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Estimativas de parâmetros populacionais e demográficos de Ozotoceros bezoarticus (Artiodactyla, Cervidae) em Piraí do Sul, Paraná, sul do Brasil

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Iheringia, Sér. Zool., Porto Alegre, 100(2):105-110, 30 de junho de 2010
Estimativas de parâmetros populacionais e demográficos de Ozotoceros...
Estimativas de parâmetros populacionais e demográficos de
Ozotoceros bezoarticus (Artiodactyla, Cervidae) em Piraí do Sul,
Paraná, sul do Brasil
Fernanda G. Braga1 & Yoshiko S. Kuniyoshi2
1. Bio situ Projetos e Estudos Ambientais Ltda, Rua Carlos Belão 45, 82.330-090 Piraquara, PR, Brasil. (fernanda@biositu.com.br)
2. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal, Universidade Federal do Paraná, Rua Lothário Meissner 632, Jd. Botânico,
80.210-170 Curitiba, PR, Brasil.
ABSTRACT. Estimates of population and demographic parameters of Ozotoceros bezoarticus (Artiodactyla, Cervidae) in
Piraí do Sul, Paraná, southern Brazil. This study was conducted in two private properties in the municipality of Piraí do Sul (Paraná
state, southern Brazil). Sixteen monthly visits were made each one lasting three days between February 2001 and May 2002. The study
aimed at the observation of pampas deer biology (Ozotoceros bezoarticus Linnaeus, 1758), and the evaluation of main impacts to this
population. We computed 1,065 observations of estimated 71.45 individuals. The average size of the groups was 2.29 (SD + 0.55)
animals, and the sexual ratio was 0.83. Isolated deer accounted for 40% of the observations, whereas the largest group comprised 10
individuals. It was recorded a peack period of births between September and November, although births were observed along all the studied
period. Thirty-four deaths were recorded corresponding to a 47.6% death rate. The main causes of death were predatory actions by cougar
Puma concolor (Linnaeus, 1771), hunting and individuals being run over by motor vehicles. The studied population is seriously
endangered and it will not escape extinction unless certain policies to guarantee its conservation are adopted. These policies should
include correct management of the areas and control of pressure vectors.
KEYWORDS. Pampas deer, sexual ratio, conservation, population threats.
RESUMO. Este estudo foi realizado em duas propriedades particulares, situadas no município de Piraí do Sul, sul do Brasil. Foram
realizadas 16 fases de campo mensais, com três dias de duração, no período compreendido entre fevereiro de 2001 e maio de 2002, com
o objetivo de obter informações sobre a biologia do veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus Linnaeus, 1758) e identificar os principais
fatores de impacto sobre o mesmo. Foram computadas 1.065 observações, estimando-se 71,45 indivíduos na população, sendo o tamanho
médio dos grupos de 2,29 (DV + 0,55), e a razão sexual de 0,83. Indivíduos isolados corresponderam a 40% das observações, sendo o maior
grupo composto por 10 indivíduos. Registrou-se um pico de nascimentos entre setembro e novembro, embora esses tenham acontecido
ao longo de todo o estudo. Foram registrados 34 óbitos, correspondendo a uma mortalidade de 47,6%, sendo as principais causas a
predação por Puma concolor (Linnaeus, 1771), a caça e os atropelamentos. A população estudada encontra-se severamente ameaçada,
e não sobreviverá por muito tempo a menos que políticas que garantam a sua conservação sejam adotadas. Estas políticas devem incluir
o manejo adequado das áreas e o controle dos vetores de pressão.
PALAVRAS-CHAVE. Veado-campeiro, razão sexual, conservação, ameaças populacionais.
O veado-campeiro Ozotoceros bezoarticus
Linnaeus, 1758 é um cervídeo social, típico de áreas
abertas como campos e cerrados, que originalmente
ocorria em grandes populações no Brasil, ao sul do Rio
São Francisco, na Bolívia, no Paraguai, no Uruguai e na
Argentina. No Paraná, registros atuais apontam a sua
ocorrência nos municípios de Guarapuava, Candói,
Palmas, Pinhão, Piraí do Sul, Jaguariaíva, Sengés,
Ventania, Palmeira, Balsa Nova e Lapa (BRAGA, 2009). O
macho adulto pode atingir cerca de 1,20 a 1,50 m de
comprimento e pesar cerca de 30 a 40 kg (GIMENEZ-DIXON,
1986), e ao contrário das fêmeas, possui chifres, que
apresentam ciclos de troca. As fêmeas são um pouco
menores e menos corpulentas que os machos e os filhotes
possuem, ao nascer, duas faixas de manchas brancas no
dorso que permanecem até os três meses de idade
(MERINO et al., 1997). A gestação dura cerca de sete meses
(GONZALES-SIERRA, 1985; REDFORD & EISENBERG, 1992) e a
época de nascimento de filhotes está relacionada à
disponibilidade de recursos alimentares (Robbins, 1983
apud MERINO et al., 1997), sendo em algumas regiões
relacionada à época de maior pluviosidade (PINDER, 1992;
RODRIGUES, 1996). Seus grupos são geralmente pequenos
(CABRERA & YEPES, 1960) e não são fixos, formando-se e
desfazendo-se continuamente (RODRIGUES, 1996). A
diminuição de suas populações deve-se, principalmente,
à redução do seu ambiente natural pela ação antrópica,
por expansão das fronteiras agrícolas e crescimento
urbano, introdução de espécies exóticas e caça excessiva
(JACKSON & GIULIETTI, 1988). Ainda, segundo WEBER &
GONZALEZ (2003), as populações de veado-campeiro estão
sujeitas ao uso extensivo de áreas para a pecuária e
agricultura (principalmente soja e cana-de-açúcar), e à
implantação de povoamentos florestais de pinus e
eucalipto. Diante da sua situação no Paraná, o presente
estudo teve como objetivo obter informações
populacionais desta espécie em Piraí do Sul, identificando
os principais fatores de impacto sobre a população local.
MATERIAL E MÉTODOS
Área de estudo. A área estudada localiza-se no
município de Piraí do Sul, Paraná, sul do Brasil, e
compreende duas propriedades particulares, as Fazendas
Monte Negro (24o19’30’’S, 50o00’02’’W) e 4N (24o21’38’’S,
50o00’22’’W), totalizando cerca de 6.000 ha. As
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BRAGA & KUNIYOSHI
propriedades destinam-se à produção de grãos e a
Fazenda 4N também realiza pecuária extensiva. O sistema
de plantio em ambas as propriedades é rotacionado, com
culturas de verão (soja e milho) e inverno (aveia, azevém
e trigo), sendo definido pelos proprietários conforme a
valorização de cada produto.
Procedimentos. Os dados foram obtidos em 16
fases de campo no período compreendido entre fevereiro
de 2001 e maio de 2002. As estradas das propriedades
foram percorridas de automóvel, de maneira a abranger
os ambientes potencialmente utilizáveis pela espécie,
tendo sido a coleta de dados limitada às estradas pré-
existentes, como uma condição imposta pelos
proprietários das áreas para a realização do estudo.
Os diferentes ambientes existentes nas propriedades,
resultado do tipo de manejo utilizado (pastagem ou
agricultura), foram agrupados e amostrados com a definição
de circuitos que foram percorridos aleatoriamente, duas
vezes em cada fase de campo. O objetivo foi verificar os
padrões de agrupamento, anotando-se tamanho e
composição dos grupos, bem como avaliar alterações
populacionais com registros de nascimentos e óbitos.
Os nascimentos foram quantificados mediante a
observação de filhotes e de fêmeas que apresentassem
sinais de comportamento parental. Óbitos foram
registrados por meio de carcaças, sendo considerados
ainda relatos de moradores e trabalhadores locais a
respeito de exemplares mortos.
Os animais observados não foram individualizados,
uma vez que a espécie não apresenta diferenças
morfológicas evidentes entre indivíduos e não foi
realizada captura e marcação dos mesmos.
Considerou-se para as análises de padrões de
agrupamento a composição dos grupos, observando-se
o número de machos adultos, machos jovens, fêmeas
adultas, fêmeas jovens, e infantes. Foram denominados
infantes aqueles animais cuja pelagem apresentava pintas
brancas, e jovens aqueles nos quais estas manchas não
mais ocorriam, até quando ainda pudessem ser
diferenciados dos adultos pelo seu tamanho corporal,
incluindo neste caso machos e fêmeas, uma vez que nesta
etapa a diferenciação sexual não é evidente. Aqueles que
não puderam ser enquadrados nas categorias anteriores
foram considerados“indeterminados”.
Os grupos foram, ainda, analisados conforme o seu
tamanho e composição. O tamanho médio dos grupos foi
calculado tendo como base a média das médias mensais
observadas e é apresentado com respectivo desvio padrão.
A razão sexual foi obtida somente para os animais
adultos, cujo dimorfismo era evidente. Para tanto, utilizou-
se o quociente entre o número total de machos adultos
sobre o número total de fêmeas adultas observadas ao
longo de todo o estudo.
O total de indivíduos existentes na população foi
estimado adaptando-se o método de contagem total
(SUTHERLAND, 1994), através do somatório do número
médio de animais observados em cada setor. É um bom
método para estudos de espécies conspícuas em áreas
abertas, onde a contagem pode ser realizada relativamente
mais rápido que a velocidade da espécie se movendo
entre os blocos (SUTHERLAND, 1994). Há que se ter em
conta, no entanto, que avaliações desta natureza podem
incidir em um erro amostral maior, do que métodos como
amostragens por distância e contagem dupla.
A natalidade foi estimada com base nas
observações de infantes, bem como de fêmeas com
comportamento parental típico. Para obter dados de
mortalidade todas as carcaças encontradas em campo
foram identificadas quanto ao sexo, categoria de idade e
causa da morte, quando possível. Todos os animais
coletados foram depositados no acervo do Museu de
História Natural Capão da Imbuia (MHNCI), em Curitiba
(CTX 4368, 4369, 4371, 4373, 4374, 4376, 4407, 4512, 4710,
4711, 4713, 4714, 4715, 4724, 4725, 4794, 4795, 4876).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram computadas 1.065 observações, sendo 734
relativas a indivíduos adultos (334 machos e 400 fêmeas),
88 a jovens, 9 a infantes e 234 indeterminados, distribuídos
em 483 grupos distintos.
O número total de indivíduos estimado para a área
foi de 71,45 animais, porém acredita-se estar subestimado,
uma vez que nem todas as áreas que compõem as fazendas
foram amostradas devido às limitações impostas pelos
proprietários. A obrigatoriedade de restrição das
amostragens às estradas pré-existentes, uma vez que as
lavouras não poderiam ser afetadas pela coleta de dados,
condicionou todas as amostragens, o que pôde, em
muitos momentos, ter sido responsável por problemas
na obtenção de algumas informações, ou mesmo pelo
aumento do erro amostral. Por não ser permitida a
avaliação da área em sua totalidade, pode-se inferir que o
método utilizado resultou em uma subestimativa,
podendo este valor ser considerado como tamanho
populacional mínimo na área de estudo.
O resultado encontrado reflete uma densidade
populacional de 1,19 ind/km2, número semelhante ao
encontrado em outros locais de ocorrência da espécie.
No Parque Nacional das Emas, GO, as densidades
encontradas foram 1-1,3 ind/km2 (Schaller & Duplaix-Hall,
1975 apud REDFORD, 1987) e 1 ind/km2 (RODRIGUES, 1996).
Na APA Cabeça de Veado, DF, LEEUWENBERG & LARA-
RESENDE (1994) registraram 1,27-1,65 ind/km2. Na
Argentina Merino & Giulietti (1994) apud MERINO et al.
(1997) encontraram 1,3 ind/km2 em San Luis e Merino &
Moschione (1995) apud MERINO et al. (1997) 0,75 + 0,19
ind/km2 na Bahia Samborombón, província de Buenos
Aires. Cabe ressaltar que cada um dos trabalhos acima
citados utilizou-se de um método amostral distinto, sendo
necessária muita cautela na comparação das informações.
A razão sexual entre indivíduos adultos foi de 0,83
sendo significativamente diferente da esperada (1:1)
(χ2 = 5,934; p<0,05). A proporção sexual varia conforme
os estudos realizados; alguns deles apontam um maior
número de fêmeas na população, como GIMENEZ-DIXON
(1991), que encontraram uma razão sexual de 0,7;
LEEUWENBERG & LARA-RESENDE (1994) de 0,74; REDFORD
(1987) de 0,77; e MERINO et al. (1997) de 0,93. Outros
autores encontraram um número de machos superior ao
de fêmeas, como RODRIGUES (1996), que relatou uma
proporção de 1,07; JACKSON et al. (1980) de 1,15; GONZALEZ
(1994) de 1,76. Este padrão pode ser reflexo de uma
mortalidade diferencial entre sexos nas populações
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estudadas, variando maiores perdas entre machos e
fêmeas.
O tamanho médio dos grupos foi de 2,29+0,55
indivíduos, variando sazonalmente em relação ao seu
tamanho e composição. Este resultado foi superior ao
encontrado no Parque Nacional das Emas por REDFORD
(1987) de 1,36; por RODRIGUES (1996) de 1,97; e por
NETTO et al. (2000) de 2,11 ind/grupo. No cerrado do
Brasil Central foi encontrado um tamanho médio de
1,84 (LEEUWENBERG & LARA-RESENDE, 1994); e no estado
do Paraná de 1,5 ind/grupo (BRAGA et al., 2000).
Entretanto, foi inferior ao encontrado no Uruguai por
JACKSON et al. (1980) de 4,8 a 5,6; e por GONZALEZ (1994)
de 5,13. A variação no tamanho de grupo pode estar
relacionada à densidade populacional das áreas
amostradas, e ainda à concentração e disponibilidade
de recursos nas mesmas.
Indivíduos isolados e grupos compostos por dois
indivíduos foram os mais frequentemente observados
(40% e 27%, respectivamente), sendo o maior grupo
observado composto por 10 indivíduos. Indivíduos
isolados também configuraram 54% das observações no
Parque Nacional das Emas por REDFORD (1987), 47,4%
por RODRIGUES (1996), e 44% por NETTO et al. (2000) no
mesmo parque. JACKSON et al. (1980) registraram grupos
de até 14 ; RODRIGUES (1996) e NETTO et al. (2000) de até 11
e REDFORD (1987) grupos de até oito animais. PEREZ et al.
(2007) encontraram grupos que variaram entre um e sete
indivíduos e BRAGA et al. (2000) grupos com no máximo
quatro animais. Embora seja uma espécie social, muitos
estudos têm verificado que a unidade estrutural da
espécie é o indivíduo. Isto também pode ser reflexo da
baixa densidade populacional atual nas áreas estudadas,
grande disponibilidade de recursos bem distribuídos no
ambiente e/ou ainda estar relacionado à sazonalidade.
Grupos mistos foram observados ao longo de todo
o período, apresentando uma diminuição a partir de julho/
2001, com a aproximação do período de nascimentos,
estendendo-se até dezembro. NETTO et al. (2000)
observaram grupos mistos ao longo de todo o período
estudado, porém com menor frequência entre abril e maio,
durante a queda de chifres, e entre outubro e novembro,
durante o período de pico de nascimentos.
De agosto a dezembro as fêmeas estiveram
acompanhadas dos seus filhotes, sendo fêmeas isoladas
mais observadas entre setembro e dezembro, quando se
afastam dos machos devido ao período de nascimento
de filhotes. O aumento no número de fêmeas isoladas em
maio e em outubro foi observado por NETTO et al. (2000).
O maior percentual de casais foi observado no mês
de março/2001, seguido pelo mesmo período no ano
seguinte, o que pode refletir um pico no período de
acasalamento. Fêmeas acompanhadas de jovens foram
mais visualizadas em fevereiro/2001 e janeiro/2002, ao
passo que NETTO et al. (2000) observaram fêmeas com
filhotes em maio e entre setembro e janeiro, principalmente
em novembro.
Machos isolados foram observados constantemente,
ao longo de todo o período, sendo mais frequentes nos
meses de maio a julho/2001 e entre outubro e dezembro/
2002. O oposto foi observado por NETTO et al. (2000), que
sugere uma tendência ao agrupamento dos machos entre
abril e maio como reflexo das mudanças hormonais
envolvidas na queda de chifres.
O ciclo de chifres (Fig. 1) teve início no primeiro
ano (2001) em junho, quando 74% dos machos estavam
sem os chifres. No mês seguinte, 18% dos machos
observados estavam sem os chifres, enquanto o restante
estava com o chifre coberto por velame. Em agosto todos
os machos observados apresentavam os chifres
encapados, enquanto que, em setembro, 81% destes já
apresentavam o chifre exposto. Em 2002 a perda dos
chifres teve início mais cedo, sendo que 18% dos machos
observados em maio já estavam sem os chifres. Os dados
obtidos mostram uma regularidade na perda dos chifres,
condizendo com os dados de literatura (BIANCHINI & LUNA-PEREZ, 1972a; GONZALES-SIERRA, 1985; JACKSON, 1986;
JACKSON & LANGGUTH, 1987; GONZALEZ, 1994; RODRIGUES,
1996; DUARTE, 1997; BRAGA et al., 2000; PEREIRA et al.,
2005; PEREIRA et al., 2006; LACERDA, 2008), como sendo
restrita ao período de inverno.
Segundo HAIGH & HUDSON (1993) há evidências de
que a luz desempenha um papel crucial no controle do
ciclo de chifres, podendo a sua troca ser resultado de
alterações do fotoperíodo anual. Segundo PEREIRA et al.
(2005) há correlação significativa entre os níveis de
testosterona encontrados nas fezes e o ciclo dos chifres
dos animais. No Uruguai, a troca dos chifres acontece
entre junho e agosto (GONZALES-SIERRA, 1985; JACKSON &
LANGGUTH, 1987; GONZALEZ, 1994) e na Argentina, entre
julho e setembro (BIANCHINI & LUNA-PEREZ, 1972b;
JACKSON, 1986; JACKSON & LANGGUTH, 1987). No Parque
Nacional das Emas, a queda dos chifres foi observada
nos meses de abril e maio (RODRIGUES, 1996), enquanto
no Pantanal de Nhecolândia, MS, Walfrido Moraes Tomas
(com. pess.) observou machos com chifres recém-caídos
entre março e maio e LACERDA (2008) registrou os
primeiros machos com chifres caídos em maio; BRAGA et
al. (2000) registraram, no estado do Paraná, a perda dos
chifres entre maio e junho.
A sazonalidade reprodutiva, bem marcada pelo
período restrito de troca de galhadas nos machos, resulta
numa estação definida de nascimentos, embora estes
possam ocorrer em grande parte do ano, corroborando
os estudos de WHITEHEAD (1972) e JACKSON & LANGGUTH
(1987). Este fato pode estar relacionado à disponibilidade
de alimento, conferida pela rotação de cultivo nas
lavouras.
Infantes foram visualizados em nove ocasiões,
sendo três em junho, um em setembro, três em outubro e
dois em novembro. O maior número de nascimentos
ocorreu entre os meses de setembro e novembro, o que
condiz com as informações apresentadas por WHITEHEAD
(1972), GONZALES-SIERRA (1985), JACKSON & LANGGUTH
(1987), RODRIGUES (1996) e LACERDA (2008). Indivíduos
jovens foram observados ao longo de todo o ano (n=88),
exceto no mês de março/01. Fêmeas isoladas dos grupos,
apresentando comportamento parental típico, que são
detalhadamente descritos em JACKSON (1985), foram
observadas em 2001 nos meses de setembro (n=5),
outubro (n=7), novembro (n=9) e dezembro (n=2), e no
ano seguinte em março (n=1) e abril (n=1).
Sabendo-se que pelo menos sete dos nove infantes
observados tratavam-se de indivíduos diferentes e,
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inferindo que metade das fêmeas que apresentavam
comportamento parental típico tenha sido vista apenas
uma vez, estima-se um número mínimo de 20 nascimentos
ao longo do período amostrado.
Em relação à mortalidade (Tab. I), foram registradas
34 carcaças, sendo 15 machos, 16 fêmeas, um infante e
dois indeterminados. Destes animais, 15 foram predados
por puma, Puma concolor (Linnaeus, 1771) (BRAGA et
al., 2005), quatro foram abatidos por caçadores, um foi
atropelado e em 14 deles a causa da morte não pôde ser
identificada.
Embora a literatura existente sugira uma maior
mortalidade de machos em mamíferos altamente
poligínicos e que apresentem dimorfismo sexual em
relação àquelas espécies menos dimórficas (Clutton-Brock
et al., 1982 apud BEADE et al., 2000), o registro de óbitos
entre machos e fêmeas não apresentou diferenças
significativas (χ2 = 0,3225; p>0,05). No entanto, a
significativa diferença entre machos e fêmeas adultas
pode ser um indicativo de uma maior mortalidade nos
machos, ou ainda de um nascimento mais acentuado de
indivíduos deste sexo.
A predação, a caça e os atropelamentos mostraram-
se os principais fatores de ameaça à população estudada,
devendo os esforços de manejo ser direcionados ao seu
controle e mitigação. Segundo BEADE et al. (2000) a
probabilidade de se encontrar carcaças de indivíduos
jovens é baixa, devido à pressão de espécies que se
alimentam de carcaças e ainda pela rápida degradação de
peças ósseas de indivíduos pequenos. É sabido que as
populações de veados-campeiros têm uma capacidade
bastante limitada de recuperação em caso de predação
frequente e que a predação não natural prejudica
severamente populações reduzidas, devendo ser tomadas
medidas de combate permanente (LEEUWENBERG & LARA-
RESENDE, 1994).
Os números referentes à predação indicam uma
perda muito acentuada de fêmeas em um curto espaço de
tempo, o que pode resultar em um impacto imediato sobre
o tamanho populacional (BRAGA et al., 2005).
Sabe-se que a caça é frequente na área estudada,
pelo número de carcaças encontradas, e principalmente
pelo relato de moradores. No entanto, o número total de
animais abatidos registrado certamente está
subestimado, uma vez que os caçadores utilizam animais
abatidos para alimentação. Antigamente predominava na
Figura 1. Estado dos chifres dos machos de veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus Linnaeus, 1758) observados em Piraí do Sul, Paraná,
de fevereiro de 2001 a maio de 2002.
Chifre exposto Sem chifres Chifre encapado
Tabela I. Óbitos de veados-campeiros (Ozotoceros bezoarticus Linnaeus, 1758) registrados entre fevereiro de 2001 a maio de 2002, em
Piraí do Sul, Paraná.
Causa da morte Machos Fêmeas Infantes Indeterminados Total %
Predação por puma 3 11 1 0 15 44,11
Caça 3 1 0 0 4 11,76
Atropelamento 0 1 0 0 1 2,94
Indeterminado 9 3 0 2 14 41,17
Total 15 16 1 2 34 100
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região a caça de subsistência, porém hoje a caça esportiva
é amplamente realizada, apresentando uma preferência
pelo abate de machos devido ao valor dos chifres como
troféu. Já as fêmeas e jovens são caçados para fins de
alimentação, sendo encontrados cabeças e membros
deixados no campo. Segundo relatos de moradores locais
a carne do macho adulto possui sabor muito forte,
conferido pelo odor característico da espécie. SANTOS
(1950) já relatava que o cheiro dos machos é tão ativo
que se nota a grande distância, servindo sua carne apenas
para alimento aos cães, mesmo depois de assada.
Atropelamentos mostraram-se pouco frequentes,
porém pode-se considerar a possibilidade de animais
atropelados também serem aproveitados para consumo.
O atropelamento de filhotes por colheitadeiras foi relatado
pelos proprietários das áreas como sendo comum, com
pelo menos três casos a cada ano. Após o início deste
estudo e da conscientização dos funcionários quanto à
importância da preservação desta espécie, nenhum caso
de atropelamento de filhotes foi relatado.
Esta é a única população de veados-campeiros,
estudada no Paraná e com os resultados obtidos pode-
se concluir que está sujeita a impactos que resultam em
um rápido declínio populacional. Atropelamentos e
predação mostraram-se fatores de pressão juntamente à
caça, que pode ter sido responsável, historicamente, pelo
desaparecimento da espécie das áreas adjacentes. A
conscientização dos proprietários e funcionários sobre a
importância da conservação de espécies pode colaborar
muito para o restabelecimento da população, juntamente
com a adoção de medidas de manejo adequado de áreas
produtivas. Esta população encontra-se sob forte ameaça
de desaparecimento em curto prazo, podendo o
desenvolvimento de estratégias para a sua conservação
prolongar a permanência da espécie no local.
Agradecimentos. Ao Instituto Ambiental do Paraná,
CNPq, Fundação ABC, Universidade Federal do Paraná, Emygdio
de Araújo Monteiro Filho e José Ricardo Pachaly. À Susana Gonzalez
e Tereza C. C. Margarido pela revisão crítica do manuscrito. E
especialmente aos proprietários das Fazendas Monte Negro e 4N
pela autorização à realização deste trabalho.
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