Buscar

TCC para Casais 2

Prévia do material em texto

AULA 2 
TERAPIA 
COGNITIVO-COMPORTAMENTAL 
PARA CASAIS 
Prof.ª Carolina Miranda do Amaral e Silva 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Nesta segunda aula, iremos apreender os processos cognitivos e seus 
componentes, com exemplos de distorções cognitivas no relacionamento conjugal. 
Veremos questões relacionadas a apego, consolidação e manutenção de 
relacionamentos românticos, e efeitos do apego e dos afetos na qualidade e 
satisfação conjugal. Apreenderemos sobre os processos de mudança 
comportamental, com base na Teoria do Intercâmbio Social e na reciprocidade no 
relacionamento conjugal. Então, vamos estudar a maneira como os esquemas e sua 
transgeracionalidade interferem nas relações conjugais. E por último, discutiremos a 
resistência no processo de mudança. 
TEMA 1 – PROCESSOS COGNITIVOS 
Os pensamentos inadequados, as crenças sobre os relacionamentos, as 
expectativas, as atribuições, entre outros processos mentais, de acordo com diversos 
estudos (Baucom et al., 1989; Fincham et al., 1990, citados por Peçanha, 2005), 
exercem um papel significativo na qualidade de interações entre parceiros em uma 
relação. 
As distorções cognitivas – advindas de falhas no processamento de 
informações, erros de interpretação e raciocínios ilógicos no pensamento de um 
indivíduo – têm influência negativa em relacionamentos conjugais (Peçanha, 2005). 
Conforme o modelo descrito por Beck (1995), as distorções de raciocínio mais comuns 
entre casais, são: 
 Abstração seletiva: as informações ambientais passam por um processo de 
seleção, que confirma o pensamento distorcido e ignora fatos contrários 
evidenciados. Será influenciada ainda pelo pensamento dicotômico; a atenção 
acaba por ser altamente seletiva (Peçanha, 2005). Exemplo adaptado de 
Peçanha (2005): Diego deixa de recolher um dos brinquedos de Sara, sua filha. 
Diana, esposa de Diego, pensa “ele me trata como se eu fosse escrava”, 
deixando de perceber que ele tinha retirado os outros brinquedos e arrumado 
a sala. Neste caso, Diana está atenta somente às possíveis falhas do marido, 
que podem estar relacionadas à ideia de exploração. 
 Hipergeneralização: o indivíduo passa a criar regras gerais para situações 
específicas, com base em fatos isolados. Neste tipo de distorção, aparecem 
palavras como sempre, nunca, nada, tudo, nenhum, todos etc., (Peçanha, 
 
 
3 
2005). Exemplo adaptado de Peçanha (2005): Joana é criticada pelo esposo 
por não comprar um aparelho doméstico, então pensa, “ele sempre me critica”. 
 Inferência arbitrária: maneira tendenciosa de concluir situações especificas 
sem provas concretas. Esse tipo de distorção é mantido por relações estreitas 
com atribuições e expectativas dos membros do casal (Peçanha, 2005). 
Exemplo adaptado de Peçanha (2005): Juliana recebe um presente de 
Eduardo, seu esposo, fora de uma data festiva. Então, Juliana conclui: “ele está 
me agradando, porque está me traindo”. Ela não pergunta o motivo e deixa de 
saber que ele queria agradá-la e quebrar a rotina. 
 Personalização: interpreta-se acontecimentos interpessoais de forma 
egocêntrica; é um tipo de inferência arbitrária. Exemplo adaptado de Peçanha 
(2005): Luísa vê Antônio, seu esposo, trocando a fralda de seu filho e conclui 
“ele anda tão insatisfeito como a maneira que eu trato o bebê que resolveu 
fazer por ele mesmo”. 
 Rotulação negativa: são construídos traços sobre si ou sobre o outro com 
base em situações que aconteceram no passado. Essa rotulação, muitas 
vezes, vem de atribuições negativas dadas às causas do comportamento de 
cada um. Exemplo adaptado de Peçanha (2005): Camila conversa com 
Leonardo sobre os gastos financeiros, e no meio da conversa ele discorda que 
ela compre uma TV nova, e ela pensa “como ele é avarento”. Camila esqueceu 
que naquele mês havia a matrícula das crianças no colégio e não poderiam ter 
mais contas. 
 Leitura de pensamentos: é a distorção cognitiva mais comum nos 
relacionamentos, e é um tipo de inferência arbitrária. Os parceiros tentam 
adivinhar, a todo tempo, o que o outro está sentindo ou pensando. Exemplo 
adaptado de Peçanha (2005): Miguel vê Ana ligando para sua amiga e pensa 
“ela não quer falar comigo e prefere conversar com a amiga, acho que ela não 
gosta mais de mim”. Contudo, Ana ligou para Flávia para não o atrapalhar 
enquanto ele assistia futebol. 
 Pensamento dicotômico: é o pensamento “tudo ou nada”, uma forma de 
pensar extremada. Não existe um equilíbrio, as categorias criadas pelo parceiro 
são mutuamente excludentes. Exemplo adaptado de Peçanha (2005): Eduardo 
faz uma pergunta a Fernanda e ela não o responde, logo ele pensa “ela me 
odeia”. Ele só não percebeu que ela estava assistindo um documentário para a 
faculdade. 
 
 
4 
 Maximização e minimização: o parceiro avalia a situação com um peso maior 
ou menor do que realmente teve. Leva-se em conta os aspectos negativos, 
desqualificando-se os positivos. Exemplo adaptado de Peçanha (2005): 
quando Luiz lembra o aniversário de seu casamento com Helena, ela pensa 
“lembrar o dia em que nos casamos é uma prova de seu amor por mim”. 
Todavia, caso ele esqueça, ela pode pensar “não lembrar o dia que casamos 
significa que ele não me ama mais”. 
O desajustamento conjugal envolve outros tipos de processos mentais, além 
de pensamentos automáticos, distorções cognitivas e crenças disfuncionais. 
Suposições, padrões, expectativas, atribuições e atenção seletiva também estão 
envolvidos no conflito conjugal (Kurked, 1992), mas é preciso entender que eles por 
si só não são problemáticos, pois são componentes centrais no desenvolvimento e na 
manutenção de relacionamentos interpessoais. O problema vem quando são 
assumidos julgamentos errados, formas tendenciosas, inflexíveis e rígidas (Dattilio, 
2004). Baucom et al. (1989) elencam cinco categorias de fenômenos cognitivos 
interligados, importantes no desenvolvimento e manutenção do conflito conjugal, que 
aparecem como resultado de processos cognitivos. Essas categorias são (Dattilio, 
2011): 
1. Atenção seletiva: processo de percepção, em que uma pessoa irá captar 
informações de uma situação conforme faz sentido ao seu ponto de vista, 
ignorando dados que se encaixem no perfil do relacionamento. 
2. Atribuições: são inferências que os parceiros fazem sobre causa e 
responsabilidade do acontecimento de determinada situação. Utilizam-se de 
uma dinâmica das interações causa e efeito. 
3. Expectativa: são as atribuições sobre os comportamentos, que irão conduzir a 
previsões sobre o comportamento futuro. Essas atribuições criam expectativas, 
e têm um efeito profundo sobre as pessoas e sobre a maneira como se 
comportam. 
4. Suposições: são as crenças que os cônjuges têm sobre o relacionamento, que 
governam ou envolvem o que as pessoas pensam sobre o mundo e sobre a 
maneira de agir dos demais. É parte do modelo que usam para seguir o seu 
caminho pela vida. 
5. Padrões: são baseados em princípios, em crenças individuais sobre o que 
deve ser um relacionamento, e como deve ser o parceiro. Usados para avaliar 
o comportamento do outro (o comportamento esperado). São bem arraigados; 
 
 
5 
o papel de homem e mulher gera discordâncias nos relacionamentos. Os 
padrões podem se desenvolver como resultado de uma experiência religiosa 
ou cultural, como exposição à mídia ou fruto de interações sociais anteriores. 
 As crenças estão estreitamente relacionadas à maneira como os pares 
interpretam situações cotidianas, tomam decisões em relação ao comportamento do 
cônjuge, e elaboram seus juízos de valores (Beck, 1995). 
TEMA 2 – APEGO E AFETO 
 Entre as décadas de 1940 e 1950, o psicanalista britânico John Bowlby 
apresentou uma teoria baseada em insights que combinava a teoria das relações 
objetais, a etnologia pós-darwiniana, a cibernética (teorias sistêmicas de controle), a 
psicologia do desenvolvimento cognitivo moderno e a psiquiatria comunitária(Dattilio, 
2011). Tal teoria foi chamada de Teoria do Apego, pois Bowlby acreditava que havia 
um papel vital no desenvolvimento humano, “desde o berço até a morte”, referente 
aos padrões de apego observados em interações bebê-cuidador. 
 Bowlby foi pioneiro na discussão das diferenças individuais no funcionamento 
do sistema de apego em relacionamentos românticos e conjugais, o que se reflete em 
como os membros do casal lidam um com o outro, conforme sua história de apego. 
Shaver e colaboradores (1988, citados por Dattilio, 2011) sugeriram que os vínculos 
de apego romântico na idade adulta são vitais e assemelham-se ao vínculo formado 
entre o bebê e seus cuidadores primários. Esse estudo prosseguiu gerando pesquisas 
sobre estilos de apego e seu sucesso/fracasso nos relacionamentos conjugais. De 
acordo com Bowlby, quatro comportamentos básicos caracterizam os vínculos de 
ligação: 
1. Busca de proximidade 
2. Comportamento de abrigo seguro 
3. Estresse de separação 
4. Comportamento de base segura 
 Durante os períodos de estresse, particularmente, esses comportamentos são 
mais evidentes; é o momento em que se observa o conforto e a segurança que os 
cônjuges derivam um do outro (Dattilio, 2011). 
 
 
 
6 
2.1 Estilos de apego 
 Os bebês usam sua figura de apego (mãe ou cuidadores primários) como base 
segura para explorar o mundo; então, quando se sentem ameaçados, recorrem a essa 
figura para buscar proteção e conforto. Esse padrão pode variar em duas estratégias 
de apego inseguros: na evitação, quando o bebê tende a inibir a busca de apego; e 
na resistência, quando o bebê se apega à mãe e passa a evitar a exploração. Para 
além da importância no início da vida, esta base no relacionamento com os pais ou 
cuidadores é transferida, ainda que reformulada, nas relações conjugais. A cognição, 
as emoções, os comportamentos e a fisiologia que se desenvolvem no repertório 
relacional pertencem aos estilos de apego. Bartholomew e Horowitz (1991, citados por 
Dattilio, 2011) acreditam que os processos de pensamento, ajustados conforme uma 
crença ou esquema (considerar-se digno ou indigno de amor e de intimidade e julgar 
os outros como confiáveis ou não confiáveis), caracterizam os estilos de apego 
maduro, formando quatro estilos de apego: 
1. Apego seguro: o indivíduo tem uma visão de si mesmo como digno e dos 
outros como confiáveis, permitindo que se sinta à vontade com a intimidade e 
a autonomia. 
2. Preocupado: o indivíduo mantém uma visão negativa de si mesmo, contudo 
positiva em relação aos outros, o que o torna superenvolvido em 
relacionamentos próximos e dependente dos outros para sentir-se valorizado. 
3. Intimidado-esquivo: o indivíduo tem uma visão negativa de si mesmo e dos 
outros, temendo a intimidade e evitando relacionamentos com outras pessoas. 
4. Rejeição: o indivíduo mantém uma visão positiva de si, mas negativa em 
relação aos outros, fazendo com que evite relacionar-se com outras pessoas, 
preferindo manter sua independência e evitando os relacionamentos íntimos. 
 O apego é fundamental nos relacionamentos. Pesquisas mostram que as 
crianças se inibem quando o apego é rompido e o ambiente familiar é negativo, 
fazendo com que não desenvolvam habilidades de enfrentamento necessárias para 
garantir proteção contra vulnerabilidades e fatores de estresse social. Dessa forma, a 
insegurança resultante de dificuldades no início da vida afeta a expressão do respeito, 
admiração e gratidão direcionada ao cônjuge. Para Gottman (1994, citado por Dattilo, 
2011), isso tem grande impacto em relacionamentos de longo prazo. Parceiros com 
apego seguro relatam mais satisfação em seus relacionamentos, devido à correlação 
positiva entre apego adulto e satisfação conjugal (Mikulincer et al., 2002, citados por 
 
 
7 
Dattilio, 2011). O impacto do estilo de apego também afeta a progressão da intimidade 
nas relações, assim como o compromisso e a tolerância. Se as inseguranças 
resultantes do estilo de apego reduzem a qualidade conjugal, dificuldades, danos e 
conflitos podem perpassar para outros subsistemas familiares e afetar o 
funcionamento familiar. A transmissão do apego de pais para filhos pode ter um 
impacto profundos em suas vidas (Dattilio, 2011). 
2.2 Amor romântico 
O conceito de amor romântico (amor ideal) é um construto social, que ganha 
força no imaginário social como uma força mágica, que faz com que os parceiros 
persigam o inatingível. E quando não o atingem (o que é quase óbvio), sentem 
inadequação e frustração. Aron e Westbay (1996) afirmaram que é possível que duas 
pessoas desconhecidas se apaixonem (a ideia do amor à primeira vista) em poucas 
horas. O estudo conduzido pelos autores procurou demonstrar que as 
vulnerabilidades de ambos os parceiros são capazes de cultivar proximidade e 
intimidade. 
No Ocidente, as pessoas crescem com a ideia de que o amor produz uma 
sensação mágica, e que corresponde aos seus desejos e angustias básicas de vida, 
como a necessidade de completude. O mito do amor romântico faz com que o 
indivíduo atribua ao outro qualidades inexistentes, efetivando idealizações. Dessa 
forma, o outro passa a ter o dever de suprir suas necessidades e lhe trazer felicidade. 
Isso não significa colocar muita responsabilidade sobre sua vida na “mão” do outro? 
A verdade é que isso gera uma dependência emocional extremamente prejudicial à 
relação. O amor idealizado não se equilibra com a necessidade de esforços mútuos, 
construção diária, concessões, tampouco descortina os defeitos do outro como 
obstáculos à relação. Há um enorme condicionamento cultural aqui; o indivíduo não 
percebe até onde vão seus desejos, e até onde vai aquilo que aprendeu a desejar. A 
realidade atual não dá mais conta desse construto, já que nos relacionamentos 
contemporâneos, cada vez mais, preza-se pela individualidade dos pares. E isso traz 
aos terapeutas uma importante reflexão sobre crenças, padrões, suposições, 
atribuições e sobre o estilo de apego dos cônjuges. Para Costa (1998), não se 
contestam as regras comportamentais, sentimentais ou cognitivas interiorizadas no 
aprendizado sobre o amar, pois busca-se sempre uma explicação, atribuindo a culpa 
para a impossibilidade a si, aos outros e ao mundo, quando não se realiza o ideal 
imaginário de amor. 
 
 
8 
2.3 Experimentação e expressão de afetos 
A experiência e a expressão de afetos é uma área bastante problemática para 
os terapeutas, pois para que um paciente possa expressar uma emoção, precisa 
experienciá-la. A distância emocional é uma razão tão comum quanto a comunicação 
problemática na busca de casais por terapia. 
A maneira como os pares experienciam e expressam suas emoções é afetada 
pelas estruturas de personalidade; por conseguinte, cônjuges com transtornos de 
personalidade experienciam uma emoção de maneira mais fragmentada, e não ficam 
seguros do que sentem (Dattilio, 2011). 
Exemplificando: a raiva é uma emoção que pode ser expressada de várias 
maneiras, na maioria das vezes de forma passivo-agressiva (quando um cônjuge 
gasta além do combinado entre o casal, ou quebrando objetos da casa). Com 
frequência, a complexidade desenvolvida no relacionamento se deve às reações das 
outras pessoas às expressões emocionais, que acabam por formar intercâmbios 
negativos. É comum adaptar-se aos padrões de expressão emocional do outro, de 
maneira a sufocar ou provocar conflito. Quando, em uma interação, são expressados 
sentimento negativos, tal como desprezo, a sequência pode ser um resultado 
negativo. Para Gottman e Gottman (1999), a quantidade de desprezo expressada na 
interação entre parceiros é o melhor prognóstico individual do divórcio. Os autores 
descobriram ainda uma maior probabilidade de o casal resolver conflitos quando os 
cônjuges expressavam uma emoção imediatamente (a raiva, por exemplo), em 
comparação a casais que mantêm o sentimento de desprezopor tempo prolongado. 
Em um relacionamento, as crenças sobre a maneira como se deve expressar 
emoções têm grande relevância, principalmente em questões relacionadas a gênero, 
pois as mulheres se sentem mais à vontade que homens para expressar suas 
emoções e dar importâncias a elas (Brizendine, 2006, citado por Dattilio, 2011). Pode 
ser uma desvantagem séria para os homens ser incapaz de entrar em contato com as 
próprias emoções, com a experiência do momento, em consonância com suas 
sensações. 
Frequentemente, ao longo do processo de terapia com casais, é importante 
facilitar a expressão das emoções, de maneira a ajudar os pares a expressar 
sentimentos adequadamente, para que não sejam contidos, e liberados de forma 
destrutiva mais tarde. 
 
 
9 
TEMA 3 – O PAPEL DA MUDANÇA COMPORTAMENTAL E A RECIPROCIDADE 
NOS RELACIONAMENTOS 
 A Teoria do Intercâmbio Social é um componente importante na terapia 
cognitivo-comportamental com casais. As terapias de casal com maior suporte 
empírico têm suporte na abordagem comportamental, e se concentram na mudança 
direta do comportamento, maximizando os intercâmbios positivos e minimizando os 
intercâmbios negativos. Frequências diárias mais elevadas de eventos negativos, 
comparados aos positivos, fazem parte do relato da maioria dos casais infelizes. A 
teoria irá se concentrar em custos e benefícios associados aos relacionamentos, 
enfatizando que existe um lado negativo nas condições sociais particulares, como ser 
solteiro ou casado, e há momentos em que predomina o lado negativo, levando-o a 
encarar sua condição social com pesar. 
 A Teoria do Intercâmbio Social foi concebida por Homans, e elaborada mais 
tarde por Thibaut e Kelley, que aplicaram o conceito à dinâmica dos relacionamentos 
conjugais, identificando padrões de interdependência (Dattilio, 2011). A base da teoria 
são as teorias econômicas, compreendendo a interação do casal através de uma lente 
de intercâmbio de custos e recompensas. Os custos correspondem às razões que 
fazem com que o relacionamento seja indesejável (maus hábitos e/ou temperamento 
do cônjuge). As recompensas correspondem às razões que levam os parceiros a 
manter o relacionamento (bondade e sensibilidade). Frequentemente, o equilíbrio 
entre custos e recompensas que contribui para que os casais determinem a satisfação 
ou insatisfação conjugal. 
 
 Coordenar esforços dos cônjuges para que possam contribuir para os objetivos 
um do outro depende do quanto buscam satisfazer as necessidades e os objetivos um 
do outro na relação. Mesmo que haja interdependência, um ou ambos podem desejar 
resultados interdependentes, ou fora do casamento. Ao longo do tempo, geralmente, 
haverá mudanças contínuas em relação à interdependência do casal, como em que 
extensão buscam satisfazer seus objetivos e necessidades no relacionamento (Kelly, 
1959, citado por Dattilio, 2011); dessa forma, pode-se deparar com um conflito em 
relação a vários aspectos: 
1. Mutualidade da dependência: em uma área de resultado os cônjuges são 
ambos dependentes, ou um deles é unilateralmente dependente? 
2. Grau de dependência: maior dependência, maior intensidade. 
 
 
10 
3. Correspondência do resultado: o resultado desejado por um indivíduo 
depende de suas opções, das do cônjuge ou da combinação de ambos? 
 É importante atentar-se para o nível de comparação para as alternativas (Kelly, 
1959, citado por Dattilio, 2011), pois os cônjuges, quando estressados, percebem 
recompensas e custos da vida a só, ou se vivem com o outro, pesando-os em uma 
análise custos-recompensas para permanecer na relação. Mesmo com recompensas 
baixas, o cônjuge pode perceber que o custo do divórcio pode ser alto demais. A 
comparação é feita com aquilo que está diante de si; as recompensas para o custo de 
se permanecer na relação são avaliadas em contraposição às alternativas externas 
ao relacionamento; o resultado líquido promove maior ou menor compromisso com a 
relação. De acordo com a Teoria do Intercâmbio, é possível determinar o grau de 
dependência do parceiro, que resulta em alta tolerância às baixas recompensas do 
relacionamento (exemplificando, explicaria em parte o que leva um cônjuge a 
permanecer em um relacionamento com abuso físico, ou traição). A dependência 
extremada e as expectativas em relação a um relacionamento, somadas ao alto custo 
de sair da relação, revelam a permanência de um cônjuge em um relacionamento, por 
mais insatisfatório e danoso que ele seja, psicologicamente (Dattilio, 2011). 
3.1 Reciprocidade nos relacionamentos 
 O modelo da “conta bancária” de intercâmbio conjugal, proposto por Gottman 
e colaboradores (1976, citados por Dattilio, 2011), aponta para investimentos positivos 
que são feitos ao longo do tempo, e que irão sustentar uma reciprocidade não 
situacional. Comportamentos negativos, ao invés de serem intercambiados, 
supostamente por razão do acúmulo de intercâmbios positivos, não encontram 
reciprocidade. Esses resultados são a base para que os casais se encorajem no 
sentido do aumento dos níveis de intercâmbio positivo, e da redução do intercâmbio 
comportamental negativo. 
 É importante para o terapeuta a avaliação subjetiva que cada cônjuge faz dos 
comportamentos desejáveis e agradáveis do parceiro. O padrão de cada um para o 
que se constitui como intercâmbio equitativo é vital para o relacionamento; o mesmo 
pode se dizer das atribuições sobre a razão de um dos pares não ceder durante o 
intercâmbio. As expectativas sobre os futuros intercâmbios de cada um dos cônjuges 
irão servir para determinar o tom da interação ao longo da relação (Dattilio, 2011). 
 
 
 
11 
TEMA 4 – COGNIÇÕES E ESQUEMAS TRANSGERACIONAIS 
Os esquemas, frequentemente, apresentam-se no centro dos conflitos 
conjugais. Eles influenciam a maneira como o indivíduo processa informações em 
novas situações, a percepção seletiva, as inferências sobre causas do comportamento 
do outro, e se está satisfeito ou não com o relacionamento. Durante o processo 
terapêutico, é comum que os esquemas rígidos mantidos por um dos pares, ou ambos, 
emerjam e acabem por interferir na modificação dos padrões de interações negativos 
do relacionamento. Alguns esquemas podem ter sido originados no próprio 
relacionamento, outros em experiências prévias. 
Para uma melhor explanação, segue o exemplo: André mantém a crença de 
que Leticia, sua esposa, tende a chorar facilmente nas discussões do casal, e assim 
entende que ela sempre irá chorar quando as discussões esquentarem. A expectativa 
se alinha aos seus esquemas globais mais arraigados sobre características de 
mulheres e sobre emoções, originados no que “aprendeu” sobre mulheres, e em seus 
relacionamentos anteriores. Outros esquemas ainda vêm das experiências com a 
família de origem, e estão profundamente enraizados. Pode haver uma raiz cultural 
forte, que pode ter sido imposta desde muito cedo no desenvolvimento de André, o 
que o torna mais resistente a mudar. 
Os sistemas de crenças procedentes da família de origem geralmente são 
fortes e com consistência reforçada e internalizada durante o período de 
desenvolvimento e formação. Esses esquemas transgeracionais podem ser positivos 
ou negativos, dependendo do conteúdo, e serem conscientes ou inconscientes. 
Achados na psicologia cognitiva (Baldwin, 1992, citado por Dattilio, 2011) corroboram 
a experiência comum dos clínicos, que relatam dificuldades de mudanças em 
esquemas com conteúdos negativos, associados a emoções negativas, e que são 
fortalecidos ao longo do tempo, sendo reforçados pelas experiências de vida. É difícil 
também modificar esquemas que não estejam conscientes para o par. Exemplificando: 
O esquema de uma jovem que se deixa sofrer abuso por parte do parceiro 
porque acredita ser obrigada a tolerar esse comportamento pelo fato de ser 
casada, a investigação de sua história talvez revelasse um esquema quefoi 
moldado pela influência de sua família de origem. Seria possível que seus 
próprios pais tivessem exemplificado esse tipo de padrão de relacionamento 
com relação aos papéis dos cônjuges, o que teria desempenhado um 
profundo efeito no seu sistema de crença subliminar. Não seria difícil 
perceber como essa mulher desenvolveu tal esquema sobre as obrigações 
conjugais à luz da exposição repetida dos modelos de papel em sua família 
de origem” (Dattilio, 2011, p. 90). 
 
 
12 
É importante que se dê ênfase ao exame dos esquemas dos casais, 
particularmente aos que derivam das famílias no exame de origem, e estão 
relacionados à funcionalidade dos relacionamentos de maneira intelectual, emocional 
e comportamental, pois isso envolve padrões amplos que mantêm os relacionamentos 
íntimos e acabam por contribuir para os conflitos. Muitos desses esquemas não são 
claros na mente dos pares, mas constituem conceitos vagos do que são ou deveriam 
ser (Beck, 1995). Quando arraigados desde cedo, esquemas sobre si mesmo e sobre 
relacionamentos apresentam potencial para funcionamento em nível inconsciente, e 
por isso são facilmente transferidos entre gerações. Para Dattilio (2011), existem duas 
categorias principais de esquemas: esquema básico vulnerável; e esquema de 
enfrentamento protetivo. 
 Welburn et al. (2000) diferenciam os esquemas segundo o posicionamento em 
uma organização hierárquica, determinado pela importância principal em relação à 
conexão com necessidades básicas (segurança e ligação); outros seriam mais 
periféricos (como a necessidade de ser aceito ou reconhecido pelas pessoas). Os 
esquemas básicos de vulnerabilidade referem-se a falhas dos cuidadores adultos em 
validar e confirmar as necessidades básicas da criança (como apego) nos primeiros 
anos de vida. Contudo, esquemas básicos de vulnerabilidade também podem se 
estabelecer por conta de eventos traumáticos na vida adulta. Para que o indivíduo 
possa se proteger de seus esquemas de vulnerabilidade, precisará de um esquema 
de enfretamento protetivo, ou estratégias para lidar com os eventos difíceis e críticos 
que ativam o esquema vulnerável. É importante deixar claro que as estratégias de 
enfrentamento nem sempre são eficazes, podendo ser mal adaptativas, tornando-se 
gatilhos de situações indesejadas. Cabe ao terapeuta o difícil trabalho de tentar 
modificar os esquemas originados nas famílias de origem de cada um dos cônjuges, 
assim como a mudança na visão linear de que os problemas são basicamente 
resultado das falhas do outro. 
TEMA 5 – RESISTÊNCIA À MUDANÇA 
 Os obstáculos e a resistência à mudança irão aparecer de diversas maneiras 
ao longo do processo terapêutico. Em determinados momentos, superar a resistência 
parece impossível, e a terapia torna-se um desafio. Um dos cônjuges pode se recusar 
ao processo terapêutico; há várias maneiras de lidar com essas situações. O terapeuta 
pode não fazer esforço algum para o encorajamento dos cônjuges, como pode 
 
 
13 
assumir um papel ativo, com muita criatividade, e ajudar no progresso do casal. Alguns 
fatores que irão interferir no processo de mudança (Dattilio, 2011): 
 diferença de agendas; 
 ansiedade com relação a mudanças dos padrões existentes no relacionamento. 
 renúncia ao poder e ao controle percebidos; 
 problemas em assumir a responsabilidade pela mudança; 
 obstáculos. 
 Os obstáculos podem ser oriundos do casal, de um dos cônjuges, ou mesmo 
do próprio terapeuta. Podem estar relacionados a expectativas irrealistas, o que é 
muito importante de ser trabalhado já no processo de avaliação do casal, ou ainda a 
obstáculos culturais, como no trabalho com casais interculturais, ou mesmo quando a 
queixa é relacionada à sexualidade do casal e eles trazem valores religiosos 
extremamente rígidos e conservadores. Podem ainda estar relacionados a questões 
étnicas, forças ambientais, psicopatologias, baixo funcionamento intelectual ou 
cognitivo, efeitos de tratamentos anteriores, pressionar na hora errada para que 
aconteça ou se facilite um processo de mudança, e a reincidência, quando há retorno 
a comportamentos negativos anteriores (Dattilio, 2011). 
 Um ponto importante, ainda dentro das resistências apresentadas no processo 
de mudança, diz respeito à procrastinação, muito comum na prática terapêutica. A 
procrastinação se refere ao atraso nas tarefas e decisões associadas a um sofrimento 
psicológico significativo. É um comportamento prevalente e complexo, tendo como 
base componentes cognitivos, emocionais e comportamentais, que mantêm o 
procrastinador em sua zona de conforto temporariamente, diante de tarefa aversiva; 
lembramos que é objeto da TCC a prioridade na modificação de crenças para se 
produzir mudanças comportamentais saudáveis e satisfatórias (Brito; Bakos, 2013). 
 
 
 
 
 
14 
REFERÊNCIAS 
ARON, A.; WESTBAY, L. Dimensions of the Prototype of Love. Journal of 
Personality and Social Psychology, v. 70, p. 535-551, 1996. 
BAUCOM, D. H. et al. The Role Cognitions in Marital Relationships: Definitional, 
Methodological and Conceptual Issues. Journal of Consulting and Clinical 
Psychology, v. 57, n. 31-38, fev. 1989. 
BECK, A. Para além do amor. Rio de Janeiro: Record, 1995. 
BRITO, F. S.; BAKOS, D. G. S. Procrastinação e terapia cognitivo-comportamental: 
uma revisão integrativa. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, v. 9, n. 1, p. 34-
41. 2013. 
COSTA, J. F. Sem fraude, nem favor: estudos sobre o amor romântico. Rio de 
Janeiro: Rocco, 1998. 
DATTILIO, F. M, Casais e famílias. In: KNAPP, P. (Org). Terapia 
cognitivo-comportamental na prática clínica psiquiátrica. Porto Alegre: Artmed, 
2004. p. 377-401. 
DATTILIO, F. Manual de terapia cognitiva-comportamental para casais e famílias. 
Artmed: Porto Alegre, 2011. 
GOTTMAN, J. M.; GOTTMAN, J. S. The Marriage Survival Kit: a Research-based 
Marital Therapy. In: BERGER, R.; HANNAH, M. T. (Eds.). Preventive Approaches in 
Couples Therapy. Philadelphia, PA: Brunner/Mazel. 1999. 
KURDEK, L. A. Assumptions Versus Standards: the Validity of two Relationships 
Cognitions in Heterosexuals and Homosexuals Couples. Journal of Family 
Psychology, v. 6, n. 2, p. 164-170, dez. 1992. 
PEÇANHA, R. F. Desenvolvimento de um protocolo piloto de tratamento 
cognitivo-comportamental para casais. Dissertação (Mestrado) – Universidade 
Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005. 
WELBURN, K. et al. Schematic change as a result of an intensive group-therapy day-
treatment program. Psychotherapy, v. 37, n. 2, 189-195, 2000.

Continue navegando