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ESTRAT~GIAS PARA A DIMINUIÇÃO 
DA POBREZA NO BRASIL 
NEI ROBERTO DA SILVA OLIVEIRA* 
1. Apresentação; 2. Aspectos teóricos (exame dos con­
ceitos: pobreza, estratégia, marginalidade social, mudança 
social); 3. Aspectos doutrinários (segurança e desenvol­
vimento); 4. Estratégias para a diminuição da pobreza no 
Brasil: criação de empregos e melhoria de salários; con­
trole da natalidade; justiça social; 5. Considerações finais. 
1. Apresentação 
Neste artigo buscou-se, em princIPlO, visualizar a percepção de pobreza em 
termos teóricos, tendo por base a análise seletiva da literatura científica sobre 
o tema em questão. Inclui-se, também, o exame do enfoque adotado pela Escola 
Superior de Guerra quanto ao importante conceito de estratégia. 
Posteriormente, decidiu-se examinar, de maneira sucinta, o conceito de mar­
ginalidade social e de mudança social. A etapa seguinte direcionou-se ao exame 
dos aspectos doutrinários (segurança e desenvolvimento) relacionando-se, tanto 
quanto possível, à tentativa de se minimizar a pobreza que atinge parcela ex­
pressiva da população brasileira e se constitui em um dos problemas mais rele­
vantes do presente e do futuro de nosso País. 
O item final engloba determinadas estratégias que poderiam ser inseridas 
num plano que visasse, de fato, a diminuição da pobreza no Brasil. Além disso, 
nas considerações finais procurou-se, também, inserir reflexões de especialistas 
sobre a problemática da pobreza. Sabe-se que as opções quanto às estratégias 
para a diminuição da pobreza no Brasil são múltiplas; desta forma, somente o 
verdadeiro debate democrático poderá tomá-las exeqüíveis. 
Cabe, ainda, enfatizar que as estratégias preconizadas neste artigo (criação 
de empregos, bem co.mo melhoria de salários; adoção do controle da natalidade; 
implementação da justiça social no País) fazem-se acompanhar de múltiplos 
indicadores políticos, econômicos e sociais, e foram desenvolvidas com a preo­
cupação de serem as mais objetivas possíveis. 
2. Aspectos teóricos 
2 . 1 Exame dos conceitos 
2 . 1 . 1 Pobreza 
Na tentativa de se examinar o conceito de pobreza em relação ao Brasil, a 
primeira e mais freqüente associação que é feita diz respeito ao conhecido con-
* Coordenador de Pesquisas do INDIPO/FGV (trabalho especial, revisado, elaborado 
pelo autor como estagiário da Escola Superior de Guerra, no Curso de Altos Estudos de 
Política e Estratégia da Turma Maestro Heitor Villa-Lobo&, de 1987). 
R. C. pol., Rio de Janeiro, 31(2):21-40, abr.!jun. 1988 
traste entre as nossas potencialidades e riquezas e, no outro extremo, as carên­
cias da maioria da população. Tais carências se traduzem na total ausência de 
atendimento às necessidades básicas da população (habitação, saúde, educação, 
alimentação, etc.). Assim sendo, população carente significa aquela camada da 
população sem rendimento (6,6%), ou que tem rendimento mensal de até dois 
salários mínimos (28,7% dos assalariados), acrescentando-se, ainda, aqueles que 
estão desempregados (2,8%), ou que trabalham como subempregados (38,2%).' 
Esta primeira tentativa de definir pobreza não exclui a complexidade em 
defini-Ia, pois não se pode deixar de considerar os aspectos estruturais da socie­
dade brasileira. Em relação a tais aspectos, afirma o Prof. Ricardo Vélez Ro­
dríguez: 2 
"A história dos últimos cinqüenta anos deixou claro que a tutela autoritária 
do Estado sobre a sociedade, nos moldes castilhista e getuliano, não resolve a 
questão. A sociedade, tutelada como menor de idade, não evolui e coloca em 
sério risco o élan modernizador. 
Velhos valores, assimilados culturalmente com a prática familística de séculos, 
somente mudam mediante um processo educacional. Se o Brasil não investir 
firme, nos próximos anos, em educação de base, que garanta a formação para 
a cidadania, inviabilizar-se-á o que de positivo foi conseguido nas últimas dé­
cadas. O nosso sistema educacional, nos níveis primário e secundário, caracte­
riza-se porque marginaliza expressiva parcela de crianças e jovens, frustrando-os 
para a integração na vida nacional ( ... )." 
Vale lembrar que aproximadamente seis milhões de crianças3 na faixa etária 
de sete a 14 anos, em todo o país, ainda não têm acesso a qualquer tipo de 
educação escolar. Tais crianças - segundo o I PND da Nova República -
pertencem a famílias com rendimento per capita de, apenas, até um salário 
mínimo. 
Conseqüentemente, no Brasil, pobreza tem uma dimensão global abrangendo 
aspectos políticos, econômicos e sociais. Os aspectos políticos se referem à 
restrita participação da população pobre no próprio processo democrático. Aí 
se inclui o desconhecimento dos seus legítimos direitos, que se associa a uma 
incapacidade latente em se organizar. Esta restrita participação da população 
pobre no processo político democrático se faz sentir no desinteresse dos partidos 
políticos brasileiros em se aproximar, verdadeiramente, das camadas mais ca­
rentes da população devido à sua própria fragilidade. Assim, não são represen­
tativos, não têm base doutrinária-ideológica, não aglutinam correntes definidas 
de pensamento. não possuem projetos claros para o País. Pode-se dizer que 
os partidos políticos brasileiros estão desvinculados do povo, havendo mesmo 
supremacia de interesses particulares. 
Além disso, as camadas de maior poder aquisitivo c igualmente as elites 
políticas brasileiras convivem harmonicamente com a predominante camada da 
população denominada pobre, apenas sentindo-se um pouco intimidada. Vale 
lembrar que as previsíveis convulsões sociais são vistas como algo isolado, que 
certamente não terão continuidade. 
I República Federativa do Brasil. Secretaria de Planejamento e Coordenação. Programa 
de Ação Governamental (1987-1991). Brasília, DF, 1987.304 p. 
2 Rodríguez, Ricardo Vélez. Aspectos estruturais da sociedade brasileira. Conferência rea­
lizada na ESG, em 21.5.87. T 102/87, 13 p. 
J República Federativa do Brasil. Plano Nacional de Desenvolvimento da Nova República 
1986-89. Brasília, jun. 1986. 261 p. 
22 R.C.P. 2/88 
Cabe assinalar, no que diz respeito às principais responsabilidades das elites 
políticas brasileiras, o trabalho de pesquisa realizado pela Fundação Getulio 
Vargas4 quando as seguintes categorias de respostas foram identificadas: Res­
ponsabilidades de natureza política - 1. buscar a normalidade democrática; 
2. conscientizar/politizar o povo; 3. pugnar pela legitimidade dos governantes; 
4. reformar a Constituição; 5. restabelecer a confiança nas instituições demo­
cráticas; 6. honrar os compromissos assumidos na campanha eleitoral/constituir 
partidos políticos com ideário. Responsabilidades de natureza social - 1. pro­
mover o bem-estar social/lutar por justiça social; 2. diminuir as desigualdades 
sociais; 3. lutar pela moralização dos costumes. Responsabilidades de natureza 
econômica - 1. solucionar os problemas econômicos do Brasil/controlar o 
sistema financeiro do Brasil; 2. defender a economia nacional das multinacionais. 
Quanto à dimensão econômica da pobreza, é preciso questionar o limitado 
valor real do salário mínimQ, que é atualmente o menor desde a sua adoção no 
Brasil, em 1947.5 Tendo sido criado com a finalidade de atender às necessidades 
básicas de sobrevivência de um trabalhador e sua família, o salário mínimo 
deveria garantir o custo do transporte, alimentação, saúde, educação, vestuário 
e lazer. Segundo cálculos do Conselho Regional de Economia do Distrito Fe­
deral, seu valor real atingiu o nível máximo em 1956, sendo que o salário 
mínimo de hoje (julho de 1987) representa 37% deste valor. Sabe-se que apro­
ximadamente 17 milhões de trabalhadores ganham até um salário mínimo. Estes 
são, predominantemente, trabalhadores rurais ou empregados no setor informal 
da economia (empregadas domésticas, serventes, operários de construção, etc.). 
Os dados apresentados não deixam dúvidas de que há uma vinculação direta 
entre o salário mínimo e a pobreza. 
Entende-se que este indicador depobreza - o salário mínimo - cada 
vez mais atinge outros segmentos da população, como os aposentados pelo INPS, 
que. progressivamente, vêm empobrecendo devido à queda do valor real deste 
salário. 
No que se refere aos aspectos sociais da pobreza, vale assinalar o caráter de 
marginalidade em que vive esta camada significativa da população. Distante dos 
benefícios da sociedade moderna, neste quase final de século; sem acesso ao 
consumo do atraente sistema capitalista; sem terem, de fato, atendidas suas 
necessidades básicas; sem participar da era da informática e convivendo per­
versamente com a inflação e a instabilidade no emprego, isto nos leva a afirmar 
que pobreza e alienação quase se confundem no Brasil. 
Na ótica social, a pobreza que atinge a maioria da população brasileira apre­
senta características regionais comuns, (.Orno: concentração da população pobre 
nos grandes centros urbanos; mendicância, que engloba todas as faixas etárias 
- seriam os que assumem a pobreza sem visualizar qualquer possibilidade de 
mudança; há um fluxo migratório permanente das áreas rurais para as cidades, 
multiplicando-se os problemas sociais existentes e contribuindo significativamente 
para a explosão demográfica; déficit escolar e baixa qualidade de ensino, acres­
cidos do índice elevado de evasão escolar; agravamento da desnutrição e seus 
efeitos psicossociais, resulta!1do numa deficiência intelectual. Sabe-se que tais 
lesões causadas pela desnutrição são mais graves na fase de crescimento e de 
4 Melo Franco. Afonso Arinos et alii. Por uma nova Constituição: as aspirações nacio­
nais. Revista de Ciência Política. Rio de Janeiro, FGV, 28(3):170-1, set./dez. 1984. 
5 Jornal do Brasil, jun. 1987. p. 24. 
Diminuição da pobreza no Brasil 23 
desenvolvimento; a distribuição de renda tem-se mantido praticamente inalterada 
nesta década. 
Quanto à desnutrição no Brasil, afirma o Prof. Grande de Arruda:6 
"J: singular a posição do Nordeste no contexto do perfil nutricional do Brasil. 
Abrigando 29,5% da população brasileira, ali estariam, segundo estimativas, 
50 a 55% de todos os desnutridos do país. Há alguns anos atrás, Nelson Chaves 
chamou a atenção para o surgimento, no Nordeste, de uma geração de nanicos. 
As extrapolações apontam que somente 32% das crianças dessa região conse­
guem um crescimento físico compatível com a idade ( ... ) Um outro aspecto 
importante a considerar é que as condições sócio-econômicas definem um evi­
dente fator de risco, pois os casos de desnutrição moderada e grave concen­
tram-se em famílias com renda abaixo de um salário mínimo per capita. Sabe-se 
que mais de 2/3 das famílias nordestinas agrupam-se nessa faixa de renda ( ... ) 
A nível da produção, a estratégia para enfrentar seriamente o problema ali­
mentar requer uma política de apoio a cinco produtos: o feijão. o arroz, o 
milho, a farinha de mandioca e o leite. Dentre os estímulos, inscrevem-se: a 
aplicação diferenciada de taxas de juros ao crédito destinado a esses produtos: 
o direcionamento de pesquisas para responder às especificidades das áreas pro­
dutoras; o zoneamento de áreas para cultivos desses alimentos básicos; o esta­
belecimento de preços remuneradores e a garantia de mercado." 
Cabe, ainda, apresentar, em termos ideológicos, a explicação do Prof. Jagua­
ribe, em relação à pobreza:7 
"A perspectiva radical ou revolucionária conduz ao entendimento da pobreza 
como subproduto necessário do modo de produção capitalista, decorrente da 
apropriação oligopolística, por pequena minoria, dos meios de produção. A 
formação de um amplo exército de reserva, em nível de miséria, e a manuten­
ção do conjunto dos trabalhadores em níveis próximos aos da subsistência são 
necessária decorrência do regime capitalista e requisitos para sua autopreserva­
ção. Somente pela instauração do socialismo, com a supressão da propriedade 
privada dos meios de produção, se tomaria possível uma eqüitativa distribuição 
de oportunidades e da renda, e, destarte, a dtfinitiva superação da pobreza." 
Em seguida, esclarece, ainda mais o Prof. Jaguaribe: 
"Tem sido entendida por miséria, no presente estudo (incluindo a categoria 
de indigência), a condição das famílias que não logram assegurar a seus mem­
bros, de forma regular e continuada, o atendimento das demandas de sua subsis­
tência física. Tal condição conduz os que dela padecem a depender da even­
tual assistência pública ou privada de terceiros e exerce uma decisiva propensão 
para a prática do crime. Os miseráveis terminam, inevitavelmente, afetados por 
doenças carenciais e degenerativas e por morte prematura. 
No caso do Brasil. assumindo-se como miserável a condição das famílias com 
ingressos até um salário mínimo, a categoria da miséria, conforme o PNAD de 
1984, abrange 8,8 milhões de famílias, compreendendo 32,9 milhões de pessoas, 
sobre uma população de cerca de 130 milhões." 
6 Grande Arruda, Bertoldo Kruse. Nordeste: políticas e estratégias em alimentação e 
nutrição. Boletim sobre População, Emprego e Renda no Nordeste. Recife, 4(2/3}:199-214. 
maio/dez. 1985. 
7 Jaguaribe, Hélio. Brasil, 2000 - para um novo pacto social. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 
1986. p. 102. 
Cabe salientar que a referida citação se opõe à doutrina adotada pela Escola Superior 
de Guerra. 
24 R.C.P. 2/88 
Procuramos, aqui, esclarecer algumas percepções relativas à noção de pobreza. 
Fizemos uma tentativa de caracterizá-la, pois a noção de pobreza deve atender 
a certos requisitos específicos inseridos no âmbito deste trabalho sobre as estra­
tégias para a diminuição da pobreza no Brasil. 
Em seguida, tentar-se-á repensar o conceito de estratégia, vinculando-o, tanto 
quanto possível, à pobreza. 
2 . 1 . 2 Estratégia8 
Nos últimos tempÇls, houve uma evolução muito grande da noção de estra­
tégia. Originária do grego antigo, significando, literalmente, a arte do general, 
só voltou a ser utilizada após a Renascença e, com mais freqüência, no século 
passado, mantendo o significado limitado à arte da guerra. 
Sabe-se que o século passado trouxe notável avanço no conhecimento da Es­
tratégia, devido, principalmente, às teorias do alemão Karl Von Clausewitz, 
baseado em observações científicas. Entendia ele que havia uma subordinação 
da estratégia ao fator político e enfatizava, ainda, a grande importância dos 
fatores psicológicos. Até então, a única estratégia admissível era a Estratégia 
Militar. 
Por outro lado, a Estratégia só extrapolou o restrito campo militar no 
século atual no decorrer das duas Grandes Guerras Mundiais. Assim, a noção 
de Estratégia passou a ser mais global e, posteriormente, passou a ser denomi­
nada estratégia nacional. 
Em seguida, o termo estratégia adquiriu amplo e diversificado uso, indo 
além do próprio campo da segurança, e sendo também utilizado como instru­
mento do desenvolvimento. 
A Escola Superior de Guerra admite esta extensão do conceito de estratégia, 
que inclui não apenas o campo da segurança, mas também é instrumento do 
desenvolvimento. Procura, entretanto, COnservar o sentido de luta ou esforp 
continuado para superar obstáculos com o emprego de meios do poder nacional, 
gerando desta forma a Estratégia Nacional. 
Conseqüentemente, num processo evolutivo, a ESG adota o seguinte conceito: 
"Estratégia Nacional é a arte de preparar e aplicar o poder nacio!"!al, para, 
superando os Obices, conquistar e manter os objet~vos nacionais permanentes, 
de acordo com a orientação estabelecida pela política nacional." 
Cabe, ainda, assinalar que muito se tem dis~utido, no plano teórico, entre 
Política e Estratégia. Dessa forma, as seguintes distinções são feitas pelo Prof. 
Antônio de Arruda: 9 (Política) Embora arte, está mais voltada para a concep­
ção; prende-se especificamente, aos fins (que fazer); envolve decisão (fixação 
de objetivos, rumos, linhas de ação); relaciona-se mais aos objetivos nacionais 
permanentes; considera-se como mais estável; (Estratégia) Também é conside­
rada como arte, entretanto está maisvoltada para a ação; prende-se mais aos 
meios (como fazer); organiza e aplica meios; relaciona-se mais com os objetivos 
nacionais atuais (conjuntura); é mais dinâmica, pois está sempre adaptando-se 
às flutuações conjunturais. 
8 No exame do conceito de estratégia tomou-se por base o Manual básico da Escola Su­
perior de Guerra. Rio de Janeiro, ESG, 1986. ~6~ p_ 
9 Arruda, Antônio de. A Escola Superior de Guerra. &. cu. ampl. São PaUlO, GRD/INL, 
1983. p. 66-7. 
'Diminuição da pobreza no Brasil 25 
Pode-se, também, afirmar, de acordo com a ESG, que a estratégia, tal como 
a diplomacia, é um instrumento da política e, por isso, dela depende inteira­
mente. Por sua vez, a política não pode desco:lhecer as necessidades da estra­
tégia. Não se desconhece, ainda, que a estratégia nacional se concretiza através 
das sucessivas estratégias governamentais. 
Posteriormente, se chega ao seguinte conceito: 
"Estratégia governamental é a arte de preparar e aplicar o poder nacional 
para, superando os óbices, conquistar e manter os objetivos nacionais atuais, de 
acordo com a orientação estabelecida pela política governamental." 
É lícito, ainda, aceitar a existência de estratégias específicas, que se inter­
relacionam, dirigidas, coordenadas e integradas pela estratégia nacional. Estas 
são as estratégias política, econômica, psicossocial e militar. 
Neste artigo sobre as estratégias para a diminuição da pobreza no Brasil, 
visa-se, efetivamente, à ação na tentativa de se apresentar um plano condizente 
com a conjuntura política, econômica e social brasileira. Entende-se que a po­
breza, longe de ser um fenômeno homogêneo, se revela como um conjunto de 
problemas, a necessitar não só de estratégias globais, como também muito espe­
cíficas. Em conseqüência, torna-se necessário tecer algumas considerações sobre 
o conceito, que se segue, sobre marginalidade social. 
2 . 1 . 3 Marginalidade social 
o conceito de marginalidade em relação à pobreza, em nosso entender, apre­
senta as seguintes características: 
- conjunto de pessoas, grupos ou segmentos que vivem totalmente à margem 
da sociedade; 
- tais segmentos da população encontram-se nesta situação de marginalidade 
não por inadaptação aos valores sócio-culturais da sociedade em que estão inse­
ridos, mas, sobretudo, pela condição, efetiva, de extrema pobreza; 
- resulta, esta condição de extrema pobreza, num isolamento social que 
se pode caracterizar pelo analfabetismo acrescido do desemprego: 
- marginalidade social engloba, ainda, o próprio distanciamento dos com­
portamentos sociais que prevalecem na sociedade; 
- há uma vinculação íntima entre a marginalidade e a discriminação social, 
toma-se difícil não percebê-la em relação à pobreza absoluta. Esta camada 
da população - os mais pobres - recebem um tratamento desigual do con­
junto da sociedade, pois sequer seus direitos são considerados. 
Além disso, em relação à família muito pobre, considerando-a como margi­
nalizada, vale citar as observações do Prof. Pastore: lo 
"Deve ficar claro, entretanto, que as famílias pobres de 1980 não são neces­
sariamente as mesmas de 1970. O pressuposto, porém, é que boa parte da 
pobreza de 1980 é uma pobreza persistente quanto às suas características - ou 
lO Pastore, José et alii. Mudança social e pobreza no Brasil: 1970/1980. São Paulo, Pio­
neira/ Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, 1983. p. 31-56. 
26 R.C.P. 2/88 
seja, famílias que estão na pobreza por estarem cercadas de adversidades eco­
nômicas e sociais peculiares e que lhes impedem a evolução. ( ... ) Em suma, 
as famílias que remanesceram pobres foram, via de regra, aquelas que não 
puderam alcançar (ou para as quais não se estenderam) as melhores oportuni­
dades de trabalho criadas ao longo da década. ( ... ) A conclusão que se tira 
é que as famílias que remanesceram pobres em 1980 não conseguiram se apro­
veitar das oportunidades de trabalho da mesma maneira que as demais. Elas são 
atingidas em maior intensidade pelo desemprego e pelo subemprego. (. .. ) Vol­
tamos a enfatizar que este estudo procurou focalizar as famílias que estavam 
em situação de extrema pobreza. Ao escolher 1/4 de salário mínimo per capita, 
sabemos que estamos selecionando as famílias que vivem no limite da subsis­
tência." 
2. 1 .4 Mudança social 
Quanto à mudança social, que se insere nesta abordagem da temática pobreza, 
cumpre indicar certas características: 
- nenhuma sociedade permanece absolutamente estática, porque vive em um 
universo de influências dinâmicas; 
- a duração e a amplitude da mudança variam, certamente, de sociedade 
para sociedade; 
- mudança social implica a alteração da estrutura e do funcionamento das 
formas societais, ou ainda dos próprios processos; 
- a mudança social tem como conseqüência, praticamente em todas as opor­
tunidades, a interação de uma série de fatores; 
- condições sociais contemporâneas estão sendo reformuladas por signifi­
cativas mudanças sociais; 
- idéias também podem ser consideradas como forças essenciais de mudança. 
Por outro lado, não se pode deixar de considerar que a mudança social não 
surge em uma sociedade sem que sofra resistências. Há muitas forças que ten­
dem a bloquear a aceitação. Em muitos casos, as pessoas já viveram por tanto 
tempo em determinada situação, como a de pobreza absoluta, que simplesmente 
conservam sua forma de vida sem que suas necessidades básicas tenham sido, 
jamais, atendidas. O processo de mudança exige uma participação de toda a 
sociedade no que se refere à situação de pobreza absoluta. Assim sendo, mu­
dança social, neste trabalho, expressa o próprio processo em que se almeja cons­
cientizar as referidas populações marginalizadas no país a participarem dos 
benefícios do desenvolvimento nacional. Sabe-se que apesar dos conhecidos 
problemas conjunturais do Brasil (dívida externa, desemprego, inflação, conci­
liação entre a estatização e a privatização, excessiva influência das multinacio­
nais na economia brasileira, etc.) há muito foram superados os limites do 
subdesenvolvimento. 
Há, evidentemente, uma perplexidade entre os contrastes que podem ser iden­
tificados na nossa sociedade, como por exemplo, a capital econômica do país 
- São Paulo - que concentra não somente as grandes indústrias nacionais, 
como também uma enorme gama de problemas sociais. Tal cidade tem crescido 
Diminuição da pobreza no Brasil 27 
de maneira anárquica, segundo os interesses dos especuladores imobiliários. Lá 
se encontram a maioria dos camponeses que abandonaram a região Nordeste, 
principalmente devido a seca que se prolongou no período de 1979-84. 
O ano de 1984 conheceu um início de recuperação, porém desde esta data 
até agora a indústria somente absorveu 1/3 dos 470.000 trabalhadores que fica­
ram desempregados nos três anos anteriores. Desta forma, na perspectiva de 
construção de uma sociedade mais justa e mais igualitária, o desenvolvimento da 
atividade comunitária para a produção de bens e serviços tem demonstrado ser 
um elemento eficaz para manter a coesão dos pequenos grupos populares, in­
fluindo ainda no aumento da solidariedade sem causar prejuízos na conscien­
tização popular pela luta dos seus legítimos direitos de cidadãos. 
Cumpre, ainda, afirmar que a mudança social está sendo vista como uma 
evolução social, uma mudança progressiva ou mesmo uma inovação social, tendo 
como objetivo diminuir a pobreza no Brasil. Sabe-se que a expressão mudança 
social é genérica, vaga e complexa. No entanto, este termo é utilizado, freqüen­
temente, para caracterizar a passagem das sociedades tradicionais à sociedade 
industrial e moderna. 
Há, também, determinadas condições gerais que estimulam a mudança social, 
tais como: aumento de conhecimento e ocorrência de conflitos sociais. Tais 
conflitos, entre grupos dentro da sociedade, foram e são uma das principé:is 
fontes de inovação e mudança. 
No caso das sociedades modernas, o tipo mais freqüente de mudança é a 
intencional, pois surge de umpropósito comum que pode ser realizado por 
graus, através de um processo de mudança social planificada. 
Considera-se, assim, como um dos principais obstáculos para vencer a miséria 
abmluta, ocasionando, de fato, mudanças sociais, a falta de uma vontade polí­
tica. Resta, ainda, um longo caminho a percorrer, antes que se forje uma ver­
dadeira solidariedade. Desta forma, é preciso rever as prioridades nacionais 
no domínio do desenvolvimento. Cabe, assim, registrar como uma dessas prio­
ridades a alimentação. O problema da fome e da desnutrição só pode ser resol­
vido se forem atacadas suas causas fundamentais, ou seja, se forem melhoradas 
as condições sociais e econômicas das classes pobres da populilção. 
A FAO estima que, atualmente, a quarta parte da população total dos países 
em desenvolvimento - excluindo-se os países asiáticos de economia de plane­
jamento central - não se alimenta de forma adequada às necessidades mínimas 
de energia do ser humano. Conseqüentemente, é preciso assegurar que os be­
neficiários do desenvolvimento serão os mais carentes e que os benefícios do 
desenvolvimento visarão prioritariamente à eliminação das carências mais graves. 
Assim, desenvolvimento significa, também, mudança na organização da desi­
gualdade social. 
Quanto aos indicadores, a Unesco propõe os seguintes critérios de subde­
senvolvimento: 11 
- renda per capita reduzida, digamos de 500 dólares anuais; o Brasil já 
chega perto dos US$ 2.000; 
- poupança reduzida e, conseqüentemente, pequena capacidade de investi­
mento à base de recursos próprios; gasta-se tudo ou quase tudo para as primeiras 
l'Iecessidades de sobrevivência, não restando parte significativa para investimento, 
li Demo, Pedro. Sociologia: uma introdução crítica. São Paulo, Atlas, 1983. p. 110-1. 
28 R.C.P. 2/88 
sem o qual não se amplia a produção e não há acumulação de capital e cres­
cimento; 
- nível técnico reduzido, no sentido de parco domínio tecnológico, impli­
cando baixa produtividade, necessidade de importar, dependência externa, etc.; 
- duplicidade de ordem econômica: ao lado da ordem tradicional, emergem 
focos modernos da indústria. Tal duplicidade marca fortemente o Brasil: São 
Paulo é o pólo industrial mais avançado da América Latina, e regiões do Nor­
deste talvez sejam as mais atrasadas do continente; 
- predominância do setor primário da agricultura e do extrativismo. O 
Brasil superou esta situação de modo geral, a mão-de-obra empenhada no setor 
primário em São Paulo estava já por volta de somente 10 %, em 1980. O pró­
prio processo de urbanização acarreta redução da presença do campo da eco­
nomia; 
- maior importância do setor de produção para satisfação das necessidades 
próprias, em detrimento do excedente exportável e da capacidade de investimento; 
- falta de força qualificada de trabalho, o que é outra maneira de considerar 
a escolarização. O Brasil, em 1980, possuía ainda por volta de 25% de anal­
fabetos na população de 15 anos e mais uma taxa de escolarização obrigatória 
entre os 7 e 14 anos de idade por volta dos 70%. Somos ainda um país de 
desqualificados e semidesqualificados, por mais que possa haver excesso de gente 
formada na universidade, para o mercado de trabalho; 
- . desemprego crônico, no sentido de que parcela da população em idade 
ativa não consegue trabalhar; outros trabalham, mas em condições ditas de 
"subemprego", ou seja, não recebem salários satisfatórios nem as decorrências 
deles; 
- comércio externo com nações desenvolvidas, com as quais são obrigadas 
a transacionar. 
Os indicadores economlCOS e sociais alcançam cada vez mais importância 
devido à possibilidade de se tomarem visíveis as deficiências do quadro social, 
facilitando a tomada de decisões e permitindo a escolha de estratégias adequadas 
para superar os obstáculos ao desenvolvimento. Além disso, os indicadores 
quantitativos levam vantagem sobre os não-quantitativos, porque: 12 
a) são objetivos (apreciações de pessoas diferentes fornecem resultados iguais) 
e, portanto, facilitam o consenso e são confiáveis; 
b) são mais precisos e, portanto, informam melhor; 
c) são mais fáceis de manipular, pois fundamentam-se na entatística (isto é 
essencial para processar dados quantitativos primários) e na matemática; 
d) permitem facilmente a agregação; 
e) são mais sofisticados e mais úteis. 
12 Paulinyi, Erno I. Teoria e técnica dos indicadores, Departamento de Estudos, Escola 
Superior de Guerra, LS2/87, anexo. mimeogr. p. 9-10. 
Diminuição da pobreza no Brasil 29 
A tendência geral das clencias sociais é sua crescente quantificação. 
Cumpre, ainda, mencionar que a expectativa de mudança social engloba es­
tratégias específicas de combate à pobreza numa perspectiva de se alcançar, 
não apenas critérios econômicos de crescimento, mas, sobretudo, de construir 
condições de acesso à renda e à satisfação das necessidades básicas. 
O item que se segue pretende identificar a pobreza em relação aos aspectos 
doutrinários: segurança e desenvolvimento. 
3. Aspectos doutrinários 
3. 1 Pobreza: segurança e desenvolvimento 
Primeiramente, segundo o conceito doutrinário esposado pela ESG,13 os se­
guintes aspectos relativos ao desenvolvimento nacional devem ser destacados: 
a) um dos traços mais característicos do desenvolvimento é o seu caráter de 
globalidade, que envolve aspectos de natureza política, econômica, psicossocial 
e militar; 
b) é importante compreender que desenvolvimento não é apenas crescimento; 
c) o desenvolvimento é um processo complexo, cuja realização requer tra­
balho, dedicação, perseverança, dinamismo e um projeto definido de vida; 
d) o desenvolvimento normalmente provoca certo desequilíbrio na sociedade; 
e) o extraordinário avanço tecnológico das comunicações, além de encurtar 
distâncias, coloca em confronto as diversas culturas e permite aos povos menos 
desenvolvidos per~eber que não estão participando das conquistas tecnológicas 
que ensejaram a melhoria do bem-estar das coletividades mais avançadas; 
f) do ponto de vista doutrinário, o desenvolvimento, sendo desejo e aspiração 
do homem, deve ter suas bases éticas firmemente respaldadas por uma filosofia 
de vida democrática, mantida ao longo das mudanças que afetam as estruturas 
da sociedade; 
g) desenvolvimento nacional é o processo de fortalecimento e de aperfeiçoa­
mento do poder nacional, com vistas a conquistar e manter os objetivos nacionais; 
h) desenvolvimento nacional é o processo global que visa à consecução do 
bem comum. 
Em seguida, em termos doutrinários, chega-se aos seguintes conceitos: 
• Política nacional de desenvolvimento - é a arte de estabelecer objetivo'.) que 
reflitam os anseios nacionais de evolução, bem como a necessidade de fort:>lecer 
e aperfeiçoar o poder nacional e de orientar e conduzir o processo global que 
visa à consecução do bem comum; 
• Estratégia nacional de desenvolvimento - é a arte de preparar e aplicar o 
poder nacional para conquistar e manter os objetivos estabelecidos pela política 
13 Escola Superior de Guerra. Manual básico. Rio de Janeiro, 1986. p. 171-86. 
30 R.C.P. 2/88 
------------------------ -
nacional de desenvolvimento, a despeito dos fatores adversos existentes, inclusive 
aqueles com potencialidade de gerar antagonismos. 
A partir dos ensinamentos da ESG, podemos inferir que o fenômeno da po­
breza está relacionado com numerosos fatores de ordem econômica, social, cultu­
ral e humana. Assim sendo, a análise dos fatores de produção e das relações 
sociais, do progresso técnico e dos valores culturais, o estudo das condições 
sócio-culturais de transferência de conhecimento e de tecnologia, ou a própria 
maneira pela qual se desenvolvem e se influenciam mutuamente as diferentes 
atividades setoriais do desenvolvimento (produção, troca, distribuição, atividades 
sócio-culturais), tudo isto constitui um amplo campo de pesquisa para as ciências 
sociais. De fato, em relação ao destino dos mais pobres, a verdadeira meta é 
a extensãoda justiça social e da solidariedade humana aos segmentos carentes 
da sociedade brasileira. 
Quanto às distorções existentes no processo de desenvolvimento do País, vale 
acrescentar a visão do Prof. Pastore;14 
"Apesar de todo o crescimento econômico verificado na década que, com· 
binado com outros fatores, resultou no decréscimo da pobreza, isso não foi 
suficiente ,para diminuir as distorções existentes entre os pólos desenvolvidos e 
os em desenvolvimento; entre a zona rural e a urbana. Ao contrário, no que 
toca às disparidades regionais, estas se agravaram. O Nordeste, que é a segunda 
região em população, passou a abrigar uma proporção maior de pobres (50%) 
que em 1970 (41 %), enquanto no Sudeste a proporção de pobres diminuiu de 
33% para 26%. Essas duas regiões apresentam características diferentes; en­
quanto no Nordeste a pobreza está ainda associada às relações de produção 
extremamente atrasadas, no Sudeste são características demográficas familiares 
que parecem impedir a eliminação da pobreza residual, como, por exemplo, a 
desagregação familiar, a chefia de mulheres, a predominância de mulheres entre 
os disponíveis e o vínculo do chefe ao setor primário e terciário. 
Quanto à dicotomia rural e urbana, a pobreza rural continua a ser mais ex­
tensa que a urbana, apesar de todo processo de urbanização verificado na época 
e que levou centenas de famílias pobres a migrarem para a cidade." 
Em relação, ainda, aos aspectos doutrinários, cabe registrar determinadas 
características do conceito de segurança, segundo a Escola Superior de Guerra.15 
Estas são: 
a) no âmbito internacional, como também no interno, a aspiração de segu­
rança das nações é uma realidade; 
b) a segurança, quer seja da pessoa humana, quer seja da Nação ou do 
Estado, é portanto um valor primordial; 
c) a estratégia nacional dos países em desenvolvimento está forçosamente im­
pregnada de aspectos de segurança interna; 
d) numa visão democrática de vida, a segurança alicerça-se na segurança 
individual, entendida como a situação na qual o indivíduo se sente interiormente 
14 Pastore, José et alii. Mudança social e pobreza no Brasil: 1970/1980. São Paulo, Pi<> 
neira/Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, 1983. p. 99. 
15 Escola Superior de Guerra. Manual básico. Rio de Janeiro, p. 189·227. 
DiliÚnuição da pobreza no Brasil 31 
No que diz respeito ao Brasil, onde quase sempre o salário não consegue 
acompanhar os índices elevadíssimos da inflação, o baixo salário tem sido, para 
a grande maioria .. um estímulo à improdutividade sob qualquer de suas formas. 
Sabe-se que a conseqüência imediata do baixo salário é a insatisfação pessoal 
e a pobreza. Evidentemente, num regime democrático, a política salarial restri­
tiva se reflete no estado permanente de tensão social, quando a consciência de 
classe leva ao exercício do legítimo direito de greve. Desta forma, numa con­
cepção global de combate à pobreza, não se poderia excluir a importância já 
reconhecida da valorização do salário e de toda a política que vise à criação 
de novos empregos. 
4.2 Controle da natalidade 
É imprescindível que se adote o controle da natalidade. 
Enquanto a taxa de crescimento populacional for elevada, será impossível di­
minuir a pobreza no Brasil. Tendo uma população residente atual de 141.302 
milhões de habitantes e projetada para 1990 de 150.368 milhões de habitantes, 
isto significa o surgimento de uma nova cidade de 9 milhões de habitantes a 
cada três anos. Torna-se evidente que há aumento crescente da pobreza. Por 
outro lado, 49,6% da nossa população têm menos de 20 anos. Segundo, ainda 
o Anuário Estatístico do Brasil, do IBGE, referindo-se ao Censo de 1980, havia 
32.731.347 brasileiros que não sabiam ler nem escrever, sendo que, destes, 
15.682.742 residiam nos centros urbanos e 17.048.605 no meio rural. Cabe 
lembrar que, em 1987, a taxa bruta de analfabetismo mantém-se em torno de 
20% da população brasileira. 
Não se tem dúvidas de que a viabilização do controle da natalidade pressupõe 
um conjunto de estratégias específicas, que já se inicia com a crescente acei­
tação do planejamento familiar. 
A discussão entre controle da natalidade e planejamento familiar tem sido 
vista como uma questão de semântica. Planejamento familiar não ieixa de 
ser uma estratégia de controle da natalidade. Ao casal cabe aceitar o planeja­
mento familiar e admitir o controle da natalidade. Entre os diferentes segmentos 
da sociedade brasileira é a igreja católica a que mais se opõe à aceitação de 
um controle populacional, enfatizandú ~ posição humanista da igreja, admitindo 
apenas os métodos naturais e, desta forma, contribuindo para o aumento da 
miséria, principalmente nos países em desenvolvimento. Sabe-se que o Estado 
soberano do Vaticano não tem nenhuma política demográfica. 
Quanto aos argumentos favoráveis ao planejamento familiar, devem ser des· 
tacados os seguintes: 18 
- planejamento familiar é um tema consensual; 
- planejamento familiar visa à melhoria da camada da população que vive 
em condições subumanas; 
a adoção eficaz do planejamento familiar é uma questão de saúde pública; 
compete ao casal aceitar os métodos artificiais de controle da natalidade; 
18 Argumentos extraídos do painel intitulado Planejamento Familiar no Contexto de uma 
Política Demográfica, realizado na ESG em 25.6.87. 
34 R.C.P. 2/88 
- planejamento familiar é uma questão de saúde, não devendo ser discri­
minada; 
- a ausência de controle da natalidade conduz, muitas vezes, à gravidez 
indesejada (tanto no meio rural quanto no meio urbano); 
- o controle da natalidade resolveria, também, o problema da mortalidade 
infantil devido à pobreza; 
- o planejamento familiar deve vir acompanhado de outras medidas: acesso 
à educação, melhor distribuição da renda, aumento real dos salários, tudo isto 
sendo feito harmonicamente. 
Sem um efetivo controle da natalidade, a população estimada para o ano 
2025 do nosso país é de 243 milhões de habitantes,19 mantendo-se na quinta 
posição dos países mais populosos do mundo, sendo suplantado apenas pela 
China (1.409 milhões); índia (1.311 milhões); URSS (339 milhões); EUA (286 
milhões); ainda neste ano, o continente europeu terá 540 milhões de habitantes. 
As conseqüências da ausência de controle da natalidade são perfeitamente 
previsíveis: aumento da fome, do desemprego, dos índices de criminalidade e da 
qualidade de vida. Isto se aplica, predominantemente, aos grandes centros urba­
nos. Há cidades como Calcutá, onde 600 mil pessoas pobres vivem e morrem 
nas ruas. Não tivemos acesso a esses dados em relação ao Brasil - é possível 
que nem mesmo existam -, entretanto, um.a percentagem significativa da nossa 
população vive nas praças, debaixo dos viadutos e das marquises. Esta popu­
lação, como ainda é minoria, aceita com resignação este estado de pobreza abso­
luta, desconhecendo seus mínimos direitos de cidadão. Como, então, esperar 
que !,essoas que vivem em permanente estado de pobreza absoluta possam, 
.::onscientemente, ter responsabilidade frente à reprodução? 
Os conhecidos efeitos do excessivo crescimento da população exigem não 
apenas vontade mas, sobretudo, recursos financeiros. O Banco Mundial calcula 
que US$ 7,6 bilhões seriam necessários para que o Terceiro Mundo conse­
guisse um rápido declínio da fertilidade até o ano 2000. Esta quantia não deve 
ser vista como elevada, quando se sabe que US$ 600 bilhões são gastos a cada 
ano pelas grandes potências apenas em armamentos. 
Considerando, ainda, que aproximadamente 68 milhões de brasileiros20 per­
tencem a famílias com renda inferior a três salários mínimos, e que mais de 
18 milhões de trabalhadores ganham menos de um salário mínimo, torna-se 
possível afirmar que a problemática principal da família brasileira caracteriza-se 
pela pobreza. Cabe registrar que nas famílias pobres a subnutrição afeta predo­
minantemente as crianças, comprometendo-Ihes o desenvolvimento futuro pela 
ocorrência de lesões irrecuperáveis,físicas e mentais. Além disso, cerca de seis 
milhões de crianças na faixa etán;, de sete a 14 anos, em todo o País, ainda 
não têm acesso à educação escolar, sendo que a maior parte destas pertence 
a famílias com rendimento per capita de até um salário mínimo. 
Quanto à política demográfica, o I Plano Nacional de Desenvolvimento da 
Nova República (1986/1989) assinala que o planejamento familiar relaciona-se 
à política populacional. "Se o controle demográfico é, em princípio, descartado 
pelo governo, isto não significa que não se possa oferecer às famílias acesso 
19 Time, Aug. 6, 1984, p. 12-23. 
20 República Federativa do Brasil. I PND da nova república 1986-1989. 261 p. 
Diminuição -da pobreza no Brasil 35 
a informações sob.re o controle da natalidade." Reafirma o governo da Nova 
República a postura assumida pelo Blasil nas conferências de Bucareste e 
México, pela qual considera direito de todos o acesso a essas informações e aos 
meios de planejar a família. 
Ao sugerir como uma das estratégias para a diminuição da pobreza no Brasil 
o controle da natalidade, considera-se implícito que haja um amplo debate em 
relação ao tema, consultando-se os diferentes segmentos da sociedade. 
Posteriormente, deverão ser realizados estudos por especialistas no assunto, 
para que se viabilize a política de controle da natalidade. Acredita-se que tal 
política possa estar subordinada ao Ministério da Educação. Poder-se-ia, mes­
mo, pensar na criação do Ministério do Controle da Natalidade. 
No que se rdere a uma política populacional, afirma o Dr. Schiavo: 21 
"População e desenvolvimento formam um binômio integrado, no qual cada 
um dos elementos influencia e é influenciado pelo outro. Assim, não se pode 
conceber que o fator população sequer seja considerado nas várias políticas de 
desenvolvimento econômico e social. Assim é que o país possui políticas espe­
cíficas para as áreas de habitação, saúde, transportes, educação, meio ambiente, 
lazer e esportes, por exemplo. No entanto, não possui uma política populacional 
e, também, não integra o fator população às políticas existentes. A conseqüência 
destes fatos é que as políticas de desenvolvimento estão sendo permanentemente 
ultrapassadas pela dinâmica demográfica." 
A análise do Dr. Schiavo quanto à ausência de uma política populacional 
expressa, no nosso entender. que ainda não se considera como prioritária a 
problemática demográfica. Apesar disto, em portaria assinada pelo ministro Jorg~ 
Bornhausen, da Educação, foi efetivada a participação do Ministério da Educação 
nas atividades de planejamento familiar. A portaria. de n.O 742, considera as pro­
vidências já tomadas pelos Ministérios da Saúde e da Previdência e Assistência 
Social, bem como aquelas implementadas no âmbito do Inamps e da LBA. 
(Portaria n." 742 de 15.10.86). 
4.3 Justiça social 
Que se implemente a justiça social no País. 
Associa·se, de imediato, a justiça social à diminuição das desigualdades para 
melhorar a redistribuição da renda e, conseqüentemente, atender às necessidades 
básicas de cada cidadão. assegurando a dignidade de vida para todos. A sua 
implementação depende de profundas reformas sociais que poderão se concretizar, 
desde que haja participação e mobilização de toda a sociedade brasileira. Acre­
dita-se que a nova Constituição seja o ponto de partida. pois um projeto de 
justiça social requer a prática da democracia. 
É evidente que a prática da democracia associa-se aos seguintes aspectos: 
tributar mais justamente os ganhos de capital e especulativos; oferecer iguais 
oportunidades; assegurar uma distribuição de renda eqüitativa; desenvolver as 
atividades produtivas mediante critérios qualitativos de bem-estar social e per· 
mitir a convivência pacífica e digna das desigualdades sociais. 
21 Schiavo, Márcio Ruiz. Planejamento familiar: uma perspectiva ética e humanística. 
Conferência proferida na Escola Superior de Guerra, em 25.6.87. 27 p. (Série Publicaçõe, 
Técnicas. ) 
36 R.C.P. 2/88 
Sabe-se que os brasileiros mais ricos22 (1 % do total) detinham, em 196U, 
cerca de 12% da renda; tal participação elevou-se para 15% em 1970, e 17% 
em 1980. Além disso, em 1983 os 10% mais ricos captavam cerca de 46% 
da renda, enquanto os 20% mais pobres ficavam com menos de 4%. Tais 
dados são expressivos para se constatar os níveis de pobreza e de desigualdade 
social da população brasileira. No próprio I PND da Nova República está re­
gistrado: "Pobreza e miséria crescentes, desigualdades ampliadas, desemprego 
em ascensão, tudo isso caracteriza crise social sem paralelo na história brasileira. 
São inaceitáveis as condições de vida da maioria do povo, em um País com 
o potencial .e a dimensão do Brasil. Reverter esse quadro, criando condições 
para que todos os brasileiros possam usufruir de seus direitos básicos nas áreas 
econômica, social e política -= eis o grande desafio e a prioridade da sociedade 
brasileira." Se por um lado "são inaceitáveis as condições de vida da maioria 
do povo", 'por outro lado tomam-se cada vez mais possíveis as convulsões sociais. 
Convulsões sociais fazem lembrar crises sociais que resultam da incapacidade 
de uma determinada sociedade de se organizar, de manter uma ordem social e 
perder a SUb capacidade para resolver os problemas de sua evolução e do seu 
desenvolvimento. Não há dúvida, as crises econômicas e as crises políticas são 
também crises sociais. 
No que se refere ainda à distribuição de renda, vale registrar determinadas 
observações de um trabalho de determinados estagiários da Escola Superior 
de Guerra da turma de 1987:23 
"A melhoria na distribuição de renda, no campo e nas cidades, assim equa­
cionada, certamente reduziria as tensões sociais latentes que poderiam compro­
meter a segurança e o desenvolvimento. ( ... ) É amplamente reconhecido que 
o acesso aos níveis mais elevados de educação formal constitui um importante 
canal de ascensão social, desaguando na obtenção de maiores rendimentos. ( ... ) 
Por isso, participação no desenvolvimento e igualdade de oportunidades sinte­
tizam as fórmulas viáveis de melhoria na distribuição de renda sem sacrificar 
o processo de crescimento. 
Seus principais instrumentos, a médio e longo prazos, seriam os investimentos 
em recursos humanos (educação, saúde, nutrição, planejamento familiar volun­
tário) e em desenvolvimento tecnológico (tecnologias progressivas). 
A curto prazo, objetivando a eliminação da miséria e a ampliação da classe 
média, impõ~-se a adoção de racionais políticas salariais (interessada em ganhos 
reais, manutenção do emprego e contenção da inflação) e fiscal (maior progres­
sividade do imposto de renda, sistema arrecadador mais eficaz e justo, impostos 
sobre riqueza e patrimônio, prioridade e incentivos ao desenvolvimento regional 
rural e urbano)." 
Acrescente-se a estas lúcidas considerações do citado trabalho, como uma das 
estratégias para se implantar a justiça social, a indispensável taxação de herança. 
Tal taxação de herança deve ser progressiva, a exemplo do imposto de renda, 
podendo mesmo alcançar 80% da respectiva herança. Esta medida não apenas 
amenizaria as conhecidas desigualdades sociais no nosso País, como contribuiria 
com novos recursos para assegurar os direitos sociais fundamentais à população 
brasileira. Não é exeqüível manter a atual legislação sobre herança, que privi­
legia e perpetua a concentração de riqueza nas mãos de uma minoria. 
22 República Federativa do Brasil. I PND ... 
23 Distribuição de renda: fator de segurança e desenvolvimento. Rio de Janeiro. ESG. 
Relatório tio Grupo 2, Expressão Econômica, 15.5.87; 13 p. 
Diminuição dfl pobreza no Brasil 37 
A implementação da justiça s9cial está condicionada ao próprio fortalecimento 
do regime democrático, deslocando o centro do equilíbrio social da propriedade 
para o trabalho. Indispensável, ainda, que haja, de fato, a democratização dos 
fatores de produção - natureza, capital, trabalho, tecnologia e gerenciamento -
de modo a permitir.a participação de qualquer cidadão brasileiro nos benefícios 
do desenvolvimento nacional. Além disso, as organizações comunitárias de base 
podem-se transformar em canais de comunicação permanente entre os órgãos 
governamentais e o povo. 
Para que o Brasil avance no sentido da realização da justiça social, como 
uma das estratégias para diminuição da sua pobreza, é imprescindível que se 
extingam as mordomias dOli poderes constituídos. 
Quanto aos movimentos sociais que, direta ou indiretamente, buscam a jus­
tiça social, vale assinalar as observações da Prof.a Aspásia Camargo, da Funda­
ção Getulio Vargas: 24 
"Por definição, o movimento social é uma forma de protesto e de mobili­
zação que atinge os setores mais estrategicamente nevrálgicos dos interesses so­
ciais dominantes e que, por isso mesmo, seja a nível cultural, seja a nível de 
trabalho, da política ou das classes, põe em questão os fundamentos materiais 
ou valorativos da ordem social. ( ... ) Quanto à questão dos movimentos rei­
vindicatórios, à razão de ser deles, acho que o tema já foi bem abordado tanto 
pelo Prefeito Satl.!rnino como pelo Jó. Gostaria simplesmente de lembrar duas 
coisas: acho que é muito importante que os movimentos sociais cresçam em 
sociedades com alto dinamismo econômico. Quer dizer, as taxas de 10% de 
crescimento e agora de 5%, 6%, 7% são propícias à organização do movimento 
social. Dificilmente uma sociedade parada se favorece desse tipo de organiza­
ção. Acho que no Brasil houve uma coisa importante: houve um crescimento 
perverso, desigual, e essa desigualdade teve um nível de visibilidade muito 
grande, porque a modernização afetou diretamente os meios de comunicação. 
Então, a TV Globo, no fundo, foi a grande dfvulgadora da injustiça. Até 
através das novelas se pode ver isso, e evidentemente a população reage em 
função do que ela percebe, e o que se percebeu é que o país cresceu e que o 
bolo foi mal repartido. ( ... ) Finalmente, acho que há o problema também 
da mobilidade social. O Brasil é hoje não só o país mais perverso do ponto 
de vista de distribuição de renda ( ... ), mas também um país com baixíssimo 
nível de mobilidade social. A educação é um canal não disponível à socie­
dade ( ... )" 
Torna-se, ainda, da maior importância citar as recentes reflexões do cientista 
político Hélio Jaguaribe;: quanto ao crescimento acelerado da miséria no Brasil. 
Diz ele: 
"A batalha campal travada, no dia 17 de agosto, entre um numeroso grupo 
de moradores da favela da Rocinha e a Polícia Militar, ocasionando diversos 
feridos, danificação de muitos veículos e a completa interrupção do tráfego, por 
longas horas, entre a Barra e a cidade, não é um simples episódio a mais da 
violência que campeia no Rio de Janeiro. ~ uma dramática advertência da 
inviabilidade, a muito curto prazo, da coexistência, no Brasil, de uma moderna 
sociedade, que abrange apenas uma parcela minoritária da população, com 
24 Mesa-redonda realizada pelo INDIPO/FGV. Revista de Ciência Política. Rio de Ja­
neiro, FGV, 29(1):19-22, out./dez. 1986. 
25 Jaguaribe, Hélio. A Rocinha e o abismo da miséria. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro. 
21 ago. 1987. 1.0 cad. p. 9. 
38 R.C.P. 2/88 
grandes massas marginais, que vegetam à margem dessa sociedade ( ... ) o fato 
de que essa favela (de 200 mil pessoas), embora de maiores dimensões, seja 
apenas uma, entre mais de 400, que abrigam quase dois milhões de brasileiros, 
toma esse escândalo algo de alarmante. E a circunstância de que seja domi­
nada por um bando de narcotraficantes indica que já se ultrapassaram todos 
os limites possíveis de tolerância e que a crise social brasileira se precipita, 
velozmente, na direção da ingovernabilidade. ( ... ) 
Que ocorre, na hipótese de não se pôr aceleradamente em marcha um eficaz 
programa de erradicação do atraso e da miséria? O episódio da Rocinha é um 
excelente indicador. A acumulação da marginalidade urbana, nas favelas e nas 
periferias das metrópoles, gera uma grande massa de pessoas totalmente dese­
ducadas, condenadas aos mais baixos níveis salariais e, com maior freqüência, 
ao subemprego do terciário informal. ( ... ) Mas, o que definitivamente importa 
é acabar com o atraso e a miséria e incorporar as grandes massas a níveis su­
periores de vida, de capacitação e de participação. Ou acabamos com a miséria 
ou a miséria acaba com o Brasil." 
5. Considerações finais 
A dimensão da desigualdade social tem sido um fator constante no processo 
da evolução social do nosso País; entretanto, não se pode deixar de reconhecer 
que o Brasil é um País de imenso potencial econômico e social. Vale lembrar 
que suas riquezas, principalmente na Região Norte do país, ainda estão sendo 
descobertas, e que suas reservas de minérios podem atingir centenas de anos. 
Neste caso, podemos citar o bem-sucedido Projeto Carajás, onde desde 1966 as 
seguintes substâncias minerais foram descobertas: manganês, ferro, cassiterita, 
cromita, minério de níquel, cobre, bauxita metalúrgica, ouro e wolframita. Além 
disso, a estimativa para 1988 do Projeto de Ferro Carajás é alcançar o pique 
máximo de sua produção - 35 milhões de toneladas de ferro. Conseqüente­
mente, este projeto introduziu mudanças profundas no contexto de uma região 
quase totalmente inexplorada. Hoje, a Serra dos Carajás é considerada a maior 
província mineral do planeta. Em suma, o Projeto de Ferro Carajás está intima­
mente ligado ao desenvolvimento econômico brasileiro e ainda contribui para a 
indispensável integração de toda a Região Amazônica. 
Numa visão global, sabe-se que a economia brasileira tem uma inexorável 
tendência para evoluir e tem, de fato, evoluído, apesar de todos os seus problemas 
(inflação, dívida externa e mais recentemente o fato de que a arrecadação com 
o ICM é inferior à folha de pagamento da maioria dos estados da federação). 
Voltando à questão central deste trabalho, e mais especificamente à redução 
da pobreza no Brasil, toma-se significativo citar determinadas estratégias apon­
tadas pelo Prof. Jaguaribe: 2ó 
"A redução da pobreza, dentro de condições viáveis para o Brasil, no período 
em referência, só poderá consistir na ampliação e diversificação dos padrões de 
consumo dos setores que percebam, nas futuras condições do país, de um a dois 
salários mínimos. No caso da erradicação da miséria, como procedentemente se 
viu, o que está em jogo, basicamente, é uma apropriada remuneração do trabalho 
2ó Jaguaribe. Hélio. Brasil 2000 - para um novo pacto social. Rio de Janeiro, paz e Terra, 
1986. 196 p. 
Dinfinui'Ção dIZ pobreza no Brasil 39 
não-qualificado dentro de condições de pleno emprego e de confortável superávit 
da oferta física de alimentos, relativamente à demanda doméstica. No caso 
da redução da pobreza, o que está em jogo é a elevação da produtividade geral da 
economia, combinadamente com melhor remuneração do fator trabalho e uma 
socialmente mais eqüitativa alocação do excedente. 
No processo de redução da pobreza estão em jogo três principais dimensões. 
Na base do processo, se encontra o questão de melhor utilização da terra e da 
relação homem-terra. No topo, um incremento da eficiência técnico-gerencial 
dos sistemas produtivos. E, no âmago do processo, uma redução do custo e da 
remuneração relativos do fator capital." 
Cumpre, ainda, lembrar7 que apesar do Brasil possuir a oitava economia 
do mundo ocidental, tem ainda aproximadamente 23 milhões de pessoas resi­
dindo em favelas e cortiços; há uma estimativa de que 35 milhões de brasilei­
ros vivem com um déficit alimentar superior a 400 calorias/dia; há 7 milhões 
de menores abandonados; há 4,5 milhões de idosos carentes; 1 % da população 
total - os mais ricos - tem praticamente o equivalente a toda a renda apro­
priada pelos 50% mais pobres; no período de 1959 a 1986 houve uma corrosão 
do salário mínimo, alcançando uma perda do seu poder de compra de 30%, 
correspondendo, apenas, a US$ 58 mensais em 1986; a esperança de vida ao 
nascer dos que ganham até um saláriomínimo está estimada em 54,8 anos; 
há 10,6 milhões de trabalhadores rurais sem terra ou com pouca terra; o déficit 
referente à população educacional em 1984 inclui 24,2 milhões de brasileiros 
analfabetos, e há uma população não-escolarizada de 16,9 milhões de pessoas. 
Em suma, tais dados reforçam, ainda mais, a idéia de que estratégias globais 
e específicas de combate à pobreza, como as preconizadas neste trabalho, mere­
cem ser repensadas, tendo em vista evitar que o país chegue ao final deste 
século inserido nem contexto sócio-econômico altamente conturbado, propenso 
aos conflitos sociais e à inevitável instabilidade política. 
Finalizando, cabe registrar que somente em regime de plena liberdade as 
estratégias apresentadas por mim neste trabalho, concernentes à diminuição da 
pobreza no Brasil, poderão ser discutidas amplamente pelos diferentes segmen­
tos representativos da sociedade brasileira. 
TI Dados quantitativos, a seguir apresentados, extraídos do Programa de Ação Governa­
mental (1987-1991). República Federativa do Brasil. Secretàrià de Planejamento e Coorde­
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