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Aula 9_CH_Atualidades_Conflitos no Oriente Medio

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Conflitos nos Oriente Médio
Alessandra de Fatima Alves 9
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GEOPOLÍTICA DO ORIENTE MÉDIO
Na qualidade oficial de presidente da OLP e de chefe da Resistência Palestina, proclamo aqui que nós não 
queremos derramar uma só gota de sangue árabe ou judeu. Não nos comprazemos na busca de um confronto que 
queremos ver terminar desde o aparecimento de uma paz justa... Vim, trazendo numa das mãos o ramo de oliveira 
e na outra o fuzil de um combatente da liberdade. Não deixem o ramo de oliveira tombar de minha mão.
ARAFAT, Yasser. In: O problema palestino. Coimbra: Centelha, 1976.
Esta aula de Atualidades abordará o Oriente Médio pela óptica da regionalização geopolítica, isto é, apesar 
do Oriente Médio constituir uma unidade, mostraremos um desenrolar geo-histórico pautado em duas linhas para-
lelas: a questão da Palestina e os conflitos no golfo Pérsico, que tem como esteio o petróleo.
As raízes da questão da Palestina
A região hoje conhecida como Oriente Médio esteve por muitos séculos sob domínio do Império Otomano. 
Quando esse império, que já se encontrava decadente, perdeu a Primeira Guerra Mundial, Inglaterra e França as-
sumiram o comando de grande parte daquela região e estabeleceram os chamados mandatos – uma nova forma 
de dominação pós-colonial. O Oriente Médio então foi repartido entre essas duas potências europeias: à Inglaterra 
coube os mandatos da Palestina, Iraque e Transjordânia; a França herdou a Síria e o Líbano.
Concomitantemente aos acontecimentos no Oriente Médio, desenvolvia-se na Europa o projeto sionista 
– um movimento político-religioso formulado e idealizado no século XIX por Theodore Herzel, com o objetivo de 
viabilizar o retorno do povo judeu à Terra Prometida. Inicialmente, a Organização Sionista Mundial (OSM), fundada 
por Herzel em 1897, era uma organização política, mas acabou dominada por sua ala religiosa, que acabou assu-
mindo o controle do processo.
Lideranças judaicas tentavam viabilizar a criação de um Estado judeu, de forma a reunir esse povo que, há 
séculos, vivia disperso por toda a Europa. Um dos maiores banqueiros da Europa, lorde Rotshild, de origem judaica, 
estreitou os laços dos judeus com dirigentes britânicos e também contribuiu decisivamente na ajuda econômica ao 
movimento sionista. Rotshild e outras lideranças da OSM conseguiram influenciar o Império Britânico a ponto de, 
em 1917, o ministro das Relações Exteriores da Grã-Bretanha, Arthur James Balfour, declarar:
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Caro lorde Rothschild,
Tenho o grande prazer de endereçar a V. Sa., 
em nome do governo de Sua Majestade, a seguinte 
declaração de simpatia quanto às aspirações sio- 
nistas, declaração submetida ao gabinete e por ele 
aprovada:
”O governo de Sua Majestade encara fa-
voravelmente o estabelecimento, na Palestina, de 
um Lar Nacional para o Povo Judeu, e empregará 
todos os seus esforços no sentido de facilitar a real-
ização desse objetivo, entendendo-se claramente 
que nada será feito que possa atentar contra os di-
reitos civis e religiosos das coletividades não judai- 
cas existentes na Palestina, nem contra os direitos 
e o estatuto político de que gozam os judeus em 
qualquer outro país.”
Desde já, declaro-me extremamente grato a 
V. Sa. pela gentileza de encaminhar esta declara-
ção ao conhecimento da Federação Sionista.
Arthur James Balfour
Este documento ficou conhecido como Decla-
ração Balfour. Estruturado e contando com o apoio 
explícito da Grã-Bretanha, o movimento sionista tinha 
como passo seguinte organizar a migração de judeus 
europeus para a Palestina. Essa migração foi ainda 
mais facilitada pelo fato de a Grã-Bretanha ter saído 
grande vencedora da Primeira Guerra Mundial e a Pa-
lestina estar então sob seu mandato.
O povo judeu baseia suas reivindicações pela 
Terra de Israel em alguns fatores:
1. A Terra de Israel foi prometida por Deus aos 
judeus. Esta é a antiga terra dos patriarcas e 
profetas bíblicos.
2. Desde que os judeus foram exilados pelos ro-
manos, a Terra de Israel nunca foi estabelecida 
como um Estado.
3. O Estado de Israel foi criado pelas Nações Uni-
das em 1947. É um Estado democrático, moder-
no e soberano.
4. Toda a Terra de Israel foi comprada pelos judeus 
ou conquistada por Israel em guerras de defesa, 
após o país ter sido atacado por seus vizinhos 
árabes.
5. Os árabes controlam 99,9% do território no 
Oriente Médio. Israel representa apenas um dé-
cimo de 1% da região.
6. A história demonstrou que a segurança do povo 
judeu apenas pode ser garantida através da 
existência de um Estado judeu forte e soberano.
Há relatos que dizem que judeus e palestinos 
viviam harmonicamente. No entanto, as imigrações 
de judeus começaram a aumentar muito nas décadas 
de 1920 e 1930. A partir daí, não tardaram a explodir 
os primeiros conflitos entre habitantes locais e judeus 
imigrados. Os camponeses palestinos não entendiam 
direito aquela chegada repentina e numerosa de ju-
deus europeus para a sua terra. Muitos palestinos 
vendiam suas propriedades aos judeus que chaga-
vam, sem saber o projeto que estava por trás daquela 
apropriação gradual.
Os conflitos se intensificaram no início da déca-
da de 1930, quando os judeus já eram mais de 10% do 
total de habitantes da Palestina. O movimento sionista 
havia constituído exércitos clandestinos para proteger 
as colônias judaicas.
Diante das hostilidades, a Grã-Bretanha tentou 
intervir. Para restringir o fluxo migratório de judeus sio-
nistas, elaborou, em 1922, um documento intitulado 
o Livro Branco, mas que não surtiu o efeito desejado.
Essa migração de judeus se intensificou ainda 
mais na época da ascensão nazista na Alemanha, pois, 
naquele contexto de perseguições e mortes, as migra-
ções só poderiam aumentar. Recrudesceu a revolta po-
pular dos árabes, que ficavam cada vez mais inconfor-
mados com a absorção gradativa de suas terras pelos 
judeus, e a Grã-Bretanha se perdia na armadilha que 
armou em prometer uma terra já habitada e que não 
lhe pertencia.
A criação do Estado de Israel
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o ce-
nário da bipolaridade é de importância fundamental 
para a compreensão do nascimento e da existência de 
Israel. Se não fosse o apoio dos Estados Unidos, o país 
dificilmente teria continuado a existir. Israel foi peça 
fundamental na geoestratégia estadunidense para o 
Oriente Médio no pós-guerra.
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Partilha da Palestina proposta pela ONU (1947)
A ONU despontava como o novo fórum de reso-
luções internacionais, tentando apagar a malfadada Liga 
das Nações. A Grã-Bretanha solicitou a transferência da 
questão da Palestina para o órgão recém-criado e pro-
gramou sua retirada da região para o dia 1° de agosto 
de 1948. Em 1947, a ONU encaminhou a partilha da Pa-
lestina, criando dois Estados: um Estado judeu, com 14,1 
mil km2, correspondendo a 56% da Palestina e compre-
endendo uma população de 1.008.800 habitantes, sendo 
uma metade composta por árabes e a outra por judeus; e 
um Estado árabe, correspondendo a 43% do território da 
Palestina, com 11,5 mil km2 e 814 mil habitantes – 804 
mil árabes e 10 mil judeus (ONU, 1986). Como se vê, os 
dados da ONU indicam a parcialidade na divisão.
Os palestinos e os jovens países árabes não aceita-
ram a partilha, considerando-a uma interferência indevida.
Quando a Grã-Bretanha antecipou sua retirada 
da Palestina para o dia 15 de maio de 1948, o líder 
judeu David Bem Gurion proclamou a independência 
de Israel. Os países árabes imediatamente declararam 
guerra ao novo Estado.
A primeira guerra árabe-israelense
O primeiro conflito armado entre árabes e israe-
lenses ocorreu logo após a criação do Estado de Israel, 
com a vitória incontestável do novo Estado – pequeno, 
mas forte e rico. Israel incorporou vasta área daquele 
território destinado inicialmente aos palestinos. Aliás, 
o Estado palestino nem chegou a existir: sendo grande 
parte incorporada por Israel, a porção oriental foi in-corporada pela Transjordânia (mais tarde, Jordânia) e a 
Faixa de Gaza foi incorporada pelo Egito. Os palestinos 
se viram sem Estado e muitos passaram a viver sob 
custódia israelense, enquanto que aproximadamente 
40% se refugiaram em países vizinhos árabes, como 
o Líbano e a Síria.
Foi no exílio que os palestinos deram início à re-
sistência e à luta pelo retorno às suas terras de origem. 
Nos corredores universitários do Egito e também na 
Faixa de Gaza, surgia a primeira forma de organização 
palestina, a Al Fatah, embrião da Organização para Li-
bertação da Palestina (OLP). Em 1964, em Alexandria, 
no Egito, nascia oficialmente a OLP, que seria o princi-
pal porta-voz do movimento palestino. O primeiro pre-
sidente da OLP foi o advogado Ahmed Shukeiri, mas a 
organização ganharia força efetiva com a eleição, em 
1969, do engenheiro Yasser Arafat. A OLP congregava 
as mais diferentes correntes e facções da causa palesti-
na (diplomáticas e armadas), muitas vezes divergentes. 
Arafat dirigiu a OLP até sua morte, em 2004, resistindo 
a vários momentos de tensão e guinadas políticas.
O povo palestino baseia suas reivindicações 
pela Terra de Israel em alguns fatores:
1. Os árabes muçulmanos viveram no local por 
muitos anos.
2. O povo palestino tem o direito à independência 
nacional e à soberania sobre a terra onde vive-
ram.
3. Jerusalém é a terceira cidade sagrada na reli-
gião muçulmana, local de elevação do profeta 
Maomé aos Céus.
4. O Oriente Médio é dominado por árabes. Ou-
tras religiões ou nacionalidades não perten-
cem à região.
5. Todos os territórios árabes que foram coloniza-
dos tornaram-se Estados completamente inde-
pendentes, exceto a Palestina.
6. Os palestinos tornaram-se refugiados.
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Guerra de Suez (1956)
Teve como objetivo garantir o acesso dos 
ocidentais (principalmente franceses e ingleses) ao 
comércio oriental, antes realizado pelo contorno do 
sul da África. O controle das operações realizadas no 
canal ficou sob o domínio inglês e continuou mesmo 
após a independência do Egito. No entanto, em 1952, 
um golpe de Estado, realizado pelo revolucionário Ga-
mal Abdel Nasser, pôs fim ao regime monárquico do 
rei Faruk. A liderança de Nasser no governo egípcio 
revelou uma política de caráter nacionalista, buscan-
do a modernização do Estado por meio da reforma 
agrária, do desenvolvimento da indústria e de uma 
melhor distribuição de renda. A luta contra o Estado 
de Israel, entretanto, não deixou de ser alimentada.
Numa atitude de combate ao colonialismo an-
glo-francês, Abdel Nasser nacionalizou o canal de Suez 
e proibiu a navegação de navios israelenses no local. 
A medida causou um grande impacto na Inglaterra, 
França e Israel que, então, iniciaram uma guerra contra 
o Egito. No desenrolar do conflito, os egípcios foram 
derrotados, mas os Estados Unidos e a União Soviética 
interferiram, obrigando os três países a retirarem-se 
dos territórios ocupados. Ao final, o canal de Suez vol-
tava, definitivamente, para o Egito, mas com o direito 
de navegação estendido a qualquer país.
Guerra dos Seis Dias (1967)
A guerra dos Seis Dias foi mais um desdobra-
mento dos conflitos entre árabes e judeus. Ela recebeu 
esta denominação devido ao efetivo contra-ataque is-
raelense à ofensiva árabe, promovido pelo Egito.
O presidente Nasser, buscando fortalecer o 
mundo árabe, tomou medidas importantes: deslocou 
forças árabes para a fronteira com Israel; exigiu a reti-
rada de representantes militares da ONU mantidos na 
região desde 1956; e ameaçou fechar a navegabilida-
de do Estreito de Tiran aos israelenses.
No entanto, a reação israelense a essas medi-
das foi rápida e decisiva: atacou o Egito, a Jordânia e a 
Síria, encerrando o conflito num curto espaço de tempo 
– 5 a 10 de junho (6 dias) de 1967. Israel dominava as 
forças aéreas e, por terra, contava com forças blinda-
das comandadas pelo general israelense Moshé Dayan. 
O resultado da guerra aumentou consideravelmente o 
Estado de Israel: foram conquistadas áreas do Egito, 
Faixa de Gaza, península do Sinai, região da Jordânia, 
a Cisjordânia, o setor oriental de Jerusalém, partes per-
tencentes à Síria e às colônias de Golan.
A guerra dos Seis Dias fortaleceu o Estado de 
Israel e agravou o nível de tensão entre os países beli-
gerantes. Consolidada a vitória, Israel lançou um novo 
expediente: a colonização do territórios ocupados. Ju-
deus de várias partes do mundo seriam convocados a 
ocupar terras “disponíveis” na Palestina. As colônias 
se multiplicaram, principalmente na Cisjordânia, mas 
também em Gaza, Golã e Sinai. A península do Sinai 
foi devolvida aos egípcios em 1979, num acordo em 
separado entre o primeiro-ministro israelense Mena-
chem Begin e o presidente egípcio Anuwar Sadat.
A ONU condenou a ocupação através da reso-
lução 242, que exigia o estabelecimento das fronteiras 
anteriores à guerra. Essa resolução passaria a ser o 
guia das reivindicações palestinas dali em diante. No 
entanto, Israel não cumpriu a resolução.
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Nações Unidas, 22 de novembro de 1967
O Conselho de Segurança (...), enfatizando 
a inadmissibilidade da aquisição de território de 
guerra e a necessidade de trabalhar por paz justa 
e duradoura na qual cada Estado na região possa 
viver em segurança (...), afirma a aplicação dos 
seguintes princípios:
I. Evacuação das forças armadas israelenses dos 
territórios ocupados no recente conflito;
II. Encerramento de todas as reivindicações ou 
estados de beligerância e respeito pelo reconhe-
cimento da soberania, integridade territorial e in-
dependência política de cada Estado da região e 
de seu direito a viver em paz dentro de fronteiras 
seguras e reconhecidas (...)
Adaptado do Centro de Informação 
 das Nações Unidas no Brasil, 1988.
Guerra do Yom Kippur (1973)
A guerra dos Seis Dias e, mais ainda, os anos 
subsequentes demonstraram a superioridade militar 
dos israelenses diante dos árabes, cuja força se restrin-
gia no campo da ameaça, enquanto Israel agia. Outras 
guerras de menor expressão ocorreram, praticamente 
todas vencidas por Israel. A guerra do Yom Kippur teve 
um desfecho diferente, mas a vitória árabe foi apenas 
política, pois, no aspecto militar, Israel demonstrou 
mais uma vez sua superioridade.
Foi a quarta guerra árabe-israelense. Síria e Egi-
to atacaram Israel de surpresa, mas a reação israelense 
mais uma vez forçou os árabes a um imediato cessar-
-fogo. No entanto, nessa guerra os árabes se utilizaram 
de um novo recurso: interromperam o fornecimento de 
petróleo aos países alinhados com Israel, provocando 
a crise mundial do petróleo.
Intifada (1987-1993)
A década de 1980 foi bastante tensa em Israel e 
nos territórios ocupados. Sob domínio estrangeiro desde 
1967, os palestinos passaram a conviver com forças isra-
elenses, com constantes toques de recolher. A persegui-
ção às principais organizações de resistência aumentou. 
Houve o fechamento de sindicatos, comitês e escolas, 
além de muitas aldeias e campos de refugiados pales-
tinos, que foram tornando o clima cada vez mais tenso.
A criança palestina aprendeu a odiar o soldado 
israelense desde cedo, pois vê nele seu ocupante opres-
sor. É essa criança que, ao crescer, somada o ingredien-
te de fanatismo religioso, vai engrossar as fileiras dos 
homens-bomba que proliferaram no Oriente Médio nos 
anos de 1990.
Outro fato é a orientação que as mães palestinas 
seguem de ter o máximo possível de filhos, com o objeti-
vo de interferir na balança demográfica regional. Nesse 
contexto, em 1987, os palestinos viram surgir um fato 
novo que lhes traria grandes ganhos políticos: a intifada, 
a rebelião das pedras.
“Intifada“ quer dizer “levante“, e foi exatamen-
te isto que ocorreu: uma rebelião conduzida por mu-
lheres e crianças que viviam sob ocupação em Gaza e 
na Cisjordânia, cujas armas eram basicamente paus e 
pedras. Configurou-se uma situação inusitada, pois os 
soldados israelenses, muito bem armados, tiveram que 
enfrentar esse exército diferente.O movimento foi espontâneo e começou no 
campo de refugiados de Jebalya, na Faixa de Gaza. Um 
motorista de um caminhão militar perdeu o controle do 
veículo, matando quatro palestinos em Gaza. A revolta 
logo explodiu e alcançou a Cisjordânia. A OLP se apro-
veitou do movimento para tirar proveitos políticos, visto 
que a Intifada logo ganhou a simpatia internacional.
Os planos de paz
Em mais de 40 anos desde a guerra dos Seis 
Dias, em 1967, houve diversos planos e negociações de 
paz no Oriente Médio. Alguns foram considerados bem-
-sucedidos, como os firmados entre Israel e Egito e entre 
Israel e Jordânia, mas a disputa central entre israelenses 
e palestinos ainda não foi resolvida.
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A resolução 242 encarna o princípio que tem 
guiado a maioria dos planos subsequentes: a troca de 
terra por paz.
Ela pedia “a saída das forças armadas israelen-
ses dos territórios ocupados no conflito daquele ano, 
como Jerusalém Oriental, península do Sinai, Cisjordânia 
e colinas de Golã“ e o “respeito pela soberania, integri-
dade territorial e independência política de cada Estado 
na região e seu direito de viver em paz”.
Mas a resolução é famosa por sua imprecisão 
ao pedir a retirada israelense de “territórios”. Israel ar-
gumentou que isso não significava necessariamente a 
retirada de todos os locais ocupados.
Camp David, EUA (1978)
Houve diversos planos de paz após 1967, mas 
nada de significativo aconteceu até depois da guerra de 
1973, que abriu espaço para uma nova iniciativa pela 
paz, como mostra a visita a Jerusalém do então presi-
dente egípcio, Anwar Sadat, em novembro de 1977.
O presidente dos EUA na época, Jimmy Carter 
(1977-1981), capitalizou em cima desse espírito e con-
vidou Sadat e o então premiê israelense, Menachem 
Begin, para conversas em Camp David.
O acordo mediado por Carter foi considerado um dos mais 
bem-sucedidos.
O primeiro acordo expandia a resolução 242, 
pedia negociações multilaterais para resolver o “proble-
ma palestino”, falava em um tratado entre Israel e Egito 
e instava a assinatura de outros tratados entre Israel e 
seus vizinhos. Mas a fraqueza deste primeiro acordo foi 
que os palestinos não participaram das negociações.
O segundo acordo tratava da paz entre Israel e 
Egito, o que ocorreu em 1979, com a saída de Israel da 
península do Sinai, ocupada desde 1967. Isso resultou 
no primeiro reconhecimento do Estado de Israel por 
parte de um país árabe.
São talvez as mais bem-sucedidas conversas do 
processo de paz. O acordo durou, apesar de tensões 
posteriores entre Israel e Egito e de Sadat ter sido as-
sassinado.
Conferência de Madri (1991)
Resultou em um tratado de paz entre Israel e 
Jordânia em 1994, mas as conversas israelenses com o 
Líbano e a Síria avançaram pouco desde então, compli-
cadas por disputas de fronteira e pela guerra de 2006 
entre Israel e militantes libaneses do Hezbollah.
Acordo de Oslo (1993)
As negociações de Oslo tentaram contemplar o 
que faltara em todas as conversas prévias, como um 
acordo direto entre israelenses e palestinos, represen-
tados pela OLP (Organização pela Libertação da Pa-
lestina). Sua importância é que resultou no reconheci-
mento mútuo entre Israel e a OLP.
Israelenses e palestinos reconheceram-se mutuamente, em 1993.
O acordo estipulava que tropas israelenses dei-
xariam a Cisjordânia e Gaza, que um governo interino 
palestino seria montado para um período de transição 
de cinco anos, abrindo caminho para a formação de um 
Estado palestino.
O grupo Hamas e outros palestinos não acei-
taram os termos de Oslo e iniciaram ataques suicidas 
contra Israel, que, por sua vez, enfrentou a oposição de 
colonos israelenses e outros setores da sociedade.
O acordo foi assinado em 1993, na Casa Bran-
ca, onde, sob a mediação do presidente estadunidense 
Bill Clinton, Yasser Arafat, líder da OLP, e Yitzhak Rabin, 
premiê israelense, apertaram as mãos. Mas seus termos 
foram apenas parcialmente implementados.
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Camp David (2000)
O objetivo de Clinton era tratar de temas como 
fronteiras, Jerusalém e refugiados, que haviam sido 
deixados de lado em Oslo. Mas não houve acordo 
entre Arafat e o então premiê de Israel, Ehud Barak. 
O problema foi que o máximo oferecido por Israel era 
menos do que o mínimo que os palestinos estavam 
prontos para aceitar.
Israel ofereceu a Faixa de Gaza, uma grande 
parte da Cisjordânia e terras do deserto de Negev, 
mas mantendo grandes assentamentos em Jerusalém 
Oriental. Os palestinos queriam começar com a rever-
são das fronteiras determinadas pela guerra de 1967 e 
pediam o reconhecimento do “direito de retornar” dos 
refugiados palestinos.
O fracasso de Camp David foi seguido pelo se-
gundo levante palestino, conhecida como Intifada.
Barak (esquerda) e Arafat não se entenderam em 2000.
Taba (2001)
Houve mais flexibilidade quanto à questão ter-
ritorial, mas um comunicado posterior dizia ter sido 
“impossível chegar a um entendimento em todas as 
questões”.
Com a eleição de Ariel Sharon em Israel, em 
2001, o acordo foi abandonado.
Iniciativa de paz árabe (2002)
Após o fracasso dos diálogos bilaterais e da vol-
ta dos conflitos, o plano saudita retomou uma aborda-
gem multilateral e sinalizou o interesse árabe em pôr 
fim às disputas ente israelenses e palestinos.
Segundo o plano, as fronteiras voltariam à con-
figuração de 1967, um Estado palestino seria estabe-
lecido em Gaza e Cisjordânia e haveria uma “solução 
justa” ao problema dos refugiados. Em troca, os países 
árabes reconheceriam Israel.
Sua força é o apoio árabe à solução de dois 
Estados. Sua fraqueza é que instou as partes a nego-
ciar os mesmos temas em que elas haviam falhado até 
então.
Mapa da Paz (2003)
O plano proposto pelo “Quarteto” (EUA, Rússia, 
União Europeia e ONU), que negocia a paz no Oriente 
Médio, não dá detalhes sobre um acordo final, mas sim 
diretrizes sobre como chegar a ele.
A proposta foi precedida de um comunicado, em 
junho de 2002, de George W. Bush, que propunha fases 
para pôr a segurança antes de um acordo final:
 Fase 1: Declaração dos dois lados apoiando a 
solução de dois Estados. Palestinos poriam fim 
à violência e agiriam contra os que estivessem 
“engajados no terror”, criariam uma Constitui-
ção e fariam eleições; israelenses parariam de 
construir assentamentos ou ampliar os já exis-
tentes e conteriam ações militares.
 Fase 2: Criação de um Estado palestino, em 
conferência internacional, com “fronteiras pro-
visórias”.
 Fase 3: Conversas finais.
O Mapa da Paz não foi implementado, mas se-
gue sendo um ponto de referência para as negociações.
Acordo de Genebra (2003)
Revisa os conceitos do Mapa da Paz em que a 
segurança e a confiança precederiam um acordo políti-
co. O maior compromisso de Genebra era que os pales-
tinos desistissem de seu “direito de retorno” em troca 
de praticamente toda a Cisjordânia. Israel desistiria de 
grandes assentamentos, como Ariel, mas manteria ou-
tros perto da fronteira.
Os palestinos teriam sua capital em Jerusalém 
Oriental, mas Israel manteria a soberania sobre o Muro 
das Lamentações, na Cidade Velha.
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Annapolis, EUA (2007)
O premiê israelense, Ehud Olmert, e o presidente 
da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, participaram 
de negociações com o Quarteto e mais de uma dúzia de 
países árabes.
Mas o Hamas, que ganhara as eleições parlamen-
tares em Gaza, em 2006, e dominara no ano seguinte a 
região não estava representado e disse que não se com-
prometeria com nenhuma decisão tomada em Annapolis.
Após um comunicado conjunto, Olmert e Abbas 
tiveram reuniões regulares para acordar questões de fron-
teira, mas as negociações foram interrompidas pela ofen-
siva militar israelense em Gaza, no final de 2008.
As negociações de 2007 foram interrompidas, após a ofensiva 
israelense em Gaza.
GEOPOLÍTICA DO GOLFO PÉRSICO
O motivo pelo qual o golfo Pérsico se conver-
teu num dos pontos mais importantes da Terra é bem 
claro: a região guarda aproximadamente3/4 de todo o 
petróleo existente no Planeta. O petróleo – a “mola do 
capitalismo” – foi, é e será ainda por pelo menos al-
gumas décadas a principal fonte energética existente.
É claro que a compreensão do cenário geopolí-
tico do golfo, do Iraque e da Arábia Saudita transcende 
o aspecto econômico: contam também o aspecto reli-
gioso e o caráter multiétnico.
Revolução islâmica (1979)
A partir de 1977, o xá iraniano Mohamed Reza 
Pahlevi passou a sofrer uma forte crise interna em seu 
país, em função de uma série de reformas por ele implan-
tadas e não aceitas pela maioria de muçulmanos xiitas.
O xá baseou seu poder no petróleo e estimulou a 
entrada de empresas transnacionais no Irã, entendendo 
a adoção de hábitos ocidentais como “modernização”. 
Essa ocidentalização acelerada produziu uma forte resis-
tência do clero iraniano. Os grupos de oposição se mul-
tiplicaram e as manifestações, que começaram nas es-
colas secundárias em 1977, se generalizaram, em 1978.
Os distúrbios foram evidentes, culminando com 
a fuga do xá para o exterior, em janeiro de 1979. Ainda 
no final de janeiro de 1979, retornou do exílio o líder 
religioso aiatolá Ruhollah Khomeini, que anunciou a 
criação da República Islâmica do Irã, em 10 de fevereiro.
 Mohamed Reza Pahlevi Ruhollah Khomeini
O consumo de álcool foi proibido, as mulheres 
foram obrigadas a cobrir o rosto em público (xador), 
filmes ocidentais foram banidos. Esse retorno obriga-
tório à doutrina e aos costumes originais e a busca de 
uma maior fidelidade aos textos sagrados, com o apoio 
do Estado, ficaram conhecidos como fundamentalismo 
islâmico.
O fundamentalismo islâmico fortaleceu-se no 
Irã e visava expandir-se para outros países do Oriente 
Médio. Essa intenção gerou reações tanto de alguns 
países da região quanto das superpotências. Por outro 
lado, encontrou acolhida nas forças políticas que se 
opunham a governos pró-ocidentais e queriam fundar 
Estados guiados pelas leis islâmicas, principalmente a 
partir da década de 1990.
Guerra Irã-Iraque (1980-1988)
Em 22 de setembro de 1980, teve início o conflito 
entre o Irã e o Iraque, apresentando como causa imediata 
a partilha das águas do estreito do Chatt-el-Arab.
Outros motivos ainda podem ser lembrados, como 
o desejo do Iraque de recuperar terras perdidas para o Irã, 
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em 1975; a questão do separatismo curdo, que sempre foi 
um ponto de desacordo entre os dois países; a preocu-
pação do governo de Bagdá com a evolução do islamis-
mo xiita em seu território; e o ódio pessoal de Khomeini 
contra o Iraque, de onde foi expulso em seu exílio.
No ano de 1980, o líder do Iraque, Saddam Hus-
sein, não cumpriu um tratado firmado em 1975, que 
cedia ao Irã, aproximadamente, 518 km2 de seu territó-
rio, e o Irã, em permuta, cessaria a assistência militar à 
minoria curda no Iraque que lutava pela independência. 
Saddam Hussein invadiu três ilhas do Irã, no es-
treito de Ormuz, e, no dia 22 de setembro de 1980, ocu-
pou a zona ocidental do Irã, para tentar reconquistar o seu 
território através de acordo. O que na verdade o Iraque 
queria era causar instabilidade no governo islâmico irania-
no de Teerã e juntar territórios ricos em petróleo.
Desde o princípio do conflito, o Iraque não conse-
guia alcançar a vitória, pois o seu ataque encontrava forte 
resistência. Sempre que as tropas iraquianas conquistavam 
um território, o Irã recuperava. O Iraque só manteve o poder 
sobre Khorramshahr. Com esta situação, o Iraque resolveu 
propor um cessar-fogo ao Irã, que não aceitou a proposta.
Desse modo, o que favoreceu o Iraque foi o país 
poder contar com o apoio de grandes potências, como 
EUA e URSS. Isso garantiu ao Iraque uma condição de con-
tinuar lutando contra o Irã. Apesar disso, em meados dos 
anos 1980, o Iraque perdeu o apoio desses países, pois foi 
acusado de ter utilizado armas químicas contra o Irã.
Em 1988, a ONU obrigou os países a um cessar-
-fogo. O Iraque aceitou a proposta, mas o Irã não parou 
de atacar o Iraque. Porém, no dia 15 de agosto de 1988, 
foi concedido o acordo de paz entre os dois países. O que 
levou o Irã a aceitar o acordo foi que a sua economia 
estava totalmente agravada.
Nesta guerra não houve vencedores, ambos os 
países só tiveram perdas. As suas economias foram de-
sestruturadas, não houve mudanças nos domínios terri-
toriais políticos e muitas vidas foram perdidas no conflito.
Este conflito, que até o final de 1985 não apre-
sentava expectativa de término a curto prazo, apresen-
tou desdobramentos paralelos, como: diminuição da 
produção de petróleo do Irã; venda de peças de museus 
tradicionais do Irã para financiar o conflito; possibilidade 
da venda de aviões Super-Standard e mísseis Exocet da 
França para Bagdá; ameaças de fechamento do estreito 
de Ormuz por parte do Irã, impedindo o comércio do 
petróleo de todo o golfo Pérsico para o restante do mun-
do; bombardeamento de refinarias, oleodutos, áreas de 
exploração e terminais petrolíferos, que provocaram 
grandes vazamentos de petróleo no Golfo, ameaçando 
a vida de outros países como o Kuwait e Catar; bombar-
deamento de petroleiros de outras bandeiras em pleno 
golfo Pérsico, que iam em busca do petróleo do Irã ou 
do Iraque; e aumento da frota estadunidense no mar da 
Arábia, tentando evitar ataques a petroleiros e o fecha-
mento do estreito de Ormuz.
Guerra do Golfo (1991)
Ao final do conflito armado que travara durante 
oito anos com o Irã, o Iraque acumulava uma fortuna em 
dívidas com credores externos: mais de 80 bilhões de 
dólares. A economia iraquiana dependia essencialmente 
do petróleo e, com seus preços em baixa, o país viu-se 
impossibilitado de saldar ao menos parte do que devia, 
além de não poder aumentar os recursos que financia-
vam seu programa armamentista.
Em julho de 1990, o ditador governante do país, 
Saddam Hussein, acusou o vizinho Kuwait de forçar as 
baixas internacionais no preço do petróleo para aumen-
tar suas cotas de venda. Além disso, evocando antigas 
rixas territoriais, o Saddam reivindicava partes do ter-
ritório do Kuwait, que declinou de todas as exigências 
iraquianas e, por isso, foi invadido em agosto. As con-
sequências da ação iraquiana foram imediatas: o então 
presidente dos EUA, George Bush, enviou tropas para o 
golfo Pérsico e impôs um boicote econômico ao Iraque. 
Tamanho alvoroço deu-se por causa da grande 
importância econômica dos países do golfo, que são os 
maiores produtores e exportadores de petróleo do glo-
bo. Uma crise de proporções na região poderia levar a 
incidentes de consequências devastadoras para a eco-
nomia mundial. Com as sanções ocidentais em resposta 
às suas ações, Saddam não pestanejou: anexou unilate-
ralmente o Iraque e aprisionou todos os estrangeiros ali 
12
presentes, para poder barganhar mais tarde sua liber-
tação. Tudo isso levou a acontecimentos interessantes.
Como primeira crise internacional de considerá-
veis proporções do pós-Guerra Fria, a guerra do Golfo 
promoveu a aproximação dos EUA com a Síria e com a 
União Soviética, sendo que, pela primeira vez, as duas 
potências encontravam-se lado a lado numa disputa in-
ternacional. Além disso, países outrora aliados do Iraque, 
como a Arábia Saudita, subitamente passaram para o 
outro lado, condenando veementemente as ações de 
Saddam.
Quanto mais sérios tornavam-se os desdobra-
mentos da crise, mais firmemente a opinião pública 
internacional exigia o uso de medidas enérgicas para 
decretar-se uma solução. Inúmeras tentativas diplomá-
ticas não deram em nada, e os Estados Unidos lançaram 
então um ultimato: caso o Iraque não se retirasse do 
Kuwait até o dia 15 de janeiro de 1991, o uso da força 
seria autorizado. Em 17 de janeiro, uma coalizão, lidera-
da pelos EUA e formada por 28 países, iniciou o ataque.
A sofisticada tecnologia de que dispunham ar-
rasou as tropas iraquianas e destruíram muitos pon-
tos do país, ainda que Saddam tenha causado alguma 
devastação na Arábia Saudita eem Israel, países que 
bombardeou regularmente durante o conflito armado. 
Em fins de fevereiro, as forças chegaram ao Kuwait e 
não encontraram resistência iraquiana. Bush anunciou 
a vitória e o cessar-fogo. Para agravar ainda mais sua 
situação, após o término das hostilidades o Iraque en-
trou em processo de guerra civil. Todavia, apesar do 
aparente sucesso, a guerra deixou um saldo apavoran-
te: mais de 150 mil iraquianos foram mortos (cerca de 
10 mil civis); a capital Bagdá foi destruída; inúmeros 
poços de petróleo foram incendiados e a fumaça e os 
derramamentos oriundos dessas ações constituem-se 
no pior acidente ambiental da história da humanidade. 
O número de mortos da coalizão não chegou a 150.
Guerra do Iraque (2003)
A invasão do Iraque, em 2003, comandada pelo 
general Tommy Franks, começou em 20 de março, com 
o nome de código “Operation Iraqi Freedom“ (Opera-
ção Liberdade do Iraque) para a ofensiva estaduniden-
se. O nome de código da ofensiva britânica foi “Ope-
ração Telic“. As forças da coalizão cooperaram com as 
forças curdas peshmerga no norte. Aproximadamente, 
outras 40 nações, designadas “a coalizão dos inte-
ressados“ (coalition of the willing), participaram for-
necendo equipamento, serviços e segurança, tal como 
forças especiais. As forças militares iniciais da coliga-
ção eram de cerca de 180 mil, dos quais 98% eram 
estadunidenses ou britânicos.
O exército de Saddam foi rapidamente ultrapas-
sado, apesar de a sua tropa de paramilitares, os Fedayin 
de Saddam, terem colocado uma resistência desafiado-
ra. Em 9 de abril, Bagdá caiu nas mãos das forças dos 
EUA. A infantaria estadunidense cercou os ministérios 
abandonados do partido Baath e derrubaram uma enor-
me estátua de ferro de Saddam Hussein, terminando 
com o seu domínio de 24 anos no Iraque. No entanto, 
generalizaram-se pilhagens de instituições governamen-
tais e uma grande desordem, pouco tempo depois de 
as forças de Saddam Hussein, incluindo os Fedayin, se 
desmembraram em grandes proporções na cidade.
Em 13 de abril, Tikrit, a cidade natal de Saddam 
e a última cidade a ser tomada pela coalizão, foi ocu-
pada pelos fuzileiros da Task Force Tripoli. Talvez para 
a surpresa de muitos, a resistência foi pequena. Dois 
dias depois, os membros da coalizão declararam que a 
guerra estava efetivamente terminada.
Estima-se que aproximadamente 9,2 mil com-
batentes iraquianos foram mortos nessa fase inicial da 
guerra. Além destes, o Projeto de Contagem de Vítimas 
do Iraque (Iraq Body Count Project), incorporando re-
latórios subsequentes, declarou que, no fim da fase de 
maiores combates, até 30 de abril, morreram 7.299 ci-
vis, fundamentalmente pelas forças aéreas e terrestres 
estadunidenses.
De acordo com a CNN, o governo dos EUA re-
portou que tinham morrido 139 militares estaduniden-
ses em combate até 1 de maio. No mesmo período, 
morreram 33 britânicos.
Pouco depois da invasão, a coalizão multinacio-
nal criou a Autoridade Provisória da Coalizão, baseada 
na Zona Verde, como governo de transição do Iraque 
13
até ao estabelecimento de um novo governo. Citan-
do a resolução nº 1.483 (de 22 de maio de 2003) do 
Conselho de Segurança da ONU e as leis da guerra, a 
APC revestiu-se de autoridade legislativa, executiva e 
judicial, desde 21 de abril de 2003 até à sua dissolução 
em 28 de junho de 2004.
A APC foi originalmente liderada por Jay Gar-
ner, antigo oficial estadunidense, mas a sua indicação 
durou apenas um breve período. Depois de Garner se 
demitir, o presidente Bush indicou Paul Bremer como 
chefe da APC, o qual serviu no cargo até a dissolução 
da Autoridade, em julho de 2004. Outro grupo criado 
na primavera de 2003 foi o Grupo de Pesquisa do Ira-
que, que foi uma missão de descoberta de fatos, en-
viada após a invasão pelas forças multinacionais para 
encontrar programas de armas de destruição massiva 
desenvolvidos pelo Iraque. Consistia numa equipe in-
ternacional de 1,4 mil membros organizada pelo Pen-
tágono e pela CIA para procurar supostos armazéns de 
armas de destruição massiva, tal como agentes bioló-
gicos e químicos, e qualquer programa de investigação 
de apoio ou infraestruturas que pudessem ser usadas 
para desenvolver armas de destruição massiva. Em 
2004, o relatório Duelfer do Grupo de Pesquisa do Ira-
que concluiu que o Iraque não tinha nenhum programa 
de armas de destruição massiva viável.
No contexto das informações dos serviços se-
cretos que levaram às invasões contra os membros do 
partido Baath ligados à insurgência, Saddam Hussein 
foi capturado em 13 de dezembro de 2003, perto de Ti-
krit, na operação Red Dawn. A operação foi conduzida 
pela 4ª divisão de infantaria do exército estadunidense 
e por membros da Task Force 121.
Com a captura de Saddam e uma queda do nú-
mero de ataques dos insurgentes, alguns concluíram 
que as forças multinacionais estavam a ter sucesso na 
luta contra a insurgência. O governo provisório começou 
a treinar novas forças de segurança iraquianas para de-
fenderem o país e os Estados Unidos prometeram 20 mi-
lhões de dólares de crédito na forma de futuros ganhos 
petrolíferos para a reconstrução. Mais valias resultantes 
do petróleo foram também usadas para reconstruir esco-
las e infraestruturas elétricas e de refinação de petróleo.
Pouco depois da captura de Saddam Hussein, 
elementos deixados de fora da Autoridade da Coalizão 
Provisória começaram a agitar-se pelas eleições e pela 
formação de um governo iraquiano interino. O mais 
proeminente foi o clérigo xiita grande aiatolá Ali al-Sis-
tani. A Autoridade da Coalizão Provisória opôs-se à au-
torização de eleições democráticas naquele momento, 
preferindo, em vez disso, entregar o poder a um gover-
no iraquiano interino ou “de transição“. Devido a uma 
luta interna pelo poder no interior do novo governo, o 
movimento de resistência à ocupação intensificou-se.
EUA, COLONIZAÇÃO E 
ORIENTE MÉDIO
Segundo o livro Pangeia: fragmentos da guerra 
da Síria no Brasil, os Estados Unidos aderem a uma pos-
tura moderna de colonização, ou seja, ao invés de se 
utilizarem de ocupações militares, como nas colônias, 
utilizam-se das ciências avançadas, econômicas e polí-
ticas.
O país construiu sua hegemonia como potência 
econômica na Segunda Guerra Mundial e na Guerra 
Fria. Como exemplo, o petróleo é cotado e vendido por 
dólares americanos, e é a partir dele que a economia 
mundial se estabiliza.
Tendo outros países como aliados, a China 
(representando o socialismo) e os Estados Unidos (re-
presentando o capitalismo) disputam os recursos do 
Oriente Médio. No passado, a região foi colonizada, 
repartida “à régua“ como espólios da França e da In-
glaterra.
Segundo o dicionário, terrorismo é “um modo 
de impor a vontade pelo uso sistemático do terror; em-
prego sistemático de violência para fins políticos; práti-
ca de atentados e destruições por grupos cujo objetivo 
é a desorganização da sociedade existente e a tomada 
do poder“.
Então por que as colonizações – que no passa-
do, em busca de domínio, destruíam povos, saqueavam 
nações e se apossavam de seus recursos naturais em 
busca de poder – nunca foram vistos como vilões pela 
história, tampouco como terroristas?
14
A situação na Síria
Na atual situação de guerra da Síria, os grupos 
terroristas são o Jhabat al-Nusra, um abraço da Al-Qa-
eda (que é do Afeganistão), e o Estado Islâmico, forma-
do por muçulmanos sunitas. Este começou no Iraque, 
depois da invasão estadunidense, como oposição ao 
governo xiita, que possui alianças com os Estados Uni-
dos. Entram no país, em maior parte, através da Turquia. 
Os grupos têm aparências específicas que possibilitam 
identificá-los, o que é possível fazer também a partir das 
armas que usam.
A região da Síria é rica em petróleo e gás natural; 
além disso, dá acesso ao canal de Suez, principal região 
portuária entre o Ocidente e o Oriente Médio. Por isso, é 
muito visada economicamente. Como é o último país da 
região fechado ao Ocidente e apoiado pela Rússia, quelhes dá armamento, a existência de tais armas denota 
que Ocidente é um dos responsáveis pelo fornecimento 
de armas; também a desorganização social do local é 
favorável aos interesses ocidentais.
O Estado Islâmico
A origem do Estado Islâmico remonta ao ano 
de 2002, quando da criação do grupo fundamentalista 
Jama’at Al-Tawhid wa Al-Jihad, fundado por Musab Al-
-Zarqawi, em 2004. Tudo começou quando Al-Zarqawi 
declarou lealdade a Al-Qaeda, originando a Al-Qaeda 
do Iraque, ou da Mesopotâmia, composta por sunitas, 
que representam a minoria da população iraquiana.
Os sunitas permaneceram representados no 
poder, durante a ditadura de Saddan Hussein, pelo Par-
tido Baath. Os jihadistas sunitas insurgentes tornaram-
-se os principais combatentes à invasão dos EUA no 
Iraque.
Com a morte de Al-Zarqawi em 2006, a Al-Qa-
eda do Iraque organizou a criação do “Estado Islâmico 
do Iraque (ISI – sigla em inglês para Islamic State in 
Iraq), o que já demonstrava a intenção de se distanciar 
da influência da Al-Qaeda e de criar um território.
O grupo fundamentalista passou a ser combati-
do pelas tropas estrangeiras, pelo governo iraquiano e 
pelos sahwa, conselho de tribos sunitas que se posicio-
naram contra os métodos brutais do grupo. A participa-
ção das tribos sunitas ficou conhecida como o Despertar 
Sunita.
Em 2014, o Estado Islâmico do Iraque e do Le-
vante (ou da Síria), ou ISIS, passou a se chamar Estado 
Islâmico (EI ou IS, em inglês, Islamic State). Também foi 
proclamado sobre os territórios controlados do Iraque 
e da Síria o califado, que representa um território sob 
a forma de um governo monárquico e totalitário, co-
mandado pela sharia e pelas tradições e costumes dos 
primeiros séculos do islã.
A adoção do nome Estado Islâmico tem a ver 
com o abandono da geopolítica do grupo de ser ape-
nas associado aos territórios da Síria e do Iraque. O 
intuito do EI é estabelecer o domínio de um grande 
território que inclua o mundo árabe muçulmano no 
Oriente Médio e no norte da África.
Características do Estado Islâmico
Apesar de não conseguir dominar Bagdá, o EI 
passou a controlar várias cidades ao norte do Iraque, 
perseguindo infiéis, cristãos, xiitas, tribos sunitas do 
Despertar Sunita e os yazidis, que possuem entre 50 mil 
e 500 mil membros. Por ser uma comunidade fechada 
étnico-religiosamente, fica difícil enumerar exatamente 
sua população; é vista como herege pelos membros do 
EI, que assassinam os homens que se recusam à con-
versão religiosa e levam as mulheres para serem noivas 
jihadistas, as quais acabam sofrendo violência sexual ou 
são vendidas como escravas.
Dentro do califado, as regras são rígidas e se-
guem a sharia. Os combatentes, que são entre 30 mil 
e 50 mil, sendo 12 mil vindos de outros locais, como 
Europa (França e Bélgica), África do Norte (Tunísia), 
América (Canadá e EUA), Ásia (Paquistão, Afeganistão 
e Arábia Saudita), recebem salários, o que é uma grande 
inovação perante outros grupos fundamentalistas, como 
a Al-Qaeda, o que ajuda o grupo a conseguir mais com-
batentes jihadistas.
15
O petróleo é a principal fonte de recurso econô-
mico, pois, segundo a Organização Council on Foreign 
Relations (CFR, sediada em Nova Iorque, nos EUA, vol-
tada para a política internacional), o EI consegue comer-
cializar 48 mil barris por dia (44 mil dos campos sírios e 
4 mil dos iraquianos), além do gás natural.
Outras fontes de renda correspondem à retirada 
de dinheiro dos bancos nas cidades que são ocupadas, 
da pilhagem, da extorsão e da cobrança de impostos nas 
regiões que controla na Síria e no Iraque. Há suspeitas 
sobre a contribuição de pessoas da Arábia Saudita e do 
Catar para financiar o EI, inimigo dos xiitas.
O Estado Islâmico utiliza a internet para divulgar 
suas ações, difundir suas propostas e fazer recrutamen-
tos, conseguindo, assim, aliciar mais simpatizantes para 
sua causa.
No início de 2014, Barack Obama anunciou a 
formação de uma coalizão de aproximadamente 50 paí-
ses, envolvendo principalmente nações do Ocidente e do 
Oriente Médio, que passou a realizar ações militares em 
bombardeios contra posições do EI na Síria e no Iraque.
Em 2016, importantes ações militares realizadas 
principalmente pela Rússia, EUA e França provocaram 
ao EI a perda de controle sobre territórios e cidades.
PESQUISAR
 A guerra da Palestina: da criação do Es-
tado de Israel à nova Intifada (livro); autor: 
André Gattaz
 Promessas de um novo mundo (documen-
tário); direção: Justine Arlin, Carlos Bolado e 
B.Z. Goldberg (2001) – ambientado em Israel 
e nos territórios ocupados, mostra a tensa re-
alidade do cotidiano local a partir da visão de 
crianças palestinas e judias.

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