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UFPB – Curso de Direito DIREITO PENAL I Professor: Herry Charriery da Costa Santos Aula I – 30/01/2024 1. TEORIA GERAL DO CRIME •A Teoria Geral do Crime estuda os crimes e o conjunto das sanções penais. •Qual a terminologia mais apropriada: Direito Penal ou Direito Criminal? “[...] o Direito Penal é o segmento do ordenamento jurídico que detém a função de selecionar os comportamentos humanos mais graves e perniciosos à coletividade, capazes de colocar em risco valores fundamentais para a convivência social.” (STF. IP. 9.323/2023. Min. Rel. Alexandre de Morais) 2. CONCEITUAÇÃO DE DIREITO PENAL “Direito Penal é o conjunto de princípios e regras destinados a combater o crime e a contravenção penal, mediante a imposição de sanção penal.” (Kleber Masson) “É o conjunto das normas que regulam a atuação do Estado no combate contra o crime, através de medidas aplicadas aos criminosos” (Aníbal Bruno) “O Direito Penal apresenta-se, por um lado, como um conjunto de normas jurídicas que tem por objeto a determinação de infrações de natureza penal e suas sanções correspondentes – penas e medidas de segurança. Por outro lado, apresenta- se como um conjunto de valorações e princípios que orientam a própria aplicação e interpretação das normas penais”. (César Roberto Bittencourt) É o ramo do Direito Público, com institutos e normatividade próprios, constituído pelas normas (princípios e regras) que regulam a atuação do Estado na determinação das infrações penais (crimes e contravenções penais) e as respectivas sanções penais (penas e medidas de segurança). Direito Penal O Direito Penal estuda o “dever ser”, isto é, as normas penais elaboradas pelo legislador, tais como as leis e os princípios explícitos e implícitos e sua relação com todo o sistema jurídico (normais constitucionais e infraconstitucionais, tratados internacionais, etc.) Ciência Penal A Ciência Penal tem uma visão (ampla e crítica) acerca do que deve ser alterado no Direito Penal, afim de acompanhar a sociedade e suas mudanças culturais. Não se limita apenas aos estudos dogmáticos, mas aos problemas sociais derivados das condutas delituosas e suas sanções. Política CriminalCriminologia É a ciência empírica (baseada na observação e na experimentação) que busca analisar o crime, o criminoso, a vítima e os meios de controle social. Estuda o “ser”, os fatos concretos. É a ciência que busca a aplicação dos estudos da criminologia, valorando-os, para a criação de estratégias de intervenção estatal na atividade da repressão dos delitos. Busca ser um instrumento estatal para elaboração das políticas públicas na área de segurança pública e carcerária. 3. ALOCAÇÃO NA TEORIA GERAL DO DIREITO No Direito Penal, cuida-se do ramo do Direito Público, por ser composto de regras indisponíveis e obrigatoriamente imposta a todas as pessoas. Além disso, o Estado é o titular exclusivo do direito de punir e figura como sujeito passivo nas relações jurídico-penais. Portanto, o Direito Penal é uma ciência cultural, normativa, valorativa e finalista 4. CRIMINALIZAÇÃO PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA • Criminalização primária: É o ato e o efeito de elaborar e sancionar uma lei primária, que incrimina e permite a punição. É um ato formal e programático. • Criminalização Secundária: É a ação punitiva, recaindo sobre o criminoso durante a persecução penal. De acordo com Zaffaroni (2018), a criminalização secundária pode ser “selectiva”, exercendo o poder sobre pessoas determinadas. Ex. Pessoas em “vulnerabilidade social”. 5. FUNÇÕES DO DIREITO PENAL ➢Proteção dos bens jurídicos mais relevantes da Coletividade – Apenas os interesses mais relevantes, em um Estado Democrático de Direito, são erigidos à categoria de bens jurídicos penais, em face do caráter fragmentário e da subsidiariedade. ➢Controle Social e transformação social. ➢Função ético-social-educativa – Crimes Ambientais ➢Função motivadora. “Não Matar” # “Matar alguém” ➢Redução (limitar) da Violência estatal. “A pena é legítima, mas segrega o Cidadão”. 6. FUNÇÃO SIMBÓLICA DO DIREITO PENAL • No Estado Democrático de Direito, o Direito Penal procura limitar o poder estatal de punir. • Manifesta-se, também, no “Direito Penal do Terror”, que se verifica com a “inflação legislativa” (Direito Penal de emergência), criando-se exageradamente tipos penais desnecessários, ou então com o aumento desproporcional e injustificado das penas para os casos pontuais (hipertrofia do Direito Penal e Direito Penal do inimigo) • Segundo o jurista Ney Moura Teles, “querer combater a criminalidade com o Direito Penal é querer eliminar a infecção com analgésico” (2004, p. 46) 7. FONTES DO DIREITO PENAL • No Direito Penal, fonte representa não só a origem, mas também a forma de manifestação da legislação penal. 7.1 FONTES MATERIAIS, SUBSTANCIAIS OU DE PRODUÇÃO. • São os órgãos constitucionalmente encarregados de elaborar o Direito Penal. Essa tarefa é da UNIÃO, nos moldes do art. 22, I, da CF/88. •ATENÇÃO: A Lei Complementar da União pode autorizar os Estados-membros a legislar sobre questões específicas de interesse local. (Art. 22, parágrafo único, CF/88) 7.2 FONTES FORMAIS, COGNITIVAS OU DE CONHECIMENTO • São os modos pelos quais o Direito Penal se revela. Podem ser: ➢ Fonte Formal Imediata: É a Lei, regra escrita concretizada pelo Poder Legislativo em consonância com a forma determinada pela CF/88. É a única fonte formal que pode criar crimes (e contravenções penais) e cominar penas. ➢ Fontes Formais Mediatas: ❑ A CF/1988 não cria crimes nem comina penas. Esta tarefa é por ela autorizada à Lei, ao incluir entre os direitos e garantias fundamentais o princípio da reserva legal ou da estrita legalidade (art. 5º, XXXIX, CF/88) ❑ Súmulas Vinculantes (Art. 103-A, CF/88) ❑ Tratados Internacionais (Art. 5ª. §3º, CF/88) Atividade I Sendo as Súmulas Vinculantes de natureza cogente, oriundas do Supremo Tribunal Federal, conforme previsto no art. 103-A, CF/88, a autoridade federal, ao se utilizar de algemas nas mãos e nos pés do ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, durante a sua transferência para Curitiba e permanecendo algemado em audiência, cometeu abuso de autoridade por descumprir a SV- 11 do STF ou agiu em estrita legalidade? Quais os efeitos para esse descumprimento? 7. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO PENAL. • Princípio da Reserva Legal (Art. 5º, XXXIX, CF/88. Art. 1º, CP). “não há crime sem lei que o defina, nem pena sem comunição legal”. Exclusividade da LEI para criação de delitos e cominação de penas, de natureza DEMOCRÁTICA, com fundamentos jurídicos (taxatividade da lei) e político (proteção do ser humano em face do arbítrio do Estado. • Princípio da Anterioridade. O crime e a pena devem ser definidos em lei PRÉVIA. Supremo Tribunal Federal: “É proibida a aplicação da lei penal inclusive aos fatos praticados durante o seu período de vacatio. Devendo ser aplicável somente a fatos praticados depois de sua entrada em vigor” (Rel. Min. Nery da Silveira) • Princípio da Insignificância (bagatela): É uma das causas de exclusão da tipicidade. Para o STF: a mínima ofensivividade da conduta, a ausência de periculosidade social da ação, o reduzido grau de reprovabilidade e a inexpressividade da lesão autorizam a aplicação desse princípio. a) Requisitos subjetivos: valor econômico e sentimental do bem. b) Condição pessoal do agente: (Ex. Caso do Policial que subtraiu munições de armamentos de uso restrito das Forças Armadas ) A tipicidade formal (juízo de subsunção) é a adequação da conduta do agente com o modelo previamente descrito pelo tipo penal. A tipicidade material é a lesão ou perigo de lesão ao bem juridicamente protegido. Tipicidade formal + Tipicidade material = Tipicidade penal Atenção! ➢O Princípio da Insignificância autoriza a concessão de ofício de habeas corpus (HC 97.836/RS. Rel. Min. Celso de Mello, STF), bem como o trânsito emjulgado de ação penal condenatória não impede o seu reconhecimento (HC – 95.570. Rel. Min. Menezes Direito, STF). ➢Nos Crimes contra a Administração Pública. “Não se aplica a bagatela ao crime de peculato, ainda que o valor da lesão seja considerado ínfimo”(PGR, nº. 290). ➢Não se aplica a insignificância nos crimes praticados com emprego de violência à pessoa ou grave ameaça e aos crimes relacionados a entorpecentes, seja qual for a qualidade do condenado. • Individualização da Pena: (Art. 5º, XLVI, CF/88) Princípio de justiça, segundo o qual se deve distribuir a cada indivíduo o que lhe cabe penalmente, de acordo com as circunstâncias específicas do seu comportamento. ➢ Plano Legislativo: Discrição do Tipo penal + Sanção. É o limite da Lei. ➢Plano Judicial: É o momento da aplicação da pena, quando o Juiz observa os elementos objetivos da ação penal em obediência aos Art. 68 ou 49, neste caso em sanção pecuniária. ➢Plano Administrativo: Retribuição, Prevenção e Ressocialização • Princípio da Intervenção Mínima – Conforme a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal “A missão do Direito Penal moderno consiste em tutelar os bens jurídicos mais relevantes. Em decorrência disso, a intervenção mínima deve ter o caráter fragmentário, protegendo apenas os bens jurídicos mais importantes e em casos de lesão de maior gravidade”. (HC. 50866. STF. Min. Rel. Sepúlveda Pertence) “O sistema jurídico há de considerar a relevantíssima circunstância de que a privação da liberdade e a restrição de direitos do indivíduo somente se justificam quando estritamente necessárias à própria proteção das pessoas, da sociedade e de outros bens jurídicos que lhes sejam essenciais”. (HC. 94.463. STF. Min. Rel. Carmém Lúcia Antunes da Rocha) • Princípio da Alteridade - Esse princípio proíbe a incriminação de atitudes meramente interna do agente, bem como do pensamento ou de condutas moralmente censuráveis, incapazes de invadir o patrimônio jurídico alheio. “Ninguém pode ser punido por causar mal apenas a si próprio” ATIVIDADE II É possível a aplicação do princípio da alteridade ou bagatela para fundamentar a não tipicidade material às condutas de consumir drogas, segundo o art. 28 da Lei nº. 11. 343/2006? ATIVIDADE II É possível a aplicação do princípio da alteridade ou bagatela para fundamentar a não tipicidade material às condutas de consumir drogas, segundo o art. 28 da Lei nº. 11. 343/2006? CONSIDERAÇÕES SOBRE A LEI DE DROGAS. • Qual a melhor maneira de encarar o problema das drogas no Brasil? ❑Aspecto penal: crescimento da violência, superlotação do sistema carcerário, proliferação de organizações criminosas; ❑ Aspecto social: Efeitos no núcleo social (família) e na comunidade. ❑Aspecto econômico: A fortuna movimentada por organizações criminosas, ausência do Estado na arrecadação, gastos (e falência) com a “guerra ás drogas”. TRATAMENTO CONSTITUCIONAL • Art. 5º, XLIII - “A lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem”. • Art. 2º, inciso I, da Lei nº 8.072/1990 – “Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de anistia, graça e indulto”. • Art. 5º LI – “Nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei”; DISTINÇÃO DO TRATAMENTO ENTRE USUÁRIO E O TRAFICANTE • Lei nº. 6.368/1976 ❖O tráfico: Art. 12 - pena de reclusão de 3 a 15 anos, e pagamento de multa de 50 a 350 dias-multa; ❖O usuário: Art. 16 – pena de detenção de 6 meses a 2 anos, e pagamento de multa de 20 a 50 dias-multa; • Lei nº 11.343/2006 ❖ O tráfico: Art.33 – pena de reclusão de 5 a 15 anos, e pagamento de 500 a 1.500 dias-multa; ❖O usuário: Art. 28 – não há previsão de pena privativa de liberdade. O QUE DIZ A LITERATURA JURÍDICA? • “A lei 11.434/2006 fortalece a guerra ao tráfico de drogas, vendo no traficante o responsável pela disseminação dos entorpecentes ilícitos, e, de outro, começa a enxergar o usuário a partir de uma perspectiva de saúde pública, em que a reprimenda penal é menos eficaz do que a adoção de políticas públicas preventivas e corretivas, sobretudo para aqueles que, a partir do uso recreativo, enveredam para o vício” (TÁVORA, 2021, p. 618) • “A lei atual começa a interpretar a questão sob a perspectiva de política pública de saúde” (VICENTE GRECO, 2018, p. 212) CONSUMO PESSOAL Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I – advertência sobre os efeitos das drogas; II – prestação e serviços à comunidade; III – medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. Slide 1: UFPB – Curso de Direito DIREITO PENAL I Slide 2: 1. TEORIA GERAL DO CRIME Slide 3: 2. CONCEITUAÇÃO DE DIREITO PENAL Slide 4 Slide 5 Slide 6 Slide 7: 3. ALOCAÇÃO NA TEORIA GERAL DO DIREITO Slide 8: 4. CRIMINALIZAÇÃO PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA Slide 9: 5. FUNÇÕES DO DIREITO PENAL Slide 10: 6. FUNÇÃO SIMBÓLICA DO DIREITO PENAL Slide 11: 7. FONTES DO DIREITO PENAL Slide 12: 7.1 FONTES MATERIAIS, SUBSTANCIAIS OU DE PRODUÇÃO. Slide 13: 7.2 FONTES FORMAIS, COGNITIVAS OU DE CONHECIMENTO Slide 14: Atividade I Slide 15: 7. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO PENAL. Slide 16 Slide 17 Slide 18 Slide 19 Slide 20 Slide 21: ATIVIDADE II É possível a aplicação do princípio da alteridade ou bagatela para fundamentar a não tipicidade material às condutas de consumir drogas, segundo o art. 28 da Lei nº. 11. 343/2006? Slide 22: CONSIDERAÇÕES SOBRE A LEI DE DROGAS. Slide 23: TRATAMENTO CONSTITUCIONAL Slide 24: DISTINÇÃO DO TRATAMENTO ENTRE USUÁRIO E O TRAFICANTE Slide 25: O QUE DIZ A LITERATURA JURÍDICA? Slide 26: CONSUMO PESSOAL
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