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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE (UFF) DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO MONOGRAFIA DE FINAL DE CURSO MATHEUS ESTEVES RODRIGUES A IMPORTÂNCIA DAS PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL Niterói/RJ 2022 MATHEUS ESTEVES RODRIGUES No. de matrícula: 817023048 A IMPORTÂNCIA DAS PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL Trabalho de Conclusão do Curso apresentado ao Curso de Graduação em Administração do Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Administração. Orientador: Prof. Fábio Roberto Barbolo Alonso “Declaro que o presente trabalho é de minha autoria e que não recorri para realizá-lo, a nenhuma forma de ajuda externa.” _________________________________________________________ Niterói/RJ 2022 AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer aos meus familiares, em especial a minha mãe Elisabeth, por todo o apoio e pela ajuda, que muito contribuíram para a realização deste trabalho. As opiniões expressas neste trabalho são de responsabilidade única e exclusiva do autor. RESUMO No cenário econômico brasileiro as parcerias público-privadas (PPP) ganham papel de destaque quando o tema é a infraestrutura, ou seja, mais especificamente saneamento básico. O Estado tem recorrido a esta modalidade de contrato com o setor privado para levar à população, principalmente, água e esgoto sanitário. Neste trabalho de conclusão do curso de Administração é feita análise do atual panorama nacional, dos pontos de vista administrativo, legal, político e prático, tomando como exemplo o município paulista de Piracicaba. Este trabalho é recomendado como base para futuros trabalhos sobre o tema. Palavras-chave: Administração; contratos; parceria; público; setor privado; infraestrutura. SUMÁRIO 1 Introdução 8 1.1 Metodologia 11 2 O ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL 11 2.1 O Estado Liberal e o neoliberalismo 13 3 As PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS 14 3.1. Criação e Evolução de PPP 14 3.2. PPP no Brasil 15 4. ESTUDO DE CASO: O MOMENTO HISTÓRICO BRASILEIO 19 4.1 Infraestrutura no Brasil 20 4.2. O Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) e o Novo Marco do Saneamento Básico 24 4.3. A Parceria Público-Privada no Saneamento de Piracicaba/SP 26 4.4. O Contrato e a estrutura do Projeto 36 5. O FUTURO DAS PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS NO SANEAMENTO DO BRASIL 38 6. CONCLUSÃO 40 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 42 Lista de Ilustrações e Tabelas Figura 1: Tabela do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) .... 22 Figura 2: Efeitos negativos da falta de saneamento básico …………………………..23 Figura 3: Valorização ambiental em Piracicaba/SP ………………………………….26 Figura 4: Site do Semae ………………………………………………………………27 Figura 5: Semae informa …………………….……………………………………….27 Figura 6: Canal de comunicação do Semae ………………………………………….29 Figura 7: Ranking de Saneamento, segundo o Instituto Trata Brasil ..........................31 Figura 8: Portal da Transparência - Despesas e Receitas - Despesas (Semae) ……….36 8 1 INTRODUÇÃO Este trabalho propõe-se a realizar uma análise criteriosa de uma recente modalidade para a provisão de serviços públicos no Brasil, a Parceria Público Privada (PPP). Criada no início da década de 90, no Reino Unido, é adotada em diversos países, mas somente em 2004 foi introduzida no Brasil com a Lei nº 11.079, que ficou conhecida como a Lei da PPP, cujo alicerce são os modelos vencedores construídos na Inglaterra. Diante de uma profunda crise econômica que permeia o Brasil e consequentemente seu poder de investimentos, a Lei vem como mais uma forma de catalisar maiores parcerias entre as iniciativas públicas e privadas. Após árduo esforço de diversas instituições no Brasil que, por muitos anos, vêm se dedicando a aprimorar o ambiente brasileiro de PPPs. O Brasil vive um momento histórico, com o recente avanço do modelo no que tange principalmente a Infraestrutura do país. Devido ao crescimento da sociedade e suas necessidades, os Estados vêm precisando agir cada vez mais rápido nas áreas de serviços e infraestrutura. No entanto, o Estado como conhecemos tende a ser por muitas vezes pesado e engessado não conseguindo assim acompanhar tais anseios e demandas da sua população. Eis que surge a necessidade de maior agilidade e maior eficiência em tais aspectos. Para tanto, as iniciativas públicas e também as privadas vêm buscando unir forças com o intuito de buscarem maiores entregas e de melhor maneira para o bem-estar da sociedade. No Brasil, essa diminuição do Estado e maior entrada do capital privado na coisa pública - que deriva do latim RES PUBLICA (aquilo que diz respeito ao interesse público de todos os cidadãos) - tiveram maior aceleração na década de 90 com as privatizações e maiores contratos de concessões tais como Vale, linhas telefônicas, licitações de rodovias, entre outros. Uma das maiores dificuldades para o desenvolvimento econômico do Brasil atualmente é a precariedade da infraestrutura (VELASCO, 2020.). Um exemplo é o saneamento básico do país, onde grande parte da população brasileira não possui rede de saneamento básico até suas casas, segundo pesquisa do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), referência 2018. 9 As PPPs consistem em uma associação entre o governo e a iniciativa privada, permitindo estudo, planejamento e realização de grandes projetos tendo como um ganho muito relevante a não oneração imediata dos cofres públicos. A grande vantagem é que o agente privado realiza este investimento up-front e o governo tem como papel a amortização no decorrer do contrato vigente. Deve-se levar em conta outro grande benefício quanto à transparência e eficácia, pois muitos dos contratos são vinculados à remuneração baseada em desempenho da concessionária. O modelo de Parcerias Público-Privadas é considerado uma alternativa inovadora, para projetos tidos como de grandes investimentos e de longo prazo. Projetos de longo prazo de implementação e execução levam consigo muitos riscos. Baseado nesta premissa, o Estado tem como prática disponibilizar garantias e fazer aportes de recursos para atrair a iniciativa privada para estes contratos. Este modelo possui uma mudança bastante marcante quanto à natureza do papel do Estado, onde este passa a exercer um papel fiscalizador em detrimento do papel de operador do serviço. A divisão de responsabilidades e capacidade de entrega entre o setor público e o privado alcança um ganho de eficiência natural, na medida em que ambos otimizam a sua participação no que forem mais capazes de entregar. Desta forma menores custos e maior qualidade nas entregas chegam até o maior beneficiado, a população. Os benefícios das parcerias público-privadas são muito evidentes para o desenvolvimento de um país, desde que haja atenção em alguns pontos, tais como, ambiente político, social, regulatório, macroeconômico e técnico do país. Na medida em que, caso haja situações que possam desestabilizar a iniciativa, a cautela deve ser redobrada ou haverá risco de comprometimento dos orçamentos futuros dos cofres públicos, pressionando tanto a parceria quanto a opinião pública. Um dos objetivos deste trabalho é fazer uma análise sobre a revolução silenciosa no Brasil a partir da evolução das PPP´s focadas principalmente em infraestrutura. É sabido que faltam recursos financeiros no país, a poupança é pequena e há sempre dependência do investimento externo, aquele em que o capital é pesado e busca retorno. As empresas estrangeiras têm interesses, pois afinal, são investidoras. Com vários fatores de risco, o Brasil não é um país muito atraente para investimentos. Vale destacar, por exemplo, o risco social (desigualdade entre as classes), o risco econômico 10 (volatilidadedas taxas, inflação e outras variáveis), o risco moral (corrupção) e ainda os riscos político, legal, fiscal etc. Os capítulos seguintes serão dedicados à base teórica para o desenvolvimento do tema e irão abordar o conceito de PPP, sua origem como alternativa para viabilizar projetos de infraestrutura, e condições institucionais e instrumentais para o êxito dos projetos. Entre as diversas vantagens deste tipo de parceria vale destacar a interação entre os setores público e privado na realização dos projetos (como o aumento da qualidade e eficiência nos serviços prestados, maior transparência dos gastos públicos e redução da pressão orçamentária). Neste trabalho também será analisada a legislação brasileira associada às diversas formas de delegações de serviços públicos, de modo a diferenciar a PPP das demais modalidades. E o case em questão é o momento histórico vivido pelo Brasil, que tem registrado mais e maiores investimentos, inclusive internacionais, para a infraestrutura do país. No último capítulo será analisado o futuro da PPP no Brasil, feitas as considerações finais e a conclusão do presente trabalho. 11 1.1 Metodologia A pesquisa para elaboração deste trabalho foi feita seguindo os três tipos de natureza: exploratório, descritivo e explicativo. O primeiro foi um mergulho no tema saneamento básico, investimentos, efeitos, história… Descritivo porque foi feita análise tanto do momento político nacional quanto da situação na cidade de Piracicaba/SP, escolhida como case, e a relação com variáveis. E também explicativo devido ao retrato apresentado do momento atual. Foi um verdadeiro mergulho na literatura, papers, material jornalístico, portais, sites e blogs, fundamentais e absolutamente necessários em tempos de pandemia, quando os encontros pessoais devem ser evitados. Na web, pesquisei, revisei literatura em fontes primárias e secundárias. A pesquisa começou pelas páginas do Governo Federal (AGU e ministérios), passou por especialistas nas áreas jurídica, meio ambiente, economia e de infraestrutura, e terminou na cidade do interior paulista. Com conceitos, ideias e muitos números, os resultados desta pesquisa são aqui apresentados de forma qualitativa e também quantitativa. 2 O ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL Os trabalhadores das fábricas do século XIX enfrentavam longas jornadas de trabalho. Jornadas extenuantes de mais de 12 horas diárias por muitas vezes insalubres. Não possuíam descanso remunerado, como férias e descanso semanal, além de não terem previdência e uma remuneração satisfatória que lhes permitisse uma vida digna. A fome era parceira de jornada e no caso dos desempregados um mal ainda maior. Na passagem do século XIX para o século XX, surgiram teorias que defendiam que o Estado deveria ser o provedor do bem-estar mínimo para a população em geral. A primeira grande teoria a defender essa prática foi promovida pelo estadista alemão Otto von Bismarck, na Alemanha, em 1880. Bismarck foi o responsável por unificar os reinos germânico e o prussiano na grande nação alemã. Bismarck tinha como proposta uma nova alternativa a todas já vistas até então, a ideia consistia em ser uma política alternativa ao liberalismo econômico e ao socialismo. https://brasilescola.uol.com.br/biografia/otto-von-bismarck.htm https://brasilescola.uol.com.br/biografia/otto-von-bismarck.htm 12 Havia, na política bismarckiana, um controle estatal sobre a economia e a gestão dos recursos recebidos por meio de impostos era responsável por distribuir os recursos em benfeitorias para a população. (PORFIRIO, 2002.) No século XX, John Maynard Keynes, um economista inglês, revolucionou a política econômica mundial ao propor um novo sistema que segue os passos da promoção do bem-estar social. A macroeconomia, era regida até a década de 1930, pela teoria econômica neoclássica, essencialmente liberalista. Para Keynes, o Estado deve regular a economia, regulando os salários e os direitos dos trabalhadores, além de atuar como um órgão que cobra impostos de todos, inclusive dos empresários, e reverte esses impostos em serviços para a população, criando um Estado de bem-estar social. (PORFIRIO, 2002.) A Segunda Guerra Mundial, à medida em que deixou nações e economias destruídas e sua população à mercê de miséria, fome, alastramento de doenças, e crescimento exponencial da violência e da desigualdade social, serviu como terreno para que esta nova forma proposta tivesse mais adeptos nos países ocidentais. O objetivo do Estado de bem-estar social é o de garantir aos cidadãos a plena igualdade de oportunidades e a distribuição justa das riquezas. Cabe, assim, ao Estado ser o responsável pelos cidadãos que não possuem condições mínimas e dignas para viver. Auxílios, subsídios e outras concessões são as fórmulas empregadas para alcançar a população. Políticas públicas são outras ações tomadas por governos que visam a garantia de direitos. A regulação pública da economia, em sentido amplo, consiste num conjunto de medidas convencionadas de natureza legislativa e administrativa, por meio das quais os poderes públicos, diretamente ou mediante delegação, determinam, controlam ou influenciam o comportamento dos agentes econômicos, com o objetivo de evitar que tais comportamentos gerem efeitos danosos aos interesses socialmente legítimos, bem como de orientá-los no sentido de serem socialmente desejáveis (MARQUES, SANTOS, GONÇALVES, 2014, p. 207) No Brasil, os direitos estão garantidos na Constituição Federal de 1988, e as políticas públicas são mecanismos do Poder Executivo (às vezes, em parceria com a iniciativa privada) para colocar em prática os direitos garantidos por lei. https://brasilescola.uol.com.br/historiag/segunda-guerra-mundial.htm https://brasilescola.uol.com.br/historiab/constituicao-1988.htm 13 Um exemplo de política pública alicerçada na ideia de bem-estar social é a política de educação brasileira, na medida em que todo cidadão possui acesso gratuito à educação básica desde que assim o queira. 2.1 O Estado Liberal e o neoliberalismo Sabe-se que o liberalismo, ou liberalismo clássico, foi um conjunto de doutrinas econômicas e reflexões políticas que vigorou entre os séculos XVIII e XIX, influenciando uma grande geração de intelectuais e políticos. Adam Smith e David Ricardo estão entre os principais nomes da tradição liberal clássica. O termo neoliberalismo, a princípio, deveria indicar apenas uma simples renovação ou uma reafirmação das doutrinas liberais, entretanto, não é bem assim. (FERNANDES, 2022). Os neoliberais (ou “novos liberais”) da virada do século XIX para o início do século XX possuíam certa interferência de ideologias mais à esquerda e pendiam a uma posição socialmente reformista e intervencionista, o que ia contra as bases do pensamento liberal clássico. Esses “novos liberais” ainda davam especial ênfase nas políticas de justiça social e em práticas reformadas de controle estatal da economia, expressando, segundo José Guilherme Merquior, um desejo de substituir a economia do laissez-faire (“deixe fazer”), isto é, da livre iniciativa.(FERNANDES, 2022) A partir da década de 1960, as economias de grandes nações como Estados Unidos e Inglaterra começaram a passar por momentos mais complexos, dando espaço a ideias mais próximas aos Neoliberais, fundamentadas principalmente por economistas da Escola Austríaca, como Ludwig von Mises, e, principalmente, da Escola de Chicago, como Milton Friedman.Na década de 1970, líderes como Margaret Thatcher, chefe de governo britânica e Ronald Reagan, dos Estados Unidos, defendem a diminuição do Estado na economia. A teoria neoclássica, entende que o livre mercado gera empregos e que os empregos são suficientes para solucionar os problemas sociais. Segundo (Fernandes 2022), no Brasil o termo neoliberal após os anos de 1990 foi associado à política das privatizações pelos críticos de posição de esquerda, que qualificavam tais medidas como “entreguismo”, ouseja, a “entrega” das riquezas da nação a potências https://www.todamateria.com.br/margaret-thatcher/ 14 estrangeiras. Já os mais alinhados à corrente liberal clássica não enxergaram tais medidas como sendo propriamente liberal, sendo apenas uma forma menos ostensiva de controle estatal sobre a economia. 3 As PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS Elas vieram para ficar, principalmente nos países que dependem de investimentos e expertises. 3.1. Criação e Evolução de PPP Foi em 1992, na Inglaterra, durante o governo de John Major, que surgiu a PPP. O governo inglês lançou o Private Finance Iniciative (PFI), um programa de parcerias com a finalidade de promover a modernização da infraestrutura e a eficiência dos serviços públicos. No entanto, somente durante o governo de Tony Blair, anos depois, o programa foi rebatizado de Parceria Público-Privada (PPP). O Tesouro Britânico o definiu assim: As Parcerias Público-Privadas (PPP) são arranjos caracterizados pelo trabalho conjunto entre o setor público e privado. No sentido mais amplo, as PPP podem abranger todos os tipos de colaboração através da interface entre os setores público e privado para proporcionar políticas, serviços e infraestrutura. Se a entrega dos serviços públicos envolve investimentos do setor privado em infraestrutura, a forma mais comum de PPP é a Iniciativa de Financiamento Privado (HM TREASURY, 2008, tradução nossa). O período de privatizações, além de aliviar em parte as finanças públicas e além disso transferir companhias do Estado para o setor privado, gera uma ampliação da capacidade produtiva de determinados setores da infraestrutura. Mas o resultado das privatizações no Reino Unido teve conclusões diversas. Se nos setores mais competitivos foi verificado um ganho de eficiência na atividade das empresas, redução nos preços e custos e melhores serviços ao consumidor, também foram registrados 15 casos de baixo valor de venda das empresas, preços ao consumidor elevados e a qualidade dos serviços prestados ficou aquém das expectativas dos consumidores. Isto se deu principalmente nos monopólios. Algumas das principais privatizações no Reino Unido se deram da seguinte forma: British Telecom em 1984, British Gas em 1986, British Airways em 1987, sistema de água e de tratamento em 1989, sistema de geração e distribuição de eletricidade em 1990/91 e sistema ferroviário em 1994. (PARKER, 2007]). De 1992 a 2011 foram firmados 920 contratos de PPP/PFI no Reino Unido, segundo dados da Partnerships UK (2012). A maior parte dos contratos foi nos setores de saúde, educação, transporte e habitação, com investimento total de 72 bilhões de libras. A experiência inglesa com tantos projetos de parceria vem servindo até hoje como referência mundial na padronização, estruturação, agilidade, eficiência e transparência dos contratos de concessão. As PPPs vêm atingindo grande protagonismo, muito por conta de uma tendência mundial de enfraquecimento ou redução do papel do Estado. O fato de não haver qualquer tipo de desembolso por parte do Estado, neste primeiro momento, e, com isso, ser possível desenvolver várias iniciativas de forma simultânea fez com que diversos países adotassem o modelo britânico. A implementação do modelo é motivada de um lado por parte do poder público, devido aos anseios da prestação de forma mais eficiente de serviços aos contribuintes e do outro lado, por parte das empresas com o desejo da expansão de mercado e assim atingimento de maior market-share e lucro para si e seus acionistas. O contrato de concessão tem como base a divisão de deveres e responsabilidades quanto ao projeto, planejamento e execução do projeto tendo como contrapartida o direito de cobrança de tarifas dos usuários ou recebimento do Estado. Esta dinâmica divide os riscos e os benefícios entre as partes. 3.2. PPP no Brasil No Brasil, as duas formas existentes até a lei nº 11.079/2004 que instituiu normas gerais para licitação e contratação de parceria público-privada no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, eram a 16 privatização e a concessão comum como forma de unificar negócios entre a iniciativa privada e o Estado. A lei nº 11.079/2004 estabelece que as Parcerias Público-Privadas podem ser de dois tipos: Patrocinada, em que há recurso público e cobrança de tarifa por parte do usuários; Administrativa, ou seja, quando o pagamento aos prestadores de serviço é realizado de forma integral pelos cofres públicos. Sendo esta, a principal diferença para a Concessão Comum. Na Concessão Comum a tarifa cobrada do usuário e outras receitas da administração são suficientes para remunerar o prestador de serviços, ou seja, o governo não precisa contribuir financeiramente. Já na Privatização o bem público é vendido para a iniciativa privada que será responsável a partir de então por quaisquer investimentos e formas de gestão e obtenção de receita. Ao contrário do que ocorre nas privatizações, as parcerias público-privadas não importam em alienação definitiva do controle da política pública. E os contratos de parceria têm abrangência maior em relação aos objetos cuja delegação é permitida. Privatização e parceria público-privada são contratos administrativos distintos e não se confundem. Segundo a Lei nº 11.079/2004, o entendimento de parceria público-privada se dá em um contrato de prestação de serviços de médio e longo prazo (de 5 a 35 anos) firmado pela Administração Pública e regulado cujo valor não seja inferior a dez milhões de reais, sendo vedada a celebração de contratos que tenham por objeto único o fornecimento de mão-de-obra, equipamentos ou execução de obra pública. Na PPP, a implantação da infraestrutura necessária para a prestação do serviço contratado pela Administração dependerá de iniciativas de financiamento do setor privado e a remuneração do particular será fixada com base em padrões de performance e será devida somente quando o serviço estiver à disposição do Estado ou dos usuários. Dos contratos devem constar as penalidades, remuneração e reajuste, critérios de avaliação do parceiro e, ainda, as garantias para execução da obra e/ou serviço. Ainda na lei, segundo o artigo primeiro, parceria público-privada é o contrato administrativo de concessão, na modalidade patrocinada ou administrativa. Sendo a modalidade patrocinada definida como a concessão de serviços públicos ou de obras 17 públicas de que trata a Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, quando envolver, adicionalmente à tarifa cobrada dos usuários contraprestação pecuniária do parceiro público ao parceiro privado. A parceria público-privada na modalidade administrativa é definida ainda em artigo primeiro da lei, como contrato de prestação de serviços de que a Administração Pública seja a usuária direta ou indireta, ainda que envolva execução de obra ou fornecimento e instalação de bens. Na contratação das parcerias, algumas diretrizes são observadas como premissas para que se tenha sucesso e foco em nortear os negócios e contratos. Sendo no artigo quarto, possível constatar algumas delas: I – eficiência no cumprimento das missões de Estado e no emprego dos recursos da sociedade; II – respeito aos interesses e direitos dos destinatários dos serviços e dos entes privados incumbidos da sua execução; III – indelegabilidade das funções de regulação, jurisdicional, do exercício do poder de polícia e de outras atividades exclusivas do Estado; IV – responsabilidade fiscal na celebração e execução das parcerias; V – transparência dos procedimentos e das decisões; VI – repartição objetiva de riscos entre as partes; VII – sustentabilidade financeira e vantagens socioeconômicas dos projetos de parceria A concessão de rodovias é uma das principais experiências brasileiras na efetivação de contratos de parceria público-privada. Milhares de quilômetros da malha rodoviária brasileira são gerenciados por concessionáriasprivadas. Todas elas constituídas em Sociedades de Propósito Específico. Antes mesmo da lei, já ocorria no Brasil a associação entre Estado e particular visando à satisfação de interesses públicos. O advogado Bruno Sanna Camacho, em artigo publicado no portal Migalhas, destaca a influência internacional e conclui o quanto é vantajoso: O contrato administrativo de parcerias público-privadas é considerado um meio eficaz na obtenção de recursos da iniciativa privada destinados a serviços públicos e setores de pouca viabilidade econômica quando prestados exclusivamente pelo Poder Público. Países como Inglaterra – no qual as parcerias público-privadas são denominadas Private Finance Initiative –, http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8987cons.htm 18 Portugal, Chile, além de outros países, já comprovaram a eficiência econômica da parceria e cooperação entre o particular e o ente da Administração Pública na prestação de serviços. Experiências internacionais comprovam a eficácia da atuação da iniciativa privada nas políticas públicas, com vantagens não somente econômicas como também práticas, em que o particular contratado detém condições de prestar um serviço público mais qualificado. Assim, interessa cada vez mais à sociedade a aproximação do Estado da iniciativa privada, direcionada à arrecadação de capital privado para investimento e financiamento de obras e serviços públicos. Portanto, dentre os contratos administrativos que possibilitam essa relação entre os setores públicos e privados, a parceria público-privada se destaca pelo compartilhamento dos riscos e pela arrecadação de valores elevados, assumindo fundamental importância nos investimentos em infraestrutura, e, de consequência, no crescimento econômico brasileiro. (MIGALHAS, 2008) Com o objetivo de facilitar a compreensão dos aspectos jurídicos e regulatórios das concessões e PPPs para Gestores Públicos, em 2016, a Frente Nacional de Prefeitos (FNP) e a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) lançaram o Guia para o Gestor Público sobre Concessões e Parcerias Público-privadas. Com 104 páginas, o trabalho é assinado por Fernando Vernalha Guimarães e quatro colaboradores. Vernalha é Doutor e Mestre em Direito Administrativo, autor de diversos livros na área de infraestrutura, dentre eles: Parceria Público-Privada (São Paulo: Saraiva, 2012) e Concessão de Serviço Público (São Paulo: Saraiva, 2012). Ele também foi Consultor da Unidade de PPP – Parceria Público-Privada do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Na apresentação do Gui, Aprofundar o conhecimento: Momentos de crise são portas abertas para o fracasso ou oportunidades para a construção de novos caminhos. Depende do olhar e da disposição de cada um. Acostumados com a repetição de ciclos de retração, os empresários brasileiros têm um instinto natural para arregaçar as mangas, enfrentar problemas e se reinventar. Nesse momento, em que o Brasil atravessa mais uma crise, a construção civil busca saídas e trabalha para recuperar seu desempenho. É nesse contexto que as modalidades de concessões e parcerias público-privadas (PPPs) entraram na agenda do setor e passaram a ser enxergadas como vetor para a abertura de um novo horizonte para a construção, ferramentas que abrem a possibilidade de recuperar a capacidade de investimento hoje sufocada pela crise. (...) A construção pode fazer muito pelo Brasil e está se preparando para disputar e executar obras nos diversos segmentos atendidos por concessões e PPPs. (...) Após um ciclo de 12 seminários em todo o país para debater esse tema com investidores, financiadores, representantes do governo, empresários e especialistas das diversas áreas partimos para uma nova fase, voltada a atacar os diversos gargalos identificados nesses encontros. Daremos continuidade ao ciclo de seminários para debater esse tema e capacitar os empresários do setor. Temos percorrido o país discutindo contratos, modelagem de projetos, questões jurídicas e cases para aprofundar o conhecimento e melhor preparar a entrada da construção nesse setor. O 19 objetivo é criar as condiçōes para o sucesso dos empreendimentos futuros, contribuindo para a criação de novos negócios para a construção civil. 4. ESTUDO DE CASO: O MOMENTO HISTÓRICO BRASILEIO O Brasil vive um momento histórico, uma revolução silenciosa com investimentos públicos em infraestrutura, criando um importante alicerce para o desenvolvimento sustentável de longo prazo do país em função dos programas de participação privada. Desta forma, afeta diretamente o desenvolvimento do país. A curto prazo, impacta a geração de empregos e renda e a médio e longo prazos, melhora a produtividade. Nos seis primeiros meses de 2020, houve uma série de licitações bem-sucedidas para a concessão de projetos para o setor privado. Os investimentos nos próximos anos serão na casa dos bilhões, inclusive de grupos estrangeiros. Além de ajudar a resolver os problemas econômicos enfrentados pelo país, a competição atrai investimentos e tecnologia estrangeira. Entre os anos de 1995 e 2020, quase 50% do investimento privado em infraestrutura de energia, água, telecomunicação e transporte da América Latina e cerca de 25% em todo o mundo foram feitos no Brasil, segundo o Private Participation in Infrastructure Data base (PPI) do Banco Mundial. Apesar de a participação privada em infraestrutura não ser novidade no Brasil, o momento vivido é diferente, com projetos mais vultosos e em maior número e chegando a setores não tradicionais, como projetos de saúde, parques e até mesmo penitenciárias. Cada vez mais estados e municípios buscam PPPs e concessões para sua política de investimento e serviços. O ambiente brasileiro de PPPs e concessões vem sendo aprimorado há alguns anos, envolvendo diversas instituições: o Ministério da Economia, o Ministério da Infraestrutura, de Minas e Energia e do Desenvolvimento Regional; as agências reguladoras, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a Caixa Econômica Federal (CEF), os diversos programas estaduais e municipais além dos Bancos Multilaterais, culminando com o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI). https://ppi.worldbank.org/en/ppidata https://ppi.worldbank.org/en/ppidata 20 4.1 Infraestrutura no Brasil Em julho de 2020 foi sancionado o novo Marco Legal do Saneamento Básico, que prevê até 2033 que 99% da população brasileira tenha acesso à água potável e 90% ao tratamento e coleta de esgoto. A infraestrutura ainda está muito atrasada. O Brasil está em 78º lugar no ranking de Infraestrutura do Fórum Econômico Mundial, atrás de todos os outros membros do BRICS (Rússia, Índia, China e África do Sul) e de vários países da América Latina como a Argentina, a Costa Rica e o Panamá. O Relatório Infra 19 defende que os investimentos sejam de R$ 150 bilhões a R$ 200 bilhões durante os próximos 15 ou 20 anos para chegar próximo aos países desenvolvidos. No entanto, são destinados 37% do PIB, enquanto deveriam ser de 50% a 60%. Historicamente os investimentos são de menos de 2% do PIB em infraestrutura. Enquanto isso, quase metade dos brasileiros continua sem acesso a sistemas de esgotamento sanitário, o que significa que quase 100 milhões de pessoas (47% da população) usam fossa ou jogam o esgoto diretamente em rios. Apenas 46% dos esgotos gerados são tratados. Além disso, mais de 16% da população, ou quase 35 milhões de pessoas, não têm acesso à água tratada. Os números são do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) e refletem a atual situação dos serviços básicos no país e referem-se ao ano de 2019. 21 No blog da BRK Ambiental - a maior empresa privada de saneamento do Brasil - o engenheiro e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Herbert Dantas chama atenção para as chamadas obras invisíveis: Muitas vezes não nos damos conta de como o saneamento básico é essencial em nossas vidas, pois a maior parte da sua estrutura não está visível. As tubulações estão enterradase as estações de tratamento de água e esgoto costumam operar em áreas mais afastadas das cidades, portanto não são vistas diariamente e, por isso, são pouco lembradas. Esse é um dos motivos para vermos muito mais reparos e investimentos sendo feitos em estradas, revitalizações de áreas urbanas, práticas de zeladoria pública, construções de escolas e hospitais do que obras de saneamento básico. (DANTAS, 2019) O serviço de saneamento básico pode ser prestado por empresas públicas ou privadas e também em parceria entre essas duas frentes, ou seja, a PPP. Apesar do quadro estar mudando nos últimos anos, desde a Constituição Federal de 1988, as políticas de saneamento passaram a ser concentradas no âmbito municipal. São pelo menos 50 anos de movimentos e iniciativas na busca por soluções para a questão do saneamento no Brasil. Na opinião de Dantas, isso significa que: O setor tem perdido em escala e planejamento e só irá avançar e chegar a todos os brasileiros com um volume de investimentos na casa das centenas de bilhões de reais. Aliada à questão de investimentos insuficientes no setor de saneamento, temos a falta de uma regulação unificada, a exemplo do que existe nos setores de telecomunicações e energia elétrica. Se outros setores foram capazes de viabilizar a universalização do acesso aos serviços públicos, porque o saneamento, que é tão importante para a saúde e o desenvolvimento socioeconômico da população, segue com índices e problemas do século XIX? (DANTAS; 2019.) Figura 1: Tabela do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) 22 Fonte: http://www.snis.gov.br/painel-informacoes-saneamento-brasil/web/painel-setor-saneamento Um outro ponto que chama atenção, é o fato de milhões de reais serem desperdiçados todos os anos devido a muitas infraestruturas no país serem ineficientes tanto na operação quanto no seu papel social, que também dependem de uma infraestrutura mínima de qualidade. Essa mudança de entendimento – de volume de investimentos, a qualidade de serviços – e o que realmente irá impactar a longo prazo e http://www.snis.gov.br/painel-informacoes-saneamento-brasil/web/painel-setor-saneamento 23 um maior valor pelo mesmo dinheiro investido, ou seja, são os impactos sociais, econômicos e ambientais. Figura 2: Efeitos negativos da falta de Saneamento Básico Fonte: https://www.painelsaneamento.org.br/docs/nota_tecnica_05.pdf O planejamento e a estruturação de bons projetos de infraestrutura são ações fundamentais para provisão de serviços públicos de qualidade à população, tais como água potável, esgoto, educação, saúde, energia elétrica e transporte. https://www.painelsaneamento.org.br/docs/nota_tecnica_05.pdf 24 4.2. O Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) e o Novo Marco do Saneamento Básico Com a finalidade de ampliar e fortalecer a interação entre o Estado e a iniciativa privada por meio da celebração de contratos de parceria e de outras medidas de desestatização foi criado o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) pela Lei nº 13.334, de 2016. Uma vez que os empreendimentos forem qualificados no Programa de Parcerias de Investimentos, eles serão tratados como prioridade nacional. Os órgãos e entidades envolvidos devem atuar para que os processos e atos necessários à estruturação, liberação e execução do projeto ocorram de forma eficiente e econômica. De acordo com o Portal do Governo Federal, são os objetivos do programa: • Ampliar as oportunidades de investimento e emprego e estimular o desenvolvimento tecnológico e industrial, em harmonia com as metas de desenvolvimento social e econômico do País; • Garantir a expansão com qualidade da infraestrutura pública, com tarifas adequadas aos usuários; • Promover ampla e justa competição na celebração das parcerias e na prestação dos serviços; • Assegurar a estabilidade e a segurança jurídica dos contratos, com a garantia da mínima intervenção nos negócios e investimentos; • Fortalecer o papel regulador do Estado e a autonomia das entidades estatais de regulação. No estado do Rio de Janeiro, foi assinado, em agosto de 2021, o maior contrato de concessão de saneamento do país. E o leilão da Cedae servirá de modelo para novos processos pelo Brasil. A concessão dos serviços de água e esgoto terá duração de 35 anos, com possibilidade de prorrogação desse prazo. O leilão dos serviços da Cedae foi dado como garantia do estado do Rio de Janeiro para aderir ao Regime de Recuperação Fiscal, em 2017, com o congelamento do pagamento da dívida com a União por três anos. 25 O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), seguirá o modelo realizado no leilão da CEDAE, considerado um sucesso por especialistas. Nos próximos cinco leilões pelo Brasil, cada licitação vai seguir um modelo diferente, dependendo da área. Algumas serão feitas por meio de concessão plena, que inclui produção e distribuição de água e esgoto, outras serão feitas por meio de Parcerias Público-Privadas (PPP) de esgoto ou a concessão apenas da distribuição. Atualmente o setor privado está presente em cerca de 7% dos municípios brasileiros, atendendo a 30 milhões de pessoas. A expectativa é que em 10 anos a participação das cidades mais do que dobre devendo chegar entre 40% e 50%. (EXAME, 2021) Com foco em levar água tratada para praticamente todos os lares brasileiros, o Governo Federal no dia 15 de julho de 2020, sancionou o Novo Marco do Saneamento Básico.O principal objetivo da legislação é universalizar e qualificar a prestação dos serviços no setor. A meta do Governo Federal é alcançar a universalização até 2033, garantindo que 99% da população brasileira tenha acesso à água potável e 90% ao tratamento e à coleta de esgoto. Segundo o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, a nova lei contribuirá, também, para a revitalização de bacias hidrográficas, a conservação do meio ambiente e a redução de perdas de água, além de proporcionar mais qualidade de vida e saúde à população, aquecer a economia e gerar empregos. Essa é uma conquista histórica que torna possível que todo brasileiro tenha acesso à água potável e ao esgoto tratado. A lei vai padronizar regras e dar segurança jurídica, algo que investidores do mundo todo aguardavam. Precisamos de investimentos em torno de R$ 500 bilhões a R$ 700 bilhões em 10 anos e só chegaremos a esse montante se somarmos esforços públicos e privados. (BRASIL, 2021, ONLINE) Cabe ressaltar que além de dignidade para a população, investimentos em saneamento básico estão ligados à prevenção de doenças causadas pela falta do serviço. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada R$ 1 investido em saneamento, deverá ser gerada economia de R$ 4 com a prevenção de doenças causadas pela falta do serviço. Os dados estão no portal do Governo do Brasil (Brasil, 2021, ONLINE) 26 No portal Painel Saneamento é possível visualizar a situação do saneamento de uma localidade, estado ou região. De forma simples e bastante didática são expostas as implicações sob os pontos de vista da saúde, educação, renda, ambiente e futuro. 4.3. A Parceria Público-Privada no Saneamento de Piracicaba/SP Estima-se que apenas cerca de 6% das cidades brasileiras são atendidas pela iniciativa privada. Em 2012, na cidade de Piracicaba, no interior paulista,o Serviço Municipal de Água e Esgoto (Semae), a prefeitura e a AEGEA Saneamento firmaram contrato de parceria público-privada no modelo administrativo por meio da concessionária Mirante com o intuito de universalizar o serviço de saneamento e a meta foi cumprida 2 anos depois. Figura 3: Valorização ambiental em Piracicaba/SP 27 Fonte: https://www.painelsaneamento.org.br/ As regras, serviços prestados, solicitações, ações do Semae, estatuto, resoluções, testes de qualidade da água e todo tipo de informação importante estão disponíveis em um site bem estruturado (www.semaepiracicaba.sp.gov.br). Este é também um importante canal de comunicação com a populaçãode Piracicaba, que pode acompanhar on-line tanto seus pedidos quanto a administração, seguindo as regras de transparência. A atual gestão começou em 2021 e vai até 2024. O presidente da autarquia é o engenheiro mecânico Maurício André Marques de Oliveira. Figura 4: Site do Semae Figura 5: Semae informa com clareza Normas para ligação de esgoto: (pdf modelo caixa de inspeção, gordura e areia) 1. O Semae só executará a ligação se a caixa de inspeção estiver pronta na saída da ligação interna, construída de alvenaria, com tijolo comum de barro (tijolo maciço, sem furos); 2. A tampa da caixa de inspeção deverá ficar no nível acabado da calçada, qualquer que seja o tipo de piso, devidamente marcada, para sua fácil localização; 3. A Caixa de Inspeção não poderá ser construída em concreto pré-moldado; https://www.painelsaneamento.org.br/ http://www.semaepiracicaba.sp.gov.br https://www.semaepiracicaba.sp.gov.br/arquivos/PadraoLigacaoEsgoto-2022.pdf 28 4. A tampa da Caixa de Inspeção deverá estar totalmente limpa e desobstruída de qualquer obstáculo; 5. A Caixa de Inspeção deverá estar localizada totalmente na calçada, junto ao alinhamento predial do imóvel (tolerância de 30 cm); 6. Em nenhuma hipótese as águas pluviais poderão ser lançadas no ramal interno de esgotos e, consequentemente, à rede pública de esgotos. Custos do serviço: - Ligação de Água: R$ 327,16* + R$ 6,03 taxa de expediente - Ligação de Esgoto: R$ 427,36* + R$ 6,03 taxa de expediente - Hidrômetro: R$ 76,63* - Asfalto: R$ 97,77* por m² (caso seja necessário quebrar asfalto) *Valores serão lançados na primeira fatura Prazo médio para execução da ligação: Área urbana: a) 3 (três) dias úteis para a vistoria ou orientação das instalações de montagem do padrão e, se for o caso, aprovação das instalações; b) 10 (dez) dias úteis para a ligação de água e 05 (cinco) dias úteis para a ligação de esgoto, contados a partir da data de aprovação das instalações e do cumprimento das demais condições regulamentares. Área Rural: a) 5 (cinco) dias úteis para a vistoria ou orientação das instalações de montagem do padrão e, se for o caso, aprovação das instalações; b) 15 (quinze) dias úteis para a ligação de água e 15 (quinze) dias úteis para a ligação de esgoto, contados a partir da data de aprovação das instalações e do cumprimento das demais condições regulamentares account_circle 29 Figura 6: Canal de comunicação do Semae A licitação e o respectivo contrato administrativo foram regidos pelas disposições constitucionais aplicáveis, pelas Leis Federais 11.445/07, 11.079/04 e 8.666/93; Lei Orgânica do Município de Piracicaba, Leis Municipais 6.132/07 e 1.657/69, bem como pelos Decretos Municipais N.º 828/69 e 14.184/11 Cerca de quatrocentas mil pessoas passaram a ser beneficiadas pela estratégia de universalização dos serviços em Piracicaba. A cidade ocupa a primeira posição, ao lado dos municípios paulistas de São Caetano do Sul e Rio Claro, nos índices de atendimento total de esgoto do Brasil, com 100% de cobertura, segundo o Ranking do Saneamento Básico 2020 – 100 Maiores Cidades do Brasil, elaborado pelo Instituto Trata Brasil (ITB). Édison Carlos, presidente executivo do Instituto Trata Brasil em entrevista para a revista Exame resumiu: Os ganhos da sociedade com a chegada dos serviços de saneamento são muitos, em especial a diminuição dos casos de doenças de veiculação hídrica que provocam internações por enfermidades como diarréia, cólera e leptospirose, e, consequentemente, a redução dos gastos com a saúde. As PPPs são uma das modalidades que possibilitam ampliar de forma mais acelerada os serviços de saneamento, pois a sinergia entre a empresa pública e a privada permite aproveitar o conhecimento e o histórico da primeira com 30 os recursos financeiros, a tecnologia, a gestão, a eficiência e a produtividade normalmente trazidos pela segunda..(EXAME, 2020) Pessoas mais saudáveis têm melhor aproveitamento na escola e no trabalho. Na sala de aula, por exemplo, menores que vivem onde não há saneamento apresentam 18% menos rendimento e a reprovação de quem tem acesso a estruturas adequadas é 44,2% menor do que os que não têm acesso. Os dados fazem parte da pesquisa Trata Brasil: Saneamento, Saúde, Educação, Trabalho e Turismo, desenvolvida pelo Instituto Trata Brasil em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV). O relatório apresentado pela GO Associados é assinado por Gesner Oliveira – Presidente da Sabesp, Ph.D. em Economia pela Universidade da Califórnia/Berkeley e professor da Fundação Getúlio Vargas-SP e da Universidade de Columbia nos EUA; Pedro Scazufca, especialista nas áreas de pesquisa econômica, regulação, defesa da concorrência, comércio, infraestrutura e modelagem de negócios; Beatriz Nogueira Margulies – Mestre em Administração de Empresas com ênfase em Finanças pela Universidade de São Paulo (USP) e atuação em projetos na área de infraestrutura com ênfase em saneamento básico. A concessionária Aegea, atende outras quatro concessões no mesmo formato. Além de Piracicaba, as cidades de Serra e Vila Velha, no Espírito Santo, e nove municípios que constituem a região metropolitana de Porto Alegre foram elaboradas no modelo de concorrência e leilão nos últimos anos. Tais parcerias auxiliam no alcance de metas locais nacionais e compromissos internacionais pela universalização da água e do esgoto. Figura 7: Ranking de Saneamento 31 32 Fonte: Instituto Trata Brasil, pág. 89: https://www.tratabrasil.org.br/images/estudos/itb/ranking_2020/Relatorio__Ranking_2020_18.pdf Mas, apesar dos bons serviços prestados, a população de Piracicaba vem fraudando o sistema de abastecimento de água e esgoto. De janeiro a novembro de 2021, foram 11.286 detectadas pelo Semae (Serviço Municipal de Água e Esgoto) e https://www.tratabrasil.org.br/images/estudos/itb/ranking_2020/Relatorio__Ranking_2020_18.pdf 33 pela Concessionária Mirante, contratada por meio da PPP (Parceria Público-Privada). Este número é 322% maior do que o verificado no ano anterior: 7.015, ou seja, 4.271 a menos nos 12 meses de 2020. Os dados foram divulgados no dia 5/01/2022, no site www.semaepiracicaba.sp.gov.br Popularmente conhecida como “gato na água” - fraude ou furto - foi a irregularidade com mais registros, totalizando 7.951 ordens de serviço para constatação da religação de água cortada por inadimplência, realizada sem o conhecimento do Semae. Vale lembrar que esta é uma prática criminosa passível de penalidade administrativa, bem como criminal, conforme artigo 155, do Código Penal. Adulterar o sistema de fornecimento de água é enquadrada como atentado contra o patrimônio. Mesmo que o gato tenha sido realizado por terceiros, quem é responsabilizado pela fraude é o usuário do imóvel. O lançamento indevido na rede de esgoto também é considerado fraude. Todo e qualquer artifício usado para alterar o consumo nos hidrômetros poderá ser considerado furto qualificado pelo emprego de fraude. A água é considerada um patrimônio público, mas muitas pessoas ignoram a lei e cometem irregularidades no consumo, chegando, inclusive, a danificar as redes. Isto provoca prejuízos para o Semae com perdas físicas e financeiras. O consumo excessivo de água pode afetar o cotidiano das cidades, com o desabastecimento. E há, ainda, o risco de contaminar a rede, ameaçando a qualidade da água distribuída e o meio ambiente. A maioria das irregularidades (7.951) é quando o usuário que teve a água cortada por inadimplência e religou a água sem solicitar ao Semae. O abastecimento interrompido apresenta consumo. Outro tipo de fraude (388 ocorrências) é o uso de meios que impedem que o hidrômetro registre o consumo. No ranking de irregularidades aparecem cúpulas perfuradas, água ligada diretamente na rede, hidrômetros invertidos, cavalete adulterado, além de fraude na rede coletora de esgoto. As multas vão de R$ 76 a R$ 10.426. De janeiro a novembro de 2021, foram aplicadas 1.127 multas,totalizando R$1.092.104,80. Em 2020, foram 267 multas por irregularidades, totalizando R$ 231.318,00. O valor da multa varia de acordo com a infração cometida, prejuízo causado e reincidência, conforme categoria do tipo da http://www.semaepiracicaba.sp.gov.br 34 ligação (residencial, comercial, industrial, horta e tarifa social) e conforme a classificação (leve, grave e gravíssima). Nas infrações leves o valor da multa é de 10 vezes o valor da tarifa mínima da categoria do usuário, para as infrações consideradas graves é 20 vezes o valor da tarifa mínima da categoria do usuário, e para as infrações gravíssimas, a multa é de 100 vezes o valor da tarifa mínima da categoria do usuário. A empresa realiza plantões para negociação das dívidas. E chega a dar desconto de 100% nos juros e multas para quem efetuar o pagamento à vista. Para de 7 a 12 parcelas o abatimento é de 80%. Mas o valor das parcelas não pode ser menor que R$ 46,88, que representam 25% de uma Unidade Fiscal do Município UFM). Formada por servidores, uma Comissão de Combate às Irregularidades foi criada no Semae com o objetivo de orientar, solicitar informações e coletar documentos sobre as irregularidades cometidas pelos usuários nas ligações de água e esgoto, esclarecendo e adotando, no caso de constatação de fraude nos sistemas, as penalidades previstas no Regulamento 137/2016 da Agência Reguladora Ares-PCJ, após o devido processo administrativo. Cabe à Concessionária Mirante - contratada por PPP - verificar as fraudes e posteriormente enviar os Termos para análise da Comissão do Semae. Após constatada a irregularidade, o usuário infrator será notificado por meio do Termo de Ocorrência para apresentação de defesa, de acordo com o Regulamento da Ares-PCJ. (Agência Reguladora dos Serviços de Saneamento das Bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí). Através de um contrato de PPP (Parceria Público-Privada), com validade de 30 anos, assinado em 11/06/2012, a Mirante tem compromissos com o poder público e a população piracicabana. A concessionária é uma empresa da AEGEA Saneamento e foi criada para elevar para 100% o índice de tratamento de esgoto e operar todo o sistema de esgotamento sanitário de Piracicaba, segundo a página na internet www.miranteppp.com.br. No entanto, há muitas críticas quanto ao contrato entre a Mirante e o Semae, a ponto dos vereadores de Piracicaba criarem uma Comissão Parlamentar de Inquérito, a CPI do Semae (Serviço Municipal de Água e Esgoto) A ideia é apurar as razões que levaram a antiga autarquia, considerada o “primo rico” da prefeitura, por seus balanços http://www.miranteppp.com.br 35 positivos estar operando no vermelho e correndo risco de ser fechada se não houver uma mudança no sistema de saneamento da cidade. Segundo a reportagem de Cristiane Bonin no Jornal de Piracicaba, de 21 de agosto de 2021, com o título CPI aponta que Semae está ‘no vermelho’ e pode fechar, a saúde financeira do Semae mudou desde que a PPP (Parceria Público-Privada) foi firmada com a empresa de esgotamento sanitário Águas do Mirante. O Semae não tinha dívidas e prestava um excelente serviço, antes da assinatura do contrato das gestões anteriores com a concessionária. Agora, vai ter que informar sobre a situação patrimonial, funcional, financeira e contábil da autarquia. Questionado pelos vereadores sobre os valores, motivos e as condições do contrato de PPP com a Mirante, o presidente do Semae, Maurício Oliveira respondeu: No meu entendimento, este contrato é ruim, não existe o ganha-ganha, só há ganho em um dos lados. Estamos conversando para ver o que pode ser revisto neste contrato, se é que ele pode ir adiante. Desconheço o motivo e que essa questão seria muito importante de ser feita aos gestores públicos do município à época. (OLIVEIRA, 2022) As informações estão disponíveis no Portal da Transparência, dentro da página do Semae. Figura 8: Portal da Transparência - Despesas e Receitas - Despesas (Semae) 36 Fonte: https://www.semaepiracicaba.sp.gov.br/?p=cG9ydGFs&t=cGxhbmVqYW1lbnRv À Mirante foi encaminhado ofício solicitando detalhes sobre a operação da empresa, demonstrativo de valores recebidos do Semae, balanço de receitas e outras informações. A presidente da CPI, vereadora Rai de Almeida (PT) destacou a necessidade de esmiuçar o contrato. A percepção dos presentes foi a de que o município acabou assumindo um contrato complexo e de difícil realização, e que tem comprometido a saúde financeira da autarquia, crise essa acentuada pelo déficit da arrecadação para manutenção dos seus serviços. (ALMEIDA, 2022) 4.4. O Contrato e a estrutura do Projeto Segundo contrato número 48/2012, concorrência número 01/2011 - Processo número 1687/2011 que dispõe sobre Parceria-Público Privada na modalidade https://www.semaepiracicaba.sp.gov.br/?p=cG9ydGFs&t=cGxhbmVqYW1lbnRv 37 administrativa para a concessão do serviço público de esgotamento sanitário com ampliação e modernização do sistema de esgotamento sanitário: Fará parte das obrigações da CONTRATADA, a recuperação, manutenção, ampliação e melhoria do sistema de hidrometria e as atividades de combate às fraudes na micromedição. Dentro dos termos contratuais, elaboração de projetos de engenharia, bem como das licenças ambientais. Obtenção dos recursos financeiros necessários à prestação do serviço e ampliação e modernização deste. O prazo do contrato será de 30 anos, contados a partir do primeiro dia útil subsequente ao seu de assinatura, podendo haver a prorrogação até o período máximo legalmente permitido, por interesse público ou pelo período necessário à eventual recomposição do equilíbrio econômico-financeiro. O serviço, deverá ser adequadamente prestado, de modo a atender às necessidades de interesse público. Considera-se a prestação de serviço adequado sempre que satisfazer as condições de regularidade, eficiência, segurança e continuidade. Durante a prestação dos serviços, a contratada terá ampla liberdade na direção de seus negócios, operação, investimentos, pessoal, serviços terceirizados, materiais e tecnologias, observadas as disposições do edital, do contrato e da legislação em vigor. A prestação do serviço pela contratada deverá ser pautada ao longo do contrato pela adequada operação, manutenção e modernização do sistema acordado, satisfazendo as condições de regularidade, continuidade, eficiência e atualidade como consta no inciso 7.3 do contrato. Visando a manutenção do padrão, atualidade e eficiência, no inciso 7.4 fica determinado que: As partes deverão a cada 4 anos, quando da revisão do Plano Municipal de Saneamento Básico, reavaliar as condições, parâmetros e indicadores dos serviços prestados, garantindo-se, caso ocorra qualquer alteração, a imediata manutenção do equilíbrio economico-financeiro do contrato. O valor do contrato e a dotação orçamentária ficaram definidas no valor estimado de R$ 1.268.485.431,00 ( um bilhão, duzentos e sessenta e oito milhões, quatrocentos e oitenta e cinco mil e quatrocentos e trinta e um reais.) e os recursos 38 orçamentários destinados ao pagamento das despesas criadas nos termos do contrato estão referenciados no Plano Plurianual e à conta de recursos próprios da contratante. Fará parte das obrigações da CONTRATANTE, como agente público e tendo como alicerce o contrato e a lei das parcerias público privadas, entre outras atribuições, como dispõe no parágrafo 11º: I. Cumprir e fazer cumprir as disposições do contrato. II. Fornecer dados e informações úteis para o cumprimento da parceria. III. Planejar, regular, controlar e fiscalizar a prestação dos serviços acordados. IV. Estimular a racionalização, eficiência e melhoria dos serviços. V. Exigir o cumprimento do contrato, a prestação do serviço de forma adequada, podendo aplicar penalidades, intervir na prestação dos serviços, retomá-lo e extinguir a concessão, nos casos e nas condições previstas neste contrato e na legislação pertinente. VI. Modificar,unilateralmente as disposições contratuais para melhor adequação ao interesse público. Como explicitado na lei de parcerias público privadas onde cabe ao estado ser o agente fiscalizador e o agente privado tendo dever de prover o melhor para a sociedade, dispõe no parágrafo 18 do contrato, sobre as penalidades cabíveis para ambas as partes. Multas diárias, suspensão e até mesmo extinção do contrato são algumas das penalidades aplicadas. 5. O FUTURO DAS PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS NO SANEAMENTO DO BRASIL O novo Marco Legal do Saneamento completou em julho de 2021 um ano desde a sua sanção pelo Presidente Jair Messias Bolsonaro. Segundo o Ministério do Desenvolvimento Regional - Mdr (2021) -, a meta do Governo Federal é atingir a universalização dos serviços de saneamento básico até 2033, garantindo desta forma 39 que aproximadamente 99% da população brasileira tenha acesso à água potável e 90%, ao tratamento e à coleta de esgoto. A capacidade de investimento do Governo Federal, dos estados e municípios, com recursos próprios ou provenientes de financiamentos, chega a R$ 7 bilhões por ano. No entanto, a necessidade do Brasil é dez vezes maior. Precisamos investir cerca de R$ 70 bilhões, anualmente, para ofertar serviços de saneamento de maneira universal até 2033. (MARINHO, 2021, Online). Com essa perspectiva é importante que o entendimento sobre o modelo fique claro. “As concessões não são privatizações. Mas, sim, uma parceria entre os entes público e privado para garantir o acesso da população a serviços essenciais”(MARINHO, 2021, Online). Desde a sanção do Marco Legal do Saneamento, diversos leilões foram realizados em estados pelo Brasil como são os casos de Alagoas, Espírito Santo e Rio de Janeiro por exemplo. No último ano, tivemos vários casos de sucesso. Somamos quase R$ 60 bilhões em investimentos. As concessões beneficiarão mais de 15,5 milhões de brasileiros com água e esgoto tratados. Esses recursos estão à disposição para investimentos dos estados, sem relação de dependência com o Orçamento Geral da União ou Medida Provisória, por exemplo (MARANHÃO, 2021,ONLINE). Segundo o MDR (2021), além do que habitualmente conhecemos como serviços de saneamento básico como água e esgoto, o tema é muito vasto, englobando nesta esfera serviços como esgotamento sanitário e resíduos sólidos urbanos, este último com projetos em elaboração utilizando as PPP como modelo com os consórcios Convale/MG, Comares/CE, Bauru/SP e Teresina/PI, somando R$ 3,3 bilhões em investimentos. Assim Herbert Dantas, Diretor da BRK Ambiental, descreve no blog Saneamento em Pauta o papel do cidadão preocupado com um futuro melhor para sua família e comunidade. Para termos avanços no saneamento no Brasil, a sociedade precisa participar ativamente. Boa parte da população não relaciona a falta de saneamento a problemas como a mortalidade infantil, atraso escolar e poluição dos rios. grande volume de investimentos. O papel da população é importante tanto por meio de cobranças por políticas públicas eficazes quanto entendendo que para os avanços dos serviços de saneamento são necessárias obras https://www.linkedin.com/in/herbertdantas/ 40 consideráveis nas ruas dos municípios, que podem interferir temporariamente na rotina da cidade. As mudanças temporárias na rotina da população, com bloqueio de vias, ruído e interrupção passageira dos serviços são parte do processo. Por isso, é importante que as pessoas saibam que a fase de ampliação dos sistemas é algo transitório, e que o benefício que fica para a população e o meio ambiente é infinitamente maior do que o período de obras. Viu como o saneamento básico é um assunto complexo e que merece cuidado por parte dos nossos governantes? Ainda há muito a ser feito, porém, precisamos começar o quanto antes a ampliar esse serviço para cumprir as metas de universalização. Lembre-se de que você pode, e deve, questionar o prefeito da sua cidade sobre a aplicação do investimento em saneamento. (DANTAS, 2019) 6. CONCLUSÃO A solução definitiva para a carência de infraestrutura no Brasil depende de uma visão de longo prazo. Neste cenário, composto por projetos em maior quantidade e qualidade, bem como mais diversificados setorial e territorialmente, a infraestrutura terá um papel central nos próximos anos no Brasil para promover investimento, gerar empregos, reduzir os custos logísticos e melhorar a qualidade de serviços no país. Afinal, estamos diante de um novo cenário, em que os protagonistas são as ecoaquisições, compras verdes, licitações positivas ou compras ambientalmente amigáveis. As Parcerias público-privadas, de fato, são uma opção eficaz e moderna para a expansão e maiores investimentos privados no Brasil, principalmente ligados às áreas de infraestrutura como o saneamento básico, que por muitas vezes ficaram de lado até um passado recente. Vale ressaltar o baixo número de pessoas atendidas com água e esgoto no país atualmente e a expansão que poderemos ter nos próximos anos acarretando mais dignidade para a população e fomentando a economia. Na medida em que o pagamento por parte do Estado somente se dará após a entrega do serviço acordado, as companhias vencedoras dos processos, têm maior interesse na agilidade do processo como um todo. Além disso, nesta modalidade fica muito clara a divisão de riscos entre os agentes, principalmente em situações de restrição orçamentária e austeridade fiscal. Um outro ponto positivo é o fato do Estado se tornar menos sobrecarregado ao direcionar para a iniciativa privada questões essenciais à população mas que fogem a 41 expertise do Estado e que por isso não vinham tendo sucesso na execução. Desta forma o Estado, atrai investidores, arrecada recursos e consegue direcionar seus esforços para investir onde ele pode ser mais eficaz. Diante dos investimentos socialmente responsáveis, podemos afirmar que estamos vendo o chamado capitalismo de stakeholders emergir. Os governos têm importante papel na busca por um modelo de desenvolvimento menos agressivo ao meio ambiente, às comunidades no entorno e, ainda, à sociedade em geral. Do lado negativo, precisamos nos atentar a dois pontos: a perda de controle caso não haja participação no planejamento ou execução acarretando perda de qualidade; e como segundo ponto devemos nos atentar a corrupção e em falhas na fiscalização, superfaturamento e favorecimento. Dessa forma são observadas certas dificuldades na execução das parcerias, no que diz respeito à elaboração extremamente complexa dos contratos de concessão, que devem ser capazes de alinhar os interesses do poder público, do parceiro privado, e da sociedade que irá usufruir dos serviços prestados. Cabe ressaltar que as parcerias público-privadas, não têm a pretensão de serem a única ou a melhor forma de execução, devendo ser implementadas apenas nos casos em que é comprovada sua vantagem comparativa, a fim de servir à sociedade. Para vencer os desafios ambientais gigantescos é importante entregar aquilo que é competência técnica a quem melhor sabe fazê-lo. É preciso amadurecer e ampliar os instrumentos de coordenação, de forma que alinhem interesses para a implementação de projetos de interesse comum. Dessa forma, teremos maior desenvolvimento de modelos de negócios comparáveis e um ritmo de projetos constante no decorrer dos anos. Além disso, há uma correlação inequívoca entre investimento em infraestrutura, crescimento econômico e redução da pobreza. Diante desses fatores, não é à toa que destravar os processos de planejamento, preparação e financiamento de projetos de infraestrutura tem sido uma prioridade - não apenas no Brasil, mas globalmente. Vale destacar que o aumento da classe média brasileira nos últimos anos é apontado como uma das causas de gordos investimentos. Este segmento da sociedade cobra por melhoria na prestação de serviços públicos urbanos e bem-estar social. O 42 saneamento deve ser considerado um elemento estruturantedo desenvolvimento econômico dos países, em todo o planeta. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Advocacia Geral da União . AGU EXPLICA Parcerias Público-Privadas, 14 maio de 2019. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=IhP9JyTUnq8&feature=youtu.be BANCO DO BRASIL. Relatório de Gestão do Fundo Garantidor de Parcerias Público- Privadas (FGP) – Prestação de Contas do Período de 27/01 a 31/08/2006 (1º Exercício Social). Brasília, Novembro 2006. CAMACHO, Bruno Sanna. Parceria público-privada - conceito, princípios e situações práticas. 10 de junho de 2008. Disponível em : https://www.migalhas.com.br/depeso/62352/parcerias-publico-privadas---conceito--prin cipios-e-situacoes-praticas CONCESSIONÁRIA MIRANTE. 06/01/2022 Disponível em: http://www.miranteppp.com.br/ CONCESSÕES E PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS - Guia para o Gestor Público. Novembro de 2016. 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