à vontade da parte em recorrer) e o descritivo (consubstanciado nos fundamentos e pedido constantes do recurso). O princípio da dialeticidade diz respeito ao segundo elemento, exigindo do recorrente a exposição da fundamentação recursal (causa de pedir: error in judicando e error in procedendo) e do pedido (que poderá ser de anulação, reforma, esclarecimento ou integração). Tal necessidade se ampara em duas motivações: permitir ao recorrido a elaboração das contrarrazões e fixar os limites de atuação do Tribunal no julgamento do recurso. NEVES, p. 1589. O recorrente precisa indicar precisamente qual a injustiça ou ilegalidade da decisão impugnada. Princípio da Fungibilidade Como o próprio nome sugere, fungibilidade significa troca, substituição, e no âmbito recursal significa receber um recurso pelo outro, mais precisamente receber o recurso que não se entende como cabível para o caso concreto por aquele que teria cabimento. Trata-se notoriamente de flexibilização do pressuposto de admissibilidade recursal do Princípios Recursais 6 cabimento, considerando-se que, em regra, recurso que não é cabível não é recebido/conhecido. A fungibilidade se funda no princípio da instrumentalidade das formas, amparando- se na ideia de que o desvio da forma legal sem a geração do prejuízo não deve gerar a nulidade do ato processual. - NEVES, p. 1591. Quando se recebe um recurso no lugar do outro, o juiz deve intimar as partes para fazer as eventuais adequações formais necessárias. Receber um recurso pelo outro e não se dar a oportunidade ao recorrente para as devidas adaptações é tornar de raridade considerável a aplicação da fungibilidade, ou ainda criar injustiça inadmissível para o recorrente, com o que não se pode concordar. NEVES, p. 1592. Ex. Art. 1.024, § 3º, CPC. ⚖ CPC Art. 1.024. O juiz julgará os embargos em 5 (cinco) dias. § 3º O órgão julgador conhecerá dos embargos de declaração como agravo interno se entender ser este o recurso cabível, desde que determine previamente a intimação do recorrente para, no prazo de 5 (cinco) dias, complementar as razões recursais, de modo a ajustá-las às exigências do art. 1.021, § 1º . http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art1021%C2%A71 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art1021%C2%A71 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art1021%C2%A71 Princípios Recursais 7 ⚖ CPC Art. 1.021. Contra decisão proferida pelo relator caberá agravointerno para o respectivo órgão colegiado, observadas, quanto ao processamento, as regras do regimento interno do tribunal. § 1º Na petição de agravo interno, o recorrente impugnará especificadamente os fundamentos da decisão agravada. Dúvida fundada a respeito do Recurso Cabível A primeira condição para a aplicação do princípio da fungibilidade no caso concreto é a existência de uma dúvida objetiva a respeito de qual o recurso cabível. Apesar da tentativa do legislador em prever com exatidão cirúrgica o cabimento recursal, existem situações em que será possível se mostrar duvidoso no caso concreto qual o recurso cabível. Existem três fatores capazes de gerar a dúvida objetiva no recorrente a respeito do cabimento do recurso: (i) a lei confunde a natureza da decisão; (ii) doutrina e jurisprudência divergem a respeito do recurso cabível; (iii) o juiz profere uma espécie de decisão no lugar de outra. NEVES, p. 1594 Pode-se falar em dúvida séria ou dúvida objetiva. Inexistência de Erro Grosseiro Por ser um princípio que visa evitar injustiças, este não será aplicado quando o recurso interposto for manifestamente incabível. É considerado pelo Superior Tribunal de Justiça erro grosseiro a interposição de recurso distinto daquele Princípios Recursais 8 expressamente previsto em lei para determinada decisão, ainda que ocorra equívoco do legislador ao conceituá-la. NEVES, p. 1594. Colhe-se da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça alguns exemplos de erros grosseiros aptos a inviabilizar a aplicação do princípio da fungibilidade recursal: (a) interposição de agravo regimental (interno) contra decisão monocrática; (b) interposição de recurso especial quando cabível recurso ordinário constitucional; (c) pedido de reconsideração contra decisão colegiada; (d) interposição de agravo de instrumento contra sentença proferida em mandado de segurança; (e) interposição de apelação contra decisão interlocutória que exclui litisconsorte do processo; (f) interposição de apelação quando cabível recurso ordinário constitucional; (g) interposição de agravo de instrumento quando cabível agravo regimental (interno). NEVES, p. 1595. Inexistência de Má-fé Teoria do Prazo Menor O princípio da fungibilidade não pode ser usado quando o recorrente está de má-fé → vale-se do recurso incabível para se beneficiar, injustificadamente, no processo; Por conta do Direito brasileiro ter como premissa a presunção de boa-fé, este requisito é afastado pela doutrina para avaliar a aplicação do princípio da fungibilidade; Princípios Recursais 9 O STJ, de maneira equivocada, utilizava-se da Teoria do Prazo Menor para avaliar a má-fé do recorrente → entendia-se como recorrente de má-fé aquele que, na dúvida entre dois ou mais recursos, escolhia o que tivesse o maior prazo e recorria nele, demonstrando, de acordo com a visão do Tribunal, uma malícia em aproveitar de mais tempo para a interposição de recurso. Dessa forma, só era aplicado o princípio da fungibilidade quando o recorrente, ao escolher o recurso a ser interposto, o fazia no menor prazo sempre que entre os recursos que gerassem a dúvida existissem prazos diferentes. NEVES, p. 1596. Por conta da redação do art. 1.003, § 5°, este requisito tende a desparecer. ⚖ CPC Art. 1.003. O prazo para interposição de recurso conta-se da data em que os advogados, a sociedade de advogados, a Advocacia Pública, a Defensoria Pública ou o Ministério Público são intimados da decisão. § 5º Excetuados os embargos de declaração, o prazo para interpor os recursos e para responder-lhes é de 15 (quinze) dias. Hipóteses Concretas da Aplicação deste Princípio Previstas expressamente no CPC; Propositura de Embargos de Declaração no lugar de Agravo Interno. Princípios Recursais 10 ⚖ CPC Art. 1.024. O juiz julgará os embargos em 5 (cinco) dias. § 3º O órgão julgador conhecerá dos embargos de declaração como agravo interno se entender ser este o recurso cabível, desde que determine previamente a intimação do recorrente para, no prazo de 5 (cinco) dias, complementar as razões recursais, de modo a ajustá-las às exigências do art. 1.021, § 1º . Possibilidade de se transformar o Recurso Especial em Recurso Extraordinário. ⚖ CPC Art. 1.032. Se o relator, no Superior Tribunal de Justiça, entender que o recurso especial versa sobre questão constitucional, deverá conceder prazo de 15 (quinze) dias para que o recorrente demonstre a existência de repercussão geral e se manifeste sobre a questão constitucional. Possibilidade do STF remeter o Recurso Extraordinário para ser julgado pelo STJ, como Recurso Especial. Princípio da Proibição da Reformatio in Pejus Ainda que não exista previsão expressa no ordenamento pátrio a esse respeito, não existe dúvida de que o direito brasileiro adotou o princípio da proibição da reformatio in pejus, de forma que na pior das hipóteses para o recorrente a decisão recorrida é mantida, não podendo ser alterada para piorar sua situação. Pela aplicação do princípio ora http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art1021%C2%A71 Princípios Recursais 11 analisado, na pior das hipóteses para o recorrente tudo ficará como antes da interposição do recurso. NEVES, p. 1596. Exceções: a) Quando também há recurso da parte contrária; b) Quando a matéria analisada em grau recursal é de ordem pública → o magistrado pode decidir de ofício. Princípio da Complementaridade No direito processual civil as razões recursais devem ser apresentadas no ato de interposição do recurso, não se admitindo que o recurso seja interposto num momento procedimental e as razões apresentadas posteriormente, como ocorre no processo penal. Aplica-se a preclusão consumativa no momento da interposição de recurso, de forma que, após esse momento, é vedado ao recorrente complementar seu recurso já interposto com novas razões. Nem mesmo o falecimento do recorrente permite a complementação, por seu sucessor, do recurso já interposto. Caso nenhuma fundamentação tenha sido feita, o recurso é inadmissível, e, sendo incompleta ou falha a fundamentação, somente esta será apreciada pelo órgão julgador competente para o julgamento do recurso. NEVES, p. 1599. Pelo princípio da complementaridade, consagrado expressamente no art. 1.024, § 3°, do Novo CPC, a parte recorrente poderá complementar as razões de recurso já Princípios Recursais 12 interposto sempre que no julgamento dos embargos de declaração opostos pela parte contrária for criada uma nova sucumbência. Essa complementação, entretanto, será limitada à nova sucumbência, de forma que, sendo parcial o recurso já interposto, não poderá o recorrente aproveitar-se do princípio para impugnar parcela da decisão que já deveria ter impugnado originariamente. NEVES, p. 1600. ⚖ CPC Art. 1.024. O juiz julgará os embargos em 5 (cinco) dias. § 3º O órgão julgador conhecerá dos embargos de declaração como agravo interno se entender ser este o recurso cabível, desde que determine previamente a intimação do recorrente para, no prazo de 5 (cinco) dias, complementar as razões recursais, de modo a ajustá-las às exigências do art. 1.021, § 1º . Princípio da Consumação Como ocorre no princípio da complementaridade, também o princípio da consumação tem como fundamento a preclusão consumativa que se verifica no ato de interposição do recurso. A diferença entre os dois princípios é que o primeiro trata, de complementação de um recurso já interposto, enquanto o segundo proíbe que, interposto um recurso, este seja substituído por outro, interposto posteriormente, ainda que dentro do prazo recursal. NEVES, p. 1600. No caso de interposição de um recurso, extingue-se o direito recursal, de forma que, caso o recorrente interponha recurso posterior, este último não estará amparado em direito algum, o que o torna juridicamente inexistente; http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art1021%C2%A71Princípios Recursais 13 Não é possível interpor um segundo recurso, porque ocorreu a preclusão consumativa do recurso anterior. Princípio da Primazia do Julgamento do Mérito Recursal ⚖ CPC Art. 4º As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa. O Novo Código de Processo Civil, em concretização do princípio consagrado em seu art. 4°, deixa claro que o objetivo de se julgar o mérito recursal só deve ser abandonado em hipóteses excepcionais, nas quais o vício formal não possa ser corrigido ou que influa de forma decisiva na impossibilidade, jurídica ou material, de julgamento do mérito. NEVES, p. 1602. Princípio da Pessoalidade dos Recursos Em regra, só aproveitam do recurso as partes que recorrerem; Exceção → hipóteses de litisconsórcio.
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