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ESTADO DO CEARÁ PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO FÓRUM DAS TURMAS RECURSAIS PROF. DOLOR BARREIRA SECRETARIA DA SEGUNDA TURMA RECURSAL Av. Santos Dumont, 1400 – Aldeota – CEP 60.150-160, Fortaleza – Ceará, Fone: 3208.1628/1630 APELAÇÃO CRIMINAL - PROC. Nº 7873-86.2012.8.06.0002/1 APELANTE – JAIRO PESSOA DE ALBUQUERQUE APELADO – REINALDO BENEVIDES PONTES RELATOR – JUIZ FLÁVIO LUIZ PEIXOTO MARQUES PENAL. QUEIXA-CRIME. PROCURAÇÃO. ART. 44 DO CPP. DESCUMPRIMENTO. NÃO REGULARIZAÇÃO NO PRAZO DECADENCIAL. ART. 38 DO CPP. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. 1. O entendimento consolidado na jurisprudência pátria, em se tratando de queixa-crime, é a de que a procuração outorgada ao advogado deve conter, pelo menos a indicação do dispositivo penal, na forma do art. 44 do CPP. 2. A irregularidade da procuração pode ser sanada até o prazo de decadencial de seis meses previsto no art. 38 do CPP. Não sendo sanada em tal prazo, opera-se a decadência. 3. Recurso conhecido, mas improvido. Sentença de extinção da punibilidade mantida. Vistos, relatados e discutidos os autos acima epigrafados. Acordam os membros da Segunda Turma Recursal Cível e Criminal do Estado do Ceará, por unanimidade de votos, em CONHECER da apelação criminal, mas NEGAR PROVIMENTO, mantendo-se a sentença extintiva da punibilidade, tudo nos termos do voto do relator. Acórdão assinado pelo Juiz Relator, em conformidade com o art. 41 do Regimento Interno das Turmas Recursais. Fortaleza, de 2016. FLÁVIO LUIZ PEIXOTO MARQUES Juiz Relator RELATÓRIO Cuida-se de queixa-crime ofertada por JAIRO PESSOA DE ALBUQUERQUE contra REINALDO BENEVIDES PONTES, imputando-lhe a prática da infrações penais previstas nos arts. 139 e 140, ambos do CPB, fato ocorrido em 29/05/2012. O MM Juiz, em sentença proferida à fl. 86 declarou a extinção da punibilidade do querelado, por força da decadência, haja vista que a procuração outorgada ao advogado estava em desconformidade com o disposto no art. 44 do CPP, não tendo sido sanada no prazo decadencial de seis meses. Inconformada, o querelante interpôs apelação (fls. 97/101), e contra a qual foram ofertadas contrarrazões recursais do querelado (fls. 104/117), tendo, a secretaria de vara do juízo de origem remetido o feito a este Órgão colegiado. Instado a se pronunciar, o Ministério Público em exercício perante esta Turma Recursal opinou pelo conhecimento e improvimento do recurso (fls. 127/131). Eis o que importa a relatar. VOTO Quanto ao pleito de gratuidade judiciária, embora não conste da inicial delatória, como foi processado pelo Juízo de origem sem cobrança de custas, presume-se que a ação penal tenha tramitado sob o pálio da justiça gratuita, razão pelo qual, em sede recursal, defiro tal pleito. Inobstante o recurso apelatório tenha preenchido os requisitos de admissibilidade, e por isso mesmo merece ser recebido, em seu mérito, não deve ser acolhido, conforme adiante se verá. O querelante, inicialmente, ofereceu uma representação criminal contra o querelado, ensejando a ocorrência de audiência preliminar (fl. 37) com busca a uma conciliação entre as partes, que acabou frustrada. Deliberou-se que os autos fossem com vista ao advogado do representante para ofertar a queixa-crime. De fato, o advogado do querente ajuizou a queixa-crime em 07/11/2012, ainda dentro do prazo decadencial de seis meses, a considerar que os fatos se deram em 29/05/2012. Ocorre que a Secretaria à fl. 58v, certificou que não consta dos autos procuração do patrono da vítima com poderes específicos, nos termos do art. 44 do CPP. Diante disso, o patrono do querelado, às fls. 58v requereu a extinção da punibilidade, tendo o advogado do querelante, à fl. 59, requerido prazo de cinco dias para se manifestar. Manifestação às fls. 60/62. O MM juiz processante profere, em 21.05.2013, despacho, à fl. 64, concedendo prazo de cinco dias para que o advogado do ofendido junte instrumento procuratório, nos termos do art. 44 do CPP. Intimação feita de forma equivocada – fl. 67v. O querelado, por seu patrono, às fls. 67/80, requereu ao Juiz para chamar o feito à ordem para declarar extinta a sua punibilidade. O Ministério Público, ouvido a respeito, opinou pela extinção da punibilidade do querelado, em face da decadência. Sobreveio a sentença de fl. 86 decretando a extinção da punibilidade do querelado. O querelante busca a reforma da sentença, requerendo a anulação da audiência de fl. 37 e que seja restituído o prazo a que se refere o despacho de fl. 64, nulificando a sentença proferida. Em verdade, o MM Juiz ao proferir o equivocado despacho de fl. 64, fê-lo sem observar que o prazo decadencial de seis meses previsto no art. 38 do CPP já havia se transcorrido. Desse modo, não há como se restituir prazo referente a tal despacho, pois este é nulo de pleno direito, porquanto proferido quando já era manifesta a decadência, a considerar que o fato ocorreu em 29/05/2012 e o despacho data de 21.05.2013, quase um ano depois. Ademais, o advogado do querelante deveria ter atentado quando do ajuizamento da queixa-crime acerca dos requisitos da procuração previstos no art. 44 do CPP, o que não diligenciou a tempo, uma vez que qualquer irregularidade da procuração deve ser sanada até o prazo decadencial de seis meses, consoante remansosa jurisprudência, cujas ementas abaixo transcrevo: EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. AMEAÇA E EXERCÍCIO ARBITRÁRIO DAS PRÓPRIAS RAZÕES. QUEIXA-CRIME. PROCURAÇÃO. ART. 44 DO CPP. DESCUMPRIMENTO. REGULARIZAÇÃO NO PRAZO DECADENCIAL. ART. 38 DO CPP. NÃO OCORRÊNCIA. INCOMPETÊNCIA. ANÁLISE PREJUDICADA. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. NULIDADE DO PROCESSO. RECURSO PROVIDO. 1. A interpretação dada ao art. 44 do Código de Processo Penal, pelo Superior Tribunal de Justiça, é no sentido de se exigir que a procuração outorgada - com o escopo específico que ofertar queixa-crime - contenha, pelo menos, a indicação do respectivo dispositivo penal, não sendo necessária a narrativa minuciosa da conduta delitiva. 2. No caso dos autos, a procuração sequer contém a indicação do dispositivo penal em que foi dada como incursa a recorrente, de modo que o reconhecimento da irregularidade é medida que se impõe. 3. Sendo de ação penal privada a actio penalis na espécie, operou-se a decadência do direito do ofendido a oferecer queixa-crime, em conformidade com o disposto no art. 38 do Código de Processo Penal, pois a irregularidade não foi sanada no prazo de seis meses. 4. Prejudicada a análise da questão atinente à incompetência do Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher da Comarca de Niterói/RJ. 5. Recurso ordinário em habeas corpus provido, para declarar extinta a punibilidade do fato imputado à recorrente, por força da decadência do direito de queixa, com fulcro nos arts. 38 do CPP, c/c 107, IV, e 225 (redação anterior à Lei n. 12.015/09) do CPB, e, por conseguinte, anular, ab initio, o Processo n. 0010775-15.2013.8.19.0002, em trâmite no Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher da Comarca de Niterói/RJ. (RHC 44287/RJ, rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, Dje 01/12/2014). (grifei). EMENTA: PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL. CRIMES CONTRA A HONRA. QUEIXA-CRIME. REJEIÇÃO. IRREGULARIDADE DO INSTRUMENTO DE MANDATO. ART. 44 DO CPP. DECADÊNCIA. I - A falha na representação processual do querelante pode ser sanada a qualquer tempo, desde que dentro do prazo decadencial (Precedentes do STJ e do STF). II - In casu, verifica-se que o instrumento procuratório juntado aos autos não contém a descrição das condutas delituosas, a tipificação dos crimes, nem a indicação dos querelados, em desatendimento ao disposto no art. 44 do CPP. Recurso especial desprovido. (REsp 879749/BA, rel. Min. Felix Fischer, Quinta Turma,DJe 03/09/2007). No caso em exame, não tendo a parte recorrente sanado o vício dentro do prazo decadencial, evidencia o acerto do acórdão recorrido, porquanto em consonância com a jurisprudência assentada nesta Corte. Tal contexto atrai a incidência da Súmula 83 do STJ, aplicável também aos recursos interpostos com base na alínea "a" do permissivo constitucional, verbis: "Não se conhece do recurso especial pela divergência, quando a orientação do tribunal se firmou no mesmo sentido da decisão recorrida". Ante o exposto, com fulcro no art. 557, caput, do Código de Processo Civil, NEGO SEGUIMENTO ao recurso especial. Publique-se. Intime-se. Brasília (DF), 22 de maio de 2015. MINISTRO STJ GURGEL DE FARIA – Relator. PROCED.: RIO GRANDE DO SUL RELATOR: MIN. CELSO DE MELLO QTE.: OLORIVAL MELEU BRASIL ADV.: SEBASTIÃO NILTON DE OLIVEIRA ORTIZ QDO.: FERNANDO HENRIQUE CARDOSO EMENTA: PRESIDENTE DA REPÚBLICA. IMUNIDADE PENAL TEMPORÁRIA. O ALCANCE DO ART. 86, § 4°, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, INAPLICABILIDADE AO CASO, POR NAO SE TRATAR DE ATO ESTRANHO AO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO PRESIDENCIAL. -A cláusula de imunidade penal temporária, instituída, em caráter extraordinário, pelo art. 86, § 4\", da Constituição Federal, impede que o Presidente da República, durante a vigência de seu mandato, sofra persecução penal, por atos que se revelarem estranhos ao exercício das funções inerentes ao ofício presidencial. Doutrina. Precedentes. -Tratando-se, no entanto, de atos praticados in officio ou propter officium, e desde que possuam qualificação penal, tomar-se- á constitucionalmente lícito instaurar, contra o Presidente da República, mesmo na vigência de seu mandato, a pertinente persecução penal, uma vez exercido, positivamente, pela Câmara dos Deputados, o controle prévio de admissibilidade da acusação penal (CF, art. 86, caput, c/c o art. 51, I). CRIME CONTRA A HONRA. QUE1XA-CRIME: INSTRUMENTO DE MANDATO JUDICIAL. INOBSERVÂNCIA DO ART. 44 DO CPP. IMPOSSIBILIDADE DE REGULARIZAÇÃO. CONSUMIÇÃO DO PRAZO DECADENCIAL. EXTINÇÃO DO PROCEDIMENTO PENAL. -A ação penal privada, para ser validamente ajuizada, depende, dentre outros requisitos essenciais, da estrita observância, por parte do querelante, da formalidade imposta pelo art. 44 do CPP, que exige constem, da procuração, a indicação do nome do querelado e a menção expressa ao fato criminoso, bastando, para tanto, quanto a esta exigência, que o instrumento de mandato judicial contenha, ao menos, referência individualizadora do evento delituoso (RT 729/463), mostrando-se dispensável, em conseqüência - consoante diretriz prevalecente na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (RT 605/384 -RT 631/384) -a descrição minuciosa ou a menção pormenorizada do fato. Doutrina. Precedentes. -A mera outorga de mandato com a cláusula \"ad judicia\" -lendo-se presente o que dispõe o art. 44 do CPP (que exige poderes especiais) –desatende as finalidades impostas por essa norma legal. Embora supríveis as omissões (CPP, art. 568), a regularização do instrumento de mandato judicial somente poderá ocorrer, se ainda não consumada a decadência do direito de queixa (RT 609/444), pois, decorrido, in albis, o prazo decadencial, sem a correção do vício apontado, impor-se-á o reconhecimento da extinção da punibilidade do querelado. Precedentes. (STF – INQUÉRITO Nº 1.418-9 (DJU 08.11.01, SEÇÃO 1, P. 7) Ementa: APELAÇÃO CRIME. CALÚNIA. ART. 138 DO CPB. CRIME CONTRA HONRA. QUEIXA-CRIME. GRATUIDADE. PROCURAÇÃO. DECADÊNCIA. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. 1.GRATUIDADE. Presumido o benefício, quando na origem a ação foi processada sem que do querelante fosse exigido o pagamento das custas. 2.É possível o aditamento do instrumento do mandato para o saneamento de vícios apresentados, ou juntada de procuração, desde que e quando realizado dentro do prazo decadencial, sob pena de operar-se a decadência e, por conseqüência a extinção da punibilidade. 3.Na procuração deve constar o nome do querelante e a menção do fato criminoso, requisitos exigidos pelo art. 44 do CPP . 4.Decorrido o prazo para o exercício da queixa crime, sem atendimento à despacho judicial, opera-se a decadência e, com esta, a extinção da punibilidade da querelada.NEGADO PROVIMENTO À APELAÇÃO. UNÂNIME. (Recurso Crime Nº 71001258805, Turma Recursal Criminal, Turmas Recursais, Relator: Nara Leonor Castro Garcia, Julgado em 26/03/2007) No que se refere ao pedido de anulação da audiência de fl 37, tenho como irrelevante e descabido, até porque o patrono do advogado, após a esse ato processual, ajuizou a inicial da queixa-crime, convalidando, assim, eventual nulidade que porventura tenha se verificado. Assim sendo, ante os fatos e fundamentos jurídicos ora coligidos, voto no sentido de conhecer do recurso apelatório, porém negar provimento, mantendo a decisão que declarou EXTINTA A PUNIBILIDADE DO QUERELADO, com amparo no art. 107, inciso IV do mesmo diploma legal. Condeno a parte vencida no pagamento das custas e honorários advocatícios, estes no valor de R$ 800,00 (oitocentos reais), ficando a exigibilidade do pagamento respectivo suspensa, nos termos do art. 12 da Lei n.º 1.060/50. Precedentes" (AgRg na SEC 9.437/EX, Relatora Ministra LAURITA VAZ, CORTE ESPECIAL, julgado em 6/4/2016, DJe 6/5/2016.) Fortaleza, de 2016. FLÁVIO LUIZ PEIXOTO MARQUES Juiz Relator
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