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Conflitos nos Oriente Médio Alessandra de Fatima Alves 9 2 3 GEOPOLÍTICA DO ORIENTE MÉDIO Na qualidade oficial de presidente da OLP e de chefe da Resistência Palestina, proclamo aqui que nós não queremos derramar uma só gota de sangue árabe ou judeu. Não nos comprazemos na busca de um confronto que queremos ver terminar desde o aparecimento de uma paz justa... Vim, trazendo numa das mãos o ramo de oliveira e na outra o fuzil de um combatente da liberdade. Não deixem o ramo de oliveira tombar de minha mão. ARAFAT, Yasser. In: O problema palestino. Coimbra: Centelha, 1976. Esta aula de Atualidades abordará o Oriente Médio pela óptica da regionalização geopolítica, isto é, apesar do Oriente Médio constituir uma unidade, mostraremos um desenrolar geo-histórico pautado em duas linhas para- lelas: a questão da Palestina e os conflitos no golfo Pérsico, que tem como esteio o petróleo. As raízes da questão da Palestina A região hoje conhecida como Oriente Médio esteve por muitos séculos sob domínio do Império Otomano. Quando esse império, que já se encontrava decadente, perdeu a Primeira Guerra Mundial, Inglaterra e França as- sumiram o comando de grande parte daquela região e estabeleceram os chamados mandatos – uma nova forma de dominação pós-colonial. O Oriente Médio então foi repartido entre essas duas potências europeias: à Inglaterra coube os mandatos da Palestina, Iraque e Transjordânia; a França herdou a Síria e o Líbano. Concomitantemente aos acontecimentos no Oriente Médio, desenvolvia-se na Europa o projeto sionista – um movimento político-religioso formulado e idealizado no século XIX por Theodore Herzel, com o objetivo de viabilizar o retorno do povo judeu à Terra Prometida. Inicialmente, a Organização Sionista Mundial (OSM), fundada por Herzel em 1897, era uma organização política, mas acabou dominada por sua ala religiosa, que acabou assu- mindo o controle do processo. Lideranças judaicas tentavam viabilizar a criação de um Estado judeu, de forma a reunir esse povo que, há séculos, vivia disperso por toda a Europa. Um dos maiores banqueiros da Europa, lorde Rotshild, de origem judaica, estreitou os laços dos judeus com dirigentes britânicos e também contribuiu decisivamente na ajuda econômica ao movimento sionista. Rotshild e outras lideranças da OSM conseguiram influenciar o Império Britânico a ponto de, em 1917, o ministro das Relações Exteriores da Grã-Bretanha, Arthur James Balfour, declarar: 4 Caro lorde Rothschild, Tenho o grande prazer de endereçar a V. Sa., em nome do governo de Sua Majestade, a seguinte declaração de simpatia quanto às aspirações sio- nistas, declaração submetida ao gabinete e por ele aprovada: ”O governo de Sua Majestade encara fa- voravelmente o estabelecimento, na Palestina, de um Lar Nacional para o Povo Judeu, e empregará todos os seus esforços no sentido de facilitar a real- ização desse objetivo, entendendo-se claramente que nada será feito que possa atentar contra os di- reitos civis e religiosos das coletividades não judai- cas existentes na Palestina, nem contra os direitos e o estatuto político de que gozam os judeus em qualquer outro país.” Desde já, declaro-me extremamente grato a V. Sa. pela gentileza de encaminhar esta declara- ção ao conhecimento da Federação Sionista. Arthur James Balfour Este documento ficou conhecido como Decla- ração Balfour. Estruturado e contando com o apoio explícito da Grã-Bretanha, o movimento sionista tinha como passo seguinte organizar a migração de judeus europeus para a Palestina. Essa migração foi ainda mais facilitada pelo fato de a Grã-Bretanha ter saído grande vencedora da Primeira Guerra Mundial e a Pa- lestina estar então sob seu mandato. O povo judeu baseia suas reivindicações pela Terra de Israel em alguns fatores: 1. A Terra de Israel foi prometida por Deus aos judeus. Esta é a antiga terra dos patriarcas e profetas bíblicos. 2. Desde que os judeus foram exilados pelos ro- manos, a Terra de Israel nunca foi estabelecida como um Estado. 3. O Estado de Israel foi criado pelas Nações Uni- das em 1947. É um Estado democrático, moder- no e soberano. 4. Toda a Terra de Israel foi comprada pelos judeus ou conquistada por Israel em guerras de defesa, após o país ter sido atacado por seus vizinhos árabes. 5. Os árabes controlam 99,9% do território no Oriente Médio. Israel representa apenas um dé- cimo de 1% da região. 6. A história demonstrou que a segurança do povo judeu apenas pode ser garantida através da existência de um Estado judeu forte e soberano. Há relatos que dizem que judeus e palestinos viviam harmonicamente. No entanto, as imigrações de judeus começaram a aumentar muito nas décadas de 1920 e 1930. A partir daí, não tardaram a explodir os primeiros conflitos entre habitantes locais e judeus imigrados. Os camponeses palestinos não entendiam direito aquela chegada repentina e numerosa de ju- deus europeus para a sua terra. Muitos palestinos vendiam suas propriedades aos judeus que chaga- vam, sem saber o projeto que estava por trás daquela apropriação gradual. Os conflitos se intensificaram no início da déca- da de 1930, quando os judeus já eram mais de 10% do total de habitantes da Palestina. O movimento sionista havia constituído exércitos clandestinos para proteger as colônias judaicas. Diante das hostilidades, a Grã-Bretanha tentou intervir. Para restringir o fluxo migratório de judeus sio- nistas, elaborou, em 1922, um documento intitulado o Livro Branco, mas que não surtiu o efeito desejado. Essa migração de judeus se intensificou ainda mais na época da ascensão nazista na Alemanha, pois, naquele contexto de perseguições e mortes, as migra- ções só poderiam aumentar. Recrudesceu a revolta po- pular dos árabes, que ficavam cada vez mais inconfor- mados com a absorção gradativa de suas terras pelos judeus, e a Grã-Bretanha se perdia na armadilha que armou em prometer uma terra já habitada e que não lhe pertencia. A criação do Estado de Israel Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o ce- nário da bipolaridade é de importância fundamental para a compreensão do nascimento e da existência de Israel. Se não fosse o apoio dos Estados Unidos, o país dificilmente teria continuado a existir. Israel foi peça fundamental na geoestratégia estadunidense para o Oriente Médio no pós-guerra. 5 Partilha da Palestina proposta pela ONU (1947) A ONU despontava como o novo fórum de reso- luções internacionais, tentando apagar a malfadada Liga das Nações. A Grã-Bretanha solicitou a transferência da questão da Palestina para o órgão recém-criado e pro- gramou sua retirada da região para o dia 1° de agosto de 1948. Em 1947, a ONU encaminhou a partilha da Pa- lestina, criando dois Estados: um Estado judeu, com 14,1 mil km2, correspondendo a 56% da Palestina e compre- endendo uma população de 1.008.800 habitantes, sendo uma metade composta por árabes e a outra por judeus; e um Estado árabe, correspondendo a 43% do território da Palestina, com 11,5 mil km2 e 814 mil habitantes – 804 mil árabes e 10 mil judeus (ONU, 1986). Como se vê, os dados da ONU indicam a parcialidade na divisão. Os palestinos e os jovens países árabes não aceita- ram a partilha, considerando-a uma interferência indevida. Quando a Grã-Bretanha antecipou sua retirada da Palestina para o dia 15 de maio de 1948, o líder judeu David Bem Gurion proclamou a independência de Israel. Os países árabes imediatamente declararam guerra ao novo Estado. A primeira guerra árabe-israelense O primeiro conflito armado entre árabes e israe- lenses ocorreu logo após a criação do Estado de Israel, com a vitória incontestável do novo Estado – pequeno, mas forte e rico. Israel incorporou vasta área daquele território destinado inicialmente aos palestinos. Aliás, o Estado palestino nem chegou a existir: sendo grande parte incorporada por Israel, a porção oriental foi in-corporada pela Transjordânia (mais tarde, Jordânia) e a Faixa de Gaza foi incorporada pelo Egito. Os palestinos se viram sem Estado e muitos passaram a viver sob custódia israelense, enquanto que aproximadamente 40% se refugiaram em países vizinhos árabes, como o Líbano e a Síria. Foi no exílio que os palestinos deram início à re- sistência e à luta pelo retorno às suas terras de origem. Nos corredores universitários do Egito e também na Faixa de Gaza, surgia a primeira forma de organização palestina, a Al Fatah, embrião da Organização para Li- bertação da Palestina (OLP). Em 1964, em Alexandria, no Egito, nascia oficialmente a OLP, que seria o princi- pal porta-voz do movimento palestino. O primeiro pre- sidente da OLP foi o advogado Ahmed Shukeiri, mas a organização ganharia força efetiva com a eleição, em 1969, do engenheiro Yasser Arafat. A OLP congregava as mais diferentes correntes e facções da causa palesti- na (diplomáticas e armadas), muitas vezes divergentes. Arafat dirigiu a OLP até sua morte, em 2004, resistindo a vários momentos de tensão e guinadas políticas. O povo palestino baseia suas reivindicações pela Terra de Israel em alguns fatores: 1. Os árabes muçulmanos viveram no local por muitos anos. 2. O povo palestino tem o direito à independência nacional e à soberania sobre a terra onde vive- ram. 3. Jerusalém é a terceira cidade sagrada na reli- gião muçulmana, local de elevação do profeta Maomé aos Céus. 4. O Oriente Médio é dominado por árabes. Ou- tras religiões ou nacionalidades não perten- cem à região. 5. Todos os territórios árabes que foram coloniza- dos tornaram-se Estados completamente inde- pendentes, exceto a Palestina. 6. Os palestinos tornaram-se refugiados. 6 Guerra de Suez (1956) Teve como objetivo garantir o acesso dos ocidentais (principalmente franceses e ingleses) ao comércio oriental, antes realizado pelo contorno do sul da África. O controle das operações realizadas no canal ficou sob o domínio inglês e continuou mesmo após a independência do Egito. No entanto, em 1952, um golpe de Estado, realizado pelo revolucionário Ga- mal Abdel Nasser, pôs fim ao regime monárquico do rei Faruk. A liderança de Nasser no governo egípcio revelou uma política de caráter nacionalista, buscan- do a modernização do Estado por meio da reforma agrária, do desenvolvimento da indústria e de uma melhor distribuição de renda. A luta contra o Estado de Israel, entretanto, não deixou de ser alimentada. Numa atitude de combate ao colonialismo an- glo-francês, Abdel Nasser nacionalizou o canal de Suez e proibiu a navegação de navios israelenses no local. A medida causou um grande impacto na Inglaterra, França e Israel que, então, iniciaram uma guerra contra o Egito. No desenrolar do conflito, os egípcios foram derrotados, mas os Estados Unidos e a União Soviética interferiram, obrigando os três países a retirarem-se dos territórios ocupados. Ao final, o canal de Suez vol- tava, definitivamente, para o Egito, mas com o direito de navegação estendido a qualquer país. Guerra dos Seis Dias (1967) A guerra dos Seis Dias foi mais um desdobra- mento dos conflitos entre árabes e judeus. Ela recebeu esta denominação devido ao efetivo contra-ataque is- raelense à ofensiva árabe, promovido pelo Egito. O presidente Nasser, buscando fortalecer o mundo árabe, tomou medidas importantes: deslocou forças árabes para a fronteira com Israel; exigiu a reti- rada de representantes militares da ONU mantidos na região desde 1956; e ameaçou fechar a navegabilida- de do Estreito de Tiran aos israelenses. No entanto, a reação israelense a essas medi- das foi rápida e decisiva: atacou o Egito, a Jordânia e a Síria, encerrando o conflito num curto espaço de tempo – 5 a 10 de junho (6 dias) de 1967. Israel dominava as forças aéreas e, por terra, contava com forças blinda- das comandadas pelo general israelense Moshé Dayan. O resultado da guerra aumentou consideravelmente o Estado de Israel: foram conquistadas áreas do Egito, Faixa de Gaza, península do Sinai, região da Jordânia, a Cisjordânia, o setor oriental de Jerusalém, partes per- tencentes à Síria e às colônias de Golan. A guerra dos Seis Dias fortaleceu o Estado de Israel e agravou o nível de tensão entre os países beli- gerantes. Consolidada a vitória, Israel lançou um novo expediente: a colonização do territórios ocupados. Ju- deus de várias partes do mundo seriam convocados a ocupar terras “disponíveis” na Palestina. As colônias se multiplicaram, principalmente na Cisjordânia, mas também em Gaza, Golã e Sinai. A península do Sinai foi devolvida aos egípcios em 1979, num acordo em separado entre o primeiro-ministro israelense Mena- chem Begin e o presidente egípcio Anuwar Sadat. A ONU condenou a ocupação através da reso- lução 242, que exigia o estabelecimento das fronteiras anteriores à guerra. Essa resolução passaria a ser o guia das reivindicações palestinas dali em diante. No entanto, Israel não cumpriu a resolução. 7 Nações Unidas, 22 de novembro de 1967 O Conselho de Segurança (...), enfatizando a inadmissibilidade da aquisição de território de guerra e a necessidade de trabalhar por paz justa e duradoura na qual cada Estado na região possa viver em segurança (...), afirma a aplicação dos seguintes princípios: I. Evacuação das forças armadas israelenses dos territórios ocupados no recente conflito; II. Encerramento de todas as reivindicações ou estados de beligerância e respeito pelo reconhe- cimento da soberania, integridade territorial e in- dependência política de cada Estado da região e de seu direito a viver em paz dentro de fronteiras seguras e reconhecidas (...) Adaptado do Centro de Informação das Nações Unidas no Brasil, 1988. Guerra do Yom Kippur (1973) A guerra dos Seis Dias e, mais ainda, os anos subsequentes demonstraram a superioridade militar dos israelenses diante dos árabes, cuja força se restrin- gia no campo da ameaça, enquanto Israel agia. Outras guerras de menor expressão ocorreram, praticamente todas vencidas por Israel. A guerra do Yom Kippur teve um desfecho diferente, mas a vitória árabe foi apenas política, pois, no aspecto militar, Israel demonstrou mais uma vez sua superioridade. Foi a quarta guerra árabe-israelense. Síria e Egi- to atacaram Israel de surpresa, mas a reação israelense mais uma vez forçou os árabes a um imediato cessar- -fogo. No entanto, nessa guerra os árabes se utilizaram de um novo recurso: interromperam o fornecimento de petróleo aos países alinhados com Israel, provocando a crise mundial do petróleo. Intifada (1987-1993) A década de 1980 foi bastante tensa em Israel e nos territórios ocupados. Sob domínio estrangeiro desde 1967, os palestinos passaram a conviver com forças isra- elenses, com constantes toques de recolher. A persegui- ção às principais organizações de resistência aumentou. Houve o fechamento de sindicatos, comitês e escolas, além de muitas aldeias e campos de refugiados pales- tinos, que foram tornando o clima cada vez mais tenso. A criança palestina aprendeu a odiar o soldado israelense desde cedo, pois vê nele seu ocupante opres- sor. É essa criança que, ao crescer, somada o ingredien- te de fanatismo religioso, vai engrossar as fileiras dos homens-bomba que proliferaram no Oriente Médio nos anos de 1990. Outro fato é a orientação que as mães palestinas seguem de ter o máximo possível de filhos, com o objeti- vo de interferir na balança demográfica regional. Nesse contexto, em 1987, os palestinos viram surgir um fato novo que lhes traria grandes ganhos políticos: a intifada, a rebelião das pedras. “Intifada“ quer dizer “levante“, e foi exatamen- te isto que ocorreu: uma rebelião conduzida por mu- lheres e crianças que viviam sob ocupação em Gaza e na Cisjordânia, cujas armas eram basicamente paus e pedras. Configurou-se uma situação inusitada, pois os soldados israelenses, muito bem armados, tiveram que enfrentar esse exército diferente.O movimento foi espontâneo e começou no campo de refugiados de Jebalya, na Faixa de Gaza. Um motorista de um caminhão militar perdeu o controle do veículo, matando quatro palestinos em Gaza. A revolta logo explodiu e alcançou a Cisjordânia. A OLP se apro- veitou do movimento para tirar proveitos políticos, visto que a Intifada logo ganhou a simpatia internacional. Os planos de paz Em mais de 40 anos desde a guerra dos Seis Dias, em 1967, houve diversos planos e negociações de paz no Oriente Médio. Alguns foram considerados bem- -sucedidos, como os firmados entre Israel e Egito e entre Israel e Jordânia, mas a disputa central entre israelenses e palestinos ainda não foi resolvida. 8 A resolução 242 encarna o princípio que tem guiado a maioria dos planos subsequentes: a troca de terra por paz. Ela pedia “a saída das forças armadas israelen- ses dos territórios ocupados no conflito daquele ano, como Jerusalém Oriental, península do Sinai, Cisjordânia e colinas de Golã“ e o “respeito pela soberania, integri- dade territorial e independência política de cada Estado na região e seu direito de viver em paz”. Mas a resolução é famosa por sua imprecisão ao pedir a retirada israelense de “territórios”. Israel ar- gumentou que isso não significava necessariamente a retirada de todos os locais ocupados. Camp David, EUA (1978) Houve diversos planos de paz após 1967, mas nada de significativo aconteceu até depois da guerra de 1973, que abriu espaço para uma nova iniciativa pela paz, como mostra a visita a Jerusalém do então presi- dente egípcio, Anwar Sadat, em novembro de 1977. O presidente dos EUA na época, Jimmy Carter (1977-1981), capitalizou em cima desse espírito e con- vidou Sadat e o então premiê israelense, Menachem Begin, para conversas em Camp David. O acordo mediado por Carter foi considerado um dos mais bem-sucedidos. O primeiro acordo expandia a resolução 242, pedia negociações multilaterais para resolver o “proble- ma palestino”, falava em um tratado entre Israel e Egito e instava a assinatura de outros tratados entre Israel e seus vizinhos. Mas a fraqueza deste primeiro acordo foi que os palestinos não participaram das negociações. O segundo acordo tratava da paz entre Israel e Egito, o que ocorreu em 1979, com a saída de Israel da península do Sinai, ocupada desde 1967. Isso resultou no primeiro reconhecimento do Estado de Israel por parte de um país árabe. São talvez as mais bem-sucedidas conversas do processo de paz. O acordo durou, apesar de tensões posteriores entre Israel e Egito e de Sadat ter sido as- sassinado. Conferência de Madri (1991) Resultou em um tratado de paz entre Israel e Jordânia em 1994, mas as conversas israelenses com o Líbano e a Síria avançaram pouco desde então, compli- cadas por disputas de fronteira e pela guerra de 2006 entre Israel e militantes libaneses do Hezbollah. Acordo de Oslo (1993) As negociações de Oslo tentaram contemplar o que faltara em todas as conversas prévias, como um acordo direto entre israelenses e palestinos, represen- tados pela OLP (Organização pela Libertação da Pa- lestina). Sua importância é que resultou no reconheci- mento mútuo entre Israel e a OLP. Israelenses e palestinos reconheceram-se mutuamente, em 1993. O acordo estipulava que tropas israelenses dei- xariam a Cisjordânia e Gaza, que um governo interino palestino seria montado para um período de transição de cinco anos, abrindo caminho para a formação de um Estado palestino. O grupo Hamas e outros palestinos não acei- taram os termos de Oslo e iniciaram ataques suicidas contra Israel, que, por sua vez, enfrentou a oposição de colonos israelenses e outros setores da sociedade. O acordo foi assinado em 1993, na Casa Bran- ca, onde, sob a mediação do presidente estadunidense Bill Clinton, Yasser Arafat, líder da OLP, e Yitzhak Rabin, premiê israelense, apertaram as mãos. Mas seus termos foram apenas parcialmente implementados. 9 Camp David (2000) O objetivo de Clinton era tratar de temas como fronteiras, Jerusalém e refugiados, que haviam sido deixados de lado em Oslo. Mas não houve acordo entre Arafat e o então premiê de Israel, Ehud Barak. O problema foi que o máximo oferecido por Israel era menos do que o mínimo que os palestinos estavam prontos para aceitar. Israel ofereceu a Faixa de Gaza, uma grande parte da Cisjordânia e terras do deserto de Negev, mas mantendo grandes assentamentos em Jerusalém Oriental. Os palestinos queriam começar com a rever- são das fronteiras determinadas pela guerra de 1967 e pediam o reconhecimento do “direito de retornar” dos refugiados palestinos. O fracasso de Camp David foi seguido pelo se- gundo levante palestino, conhecida como Intifada. Barak (esquerda) e Arafat não se entenderam em 2000. Taba (2001) Houve mais flexibilidade quanto à questão ter- ritorial, mas um comunicado posterior dizia ter sido “impossível chegar a um entendimento em todas as questões”. Com a eleição de Ariel Sharon em Israel, em 2001, o acordo foi abandonado. Iniciativa de paz árabe (2002) Após o fracasso dos diálogos bilaterais e da vol- ta dos conflitos, o plano saudita retomou uma aborda- gem multilateral e sinalizou o interesse árabe em pôr fim às disputas ente israelenses e palestinos. Segundo o plano, as fronteiras voltariam à con- figuração de 1967, um Estado palestino seria estabe- lecido em Gaza e Cisjordânia e haveria uma “solução justa” ao problema dos refugiados. Em troca, os países árabes reconheceriam Israel. Sua força é o apoio árabe à solução de dois Estados. Sua fraqueza é que instou as partes a nego- ciar os mesmos temas em que elas haviam falhado até então. Mapa da Paz (2003) O plano proposto pelo “Quarteto” (EUA, Rússia, União Europeia e ONU), que negocia a paz no Oriente Médio, não dá detalhes sobre um acordo final, mas sim diretrizes sobre como chegar a ele. A proposta foi precedida de um comunicado, em junho de 2002, de George W. Bush, que propunha fases para pôr a segurança antes de um acordo final: Fase 1: Declaração dos dois lados apoiando a solução de dois Estados. Palestinos poriam fim à violência e agiriam contra os que estivessem “engajados no terror”, criariam uma Constitui- ção e fariam eleições; israelenses parariam de construir assentamentos ou ampliar os já exis- tentes e conteriam ações militares. Fase 2: Criação de um Estado palestino, em conferência internacional, com “fronteiras pro- visórias”. Fase 3: Conversas finais. O Mapa da Paz não foi implementado, mas se- gue sendo um ponto de referência para as negociações. Acordo de Genebra (2003) Revisa os conceitos do Mapa da Paz em que a segurança e a confiança precederiam um acordo políti- co. O maior compromisso de Genebra era que os pales- tinos desistissem de seu “direito de retorno” em troca de praticamente toda a Cisjordânia. Israel desistiria de grandes assentamentos, como Ariel, mas manteria ou- tros perto da fronteira. Os palestinos teriam sua capital em Jerusalém Oriental, mas Israel manteria a soberania sobre o Muro das Lamentações, na Cidade Velha. 10 Annapolis, EUA (2007) O premiê israelense, Ehud Olmert, e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, participaram de negociações com o Quarteto e mais de uma dúzia de países árabes. Mas o Hamas, que ganhara as eleições parlamen- tares em Gaza, em 2006, e dominara no ano seguinte a região não estava representado e disse que não se com- prometeria com nenhuma decisão tomada em Annapolis. Após um comunicado conjunto, Olmert e Abbas tiveram reuniões regulares para acordar questões de fron- teira, mas as negociações foram interrompidas pela ofen- siva militar israelense em Gaza, no final de 2008. As negociações de 2007 foram interrompidas, após a ofensiva israelense em Gaza. GEOPOLÍTICA DO GOLFO PÉRSICO O motivo pelo qual o golfo Pérsico se conver- teu num dos pontos mais importantes da Terra é bem claro: a região guarda aproximadamente3/4 de todo o petróleo existente no Planeta. O petróleo – a “mola do capitalismo” – foi, é e será ainda por pelo menos al- gumas décadas a principal fonte energética existente. É claro que a compreensão do cenário geopolí- tico do golfo, do Iraque e da Arábia Saudita transcende o aspecto econômico: contam também o aspecto reli- gioso e o caráter multiétnico. Revolução islâmica (1979) A partir de 1977, o xá iraniano Mohamed Reza Pahlevi passou a sofrer uma forte crise interna em seu país, em função de uma série de reformas por ele implan- tadas e não aceitas pela maioria de muçulmanos xiitas. O xá baseou seu poder no petróleo e estimulou a entrada de empresas transnacionais no Irã, entendendo a adoção de hábitos ocidentais como “modernização”. Essa ocidentalização acelerada produziu uma forte resis- tência do clero iraniano. Os grupos de oposição se mul- tiplicaram e as manifestações, que começaram nas es- colas secundárias em 1977, se generalizaram, em 1978. Os distúrbios foram evidentes, culminando com a fuga do xá para o exterior, em janeiro de 1979. Ainda no final de janeiro de 1979, retornou do exílio o líder religioso aiatolá Ruhollah Khomeini, que anunciou a criação da República Islâmica do Irã, em 10 de fevereiro. Mohamed Reza Pahlevi Ruhollah Khomeini O consumo de álcool foi proibido, as mulheres foram obrigadas a cobrir o rosto em público (xador), filmes ocidentais foram banidos. Esse retorno obriga- tório à doutrina e aos costumes originais e a busca de uma maior fidelidade aos textos sagrados, com o apoio do Estado, ficaram conhecidos como fundamentalismo islâmico. O fundamentalismo islâmico fortaleceu-se no Irã e visava expandir-se para outros países do Oriente Médio. Essa intenção gerou reações tanto de alguns países da região quanto das superpotências. Por outro lado, encontrou acolhida nas forças políticas que se opunham a governos pró-ocidentais e queriam fundar Estados guiados pelas leis islâmicas, principalmente a partir da década de 1990. Guerra Irã-Iraque (1980-1988) Em 22 de setembro de 1980, teve início o conflito entre o Irã e o Iraque, apresentando como causa imediata a partilha das águas do estreito do Chatt-el-Arab. Outros motivos ainda podem ser lembrados, como o desejo do Iraque de recuperar terras perdidas para o Irã, 11 em 1975; a questão do separatismo curdo, que sempre foi um ponto de desacordo entre os dois países; a preocu- pação do governo de Bagdá com a evolução do islamis- mo xiita em seu território; e o ódio pessoal de Khomeini contra o Iraque, de onde foi expulso em seu exílio. No ano de 1980, o líder do Iraque, Saddam Hus- sein, não cumpriu um tratado firmado em 1975, que cedia ao Irã, aproximadamente, 518 km2 de seu territó- rio, e o Irã, em permuta, cessaria a assistência militar à minoria curda no Iraque que lutava pela independência. Saddam Hussein invadiu três ilhas do Irã, no es- treito de Ormuz, e, no dia 22 de setembro de 1980, ocu- pou a zona ocidental do Irã, para tentar reconquistar o seu território através de acordo. O que na verdade o Iraque queria era causar instabilidade no governo islâmico irania- no de Teerã e juntar territórios ricos em petróleo. Desde o princípio do conflito, o Iraque não conse- guia alcançar a vitória, pois o seu ataque encontrava forte resistência. Sempre que as tropas iraquianas conquistavam um território, o Irã recuperava. O Iraque só manteve o poder sobre Khorramshahr. Com esta situação, o Iraque resolveu propor um cessar-fogo ao Irã, que não aceitou a proposta. Desse modo, o que favoreceu o Iraque foi o país poder contar com o apoio de grandes potências, como EUA e URSS. Isso garantiu ao Iraque uma condição de con- tinuar lutando contra o Irã. Apesar disso, em meados dos anos 1980, o Iraque perdeu o apoio desses países, pois foi acusado de ter utilizado armas químicas contra o Irã. Em 1988, a ONU obrigou os países a um cessar- -fogo. O Iraque aceitou a proposta, mas o Irã não parou de atacar o Iraque. Porém, no dia 15 de agosto de 1988, foi concedido o acordo de paz entre os dois países. O que levou o Irã a aceitar o acordo foi que a sua economia estava totalmente agravada. Nesta guerra não houve vencedores, ambos os países só tiveram perdas. As suas economias foram de- sestruturadas, não houve mudanças nos domínios terri- toriais políticos e muitas vidas foram perdidas no conflito. Este conflito, que até o final de 1985 não apre- sentava expectativa de término a curto prazo, apresen- tou desdobramentos paralelos, como: diminuição da produção de petróleo do Irã; venda de peças de museus tradicionais do Irã para financiar o conflito; possibilidade da venda de aviões Super-Standard e mísseis Exocet da França para Bagdá; ameaças de fechamento do estreito de Ormuz por parte do Irã, impedindo o comércio do petróleo de todo o golfo Pérsico para o restante do mun- do; bombardeamento de refinarias, oleodutos, áreas de exploração e terminais petrolíferos, que provocaram grandes vazamentos de petróleo no Golfo, ameaçando a vida de outros países como o Kuwait e Catar; bombar- deamento de petroleiros de outras bandeiras em pleno golfo Pérsico, que iam em busca do petróleo do Irã ou do Iraque; e aumento da frota estadunidense no mar da Arábia, tentando evitar ataques a petroleiros e o fecha- mento do estreito de Ormuz. Guerra do Golfo (1991) Ao final do conflito armado que travara durante oito anos com o Irã, o Iraque acumulava uma fortuna em dívidas com credores externos: mais de 80 bilhões de dólares. A economia iraquiana dependia essencialmente do petróleo e, com seus preços em baixa, o país viu-se impossibilitado de saldar ao menos parte do que devia, além de não poder aumentar os recursos que financia- vam seu programa armamentista. Em julho de 1990, o ditador governante do país, Saddam Hussein, acusou o vizinho Kuwait de forçar as baixas internacionais no preço do petróleo para aumen- tar suas cotas de venda. Além disso, evocando antigas rixas territoriais, o Saddam reivindicava partes do ter- ritório do Kuwait, que declinou de todas as exigências iraquianas e, por isso, foi invadido em agosto. As con- sequências da ação iraquiana foram imediatas: o então presidente dos EUA, George Bush, enviou tropas para o golfo Pérsico e impôs um boicote econômico ao Iraque. Tamanho alvoroço deu-se por causa da grande importância econômica dos países do golfo, que são os maiores produtores e exportadores de petróleo do glo- bo. Uma crise de proporções na região poderia levar a incidentes de consequências devastadoras para a eco- nomia mundial. Com as sanções ocidentais em resposta às suas ações, Saddam não pestanejou: anexou unilate- ralmente o Iraque e aprisionou todos os estrangeiros ali 12 presentes, para poder barganhar mais tarde sua liber- tação. Tudo isso levou a acontecimentos interessantes. Como primeira crise internacional de considerá- veis proporções do pós-Guerra Fria, a guerra do Golfo promoveu a aproximação dos EUA com a Síria e com a União Soviética, sendo que, pela primeira vez, as duas potências encontravam-se lado a lado numa disputa in- ternacional. Além disso, países outrora aliados do Iraque, como a Arábia Saudita, subitamente passaram para o outro lado, condenando veementemente as ações de Saddam. Quanto mais sérios tornavam-se os desdobra- mentos da crise, mais firmemente a opinião pública internacional exigia o uso de medidas enérgicas para decretar-se uma solução. Inúmeras tentativas diplomá- ticas não deram em nada, e os Estados Unidos lançaram então um ultimato: caso o Iraque não se retirasse do Kuwait até o dia 15 de janeiro de 1991, o uso da força seria autorizado. Em 17 de janeiro, uma coalizão, lidera- da pelos EUA e formada por 28 países, iniciou o ataque. A sofisticada tecnologia de que dispunham ar- rasou as tropas iraquianas e destruíram muitos pon- tos do país, ainda que Saddam tenha causado alguma devastação na Arábia Saudita eem Israel, países que bombardeou regularmente durante o conflito armado. Em fins de fevereiro, as forças chegaram ao Kuwait e não encontraram resistência iraquiana. Bush anunciou a vitória e o cessar-fogo. Para agravar ainda mais sua situação, após o término das hostilidades o Iraque en- trou em processo de guerra civil. Todavia, apesar do aparente sucesso, a guerra deixou um saldo apavoran- te: mais de 150 mil iraquianos foram mortos (cerca de 10 mil civis); a capital Bagdá foi destruída; inúmeros poços de petróleo foram incendiados e a fumaça e os derramamentos oriundos dessas ações constituem-se no pior acidente ambiental da história da humanidade. O número de mortos da coalizão não chegou a 150. Guerra do Iraque (2003) A invasão do Iraque, em 2003, comandada pelo general Tommy Franks, começou em 20 de março, com o nome de código “Operation Iraqi Freedom“ (Opera- ção Liberdade do Iraque) para a ofensiva estaduniden- se. O nome de código da ofensiva britânica foi “Ope- ração Telic“. As forças da coalizão cooperaram com as forças curdas peshmerga no norte. Aproximadamente, outras 40 nações, designadas “a coalizão dos inte- ressados“ (coalition of the willing), participaram for- necendo equipamento, serviços e segurança, tal como forças especiais. As forças militares iniciais da coliga- ção eram de cerca de 180 mil, dos quais 98% eram estadunidenses ou britânicos. O exército de Saddam foi rapidamente ultrapas- sado, apesar de a sua tropa de paramilitares, os Fedayin de Saddam, terem colocado uma resistência desafiado- ra. Em 9 de abril, Bagdá caiu nas mãos das forças dos EUA. A infantaria estadunidense cercou os ministérios abandonados do partido Baath e derrubaram uma enor- me estátua de ferro de Saddam Hussein, terminando com o seu domínio de 24 anos no Iraque. No entanto, generalizaram-se pilhagens de instituições governamen- tais e uma grande desordem, pouco tempo depois de as forças de Saddam Hussein, incluindo os Fedayin, se desmembraram em grandes proporções na cidade. Em 13 de abril, Tikrit, a cidade natal de Saddam e a última cidade a ser tomada pela coalizão, foi ocu- pada pelos fuzileiros da Task Force Tripoli. Talvez para a surpresa de muitos, a resistência foi pequena. Dois dias depois, os membros da coalizão declararam que a guerra estava efetivamente terminada. Estima-se que aproximadamente 9,2 mil com- batentes iraquianos foram mortos nessa fase inicial da guerra. Além destes, o Projeto de Contagem de Vítimas do Iraque (Iraq Body Count Project), incorporando re- latórios subsequentes, declarou que, no fim da fase de maiores combates, até 30 de abril, morreram 7.299 ci- vis, fundamentalmente pelas forças aéreas e terrestres estadunidenses. De acordo com a CNN, o governo dos EUA re- portou que tinham morrido 139 militares estaduniden- ses em combate até 1 de maio. No mesmo período, morreram 33 britânicos. Pouco depois da invasão, a coalizão multinacio- nal criou a Autoridade Provisória da Coalizão, baseada na Zona Verde, como governo de transição do Iraque 13 até ao estabelecimento de um novo governo. Citan- do a resolução nº 1.483 (de 22 de maio de 2003) do Conselho de Segurança da ONU e as leis da guerra, a APC revestiu-se de autoridade legislativa, executiva e judicial, desde 21 de abril de 2003 até à sua dissolução em 28 de junho de 2004. A APC foi originalmente liderada por Jay Gar- ner, antigo oficial estadunidense, mas a sua indicação durou apenas um breve período. Depois de Garner se demitir, o presidente Bush indicou Paul Bremer como chefe da APC, o qual serviu no cargo até a dissolução da Autoridade, em julho de 2004. Outro grupo criado na primavera de 2003 foi o Grupo de Pesquisa do Ira- que, que foi uma missão de descoberta de fatos, en- viada após a invasão pelas forças multinacionais para encontrar programas de armas de destruição massiva desenvolvidos pelo Iraque. Consistia numa equipe in- ternacional de 1,4 mil membros organizada pelo Pen- tágono e pela CIA para procurar supostos armazéns de armas de destruição massiva, tal como agentes bioló- gicos e químicos, e qualquer programa de investigação de apoio ou infraestruturas que pudessem ser usadas para desenvolver armas de destruição massiva. Em 2004, o relatório Duelfer do Grupo de Pesquisa do Ira- que concluiu que o Iraque não tinha nenhum programa de armas de destruição massiva viável. No contexto das informações dos serviços se- cretos que levaram às invasões contra os membros do partido Baath ligados à insurgência, Saddam Hussein foi capturado em 13 de dezembro de 2003, perto de Ti- krit, na operação Red Dawn. A operação foi conduzida pela 4ª divisão de infantaria do exército estadunidense e por membros da Task Force 121. Com a captura de Saddam e uma queda do nú- mero de ataques dos insurgentes, alguns concluíram que as forças multinacionais estavam a ter sucesso na luta contra a insurgência. O governo provisório começou a treinar novas forças de segurança iraquianas para de- fenderem o país e os Estados Unidos prometeram 20 mi- lhões de dólares de crédito na forma de futuros ganhos petrolíferos para a reconstrução. Mais valias resultantes do petróleo foram também usadas para reconstruir esco- las e infraestruturas elétricas e de refinação de petróleo. Pouco depois da captura de Saddam Hussein, elementos deixados de fora da Autoridade da Coalizão Provisória começaram a agitar-se pelas eleições e pela formação de um governo iraquiano interino. O mais proeminente foi o clérigo xiita grande aiatolá Ali al-Sis- tani. A Autoridade da Coalizão Provisória opôs-se à au- torização de eleições democráticas naquele momento, preferindo, em vez disso, entregar o poder a um gover- no iraquiano interino ou “de transição“. Devido a uma luta interna pelo poder no interior do novo governo, o movimento de resistência à ocupação intensificou-se. EUA, COLONIZAÇÃO E ORIENTE MÉDIO Segundo o livro Pangeia: fragmentos da guerra da Síria no Brasil, os Estados Unidos aderem a uma pos- tura moderna de colonização, ou seja, ao invés de se utilizarem de ocupações militares, como nas colônias, utilizam-se das ciências avançadas, econômicas e polí- ticas. O país construiu sua hegemonia como potência econômica na Segunda Guerra Mundial e na Guerra Fria. Como exemplo, o petróleo é cotado e vendido por dólares americanos, e é a partir dele que a economia mundial se estabiliza. Tendo outros países como aliados, a China (representando o socialismo) e os Estados Unidos (re- presentando o capitalismo) disputam os recursos do Oriente Médio. No passado, a região foi colonizada, repartida “à régua“ como espólios da França e da In- glaterra. Segundo o dicionário, terrorismo é “um modo de impor a vontade pelo uso sistemático do terror; em- prego sistemático de violência para fins políticos; práti- ca de atentados e destruições por grupos cujo objetivo é a desorganização da sociedade existente e a tomada do poder“. Então por que as colonizações – que no passa- do, em busca de domínio, destruíam povos, saqueavam nações e se apossavam de seus recursos naturais em busca de poder – nunca foram vistos como vilões pela história, tampouco como terroristas? 14 A situação na Síria Na atual situação de guerra da Síria, os grupos terroristas são o Jhabat al-Nusra, um abraço da Al-Qa- eda (que é do Afeganistão), e o Estado Islâmico, forma- do por muçulmanos sunitas. Este começou no Iraque, depois da invasão estadunidense, como oposição ao governo xiita, que possui alianças com os Estados Uni- dos. Entram no país, em maior parte, através da Turquia. Os grupos têm aparências específicas que possibilitam identificá-los, o que é possível fazer também a partir das armas que usam. A região da Síria é rica em petróleo e gás natural; além disso, dá acesso ao canal de Suez, principal região portuária entre o Ocidente e o Oriente Médio. Por isso, é muito visada economicamente. Como é o último país da região fechado ao Ocidente e apoiado pela Rússia, quelhes dá armamento, a existência de tais armas denota que Ocidente é um dos responsáveis pelo fornecimento de armas; também a desorganização social do local é favorável aos interesses ocidentais. O Estado Islâmico A origem do Estado Islâmico remonta ao ano de 2002, quando da criação do grupo fundamentalista Jama’at Al-Tawhid wa Al-Jihad, fundado por Musab Al- -Zarqawi, em 2004. Tudo começou quando Al-Zarqawi declarou lealdade a Al-Qaeda, originando a Al-Qaeda do Iraque, ou da Mesopotâmia, composta por sunitas, que representam a minoria da população iraquiana. Os sunitas permaneceram representados no poder, durante a ditadura de Saddan Hussein, pelo Par- tido Baath. Os jihadistas sunitas insurgentes tornaram- -se os principais combatentes à invasão dos EUA no Iraque. Com a morte de Al-Zarqawi em 2006, a Al-Qa- eda do Iraque organizou a criação do “Estado Islâmico do Iraque (ISI – sigla em inglês para Islamic State in Iraq), o que já demonstrava a intenção de se distanciar da influência da Al-Qaeda e de criar um território. O grupo fundamentalista passou a ser combati- do pelas tropas estrangeiras, pelo governo iraquiano e pelos sahwa, conselho de tribos sunitas que se posicio- naram contra os métodos brutais do grupo. A participa- ção das tribos sunitas ficou conhecida como o Despertar Sunita. Em 2014, o Estado Islâmico do Iraque e do Le- vante (ou da Síria), ou ISIS, passou a se chamar Estado Islâmico (EI ou IS, em inglês, Islamic State). Também foi proclamado sobre os territórios controlados do Iraque e da Síria o califado, que representa um território sob a forma de um governo monárquico e totalitário, co- mandado pela sharia e pelas tradições e costumes dos primeiros séculos do islã. A adoção do nome Estado Islâmico tem a ver com o abandono da geopolítica do grupo de ser ape- nas associado aos territórios da Síria e do Iraque. O intuito do EI é estabelecer o domínio de um grande território que inclua o mundo árabe muçulmano no Oriente Médio e no norte da África. Características do Estado Islâmico Apesar de não conseguir dominar Bagdá, o EI passou a controlar várias cidades ao norte do Iraque, perseguindo infiéis, cristãos, xiitas, tribos sunitas do Despertar Sunita e os yazidis, que possuem entre 50 mil e 500 mil membros. Por ser uma comunidade fechada étnico-religiosamente, fica difícil enumerar exatamente sua população; é vista como herege pelos membros do EI, que assassinam os homens que se recusam à con- versão religiosa e levam as mulheres para serem noivas jihadistas, as quais acabam sofrendo violência sexual ou são vendidas como escravas. Dentro do califado, as regras são rígidas e se- guem a sharia. Os combatentes, que são entre 30 mil e 50 mil, sendo 12 mil vindos de outros locais, como Europa (França e Bélgica), África do Norte (Tunísia), América (Canadá e EUA), Ásia (Paquistão, Afeganistão e Arábia Saudita), recebem salários, o que é uma grande inovação perante outros grupos fundamentalistas, como a Al-Qaeda, o que ajuda o grupo a conseguir mais com- batentes jihadistas. 15 O petróleo é a principal fonte de recurso econô- mico, pois, segundo a Organização Council on Foreign Relations (CFR, sediada em Nova Iorque, nos EUA, vol- tada para a política internacional), o EI consegue comer- cializar 48 mil barris por dia (44 mil dos campos sírios e 4 mil dos iraquianos), além do gás natural. Outras fontes de renda correspondem à retirada de dinheiro dos bancos nas cidades que são ocupadas, da pilhagem, da extorsão e da cobrança de impostos nas regiões que controla na Síria e no Iraque. Há suspeitas sobre a contribuição de pessoas da Arábia Saudita e do Catar para financiar o EI, inimigo dos xiitas. O Estado Islâmico utiliza a internet para divulgar suas ações, difundir suas propostas e fazer recrutamen- tos, conseguindo, assim, aliciar mais simpatizantes para sua causa. No início de 2014, Barack Obama anunciou a formação de uma coalizão de aproximadamente 50 paí- ses, envolvendo principalmente nações do Ocidente e do Oriente Médio, que passou a realizar ações militares em bombardeios contra posições do EI na Síria e no Iraque. Em 2016, importantes ações militares realizadas principalmente pela Rússia, EUA e França provocaram ao EI a perda de controle sobre territórios e cidades. PESQUISAR A guerra da Palestina: da criação do Es- tado de Israel à nova Intifada (livro); autor: André Gattaz Promessas de um novo mundo (documen- tário); direção: Justine Arlin, Carlos Bolado e B.Z. Goldberg (2001) – ambientado em Israel e nos territórios ocupados, mostra a tensa re- alidade do cotidiano local a partir da visão de crianças palestinas e judias.
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