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NEUROPEDAGOGIA E NEURODIDÁTICA Professora Me. Carolina dos Santos Jesuino da Natividade Diretor Geral Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino e Pós-graduação Daniel de Lima Diretor Administrativo Eduardo Santini Coordenador NEAD - Núcleo de Educação a Distância Jorge Van Dal Coordenador do Núcleo de Pesquisa Victor Biazon Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Projeto Gráfico e Editoração Douglas Crivelli Revisão Textual Leandro Vieira Web Designer Thiago Azenha FATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 FATECIE Unidade 2 Rua Candido Berthier Fortes, 2177, Centro Paranavaí-PR (44) 3045 9898 FATECIE Unidade 3 Rua Pernambuco, 1.169, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 FATECIE Unidade 4 BR-376 , km 102, Saída para Nova Londrina Paranavaí-PR (44) 3045 9898 www.fatecie.edu.br FICHA CATALOGRÁFICA FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS DO NORTE DO PARANÁ. Neuropedagogia e Neurodidática Carolina dos Santos J. da Natividade Paranavaí - PR.: Fatecie, 2018. 58 p. Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Zineide Pereira da Silva. As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site Freepik. Atribuições: Designed by kjpargeter / Freepik Designed by Asier_Relampagoestudio / Freepik Designed by Photoduet / Freepik Designed by Tirachard / Freepik Designed by vilmosvarga / Freepik Designed by v.ivash / Freepik PALAVRA DA DIREÇÃO Prezado Acadêmico(a), É com muita satisfação que inauguramos um novo mundo de oportunidades e expansão de nossa instituição que estrapolam os limites físicos e permite por meio da tecnolgias digitais que o processo ensino educação ocorra de formas ainda mais dinâmicas e em consonância com o estilo de vida da sociedade contemporânea. Empregamos agora no Ensino a Distância toda a dedicação e recursos para oferecer a você a mesma qualidade e excelência que virou a marca de nosso grupo educanional ao longo de nossa história. Queremos lembrar a você querido aluno, que a Faculdade Fatecie nasceu do sonho de um grupo de professores em contribuir com a sociedade por meio da educação. Motivados pelo desafio de empreender, tornaram o sonho realidade com a autorização da faculdade fatecie no ano de 2007. Desde o princípio a fatecie parte da crença no sonho coletivo de construção de uma sociedade mais democrática e com oportunidades para todos, onde a educação prepara para a cidadania de qualidade. Toda dedicação que a comunidade acadêmica teve ao longo de nossa história foi reconhecido ao conquistarmos por duas vezes consecutivas o título de Faculdade Número 1 do Paraná. Um feito inédito para paranavaí e toda região noroeste. No ranking, divulgado pelo mec em 2014 e 2015, a Fatecie foi destaque como a faculdade melhor avaliada em todo o estado. Posição veiculada em nível nacional pela Revista Exame e Folha de São paulo, apontando a Fatecie como a 1ª colocada no Paraná. Essas e outras conquistas que obtivemos ao longo dos nossos 10 anos de história tem como base a proposta global da faculdade fatecie, que consiste em criar um ambiente voltado para uma abordagem multidisciplinar, crítica e reflexiva, onde se desenvolvem as atividades ensino, pesquisa e extensão. Para isso, a Fatecie conta com um corpo docente composto, em sua maioria, por professores com mestrado e doutorado e com ampla experiência profissional nas mais diversas áreas do mercado e da educação. Seja bem-vindo! Direção Faculdade Fatecie A U T O R Profa. Me. Carolina dos Santos Jesuino da Natividade Mestrado em Psicologia. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, UFMS. Especialização em especialização em terapia cognitivo comportamental. Instituto de Terapia Cognitivo Comportamental, ITCC- MS. Graduação em psicologia. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, UFMS. Aperfeiçoamento em Aprimoramento em Terapia por Contingências. Instituto de Terapia por Contingências de Reforçamento, ITCR. Lattes: http://lattes.cnpq.br/9809627792228786 APRESENTAÇÃO A neuropedagogia e neurodidática são áreas novas do conhecimento a se ex- pandirem rápido tamanha a demanda no campo da educação escolar. Sabe-se que além do termo neuropedagogia existem as seguintes designações: neuroe- ducação, pedagogia neurocientífica e neuroaprendizagem. Os conhecimentos da neuropedagogia visam também desfazer mitos antigos sobre o funcionamento do cérebro e suas repercussões na vida do indivíduo. Os conhecimentos de base científica podem ajudar a esclarecer sobre as difi- culdades encontradas no ambiente acadêmico e indicar caminhos novos. Um dos novos caminhos apontados é sobre a importância da emoção para o de- senvolvimento e boa aprendizagem do ser humano. O conhecimento da Psicologia do desenvolvimento e psicologia da aprendiza- gem recebe reforço das evidências que a neurociência fornece, principalmente sobre a neuroplasticidade. O olhar da neurociência aliado ao da psicologia do desenvolvimento e aprendizagem enriquece as bases da neuropedagogia. Desde a educação infantil até a vida universitária, é benéfico ao professor en- tender as bases da consciência, da atenção, da memória e transtornos asso- ciados. Observar os processos da consciência, atenção, memória e outros no dia a dia escolar exigem treino. Contudo, pode ajudar a compreender as cau- sas das dificuldades escolares de alguns alunos. Fato que nos motiva a explo- rar mais. O número de crianças e adolescentes diagnosticados com o transtorno de dé- ficit de atenção/hiperatividade nos torna altamente interessados em entender mais sobre a atenção e o transtorno a ela associado, contudo, precisamos tam- bém nos ater sobre o conceito de consciência e memória, para de fato saber- mos o quanto a baixa atenção impacta na aprendizagem. Transtornos psicopatológicos podem ser motivo de estresse em qualquer idade e ocasionar barreiras à aprendizagem escolar. Muitas condições mentais psico- patológicas também têm se mostrado campo de interesse de educadores. Uma condição que deve ser conhecida é o transtorno bipolar, cujas características englobam longos períodos com humor depressivo e outros com mania ou hipo- mania. É necessário reconhecer para trabalhar de modo eficiente nas escolas. Quando não há problemas de percepção, cognição mediana ou até acima da média, condições de aprendizagem adequadas, mas mesmo assim um alu- no não aprende, nós somos desafiados a auxiliar o aluno. As dificuldades de aprendizagem podem ser gerais ou mais específicas a uma ou poucas disci- plinas. O que sabemos é que por trás de um diagnóstico há um aluno que não quer desistir de aprender, embora aparente que sim, por frustração ou raiva. Distúrbios como a dislexia podem levar a reações emocionais ainda mais acen- tuadas do que nas dificuldades de aprendizagem, embora não seja uma regra. Outro aspecto da realidade escolar é a presença de medicação com fins de proporcionar melhor desempenho dos alunos. Os psicofármacos fazem parte do dia a dia das escolas, às vezes taxados de vilão, às vezes de moçinho. Afi- nal, sua função pode ser positiva? E o que dizer de casos que nos desafiam em sala de aula, como a educação especial inclusiva? O que os educadores podem fazer dentro de sala para contribuir para a inclusão? É o que veremos nas próximas páginas. SUMÁRIO CAPÍTULO 1 08 | Fundamentos da Neuropedagogia e Neurodidática CAPÍTULO 2 22 | Bases da Consciência CAPÍTULO 3 34 | Neuroplasticidade CAPÍTULO 4 45 | Dificuldades de Aprendizagem e Intervenção Neuropedagógica PÁGINA 8 CAPÍTULO 1 FUNDAMENTOS DA NEUROPEDAGOGIA E NEURODIDÁTICA Professora Mestre Carolina dos Santos Jesuino da Natividade Objetivos da aprendizagem • Compreender os fundamentos da neuropedagogia • Contemplar aspectos do desenvolvimento e aprendizagem • Reconhecer a importância das emoções para o aprendizado Plano de estudos • Fundamentos da neuropedagogia e neurodidática • Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem • Educação infantil e neuropedagogia PÁGINA 9 INTRODUÇÃOO surgimento das neurociências revoluciona várias áreas do conhecimento e a educação tem começado a estreitar relações com essas ciências para lidar com os constantes desafios que a tem sido submetida. Por ser uma ciência recente a neuropedagogia ainda está definindo a nomenclatura oficial desse campo de conhecimento, como se pode observar pela quantidade de termos que correspondem a ela. Além do termo neuropedagogia encontra-se também as designações: neuroeducação, pedagogia neurocientífica e neuroaprendi- zagem. Desfazer mitos em relação a uma ciência tão nova é uma imposição necessária para que sejamos capazes de entender processos sofisticados e complexos envolvidos na aprendizagem. Os conhecimentos de base científi- ca, como os da neuropedagogia, podem ajudar a esclarecer sobre as dificulda- des encontradas no ambiente acadêmico e indicar caminhos para obter melhor desempenho dos alunos e melhor impacto em sua constituição como sujeitos. Outra grande vantagem das informações e conhecimentos da neuropedagogia é olhar para determinados comportamentos sem pré-julgamentos e estereóti- pos, possibilitando que os profissionais envolvidos na educação possam real- mente se aproximar das pessoas e interagir de modo que promova aprendiza- gens e enriquecimento pessoal. Questões historicamente negligenciadas, como a importância da emoção para o bom desenvolvimento e boa aprendizagem, são levantadas agora pelas neurociências e tal debate se prolonga na neuro- pedagogia, com maior ênfase no lado afetivo e emocional na relação ensino- -aprendizagem. A didática em sala de aula, ampliada a visão sobre o aluno, pode atingir aqueles que antes ficavam excluídos pela falta de entendimento de aspectos, por vezes sutis, que influenciam o modo como apreendem as rela- ções com o conhecimento científico, social e artístico. PÁGINA 10 SAIBA MAIS 1. FUNDAMENTOS DA NEUROPEDAGOGIA E NEURODIDÁTICA Diversos campos do conhecimento são reunidos para conseguir dar conta de fenômeno tão complexo como a aprendizagem. Ela tem lugar de destaque em várias disciplinas devido à grande necessidade de aprender do ser humano para garantir sua sobrevivência. Para iniciarmos nossos estudos vamos conhecer um pouco da neurociência. A neurociência é uma ciência jovem, cuja aplicação na educação tem ajudado a compreender os modos de agir e pensar das pessoas. Cosenza; Guerra (2011) afirmam que o diálogo entre neurociência e educação e sua difusão aos educa- dores pode contribuir para o sucesso de estratégias pedagógicas correntes. Existem cinco grandes disciplinas neurocientíficas. A Neurociência molecular tem objeto de estudos as moléculas de importância funcional no sistema ner- voso. A Neurociência sistêmica considera populações de células nervosas si- tuadas em diversas regiões do sistema nervoso, que constituem sistemas fun- cionais como o visual, o auditivo, o motor e etc. A Neurociência comportamen- tal dedica-se a estudar as estruturas neurais que produzem comportamentos e outros fenômenos psicológicos como o sono, os comportamentos sexuais, os comportamentos emocionais e outros. É às vezes conhecida como Psicofisio- logia ou Psicobiologia. A Neurociência cognitiva trata das capacidades mentais mais complexas como linguagem, autoconsciência e memória. Também é cha- mada de Neuropsicologia. Fonte: Lent (2001). Agora que já fomos apresentados à neurociência, podemos nos deter nas ca- racterísticas do cérebro em funcionamento. De modo breve, podemos entender que o cérebro é dividido em três grandes porções: a) parte sensorial, que é um conjunto de estruturas que recebem informações do ambiente e as proces- sam de modo coordenado, criando imagens sobre o mundo; b) parte motora, que fica na área mediana do cérebro e usa das imagens do mundo sensorial- mente representadas e c) parte associativa, que fica na região pré-frontal e acrescenta complexidade ao comportamento, como a capacidade de planeja- mento (HERCULANO-HOUZEL, 2011). PÁGINA 11 Uma parte considerável do sistema nervoso central (o qual é composto por cé- rebro e medula espinhal) se dedica a processar as informações provindas dos sentidos (visão, audição, paladar, tato) e criar uma representação unificada do mundo para que a pessoa possa interagir com ele. O cérebro como um todo trabalha para que possamos traduzir os estímulos externos em representações sensoriais do ambiente, nos movimentar a partir das percepções e planejar mo- dos eficientes de ação. (HERCULANO-HOUZEL, 2011). PÁGINA 12 neurociência tem estudado o consumo de energia do cérebro e com isso com- preendeu que partes do cérebro participam de funções específicas (por exem- plo, memória, emoções, processamento visual). A partir dos estudos de resso- nância magnética funcional observou-se que todas as áreas do cérebro funcio- nam permanentemente, variando as áreas que são mais ativadas a cada ativi- dade que realizamos. Necessário ressaltar que é falsa a afirmativa de que usa- mos apenas 10% da capacidade do cérebro. (HERCULANO-HOUZEL, 2011). Os estudos que partem de técnicas de ressonância magnética funcional permi- tiram compreendermos que diferentes regiões do cérebro podem exercer fun- ções muito específicas. Comportamentos complexos como elaboração de ob- jetivos, estratégias, tomada de decisões e se antecipar a acontecimentos estão relacionadas a regiões específicas do cérebro (região pré-frontal). Existe uma divisão de tarefas entre os dois hemisférios cerebrais, em que o hemisfério es- querdo controla as funções do lado direito do corpo e o hemisfério direito con- trola do lado esquerdo. Uma informação importante de ser destacada é que é mito que o lado direito do cérebro é emocional e o lado esquerdo é racional. O que a neurociência observou é que a capacidade criativa e racional depende de processos integrados envolvendo os dois hemisférios. (HERCULANO-HOU- ZEL, 2011). O que de fato sabemos sobre a especialização do hemisfério esquerdo é que, nas palavras de Herculano-Houzel (2011, p. 9): Em geral, é o lado esquerdo do cérebro que produz a fala, que produz as palavras, que seleciona e encadeia as pala- vras que nós pensamos e falamos. Enquanto isso, a região correspondente do lado direito do cérebro é responsável por dar o tom emocional da fala, que dá o conteúdo emo- cional da fala, que está expresso na prosódia, essa melo- dia da fala, da voz que sobe e desce. Agora, a fala com todos os seus nuances, com o seu conteúdo emocional, justamente ela é resultado da interação dos dois lados do cérebro. Por isso, a comunicação depende dos dois lados do cérebro e não apenas de um ou outro. (HERCULANO- -HOUZEL, 2011, p. 9) Tais dados que confrontam o senso comum sobre o funcionamento cerebral corroboram a noção de que as pessoas envolvidas com a educação necessi- tam de um saber realmente científico para conhecer como se dão as relações entre aprendizado, comportamento e cérebro. PÁGINA 13 Mais do que conhecer as características do funcionamento cerebral, para uma melhor atuação no campo da educação é necessário olhar para a intersecção entre a educação e o conhecimento das neurociências. Essa interface entre educação e neurociência tem sido chamada de Neuropedagogia. A Neurope- dagogia é descrita por Correia; Felizardo (2017) como: “(...) um novo campo de conhecimento para integrar o aprender e o ensinar elencando todo o funciona- mento do psicológico da aprendizagem para proporcionar melhores condições cognitivas de desempenho.”. Ainda segundo os autores, neuropedagogia, Cor- reia; Felizardo (2017): (...) pode ser concebida com diversas nomenclaturas; algu- mas das mais difundidas são neuroeducação, pedagogia neu- rocientífica, neuroaprendizagem e muitas derivações relacio- nadas ao campo neural dos processos de cognição. Com o viés pedagógico, vem integrar a formação do professor para melhor entender como o cérebro recebe, seleciona, transfor- ma e memoriza as sensações captadas para adaptar as me- todologias e práticas educacionaisa todas as crianças com dificuldades cognitivas nas aprendizagens. (CORREIA; FELI- ZARDO, 2017). A visão da neuropedagogia é do agente escolar como alvo ativo das vivências proporcionadas no processo de ensino e aprendizagem. Como ser ativo para propiciar a relação ensino-aprendizagem cabe a esse profissional se inteirar dos conhecimentos e avanços na área da educação e neurociências: a neuro- pedadogia. 2. PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E DA APRENDIZAGEM Tudo que aprendemos deixa marcas no cérebro e mudanças no cérebro é a base para o aprendizado. A neurociência, segundo Herculano-Houzel (2011), explica que o aprendizado consiste na modificação das conexões entre neu- rônios no cérebro. No início da vida as modificações são muito intensas (como será detalhado no capítulo III, sobre a neuroplasticidade). Ainda conforme a au- tora, o aprendizado é um dos maiores prazeres do cérebro, pois é um estímulo poderoso para o sistema de recompensa cerebral, que leva a sensações de satisfação e até de euforia. Aprender é mudar o cérebro conforme se vive expe- riências. As conexões entre neurônios podem se fortalecer ou tornar mais fra- cas dependendo do uso, ou seja, certas atividades feitas frequentemente forta- lecerão determinadas conexões nervosas, enquanto que a interrupção de uma atividade por muitos anos pode enfraquecer a conexão entre células nervosas e tornar um comportamento previamente aprendido mais difícil de realizar do que um que executamos constantemente. PÁGINA 14 PÁGINA 15 Asseveram Cosenza; Guerra (2011) que as primeiras fases do desenvolvimen- to do sistema nervoso são imprescindíveis para as funções que as diversas es- truturas cerebrais irão desempenhar. Problemas genéticos ou ambientais po- dem levar a distúrbios ou incapacidades por toda a vida. Um aspecto do desen- volvimento que deve ser observado é a questão da prematuridade, conforme expõe Corso (2016,p. 253): (...) sabe-se hoje que uma informação sobre um nascimento prematuro, mesmo que a prematuridade não seja muito gran- de e que, aparentemente, ela não tenha relação com qualquer prejuízo, deve ser valorizada e considerada como um possível componente dos quadros complexos que representam as difi- culdades de aprendizagem. (CORSO, 2016, p.253). Conhecer a história de vida de alguns alunos é fundamental para que se consi- ga levantar possibilidades do porquê apresenta determinada dificuldade e aju- dá-lo a saná-la ou a minimizar. Ainda sobre o evento da prematuridade, Corso (2016, p. 253) destaca que: Embora a maioria de crianças nascidas prematuramente não desenvolva prejuízos maiores, mais crianças prematuras do que crianças nascidas a termo desenvolvem paralisia cerebral e/ou deficiências cognitivas. Um conjunto de pesquisas recen- tes indica que a prematuridade está associada não só a es- ses conhecidos problemas mais graves, mas também ao risco adicional de prejuízos mais sutis relacionados com atenção, funções executivas, linguagem, habilidades visuoperceptivas e função motora fina, que influenciam a habilidade de sair-se bem na escola e em casa. (CORSO, 2016, p. 253). O conhecimento sobre o desenvolvimento típico e atípico permite reconhecer a necessidade de intervenções mais especializadas decorrentes de saberes como a psicopedagogia, neuropsicopedagogia e outros. Vários fatores interfe- rem na aprendizagem. Conhecer os aspectos neurobiológicos auxilia a levar a ajuda específica àquele de que necessita. PÁGINA 16 REFLITA 3. EDUCAÇÃO INFANTIL E NEUROPEDAGOGIA A ciência priorizou por muito tempo o racional e a educação infantil, pautada no saber científico também focou por muito tempo os aspectos cognitivos envolvi- dos na aprendizagem. Novas evidências que têm sido reveladas demonstram que não é possível existir um ser humano somente guiado pela razão, pois a emoção é algo intrínseco ao homem. Com a revalorização do ser integral, cuja existência depende da razão tanto quanto da emoção, aumentam as pesquisas em torno da emoção e surge o termo Inteligência emocional. Cognição refere-se aos processos mentais superiores. Pode ser entendida como processo que inclui atividades mentais do tipo: pensamento e conceptua- lização; recordação, representação e imagens mentais; percepção e atenção; raciocínio e tomada de decisão. O papel tradicionalmente dado à emoção tem sido modificado graças a pesquisas que mostram o quanto a emoção interfere nos raciocínios, sendo um elemento a mais na compreensão do raciocínio e da cognição. Fonte: GAZZANIGA; HEATHERTON; HALPERN (2018) A tradicional barreira entre razão e emoção tem sofrido abalos fortes. A certeza de que a razão serve para se sobrepor totalmente à emoção tem caído por ter- ra com conhecimentos da neurociência. A divisão de razão versus emoção não faz mais sentido haja vista que as emo- ções atendem as funções cognitivas. As respostas perceptivas a um objeto não são avaliadas somente pelo viés racional, as respostas afetivas surgem rapida- mente durante o processo de percepção. As emoções: “(...) dão cores às per- cepções no mesmo instante em que um objeto é notado.” (Gazzaniga; Heather- ton; Halpern, 2018, p. 417). Bridi Filho; Bridi (2016) corroboram a importância da emoção para a aprendi- zagem, pois o sistema límbico (formado pelos órgãos que regulam as funções mais primitivas e as emoções) também está relacionado com as aprendiza- gens. A forte relação entre emoção e aprendizagem é explicitada em Cosenza; Guer- ra (2011), pois a estrutura cerebral denominada de amígdala é fundamental para a aprendizagem da reação de medo e até na identificação de reações emocionais de medo. Pessoas cuja amígdala foi lesada apresentam dificulda- de em identificar sinais de perigo e em reagir adequadamente em situações PÁGINA 17 de ameaça. A consolidação da memória também exige a ativação da amígdala, pois essa interage com o hipocampo. É reconhecido que uma pequena excita- ção emocional auxilia no estabelecimento e conservação de uma lembrança. Emoções positivas (como, por exemplo, entusiasmo, curiosidade, envolvimen- to e desafio) podem favorecer os processos de aprendizagem. Já as emoções negativas (como ansiedade, frustração e medo) costumam perturbar a aprendi- zagem eficiente. A ansiedade e estresse prolongados interferem negativamente porque em situações muito estressantes os hormônios glicocorticóides secre- tados pela glândula suprarrenal atuam nos neurônios do hipocampo, podendo até mesmo danificá-lo. A adequada expressão das emoções são muito constru- tivas no ambiente escolar, pois aumentam a aprendizagem, diminuem proble- mas de indisciplina e preparam indivíduos capazes de viver bem em sociedade com plenitude social. (COSENZA; GUERRA, 2011). PÁGINA 18 CONSIDERAÇÕES FINAIS O diálogo entre neurociências e educação tem mostrado enorme potencial. Várias dúvidas sobre as questões de aprendizagem rondam a cabeça de pro- fessores e outros profissionais voltados ao campo educacional. Muitas ciên- cias já foram conclamadas a participar da vida escolar, levando seu olhar so- bre os processos de ensino-aprendizagem. Os conhecimentos da neurociên- cia se aglutinam com os conhecimentos e experiências provindos da pedago- gia, dando origem a esta nova ciência chamada neuropedagogia. É corrente o pressuposto de que quanto mais se conhecer o aluno, melhor se poderá ensiná-lo. Há ainda muito a conhecer sobre os aspectos do neurodesenvolvi- mento e como influenciá-lo positivamente. Pensava-se que conhecíamos o cé- rebro, mas descobertas recentes quebraram noções que tomávamos como ver- dades. Sabemos que as células do sistema nervoso, os neurônios, mantêm certa ca- pacidade de reprodução ao longo de toda a vida, o que muda nosso entendi- mento de plasticidade cerebral diante dos eventos e do quanto podemos mudar a nós mesmo apesar do avanço do tempo. A velha e enaltecida ideia de que a humanidade só usa menos de 30% do seu potencial também caiu por terra com o aprimoramento da tecnologia para observaro cérebro em ação. Des- crições do cérebro como sendo dois hemisférios sem muita comunicação se mostraram falhas e compreendemos agora que hemisfério esquerdo e direito interagem continua e fortemente para sermos os seres integrados e harmôni- cos que podemos ser. Embora a Psicologia já aparasse a Pedagogia com conhecimentos sobre o de- senvolvimento humano, o aparecimento da neuropedagogia tem proporcionado maior entendimento de como a emoção é fundamental no processo de ensino- -aprendizagem. A escola já não pode mais desenvolver-se apenas para lidar com conhecimentos racionais e lógicos, cabe a ela e seus profissionais reco- nhecer o papel das emoções para que o indivíduo consiga atingir todo seu po- tencial como aluno e cidadão. PÁGINA 19 CONCLUSÃO A aprendizagem deixa marcas no cérebro. De todos os fatores envolvidos no processo ensino-aprendizagem, só muito recentemente a área da educação se voltou para aspectos até então tomados como desnecessários para a atuação no meio escolar. É comum na história da construção dos conhecimentos sobre os seres humanos, em determinados momentos, pelo incipiente montante de conhecimento acumulado de uma ciência nova, ela seja pouco investigada em sua aplicação a outros campos. Se a tempos atrás se julgava que a neurociên- cia teria influência e aplicação apenas na área da saúde, hoje isso foi revisto. A junção da neurociência com a educação, mais especificamente com os co- nhecimentos da pedagogia, mostram o quanto o educador deve estar atento ao mundo que o rodeia. Não para acatar a modismos, mas para conhecer as possibilidades que a criatividade e conhecimento humano sistematizado podem ter na escola. A visão sobre o ser humano já foi influenciada por ideias de que o que importa é tornar o homem o mais racional possível. Essa visão influenciou e continua a influenciar os currículos escolares. Com o avanço das investiga- ções sobre o cérebro, percebeu-se que na estrutura cerebral há importantes áreas destinadas ao reconhecimento de situações que exijam a presença de fortes emoções e de reações adequadas a essas. A conexão entre emoções e reações planejadas também foi observada após comparação da estrutura or- gânica com a inteligência artificial. Quanto mais a ciência prospera no conheci- mento do fantástico cérebro humano, mais podemos entender quem somos e pensar de que modo podemos nos ajudar a utilizar bem nosso potencial. A necessidade do profissional da educação em aprofundar conhecimentos per- mite desfazer equívocos do senso comum sobre questões biológicas e psicoló- gicas e suas interações no campo da educação. PÁGINA 20 LEITURA COMPLEMENTAR É possível estabelecer subtipos de dificuldades de aprendizagem que considerem os fatores de desenvolvimento e a resposta ao tratamento em relação a modelos baseados no cérebro e na conduta? É possível integrar o desenvolvimento psicológico com desenvolvimento do cérebro? É possível en- contrar correlatos eletrofisiológicos nos hemisférios cerebrais em relação com tarefas de aprendizagem? É possível postular modelos úteis tanto para as pes- soas com dano cerebral como para as que apresentem dificuldades de apren- dizagem apesar do desenvolvimento normal? Este núcleo de questões dirige a busca dentro do enfoque ou enfoques neuropsicológicos [das teorias e mo- delos das dificuldades de aprendizagem]. Se são encontradas relações entre o funcionamento dos processos centrais com os déficits nos aspectos sociais e acadêmicos das pessoas com dificuldades de aprendizagem dentro de um modelo que explique a mudança no desenvolvimento dessas pessoas e que dê conta dos subtipos, além das respostas diferenciais aos tratamentos, teremos avançado na resposta às questões propostas. Uma das linhas de trabalho do enfoque neuropsicológico é o estudo das dimen- sões psicossociais e acadêmicas das dificuldades de aprendizagem que, há 25 anos, Rourke e colaboradores vêm desenvolvendo no Laboratório da Univer- sidade de Windson (Rourke, 1991b). A hipótese que Rourke põe a prova pode enumerar-se num triplo nível: 1. As dificuldades de aprendizagem não são senão a manifestação de défi- cits básicos do tipo neuropsicológico. 2. Os subtipos de dificuldades de aprendizagem podem nos conduzir às di- ficuldades no funcionamento acadêmico e/ou psicossocial. 3. A crença de que somente a partir de um marco neuroevolutivo é possí- vel explicar a conexão entre as dificuldades acadêmicas e de aprendiza- gem social, dificuldades de aprendizagem e déficits neuropsicológicos. O marco neuroevolutivo ou de desenvolvimento poderá assumir a evolu- ção doa ativos e déficits acadêmicos, adaptativos ou sócio-emocionais, demandas vocacionais, etc, num contexto social e cultural complexo e em contínua mudança. Fonte: García, Jesus, Nicácio (1998, p.46) PÁGINA 21 MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO KOLB, B.; WHISHAW, I.Q. Neurociência do Comportamento. São Paulo: Manole, 2002. PÁGINA 22 CAPÍTULO 2 BASES DACONSCIÊNCIA Objetivos de estudo • Compreender o conceito de consciência para a neuropedagogia • Aprofundar conhecimentos sobre a atenção e o transtorno de déficit de atenção/hiperatividade • Compreender melhor os processos envolvidos na memória Plano de estudos • Bases da consciência • Bases da atenção e transtornos associados • Bases da memória e transtornos associados PÁGINA 23 INTRODUÇÃO Estudar as bases da consciência, atenção e memória, de início, é uma tarefa árdua. Isso porque no dia a dia, ao lidarmos com pessoas cujo funcionamento cerebral conta com todas as funções em ótimo estado, não conseguimos nos ater a partes do funcionamento mental. Ou seja, ao darmos uma atividade para um aluno esperamos pelo seu desempenho e o avaliamos por meio do seu es- forço e do resultado obtido. Não conseguimos ver como age o seu processo de atenção, de sua consciência e nem seus processos de armazenar e utilizar informações. O que vemos é um todo complexo, por mais simples e banal que seja a ação observada. Ao falarmos de neuropedagogia será necessário um esforço para abstrair a realidade, ver aspectos da ação que nunca antes nos foi dito serem importante. Observar e perceber cada um desses processos (da consciência, atenção, memória e outros) no dia a dia escolar exige treino. Pode parecer muito difícil, porém se lembrarmos de como foi difícil aprendermos a distinguir os nomes das cores, dos objetos e tantas outras aprendizagens, ve- remos que podemos dar conta sim. O termo consciência pode gerar certa con- fusão, pois a todo o momento usamos esse termo no cotidiano, com vários sig- nificados. Contudo, dentro na neuropedagogia, restringiremo-nos ao estado de estar alerta e da percepção de nossos processos mentais, isto é, focaremos na noção de consciência a partir da neurociência. Vários aspectos da atenção estão em foco nos estudos sobre a vida escolar principalmente pelo número de crianças e adolescentes diagnosticados com o transtorno de déficit de atenção/ hiperatividade. É extremamente necessário conhecer bem esse transtorno e ter ferramentas para ajudar ao aluno em sala de aula (ambiente em cuja suas limi- tações são mais aparentes e angustiantes) a obter melhor aprendizagem. Pre- parado (a) para esse desafio? Então, vamos lá! PÁGINA 24 1. BASES DA CONSCIÊNCIA Constantemente falamos sobre estar conscientes de escolha que fazemos no dia a dia. Falamos de consciência eleitoral, consciência social e ambiental. Mas, afinal que consciência é essa estudada pela neurociência? O dicionário de psicologia escrito por Stratton; Hayes (2009, p. 47) descreve a consciência como: “Um estado subjetivo de estar alerta: reconhecimento das informações recebidas do ambiente imediato. A percepção dos próprios processos mentais ou o estado de ter esta percepção.”. Essa concepção de consciência se afasta muito da usada no cotidiano, mas é com ela que lidaremos a partir de agora. Atkinson et al (2002) expõe a consciência como processo de monitorar o am- biente e a nós mesmos e processode controlar a nós mesmos e ao ambiente de modo que começamos e finalizamos atividades cognitivas e comportamen- tais. A consciência se concentra em alguns estímulos e ignora outros, porque não é possível captarmos e processarmos todos os estímulos internos e exter- nos. A capacidade de monitorização das informações as seleciona para esta- rem conscientes e tem relação com nosso mundo interno (sentimentos, sensa- ções físicas, movimentação do organismo) e externo (sons, luzes, cheiros etc). Alguns eventos obtêm acesso à consciência e outros não. 2. BASES DA ATENÇÃO E TRANSTORNOS ASSOCIADOS A atenção, de acordo com Stratton; Hayes (2009,p. 21) é: “Uma direção cons- cientemente focalizada, de modo que o indivíduo se encontra plenamente pre- parado para responder a um tipo específico de sinal ou input sensorial.”. De certa forma a atenção é sempre seletiva, pois falamos de prestar atenção quando alguns estímulos são canalizados e outros ignorados. Stratton; Hayes (2009) nos falam sobre a atenção seletiva que foi muito estudada desde 1950, nos chamados estudos de efeito de festa, porque um dos exemplos mais in- vestigados e conhecidos é de quando alguém se concentra em uma conversa entre muitos ruídos de um ambiente festivo e barulhento. A atenção amplifica o que é pertinente psicológica e biologicamente. Há muitas pesquisas envolven- do tarefas de audição dicótica e tarefas de amplitude dividida. Há pesquisa em que se pediu aos participantes que ouvissem um fone de ouvido enquanto rea- lizavam uma atividade. O que se observou que os participantes não se lembra- vam do conteúdo ouvido no fone, mas sabiam relatar as características físicas da voz, como grave ou agudo, feminina ou masculina. PÁGINA 25 2.1 Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade-TDAH e dificuldades nas funções executivas Barkley (2002) expõem as características de crianças com TDAH. A literatura levantada pelo autor revela que pais que apresentam TDAH têm maior chance de terem filhos com o transtorno por questões hereditárias. Dentro da mesma família, os meninos possuem maior probabilidade de apresentarem o transtor- no do que as meninas. Quando bebê as crianças com TDAH também apre- sentavam um padrão excessivamente ativo. Nos primeiros anos de vida sua atenção a objetos e a brinquedos era mais curta que de crianças da mesma fase e também persistiam menos na busca de um objeto no seu campo visual. Nos anos pré-escolares se observa nelas excessiva desatenção e dificuldades emocionais como ira frequente. Ao ingressar na escola, a criança com TDAH será cobrada justamente pelos comportamentos em que tem a maior dificuldade de emitir, como nos alerta Barkley (2002): habilidade de ficar quieto, atender a pedidos, escutar até o fi- nal, obedecer, inibir um comportamento impulsivo, cooperar, organizar ações, seguir completamente as instruções e outras. O desempenho educacional será extremamente irregular. Para lidar com crianças e adolescentes com características de TDAH, Barkley (2002) indica: a) dar atenção positiva aos comportamentos adequados, IME- DIATAMENTE (para isso sugere-se que o professor inicia a aula com fichas e entregar ao aluno toda vez que houver bom comportamento); b) propor um pro- grama de economia de fichas, para que as recompensas fiquem mais palpáveis e imediatas; c) quando der reprimendas, essas devem ser breves, específicas, sem muita emoção e dadas consistentemente; d) ignorar mau comportamen- to leve, para que a interação entre aluno e professor possa ser mais tranquila (continuar punindo comportamentos mais severos); e)perda de recompensas por mau comportamento (funciona muito dentro do programa de economia de fichas); f) punir comportamento inadequado, mas recompensar o comporta- mento adequado alternativo. PÁGINA 26 REFLITA As regras e instruções devem ser informadas às crianças portadoras de TDAH de forma clara, breve e com modos de apresentação mais visíveis e externos do que o necessário no trato de crianças comuns. Fonte: Barkley et al (2008, p. 566) PÁGINA 27 SAIBA MAIS (...) vê-se que tradicionalmente a escola delegou-se a tarefa de desenvolver habilidades, sem grande preocupação no desenvolvimento das funções execu- tivas de uma forma mais ampla. As atividades escolares são focadas mais na memorização e na repetição, e acredita-se que o estudante comum desenvol- verá por conta própria a capacidade de planejar o seu tempo, priorizando infor- mações (separar as idéias básicas dos detalhes ou do irrelevante), monitoran- do o seu progresso e refletindo sobre o seu trabalho. Mas, principalmente nas condições do mundo moderno, sabemos que isso frequentemente não acon- tece. Crianças e adolescentes, na maioria das escolas, e mesmo no ambiente familiar, não são expostos a estratégias que privilegiem o desenvolvimento de funções executivas. Por isso, torna-se necessário o ensino de estratégias que os municiem para uma real aprendizagem. Fonte: Cosenza; Guerra (2011) 3. BASES DA MEMÓRIA E TRANSTORNOS ASSOCIADOS A memória é, utilizando conceito de Stratton; Hayes (2009), o termo geral atri- buído ao armazenamento e posterior recuperação da informação. É preciso dar atenção para um estímulo para que seja memorizado, por isso que grande par- te dos estímulos a que somos expostos nunca entram na memória. A memória tem grande importância de modo psicológico, porque ela que dá a sensação de continuidade da qual depende nossa noção de eu. (ATKINSON et al, 2002). PÁGINA 28 Vamos compreender mais sobre a memória e como é ela encarada atualmente. Há memórias diferentes para diferentes tipos de informação: a) memória ex- plicita é usada para armazenar fatos (como nomes de cidades e datas come- morativas), ela é processada de modo consciente; b) memória implícita para armazenar habilidades (como andar de bicicleta e pintar), ela é processada in- conscientemente. (ATKINSON et al, 2002). Ao falarmos de memória podemos dividi-la também pelo tempo ou duração da informação. Temos a memória de operação (já chamada de curto prazo) e a memória de longo prazo. A memória de operação armazena material neces- sário por períodos curtos, ela serve como espaço de trabalho para computa- ções mentais. Já a memória de longo prazo está envolvida quando a infor- mação precisa ser retida por intervalos tão curtos quanto alguns minutos ou durante a vida inteira. É possível e comum a transferência da memória de ope- ração para a memória de longo prazo. O treino e a repetição permitem que a informação seja transferida para a memória de longo prazo. A emoção presente também ajuda no processo de transferência. (ATKINSON et al, 2002). Questões cotidianas exigem que a memória de operação e a de longo prazo atuem juntas. Ao tentar resolver um problema usa-se a memória de operação para armazenar partes do problema e também as informações armazenadas na memória de longo prazo. Um exemplo é realizar um simples calculo, é ne- cessário saber o significado do símbolo de soma e de cada número da conta, para isso são recuperadas informações presentes na memória de longo prazo. (ATKINSON et al, 2002). Em um rápido olhar sobre as lesões sobre o cérebro podemos notar a impor- tância de seu pleno funcionamento. Lesões na região lobo temporal podem causar incapacidade de armazenar novas informações, embora se mantenha intacta a capacidade de lembrar fatos antigos e de usar a memória operacional. Pessoas com danos no hipocampo apresentam dificuldade para lembrar even- tos por longos intervalos, ou seja, a memória de longo prazo está prejudicada, mas a memória de operação é normal. (ATKINSON et al, 2002). Para melhor compreendermos a sutileza e complexidade cabe atentarmos para aspectos ainda pouco difundidos sobre a memória. As lembranças que temos do passado não são uma reconstrução literal dos eventos, mas uma constru- ção fortemente influenciada por expectativas, crenças do sujeito e pela infor- mação do presente. Este aspecto do funcionamento da memória acarretaum fenômeno intrigante chamado “implantes de memória” ou “falsas memórias”, ou seja, a recordação de um fato ou uma experiência que nunca ocorreu. PÁGINA 29 O fato é que a recuperação de uma lembrança não é literal e fidedigna, como se fosse um filme que se repete exatamente igual. A lembrança se parece mais com uma montagem editada, que é influenciada pelas experiências pas- sadas e presentes. As lembranças não são apenas fatos recuperados quando a evocamos. Muito do que lembramos são fatos que vivemos, mas também va- mos além disso. Fazemos ajustes e reajustes constantes para tornar as memó- rias coerentes com as expectativas sobre nós mesmos e sobre o mundo. O filme que passa por nossa cabeça ao evocarmos alguma cena de nosso pas- sado é alterado inúmeras vezes, sem que possamos identificar o quanto já edi- tamos esse filme. A memória não é mais entendida como reconstrutiva (isto é, o armazenamen- to de informação sobre eventos ou fatos é depois reconstruído literalmente igual o fato). Sabe-se hoje que a memória é em grande parte construtiva (ou seja, o armazenamento é afetado pelo conjunto de crenças preexistentes e por novas informações). Lembrar é construir uma lembrança ajustada para ser coe- rente. O porquê de sabermos sobre falsas memórias: o cérebro salva na memória as novas informações muitas vezes automática e inconscientemente, o que já le- vou testemunhas de crimes a convencerem um júri a condenações erradas. O fenômeno dos implantes de memória é uma experiência que faz parte do coti- diano mental. Quanto maior forem a presença destas três condições externas maior a probabilidade de se formar falsas memórias: a) demandas sociais que incentivam as pessoas a lembrar de algo; b) encorajamento explícito para ima- ginar eventos e c) estímulo para as pessoas não avaliarem se suas constru- ções são reais. Como expõem Cosenza; Guerra (2011) pode haver o registro de uma informa- ção dependendo da relevância da experiência ou informação, com o registro da informação poderá ocorrer alterações nas estruturas dos circuitos nervosos, com sinapses se tornando mais eficientes. Para a informação se fixar no cére- bro é necessario: a) repetição (quanto mais se repetir uma atividade, mais liga- ções se estabelecerem, melhor será o registro); b) elaboração (criação de vín- culos de um conteúdo novo com outros antigos) e c) consolidação (alterações biológicas nas conexões entre os neurônios, um registro se vincula a outros já existentes). PÁGINA 30 CONSIDERAÇÕES FINAIS Atenção, memória e consciência são fenômenos que se estuda separadamente por fins didáticos, mas que ocorrem simultânea e inseparadamente. Podemos reparar isso no experimento em que se pediu aos participantes que ouvissem um fone de ouvido enquanto realizavam uma atividade e resultou que os parti- cipantes não se lembravam do conteúdo ouvido no fone, pois sua atenção não estava na conversa, mas na atividade que realizavam. Atenção, consciência e memória se interinfluenciam. Quanto maior a atenção em algo, maior a chance de que nos lembremos dela. Tanto que a atenção é definida como uma direção conscientemente focalizada. Sobre a memória e a atenção, temos que: é preciso dar atenção para um estímulo para que seja me- morizado. Ou seja, difícil falar de memória sem compreender o quanto a aten- ção voluntária está relacionada ao armazenamento e posterior recuperação da informação. Em um mundo com excesso de medicalização (isto é, indicação para medica- lizar em casos em que não é necessário) reconhecer que há casos em que o TDAH é bem diagnosticado e que de fato a medicação é necessária e um óti- mo recurso nos deixa mais tranquilos. Pelo excesso de diagnóstico de TDAH já foi cogitado como devido ao excesso de pressão da indústria farmacêutica. Cogitou-se também que esse transtorno nem mesmo existiria. Contudo, es- tudos dentro de famílias já mostra que o TDAH é um condição relacionada à genética, embora padrões comportamentais possam ser intensificados ou ame- nizados conforme é o ambiente social da pessoa. O TDAH existe e há meios de lidar com crianças e adolescentes com ele. Há pessoas com maior ou me- nor quantidade de sintomas, porém os mais vistos na escola são: dificuldade em permanecer quieto, atender a pedidos, obedecer aos professores, inibir um comportamento impulsivo, cooperar, organizar as próprias ações e seguir com- pletamente as instruções (pois nem sempre as escutam até o final ou por se esquecerem no meio da atividade). PÁGINA 31 CONCLUSÃO Com pessoas cujo desempenho educacional é irregular, que é uma das carac- terísticas de TDAH, os educadores precisam estar atentos ao que é importante para o aluno e usar isso para facilitar que ele aprenda conteúdos que o desa- fiam constantemente a fixar atenção (justamente sua maior dificuldade). Quan- to menor a criança (mesmo de desenvolvimento típico) e quanto mais severo o comprometimento devido ao TDAH, é indicado aos profissionais da educação que se certifiquem de dar atenção positiva imediatamente aos comportamentos que se espera. Caso o aluno ainda não manifeste comportamento totalmente adequado, deve-se observar e reforçar ações que ainda não são o comporta- mento esperado, mas que podem indicar um início. A proposta um programa de economia de fichas tem a função de tornar as recompensas mais palpáveis e imediatas. Várias observações demonstram as grandes dificuldades de por- tadores de TDAH, mesmo para adultos, em se organizar e planejar. Mesmo as mais simples atividades escolares, como a confecção de um desenho envol- vem planejamento e organização, pois é preciso observar se possui o material, planejar que parte da folha será usada, decidir o desenho a ser feito, lembrar de trocar as cores. Ainda na mesma atividade é preciso resolver problemas, como pedir outra folha caso tenha errado e também permanecer na atividade sem desviar do foco quando fica enfadonha. Os avisos e chamadas de atenção para serem efetivos precisam ser curtos e específicos, para que eles prestem atenção e consigam reter a informação. Diante desse quadro de dificuldades que certamente impactarão o desem- penho acadêmico e desenvolvimento pessoal, a equipe da escola deve estar atenta as suas necessidades acadêmicas especiais. De olho nas característi- cas do aluno para implantar um programa diferenciado para ajudá-lo nessa difi- culdade de base orgânica que o coloca em grande desvantagem na vida esco- lar. PÁGINA 32 LEITURA COMPLEMENTAR Em um determinado ponto, os déficits em habilidades relacionadas com o de- sempenho acadêmico atingem o nível de ser consideradas dificuldades espe- cíficas de aprendizagem. Desde a última edição desse texto, foram realizadas poucas pesquisas sobre as dificuldades de aprendizagem de crianças com TDAH. Em vista de seus déficits em habilidades relacionadas ao desempenho acadêmico, conforme já discutido, não surpreende que as crianças portadoras de TDAH tenham maior probabilidade de apresentar dificuldades de aprendi- zagem do que crianças que não têm o transtorno. Todavia, uma dificuldade de aprendizagem não significa simplesmente não fazer o trabalho escolar. Ela ge- ralmente é definida como uma discrepância significativa entre a inteligência, ou as habilidades mentais gerais, e o desempenho acadêmico do indivíduo em al- guma área, como leitura, matemática, ortografia, caligrafia ou língua. (...) Concluindo, se empregadas abordagens mais rigorosas para definir uma difi- culdade de aprendizagem (i.e., a equação de regressão de Frick e colabora- dores) é provável que cerca de 8 a 39% das crianças com TDAH tenham di- ficuldade em leitura, 12 a 30% tenham uma dificuldade em matemática e 12 a 27% tenham algum distúrbio da ortografia. É importante observar aqui que Frick e colaboradores (1991) encontraram taxas semelhantes de dificuldades de aprendizagem em uma amostra de crianças com TC [transtorno de condu- ta], mas isso se deveu inteiramente á presença de TDAH comórbido nessas crianças.Essa observação ressalta a afirmação de Hinshaw (1987, 1992) de que o TDAH está associado com mais frequência a déficits cognitivos e de de- sempenho do que o TC e também condiz com a demonstração de rapport e colaboradores (1999) de que os déficits acadêmicos são função da gravidade do TDAH e do baixo QI associado a ele, e não de problemas de condutas coe- xistentes. Quando o desempenho acadêmico é fraco em crianças com TDAH e problemas de conduta, pode-se ter certeza de que o TDAH é o que contribui para o problema. Fonte: Barkley (2008, p.139-140). PÁGINA 33 MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Relvas MP. Neurociência e transtornos de aprendiza- gem. As múltiplas eficiências para uma Educação In- clusiva. 5ª ed. Rio de Janeiro: Wak; 2011. PÁGINA 34 CAPÍTULO 3 NEUROPLASTICIDADE Objetivos da aprendizagem • Entender o que é plasticidade cerebral • Conhecer as características da plasticidade cerebral • Analisar aspectos básicos de transtornos psicológicos e seu impacto na aprendizagem Plano de estudos • Neuroplasticidade • Transtornos psicopatológicos, estresse e a aprendizagem PÁGINA 35 INTRODUÇÃO Uma grande capacidade presente no cérebro humano, que deixa seus estudio- sos impressionados, é a plasticidade cerebral, também chamada de neuroplas- ticidade. A neuroplasticidade está grandemente relacionada à aprendizagem, porque para haver aprendizagem o cérebro passa por mudanças. Caso não houvesse mudanças no cérebro, especialmente nas conexões sinápticas, não haveria mudança de comportamento. O contato com partes do ambiente físico e com o ambiente social força adaptações no sistema nervoso. O cérebro pos- sui enorme plasticidade cerebral nos primeiros anos de vida, tanto que mesmo após a remoção de um hemisfério cerebral, o outro pode passar a desempe- nhar funções localizadas no hemisfério retirado cirurgicamente. A neuroplasti- cidade é maior nos primeiros anos de vida, contudo se reconhece atualmente que essa característica do cérebro permanece por toda a vida, mesmo que em menor intensidade. Dentre muitos aspectos que a neurociência tem elucida- do, muitas condições mentais chamadas de psicopatológicas também têm se mostrado campo de interesse de educadores. Uma condição que deve ser co- nhecida é o transtorno bipolar, cujas características englobam longos períodos com humor depressivo e outros com mania ou hipomania. Durante o período de humor depressivo, crianças e adolescentes podem perder o interesse em atividades que antes gostavam muito. No estado de mania ou hipomania (com sintomas mais leves do que na mania) o humor alterado possibilita perder in- formações necessárias para a compreensão do conteúdo ensinado, além da chance de ocorrência de delírios. Conhecer o impacto do estresse na infância e adolescência permite à equipe pedagógica trabalhar de modo preventivo e reconhecer que determinadas dificuldades de escolares podem estar relaciona- das aos momentos de vida estressantes porque passa. PÁGINA 36 1. NEUROPLASTICIDADE A enorme importância da neuroplasticidade é exposta por Cosenza; Guerra (2011) ao conciliarem-na com o fenômeno da aprendizagem, pois é a plastici- dade cerebral que permite a reorganização neural, que é a base da aprendiza- gem e modificação comportamental. Os autores colocam que desde o nasci- mento o bebê já tem em seu cérebro um conjunto de circuitos neurais, mesmo que ainda não funcionem plenamente. Isso porque, desde o período embrioná- rio e fetal a maior parte do sistema nervoso é construída. Durante as interações do organismo com o ambiente as conexões sinápticas são feitas, desfeitas e reorganizadas, processo que ocorre ao longo de todo o desenvolvimento hu- mano. PÁGINA 37 Cosenza; Guerra (2011) relatam que na primeira fase do desenvolvimento do sistema nervoso há um número muito maior de neurônio do que o necessário. Erros cometidos nessa fase, por questões genéticas e/ou ambientais, podem gerar distúrbios ou incapacidades por toda a vida. Para que haja um melhor funcionamento muitas células são descartadas, em um processo natural, por- que: 1- são células que não se localizaram no lugar correto; 2- são células que não conseguiram formar ligações necessárias ou 3 – as ligações entre as célu- las não estavam corretas ou não se tornaram funcionais. O cérebro é moldado em suas interações com o ambiente físico e social. A formação de conexões nervosas depende das interações entre a pessoa e o meio. A neuroplaticidade conforme Bridi Filho; Bridi (2016): (...) é multidimensional, um processo dinâmico que estabelece uma relação entre estrutura e função: a plas- ticidade atua no nível neuroquímico, hedológico e com- portamental. No primeiro, a interação com o meio é capaz de auxiliar, junto com o desenvolvimento e o crescimento previstos a cada etapa do sujeito, na modificação de neu- rotransmissores e neuromoduladores. Assim, conforme as exigências do meio, novas interações neuroquímicas ocor- rem ou deixam de ocorrer, como forma de adaptação da estrutura do sistema nervoso com o ambiente. (BRIDI FI- LHO; BRIDI, 2016, p. 19). O desenvolvimento cerebral e o ambiente estão intimamente imbricados, pois desde o nascimento as ligações entre as células do córtex cerebral precisam enviar suas fibras nervosas até os neurônios situados na medula espinhal e estes até o músculo do braço, por exemplo. O bebê já nasce com reflexos e é capaz de realizar alguns movimentos rústicos. Ao brincar segurando um cho- calho, o bebê estará estimulando a formação de novas sinapses no interior do cérebro e no restante do sistema nervoso, simultaneamente a isso as vias ner- vosas se tornarão mielinizadas (assim a comunicação entre as células dos neu- rônios se torna mais rápida). (COSENZA; GUERRA, 2011). A formação das vias sensoriais, conforme descrevem Cosenza; Guerra (2011), podem ser compreendidas com o exemplo do desenvolvimento nos sistemas visuais. Ao nascer, o bebê já apresenta um circuito básico da visão, sendo ca- paz de enxergar. Contudo, ao interagir com o ambiente, com a luz incidindo so- bre os objetos a sua volta, o bebê terá a formação de novas sinapses e haverá a manutenção das já existentes. É na interação com o ambiente físico e social que haverá confirmação ou indução de formação de conexões nervosas e com isso a aprendizagem, ou seja, a manifestação de novos comportamentos ou sofisticação dos já existentes. PÁGINA 38 SAIBA MAIS Válido lembrar que o cérebro da criança é extremamente plástico nos primei- ros anos de vida, porém, o cérebro adulto não apresenta a mesma facilidade para grandes modificações. Na criança, a plasticidade é tanta que em caso de lesões em um hemisfério cerebral o outro pode assumir as funções perdidas. Mesmo na velhice a plasticidade nervosa ainda existe, embora diminuída. A hemisferectomia é uma operação que implica na remoção integral de um hemisfério cerebral. Estudos sobre a hemisferectomia esquerda em pacientes portadores de danos cerebrais severos têm mostrado uma interessante, porém enigmática, recuperação do funcionamento da linguagem e da memória linguís- tica, não evidentes quando o hemisfério danificado estava no seu local. Tais casos chamam a atenção para a questão da ideia aceita de que a linguagem encontra-se bem localizada no hemisfério esquerdo, melhor ainda, sugerem um mecanismo de armazenamento similar a um holograma, por meio do qual cada hemisfério é capaz de assumir as funções do outro, embora não aconteça assim no funcionamento normal. Fonte: STRATTON; HAYES (2009). Um aspecto importante para a maior eficiência do sistema nervoso é chamado de “desbastamento sináptico” por Cosenza; Guerra (2011), processo esse mar- cado pela eliminação muito acelerada de sinapses cerebrais. O primeiro mo- mento em que ocorre o desbastamento sináptico, ou poda neural, é próximo ao nascimento e o segundo é na adolescência. Embora diminuam as conexões sinápticas drasticamante nesses momentos, há um aumento da mielinização das fibras nervosas,consequentemente, maior eficiência da troca de informa- ções. PÁGINA 39 REFLITA A neuroplasticidade é uma característica que surpreende por seu potencial fabuloso em criar um novo cérebro a partir das interações da pessoa com as pessoas e eventos em sua vida. É muito provável que nos próximos anos haja muitas descobertas sobre a plasticidade cerebral e seus desdobramentos na educação. 2.TRANSTORNOS PSICOPATOLÓGICOS, ESTRESSE E A APRENDIZAGEM Dentre os transtornos do humor, um que é pouco compreendido em seus as- pectos que tangem o processo ensino-aprendizagem é o transtorno bipolar. Tavares; Guimarães (2016, p.316) relatam um estudo que indica que: “(...) os déficits de aprendizagem, memória verbal e funções executivas (planejamen- to) poderiam ser endofenótipos potenciais no transtorno bipolar.”. Os mesmos autores ressaltam que esse transtorno é uma condição neurobiológica bastante complexa. Para Tavares; Guimarães (2016) a criança e/ou adolescente que recebe o diag- nóstico de transtorno bipolar apresentam alterações nos processos cognitivos que dificultam sua aprendizagem. Para os autores, é comum nesses alunos se observar desmotivação, excesso de distração e irritabilidade além de baixa to- lerância a frustração. A distratibilidade é vista pela incapacidade de filtrar estímulos externos irrele- vantes e não permite que os indivíduos em episódio maníaco mantenham uma conversa racional ou respeitem orientações. Fonte: DSM -V Nos casos de transtorno bipolar é comum o uso de medicação, sobre a medi- calização e aprendizagem Tavares; Guimarães (2016, p.329) expõem que: Ademais, os medicamentos utilizados no tratamento do transtorno bipolar podem prejudicar o desempenho esco- lar. Por exemplo, os estabilizadores de humor ou antipsi- cóticos afetam diretamente os processos de pensamento do paciente com esse transtorno, podendo também produ- zir dificuldades de concentração, sedação e cansaço que interferem na capacidade de estudar. (TAVARES; GUIMA- RÃES, 2016, p. 329). PÁGINA 40 Condições crônicas que afetam a saúde mental dos alunos podem ser consi- deradas um fator de estresse e prejudicar a aprendizagem. Sobre o estresse pode-se dizer que em longo prazo pode causar danos à saúde. Isso não é novi- dade para muitas pessoas. A informação que espanta é que crianças e adoles- centes também podem adoecer física e mentalmente devido a condições inten- sas e prolongadas de estresse. Nas crianças e adolescentes há ainda o agra- vante de que podem não ter estrutura emocional e habilidades desenvolvidas o suficiente para criar modos de lidar com situações estressantes. Ainda é desconhecida a incidência de estresse grave na população infantil. Po- rém, Lipp (2015) pontua que é inevitável que nos primeiros anos de vida uma criança passe por situações estressantes como hospitalizações, acidentes, doenças, nascimento de irmãos, mudança de escola e etc. As múltiplas etapas de desenvolvimento intelectual, cognitivo e emocional trazem também tensões, às vezes incapacitantes para a criança com seu frágil mecanismo de contro- le ao estresse. Grandes mudanças exigem grande energia de adaptação inde- pendente da fase do desenvolvimento. Quando a ansiedade gerada pelas condições de vida está dentro das suas ca- pacidades de lidar, a criança se adapta bem às tensões e ao crescer se torna um adulto mais competente no manejo ao estresse (LIPP, 2015). PÁGINA 41 CONSIDERAÇÕES FINAIS Realmente importante conhecermos a plasticidade cerebral, pois é ela que per- mite a reorganização neural, que é a base da aprendizagem. As estruturas ce- rebrais estão constantemente se adaptando conforme os estímulos recebidos do ambiente físico e social. Ao interagir com o mundo, certas conexões sináp- ticas são construídas e fortalecidas, enquanto outras pouco utilizadas se en- fraquecem. A construção e reconstrução do cérebro é constante e reflete os comportamentos observados pelo ser que aprende e pelas pessoas em volta. Apesar do conhecimento possuído atualmente sobre o sistema nervoso, muito ainda há para ser descoberto, visto que há enigmas que instigam a mais pes- quisas e observações. Cada pessoa é única. Há alunos que por suas habilidades sociais conseguem se destacar academicamente e alunos com ótimas habilidades cognitivas que nem sempre obtêm bom desempenho. Muitos fatores podem influenciar o de- sempenho escolar. O fator emocional cada vez mais tem sido encarado como de grande contribuição para as conquistas acadêmicas. Diante da constatação de que os estudos da Inteligência Emocional tão claramente nos apresentam, podemos nos perguntar sobre como os transtornos psiquiátricos impactam na aprendizagem. O transtorno bipolar é um dos transtornos do humor. Ele pode se manifestar desde a infância, embora seja mais comum e intenso seu início na adolescência. Quando o humor está depressivo, pode ocorrer perda de interesse em atividades prazerosas e falta de energia. A baixa energia pode ser descrita como perda de interesse por quem está vivenciando a fase depressiva. O aluno pode se mostrar apático e desanimado sem nenhum motivo aparen- te. Também pode estar interessado, mas sua atenção diminui, porque focar a atenção também exige energia, justamente o que aparentemente parece fal- tar na fase depressiva. Outra característica do transtorno bipolar é a alteração de uma fase depressiva por outra maníca ou hipomaníaca, cujos sintomas são maior impulsividade, baixa compreensão real dos perigos, superestimar suas possibilidades e habilidades. Diante de quadro que desafia o aluno a superar uma condição interna, o entorno social pode auxiliar no seu desenvolvimento e aprendizagem de conteúdos escolares e estratégias para a vida. PÁGINA 42 CONCLUSÃO Condições sociais ou emocionais que afetam a saúde mental dos alunos po- dem ser consideradas fatores de estresse e prejudicar a aprendizagem. O es- tresse em longo prazo pode dificultar o processo de ensino-aprendizagem. Há vários níveis de estresses, ou fases, cuja intensidade de efeitos varia. Fala-se em quatro fases de estresse, a fase de alerta, resistência, quase-exaustão e exaustão. Se o estresse for muito intenso e prolongado a pessoa pode desen- volver problemas físicos como gastrite ou úlcera e/ou problemas psicológicos como depressão. As condições biológicas (como o transtorno bipolar) ou so- ciais (como exposição prolongada à violência doméstica) costumam exigir mais recursos internos para lidar com eles do que uma criança pode possuir. Diante de situações que exigem muito de crianças e adolescentes eles podem preci- sar de recursos e de auxílio para lidar com seus problemas e conseguir utilizar seu potencial para a aprendizagem. No transtorno bipolar, durante a ocorrên- cia de uma fase depressiva, muitos recursos que a criança e o adolescente já possuem podem não ser usados e sua vida social e escolar fica prejudicada. Na fase maníaca ou hipomaníaca é comum não conseguir ouvir os outros, fa- lar muito mais alto do que o normal, um excesso de energia que se reflete em começar muitas atividades e não concluí-las. A energia está em alta, há poucas horas de sono, fala e pensamento acelerado. Os prejuízos sociais e acadêmi- cos também surgem na fase de mania ou hipomania, a diferença é que o jovem pode não querer tomar a medicação por sentir-se bem, apesar dos prejuízos que vai acumulando. O ser humano é muito complexo. Para captarmos sua essência precisamos nos munir de vários conhecimentos como da psicologia, medicina, biologia en- tre muitos outros. Não é possível sermos especialistas de todas as áreas, mas podemos buscar complementar nossa formação com conhecimentos que agre- guem na nossa atuação. PÁGINA 43 LEITURA COMPLEMENTAR Perry (1997) foi um dos precursores dos estudos de neuroimagem. Num estudo prévio com sujeitos vítimas de intensa violência doméstica, que ele chamou de “Encubados no terror” foram encontradas alterações corticais em sete dos doze sujeitos avaliados. Posteriormentereplicaram inúmeros outros estudos apontando para importan- tes alterações de respostas hormonais e da própria arquitetura neural promovi- dos pela TEPT [transtorno de estresse pós-traumático]. Os achados recentes apontam, resumidamente, para importantes alterações em funções como memória, diminuição de acesso e evocação de memórias hipocampo-dependentes, maior ativação de memórias amígdala-dependentes, diminuição da capacidade narrativa, da estruturação do pensamento lógico, da capacidade de compreensão de categorização da experiência traumática, dimi- nuição do controle de impulsos, diminuição de capacidade metacognitiva, além de aumento da atividade através de hipervigilância, hiperexitação autonômica e consequente déficit de atenção e reduzida capacidade de julgamento, tomada de decisão e resolução de problemas (Caminha e Caminha, 2011). Todas as funções afetadas com respectivos achados em neuroimagem acabam por apontar a diminuição ou aumento de perfução sanguínea das respectivas áreas correspondentes (Mylle, 2004). O evento traumáticofaz com que o orga- nismo busque, pela quebra de rotina, estratégias compensatórias capazes de reestabelecer uma nova homeostase, ou seja, um novo ponto de equilíbrio. No caso do trauma infantil, não cessando a exposição ao evento traumático, ou ainda, não cessando a sintomatologia pós-traumática, há uma grande possibi- lidade de que a estratégia desenvolvida provisoriamente se torne permanente. Assim sendo, estruturas cerebrais mais primitivas envolvidas no gerenciamento da preservação da vida se tornam mais estimuladas em prol das áreas mais nobres, corticais, responsáveis pelas funções executivas superiores (Ehlers, Clark, Hackmann, McManus e Fennell, 2005). Fonte: Ventura (2011, p. 358). PÁGINA 44 MATERIAL COMPLEMENTAR FILME O garoto selvagem O cineasta francês François Truffaut rodou o filme “O Garoto Selvagem” (1969) baseando-se nos relatos de Jean Marc Gaspard Itard. A necessidade de estimulação social fica evidente no filme que retrata um caso real registrado na literatura científica de um garoto encontrado sozinho na mata nos arredores de uma cidade da França no século 18. PÁGINA 45 CAPÍTULO 4 DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EINTERVENÇÃO NEUROPEDAGÓGICA Objetivos • Definir o que são dificuldades de aprendizagem • Analisar aspectos básicos da dislexia • Discorrer sobre a ação de psicofármacos no contexto escolar • Discutir o autismo no contexto de educação especial inclusiva Plano de estudo • Dificuldades de aprendizagem • Distúrbio relacionado à linguagem escrita • Psicofármacos e aprendizagem • Educação especial inclusiva e neuropedagogia PÁGINA 46 INTRODUÇÃO Muitos termos da educação caem na linguagem popular a ponto de não perce- bermos de tratar de um termo científico. Isso ocorre com o termo “dificuldades de aprendizagem”. Para quem lida com a aprendizagem o termo deve ser com- preendido cientificamente, pois se trata de disfunção do sistema nervoso cen- tral e não de dificuldades atribuídas a outras causas. Uma condição orgânica que interfere negativamente na aquisição de leitura e escrita é a dislexia. A dis- lexia envolve alterações anatômicas e funcionais no cérebro, com isso os por- tadores do transtornos podem apresentar palavras dificuldades de reconstruir na ordem de apresentação sequências de letras e sons, inversões e imagens espelhadas de letras, entre outras. Ao se falar de crianças e desenvolvimento, um tema polêmico que na área na educação não se pode fugir é sobre a me- dicalização em casos como de TDAH. Educadores devem se pautar em dados científicos e na sua experiência e observação enquanto profissionais para jul- gar o quanto a medicalização pode ser adequada ou pouco efetiva em cada caso. Qualquer remédio pode ser benéfico ou não para uma pessoa específica, ou então pode ser ótimo para alguém e péssimo para outra. Cada organismo é único e não se pode fazer uma avaliação global sobre a eficácia de uma me- dicação, como os estimulantes para crianças com TDAH, baseado apenas em um caso conhecido específicos (sejam os resultados bons ou ruins). Tão pouco deve-se usar apenas os conhecimentos do senso comum. A busca de conheci- mento científico e a reflexão permitem ao profissional se considerar alguém em formação continuada. O conhecimento científico de boa procedência e reflexão também são indispensáveis para se lidar com a educação especial e inclusão. É exigido reflexão porque sem ela pode-se tornar um mero aplicador de recei- tas e a inclusão verdadeira requer reconhecer se de fato a aplicação de uma técnica vai diminuir distância e aproximar pessoas, para que aceitemos as dife- renças e aprendamos com a diversidade. PÁGINA 47 1. DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM E INTERVENÇÃO NEUROPE- DAGÓGICA Na realidade da educação escolar nos deparamos com muitas crianças que, embora apresentem sinais de inteligência normal e não ser detectado nenhum problema biológico ligado à percepção, não conseguem aprender ou aprendem muito menos do que são capazes. Usualmente nos servimos do termo “dificul- dade de aprendizagem”, porém sem refletir sobre o que ele quer dizer. Mas, o que é mesmo dificuldades de aprendizagem? Bridi Filho; Bridi (2016) explicam que: Uma primeira definição das dificuldades de aprendizagem foi proposta pelo psicólogo Samuel Kirk (1904-1996) com o intuito de deslocar a abordagem organicista que pouco colaborava para a compreensão e a intervenção no âm- bito educacional. Nesse período, as crianças com dificul- dades de aprendizagem eram diagnosticadas com lesão cerebral ou disfunção cerebral mínima. Kirk propôs o ter- mo dificuldades de aprendizagem para designar alterações no desenvolvimento da linguagem, da fala, da leitura e das habilidades comunicativas que comprometessem a interação social de crianças, excluindo, desse grupo, crian- ças com deficiências sensoriais e com atrasos mentais. (BRIDI FILHO;BRIDI, 2016, p. 19, grifo no original). Descrever dificuldades de aprendizagem não é algo simples, pois seu concei- to mudou muito. O National Joint Committee on Learning Disabilities- NJCLD (1998 apud García; Jesus; Nicácio, 1998) define dificuldades de aprendizagem como: (...) um termo geral que se refere a um grupo heterogêneo de transtornos que se manifestam por dificuldades signifi- cativas na aquisição e uso da escrita, fala, leitura, raciocí- nio ou habilidades matemáticas. Esses transtornos são in- trínsecos ao indivíduo, supondo-se devido à disfunção do sistema nervoso central, e podem ocorrer ao longo do ciclo vital. (NJCLD, 1998 apud García; Jesus; Nicácio, 1998, p. 31-32). Agora que falamos de dificuldades de aprendizagem podemos falar sobre dis- túrbios relacionado com a linguagem escrita, mais especificamente, a dislexia. PÁGINA 48 2. DISTÚRBIO RELACIONADO À LINGUAGEM ESCRITA Sobre a linguagem escrita, um transtorno que causa sérios problemas na vida escolar é a dislexia. Rotta; Pedroso (2016) apresentam que no inicio do enten- dimento sobre a dislexia ela foi chamada de cegueira verbal, sendo a palavra dislexia cunhada em 1872. Chamava a atenção que crianças com condições cognitivas favoráveis para a leitura realizavam inversões e imagens espelha- das de letras e palavras (um dos principais sinais para diagnóstico de dislexia). Os disléxicos apresentam dificuldades de reconstruir na ordem de apresenta- ção sequências de letras e sons. Essa população também apresenta falhas no desenvolvimento da linguagem oral, alterações na noção de espaço, de tempo e habilidades visuoespaciais. A partir da década de 1990, descobriu-se altera- ções anatômicas e funcionais do cérebro do portador do transtorno. De modo mais direto, o que é a dislexia? É, segundo Rotta; Pedroso (2016, p.134): “(...) é um transtorno manifestado por dificuldade na aprendizagem da leitura, independentemente de instrução convencional, inteligência adequada e oportunidade sociocultural.”. Para compreendermos melhor a dislexia, faz-se necessárioretomarmos o que é leitura. A leitura é: “(...) interpretação de qual- quer sinal que, chegando aos órgãos dos sentidos, conduza o pensamento a outra situação além dele próprio.” (ROTTA; PEDROSO, 2016, p.134). Ler é ir além de saber os sinais gráficos, é compreender a mensagem que eles tradu- zem. A leitura envolve aprendizagem simbólica. Como nos alerta Rotta; Pedro- so (2016), a leitura envolve: a) atenção; b) habilidade motora; c) vários tipos de memória; d) organização de texto e e) imagem mental. Essa lista de ha- bilidades que a leitura envolve demonstra sua complexidade. Além disso tudo poderíamos citar outros fatores que influenciam na leitura, como idade, tipo de língua, instrução recebida e motivação. PÁGINA 49 O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM V coloca a dislexia como um transtorno do neurodesenvolvimento com origem biológica. O diagnóstico de dislexia só ocorre se a incapacidade interferir significativamente no desempenho escolar ou atividades da vida comum que requeiram leitura. O que se observa no disléxico é uma leitura oral com omissões, distorções e substituições de palavras. A compreensão da leitura também é afetada. O professor que lida com uma criança ou adolescente disléxico tem diante de si um ser que se sente frustrado pela sua dificuldade de compreensão de língua escrita. Algo que para a maioria de seus colegas é muito mais fácil. É papel do educador incentivar a persistência nas atividades de leitura e escrita, tendo em mente que o critério de aprendizagem diante de um disléxico pode ser diferente do usado com um aluno sem o transtorno. PÁGINA 50 3. PSICOFÁRMACOS E APRENDIZAGEM Uma condição que desperta muita discussão é a necessidade de medicação para crianças. Nos casos de crianças diagnosticadas com TDAH muitas vezes os estimulantes são receitados. Os estimulantes ativam no cérebro uma área responsável pela inibição do comportamento e pela manutenção dos esforços de atenção (BARKLEY, 2002). O funcionamento dos estimulantes no cérebro aumenta determinadas substâncias químicas presentes naturalmente no orga- nismo. Sobre a eficiência dos estimulantes Barkley (2002, p. 284) aponta que: Portanto, não é surpresa que centenas de estudos conduzi- dos sobre a forma como essas drogas alteram o comporta- mento e o aprendizado em crianças com TDAH mostrem que 70 a 90% das crianças tratadas com um desses estimulantes melhoram seu comportamento. Eles ainda mostram que 10 a 30% não exibem nenhuma resposta positiva, ou que seu com- portamento até mesmo piore. (BARKLEY, 2002, p. 284). Fica evidente pelas palavras do pesquisador que a medicação pode melhorar muito a qualidade de vida e as condições para a aprendizagem. Contudo, a efi- ciência da droga deve ser observada, porque nem todas as crianças diagnosti- cadas com TDAH obtêm melhoras somente com a medicação. Dos efeitos positivos dos estimulantes sobre o comportamento e as emoções de pessoas em idade escolar com TDAH, Barkley (2002) acentua que há me- lhor manutenção e permanência da atenção para o esforço escolar. Percebe- -se redução na impaciência e atividade motora ampla, situação que facilita o processo de ensino-aprendizagem. 4. EDUCAÇÃO ESPECIAL INCLUSIVA E NEUROPEDAGOGIA Dentro da educação escolar o Transtorno do Espectro Autista-TEA possui mui- tas intervenções baseadas em evidências, uma delas é o TEACCH. Smith (2008, p.369) nos explica que o TEACCH: (...) foi desenvolvido na University of North Carolina, em Chapel Hill e enfatiza o uso do ensino estruturado (Lord e Schopler, 1994). O ensino estruturado envolve a adap- tação de materiais e ambientes para ajudar as crianças a entenderem o mundo. Uma vez que novas habilidades são adquiridas com cartões de conceito “começo ao fim”, bem como apoios visuais e programações para o ensino. A filo- sofia que sustenta o programa salienta que faltam às crian- ças com autismo habilidades que elas não conseguem aprender, mas que podem ser compensadas por meio de apoios visuais e outras formas de estrutura. (SMITH, 2008, p. 369, grifo no original). PÁGINA 51 A estrutura do TEACCH e de outros programas consiste em fornecer estrutura consistente ao aluno com TEA, também possibilitam comunicação funcional e desenvolvimento de habilidades sociais. Smith (2008) alega que para colaborar com a inclusão é necessário o trabalho em conjunto de uma equipe multidisci- plinar, composta por educadores do ensino regular, educadores da educação especial e especialistas em comportamentos. Em equipe conseguem-se melho- res resultados para identificar as adaptações específicas necessárias a cada criança, de modo que se oportunize um ambiente o menos restritivo possível. As adaptações necessárias para que haja um ambiente inclusivo, segundo Smith (2008), são divididas em três grupos. A) promoção de eventos previsíveis (desenvolver uma programação das atividades; fazer experiências narrativas previsíveis; evitar surpresas; em caso de mudanças, avisar antes; manter es- trutura e rotina; saber como a criança administra seu tempo livre), B) comunicar com cuidado as instruções e consequências (dar explicações diretas; estimular coerência nas reações de todos os alunos para comportamentos inapropriados; evitar usar gírias e metáforas; usar pistas verbais e não verbais; usar pronomes pessoais cuidadosamente), C) estimular a participação positiva (apresentar fre- quentemente feedback sobre a adequação das reações; dizer à criança quando o comportamento está adequado; criar tarefas que a pessoa consiga realizar; usar exemplos concretos). A educação especial inclusiva cada vez mais se destaca nos meios educacio- nais no que tange a formar profissionais preparados para lidar com essa de- manda. Contudo, não é com a mesma rápida velocidade com que os profissio- nais buscam formação que se vê mudanças no ambiente escolar. Porém, pro- fissionais bem informados e formados são um bom começo para as mudanças reais no ambiente escolar e em vários outros. PÁGINA 52 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ainda hoje os sintomas graves da dislexia (como, por exemplo, inversões e imagens espelhadas de letras e palavras, dificuldades de reconstruir na ordem de apresentação sequências de letras e sons) chocam quem lida com alfabeti- zação de crianças. No entanto, os sintomas leves costumam passar desperce- bidos ou serem confundidos com outras situações de origem orgânica ou não. Conhecer os sintomas de condições que afetam em demasia a aprendizagem pode ser um fator que garantirá a um aluno obter recursos para adquirir habili- dades e aptidões que a escola fornece. A leitura é a base para se chegar a muitas informações e conquistar direitos. A conversação também é aperfeiçoada com a leitura, por tanto, não é só na vida acadêmica que a baixa capacidade de ler afeta. A vida social e profissional também é afetada com as dificuldades de leitura e escrita. Para um hábil leitor adulto nada mais fácil do que ler, porém as várias competências exigidas no processo de leitura retratam para o docente ao quanto de ações do aluno ele precisa estar alerta, ações como: a atenção ao texto; a habilidade motora ao fo- lhear um livro; habilidade visomotora ao mudar de linha para sublinhar um texto (principalmente ao escrever); memória operacional e de longo prazo; organiza- ção de texto e outras ainda. Para crianças que tem o TDAH, o profissional que lida com ela em sala de aula pode fazer melhor uso dos efeitos da medicação (isto é, controle da atividade motora e menor impulsividade) para ajudar o aluno a se organizar e sentir os bons efeitos de se sentir potente ao conseguir pequenas vitórias em cima dos conteúdos que antes pareciam impossíveis de serem vencidos. A medicação é mais uma forma de proporcionar a oportunidade de aprender, mas deve ser utilizada com técnicas específicas para portador do TDAH, para que esse obte- nha sucesso em sua vida acadêmica e, por que não dizer, pessoal. PÁGINA 53 CONCLUSÃO Muitas batalhas precisam
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