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UMA REPORTAGEM DE 1921 DE ASSIS CHATEAUBRIAND DJACIR MENEZES Não escondo a surpresa que tive ao encontrar o livro A Alemanha, Rio de Janeiro, Tipografia do Anuário do Brasil, Almanak Laemmert, 1921. Trata se de uma série de entrevistas e ensaios do Jornalista Assis Chateaubriand! Mas de um Chateaubriand jovem, recém-formado professor da Faculdade de Direito do Recife, livre, desligado, descompromissado, girando pela Europa a serviço do Correio da Manhã, de Edmundo Bittencourt, reconhecendo no inglês um "esmagador de povos fracos", no Presidente Wilson uma notória "pobreza de caráter", em verdade um pedante evangelista da era vitoriana, nos estados vencedores uma comandita que ditava à Alemanha, Áustria, Bul gária, Hungria e Turquia (os vencidos de 1917) "as condições tão violentas que destroem todas as esperanças de paz continental", "Moscou enfrentando a campanha reacionária de governos burgueses da França e da Inglaterra", com o objetivo de estabelecer a ditadura industrial e agrária sobre a Rússia e estrangular o comércio do Império eslavo. O livro tem o subtítulo Dias idos e vividos e a força terrível de um libelo contra o garroteamento do Tratado de Versalhes. No correr de suas páginas, admirar-se-á ainda hoje a ágil inteligência do grande repórter, que, há 66 anos, advertia: "Quando viajava este país (Alemanha), encontrei em muitos centros traba lhistas uma invencível repugnância contra os métodos russos de socialização violenta da riqueza e contra a ditadura do soviete e de Moscou sobre o ope rário eslavo. Mas não nos iludamos. Este é o pensamento moderado, compor tamento da Alemanha pacífica, e, se bem que seja a maioria, ele pode ser vencido pela corrente radical, mais audaz, como sucedeu em 1917, na Rússia, depois de kornilowiada contra o governo de Kerenski. Nunca foram as vozes de apaziguamento que prevaleceram numa sociedade de desesperados como aquela que vive hoje (1921) na Alemanha. Há ali um vivo impulso radical bolchevista como estado de espírito, enormemente favorável ao bolchevismo." Por isso resolvi comentar esse livro, que nos dá a embriogênese do famoso tratado que ajudou a parir o hitlerismo. A obra clássica do economista italiano Bresciani-Turroni, na edição inglesa, tem um prefácio que começa dizendo que "Hitler foi o filho adotivo da inflação". Quem o disse antes foi Assis Chateau briand, verberando o "sacroegoísmo que gera o absolutismo de Estado, o pa triotismo impostor, o imperialismo insolente e cúpido, o protecionismo voraz, todos os vibriões que corroem os sentimentos de honestidade e justiça nos povos". E o futuro embaixador em Londres, ante o espetáculo do confisco das fontes de vida de um povo, escreveu: "Em 1919 e 1920, a Europa não fez outra coisa senão assinar tratados de guerra. Na técnica diplomática todos eles se denominavam de paz, mas, na essência, o que os anima é o espírito insolente da guerra." R. C. pol., Rio de Janeiro, 30(4):88-9, out./dez. 1987 Com fina perspicácia, o jornalista inverte a famosa proposição c1ausewitziana: "A paz é a continuação da guerra por meios diplomáticos" - o que engloba tudo na trama da mesma ação política. A frase arguta já foi repetida por outros sem menção de quem a disse primeiro. Nessa etapa de sua vida, Chateau briand censurava a cupidez da França reacionária, considerando que a França socialista divergia das exigências capitalistas com uma nobreza impressionante. Quem o viu depois da Primeira e quem o leu depois da Segunda Guerra! No relato de Gustavo Barroso, que esteve no Congresso da Paz na comitiva de Epitácio Pessoa, a narrativa é de um submisso à Entente e ao wilsonianismo. Mas é por Chateaubriand que soubemos que Scheidmann classificou o Tra tado de Versalhes de insuportável e impraticável, recusando a assinatura. Her mann Muller disse ao jornalista brasileiro que era a "cortina da política de opressão contra os vencidos". E o brasileiro registrava na sua reportagem que os tratados de paz assinados em 1919 e 1920 são páginas de cínico despo tismo. Para encerrar, a conjura vencedora quase "exigiu a entrega de Hindem burgo como quem solicita a extradição de um celerado" - depõe Chateau briand. Depois disso, só a venalidade de um advogado como Cícero qualificaria a história de "mestre da vida" ... UMA PESQUISA Assis Chateaubriand AMBICIOSA Nas livrarias da FGV: Rio - Praia de Botafogo_ 188 Av. Presidente Wilson. 228-A São Paulo - Av. Nove de Julho. 2029 Brasília - CLS 104. Bloco A. loja 37 Ou pelo Reembolso Postal À FGVIEditora - Divisão de Vendas Caixa Postal. 9052 20.000 - Rio de Janeiro - RJ 89
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