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SISTEMAS-DE-TRATAMENTO-DE-ÁGUAS-RESIDUÁRIOS-E-REUSO

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1 
 
SISTEMAS DE TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUÁRIOS 
E REUSO 
 
 
 
2 
 
 
 
 
 
Sumário 
 
SISTEMAS DE TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUÁRIOS E REUSO . 1 
NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 4 
INTRODUÇÃO......................................................................................... 5 
A ÁGUA NA NATUREZA ......................................................................... 6 
Á qualidade da água ............................................................................ 8 
Características físicas da água ............................................................ 8 
Características da água ..................................................................... 11 
Características biológicas da água .................................................... 13 
USOS E QUALIDADE DA ÁGUA .......................................................... 13 
Abastecimento humano ..................................................................... 19 
Abastecimento industrial .................................................................... 20 
Irrigação ............................................................................................. 21 
Geração de energia elétrica ............................................................... 21 
Navegação ......................................................................................... 22 
Assimilação e transporte de poluentes .............................................. 22 
Preservação da flora e fauna ............................................................. 23 
Recreação .......................................................................................... 23 
REGULAMENTAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA ............................... 24 
TRATAMENTO DE ÁGUAS E ESGOTOS ............................................ 26 
RISCOS À SAÚDE ................................................................................ 29 
Patogenias e desinfecção .................................................................. 29 
Contaminantes orgânicos e inorgânicos ............................................ 31 
REÚSO DA ÁGUA ................................................................................. 33 
 
 
 
3 
Formas potenciais de reuso ............................................................... 35 
Usos urbanos ..................................................................................... 36 
Usos urbanos para fins potáveis ........................................................ 36 
Utilizar apenas sistemas de reuso indiretos ................................... 36 
Uso exclusivo de esgotos domésticos ............................................ 37 
Emprego de barreiras múltiplas nos sistemas de tratamento ......... 38 
Conquista da aceitação pública - responsabilização pelo 
empreendimento ....................................................................................... 38 
Usos urbanos para fins não potáveis ................................................. 39 
Usos industriais .................................................................................. 40 
Usos agrícolas ................................................................................... 42 
Benefícios econômicos do reuso agrícola .......................................... 43 
Benefícios ambientais e à saúde pública ........................................... 45 
Recarga de aquíferos ......................................................................... 46 
O tratamento solo aquífero - TSA ...................................................... 48 
REFERÊNCIAS ..................................................................................... 49 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
NOSSA HISTÓRIA 
 
 
A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empre-
sários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação 
e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade ofere-
cendo serviços educacionais em nível superior. 
A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de 
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a partici-
pação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação 
contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos 
e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber atra-
vés do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Ao contrário do que muitos imaginam, a água é uma substância muito 
complexa. Por ser um excelente solvente, até hoje ninguém pôde vê-la em es-
tado de absoluta pureza. Quimicamente sabe-se que, mesmo sem impurezas, a 
água é a mistura de 33 substâncias distintas. 
Na natureza estima-se que existam 45 x 1045 moléculas de água, das 
quais 95% constituem água salgada, 5% água doce, na maior parte sob a forma 
de gelo, e apenas 0,3% diretamente aproveitável, com predominância da água 
subterrânea. 
São inúmeras as impurezas que se apresentam nas águas naturais, vá-
rias delas inócuas, poucas desejáveis e algumas extremamente perigosas. Entre 
as impurezas nocivas encontram-se vírus, bactérias, parasitos, substâncias tó-
xicas e, até mesmo, ele mentos radioativos. 
A qualidade das águas de superfície e das subterrâneas é preocupante 
por dois aspectos distintos, mas que se sobrepõem: 1) a saúde e o bem-estar 
dos seres humanos; e 2) a saúde dos ecossistemas aquáticos. Ambos os aspec-
tos relativos à qualidade da água são intensificados pela minimização dos im-
pactos das atividades humanas, mas as questões específicas e as medidas de 
controle diferem. 
 
 
 
 
 
6 
 
A ÁGUA NA NATUREZA 
 
 
A água encontra-se disponível sob várias formas e é uma das substâncias 
mais comuns existentes na natureza, cobrindo cerca de 70% da superfície do 
planeta. É encontrada principalmente no estado líquido, constituindo um recurso 
natural renovável por meio do ciclo hidrológico. Todos os organismos necessitam 
de água para sobreviver, sendo a sua disponibilidade um dos fatores mais im-
portantes a moldar os ecossistemas. É fundamental que os recursos hídricos 
apresentem condições físicas e químicas adequadas para sua utilização pelos 
organismos. Eles devem conter substâncias essenciais à vida e estar isentos de 
outras substâncias que possam produzir efeitos deletérios aos organismos que 
compõem as cadeias alimentares. Assim, disponibilidade de água significa que 
ela está presente não somente em quantidade adequada em uma dada região, 
mas também que sua qualidade deve ser satisfatória para suprir as necessida-
des de um determinado conjunto de seres vivos (biota). Há duas formas de ca-
racterizar os recursos hídricos: com relação à sua quantidade e com relação à 
sua qualidade, estando essas características intimamente relacionadas. A qua-
lidade da água depende diretamente da quantidade de água existente para dis-
solver, diluir e transportar as substâncias benéficas e maléficas para os seres 
que compõem as cadeias alimentares. Estima-se que a massa de água total 
existente no planeta seja aproximadamente igual a 265.400 trilhões de tonela-
das, distribuídas. 
Entretanto, apesar de existir em abundância, nem toda água é direta-
mente aproveitada pelo homem. Por exemplo, a água salgada dos oceanos não 
pode ser diretamente utilizada para abastecimento humano, pois as tecnologias 
atualmente disponíveis paradessalinização são ainda um processo bastante 
caro quando comparado com os processos normalmente utilizados para o trata-
mento de água para uso doméstico. A água existente nas geleiras apresenta o 
inconveniente de estar localizada em regiões muito distantes dos centros consu-
midores, o que implica elevados custos de transporte. A extração de águas muito 
profundas também está sujeita a limitações econômicas. 
 
 
 
7 
Do total apresentado de 265.400 trilhões de toneladas, somente 0,5% re-
presenta água doce explorável sob o ponto de vista tecnológico e econômico, 
que pode ser extraída dos lagos, rios e aquíferos. É necessário ainda subtrair 
aquela parcela de água doce que se encontra em locais de difícil acesso ou 
aquela já muito poluída, restando, assim, para utilização direta, apenas 0,003% 
do volume total de água do planeta. Isso significa que, se toda água do planeta 
correspondesse a 100 litros, a parcela diretamente utilizável corresponderia a 
apenas 0,003 litro, ou meia colher de chá. 
Além disso, a água doce é distribuída de maneira bastante heterogênea 
no espaço e no tempo. Essa distribuição heterogênea no espaço pode ser ob-
servada pela existência dos desertos, caracterizados por baixa umidade, e das 
florestas tropicais, caracterizadas por alta umidade. Existe também a variabili-
dade temporal da precipitação em função das condições climáticas, que variam 
em decorrência do movimento de translação da Terra. Além das variações na-
turais características das fases do ciclo hidrológico, importantes alterações têm 
ocorrido nas fases desse ciclo por causa de intervenções humanas, intencionais 
ou não. Por exemplo, a ocorrência de vapor atmosférico pode ser alterada pela 
presença de reservatórios, pela modificação da cobertura vegetal e, também, por 
alterações climáticas causadas por gases estufa. Evidentemente, tais modifica-
ções podem acarretar mudanças no regime de precipitações, afetando, portanto, 
a disponibilidade de água. 
O uso do solo é fator de importância fundamental na ocorrência natural 
de água. O desmatamento e a urbanização podem modificar o ciclo hidrológico 
ao diminuírem, por exemplo, a evapotranspiração. Com o desmatamento, há 
maior presença da umidade no solo, e sua capacidade de infiltração também 
diminui. Assim, existe uma tendência de aumento do escoamento superficial du-
rante eventos chuvosos, o que amplia a frequência de ocorrência de cheias. Tal 
fato tende a tornar-se gradativamente mais intenso pela diminuição da proteção 
do solo contra a erosão e a consequente diminuição de sua permeabilidade pelo 
desmatamento. 
Nas áreas urbanas ocorre a impermeabilização do solo por meio das 
construções e da pavimentação das ruas. Assim, quando a precipitação atinge 
o solo, ocorre escoamento superficial mais intenso em consequência de pouca 
ou nenhuma capacidade de infiltração disponível. Essa impermeabilização do 
 
 
 
8 
solo pela urbanização é uma das principais causas de inundações nos meios 
urbanos. 
 
Á qualidade da água 
 
Além dos problemas relacionados à quantidade de água — tais como: 
escassez, estiagens e cheias —, há também aqueles relacionados à qualidade 
da água. A contaminação de mananciais impede, por exemplo, seu uso para 
abastecimento humano. A alteração da qualidade da água agrava o problema 
da escassez desse recurso. 
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 25 milhões de pes-
soas no mundo morrem por ano em virtude de doenças transmitidas pela água, 
como cólera e diarreias. A OMS indica que nos países em desenvolvimento 70% 
da população rural e 25% da população urbana não dispõem de abastecimento 
adequado de água potável. 
 
Características físicas da água 
 
A água é uma substância notável por apresentar-se no estado líquido nas 
condições normais de temperatura e pressão, sendo uma das poucas substân-
cias inorgânicas a possuir tal característica. Consequentemente, sua densidade 
atinge valores relativamente elevados, existindo uma interface bem definida en-
tre o meio aquático superficial e a atmosfera, pois a densidade da água é de 
cerca de oitocentas vezes superior à densidade do ar. 
A densidade da água varia com a temperatura, a concentração de subs-
tâncias dissolvidas e a pressão. As variações de densidade observadas no meio 
aquático em decorrência desses fatores são relativamente pequenas do ponto 
de vista numérico, mas suficientemente elevadas para dar origem a uma série 
de fenômenos muito importantes do ponto de vista ambiental. 
Uma das características físicas mais marcantes da água é o modo pelo 
qual sua densidade varia com a temperatura. De acordo com a Figura 1, a den-
sidade da água pura atinge um valor máximo para uma temperatura próxima a 
4oC. 
 
 
 
9 
A água no estado sólido é menos densa do que a água no estado líquido 
entre 0oC e 4oC, fazendo com que o gelo flutue sobre a água. Mesmo quando há 
gelo sobre a superfície dos corpos de água, sua parte inferior pode permanecer 
no estado líquido, possibilitando a existência de vida aquática. 
 
Figura 1: Variação da densidade da água com a temperatura 
 
 
A concentração de sais dissolvidos também afeta a densidade da água. 
Por exemplo, a densidade da água do mar é cerca de 2% maior que a densidade 
da água pura nas condições normais de temperatura e pressão em consequên-
cia da presença de sais. Estuários são regiões que podem ser profundamente 
afetadas pela diferença de densidade entre a água doce, que chega pelas extre-
midades a montante dos rios, e a água salgada, dos mares e oceanos da extre-
midade a jusante. Assim, uma determinada substância pode ser transportada 
em ambos os sentidos em um estuário, dependendo do campo de densidades 
existentes no sistema. 
O calor específico da água é bastante elevado, de modo que ela pode 
absorver ou liberar grandes quantidades de calor à custa de variações de tem-
peratura relativamente pequenas. Assim, grandes massas de água têm o poten-
cial de alterar características climáticas locais, amenizando as variações de tem-
peratura. De forma análoga, regiões desérticas apresentam variações diárias de 
temperatura relativamente amplas. Essas mesmas conclusões podem ser esten-
didas para o planeta como um todo. Se os oceanos não existissem, a amplitude 
térmica do planeta seria muito maior. O alto calor específico da água faz também 
com que esse recurso seja muito utilizado para refrigeração de motores, proces-
sos industriais e produção de energia. 
 
 
 
10 
Em função do alto calor específico da água, as variações naturais da tem-
peratura nos meios aquáticos costumam ser brandas. Consequentemente, toda 
a biota aquática não está adaptada para sobreviver a grandes variações de tem-
peratura. Por isso, o despejo de efluentes aquecidos nos meios aquáticos tem o 
potencial de produzir grandes danos ambientais. 
Muitos componentes da biota aquática não são dotados de mecanismos 
de locomoção própria. Esse é o caso das algas que, possuindo densidade maior 
que a da água que as envolve, tenderiam a ocupar o fundo do meio aquático. 
Isso não ocorre, pois esses organismos conseguem permanecer flutuando por 
causa da força de atrito entre sua superfície e a água. A força de atrito é função 
da viscosidade da água, a qual é alterada por variações de temperatura. Com o 
aumento da temperatura da água, a viscosidade diminui e, portanto, diminui a 
força de atrito entre a água e a superfície do fitoplâncton. A velocidade de sedi-
mentação desses organismos aumenta, afastando-os da zona iluminada e con-
sequentemente reduzindo ou cessando a fotossíntese. Esse é um dos motivos 
pelos quais despejos de água aquecida nos corpos de água podem ser danosos 
aos ecossistemas aquáticos. 
A importância da penetração da luz em meios aquáticos é evidente, uma 
vez que é fator essencial para a ocorrência da fotossíntese e, portanto, pode 
afetar todo omeio biótico existente em um corpo de água. Ao penetrar na água, 
a luz é absorvida e convertida em calor. Essa absorção diminui de forma aproxi-
madamente exponencial, em função da profundidade. Duas características são 
importantes do ponto de vista ambiental. A primeira é o comprimento de onda 
(ou a frequência), que é associada a uma determinada cor. A outra característica 
é a intensidade, que é associada à energia transportada pela luz. 
A maior parte da energia luminosa incidente tende a ficar retida nas ca-
madas superficiais de água. Essa absorção não ocorre de forma uniforme para 
todos os comprimentos de onda que caracterizam o espectro de energia lumi-
nosa. Por exemplo, as extremidades do espectro visível correspondentes às re-
giões do infravermelho e do ultravioleta são absorvidas mais intensamente pela 
água do que os comprimentos de onda visíveis localizados entre esses extre-
mos, como o verde e o azul. Assim, para profundidades maiores, ocorre um es-
treitamento progressivo do espectro, sendo que a luz azul é a última faixa do 
espectro a se extinguir. Como consequência, as algas que vivem próximas à 
 
 
 
11 
superfície tendem a apresentar coloração verde (luz refletida) e a utilizar a luz 
vermelha para efetuar a fotossíntese. Em regiões mais profundas, as algas ten-
dem a apresentar coloração avermelhada (luz refletida) e a absorver luz com 
comprimentos de onda menores para efetuar a fotossíntese. 
Existem vários fatores que podem afetar a penetração da luz no meio 
aquático. Dentre eles destacam-se a cor e a turbidez do meio. A cor da água é 
constituída por luz refletida, podendo ser classificada como cor real e cor apa-
rente. A cor real está associada a substâncias dissolvidas na água e pode afetar 
a penetração da luz. Esse é, por exemplo, o caso do Rio Negro, afluente do Rio 
Amazonas, cujas águas apresentam coloração escura em virtude da presença 
de ácidos húmicos dissolvidos em suas águas. A cor aparente do meio aquático 
está associada a reflexos originados na paisagem ao redor do corpo de água e 
à cor de seu fundo, se esse for visível da superfície. A presença de material em 
suspensão afeta a turbidez da água, dificultando ou mesmo impedindo a pene-
tração da luz. Causam turbidez, por exemplo, partículas minerais e algas. 
Como a molécula de água é polarizada, cada molécula no meio líquido 
sofre e exerce atração das moléculas situadas ao seu redor. Todavia, uma mo-
lécula de água situada na superfície líquida sofre atração maior das moléculas 
vizinhas, oferecendo maior resistência à penetração de luz nessa superfície. 
Cria-se, então, uma ‘película’ originada pela tensão superficial, a qual constitui o 
hábitat de muitas espécies animais que vivem sobre ela. Para pequenos orga-
nismos que vivem na água, a tensão superficial representa uma barreira para 
que não escapem do meio líquido. A presença de detergentes pode enfraquecer 
essa película, afetando as populações dos organismos que dependem de sua 
existência, além de outros problemas como a geração de espumas e inconveni-
entes para o tratamento de esgotos. 
 
 
Características da água 
 
Entre as características químicas mais importantes, destacamos o fato de 
a água ser um ótimo solvente, sendo chamada de solvente universal. Isso signi-
fica que a água é capaz de dissolver muitas substâncias orgânicas ou inorgâni-
cas nos estados sólido, líquido ou gasoso. Algumas das substâncias dissolvidas 
 
 
 
12 
nas águas naturais são essenciais para a sobrevivência dos organismos aquáti-
cos. 
A presença de gases dissolvidos na água, como o oxigênio e o dióxido de 
carbono, permite a ocorrência da fotossíntese e da respiração aeróbia nesse 
meio. A solubilidade de um gás na água depende de sua composição, aumen-
tando com a pressão parcial do gás no meio adjacente (a atmosfera, por exem-
plo) e diminuindo com a temperatura e com a concentração de substâncias dis-
solvidas. Em razão da maior concentração de sais dissolvidos, a água do mar 
apresenta menor concentração de saturação de gases dissolvidos do que a água 
doce para as mesmas condições de temperatura e pressão. 
A presença de alguns sais dissolvidos na água é fundamental para a 
constituição das cadeias alimentares no meio aquático, pois eles servem como 
nutrientes para os organismos autótrofos. Em geral, os sais de fósforo ou de 
nitrogênio são fatores limitantes para o crescimento desses organismos no am-
biente aquático, de modo que um aumento excessivo na concentração desses 
sais pode gerar uma proliferação exagerada de algas, ocorrendo o fenômeno 
denominado eutrofização. Sais de outros elementos também são fundamentais 
para a vida aquática. Os organismos precisam de quantidades moderadas de 
sais de sílica, cálcio, magnésio, sódio, potássio, enxofre, cloro e ferro. Quantida-
des diminutas, porém, fundamentais, de sais de manganês, zinco, cobre, molib-
dênio e cobalto, entre outros, são também necessárias para a vida aquática. 
O pH é a medida da acidez ou alcalinidade relativa de uma determinada 
solução. Seu valor para a água pura a 25ºC é igual a 7 e varia entre 0 e 7, em 
meios ácidos, e entre 7 e 14, em meios alcalinos. O pH é importante porque 
muitas reações químicas que ocorrem no meio ambiente são intensamente afe-
tadas pelo seu valor. Sistemas biológicos também são bastante sensíveis ao 
valor do pH, sendo que, usualmente, o meio deve ter pH entre 6,5 e 8,5 para que 
os organismos não sofram grandes danos. Muitas substâncias decorrentes da 
atividade humana despejadas no meio aquático podem alterar significativamente 
o valor do pH, como as deposições ácidas provenientes da poluição atmosférica. 
Dentre as substâncias que ocorrem naturalmente no meio ambiente e que po-
dem alterar o pH, temos o gás carbônico que, ao dissolver-se na água, forma o 
ácido carbônico, reduzindo o pH. Água saturada de gás carbônico terá pH igual 
a 5,6. 
 
 
 
13 
 
Características biológicas da água 
 
Se houver condições físicas e químicas apropriadas no meio aquático, 
surgirá uma cadeia alimentar composta por organismos produtores, consumido-
res de várias ordens e decompositores. Além do papel desempenhado por esses 
organismos no meio aquático, eles também são importantes como fonte de ali-
mento para o homem, por sua atuação na recuperação da qualidade das águas 
poluídas e pela introdução e retirada de gases presentes na atmosfera e na hi-
drosfera. Fora isso, também contribuem com a ocorrência de uma série de do-
enças. Os organismos aquáticos podem pertencer a um dos seguintes grupos: 
vírus, bactérias, fungos, algas, macrófitas, protozoários, rotíferos, crustáceos, in-
setos aquáticos, vermes, moluscos, peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos. 
Uma outra maneira de classificar os organismos aquáticos é por meio da 
região onde vivem. Por exemplo, o plâncton refere-se à comunidade de seres 
vivos que vive em suspensão no meio aquático, sendo genericamente subdivi-
dido em fitoplâncton (comunidade vegetal do plâncton) e zooplâncton (comuni-
dade animal do plâncton). O nécton refere-se ao conjunto de organismos que 
possui capacidade de locomoção, independentemente das correntes. Final-
mente, os organismos bentônicos são os que habitam os leitos dos corpos de 
água. 
 
USOS E QUALIDADE DA ÁGUA 
 
A qualidade da água representa uma questão tão relevante como a quan-
tidade de água. Embora a maior parte do suprimento de água seja devolvida ao 
fluxo das correntes após o uso, sua qualidade é inevitavelmente degradada. Os 
efeitos estão resumidos na Tabela 1. O resfriamento das usinas de força pela 
circulação de água eleva a temperatura (poluição térmica), com efeitos adversos 
sobre a biota das águas receptoras. A descarga de esgoto domiciliar e comercial 
reduz o teor de oxigênio dissolvido, novamente perturbando o equilíbrio biológico 
das águas de superfície. As atividades industriais e de mineraçãocontaminam a 
água com uma variedade de materiais tóxicos. A agricultura pode poluir as águas 
 
 
 
14 
de superfície e as subterrâneas com excesso de nutrientes e pode levar à sali-
nização do solo, quando as águas da irrigação se evaporam, deixando os sais 
para trás. 
 
Tabela 1: Efeitos do uso da água sobre a qualidade da água 
Uso da água Efeitos sobre a qualidade da água 
Doméstico/comercial Diminui oxigênio dissolvido 
Industria/mineração Diminui oxigênio dissolvido; polui água com metais pesados e 
substâncias orgânicas tóxicos; causa drenagem ácida de minas. 
Termoelétrico Aumenta a temperatura da água (poluição térmica) 
Irrigação/criação de 
animais 
Causa salinização das águas de superfície e subterrâneas; diminui 
o oxigênio dissolvido (próximo aos criadouros) 
 
Ao considerar os efeitos da qualidade da água, é preciso distinguir as fon-
tes pontuais das fontes não-pontuais de poluição. As fontes pontuais são as fá-
bricas e outras instalações industriais e comerciais que liberam as substâncias 
tóxicas na água. Em anos recentes, as liberações tóxicas de fontes pontuais fo-
ram consideravelmente reduzidas, principalmente nos países desenvolvidos. 
Grandes quantidades continuam a ser descarregadas (veja a Tabela 2 A, B), 
porém em níveis bem inferiores aos de anos anteriores. 
 
Tabela 2A: Os dez principais setores industriais por volume descartado 
em água de superfície (1999) 
Setor industrial* Libras Toneladas métricas Percentual total 
Químico 77.097.472 35.002 29,8 
Metais primários 62.513.740 28.381 24,2 
Alimentos 50.225.853 22.803 19,4 
Papel 19.118.393 8.680 7,4 
Petróleo 15.655.884 7.108 6,1 
Energia elétrica 4.510.038 2.048 1,7 
Equipamentos elétricos 4.393.066 1.995 1,7 
Metais fabricados 2.429.536 1.103 0,9 
 
 
 
15 
Medição/foto 1.320.125 599 0,5 
Mineração de metais 447.029 203 0,2 
Total 237.711.136 107.921 91,8 
* A lista não inclui os setores com múltiplos códigos que descartam 
8.680 toneladas métricas 
 
Tabela 2B: As dez principais substâncias químicas por volume descar-
tado em água de superfície (1999) 
Substância química Libras Toneladas métricas Percentual total 
Compostos de nitrato 231.367.165 105.041 89,4 
Amônia 7.917.711 3.595 3,1 
Compostos de manganês 5.398.239 2.451 2,1 
Metanol 3.873.380 1.759 1,5 
Compostos de bário 2.182.327 991 0,8 
Nitrito de sódio 1.593.212 723 0,6 
Compostos de zinco 1.373.162 623 0,5 
Etilenoglicol 544.047 247 0,2 
Cloro 391.583 178 0,2 
Composto de cobre 361.467 164 0,1 
Total 254.640.826 115.607 98,4 
 
A Figura 2 mostra a redução das descargas nos Estados Unidos, de 1988 
a 1996, de produtos químicos listados no toxic release inventory (TRI), que é 
mantido pela EPA, a agência de proteção ambiental norte-americana. As des-
cargas nas águas de superfície foram reduzidas em quase quatro vezes, e as 
transferências para o serviço público de tratamento de água e esgoto (POTWs, 
do inglês, Publicly Owned Treatment Works) se reduziram quase à metade. As 
transferências para as POTWs são particularmente significativas porque essas 
estações são destinadas a tratar, primariamente, o esgoto doméstico e têm sido 
frequentemente inutilizadas pelos descartes industriais no passado. Na reali-
dade, a Figura 2 minimiza a melhoria nas descargas de poluentes porque o TRI 
é uma combinação de todas as substâncias químicas e as mais abundantes de-
 
 
 
16 
las são as menos tóxicas (veja a Tabela 2B). As liberações das substâncias quí-
micas mais tóxicas foram reduzidas em proporções mais acentuadas. As figuras 
3 e 4 indicam que as transferências às POWTs foram reduzidas em cinco e nove 
vezes para benzeno e cromo, respectivamente, duas substâncias que são reco-
nhecidamente causadoras de câncer (as descargas para as águas de superfície 
foram menos reduzidas, pois eram relativamente baixas para começar). 
 
Figura 2: Tendências nas descargas industriais de todas as substâncias 
químicas do Toxic Release Inventory (TRI) com potencial impacto sobre a qua-
lidade da água 
 
Fonte: Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, Office of Environmental 
Information (1999), 1999 Toxic Release Inventory, Public Data Release (Washington, DC: U.S. 
EPA). 
 
Figura 3: Tendências nas descargas industriais de benzeno com poten-
cial impacto sobre a qualidade da água 
 
 
 
17 
 
Fonte: Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, Office of Environmental 
Information (1999), 1999 Toxic Release Inventory, Public Data Release (Washington, DC: U.S. 
EPA). 
 
 
Figura 4: Tendências nas descargas industriais de cromo e compostos 
de cromo com impacto potencial sobre a qualidade da água 
 
Fonte: Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, Office of Environmental 
Information (1999), 1999 Toxic Release Inventory, Public Data Release (Washington, DC: U.S. 
EPA). 
 
As fontes não-pontuais representam um problema mais complicado. Elas 
incluem as emissões provenientes dos veículos de transporte, do escoamento 
 
 
 
18 
superficial da agricultura, que pode carregar excesso de nutrientes, pesticidas e 
lodo para rios e aquíferos, e do escoamento superficial urbano, que pode carre-
gar metais tóxicos e orgânicos dos bueiros para as usinas de tratamento de es-
goto ou diretamente para rios e lagos (veja a Figura 5). O progresso obtido no 
controle de fontes pontuais de poluição chamou a atenção para as fontes não-
pontuais, que respondem por uma parcela crescente da carga total de poluentes. 
Por exemplo, a contribuição relativa para a carga de cádmio (Cd) no rio Reno, 
de fontes pontuais e não-pontuais, mudou drasticamente entre meados dos anos 
1970 e meados dos anos 1980 (veja a Figura 6). Enquanto a maior parte do Cd 
veio de fontes pontuais na década de 1970, esse cenário mudou, graças aos 
controles industriais. Agora a maior parcela de Cd provém de fontes não-pontu-
ais, como o escoamento superficial urbano e agrícola (o Cd é um fator de conta-
minação presente na poeira urbana bem como no fertilizante à base de fosfato). 
Como se mencionou, as fontes não-pontuais são responsáveis pela fertilização 
excessiva de lagos e baías. 
 
Figura 5: Poluição de fontes não-pontuais, de áreas agrícolas e urbanas 
 
 
 
 
 
 
19 
Figura 6: Estimativa das cargas anuais de cádmio em várias estações 
no rio Reno e em seus afluentes. A estação de Lobith fica na fronteira entre 
Alemanha e Holanda; a carga de cádmio lá representa a soma de todas as en-
tradas rio acima na bacia do Reno. A bacia inclui a maior parte da Suíça, o nor-
deste da França, Luxemburgo, uma grande parte do sudoeste da Alemanha e a 
maior parte dos Países Baixos 
 
Fonte: H. Behrendt. Point and diffuse loads of selected pollutants in the River Rhine 
and its main tributaries, Report RR-93-1, Laxenburg, Áustria: International Institute for Applied 
Systems Analysis, 1993. Copyright© 1993, International Institute for Applied Systems Analysis. 
Reprodução autorizada. 
 
Abastecimento humano 
 
Dentre os vários usos da água, esse é considerado o mais nobre e priori-
tário, uma vez que o homem depende de uma oferta adequada de água para 
sua sobrevivência. A qualidade de vida dos seres humanos está diretamente 
ligada à água, pois ela é utilizada para o funcionamento adequado de seu orga-
nismo, o preparo de alimentos, a higiene pessoal e de utensílios. Usamos a água 
também para irrigação de jardins, lavagem de veículos e pisos, usos esses com 
exigências menores em relação à qualidade. 
A água usada para abastecimento doméstico deve apresentar caracterís-
ticas sanitárias e toxicológicas adequadas, tais como estar isenta de organismos 
 
 
 
20 
patogênicos e substâncias tóxicas, para prevenir danos à saúde e ao bem-estar 
do homem. Organismos patogênicos são aqueles que transmitem doenças pela 
ingestão ou contato com a água contaminada, como bactérias, vírus, parasitas, 
protozoários, que podem causardoenças como disenteria, febre tifoide, cólera, 
hepatite e outras. A Organização Mundial de Saúde estima que, das 13.700 pes-
soas que morrem por dia por causa de doenças transmitidas pela água, mais da 
metade são crianças com menos de cinco anos de idade. Essas doenças são 
facilmente evitáveis com a existência de saneamento básico adequado. 
Água potável é aquela que não causa danos à saúde nem prejuízo aos 
sentidos. Deve haver uma preocupação com a aparência da água porque um 
consumidor insatisfeito com o aspecto da água oferecida pode utilizar água de 
outro manancial com melhor aspecto. Todavia, não existe uma relação biunívoca 
entre aspecto e qualidade da água, de modo que uma água com melhor aspecto 
pode ser mais nociva à saúde do que outra com mau aspecto, dependendo das 
substâncias dissolvidas e dos organismos patogênicos existentes em ambas. 
 
Abastecimento industrial 
 
A água é usada na indústria em seu processo produtivo, por exemplo, 
como solvente em lavagens e em processos de resfriamento. Não existe um re-
quisito de qualidade da água genérico para todas as indústrias, pois cada uso 
específico apresenta requisitos particulares. Indústrias que processam produtos 
farmacêuticos, alimentícios e de bebidas estão entre aquelas que precisam de 
qualidade elevada. Indústrias que utilizam a água para resfriamento devem usar 
água isenta de substâncias que causem o aparecimento de incrustações e cor-
rosão nos condutos. Indústrias envolvidas com processos de tingimento de teci-
dos e louças devem ter à disposição água isenta de produtos que propiciem o 
aparecimento de manchas no produto. 
 
 
 
 
 
 
 
21 
Irrigação 
 
A qualidade da água utilizada na irrigação depende do tipo de cultura a 
ser irrigada. Por exemplo, para o cultivo de vegetais que são consumidos crus, 
a água deve estar isenta de organismos patogênicos que poderão atingir o con-
sumidor desse produto. Essa água também deve estar isenta de substâncias 
que sejam tóxicas aos vegetais ou aos seus consumidores. 
Outro aspecto de importância fundamental diz respeito ao teor de sais 
dissolvidos na água empregada para a irrigação. Excesso de sais dissolvidos 
pode afetar a atividade osmótica das plantas, bem como prejudicar o aproveita-
mento de nutrientes do solo, influir diretamente no metabolismo das plantas e, 
ainda, reduzir a permeabilidade do solo, dificultando a drenagem e a aeração. 
Esquemas de irrigação mal operados arruinaram grandes áreas de solo original-
mente férteis em consequência do efeito da salinização e do encharcamento dos 
solos. 
É importante observar também que a irrigação representa o uso mais in-
tenso dos recursos hídricos, sendo responsável por aproximadamente 70% do 
consumo de água doce do mundo. Além disso, ela pode carrear para os corpos 
de água superficiais e subterrâneos as substâncias empregadas para o aumento 
de produtividade da agricultura. Entre tais substâncias, destacam-se os fertili-
zantes sintéticos e os defensivos agrícolas. 
 
Geração de energia elétrica 
 
A água é utilizada para fins energéticos por meio da geração de vapor de 
água nas usinas termoelétricas ou pelo aproveitamento de energia potencial ou 
cinética da água nas usinas hidrelétricas. Em ambos os casos, os requisitos de 
qualidade da água são pouco restritivos, a não ser pelo controle de substâncias 
que possam afetar a durabilidade e a manutenção dos equipamentos utilizados. 
O aproveitamento dos recursos hídricos para fins energéticos pode intro-
duzir uma série de impactos ambientais no meio aquático. As usinas termoelé-
tricas podem despejar calor nos corpos de água, afetando o ecossistema de vá-
rias maneiras. As usinas hidrelétricas dependem, em geral, da existência de uma 
barragem que crie um desnível entre as superfícies livres de água localizadas 
 
 
 
22 
nos lados a montante e a jusante. Como consequência, o rio a montante da bar-
ragem transforma-se em um lago, o que altera o ecossistema aquático, pois ele 
passa de um ambiente de altas velocidades e alta turbulência (rio) para um am-
biente de baixas velocidades e baixa turbulência (lago). 
 
Navegação 
 
O transporte de carga e passageiros por via fluvial, lacustre e marítima é 
frequentemente uma alternativa bastante interessante sob o ponto de vista eco-
nômico. Para isso, a água existente no meio deve estar isenta de substâncias 
que sejam agressivas ao casco e condutos de refrigeração das embarcações 
e/ou que propiciem a proliferação excessiva de vegetação, causando inconveni-
entes à navegação. 
A navegação pode perturbar o meio ambiente ao despejar substâncias 
poluidoras das embarcações no meio aquático, seja de modo deliberado ou aci-
dental. Os portos também são um potencial poluidor pela mesma razão. Temos, 
por exemplo, o caso de terminais petrolíferos, nos quais podem ocorrer os vaza-
mentos de petróleo. 
A navegação fluvial requer um leito adequado em termos de profundidade 
e curvas para o deslocamento das embarcações. A velocidade do curso de água 
é outro fator importante para a viabilização desse tipo de navegação. Assim, para 
a implantação da navegação fluvial podem ser necessárias alterações no canal 
como, por exemplo, a implantação de barragens com obras de transposição de 
nível. 
 
Assimilação e transporte de poluentes 
 
Os corpos de água podem ser utilizados com a finalidade de assimilar e 
transportar os despejos neles lançados. A jusante do lançamento, as concentra-
ções do poluente dependerão em parte da razão de diluição, isto é, da relação 
entre a vazão do rio e a vazão do despejo. Se a razão de diluição for alta, as 
concentrações podem ser baixas o suficiente para não causar impactos sobre 
outros usos de água. A diluição, no entanto, não deve ser recomendada em 
 
 
 
23 
substituição ao tratamento dos despejos, devendo somente ser utilizada para a 
carga residual das estações de tratamento. O comportamento dos corpos de 
água como receptores de despejos varia em função de suas características físi-
cas, químicas e biológicas e da natureza das substâncias lançadas. 
 
Preservação da flora e fauna 
 
O equilíbrio ecológico do meio aquático deve ser mantido, independente-
mente dos usos que se façam dos corpos de água. Para isso, deve-se garantir 
a existência de concentrações mínimas de oxigênio dissolvido e de sais nutrien-
tes na água. Ela não deve conter substâncias tóxicas acima de concentrações 
críticas para os organismos aquáticos. Aquicultura A criação de organismos 
aquáticos de interesse para o homem requer padrões de qualidade da água pra-
ticamente idênticos aos necessários para a preservação da flora e da fauna, ha-
vendo possivelmente algumas considerações específicas para o favorecimento 
da proliferação de certas espécies. 
 
Recreação 
 
Os corpos de água oferecem várias alternativas de recreação para o ho-
mem, seja por meio de atividades como a natação e os esportes aquáticos ou 
por meio de outras atividades como a pesca e a navegação esportiva. O contato 
com a água pode ser primário, tal qual o que ocorre quando há um contato físico 
proposital com a água, como na natação. É evidente que a água não deve apre-
sentar organismos patogênicos e substâncias tóxicas em concentrações que 
possam causar danos à saúde pelo contato com a pele ou por ingestão. O con-
tato secundário ocorre de forma acidental em atividades como a navegação es-
portiva. 
Do ponto de vista estético, os corpos de água poluídos são inconvenien-
tes ao homem em decorrência da liberação de odores desagradáveis, da pre-
sença de substâncias flutuantes e da turbidez excessiva. Frequentemente, tais 
corpos de água estão próximos de centros urbanos, não sendo utilizados para 
fins recreativos. Existe um valor econômico bastante expressivo associado ao 
 
 
 
24 
aspecto estético da água. Por exemplo, são bastante valorizadas as proprieda-
despróximas a corpos de água. Problemas com a água desvalorizam essas pro-
priedades, prejudicando o uso dos rios e lagos como recursos paisagísticos. 
 
REGULAMENTAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA 
 
Governos no mundo todo tentam regulamentar a qualidade da água, ze-
lando pelos interesses da saúde pública e da proteção ambiental. Nos Estados 
Unidos, os instrumentos legais de regulamentação são duas leis básicas, o 
Clean Water Act (CWA ou Lei da Água Limpa), de 1972, e o Safe Drinking Water 
Act (SDWA ou Lei da Água Potável), de 1974, sendo que ambas já receberam 
várias emendas. Sob essas leis, a EPA deve estabelecer os padrões que prote-
jam dos efeitos prejudiciais dos contaminantes – as descargas de poluentes de 
fonte pontual estão sujeitas a um processo de autorização; as indústrias são in-
formadas sobre as melhores tecnologias disponíveis de controle da poluição e 
recursos são fornecidos aos municípios para a construção de usinas de trata-
mento de esgoto. Iniciativas semelhantes foram adotadas na maioria dos demais 
países industrializados. Essas medidas ajudaram a gerar reduções acentuadas 
nas descargas de poluentes em corpos d’água. 
Pela SDWA, foram estabelecidos padrões para microrganismos, nuclí-
deos radioativos e 54 substâncias químicas orgânicas e 14 inorgânicas, que po-
dem ser encontrados na água para beber. Os padrões (que podem ser encon-
trados no site da EPA: http://www.epa.gov/safewater/mcl.html) são estipulados 
como os níveis máximos de contaminação (MCL, do inglês, maximum contami-
nant level), que são os mais próximos do que é tecnicamente viável como meta 
de nível máximo de contaminação (MCLG, do inglês, Maximum Contaminant Le-
vel Goal). O MCLG é o nível de contaminação de água potável abaixo do qual 
não existe nenhum risco conhecido ou provável à saúde. Embora pareça sen-
sato, o MCLG é uma quantidade difícil de estabelecer. Quanto mais dados sobre 
os efeitos à saúde são coletados e medidas mais sensíveis são usadas, os 
MCLGs tendem a ser reajustados para baixo. Em muitos casos, pode não haver 
limite abaixo do qual algum efeito à saúde possa ser esperado. Na verdade, vá-
rios MCLGs foram estipulados em zero (por exemplo, benzeno, diclorometano, 
 
 
 
25 
tetracloreto de carbono, dioxina, PCBs, chumbo), embora zero seja uma meta 
inatingível. 
Os MCLs impostos pela lei são definidos levando-se em consideração a 
melhor tecnologia disponível que seja economicamente viável. Os MCLs variam 
de um alto 10 mg/L (íon nitrato) para um baixo 0,0002 mg/L (epóxido de heptaclor 
e lindano). Para os microrganismos, a regra é que a filtragem e a desinfecção 
devem remover ou tornar inativos 99,9% de Giardia e 99,99% de vírus, sendo 
que não mais que 5% de amostras por mês podem apresentar resultado positivo 
a testes de bactérias coliformes. No caso do cobre e do chumbo, a fonte de 
contaminação da água para beber é geralmente o sistema de encanamento; e 
as estações de água são obrigadas a adotar medidas de tratamento, caso 10% 
das amostras de água de torneira excedam a 1,3 mg/L de cobre ou 0,015 mg/L 
de chumbo. 
Para as águas de superfície em geral, a questão da qualidade se resume 
à sua capacidade de sustentar os ecossistemas aquáticos e os usos humanos, 
como nadar e pescar. A Lei da Água Limpa (CWA), de 1972, estabeleceu um 
mecanismo de proteção dessas águas ao exigir que os estados determinassem 
uma carga diária máxima total (TMDL, do inglês, total maximum daily load) de 
poluentes a um nível que assegurasse os padrões de qualidade da água em um 
dado canal. Se a TMDL for ultrapassada, as reduções exigidas de poluição de-
vem ser distribuídas entre as fontes poluidoras. Essa cláusula da lei não foi exe-
cutada por muitos anos, até que processos judiciais movidos por grupos ambi-
entais em mais de 30 estados levaram a EPA a propor uma lei de implementação 
em 1999. A necessidade de ação foi justificada pelos resultados de uma pes-
quisa em 1998 que indicou que cerca de 40% dos rios, lagos e estuários avalia-
dos nos Estados Unidos não estavam limpos o suficiente para permitir usos 
como nadar ou pescar. A lei da EPA especifica procedimentos a serem seguidos 
pelos estados na identificação dos canais afetados, estabelece um orçamento 
para redução nos níveis de poluição e elabora um plano de implementação. Em-
bora se destine a implantar uma lei de 30 anos e ofereça aos estados até mais 
15 anos para adotá-la, a nova regra recebeu forte oposição devida à dificuldade 
de controle das fontes não-pontuais de poluição, que se tornaram o novo campo 
de batalha da proteção ambiental. Parte das cláusulas da nova regra da EPA 
visa a submeter a poluição gerada pela silvicultura e a agricultura às leis da 
 
 
 
26 
CWA, embora esses setores tenham sido anteriormente isentados. Grande parte 
da oposição está centrada nessas cláusulas. 
 
TRATAMENTO DE ÁGUAS E ESGOTOS 
 
Os municípios tratam suas provisões de água para usos residencial e co-
mercial visando a garantir a imunização contra doenças e eliminar odores e tur-
vação; eles tratam os esgotos para reduzir a poluição da água e a eutrofização. 
No primeiro caso, o tratamento começa com a aeração para a remoção de odo-
res por meio da purificação dos gases dissolvidos e dos compostos orgânicos 
voláteis. A aeração também oxida qualquer Fe2+ em Fe3+, formando Fe(OH)3 e 
acarretando a precipitação. Íons de Fe3+ ou Al3+ são adicionados de forma deli-
berada, em geral como sal de sulfato, juntamente com o calcário para ajustar o 
pH. Uma volumosa precipitação de Fe(OH)3 ou Al(OH)3 é produzida, o que con-
fina as partículas sólidas que podem estar em suspensão no suprimento de 
água. Quando a precipitação é coletada e removida, a água é bastante clarifi-
cada. Se compostos orgânicos dissolvidos necessitarem ser removidos, a água 
poderá ser passada por um filtro de carvão ativado, embora essa medida seja 
cara e incomum. Finalmente, adiciona-se o desinfetante – cloro, dióxido de cloro 
ou ozônio – para matar os microrganismos e fornecer água própria para con-
sumo. 
Analogamente, o tratamento de esgoto depende em grande parte do as-
sentamento e da filtragem para remover sólidos; essa etapa de separação física 
é chamada de tratamento primário. A maioria dos municípios também realiza um 
tratamento secundário, que aproveita as bactérias para metabolizar os compos-
tos orgânicos, convertendo-os em CO2. Desse modo, a DBO é consideravel-
mente reduzida (veja a Figura 7). Se o esgoto não for metabolizado dessa ma-
neira, a DBO dos efluentes pode superar a capacidade de oxidação das águas 
receptoras, levando às condições anóxias. No tratamento secundário, o efluente 
é pulverizado sobre um leito de areia ou cascalho que é coberto por microrga-
nismos aeróbios, ou então agitado com os micróbios em um reator. Ao final 
desse processo, a DBO é reduzida em até 90%. 
 
 
 
 
27 
 
Figura 7: Tratamento primário e secundário de efluentes municipais 
 
 
Embora convertam a maior parte da matéria orgânica em CO2, os micró-
bios também incorporam parte dela nas novas células à medida que a cultura 
cresce. Essas células devem ser colhidas de tempos em tempos e adicionadas 
ao lodo de esgoto proveniente do reservatório de assentamento primário. A dis-
posição do lodo de esgoto é uma questão importante no tratamento de esgoto 
municipal. Por ser principalmente composto de matéria orgânica, o lodo constitui 
um excelente fertilizante, teoricamente. Na prática, sua aplicação aos cultivos é 
restrita por causa da frequente presença de metais tóxicos que são lançados nos 
efluentes por fontes domésticas e industriais ou pelo escoamento superficial ur-
bano, quando os bueiros se conectam com as linhas de esgoto. Alternativa-
mente, o lodo pode ser incinerado e fornecer energia para aquecimento ou ele-
tricidade. Outra opção é converter parte do lodo em metano, um combustível de 
alta qualidade, digerindo-o com bactériasanaeróbias. Entretanto, a baixa viabi-
lidade econômica e a oposição local geralmente inviabilizam essas opções. Por 
conseguinte, boa quantidade do lodo de esgoto acaba nos aterros. Mas, con-
forme os aterros lotam, a pressão pela aplicação agrícola aumenta e a questão 
dos riscos causados pelos metais e de sua remoção volta a ser analisada com 
atenção. Se o problema dos metais pudesse ser solucionado, o lodo poderia se 
 
 
 
28 
tornar um valioso recurso como fertilizante, em vez de um problema de descarte 
ambiental. 
Embora seja eficaz em reduzir a DBO, o tratamento secundário pouco faz 
em termos de reduzir as concentrações de íons inorgânicos, em particular, NH4
+, 
NO3
– e PO4
3–. Esses íons solúveis são liberados com os efluentes onde podem 
causar eutrofia às águas receptoras. Sua remoção exige tratamento terciário, em 
que etapas químicas adicionais são acrescentadas (veja a Figura 7). Desse 
modo, o fosfato é removido pela precipitação com o calcário, produzindo o mi-
neral insolúvel hidroxiapatita, Ca5(PO4)3(OH). O NH4
+ pode ser convertido em 
NH3 volátil adicionando-se calcário para elevar o pH, o qual é, a seguir, baixado 
novamente por injeção de CO2 para voltar a precipitar o calcário. Finalmente, os 
compostos orgânicos restantes podem ser filtrados com carvão ativado e o de-
sinfetante pode ser adicionado para produzir água bastante pura. Essas etapas 
de tratamento aumentam significativamente os custos; a eliminação da amônia 
em particular consome energia de forma intensiva. Um processo alternativo, que 
requer menos energia, é usar as bactérias nitrificadoras para converter NH4
+ em 
NO3
– e, a seguir, as bactérias desnitrificadoras para converter NO3
– em N2. En-
tretanto, essas bactérias exigem cuidadoso controle das condições de desenvol-
vimento. Ainda existe a alternativa de espalhar água do tratamento secundário 
sobre uma área alagadiça que possa filtrar eficazmente os fosfatos e nitratos 
(vale lembrar a discussão da Figura 8, em que as áreas alagadiças na costa 
dinamarquesa serviam como uma armadilha de nutrientes para proteger o mar 
da eutrofização até que fossem drenadas). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
Figura 8: Tratamento terciário de efluente municipal 
 
 
RISCOS À SAÚDE 
 
Patogenias e desinfecção 
 
A propagação de microrganismos patogênicos pelo suprimento de água 
é o mais grave risco de poluição à saúde humana. As patogenias disseminadas 
pela água estão presentes em todo o mundo. Até as águas não tocadas pelos 
seres humanos podem ser contaminadas por resíduos animais. Os adeptos das 
caminhadas por trilhas que bebem água não tratada de rios aparentemente pu-
ros geralmente são infectados pelos micróbios da Giardia. 
Os problemas mais sérios, porém, são criados pela contaminação da 
água potável por resíduos humanos. A falta de tratamento de esgoto e de sua 
separação da água destinada ao consumo contribui muito para a propagação de 
doenças ao redor do mundo. A água insalubre é um dos problemas humanos 
mais difundidos, principalmente nos países em desenvolvimento. 
A desinfecção pode assumir muitas formas diferentes, sendo que uma 
das mais antigas se baseia na remoção de patogenias pela própria terra. A água 
filtrada pelo solo e pela rocha, para aquíferos profundos, é geralmente livre de 
 
 
 
30 
micróbios. Consequentemente, a água de poços é normalmente isenta de pato-
genias. Entretanto, se o nível d’água for raso ou se o solo estiver pesadamente 
carregado de resíduos humanos e animais a capacidade de filtragem do solo 
poderá ser suplantada e os poços serão contaminados. 
O modo de impedir a contaminação microbial consiste em manter o supri-
mento de água o mais livre possível de emissões de efluentes e tratá-lo com um 
desinfetante. Os desinfetantes atualmente em uso são ozônio, dióxido de cloro 
e cloro. Desses, o mais comum é o cloro. Quando o cloro é adicionado à água, 
ele é desproporcionado: 
 
Cl2 + H2O ⇌ HOCl + H+ + Cl– | 1 
 
O HOCl (ácido hipocloroso) é um oxidante; o Cl está no estado de oxida-
ção +1 e é prontamente reduzido para Cl–. O HOCl é o ingrediente ativo da mai-
oria dos alvejantes, descolorindo tecidos pela oxidação das moléculas coloridas 
(as cores geralmente refletem a presença de várias ligações duplas, que são 
suscetíveis à oxidação). Por ser uma molécula neutra, o HOCl passa pelas pa-
redes das células dos microrganismos e os mata pela oxidação de moléculas 
vitais. Igualmente, o ozônio e o dióxido de cloro são oxidantes poderosos e fáceis 
de dispersar, sendo também capazes de matar os micróbios. 
O cloro é um desinfetante eficaz e relativamente barato com comprovado 
registro de sucesso. No entanto, seu uso se tornou controverso porque é capaz 
de introduzir moléculas organocloradas na água de beber. O HOCl não é apenas 
um oxidante, mas também um agente de cloração. Os hidroxibenzenos, em par-
ticular, são prontamente atacados pelo HOCl e convertidos em uma variedade 
de compostos clorados. Embora os hidroxibenzenos possam estar presentes 
nos resíduos industriais, também são encontrados naturalmente nas águas de 
superfície como componentes dos ácidos húmicos. Os ácidos húmicos são mo-
léculas complexas que contêm anéis de benzeno com uma série de substituin-
tes, incluindo hidroxilas. Embora poliméricos, alguns ácidos húmicos se dissol-
vem nas águas de superfície ou subterrâneas e penetram no suprimento de 
água. Um dos produtos de reação mais abundantes do HOCl com os ácidos 
húmicos é o clorofórmio, CHCl3. Os suprimentos de água bastante cloradas, por-
 
 
 
31 
tanto, apresentam níveis de vestígios de clorofórmio. Suspeita-se que o clorofór-
mio seja um carcinógeno de fígado nos seres humanos e há alguma evidência 
epidemiológica de um moderado aumento no risco de câncer de bexiga e retal 
decorrente de água para beber clorada. 
O clorofórmio (e a maioria das demais moléculas orgânicas) pode ser re-
movido da água por meio da filtragem com carvão ativado, mas essa medida é 
cara. Alternativamente, o cloro está sendo substituído em algumas comunidades 
por ozônio ou dióxido de cloro (embora o último contenha Cl, não se trata de um 
agente de cloração efetivo). O uso desses desinfetantes alternativos está disse-
minando-se amplamente, principalmente na Europa. Custam mais do que o Cl2, 
porque são reativos demais para serem armazenados ou transportados, de-
vendo, portanto, ser gerados in loco. O O3 é gerado por uma descarga elétrica 
no ar, e o ClO2 é produzido pela oxidação do íon clorito, ClO2
– (geralmente com 
o Cl2, que é reduzido no processo para Cl–). Outra desvantagem de ambos os 
agentes é que agem e se decompõem rapidamente. Em contraposição, o HOCl 
é menos reativo; atua mais lentamente e perdura por algum tempo na água. A 
durabilidade é uma vantagem em muitos sistemas de água em que a tubulação 
antiga e sujeita a vazamentos permite considerável infiltração de água que está 
ao redor. O HOCl oferece uma medida de proteção contra patogenias que pos-
sam penetrar no suprimento por intermédio desses vazamentos. Por essa razão, 
mesmo quando o O3 e o ClO2 são utilizados como o desinfetante primário, uma 
pequena dosagem de ClO2 é geralmente adicionada à água antes que ela circule 
pelo sistema de distribuição. 
 
Contaminantes orgânicos e inorgânicos 
 
As águas de superfície e as subterrâneas podem ser contaminadas pela 
migração de substâncias químicas de aterros mal preservados, áreas de resí-
duos industriais, derramamentos acidentais e vazamentos em tanques de arma-
zenamento, principalmente os subterrâneos. A regulamentação sobre a limpeza 
de vazamentos em tanques de petróleo e gasolina no subsolo se tornou uma 
das principais preocupações de proprietários de imóveis residenciais e postos 
de gasolina nos Estados Unidos. Os poços de água potável podem ser contami-
nados por vestígios de frações de petróleo, solventes cloradosou PCBs (bifenil 
 
 
 
32 
policlorado – antigamente usado em transformadores e bombas) Esses compos-
tos orgânicos ligeiramente solúveis podem escapar do confinamento e migrar 
através do solo- eles geralmente se acumulam em reservatórios no subsolo, de 
onde lentamente penetram o nível d’água no decorrer de um longo período. 
Como já discutido, os vazamentos em reservatórios de gasolina recentemente 
contaminaram muitos poços com o aditivo solúvel em água MTBE, acarretando 
sua eliminação do suprimento de gasolina. 
Os lixões e os derramamentos também podem lixiviar íons metálicos para 
a água. Seu transporte é regido pelos equilíbrios químicos, que são, por sua vez, 
influenciados pelo pH do solo e o E(w), conforme discutido nas seções anterio-
res. Quando esses íons penetram em rios e lagos, alguns metais, como o cádmio 
e o mercúrio, bem como a maioria dos compostos orgânicos lipofílicos, se bioa-
cumulam na cadeia alimentar aquática e podem tornar os peixes impróprios para 
o consumo. Às vezes, poços são escavados em aquíferos que contêm altos ní-
veis de minerais tóxicos de fontes naturais, como ilustram de forma dramática os 
trágicos envenenamentos por arsênio em Bangladesh. 
A recuperação de solos e sedimentos contaminados é extremamente di-
fícil. A água contaminada pode ser extraída por poços especialmente escavados 
e tratada por aeração para volatilizar os compostos orgânicos mais leves, ou por 
filtragem a carvão para remover os compostos orgânicos mais pesados e os me-
tais. Entretanto, por causa aos volumes envolvidos, essa abordagem de ‘bom-
bear e tratar’ é cara; além disso, sua eficácia é geralmente limitada pelas baixas 
velocidades de transferência de contaminantes dos reservatórios no solo para a 
água em circulação. Solos e sedimentos seriamente contaminados podem ser 
escavados ou dragados e depositados em outro lugar, supostamente seguro, 
mas encontrar uma área apropriada para entulho não é tarefa fácil. Além disso, 
a ação de escavar ou dragar pode remexer e transferir quantidades considerá-
veis de material contaminado para o ar e a água adjacentes. 
As áreas agrícolas podem ter problemas de água associados com a apli-
cação generalizada de fertilizantes, herbicidas e pesticidas. Embora a tendência 
no uso de herbicida e pesticida tenha por algum tempo se deslocado de com-
postos orgânicos de vida longa para aqueles que se decompõem com relativa 
rapidez no meio ambiente, alguns herbicidas e pesticidas ainda podem se acu-
mular no subsolo, ocasionalmente ameaçando os poços em áreas rurais. 
 
 
 
33 
Os fertilizantes podem aumentar o nível de íons nitrato nos aquíferos. O 
principal risco do nitrato à saúde é a ‘síndrome do bebê azul’, uma condição de 
falha respiratória em bebês com excesso de nitrato na dieta alimentar. Parte do 
nitrato é reduzida pelas bactérias anaeróbias no estômago para íon nitrito, NO2
–
. O nitrito oxida o íon Fe2+ na hemoglobina para Fe3+, que é incapaz de ligar-se 
ao O2. A hemoglobina contendo Fe3+ é designada como metamoglobina e a con-
dição conhecida como metamoglobinemia. Em adultos, a metamoglobina é rapi-
damente reduzida de volta para a forma de Fe2+, mas, em bebês, esse processo 
é lento. A metamoglobinemia induzida por nitrato é atualmente rara nos países 
industrializados, mas continua preocupante nos países em desenvolvimento. 
Outra preocupação sobre o nitrato reside na possibilidade de que o nitrito 
produzido no estômago possa reagir com as aminas na dieta e produzir N-nitro-
saminas, R2NNO. Testes em animais demonstraram que as nitrosaminas são 
carcinógenas. Entretanto, os níveis de nitrato na água para beber são muito in-
feriores do que em produtos de carne defumada ou queijos, aos quais se acres-
centa nitrato para inibir a bactéria que causa o botulismo. Órgãos governamen-
tais instituíram programas para reduzir os níveis de nitrato e nitrito em produtos 
alimentícios e alguns fabricantes agora adicionam vitaminas C e E para bloquear 
a formação de nitrosamina. 
 
REÚSO DA ÁGUA 
 
Nas regiões áridas e semiáridas, a água tornou-se um fator limitante para 
o desenvolvimento urbano, industrial e agrícola. Planejadores e entidades ges-
toras de recursos hídricos procuram, continuamente, novas fontes de recursos 
para complementar a pequena disponibilidade hídrica ainda disponível. 
No polígono das secas do Nordeste brasileiro, o problema é ressaltado 
por um anseio, que já existe há 75 anos, de transposição do Rio São Francisco, 
visando ao atendimento da demanda dos estados não riparianos da região se-
miárida, situados ao norte e a leste de sua bacia de drenagem. Diversos países 
do Oriente Médio, onde a precipitação média oscila entre 100 mm e 200 mm por 
ano, dependem de alguns poucos rios perenes e pequenos reservatórios de 
água subterrânea, geralmente localizados em regiões montanhosas, de difícil 
 
 
 
34 
acesso. A água potável é obtida por sistemas de dessalinização da água do mar 
e, em razão da impossibilidade de manter uma agricultura irrigada, mais de 50% 
dos produtos alimentícios básicos são importados. 
O fenômeno da escassez não é, entretanto, atributo exclusivo das regiões 
áridas e semiáridas. Muitas regiões com recursos hídricos abundantes, mas in-
suficientes para atender a demandas excessivamente elevadas, também expe-
rimentam conflitos de usos e sofrem restrições de consumo que afetam o desen-
volvimento econômico e a qualidade de vida. A Bacia do Alto Tietê, que abriga 
uma população superior a 15 milhões de habitantes e um dos maiores comple-
xos industriais do mundo, dispõe, pela sua condição característica de manancial 
de cabeceira, de vazões insuficientes para a demanda da Região Metropolitana 
de São Paulo e municípios circunvizinhos. Essa condição tem levado à busca 
incessante de recursos hídricos complementares de bacias vizinhas, que trazem, 
como consequência direta, aumentos consideráveis de custo, além dos eviden-
tes problemas legais e político-institucionais associados. Essa prática tende a se 
tornar cada vez menos frequente diante da conscientização popular, arregimen-
tação de entidades de classe e do desenvolvimento institucional dos comitês de 
bacias afetadas pela perda de recursos hídricos valiosos. 
Nessas condições, o conceito de ‘substituição de fontes’ apresenta-se 
como a alternativa mais plausível para satisfazer demandas menos restritivas, 
liberando as águas de melhor qualidade para usos mais nobres, como o abaste-
cimento doméstico. Em 1985, o Conselho Econômico e Social das Nações Uni-
das estabeleceu uma política de gestão para áreas carentes de recursos hídricos 
que adota o seguinte conceito: “a não ser que exista grande disponibilidade, ne-
nhuma água de boa qualidade deve ser utilizada para usos que toleram águas 
de qualidade inferior”. 
As águas de qualidade inferior, tais como esgotos, particularmente os de 
origem doméstica, águas de drenagem agrícola e águas salobras, devem, sem-
pre que possível, ser consideradas como fontes alternativas para usos menos 
restritivos. O uso de tecnologias apropriadas para o desenvolvimento dessas 
fontes é hoje, junto com a melhoria da eficiência do uso e o controle da demanda, 
a estratégia básica para a solução do problema da falta universal de água. 
Embora a prática de reuso seja uma ferramenta bastante útil para minimi-
zar os problemas de escassez de água, principalmente em regiões urbanas e 
 
 
 
35 
industrializadas, a adoção dessa deve ser devidamente planejada de maneira a 
minimizar os riscos sobre a saúde humana e sobre o desempenho das atividades 
nas quais está sendo aplicado o reuso. 
 
Formas potenciais de reuso 
 
Graças ao ciclo hidrológico, a água é um recurso renovável. Quando re-
ciclada por meio de sistemas naturais, é um recurso limpo e seguro que é, pela 
atividade antrópica, deteriorada a níveis diferentes de poluição. Entretanto, uma 
vez poluída,a água pode ser recuperada e reusada para fins benéficos diversos. 
A qualidade da água utilizada e o objeto específico do reuso estabelecerão os 
níveis de tratamento recomendados, os critérios de segurança a serem adotados 
e os custos de capital e de operação e manutenção. As possibilidades e manei-
ras de reuso dependem, evidentemente, de características, condições e fatores 
locais, tais como decisão política, esquemas institucionais, disponibilidade téc-
nica e fatores econômicos, sociais e culturais. 
A Figura 9 apresenta, esquematicamente, os tipos básicos de possíveis 
usos de esgotos tratados que podem ser implementados tanto em áreas urbanas 
como rurais. 
 
 
Figura 9: Tipos de reuso 
 
 
 
 
36 
 
 
Usos urbanos 
 
No setor urbano, o potencial de reuso de efluentes é muito amplo e diver-
sificado. Entretanto, usos que demandam água com qualidade elevada reque-
rem sistemas de tratamento e de controle avançados, podendo levar a custos 
incompatíveis com os benefícios correspondentes. De uma maneira geral, esgo-
tos tratados podem, no contexto urbano, ser utilizados para fins potáveis e não 
potáveis. 
 
 
Usos urbanos para fins potáveis 
 
A presença de organismos patogênicos e de compostos orgânicos sinté-
ticos na grande maioria dos efluentes disponíveis para reuso, principalmente na-
queles oriundos de estações de tratamento de esgotos de grandes conurbações 
com polos industriais expressivos, faz com que sua recuperação com o objetivo 
de obter água potável seja uma alternativa associada a riscos muito elevados e 
praticamente inaceitável. Além disso, os custos dos sistemas de tratamento 
avançados que seriam necessários levariam à inviabilidade econômico-finan-
ceira do abastecimento público, não havendo, ainda, diante das considerações 
anteriormente efetuadas, garantia de proteção adequada da saúde pública dos 
consumidores. 
Entretanto, caso seja imprescindível implementar o reuso urbano para fins 
potáveis, devem ser obedecidos os seguintes critérios básicos: 
 
Utilizar apenas sistemas de reuso indiretos 
 
A Organização Mundial da Saúde não recomenda o reuso direto, ou seja, 
a conexão direta dos efluentes de uma estação de tratamento de esgotos a uma 
estação de tratamento de águas e, em seguida, ao sistema de distribuição. 
 
 
 
37 
O reuso indireto é a diluição dos esgotos, após tratamento, em um corpo 
hídrico (lago, reservatório ou aquífero subterrâneo), no qual, após tempos de 
detenção relativamente longos, é efetuada a captação, seguida de tratamento 
adequado e posterior distribuição. O conceito de reuso indireto implica, eviden-
temente, que o corpo receptor intermediário seja um corpo hídrico não poluído, 
para, por meio de diluição adequada, reduzir a carga poluidora a níveis aceitá-
veis. A prática do reuso para fins potáveis, como vem se pretendendo efetuar 
em São Paulo, na qual água altamente poluída por efluentes, tanto domésticos 
como industriais, é revertida, sem nenhum tratamento, para outro manancial, 
também extensivamente poluído por esgotos domésticos e por elevadas con-
centrações de cobre, utilizados para controle de algas, não se classifica, por-
tanto, como reuso indireto. 
 
Uso exclusivo de esgotos domésticos 
 
Em virtude da impossibilidade de identificar adequadamente a enorme 
quantidade de compostos de alto risco, particularmente micropoluentes orgâni-
cos presentes em efluentes líquidos industriais, mananciais que recebem ou re-
ceberam durante períodos prolongados esses efluentes são, a priori, desqualifi-
cados para a prática de reuso para fins potáveis. O reuso, para fins potáveis, só 
pode ser praticado tendo como matéria-prima básica esgotos exclusivamente 
domésticos. 
Na República da Namíbia, por exemplo, que vem tratando esgotos exclu-
sivamente domésticos para fins potáveis, os esgotos industriais são coletados 
em rede separada e tratados independentemente. Além disso, um controle in-
tensivo é efetuado pela municipalidade para evitar a descarga, mesmo acidental, 
de efluentes industriais ou compostos químicos de qualquer espécie no sistema 
de coleta de esgotos domésticos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
38 
Emprego de barreiras múltiplas nos sistemas de tratamento 
 
Os riscos elevados associados à utilização de esgotos, mesmo domésti-
cos, para fins potáveis exigem cuidados extremos para assegurar proteção efe-
tiva e permanente dos consumidores. Os sistemas de tratamento devem ter uni-
dades suplementares, além daquelas teoricamente necessárias. É recomendá-
vel, quando possível, reter os esgotos já tratados em aquíferos subterrâneos por 
períodos prolongados, antes de encaminhar a água para abastecimento público. 
No caso da República da Namíbia, esgotos exclusivamente domésticos, 
coletados na cidade de Windhoek, são inicialmente tratados na estação Gam-
mams Sewage Treatment Works, formada por grades, caixas de areia, decanta-
dores primários e sistema de lodos ativados, seguidos de lagoas de maturação. 
O efluente da estação de Gammams é encaminhado à Goreangab Reclamation 
Plant, para a fase de potabilidade dos efluentes domésticos tratados. Essa esta-
ção trabalha com processos de pré-ozonização, coagulação-floculação em pri-
meiro estágio, flotação com ar dissolvido, adsorção em carvão ativado em pó, 
coagulação-floculação em segundo estágio, sedimentação, filtros rápidos de 
areia, ozonização, de aeração e reciclagem de ozona, adsorção em carvão ati-
vado granular, cloração ao breakpoint, correção de pH com cal e armazena-
mento da água potável em lençol freático por longos períodos de onde é, poste-
riormente, removida por meio de poços e introduzida no sistema de abasteci-
mento público de Windhoek. 
Esse sistema vem operando desde outubro de 1968, e os estudos epide-
miológicos realizados até o momento demonstraram que as doenças transmis-
síveis prevalecentes no país (doenças diarreicas e Hepatite A) não são associa-
das à água reciclada que abastece a cidade. 
 
Conquista da aceitação pública - responsabilização pelo empreendimento 
 
Os programas de reuso para fins potáveis devem ser, desde a fase de 
planejamento, motivo de ampla divulgação e discussão com todos os setores da 
sociedade, que deve dar o aval para sua implementação. Por outro lado, as res-
 
 
 
39 
ponsabilidades técnica, financeira e moral que cabem às entidades encarrega-
das do planejamento, implementação e gestão do sistema de reuso devem ser 
explicitamente reconhecidas e assumidas. 
 
Usos urbanos para fins não potáveis 
 
Os usos urbanos não potáveis envolvem riscos menores e devem ser 
considerados como a primeira opção de reuso na área urbana. Entretanto, cui-
dados especiais devem ser tomados quando ocorre contato direto do público 
com a água reutilizada em gramados de parques, jardins, hotéis, áreas turísticas 
e campos de esporte. Os maiores potenciais desse processo são os que empre-
gam esgotos tratados para: 
 irrigação de parques e jardins públicos, centros esportivos, campos 
de futebol, quadras de golfe, jardins de escolas e universidades, 
gramados, árvores e arbustos em avenidas e rodovias; 
 irrigação de áreas ajardinadas ao redor de edifícios públicos, resi-
denciais e industriais; 
 reserva de proteção contra incêndios; 
 sistemas decorativos aquáticos, tais como fontes e chafarizes, es-
pelhos e quedas-d’água; 
 descarga sanitária em banheiros públicos e em edifícios comerci-
ais e industriais; e 
 lavagem de trens e ônibus públicos. 
Os problemas associados ao reuso urbano para fins não potáveis são, 
principalmente, os custos elevados de sistemas duplos de distribuição, dificulda-
des operacionais e riscos potenciais de ocorrência de conexões cruzadas. Os 
custos, entretanto, devem ser considerados em relação aos benefícios de con-
servar água potável e de, eventualmente, adiar ou eliminar a necessidade de 
desenvolvimento de novosmananciais para abastecimento público. 
Diversos países da Europa, assim como os países industrializados da 
Ásia localizados em regiões de escassez de água, exercem, extensivamente, a 
prática de reuso urbano não potável. Entre eles, o Japão vem utilizando efluentes 
 
 
 
40 
secundários para diversas finalidades. Em Fukuoka, uma cidade com aproxima-
damente 1,2 milhão de habitantes, situada no sudoeste do país, diversos setores 
operam com rede dupla de distribuição de água, uma das quais com esgotos 
domésticos tratados em nível terciário (lodos ativados, desinfecção com cloro 
em primeiro estágio, filtração, ozonização, desinfecção com cloro em segundo 
estágio) para uso em descarga de banheiros em edifícios residenciais. Esse eflu-
ente tratado é também utilizado para outros fins, incluindo irrigação de árvores 
em áreas urbanas, para lavagem de gases e alguns usos industriais, tais como 
resfriamento e desodorização. Diversas outras cidades do Japão, entre elas 
Oita, Aomori e Tóquio, estão fazendo uso de esgotos tratados ou de outras 
águas de baixa qualidade para fins urbanos não potáveis, proporcionando uma 
economia significativa dos escassos recursos hídricos localmente disponíveis. 
 
Usos industriais 
 
Os custos elevados da água industrial associados às demandas crescen-
tes têm levado as indústrias a avaliar as possibilidades internas de reuso e a 
considerar ofertas da companhia de saneamento para a compra de efluentes 
tratados a preços inferiores aos da água potável dos sistemas públicos de abas-
tecimento. A água produzida pelo tratamento de efluentes secundários é, atual-
mente, um grande atrativo para abastecimento industrial a custos razoáveis. A 
proximidade de estações de tratamento de esgotos às áreas de grande concen-
tração industrial contribui para a viabilização de programas de reuso industrial, 
uma vez que permite adutoras e custos unitários de tratamento menores. 
Os usos industriais com maior potencial de aproveitamento do reuso em 
áreas de concentração industrial significativa são basicamente os seguintes: 
 torres de resfriamento; 
 caldeiras; 
 construção civil, incluindo preparação e cura de concreto e para 
compactação do solo; 
 irrigação de áreas verdes de instalações industriais, lavagens de 
pisos e alguns tipos de peças, principalmente na indústria mecâ-
nica; e 
 
 
 
41 
 
 processos industriais. 
Dentro do critério de estabelecer prioridades para usos que já possuam 
demanda imediata e que não exijam níveis elevados de tratamento, é recomen-
dável concentrar a fase inicial do programa de reuso industrial em torres de res-
friamento. 
Esgotos domésticos tratados têm sido amplamente utilizados como água 
de resfriamento em sistemas com e sem recirculação. Os esgotos apresentam 
uma pequena desvantagem em relação às águas naturais pelo fato de possuí-
rem temperatura um pouco mais elevada. Em compensação, a oscilação de tem-
peratura é muito menor nos esgotos domésticos do que em águas naturais. 
Embora corresponda a apenas 17% da demanda de água não potável 
nas indústrias, o uso de efluentes secundários tratados, utilizados em sistemas 
de refrigeração, tem a vantagem de requerer qualidade independentemente do 
tipo de indústria e de atender, ainda, a outros usos menos restritivos, tais como 
lavagem de pisos e equipamentos e como água de utilidade em indústrias me-
cânicas e metalúrgicas. 
Além disso, a qualidade de água adequada para refrigeração de sistemas 
semiabertos é compatível com outros usos urbanos não potáveis, tais como irri-
gação de parques e jardins, lavagem de vias públicas, construção civil, formação 
de lagos para algumas modalidades de recreação e para efeitos paisagísticos. 
Os sistemas de tratamento para reuso em unidades de refrigeração semiabertos, 
por exemplo, são relativamente simples e devem produzir efluentes capazes de 
evitar corrosão ou formação de depósitos, crescimento de microrganismos, for-
mação excessiva de escuma e delignificação de torres de refrigeração construí-
das em madeira. 
Outros usos que podem ser considerados nas fases posteriores da imple-
mentação de um programa metropolitano de reuso incluem água para produção 
de vapor, para lavagem de gases de chaminés e para processos industriais es-
pecíficos, tais como manufatura de papel e papelão, indústria têxtil, de material 
plástico e produtos químicos, petroquímicas, curtumes, construção civil etc. Es-
sas modalidades de reuso envolvem sistemas de tratamento avançados e de-
mandam, consequentemente, níveis de investimento elevados. 
 
 
 
42 
Reuso e conservação devem, também, ser estimulados nas próprias in-
dústrias por meio da adoção de processos industriais e de sistemas de lavagem 
com baixo consumo de água, assim como em estações de tratamento de água 
para abastecimento público, por meio da recuperação e do reuso das águas de 
lavagem de filtros e de decantadores. Na região metropolitana de São Paulo 
existe um grande potencial para uso de efluentes das estações de tratamento de 
esgotos para fins industriais. A estação de tratamento de esgotos de Barueri po-
deria abastecer, com efluentes tratados, uma área industrial relativamente im-
portante nas regiões de Barueri, Carapicuíba, Osasco e o setor industrial ao 
longo do Rio Cotia, nas imediações da rodovia Raposo Tavares. 
Da mesma maneira, a estação de Suzano poderia abastecer indústrias 
concentradas nas regiões de Poá, Suzano e, eventualmente, de Itaquaquece-
tuba e Mogi das Cruzes. 
 
Usos agrícolas 
 
Diante das grandes vazões envolvidas (chegando a até 80% do uso con-
suntivo em alguns países), especial atenção deve ser atribuída ao reuso para 
fins agrícolas. A agricultura depende, atualmente, de suprimento de água de tal 
nível que a sustentabilidade da produção de alimentos não poderá ser mantida 
sem o desenvolvimento de novas fontes de suprimento e a gestão adequada dos 
recursos hídricos convencionais. Essa condição crítica é fundamentada no fato 
de que o aumento da produção não pode mais ser efetuado por mera expansão 
de terra cultivada. 
Com poucas exceções, tais como áreas significativas do Nordeste brasi-
leiro que vêm sendo recuperadas para uso agrícola, a terra arável, em nível mun-
dial, aproxima-se muito rapidamente de seus limites de expansão. A Índia já ex-
plorou praticamente 100% de seus recursos de solo arável, enquanto Bangla-
desh dispõe de apenas 3% para expansão lateral. O Paquistão, as Filipinas e a 
Tailândia ainda têm um potencial de expansão de aproximadamente 20%. A taxa 
global de expansão de terra arável diminuiu de 0,4% durante a década 1970-79 
para 0,2% durante o período 1980-1987. Nos países em vias de desenvolvi-
mento e em estágio de industrialização acelerada, a taxa de crescimento tam-
bém caiu de 0,7% para 0,4%. 
 
 
 
43 
Durante as duas últimas décadas, o uso de esgotos para irrigação de cul-
turas aumentou significativamente em razão dos seguintes fatores: 
 dificuldade crescente de identificar fontes alternativas de águas 
para irrigação; 
 custo elevado de fertilizantes; 
 a segurança de que os riscos de saúde pública e os impactos sobre 
o solo são mínimos, se as precauções adequadas forem efetiva-
mente tomadas; 
 os custos elevados dos sistemas de tratamento necessários para 
descarga de efluentes em corpos receptores; 
 a aceitação sociocultural da prática do reuso agrícola; e 
 o reconhecimento, pelos órgãos gestores de recursos hídricos, do 
valor intrínseco da prática. 
Estima-se que, na região do Alto Tietê, a jusante do Reservatório de Ponte 
Nova até as imediações de Guarulhos, seria possível, com o atendimento da 
demanda agrícola por meio dos esgotos coletados dos municípios da região, 
dispor de aproximadamente 3 m3 por segundo adicionais de água de boa quali-
dade para abastecimento público. 
Na região da influência da ETE Suzano, por

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