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Tributo, dívida de dinheiro enquanto não-vencida a obrigação de pagar, é ilegal a exigibilidade em OTN-IR

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TRIBUTO, DíVIDA DE DINHEIRO -
ENQUANTO NÃO-VENCIDA A OBRIGAÇÃO DE PAGAR, 
É ILEGAL A EXIGIBILIDADE EM OTN-IR 
PLÍNIO PAULO BING* 
1. Os fatos circunstanciais 
1. A empresa, ao encerrar seu Balanço Patrimonial em 31/12/86, por dispo­
sição do art. 20 da Lei n9 7.450, de 23 de dezembro de 1985, é compelida 
a converter em OTN "a base de cálculo do imposto", isto é, o lucro real, 
fazendo a divisão do valor em cruzados, pelo valor da OTN, no mês do 
encerramento do período-base de sua apuração, imposição que está repetida 
no art. 69 do Decreto-lei n9 2.323/87. 
Pelo art. 21 da Lei n9 7.450/85 - também o imposto de renda exsurgente 
sobre o lucro deverá ser expresso em OTN, calculado mediante a multiplicação 
da "base de cálculo" convertida em número de OTN nos termos do artigo 
anterior (20) a quantidade de OTNs será o valor do imposto a pagar. Tam­
bém o art. 79 do Decreto-lei n<? 2.323 repisa esta disposição. 
1.1 O efeito prático desta ordenação supostamente legal é que se a empresa 
teve um lucro líquido, por exemplo, de Cz$ 12.000.000,00 equivalente a 
112.781,95 OTNs (à base de Cr$ 106,40 a OTN em 31/12/86, e incidindo 
sobre esta base de cálculo uma alíquota de 35%, art. 405, RIR e Decreto­
lei n9 1.704/79, art. 1°), aquele lucro líquido convertido em OTN equivalerá 
a 39.473,68 OTNs (cálculo: 112.781,95 OTNs X 35% = 39.473,68 OTNs). 
Como o lucro líquido ou a "base de cálculo" sobredito sobrepuja as 40.000 
OTNs, previstas pelo art. 25 da Lei n9 7.450/85, o excedente de 72.781,95 OTNs 
(cálculo: 112.781,85 OTNs - 40.000 OTNs = 72,781,95 OTNs) estará pro­
piciando a incidência do adicional do imposto de renda de 10% sobre as 
72.781,75 OTNs excedentes, pelo que resulta em mais 7.278,19 OTNs de 
tributo. 
Somado o IR ao seu adicional, ter-se-á um tributo global de 46.751,87 OTNs 
(adição de: 39.473,68 + 7.278,19). 
1.2 Ocorre que, 46.751,87 OTNs ao valor de Cz$ 106,40 (base da OTN em 
31/12/86) equivalem a um débito de Cz$ 4.974.398,00 naquela data do en­
cerramento do balanço; porém, ao ser entregue a declaração de rendimentos, 
em março de 1987, fixado já o novo valor da OTN em Cz$ 181,61 (Comu­
nicado Demob n9 708 do BCB de 4 de março de 1987), o débito constituído 
por este sistema ilegal será de Cz$ 3.516.209,00 em relação a 31 de de­
zembro de 1986. 
* Advogado. 
R. C. pol., Rio de Janeiro, 30( 4): 69-76, out./dez. 1987 
1.3 A situação real do contribuinte é ainda mais aplastante. Se sua empresa 
tem lucro superior a 40.000 OTNs, só pode parcelar seu pagamento em seis 
vezes (art. 22, Lei nO 7.450/85), pelo que, só em março de 1987, 1/5 do 
total das 46.751,87 OTNs, que representam 7.791,97 OTNs (cálculo: 
46.751,87 -;- 6 = 7.791,97) é que serão resgatadas com a OTN valendo 
Cz$ 181,61, porque, com a variação mensal do valor da OTN (a periodicidade 
da variação da OTN foi delegada ao CMN, ut parágrafo único do art. 6° do 
Decreto-lei n9 2.284/86), o débito já absurdo, escorchante e ilegal de 
Cz$ 8.490.607,00 será bem maior, desde que a variação do IPC é projetada 
pelas próprias autoridades do setor, por mês, em dois dígitos. Não é absurdo 
ter a expectativa de que gradativamente pagará, por mês, um acréscimo da 
ordem de 15%. Fazendo com que o tributo seja incrivelmente maior. Repete­
se, o tributo, não como se quer fazer crer, o tributo e sua correção. 
2. No plano econômico-financeiro a situação das empresas com lucro é de 
desastre para si e para o País. 
A experiência tem revelado que aqueles que vão a banco para tomar emprés­
timos de alto valor, seja para pagar impostos ou saldar qualquer dívida, tornam­
se insolventes em poucos meses, porque simplesmente não há, fora do leno­
cínio (antes da Aids) e da venda de narcóticos, nenhum negócio lícito que 
permita cobrir sequer o custo dos juros finais bancários. Assim. fazendo o 
possível e o impossível. a empresa reduzirá o seu negócio para fazer nume­
rário e pagar ao governo. Será a "sua recessão"; a recessão construída no 
âmbito interno de "seu negócio". com reflexos inevitáveis para o seu mundo 
"exterior" interdependentes de outras empresas. Mas é o que o Governo al­
meja contraditoriamente em relação ao quanto proclama de público para o 
"zé-povinho" ouvir, em infeliz e absurda demagogia. Ou. quem sabe, a outra 
alternativa, se tal fosse possível, encerrar as atividades, apanhar o dinheiro, 
deixar em caderneta de poupança e esperar os 20% de rendimentos procla­
maàos para fevereiro p.p.; aí sobra dinheiro; mas não àqueles que laboram 
com produtos "cipados". 
2. Do direito 
3. Duplos são os fundamentos jurídicos que apontam a ilegalidade deste pro­
ceder fiscal, um deles de ordem constitucional. 
Considera o § 29 do art. 97 do CTN, como "não-majoração de tributo a atuali­
zação do valor monetário da respectiva 'base de cálculo' ". Calcado neste pre­
texto. e em decisões inclusive do STF, entre as quais se adianta aquela ex­
pressa no RT J 84'631 - seria lícita a pretensão fiscal segundo entrevista 
jornalística de já notório contorcionista de alto relevo na República. 
T uridicamente a pretensão fiscal está assentada em premissas falsas diante da 
estrutura legal vigente. 
4. Comecemos por pedir estrita atenção ao conteúdo integral do vigente § 2° 
do art. 97 do CTN, que assim dispõe: 
70 R.C.P. 4/87 
"Não constitui majoração de tributo, para fins do disposto no inciso 11 deste 
artigo, a atualização do valor monetário da respectiva base de cálculo." 
Recorde-se que o art. 97, em seu caput determina: 
.. Somente a lei pode estabelecer: 
I. Omissis; 
11. A majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o disposto nos arts. 21, 
26, 39, 57 e 65." 
4.1 Tem-se, pois, como regra máxima, paladina, o não-aumento de imposto sem 
lei que o autorize e que "a atualização do valor monetário da base de cál­
culo" não é majoração de tributo. 
4.2 Ora, se a empresa em 31/12/86 devia um tributo certo de Cz$ 4.974.398,00, 
não pode, sem lei, dever já em março Cz$ 8.490.607,00; também, ver-se-á, não 
houve "atualização da base de cálculo" para que essa majoração passe in albis. 
4.3 Tecnicamente, a "base de cálculo do tributo" em 31/12/86, para a situa­
ção aventada. é de um lucro de Cz$ 12.000.000.00; a "atualização" desse valor 
em 31/12/86 era e é os mesmos CzS 12.000.000,00, pela simples e grande 
razão de que tanto as receitas quanto as despesas operacionais, inseridas nas 
contas ativas do balanço, foram corrigidas segundo os índices e limites de cor­
reç30 autorizados por lei na conta "permanente", e também as contas passivas 
(no patrimônio líquido); destarte, o desfecho do balanço patrimonial traduzidos 
pelo "demonstrativo do resultado do exercício" são a expressão absoluta do 
lucro atualizado, corrigido monetariamente (Ato Declaratório Normativo CST 
n9 001, DOU 9 out. 1987). Inequivocamente, este lucro está exposto pelo valor 
real corrigido, sem que se possa, ainda que de leve, sugerir que o contribuinte 
tem nele alguma reserva de inflação não-tributada. Não. Tudo está exposto, e 
corrigido. 
4.4 Logo. para os fins do § 29 do art. 97 do CTN, o lucro líquido tributável, 
que é a "base de cálculo", sobre o qual se aplica a alíquota de 35% do IR, e 
mais o adicional, este, já está atualizado, corrigido. 
Se a "base de cálculo" já está atualizada em 31 de dezembro de 1986, e o tri­
buto calculado sobre esta mesma base dentro do prazo ou prazos de vencimento 
- estipulado para o recolhimento do tributo -, o valor desse tributo for de 
expressão maior, não há que se falar (em linguagem sofística) de que houve a 
"correção da base" -, mas o que deu foi uma efetiva majoração de tributo; 
por efeito direto, a majoração verdadeira da alíquota, dês que a "base de cál­
culo" no entendimento que se lhe dá a doutrina (Nogueira, Ruy B. In: Dir. 
financeiro. 1969. t. 1, p. 115; Becker, Alfredo A. Tratado. 2. ed. Saraiva, p. 
338, n. 104; Borges, José Souto Maior. Tratado. Forense, 1981. v.4, p. 385 e 
Falcão, Amilcar de Araujo. In: Fato gerador da obrigação tributária. ed. Finan­
ceiras, 1964. n. 47, p. 155)ficou inalterada. 
5. Se a "base de cálculo" em 31 de dezembro de 1986, em seu derradeiro mo­
mento (tempo) estava legalmente atualizada monetariamente, o tributo de 35%, 
Tributo 71 
e o adicional de 10% sobre o excedente das 40.000 OTNs, também estava. É 
lógica matemática, a única indisponível para devaneios. 
Se constituído o lançamento do IR, perfeito e acabado em 31 de dezembro de 
1986, constitui-se este valor em crédito tributário; o momento do pagar esse 
valor é uma questão que fica no âmbito de uma convenção, se de contrato a 
espécie tratasse, ou, no prazo fixado em lei, se de tributo se cogita, que é o caso. 
Recolhendo-se o tributo dentro dos prazos do parcelamento fixado em lei, não 
há que se alterar o valor do tributo, aumentando-o. 
5.1 Quem fixa o momento do pagar uma obrigação certa sempre considera, 
avalia o tempo que demanda entre a constituição da obrigação (débito), e o dia 
do seu resgate. 
Assim, se a Lei nO 7.450/85, pelo art. 22, hoje Decreto-lei nO 2.323/87, art. 
89, fixou que o pagamento, para este caso, é de seis parcelas, vencendo-se a 
primeira no próprio mês da entrega da declaração, dentro do prazo concedido, 
não pode mudar o valor da prestação, simplesmente porque a prestação ou a 
parcela pertence ao mesmo cordão umbilical da exsurgência da obrigação, e ela 
só pode ser expressa no título da moeda brasileira de curso forçado, o cruzado, 
ex vi do art. 19 do Decreto-lei n9 2.284/86. 
Dentro da gênese da obrigação tributária, o prazo (ou termo de vencimento) 
que a lei fixa para saldar o tributo, no todo ou em parcelas, supõe que a alí­
quota utilizada compense o prazo dado para pagar. Isto pertence ao mecanismo 
de todos os cálculos atuariais, usado desde todos os tempos tanto em "contra­
tos", quanto pelo fisco, na avaliação política do tributo para apurar seu quan­
tum final, para atender a previsão orçamentária. 
5.2 Ninguém duvida que imposto devido seja dívida de dinheiro, e não dívida 
de valor. Mestre Galeno Lacerda, hoje brilhante desembargador do Tribunal 
de Justiça do Rio Grande do Sul (Correção monetária, Prefeitura de Passo 
Fundo-RS, 1969), citando o Jurista Nussbaum. criador da teoria das "dívidas 
de valor" (logo depois da I Guerra Mundial na Alemanha. em 1925, na obra 
Das Geld, e mais, Ascarelli, Ferrara, recorda que" ( ... ) da enorme multidão de 
dívidas de dinheiro" um grupo relativamente pequeno é de "dívidas de valor" 
(Wertschulden). Enquanto as primeiras devem seguir o princípio do valor nomi­
nal, "não há inconveniente" em que nas segundas se adote o valor econômico 
(sic, p. 55). 
E prossegue Galeno: 
"Distinguindo as dívidas em dinheiro das de valor, estabelece ele (Nussbaum) 
o seguinte critério: '( ... ) o princípio do valor nominal da moeda está ligado, 
justamente, à determinação do objeto de dívida e pressupõe, portanto, necessa­
riamente, uma dívida, cujo objeto seja constituído, precisamente, pela entrega 
de uma soma em dinheiro. Por conseguinte, o problema é diverso quando nos 
achamos não diante de um débito, mas diante do diverso problema de uma 
'avaliação', em que a moeda é levada em conta, não como objeto de dívida, 
mas como medida de valor: nesta hipótese não é mais aplicável o princípio 
do valor nominal, etc." 
72 R.C.P. 4/87 
5.3 Lançamento de imposto de renda, pelo qual o próprio contribuinte se "de­
clare devedor" de determinada cifra (Enciclopédia Saraiva de direito, 48, p. 24), 
constitui a favor do erário um crédito que, na hipótese de impago no prazo (art. 
160 do CTN, prova que o prazo do pagamento é integrante e um dos elementos 
da norma legal do próprio lançamento, art. 142 do CTN, apud: Enciclopédia 
Saraiva de direito, cit., p. 4 e 5), é inscrito na Dívida Ativa ut art. 201. É irre­
torquível ser este lançamento da "declaração de renda" uma dívida de dinheiro.1 
Impago débito no vencimento, posto o devedor-contribuinte em mora, nesta cir­
cunstância, passará a ser dívida de valor quando a atualização do dinheiro faz 
sentido em face, repita-se, de inadimplência, já agora acrescido da penalidade 
e juros. 
Enquanto o contribuinte tem o prazo legal para pagar na modalidade deixada 
à sua opção, não há mora debendi, e este "valor em dinheiro" não poderá ser 
modificado, sequer pela lei, quando esta lei, data vênia, não tem a hierarquia 
de uma complementar à Constituição federal, sustenta-se adiante. 
5.4 A legislação que exige tributo não-vencido e dentro do prazo para paga­
mento em valor corrigido é iníqua na acepção do termo. 
Se o contribuinte em seus negócios de compra e venda, pelos quais tem débitos 
e créditos, não pode vender nem emitir notas fiscais faturas com base na OTN, 
mas deve fazê-lo em cruzados, ex vi do art. 19 do Decreto-lei n9 857/69 e art. 
947 do CCB, não pode na geração de tributos, quando ocorrer o "fato imponí­
velou gerador", dever em outro tipo de moeda, que, por sinal, sequer existe. 
Só há uma hipótese dentro da legislação pela qual pode um débito ser consti­
tuído em ORTN (hoje OTN), é quando ocorre a circunstância prevista no art. 
29 do Decreto-lei n9 6.423/77, e se constituir o contrato em dívida de valor, 
e não de dinheiro, fazendo este registro legal coerência com aquilo que se vem 
sustentando; corrigíveis só são dívidas de valor, não aquelas exsurgentes do 
lançamento tributário, líquido e certo. 
5.5 Mas é o próprio Governo quem mais notavelmente distinguiu a dívida de 
valor daquela de dinheiro. Tal aconteceu no art. 89 , § 19 do Decreto-Iei n9 
2.284/86, quando criou a tabela diária de conversão das dívidas futuras em 
cruzeiros para valerem cruzados. Ali, por todas as letras está impresso o critério, 
em sentido inverso àquele que se está demonstrando, mas, sem dúvida, o Go­
verno reconheceu, publicamente, que no prazo do dia-a-dia, está computado 
um plus, aprioristicamente fixado, que se havia no sistema cruzeiro, deveria 
ser removido, daí a tabela. 
Ora, ao se fixar uma alíquota para o imposto de renda de 35%, e mais um adi­
cional de 5% (art. 405 RIR), que depois passou a 10% em 1985, mantidos, por 
disposição legal, um parcelamento de seis meses, que é aquele que enquadra 
a situação do contribuinte, aquelas "alíquotas" somadas, em seu mecanismo, 
assimilam, absorvem, levam em conta esse parcelamento. Fosse à vista esse 
pagamento, a alíquota, por certo seria outra, menor. Como, aliás, nem há a mo-
1 Ver. ainda, Carvalho, Edson de. A inconstitucionalidade da correção monetária de dé­
bitos fiscais. ITN, n. 911, p. 437. 
Tributo 73 
dalidade de um só pagamento à vista, por inexistirem normas legais a respeito; 
não se pode invocar senão essa modalidade de pagar, em seis parcelas, e efe­
tuado neste regime legal o pagamento, não pode a dívida de dinheiro se trans­
formar em dívida de valor, e expressa deve ser só em moeda. 
6. É provável que o Erário venha lembrar, para se opor aos desígnios do con­
tribuinte sub judice, que o sistema de converter o lucro líquido e o respectivo 
tributo em ORTN, depois OTN, venha desde o art. 3° do Decreto-lei n9 1.967/ 
82, depois Lei nO 7.450/85 e, mais recentemente. Decreto-lei nO 2.323 /87. art. 
7°, e que seria por isso uso e costume, de quase cinco anos, esse sistema ... 
Sem dúvida, a lembrança é incômoda; contudo, nem por isso deixa de ser ile­
gal ou injurídico esse sistema; porque com ele se logra o .. aumento do tributo". 
Esta acomodação passada do contribuinte para evitar incomodação, aspecto 
muito próprio da nacionalidade brasileira, tem sido, inclusive por autoridades 
ditas democráticas, causa e efeito de muitos abusos ao direito dos cidadãos. 
Se quer exemplo recente deste abuso? Pois não é isso a retenção do imposto 
de renda na fonte a devolver no exercício de 1986, que o Governo transformou 
em empréstimo compulsório pelo art. 14 da Lei nO 7.450/85, sem declarar essa 
retenção como um empréstimo para escapar dos princípios e circunstâncias inse­
ridos no § 39 , do art. 18 da Constituição federal? E quem reclamou? 
Assim, como não é juridicamente viável esse "empréstimo"por lhe faltarem 
os pressupostos constitucionais, também não existe, como decurso forçado, a 
"moeda OTN", pelo menos por ora, para pagar dívidas de dinheiro. 
6.1 Quando, entretanto, o abuso da autoridade transcende dos limites do su­
portável, e coloca a própria existência do contribuinte em jogo de subsistência, 
nestas circunstâncias dramáticas, não se trata mais de temer as forças do Leviatã 
e sua fúria ígnea, suas ameaças enfim, porque a aceitação pacífica do que o 
fisco almeja será o início de sua destruição; por isso, a resistência jurídica é 
imperiosa, custe o que custar. Relembre-se que em 31 de dezembro de 1986, 
constituiu-se a empresa devedora, pelo lançamento exsurgente do balanço da­
quela data, em CzS 4.974.398; sem que tenha inadimplido; ao contrário, cum­
pre todas as normas legais, ao .. declarar" sua renda em fins de março (seu prazo 
legal). não pode dever Cz$ 8.490.607,00, e muito mais que isso, se após a 
primeira parcela de 1/6, tiver nos meses seguintes que atualizar pela OTN cada 
um sexto (1/6) a vencer. 
Não só pelo sistema empresarial que tem "bens" imobilizados, "bens circulan­
tes", um aumento explosivo no valor nominal da dívida não tem paralelo na 
receita da empresa que tem preços congelados, "cipados". Sem ter tido a míni­
ma chance de fazer render seu circulante, como ocorreu com aqueles que tinham 
recursos financeiros aplicados em CDBs ou títulos equivalentes, a resistência 
jurídica é um estado de necessidade. 
7. O que se sustenta no plano jurídico, e se repisa, é que obrigação tributária 
exsurgente de um lançamento ocorrido sobre um fato gerador complexo (ba­
lanço de 31 de dezembro de 1986), onde um dos elementos do cômputo de valor 
é o "lucro", a "base de cálculo", viu-se esta de valor" atualizado", o que resulta 
74 R.C.P. 4/87 
da incidência da alíquota de 3%, mais o adicional - tributo atualizado. Este 
valor pago no "termo" ou termos designados por lei, em seis parcelas no caso, 
não pode ser modificado, porque o prazo é parte integrante, inseparável do 
momento da satisfação da obrigação então nascida ao término de 31 de dezem­
bro de 1986. 
Na prática, de fato, se o Fisco em março entende constituído um débito de 
CzS 8.490.607,00 ao invés daquele de CzS 4.947.398,00, ocorreu um aumento 
de imposto, e isto a lei proíbe, porque se a "base de cálculo", como demons­
trado, já estava corrigida, e mesmo assim o quantum a pagar é maior, então 
ocorreu foi a violação ao art. 97 inc. II do CTN, que proíbe majoração de 
tributo, sem lei. Lei, aqui referida, com o sentido de que um tributo que era 
um passe a ser outro, maior em cerca de 70,7%. Demonstrado este fato, é ilegal 
o art. 79 do Decreto-lei nO 2.323/87, e todos dispositivos anteriores de igual 
orientação. Como chegar-se a esta afirmação? 
7.1 É que o valor liberatório de pagar o imposto é maior. Isto é inconteste. 
Então há majoração de tributo. Se o cálculo do tributo se dá com dois elemen­
tos - um, a "base de cálculo", e outro, a alíquota - e a "base de cálculo", 
em 31 de dezembro de 1986, já estava atualizada, o procedimento final impli­
cando cifra maior, esta majoração é aquela vedada, porque quem disparou esse 
"aumento" foi um Comunicado DEMOB nO 708 do Banco Central em 4 de 
março de 1987, e não uma lei, que, se lei ainda fosse, ainda assim seria ilegal, 
mais que isso, inconstitucional a aplicação desse aumento em face das Súmulas 
do STF n9s 66 e 67. 
7.2 Não se diga que pela Lei n9 7.450/85, art. 20, existe a lei autorizativa. Não 
é assim. 
Diz a Lei Complementar aludida, o CTN, no inciso 11 do art. 97, que só a lei 
pode autorizar majoração de tributo. 
Ora, a Lei nO 7.450/85 não aumentou nenhuma alíquota no sentido dado pelo 
art. 20 (procedeu, sim, a aumento de IR, aumentando o "adicional de renda" 
de 5% para 10% no art. 25, este aumento de alíquota, sim, é legal às vistas 
do inciso II do art. 97 referido); pelo que se extrai do § 29 do art. 97 do 
CTN, correção monetária só é permitida quando incide sobre a "base de cál­
culo". Como já se viu, a "base de cálculo" por ocasião do balanço já estava 
absolutamente atualizada (item 1.3), logo, qualquer outra atualização, seja de 
alíquota, ou na exigência do valor final, é correção, e correção é vedada pelo 
CTN. 
7.3 Deu, finalmente, o próprio fisco um elemento cabal de que esse" aumento" 
prático é tributo e não "correção". 
É que a empresa não pode contabilizar esse plus que é exigido como "correção" 
como despesa. 
É que pelo art. 22 do Decreto-lei n9 1.967/82, e também o art. 13 do Decreto­
lei n9 2.323/87, a atualização do imposto de renda "não será dedutível para 
efeito de determinar o lucro real", por conseguinte tributo também é. A infrin 
gência ao inciso II do art. 97 e seu § 29 , do CTN, fica escancarada. 
Tributo 75 
7.4 A Lei n9 5.172/66, por força do Ato Complementar n9 36, de 13 de março 
de 1967, foi qualificada como Código Tributário Nacional (art. 79); a doutrina 
maciça identifica esta Lei n9 5.172/66 como lei complementar porque ela pre­
enche os requisitos e por ela mesma referir em seu art. 19 ao art. 59 inc. XV 
letra b da Constituição federal de 1946, hoje CF de 1969, art. 18, § 19; e foi 
consagrada pelo STF como lei complementar por inúmeros julgados, entre 
outros, in RTf 61/219, e RE n9 76.723-SP. 
Essa lei complementar, em qualquer de seus dispositivos, tanto o inciso 11 do 
art. 97, quanto o seu § 29, não pode ser arredada por lei ordinária simples 
ou decreto-lei; somente por lei que reúna o quorum qualificado previsto no 
art. 50 da Constituição federal. 
O Decreto-lei n9 2.323/87, não só colide com o art. 50 da Constituição federal, 
porque o Congresso está funcionando, e portanto só este tem cacife para alterar 
princípio de lei complementar, quanto, revogando a Lei n9 7.485/85, "criou" 
disposição em 1987 para vigir em 1987, e nisto também violentou o "princípio 
da anterioridade", inserido no § 29, do art. 153, da Constituição, que é o prin­
cípio para proteger o contribuinte, dando segurança e limites a sua carga 
contributiva. 
76 
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