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Ferramentas Digitais Aplicadas à Gestão

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Libras
Editorial 
Presidente do SEB (Sistema EducacionalBrasileiro 
S.A) 
Chaim Zaher 
Vice-Presidente do SEB 
Adriana Baptiston Cefali Zaher 
Diretoria Executiva do SEB 
Nilson Curti 
Rafael Gomes Perri 
Diretor da Faculdade Dom Bosco 
José Antonio Capito
Coordenação da EaD da Faculdade Dom Bosco 
Edelclayton Ribeiro
Coordenação do Curso de Administração 
Adriana Franzoi 
Coordenação do Curso de Tecnologia em 
Recursos Humanos 
Coordenação do Curso de Tecnologia em Gestão 
Financeira 
Coordenação do Curso de Tecnologia em Gestão 
de Marketing 
Adriana Franzoi 
Material elaborado por 
Andrei Albuquerque
Natália Diniz, Eduardo 
Rodrigues, Paula Nardi
Murilo Carneiro
Luciana Rodrigues 
Produção Editorial 
Pricila Massuchetto 
Letícia Marcelino
© Faculdade Dom Bosco – Dom Interativo
Todos os direitos desta edição reservados ao Dom Interativo modalidade de educação a distância da Faculdade Dom Bosco. 
Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, de qualquer forma ou meio eletrônico, e mecânico, fotográfico e gravação ou 
qualquer outro, sem a permissão expressa Dom Interativo. A violação dos direitos autorais é punível como crime (Código 
Penal art. 184 e §§; Lei 6.895/80), com busca, apreensão e indenizações diversas (Lei 9.610/98 – Lei dos Direitos Autorais – arts. 
122, 123, 124 e 126)
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o LibrasA proposta da disciplina é 
estudar a definição e a classificação 
da surdez. Além disso, serão analisadas as 
abordagens educacionais na educação do surdo, 
as LIBRAS e a educação bilíngue. Também serão 
focos do nosso estudo a educação precoce, os aspec-
tos reabilitadores (métodos - sistemas de intervenção), os 
aspectos educativos da surdez e a adequação curricular. A 
visão crítica das metodologias abordadas, o contexto da Es-
cola Brasileira bem como a dinâmica da sala de aula quanto ao 
ensino de LIBRAS serão estudados.
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Caminhos históricos 
da educação de surdos
Prezado aluno, no módulo sobre Língua 
Brasileira de Sinais (LIBRAS), você terá 
conhecimento da área da surdez. O objetivo é 
mostrar como ocorreu a educação das pessoas com 
surdez até chegarmos ao século XXI, trabalhando em 
busca de um espaço bilíngue.
A Educação neste início de milênio tem como priori-
dade o processo ensino-aprendizagem dentro de um sistema 
que vê no respeito à diversidade o caminho para um futuro 
mais democrático, a fim de refletir uma educação de qualidade 
para todos. As pessoas são diferentes em vários níveis: intelectual, 
econômico, cultural, entre outros. A inclusão de todas as pessoas, 
em todos os seus graus e a conscientização dos alunos e professores 
no respeito às diferenças é a meta da educação do século XXI. Imber-
nón (2001,p.79) diz que: 
[...] a diversidade não pode ser entendida como uma simples ação 
que facilita a aprendizagem dos alunos com ritmos diferentes de 
maturidade, não é unicamente a apresentação de estratégias di-
dáticas alternativas para estimular os alunos desmotivados, não é 
apenas a incorporação das ferramentas educativas adequadas para 
cada realidade acadêmica individual, a atenção à diversidade deve 
ser entendida como a aceitação de realidades plurais, como uma 
ideologia, como uma fórmula de ver a realidade social defendendo 
ideais democráticos e justiça social.
A inclusão deveria estar baseada no que Freire (1996,p.139) 
aponta: 
[...] é preciso desenvolver novas formas de linguagem crítica que 
nos permitam, por um lado, desvelar o currículo oculto e, por outro, 
descobrir outras maneiras de ver o mundo e a Educação. Nesse 
sentido precisamos analisar o progresso de uma maneira não 
linear nem monolítica, mas integrando outras identidades 
sociais, outras manifestações culturais da vida cotidiana e 
outras vozes secularmente marginalizadas.
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Pensar na educação das pessoas com necessidades educacionais 
especiais, como os surdos, faz com que seja necessário estudar a história, 
as filosofias de comunicação (oralismo, comunicação total e bilinguismo), 
algumas definições quanto às nomenclaturas “surdo” e “deficiente auditi-
vo”, as diferenças entre as línguas orais e de sinais, entre outros, para que 
se entenda como atualmente está organizada a linguística da Língua Bra-
sileira de Sinais (LIBRAS), enfoque principal desta disciplina.
Durante muito tempo, as pessoas com surdez tiveram sua formação 
baseada nas línguas orais, mas, com o passar do tempo, percebeu-se que a 
língua de sinais que este grupo utilizava era uma língua/idioma, com ca-
racterísticas próprias (gramática, semântica, sintaxe e morfologia), sendo 
esta a língua materna para os surdos e a língua oficial do país, a segunda. 
Atualmente, uma das principais discussões é como alfabetizar no 
segundo idioma, o português; este assunto será abordado, porém seu 
aprofundamento ficará para um próximo estudo, pois antes precisamos 
conhecer, respeitar e aceitar a LIBRAS como língua/idioma oficial utili-
zado por alunos, cidadãos, pessoas surdas. Nesta disciplina, buscaremos 
trazer conhecimentos específicos quanto a educação, língua e inclusão das 
pessoas com surdez.
Para melhor entender as mudanças na formação oferecida às pesso-
as com surdez, é necessário saber a trajetória percorrida, para que hoje, no 
século XXI, tenhamos um ensino baseado na língua de sinais e a opção de 
a educação ser em escolas comuns.
Vamos voltar no tempo e conhecer as principais concepções que 
existiam quanto a “ser surdo” e suas possibilidades sociais, educacionais e 
legais, sempre contextualizando as questões mundiais, as influências reli-
giosas e as tendências políticas. 
Podemos citar o que Darwin dizia quanto à evolução do homem e 
de todos os animais que vivem hoje: eles passaram por um processo de 
seleção natural constante e severo e depois desta seleção sobreviveram os 
mais aptos, para viver segundo as condições de vida do meio e da época 
em que existiam. Era uma guerra pela existência, em que somente os “me-
lhores” sobreviviam. 
Com a evolução surgiram dúvidas, questionamentos e incertezas 
quanto a tudo que rodeava as pessoas: questões sobre a vida, a morte, en-
fim, como se dava a formação da sociedade.
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Nesta primeira unidade, iniciaremos nosso estudo de como foi a 
educação dos surdos desde a Antiguidade até os dias atuais. Vamos fazer 
uma viagem no tempo.
Objetivos da sua aprendizagem
Mostrar os percursos, as barreiras e as dificuldades impostas às 
pessoas com surdez da Antiguidade até o século XXI, para que hoje pos-
samos pensar no paradigma de inclusão.
Você se lembra?
Pergunte a seus pais e irmãos mais velhos e responda também você: 
Com quantos alunos surdos vocês estudaram? A maioria das respostas 
deve ser “com nenhum”, mas hoje podemos estar contribuindo para mu-
dar essas respostas.
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U.UUAntiguiUaUe
Na Antiguidade, a deficiência era vista como incapacidade; as pes-
soas não podiam produzir nem eram livres para “cuidar” de suas vidas. 
Segundo Perlin (2002,p.16): 
 A história dos surdos é escrita pela história da educação e a história 
da educação dos surdos foi sempre contada pelos ouvintes. É na-
tural que muitos surdos tenham se apropriado dela como se fosse 
verdade absoluta e a tenha absorvido exatamente como lhes foi dito, 
isto é, que eles eram deficientes, menos válidos, incapazes [...].
No livro da lei dos hebreus (século XIII a.C) a Torá, podia-se ler: 
“[...]quem dá a boca ao homem? Quem o torna mudo ou surdo, capaz de 
ver ou cego? Não sou Eu, Javé?”(Êxodo, IV:11). 
“— Ser surdo e ser mudo é a vontade do Senhor e, por isso, que 
pode o homem fazer?”
A deficiência era justificada pela religião, por castigo. Consequen-
temente, não se prestava atendimento educacional e social. O deficiente 
nem mesmo participava da família como um de seus membros.
Entretanto, no século V a.C, Sócrates (470-399 a.C) já afirmava que 
os surdos tinham que usar o gesto e a pantomima para se comunicarem.
Sócrates, em 360 a.C, fez a seguinte reflexão: “Se não tivéssemos 
voz nem língua, mas apesar disso desejássemos manifestar coisas uns 
para os outros, não deveríamos, como as pessoas que hoje são mudas, 
empenhar-nos em indicar o significado pelas mãos, pela cabeça e por ou-
tras partes do corpo?”
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 Sócrates e Platão
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Naquela época, nascer surdo era visto como uma punição dos deu-
ses. Para Aristóteles (384-322 a.C), a falta da audição fazia com que o 
aprendizado fosse comprometido ou mesmo nem ocorresse. Também, 
segundo ele, era inútil o Estado investir na educação da pessoa surda, pois 
“o pensamento é impossível sem a palavra”. Sêneca faz uma das citações 
mais drásticas quanto a nascer com deficiência:
Matam-se cães quando estão com raiva; exterminam-se touros bra-
vios; cortam-se as cabeças das ovelhas enfermas para que as demais 
não sejam contaminadas; matamos os fetos e os recém-nascidos 
monstruosos; se nascerem defeituosos e monstruosos afogamo-
-os, não devido ao ódio, mas à razão, para distinguirmos as coisas 
inúteis das saudáveis. (SÊNECA apud SILVA, 1986, p. 129)
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Aristóteles
Em Roma, aqueles que nasciam surdos eram privados de seus direi-
tos legais, além de não poderem participar de testamentos. Eles nem mes-
mo tinham autonomia para desenvolver seus negócios, necessitando ter 
um curador, segundo Guarinello (2007). Influenciados pelo povo grego, 
viam os surdos como seres imperfeitos. Era comum lançarem as crianças 
surdas (especialmente as pobres) ao rio Tibre, para que fossem cuidadas 
pelas ninfas.
Naquela mesma época, em função de suas limitações, os deficientes 
eram vistos pela Igreja Católica como seres com “almas imortais”, pois 
não conseguiam verbalizar os sacramentos. São Paulo (Epístola aos Ro-
manos, X:17), tendo dito que “a fé deriva da pregação e a pregação é o 
anúncio da palavra”, também negou aos surdos-mudos o direito à religião, 
aos sacramentos e mesmo à salvação da alma, isso já no século I.
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Na sociedade medieval, havia posturas contraditórias em relação às 
pessoas com deficiência: a igreja cuidava delas e fazia caridade; os nobres 
as usavam como “bobos da corte”.
Com o Cristianismo (400 d.C.), a Igreja Católica passou a ter o po-
der político. A Antiguidade foi um período de exclusão; na Idade Média, 
com o monarquismo, houve a ascensão da Igreja Católica, que trouxe o 
assistencialismo.
Os surdos eram considerados inaptos à educação e ao sacerdócio. 
Somente eram respeitados juridicamente se falassem e casavam-se apenas 
com a permissão do papa.
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No século XVI, a deficiência passou a ser concebida e a ser tratada por 
meio da alquimia, da magia e da astrologia, métodos da incipiente medicina.
Naquela época surgiram os asilos e os hospitais psiquiátricos, com 
o objetivo não de tratar, mas de segregar as pessoas com qualquer tipo de 
deficiência. “Tais instituições eram pouco mais do que prisões”, segundo 
Aranha (2001, p.165).
Durante os séculos XVII e XVIII, nos hospitais, houve grande 
desenvolvimento no atendimento às pessoas com deficiência. Havia as-
sistência especializada em ortopedia para os mutilados das guerras e para 
pessoas cegas e surdas.
Percebia-se o investimento de alguns médicos e educadores para 
mostrar que as pessoas com deficiência poderiam ter uma vida acadêmica 
e se comunicar. 
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 De acordo com Carvalho (2007), Bartolo della Marca d’Ancona 
(1314-1357), escritor italiano, foi o primeiro a expor a possibilidade de o 
surdo ser ensinado por meio da língua oral ou da “língua gestual”.
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Podemos citar o médico Girolano Cardano, que afirmou que os sur-
dos poderiam ser ensinados – ele passou a se interessar pela surdez porque 
seu primogênito era surdo. Nessa mesma época, Pedro Ponce de Leon, 
monge beneditino espanhol, iniciou um trabalho educacional com surdos 
da elite, com o objetivo de “[...] ensinar a falar, escrever, ler, fazer contas, 
orar e confessar pelas palavras, a fim de ser reconhecidos como pessoas 
nos termos da lei e herdar seus títulos [...]” (GUARINELLO, 2007, p.21). 
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 Monge Pedro Ponce de Leon
Na França, Laurent Joubert escreveu sobre surdos. Para ele, a ha-
bilidade existe em qualquer criança, surda ou com audição perfeita, ou 
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mesmo naquelas que possam adquirir a surdez com o tempo. Segundo ele, 
a criança com deficiência auditiva aprenderia a falar mesmo sem ouvir.
Sabe-se que, na Europa, as mudanças na postura em relação aos de-
ficientes continuaram ocorrendo. Na Espanha, Juan Pablo Bonet publicou, 
em 1620, a primeira obra impressa sobre a educação de deficientes audi-
tivos: Reducción de las letras y artes para enseñar a hablar a los mudos 
(Redução das letras e artes para ensinar os mudos a falar). Nessa obra 
levantaram-se questões sobre as causas da deficiência auditiva e dos pro-
blemas da comunicação oral, foi citada a idade ideal para as crianças sur-
das serem educadas (de 6 a 8 anos) e também a fala era ensinada por meio 
de alfabeto digital, leitura e gramática. Mesmo usando sinais, percebe-se 
que o objetivo educacional da época era a oralidade. 
Em seu método, Bonet apresentava o alfabeto manual (datilologia) 
no ensino da leitura e da escrita. Entretanto, apesar do uso da datilologia, 
ele era radicalmente contra o uso da língua gestual.
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Já na Inglaterra, em 1644, o médico John Bulwer publicou Chiro-
nomia, or the art of manuall rhetorique, em que apresenta e defende sua 
teoria de que a linguagem das mãos é natural para todos os homens, prin-
cipalmente para pessoas com surdez. (CABRAL,2001)
Um dos maiores educadores da história de surdos foi Charles Michel 
de L’Épée, conhecido como Abbé de L’Épée, que publicou Instruction de 
sourds et muets par la voix des signes méthodiques (1776). Ele fundou, 
em Paris, a primeira escola pública para surdos, que tinha o objetivo de 
que os surdos aprendessem a ler e a escrever.
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L’ Épée iniciou o seu trabalho na educação de surdos ao substi-
tuir seu professor (falecido), que lecionava para duas crianças (gêmeas) 
surdas. Observou a comunicação gestual existente entre as duas irmãs, 
interessou-se em aprendê-la e buscou sistematizar o ensino desses sinais 
(sinais realizados na gramática do francês): sinalizava com uma das mãos 
enquanto escrevia na lousa com a outra mão.
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Houve algumas tentativas em mudar o conceito e tratamento das pessoas 
deficientes como Jacob Rodrigues Pereira, em 1747, na tentativa de ensinar 
surdos congênitos a se comunicar, essas “[...]tentativas foram tão bem suce-didas que estimulou a busca de formas para lidar com outras populações, es-
pecialmente a de pessoas com deficiência mental.” (ARANHA, 2001, p.166)
Simultaneamente aos avanços feitos pelo Abade de L’Épée, Samuel 
Heinike (1778) dirigiu, em Leipzig (Alemanha), uma escola de ensino 
exclusivamente oral para surdos, rejeitando todos os outros métodos, que 
ele qualificava de inúteis e fraudulentos. Segundo Cabral (2001), ambos 
os educadores criaram uma polêmica quanto aos métodos de ensino, que 
ficaram conhecidos como método francês e método alemão. 
Em 1872, no Congresso de Veneza, foi decido que: o meio humano 
para a comunicação do pensamento é a língua oral; se orientados, os sur-
dos leem os lábios e falam; a língua oral tem vantagens para o desenvolvi-
mento do intelecto, da moral e da linguística. 
No I Congresso Internacional sobre a Instrução dos Surdos-Mudos, 
em 1878, em Paris, concordou-se que só a instrução oral poderia incluir 
o surdo na sociedade e que o método articulatório, que abrange a leitura 
labial, devia ser a base de todo o trabalho educacional.
O oralismo, ou filosofia oralista, usava a integração da criança surda 
à comunidade de ouvintes, dando-lhe condições de desenvolver a 
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língua oral (no caso do Brasil, o português). O oralismo percebe a 
surdez como uma deficiência que deve ser minimizada através da 
estimulação auditiva. (GOLDFELD, 1997, p. 30 e 31) 
No II Congresso Mundial, em Milão (1880), foram estabelecidas 
duas resoluções que mudariam toda a história por 100 anos: declarou-se 
a superioridade incontestável da fala para incorporar os surdos-mudos à 
vida social e considerou-se que a utilização simultânea dos gestos e da 
oralidade é prejudicial, pois dificulta a fala, a leitura labial e a precisão das 
ideias. O Congresso declarou que o método oral puro era ideal para a edu-
cação dos surdos. Essas recomendações foram aceitas por vários países, 
como Alemanha, Itália, França, Inglaterra, Suécia e Bélgica. Somente o 
grupo americano, liderado por Edward Gallaudet, foi contrário à decisão. 
Nesse evento, dos 255 participantes, só três eram surdos. 
Em 1808, Jean-Marc Itard apresentou, na Faculdade de Medicina, 
as memórias Sur les moyens de rendre la parole aux sourds-muets e Sur 
les moyens de rendre l’ouïe aux sourds-muets. O seu método se baseia no 
treino da detecção e da discriminação dos sons, depois das vogais e das 
consoantes. Os alunos deviam aprender a ler e a escrever, acedendo depois 
às palavras e às frases simples. Entretanto, em 1821 ele reconsiderou a sua 
posição anterior, afirmando que a língua gestual é a língua natural dos sur-
dos e pode proporcionar as mesmas vantagens da linguagem falada. 
Em 1815, o americano Thomas Hopkins Gallaudet foi à Europa co-
nhecer os diferentes métodos de educação para surdos. No ano seguinte, 
voltou aos Estados Unidos com Laurent Clerc, um dos primeiros profes-
sores surdos, para auxiliá-lo na fundação de uma escola.
 
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Thomas Hopkins Gallaudet 
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Gallaudet University: primeira universidade para surdos no mundo.
Também nos EUA, na cidade de Boston, em 1872, Alexander 
Graham Bell abriu uma escola oralista para professores de surdos. Re-
gistrou a patente do telefone em 1873. Propôs a eliminação das escolas 
residenciais e a proibição do magistério aos professores surdos e do casa-
mento entre surdos. 
De acordo com Carvalho (2007), durante a Segunda Guerra Mun-
dial, os nazistas perseguiram todos os surdos, principalmente os judeus, 
defendendo seu extermínio. Praticava-se o aborto e a eutanásia em bebês 
com surdez. Eram condenados à morte as crianças encaminhadas a cen-
tros especiais (onde os pais acreditavam estar enviando seus filhos para a 
cura) e os adultos institucionalizados – os quais Hitler autorizou direcio-
nar para a câmara de gás e, depois, permitiu retirar os órgãos deles para 
experiência.
Percebendo-se a necessidade de organizar a educação e os rumos a se-
rem tomados mundialmente quanto à comunicação das pessoas com surdez, 
foi fundada a Federação Mundial de Surdos (WFD), em Roma, em 1951.
Com os estudos feitos em 1967 por Roy Holcomb, introduziu-se a 
expressão Total Communication como filosofia de comunicação, e não 
como um método, associando novamente oralidade e sinais.
Temos como uma das definições para essa filosofia de comunicação: 
A filosofia da Comunicação Total tem como principal preocupação 
os processos comunicativos entre surdos e surdos e entre surdos e 
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ouvintes. Essa filosofia também se preocupa com a aprendizagem 
da língua oral pela criança surda, mas acredita que os aspectos cog-
nitivos, emocionais e sociais não devem ser deixados de lado em 
prol do aprendizado exclusivo da língua oral. Por esse motivo, esta 
filosofia defende a utilização de recursos espaço-visuais como faci-
litadores da comunicação. (GOLDFELD, 1997, p. 35)
Um dos primeiros países a reconhecer oficialmente a língua gestual 
como língua nativa dos surdos foi a Suécia, em 1983.
U.4U InicioUUaUEUucaçãoUUeUSurUosUNoUBrasil
No Brasil, a história da educação de surdos teve início em 26 de 
setembro de 1857, quando se criou o Imperial Instituto dos Surdos-
-Mudos, pela lei nº 839, esta tinha sua comunicação baseada no 
método combinado. Essa instituição foi fundada 
durante o Império de D. Pedro II, com a 
chegada do professor francês Hernest 
Huet, que era surdo. O Instituto era 
um asilo, onde só se aceitavam 
surdos do sexo masculino, que 
vinham de todos os pontos do 
país, sendo que muitos eram 
abandonados pelas famílias na-
quele local. Inicialmente, utiliza-
va-se a língua dos sinais, mas em 
1911 adotou-se o oralismo como 
forma de comunicação. 
O estado de São Paulo tem algumas 
das mais antigas escolas para surdos do Brasil, 
como a fundada, em 1929, pelo Bispo Dom Francisco de Campos Barreto, 
o Instituto Santa Terezinha, na cidade de Campinas/SP, com atendimento 
para meninas. O Instituto foi, em 1933, transferido para São Paulo e, a 
partir de 1970, ele passou a atender meninos e meninas surdas. No final da 
década de 1970, chegou ao Brasil a filosofia da Comunicação Total.
Outra instituição de grande importância foi fundada em 1954, o 
Instituto Educacional de São Paulo (IESP), que em 1969 passou a ser cha-
mado de DERDIC, vinculado à Pontifícia Universidade Católica (PUC)/
 
Conexão 
INES
Instituto Nacional de Educação de 
Surdos, localizado no Rio de Janeiro, com 
mais de 150 anos de trabalho oferecido na área 
da surdez.
É referência nacional e tem atualmente um curso 
de graduação Bilíngue de Pedagogia, o
Primeiro Curso de Graduação Bilíngue
(Português/Língua Brasileira de Sinais – 
LIBRAS). Para conhecer melhor esse 
trabalho, acesse: http://www.ines.
gov.br/
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SP. Atualmente, é referência nacional nos estudos desenvolvidos na área 
de surdez.
Para que se organizassem melhor tanto as questões legais como as 
questões educacionais brasileiras em relação às pessoas com surdez, em 
1987 foi criada a FENEIS (Federação Nacional de Educação e Integração 
de Surdos).
Todos os atuais documentos mundiais falam da importância e da acei-
tação da língua de sinais como meio de comunicação dos surdos. Podemos 
citar a Declaração de Salamanca, de 1994, que traz no seu conteúdo:
[...] importância da língua gestual como meiode comunicação entre 
os surdos [...] deverá ser reconheci-
da e garantir-se-á que os surdos 
tenham acesso à educação na 
língua gestual do seu país.
Atualmente, trabalhamos com 
um sistema bilíngue para surdos, 
mas, para que se pudesse entender 
como se chegou a esta definição, era 
necessário ter conhecimento do pro-
cesso educacional por que passaram as 
pessoas com surdez até hoje, século XXI, 
quando a LIBRAS é reconhecida como um idioma 
e, como tal, pode ser estudado e entendido como aquisição de uma língua, 
que tem estruturas sintáticas, semânticas e morfológicas próprias.
AtiviUaUes
Vamos testar os conhecimentos adquiridos. Julgue verdadeiras (V) 
ou falsas (F) as assertivas a seguir.
 )( Aristóteles acreditava que os surdos poderiam ser educados.
 )( Em 1815, o americano Thomas Hopkins Gallaudet foi à Europa co-
nhecer os diferentes métodos de educação para surdos. No ano seguinte, 
voltou aos Estados Unidos com Laurent Clerc, um dos primeiros professo-
res surdos, para auxiliá-lo na criação de uma escola.
 
Conexão 
Agora vamos assistir ao 
vídeo Orquestra de sinais, que 
mostrará o processo de inclusão de 
uma criança no Brasil em uma escola 
infantil e pública.
Disponível em www.dominiopublico.gov.br
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 )( A primeira instituição para surdos criada no Brasil data de 1875, em 
São Paulo.
 )( Sócrates, já na Antiguidade, percebia que a comunicação dos surdos 
necessitava dos gestos.
 )( Na Idade Média, surdos eram considerados inaptos à educação e ao 
sacerdócio. Somente eram respeitados juridicamente se falassem e casa-
vam-se apenas com a permissão do papa. 
 )( O II Congresso Mundial, em Milão (1880), declarou que a língua ideal 
para os surdos se desenvolverem era a língua de sinais.
 )( O Abade Charles de L’Épée criou a primeira escola pública para sur-
dos na França.
 )( Na Alemanha, foi criado o método alemão, por Samuel Heinike, que 
aceitava o uso dos sinais.
Reflexão
Nesta unidade iniciamos uma contextualização dos caminhos árdu-
os percorridos pelas pessoas com surdez, seja na família, seja na escola ou 
na sociedade. A questão central sempre foi a aceitação da diferença.
Em cada época, em função de crenças e de objetivos políticos e eco-
nômicos, vimos a forma como eram tratados aqueles que tinham alguma 
deficiência. Alguns entendiam a morte como salvação, outros se deixavam 
viver, mas em condições subumanas, e, por fim, eles não tinham os seus 
direitos garantidos nem eram tidos como membros da sociedade. 
O uso da oralidade e da língua de sinais os conflitos para aceitar 
qual seria a melhor forma dos surdos se comunicarem e se desenvolverem 
educacionalmente e na área social, foram os grandes embates vistos na 
historia, porem também foi observado que na maioria das discussões e 
tomadas de decisões os surdos pouco participavam ou eram indagados das 
suas opiniões.
LeiturasUrecomenUaUas
MAZZOTTA, Marcos J. Silveira. Educação especial no Brasil: histó-
ria e políticas públicas. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2005.
Essa obra mostra toda a trajetória da educação especial no Brasil, in-
dicando as principais instituições que foram base para o atendimento 
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Caminhos Históricos da Educação de Surdos – Unidade 1
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educacional das pessoas com deficiência. Com essa trajetória, também 
se mostra o processo de segregação até a discussão da diferença entre 
integração e inclusão.
LACERDA, C.B.F. Um pouco da história das diferentes aborda-
gens na educação dos surdos. Disponível em: http://www.scielo.
br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-32621998000300007-
&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 29/05/2011. 
SACKS, O. Vendo vozes: uma viagem ao mundo dos surdos. São Pau-
lo: Companhia das Letras, 1998.
Referencias
ARANHA, M.S. Paradigmas da relação da sociedade com as pes-
soas com deficiência. Revista do Ministério Público do Trabalho, Ano 
XI, no. 21,março, 2001, pp. 160-173.
GUGEL, Maria aparecida Gugel. Pessoas com Deficiência e o Direito 
ao Trabalho. Florianópolis : Obra Jurídica, 2007.
SOARES, M.A.L. A Educação do surdo no Brasil. Editora Autores 
Associados, 2002. 2. ed.
NaUpróximaUuniUaUeU
Estaremos estudando as questões clinicas, nomenclaturas e se existe 
diferenças entre surdos e deficientes auditivos. Atenção, pois serão que-
brados mitos com relação a preconceito associado a maneira como nos 
referimos as pessoas com surdez.
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Questões Clínicas da 
Surdez e as Nomenclaturas 
Nesta unidade, conversaremos sobre o 
que é a surdez e como ocorrem as lesões. 
Entenderemos como a surdez é dividida, quais 
são seus graus e como isso interfere na vida diária.
Percebe-se que, no decorrer da história, muitas 
nomenclaturas foram sendo alteradas, e na área da sur-
dez não foi diferente. Será explicado se existe realmente 
necessidade dessas mudanças ou se somente são sinônimos. 
Antes de compreender os tipos de comunicação que são utili-
zados pela comunidade de surdos, é fundamental entender como 
essa deficiência ocorre e quais são as consequências para a vida 
familiar, escolar e social.
Nesta unidade, conheceremos a audição humana e entendere-
mos como o som é processado. Também serão discutidas as questões 
referentes às nomenclaturas, bem como se existem diferenças ou são 
apenas sinônimos.
Objetivos da sua aprendizagem
O objetivo desta unidade é levar o aluno ao conhecimento das 
questões clínicas ligadas à surdez, desmistificando várias nomenclaturas 
e definições.
Você se lembra?
Várias doenças e infecções ou mesmo a introdução de objetos no 
ouvido podem ocasionar a surdez. Você se lembra de ser informado 
dos cuidados com a sua audição? Já conheceu pessoas que tinham 
a audição perfeita e, por uma doença ou qualquer outro fato, fica-
ram surdas? Pois é, pense nisso. As pessoas não nascem somen-
te com a deficiência e podem no decorrer da vida passar a ser 
pessoas com deficiência.
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2.UUCaracterísticasUClinicasUUaUSurUez
A audição é medida em decibéis (db), que é a unidade de medida 
referente à intensidade de sons. Uma audição normal está entre 0 e 25 db 
e, quanto maior for o número de decibéis, maior será a perda auditiva.
Vamos conhecer como é o caminho percorrido pelo som para que 
possamos ouvir ou mesmo entender em qual parte pode ter ocorrido um 
problema que poderá levar à surdez.
Ouvido Externo Ouvido Médio
Ouvido 
Interno
Estribo
Nervo
auditivo
Janela
oval
Cóclea
Trompa de
Eustáquio
Canal
semicircularOssotemporal
Pavilhão
Auditivo
Canal
Auditivo
externo
Martelo
Timpano
Bigorna
Lenticular
( 1 )
( 2 )
( 5 )
( 3 )
( 4 )
que vibra os
ossiculos
O som chega pelo
meato, vibra o tímpano
a propagação da
sai cóclea para a
trompa de Eustáquio
A base do estribo
transmite a vibração
para dentro do líquido
e a onda se propaga
fazendo a 
membrana basilar
ressonar de acordo
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CURIOSIDADE
O ouvido é dividido em três partes: 
externo, médio e interno.Ouvido externo: 
é formado pela orelha e pelo canal auditivo, 
com a membrana timpânica no fundo do canal. 
Ouvido médio: nele estão os três ossículos (mar-
telo, bigorna, estribo) e a abertura da tuba auditiva. 
Ouvido interno: também chamado de labirinto, é 
formado pelo aparelho vestibular (equilíbrio)e pela 
cóclea (audição).
A diminuição da audição (surdez) produz re-
dução na percepção de sons e dificulta 
a compreensão das palavras.
Agora que entendemos como é o processo para que possamos ouvir, 
fica mais fácil ter cuidado para não lesionar alguma região do ouvido. De-
vemos ficar atentos a infecções no ouvido médio (otite).
Continuando o estudo da au-
dição e do que pode causar a 
surdez, entenderemos a im-
portância do período de 
aquisição da linguagem, 
que é fundamental para a 
organização dos atendi-
mentos às crianças surdas. 
A aquisição está divi-
dida em pré-lingual, ou seja, 
ocorreu antes da aquisição 
da linguagem, ou pós-lingual, 
que ocorreu depois da aquisição da 
linguagem. Saber esses dados auxilia na 
organização das formas de comunicação, oral ou gestual.
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Marchesi (1997) constatou que quase 100% de um segmento signifi-
cativo de adolescentes que haviam perdido a audição após os três anos de 
idade tinham desenvolvido uma linguagem interna. Tal afirmativa deve-se 
ao fato de que, tendo perdido a audição após essa idade, a criança já havia 
tido uma dominância cerebral consolidada, o que lhe permitiu o registro 
da experiência auditiva.
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De acordo com Araujo (2005, p.244)
Como, até os três primeiros anos de vida, a organização das fun-
ções neurológicas está se fazendo, a competência linguística é de-
masiadamente frágil. As crianças que ficam surdas nesse período, 
considerado pré-linguístico, fase em que não está estruturada ainda 
a linguagem dos ouvintes, não deixam de poder desenvolver uma 
linguagem a fim de se comunicar, porém isso ocorre com uma es-
truturação diferente.
Com essas informações, fica evidente o quanto é fundamental saber-
mos a época em que ocorreu a surdez.
A surdez pode ser dividida em dois grandes grupos (BRASIL, 2006): 
• congênitas: o indivíduo já nasceu surdo; 
• adquiridas: o indivíduo perde a audição no decorrer da sua 
vida.
As causas da surdez estão divididas em três grupos: 
• pré-natais: surdez causada por fatores genéticos e hereditários, 
doenças adquiridas pela mãe na época da gestação (rubéola, 
toxoplasmose, citomegalovírus) e exposição da mãe a drogas 
ototóxicas (medicamentos que podem afetar a audição);
• perinatais: frequentemente causada por parto prematuro, anó-
xia cerebral (falta de oxigenação no cérebro logo após o nas-
cimento) e trauma de parto (uso inadequado de fórceps, parto 
excessivamente rápido, parto demorado);
• pós-natais: doenças adquiridas pelo indivíduo ao longo da 
vida, como meningite, caxumba, sarampo. Além do uso de me-
dicamentos ototóxicos, outros fatores também têm relação com 
a surdez, como avanço da idade e acidentes.
De acordo com o local onde ocorreu a lesão, têm-se características 
distintas: 
Condutiva: quando está localizada no ouvido externo e/ou no ou-
vido médio; as principais causas deste tipo são as otites, rolha de 
cera, acúmulo de secreção que vai da tuba auditiva para o interior 
do ouvido médio, prejudicando a vibração dos ossículos (geralmen-
te aparece em crianças frequentemente resfriadas). Na maioria dos 
casos, essas perdas são reversíveis após tratamento.
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• Neurossensorial: quando a alteração está localizada no ouvido in-
terno (na cóclea ou em fibras do nervo auditivo). Esse tipo de lesão 
é irreversível; as causas mais comuns são a meningite e a rubéola 
materna.
• Mista: quando a alteração auditiva está localizada no ouvido 
externo e/ou médio e ouvido interno. Geralmente ocorre devido a 
fatores genéticos, determinantes de má formação.
• Central: a alteração pode se localizar desde o tronco cerebral até 
às regiões subcorticais e córtex cerebral.
(BRASIL, 2006, p.16)
(BRASIL,2006,p.16)
As características da surdez dependem do tipo e da gravidade do 
problema que a causou. De acordo com o grau da surdez, podem-se obser-
var as características que esta perda traz para o indivíduo. 
Uma criança com perda leve pode apresentar dificuldade em en-
tender mensagens, sobretudo com palavras de uso pouco frequente, não 
identifica totalmente os sons produzidos com voz ciciada, tem melhor per-
cepção quando utiliza uma prótese auditiva e pode apresentar pequenas 
dificuldades articulatórias. Normalmente, essas crianças são consideradas 
muito distraídas.
 
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Perda leve
Já a criança com uma perda auditiva moderada só identifica palavras 
produzidas com elevação de voz; é necessária a colocação de uma prótese 
auditiva para que ela consiga perceber os sons; pode não conseguir acom-
panhar uma discussão em grupo; a articulação é bastante imprecisa e a 
linguagem expressiva oral apresenta-se limitada. Existe a necessidade de 
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estas crianças usarem próteses auditivas – elas necessitam de treino audi-
tivo e de grande estimulação da linguagem.
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Perda auditiva moderada
Quando a criança apresenta perda severa, ela consegue ouvir apenas os 
sons próximos; só consegue perceber algumas palavras se estas forem amplifica-
das, e o processo de aquisição da linguagem oral não é feito de forma espontânea. 
Elas não podem dispensar do uso das próteses e, na maioria das vezes, utilizam a 
língua de sinais para se expressar, bem como para compreender os outros.
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Perda auditiva severa
A deficiência auditiva profunda faz com que a criança não consiga 
perceber a fala através da audição, mas ela pode perceber sons altos e vi-
brações e apresenta muitas limitações para a aquisição da linguagem oral. 
Deve ser ensinada à criança a língua de sinais.
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Perda auditiva profunda
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O quadro a seguir é um resumo dos graus da surdez. É importante 
lembrar que podem existir diferenças na abordagem feita por alguns auto-
res, mas adotaremos em nossos estudos os dados que se seguem.
Leve
26 a 40 db
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Dificuldade para ouvir 
o som do tique-taque do 
relógio ou uma conver-
sação sussurrada (cochi-
cho). 
Moderada
41 a 70 db
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Dificuldade para ouvir 
uma voz fraca ou o can-
to de um pássaro e para 
participar de discussões 
em sala. Usa AASI (apa-
relho de amplificação 
sonora individual).
Severa
71 a 90 db
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ia Dificuldades para ouvir 
o telefone tocando ou os 
ruídos das máquinas de 
escrever num escritório.
Profunda
Acima de 91 db
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ia Dificuldades para ouvir 
o caminhão, o som na 
discoteca, o ruído de um 
avião decolando.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 1,5% da popula-
ção dos países em desenvolvimento têm problemas relativos à audição, e 
a surdez, em seus diversos graus, atinge 10% da população mundial.
2.2UNomenclaturasUeUsurUez:UqualUaUimportânciaUemU
UiferenciarUsurUosUeUUeficientesUauUitivosU
Podemos pensar “o surdo” partindo de duas definições distintas: 
uma clínica e outra sócio-antropológica.
Na visão clínica, enfatiza-se a perda da audição. Skliar (1997, p.45) cita: 
[...] o surdo é considerado uma pessoa que não ouve e, portanto, 
não fala. É definido por suas características negativas; a educação 
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se converte em terapêutica, o objetivo do currículo escolar é dar ao 
sujeito o que lhe falta: a audição, e seu derivado: a fala. 
O autor citado também define:
Medicalizar a surdez significa orientar toda a atenção à cura do 
problema auditivo, à correção de defeitos da fala, ao treinamento 
de certas habilidades menores, mais que a interiorização de instru-
mentos culturais significativos, como a língua de sinais. E significa 
também opor e dar prioridade ao poderoso discurso da medicina 
frente à débil mensagem da pedagogia.
Entretanto, podemos pensar um indivíduo surdo capaz e uma surdez 
não como fim.Assim define Sánchez (1998, p.51):
A surdez não é uma doença que necessita de cura, mas é uma con-
dição que deve ser aceita. Os surdos não são inválidos que precisam 
de reabilitação. Eles são membros de uma comunidade linguística 
minoritária que deve ser respeitada e possuem o direito inalienável 
de receber sua educação nesta língua.
Capovilla (1998, p.1543) também relata o antagonismo da termino-
logia surdo, baseado nestes dois posicionamentos, sendo que a:
[...] posição médica que considera a surdez como um problema a ser 
resolvido e o surdo como portador de uma deficiência a ser curada, 
há posição antropológica que considera a surdez como uma pecu-
liaridade humana e o surdo como portador de uma cultura e uma 
língua própria a serem respeitadas.
Tomando o conceito de surdez enquanto construção social, e não 
como falta biológica, conseguimos visualizar possibilidades educacionais, 
sociais, mas é de fundamental importância reconhecer que é por meio da 
língua de sinais que essas pessoas conseguem realmente participar do 
mundo, expressando seus desejos e suas vontades e assumindo realmente 
seu papel na sociedade. 
As questões de nomenclatura sempre são colocadas é de fundamental 
importância conhecer como se define tecnicamente, segundo Sassaki (2005): 
[...] deficiência auditiva é a “perda parcial ou total bilateral, de 25 
(vinte e cinco) decibéis (db) ou mais, resultante da média aritmé-
tica do audiograma, aferida nas frequências de 500HZ, 1.000HZ, 
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2.000Hz e 3.000Hz” (art. 3º, Resolução nº 17, de 8/10/03, do 
CONADE – Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora 
de Deficiência.Porém em 2/12/04, o Decreto nº 5.296, de 2/12/04, 
alterou de 25 decibéis para 41 decibéis, a definição de Deficiência 
Auditiva.
Uma das definições que poderíamos adotar é a que coloca os surdos 
como pessoas que utilizam a comunicação espaço-visual como principal 
meio de conhecer o mundo, em substituição à audição e à fala. Eles são 
usuários da língua de sinais; sua audição não é funcional na vida comum. 
Para o hipoacústico (deficiente auditivo), a audição, ainda que deficiente, 
é funcional com ou sem prótese auditiva.
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Surdo
Marques (1998) define que o surdo compreende o mundo pelo visual. 
Este apresenta um pensamento plástico que atravessa ideias e com-
portamentos através de uma linguagem que existe pelas imagens e 
representações mentais que informam a percepção, de acordo com 
características intelectivas próprias. A visualidade é o principal 
canal de processamento de esquemas de pensamento que propicia 
a aquisição, construção e expressão de conhecimento, valores e vi-
vências que levam a uma concepção de mundo muito particular. A 
linguagem visual para o sujeito surdo é a sistematização e produto 
de seu desenvolvimento cognitivo e histórico, tornando-se instru-
mento para a formulação de generalizações que facilitem a transição 
da reflexão sensorial espontânea para o pensamento racional através 
do uso dos signos.(MARQUES,1998 apud DALCIN,2005,p.13) 
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Para a educação, é de fundamental importância o tipo de comunicação 
que a pessoa com surdez utiliza, não somente para que assim se possa ga-
rantir a presença dos intérpretes de LIBRAS nas escolas, mas também para 
se organizarem os atendimentos educacionais em LIBRAS e de LIBRAS.
Uma reflexão que poderia ser feita é que talvez o mais importante 
não seja como é chamada a pessoa com surdez, mas como se lida com a 
deficiência, pois estaríamos discutindo principalmente o preconceito que 
pode haver por trás das palavras. 
AtiviUaUes
Para reforçar nosso estudo vamos associar:
1. Perda leve ( ) até 25db
2. Perda moderada ( ) 71 a 90db
3. Perda severa ( ) 41 a 70db
4. Perda profunda ( ) 26 a 40db
5. Audição normal ( ) acima de 91db
01. Qual a definição, de acordo com a sócio-antropologia, de surdo e de-
ficiente auditivo?
02. O que uma criança com perda auditiva moderada consegue perceber 
auditivamente?
Reflexão
Nesta unidade, o objetivo foi mostrar um pouco da deficiência au-
ditiva, suas causas, características e necessidades mais elementares. É im-
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Questões Clínicas da Surdez e as Nomenclaturas – Unidade 2
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portante pensarmos que qualquer pessoa pode vir a ser surda se cuidados 
não forem tomados para a sua saúde auditiva.
Durante a vida, temos a oportunidade de perceber e ter o prazer de 
ouvir vários sons distintos, como sons dos pássaros, uma música, até mes-
mo o barulho dos carros, das buzinas, enfim, podemos perceber o mundo 
à nossa volta por meio dos sons. Nossa atenção é guiada, muitas vezes, 
pelo sentido da audição. Para muitos, o silêncio incomoda; imagine nunca 
ter escutado, nem seu nome, nem a mãe chamando, como seria entender o 
mundo sem esse sentido?
Talvez valha a pena citar Helen Keller, que escreveu um texto cha-
mado “Três dias para ver”. Depois faça uma reflexão:
Várias vezes pensei que seria uma bênção se todo ser humano, de 
repente, ficasse cego e surdo por alguns dias no princípio da vida 
adulta. As trevas o fariam apreciar mais a visão e o silêncio lhe en-
sinaria as alegrias do som.
De vez em quando testo meus amigos que enxergam para descobrir 
o que eles veem. Há pouco tempo perguntei a uma amiga que volta-
va de um longo passeio pelo bosque o que ela observara. “Nada de 
especial”, foi a resposta.
Como é possível, pensei, caminhar durante uma hora pelos bosques 
e não ver nada digno de nota? Eu, que não posso ver, apenas pelo 
tacto encontro centenas de objetos que me interessam. Sinto a de-
licada simetria de uma folha. Passo as mãos pela casca lisa de uma 
bétula ou pelo tronco áspero de um pinheiro. Na primavera, toco os 
galhos das árvores na esperança de encontrar um botão, o primeiro 
sinal da natureza despertando após o sono do inverno. Por vezes, 
quando tenho muita sorte, pouso suavemente a mão numa arvorezi-
nha e sinto o palpitar feliz de um pássaro cantando.
[...] Eu, que sou cega, posso dar uma sugestão àqueles que veem: usem 
seus olhos como se amanhã fossem perder a visão. E o mesmo se apli-
ca aos outros sentidos. Ouça a música das vozes, o canto dos pássaros, 
os possantes acordes de uma orquestra, como se amanhã fossem ficar 
surdos. Toquem cada objeto como se amanhã perdessem o tacto. Sin-
tam o perfume das flores, saboreiem cada bocado, como se amanhã 
não mais sentissem aromas nem gostos. Usem ao máximo todos os 
sentidos; gozem de todas as facetas do prazer e da beleza que o mundo 
lhes revela pelos vários meios de contacto fornecidos pela natureza.
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LeiturasUrecomenUaUas
SASSAKI,R.K. Terminologia sobre deficiência na era da inclusão. Dis-ponível em http://www.educacaoonline.pro.br/index.php?option=com_
content&view=article&id=69:terminologia-sobre-deficiencia-na-era-
da-inclusao&catid=6:educacao-inclusiva&Itemid=17 
___________. Nomenclatura na área da surdez. Disponível em 
http://www.educacaoonline.pro.br/index.php?option=com_conten
t&view=article&id=69:terminologia-sobre-deficiencia-na-era-da-
inclusao&catid=6:educacao-inclusiva&Itemid=17
No primeiro texto, o autor discute que pensar na perspectiva da edu-
cação inclusiva nos remete também a pensar na mudança de alguns voca-
bulários para que melhor se encaixem quando se referem a determinados 
grupos de pessoas. No segundo material, ele pontua a área da surdez e 
desmistifica vários nomes. Também devemos tomar cuidado para não ro-
tular as pessoas, pois elas têm a deficiência, não são a deficiência.
Referências
BRASIL. Saberes e práticas da inclusão: desenvolvendo competên-
cias para o atendimento às necessidades educacionais especiais de alu-
nos surdos. 2. ed. SEESP/MEC. Brasília: MEC, 2006. 
BUENO, J.G.S. Surdez, linguagem e cultura. Cad. CEDES, vol.19, 
nº46, Campinas, set/1998.
SACKS, O. Vendo vozes. São Paulo: Cia. das Letras, 1998.
NaUpróximaUuniUaUeU
Na próxima unidade estudaremos as línguas orais e as gestuais, suas 
diferenças e quais características têm para ser consideradas idiomas. E um 
pouco da história da língua de sinais e da LIBRAS. 
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Comunicação,Línguas 
Orais e de Sinais
Nesta Unidade, discutiremos as diferen-
ças entre as duas línguas: oral e gestual.
Também será mostrado como os sinais passaram, 
com o tempo, a terem características de língua/idioma.
Muitas pessoas acreditam que a língua de sinais é 
universal, o que é um grande equívoco. Cada país tem a sua 
língua e tem marcas fortes de sua cultura e na maneira como 
percebem o mundo.
As línguas orais têm diferenças de um município para o ou-
tro; as línguas de sinais também.
Vale lembrar a citação do psiquiatra surdo norueguês
Terje Basilier:
Quando eu aceito a língua de outra pessoa, eu aceito a pessoa...
Quando eu rejeito a língua, eu rejeito a pessoa porque a língua é 
parte de nós mesmos... Quando eu aceito a Língua de Sinais, eu 
aceito o surdo, e é importante ter sempre em mente que o surdo tem 
o direito de ser surdo. Nós não devemos mudá-los, devemos ensiná-
los, mas temos que lhes permitir ser surdo. 
Na Unidade III, estamos falando sobre o foco principal, que é a 
comunicação. É por meio da comunicação que as pessoas se relacionam, 
expressam seus sentimentos, enfim, mantêm contato com o mundo que 
as rodeia.
Objetivos da sua aprendizagem
O objetivo da unidade III é mostrar a importância da comu-
nicação tanto oral como gestual.
Você se lembra?
Você se lembra do cinema mudo? Conseguimos en-
tender Charles Chaplin mesmo sem nada ouvir, apenas 
observando suas expressões faciais e corporais.
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3.UUComunicação
Antes de iniciarmos o estudo das línguas orais e gestuais, vamos 
pensar a respeito da comunicação, que é a base do nosso estudo.
Comunicação vem do latim communicatio, que quer dizer “atividade 
realizada conjuntamente”, pois a palavra tem este significado religioso:
No mosteiro aparecera uma prática que recebeu o nome de com-
municatio, que é o ato de “tomar a refeição da noite em comum”, 
cuja peculiaridade era evidentemente não recair sobre a banalidade 
do ato de “comer”, mas de fazê-lo “juntamente com os outros”, 
reunindo então aqueles que se encontravam isolados. A originali-
dade dessa prática fica por conta dessa ideia de “romper o isola-
mento”, e nisto reside a diferença entre a communicatio eclesiásti-
ca e o simples jantar da comunidade primitiva. Não se trata, pois, 
de relações sociais que naturalmente os homens desenvolvem, mas 
de uma certa prática, cuja novidade é dada pelo plano de fundo 
do isolamento. Daí a necessidade de se forjar uma nova palavra, 
para exprimir novidade dessa prática. (HOHLFELDT, MARTINO, 
FRANÇA, 2007, p.13)
Ou seja, como diz Vanoye (2003, p.1), “[...] toda comunicação tem 
por objetivo a transmissão de uma mensagem”, que traz a ideia mais 
simples de conversa, do diálogo entre duas ou mais pessoas (emissor 
é quem produz a mensagem – receptor é quem recebe a mensagem), e 
isso pode ocorrer de várias maneiras por gestos, fala, escrita, meios de 
comunicação etc. 
A comunicação estabelece uma relação com alguém ou com alguma 
coisa e através desta relação ocorrem as modificações, pois vivemos em 
sociedade. 
Sabe-se que a comunicação nasceu na pré-história, como forma de 
expressão que ocorria por meio de desenhos nas paredes das cavernas, de-
pois retorna na invenção da escrita pelos sumérios, em 3.500 a.C. e assim 
por diante a comunicação vai se desenvolvendo com as sociedades, pois 
tem varias funções que são lhe atribuídas através de mensagens como in-
formar, persuadir, convencer, prevenir e etc. 
Durante este capítulo, estudaremos alguns tipos de comunicação, por-
que toda comunicação envolve um comportamento social, principalmente a 
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linguagem, que vai nos ajudar a entender melhor como ocorrem as intera-
ções entre alunos com e sem deficiência nesse processo de inclusão, pois a 
linguagem é tida como um processo fundamental para os homens. 
A comunicação humana é um processo que envolve a troca de infor-
mações; ela tem os sistemas simbólicos como suporte para este fim. Exis-
te uma infinidade de maneiras de se comunicar: oralmente ou por meio de 
gestos e de mensagens enviadas utilizando-se as redes sociais, bem como 
a escrita, que permite interagir com as outras pessoas e efetuar algum tipo 
de troca informacional.
Para a semiótica, o ato de comunicar é a materialização do pensa-
mento/sentimento em signos conhecidos pelas partes envolvidas. Estes 
símbolos são transmitidos e reinterpretados pelo receptor. Hoje, é interes-
sante pensar também em novos processos de comunicação, que englobam 
as redes colaborativas e os sistemas híbridos, que combinam comunicação 
de massa, comunicação pessoal e comunicação horizontal.
Para entendermos o que é língua, devemos começar conhecendo a 
palavra-chave da linguística bakhtiniana, que é diálogo. Só existe língua 
onde há possibilidade de interação social, dialogal. A língua é um traba-
lho empreendido conjuntamente pelos usuários, é uma atividade social, é 
enunciação. 
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A língua, para Bakhtin, remete-nos a um sistema de referências pro-
duzido histórica e socialmente nas relações interativas.
E é no sentido bakhtiniano que se pode entender a pessoa com 
surdez como sujeito produtor de sistemas simbólicos, constituída de 
consciência, linguagem e pensamento, cuja(s) língua(s) em uso é (são) 
sistema(s) de referência, social e historicamente produzido(s) nas relações 
interativas/ nas relações dialógicas. Isso nos leva a sustentar que os sujei-
tos surdos se constituem nesse processo, interagindo com os outros, com 
seus interlocutores; seu conhecimento de mundo resulta desse processo. 
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3.2UComunicaçãoUOral
A comunicação, como já foi visto, pode ser oral, gestual, corporal 
ou escrita. 
Inicialmente, é importante definir que comunicação oral é:
[...] uma modalidade de divulgação científica realizada através da 
exposição verbal de tempo variável, com ou sem auxílio de recursos 
audiovisuais e amplificadores de voz. O recurso predominantemente 
utilizado é, portanto, o próprio corpo do expositor, particularmente 
a sua fala, seus gestos, expressões faciais,direcionamento do olhar 
e postura. (CARMO, PRADO, 2005, p.2)
As pessoas geralmente utilizam da oralidade para se comunicar e 
para isso utilizam a língua para expressar o que sentem e pensam. A fala é 
forma dominante de comunicação e expressão social, sendo o vínculo de 
compreensão entre os seres humanos.
Segundo Vanoye (2000, p. 209), existem três aspectos que compreen-
dem a comunicação oral: fisiológico, que é a variação de frequência (de altu-
ra), de intensidade e de periodicidade das ondas sonoras; psicolinguístico, que 
é o estudo da língua enquanto conjunto de segmentos conhecidos e reconheci-
dos; psicológico, que é vinculado aos problemas de atenção e personalidade.
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Esses aspectos acontecem quando a comunicação oral passa do apa-
relho fonador ao ouvido humano.
Para que a comunicação oral ocorra bem, ela precisa ser adaptada 
à necessidade do interlocutor, para que a mensagem seja transmitida sem 
interrupções, a fim de que o receptor possa entendê-la.
E existem dois tipos de comunicação oral:
• Com intercâmbio: quando emissor e receptor podem variar 
seus papéis. Exemplo: diálogo conversa.
• Sem intercâmbio: quando só o receptor fala. Exemplo: aula 
expositiva, discurso.
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Para terminar, destaca-se a importância da comunicação oral na so-
ciedade e “[...] enfatizar a importância do emissor e do receptor, visto que 
são os sujeitos da comunicação.” (KREUZ, 2003, p.3)
3.3ULínguaUUeUsinais
As línguas surgem pela comunicação e pela interação de determi-
nado grupo de pessoas, podendo ser oral ou por meio dos sinais. Ambas 
possuem estruturas que possibilitam, segundo Brito (2008):
[...] a expressão de qualquer conceito – descritivo, emotivo, racio-
nal, literal, metafórico, concreto, abstrato, enfim – permite a expres-
são de qualquer significado decorrente da necessidade comunicativa 
e expressiva do ser humano.
O linguista William Stokoe, em 1950, comprovou o status linguís-
tico da língua de sinais, afirmando que ela satisfazia todos os critérios 
linguísticos de uma língua genuína, no léxico, na sintaxe e na capacidade 
de gerar infinitas combinações a partir de três partes independentes (lo-
calização, configuração de mãos de movimento executado) análogas aos 
fonemas da fala (SACKS, 1998). 
No Brasil, as pesquisas sobre a Língua Brasileira de Sinais tiveram 
início em 1981, quando a linguista Lucinda Ferreira-Brito apresentou o 
bilinguismo na área da surdez.
É de 1873 a publicação do mais importante documento encontrado 
até hoje sobre a Língua Brasileira de Sinais, o Iconographia dos signaes 
dos surdos-mudos, de autoria do aluno surdo Flausino José da Gama, com 
ilustrações de sinais separados por categorias (animais, objetos, etc), que 
estudava no Instituto de Surdos e Mudos do Rio de Janeiro.
Em 1969, houve a primeira tentativa de registrar a língua de sinais 
falada no Brasil. Foi publicado por Eugênio Oates o dicionário Lingua-
gem das mãos. Segundo Ferreira Brito (1993), apresentava um índice de 
aceitação por parte dos surdos de 50% dos sinais listados.
Pessoas que ouvem falam diferentes línguas em países diferentes. 
Os surdos também possuem línguas de sinais distintas, pois estas sofrem 
influência cultural e também sofrem reflexos do meio onde se desenvol-
vem, portanto existem muitas línguas de sinais, como: língua de sinais 
francesa, chilena, japonesa, americana, espanhola, venezuelana, portugue-
sa, inglesa, russa, urubus-kaapor (indígena), entre outras.
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As línguas de sinais são utilizadas pela maioria das pessoas sur-
das e, como toda língua, “[...] aumentam 
seus vocabulários com novos sinais 
introduzidos pelas comunidades 
surdas em resposta a mudan-
ças culturais e tecnológicas” 
(BRITO,2010). No Brasil, 
existem duas línguas de 
sinais: Língua Brasileira de 
Sinais (LIBRAS) e Língua 
Brasileira de Sinais Kaa-
por (LSKB). A primeira é 
utilizada nos centros urbanos 
e é reconhecida como primeira 
língua pelas comunidades surdas; 
já a língua brasileira de sinais Kaapor 
(LSKB) é utilizada pelos índios da tribo Urubu-Kaapor – situada ao sul do 
estado do Maranhão –, que possui alto índice de surdez, é intratribal e há 
um surdo para cada 75 não surdos indígenas.
Dados do Censo (2000) do Instituto Brasileiro de Geografia e Es-
tatística (IBGE) apontaram que a surdez é a segunda maior deficiência 
no Brasil. Os deficientes auditivos (DA) somam, aproximadamente, 5,7 
milhões. Destes, quase um milhão apresentam surdez severa.
Para melhor perceber as diferenças entre as línguas, observe os alfa-
betos de alguns países apresentados a seguir e compare:
 
Conexão: 
O Ministério da Educação 
(MEC) não informa quantos dos 163 
693 indígenas matriculados na rede pública 
têm deficiência auditiva - entre os não-índios 
são 15 mil. Em 2001, com a aprovação do Plano 
Nacional de Educação, as escolas indígenas conse-
guiram garantir a identidade cultural e linguística de 
suas populações por meio de um currículo diferencia-
do. Das 2 323 escolas indígenas existentes no Brasil, 1 
818 já oferecem Educação bilíngue.
Assista ao vídeo Educação Inclusiva de Índios 
Surdos - Dourados/MS Dsponível em http://
www.youtube.com/watch?v=Gus1iTA_Eac 
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 Alfabeto e números em LIBRAS-Brasil
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Alfabeto em LIBRAS-Estados Unidos
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3.4UDiferençasUEntreULínguasUOraisUEUDeUSinais
Façamos um quadro para facilitar o entendimento da diferença entre 
as línguas orais e visuais: 
Línguas orais: português,
inglês, espanhol etc.
Línguas de sinais: brasileira,
americana,francesa etc.Diferenças
Orais e auditivas Visual e espacial
BRITO (2008) aponta que as línguas de sinais são diferentes das 
línguas orais porque têm como meio ou canal de comunicação o sistema 
visual-espacial, e não oral-auditivo. São expres-
sas em determinado espaço e percebidas 
pela visão, ou seja, a comunicação ocorre 
através de fontes distintas, mas com os 
mesmos significados.
Para se chegar à definição de 
que as línguas de sinais eram idiomas 
demorou muito tempo: somente no sé-
culo XX isso aconteceu.
Nos capítulos anteriores, vimos 
como ocorreu o desenvolvimento histórico 
e educacional das pessoas com surdez e já era 
percebida a influência da oralidade em determinadas épocas da história.
As línguas trazem conceitos de determinada cultura, de uma comu-
nidade que muitas vezes não faz parte de outras realidades, como afirma 
Faria (2006, p.179).
Os vocábulos das línguas, ao serem concatenados, produzem uma 
infinidade de trocadilhos cujos significados flutuam dos mais trans-
parentes aos mais opacos; dos mais simples aos mais inusitados; 
dos mais grotescos aos mais poéticos. Essa recursividade encontra-
se carregada da cultura vivenciada pelos indivíduos, na comunida-
de a que pertence. Por isso, muitas vezes, o que se diz é somente 
entendido por falantes nativos de dada língua ou por quem se en-
 
Conexão: 
Para poder observar as 
diferenças entre as línguas de 
sinais assista aos filmes: “Quatro 
casamentos e um funeral”, nele vocês 
terão a oportunidade de assistir um 
surdo se comunicando em língua de 
sinais da Inglaterra e para comparar 
assista “Velocidade Máxima 2”onde 
é mostrada a língua de sinais 
Americana.
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contra imerso nessa comunidade, por anos trocando, tropeçando e 
descortinando construções e interpretações das mais variadas, origi-
nadas no arcabouço linguístico e criativo das trocas comunicativas. 
Exemplo disso está o fato de que questões culturais incorporadas à 
LP não têm sido transmitidas naturalmente aos surdos brasileiros, 
como acontece com os ouvintes que, quando crianças, ouvem ex-
pressões ‘estranhas’, mas, aos poucos, vão descobrindo o que real-
mente elas significam e as naturalizam.
AtiviUaUes
01. O que difere as línguas orais das línguas de sinais?
02. No Brasil, quantas línguas de sinais existem? Quais são elas?
03. Quando e por quem foi descoberto o status linguístico da língua de 
sinais?
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04. O que fez com que a Comunicação Total não conseguisse atingir o 
desenvolvimento dos surdos por completo?
05. No oralismo, por que os sinais não são aceitos?
Reflexão
Depois dos estudos realizados, é importante pensar que, sendo 
a comunicação a base dos relacionamentos entre as pessoas, a língua 
de sinais ter adquirido caráter de língua auxiliou muito no desenvolvi-
mento das pessoas surdas, pois existe uma formalização na comunica-
ção. Veremos, nos próximos capítulos, como a legislação auxiliou no 
processo para as línguas orais e de sinais conviverem harmonicamente 
no mesmo espaço.
LeiturasUrecomenUaUas
BRITO,F. Por uma gramática das línguas de sinais. Rio de Janei-
ro: Tempo Brasileiro, 1995. Disponível em: http://www.ines.org.br/
ines_livros/FASC7_INTRO.HTM
LODI,A.C. Plurilingüismo e surdez: uma leitura bakhtiniana da 
história da educação dos surdos. Disponível em http://www.scielo.br/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-97022005000300006&lng=
pt&nrm=iso 
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Referências
FARIA, S.P. Metáfora na LSB: debaixo dos panos ou a um palmo do 
nosso nariz? Educação Temática Digital, Campinas, v.7, n.2, p178-
198, jun. 2006.
FELIPE, T. LIBRAS em contexto. MEC, SEESP: Brasília, 2006.
SACKS, O. Vendo vozes. São Paulo: Cia. das Letras, 1998.
NaUpróximaUuniUaUeU
Na próxima unidade, estudaremos as diferentes filosofias da comu-
nicação na área da surdez. Entenderemos como atualmente se dá a edu-
cação bilíngue, que mostra o surdo com uma pessoa que tem a língua de 
sinais como língua materna e o português como segunda língua. 
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U Filosofias de Comunicação: da Fala à Língua Brasileira 
de Sinais
Sabe-se que a discussão de qual seria o melhor 
método ou filosofia é bastante antiga como pode-
mos observar na citação de Bueno (1993,p.71) 
Essa polêmica tem sido analisada, até hoje, através dos méri-
tos intrínsecos de cada método, que oscilam entre a constatação 
da dificuldade do surdo adquirir linguagem oral (defesa do gestu-
alismo) e a afirmação de que a fala possibilita melhor integração 
social (defesa do oralismo).
A escolha da abordagem educacional que privilegie a oraliza-
ção ou a sinalização é muito relativa; é uma opção linguística que a 
família faz e está relacionada com o significado que o surdo atribui à 
língua de sinais e à língua oral. É essencial conhecer as diferentes pro-
postas, com o intuito de compreender as posturas dos surdos e dos seus 
familiares.
Alguns bilinguistas fazem divisões distintas quanto às correntes de 
comunicação. Para Behares (1993), são cinco correntes: oralismo, comu-
nicação total, bimodalismo, educação bilíngue, bicultural. Já para Ferrei-
ra Brito (1993), são três correntes: oralismo, comunicação total e bilin-
guismo, sendo que elas podem se fundir em duas especialidades (oralista 
e bilíngue), já que a comunicação total está vinculada à primeira).
Bueno (1998, p. 23) realizou um dos melhores enfoques sobre 
qual filosofia a ser adotada na educação de surdos. Ele destaca duas 
correntes, sendo que ambas abordam as consequências da surdez, 
como limitações para o desenvolvimento social ou educacional do 
deficiente auditivo: 
Somente quando nos ativermos ao fenômeno social da deficiência 
auditiva, considerando as restrições efetivamente impostas por 
uma condição intrinsecamente adversa (a surdez), aliada às 
condições sociais das minorias culturais, determinadas por 
diferenças de classe, raça e gênero, estaremos avançando 
no sentido de contribuir efetivamente para o acesso à 
cidadania, acesso esse historicamente negado, quer 
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pelos defensores do oralismo, quer pelos defensores da língua de 
sinais, na medida em que nenhum deles conseguiu, efetivamente, 
desvincular-se das manifestações específicas geradas pela surdez. 
No Brasil, até a década de 1970, a educação para os surdos era pu-
ramente oralista. Entre os anos 1970 e final de 1980, a Comunicação Total 
era adotada e somente no início da década de 1990 começou a ser difundi-
do o bilinguismo.
Chegar ao século XXI sabendo que o surdo é uma pessoa bilíngue 
teve uma longa e difícil trajetória, pois, de acordo com cada época da 
sociedade, acreditava-se em uma abordagem diferente para o surdo se de-
senvolver. Essas mudanças trouxeram sérios comprometimentos para os 
surdos, que na sua maioria não conseguiram ser alfabetizados.
Objetivos da sua aprendizagem
O objetivo desta unidade é mostrar todas as abordagens que a comu-
nidade surda foi submetida durante a história, para se chegar atualmente 
ao bilinguismo.
Você se lembra?
Você se lembra de alguma vez, na sua vida escolar, ter aprendido que 
a língua dos surdos eram os sinais? Hoje, com todas as mudanças, quantas 
pessoas você conhece que têm fluência na Língua Brasileira de Sinais?
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4.UU Oralismo
Essa corrente metodológica foi precursora na educação dos surdos 
no mundo. A crítica central a esse método é que ele enfatiza que somente 
depois da aquisição da língua oral os surdos seriam capazes de se desen-
volver, tanto social quanto academicamente.
Com o Congresso de Milão, houve grande avanço e predomínio, por 
mais de 110 anos, da língua oral para os surdos. Silva & Favorito (2009) 
relatam que foram anos que somente trouxeram atrasos no desenvolvi-
mento da comunidade surda. Os fracassos das crianças no desenvolvi-
mento da fala eram atribuídos à pouca estimulação ou à falha nas técnicas 
utilizadas, e tais fracassos comprometiam a escolarização e a profissiona-
lização, que eram quase nulas. (SKLIAR, 1997; PACCINI, 2007; SILVA 
& FAVORITO, 2009).
 O oralismo tem a fala como objetivo. Para que ela se desenvolva, 
utiliza três procedimentos para esse aprendizado: treinamento auditivo, 
leitura labial e aparelho de amplificação sonora individual (AASI).
 
 Góes (1996, p.40) faz um breve resumo sobre o oralismo ao 
afirmar que “[...] a visão oralista se impôs, com as teses de que só a fala 
permite integração do surdo à vida social e de que os sinais prejudicam o 
desenvolvimento da linguagem, bem como a precisão das ideias”.
 Behares (1990) entende a educação oralista como sendo uma forma 
de atendimentoque busca minimizar a deficiência auditiva por meio da 
fala com a leitura oro-facial.
Capovilla (2001, p.102) define:
O método oralista objetiva levar o surdo a falar e a desenvolver 
competência linguística oral, o que lhe permitiria desenvolver-se 
emocional, social e cognitivamente do modo mais normal possível, 
integrando-se como um membro produtivo ao mundo dos ouvintes.
Para Quadros (1997, p.21), “[...] a proposta oralista fundamenta-
-se na “recuperação” da pessoa surda, chamada de deficiente auditi-
va. O oralismo enfatiza a língua oral em termos terapêuticos”. Os autores 
citados entendem o oralismo como cura, buscam a fala como única ma-
neira de inserir o surdo na sociedade e na escola.
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Dorziat (1999) define oralismo como um método que utiliza a ree-
ducação auditiva para surdos, por meio da am-
plificação sonora e de técnicas específicas de 
oralidade.
Vários foram os avanços tecnoló-
gicos e metodológicos ocorridos a partir 
da década de 1960 até chegarmos aos 
anos 1990. Podemos citar: Aparelho de 
Amplificação Sonora Individual (AASI), 
intervenção precoce, computadores para 
auxiliar a percepção da fala (Phonator e o 
Visible Speech) e os implantes cocleares, porém 
estes beneficiaram os ganhos com relação ao déficit auditivo, mas não em 
relação à aquisição e ao desenvolvimento normais da linguagem pelo sur-
do, como relata Capovilla (2000).
Segundo Poker (2008), com o objetivo de normalizar o surdo, a 
abordagem oralista requer: esforço e dedicação de tempo por parte da 
criança e da família; a reabilitação deve começar precocemente; os de-
fensores do oralismo afirmam que o uso de sinais tornará a criança “pre-
guiçosa” para falar; a comunicação deverá ser na modalidade oral, sem 
o auxílio de sinais, gesticulações ou mesmo do alfabeto datilológico; a 
participação da mãe e de profissionais especializados (fonoaudiólogos 
e pedagogos especializados em surdez) é fundamental e o uso de AASI 
(aparelho de amplificação sonora individual) ou do implante coclear são 
importantes ou mesmo indispensáveis.
4.2UComunicaçãoUTotal
Esta “filosofia” teve sua expansão no século XX, com o declínio 
do oralismo, que teve muitas dificuldades no processo de integração dos 
surdos, pois havia grandes dificuldades para essas pessoas nas esferas 
linguística e cognitiva, além de elas não poderem usar sua língua natu-
ral, os sinais. Talvez, a contribuição mais importante da Comunicação 
Total tenha sido a mudança na concepção do surdo, pois, antes, o cerne 
da questão eram a deficiência e o deficiente; agora, estudamos a pessoa. 
De acordo com Ciccone (1996 apud MUNTANER, 2003, p.58), esta “[...] 
filosofia educacional entende o surdo como uma pessoa, e a surdez como 
 
Conexão 
Para melhor entender 
como são as técnicas para o 
estimulo da língua oral, assista ao 
filme “Seu nome é Jonas”, nele são 
mostrados as terapias e a busca das 
famílias pela melhor abordagem a ser 
escolhida para educar os surdos. Mes-
mo sendo um filme antigo mostra 
com precisão o Oralismo.
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uma marca, cujos efeitos adquirem, inclusive, as características de um 
fenômeno com significações sociais”.
De acordo com a Comunicação Total, é possível utilizar todos os 
meios disponíveis para se contemplar uma comunicação com o surdo. 
Ao focalizar a comunicação, independentemente do recurso utilizado, a 
aprendizagem da língua oral é privilegiada, mas também é aceita a utiliza-
ção de qualquer recurso visuoespacial, inclusive o uso de sinais e gestos 
para favorecer o desenvolvimento cognitivo, emocional, social e comuni-
cativo da pessoa surda. Dentro dessa perspectiva é permitido, na comuni-
cação com o surdo, o uso de desenho, escrita, pantomima, sinais, fala oral, 
alfabeto manual, gestos, entre outros (SILVA & FAVORITO, 2009).
Um dos defensores da Comunicação Total, Oliveira (2004, p.12) 
lembra que o maior mérito dessa filosofia foi:
[...] deslocar a língua oral como o grande objetivo na educação de 
sujeitos com surdez, priorizando a comunicação dos mesmos. O 
sujeito com surdez deixa de ser visto como portador de uma “pato-
logia”, e passa a ser considerado como uma pessoa capaz.
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Ciccone (1990) observa que essa filosofia de comunicação não 
pode transformar o uso de sinais em um mero suporte para aprender o 
português. Isso porque a utilização simultânea da língua oral e a de sinais 
produziria o que chamamos de “português sinalizado”. A fusão das duas 
línguas é inviável, pois possuem estruturas gramaticais distintas, o que 
dificulta o aprendizado do surdo. Porém, para alguns defensores dessa 
filosofia, a fusão é positiva porque:
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[...] afirmam que o bimoda-
lismo deve ser praticado 
porque noventa por 
cento dos surdos 
são filhos de ou-
vintes. Assim, o 
uso de uma lín-
gua oral normal-
mente é a esco-
lhida para que os 
membros da família 
comuniquem-se entre 
si. Por esta razão, o uso 
da língua oral e de uma forma 
manual dessa língua pode constituir-se 
em uma eficiente prática comunicativa. (CICCONE, 1996, p.71) 
Para Quadros (1997), esse tipo de sistema é inadequado, pois des-
considera a estrutura linguística da língua de sinais e desestrutura o por-
tuguês.
Um dos recursos utilizados pela filosofia em questão é a soletração 
digital, que existe há mais de 300 anos e representa as letras do alfabeto e 
os números. Para Freeman, Carbin e Boese (1999,p.171):
A Comunicação Total implica em que a criança com surdez con-
gênita seja introduzida precocemente em um sistema de símbolos 
expressivos e receptivos, os quais ela aprenderá a manipular livre-
mente e por meio dos quais poderá abstrair significados ao interagir 
irrestritamente com outras pessoas. A Comunicação Total inclui 
todo o espectro dos modos linguísticos: gestos criados pelas crian-
ças, língua de sinais, fala, leitura oro-facial, alfabeto manual, leitura 
e escrita [...]incorpora o desenvolvimento de quaisquer restos de 
audição para a melhoria das habilidades de fala ou de leitura oro- 
facial, através [...] de aparelhos auditivos individuais e/ou sistemas 
de alta fidelidade para amplificação em grupo.
 
Conexão 
O bimodalismo consiste no uso 
dos sinais na estrutura gramatical da 
língua oral, sem respeitar as especificidades 
linguísticas da língua de sinais. Compreendemos 
que uma tradução termo a termo de uma língua para 
outra resulta em conflitos na compreensão da mensa-
gem e, por esse motivo, houve críticas à Comunicação 
Total referentes a uma comunicação mais comprometida 
com a comunidade ouvinte do que com os surdos. No 
entanto, os defensores dessa “filosofia” acreditam que 
essa é a melhor forma para atenuar os obstáculos 
presentes na comunicação entre surdos e 
ouvintes (POKER, 2008).
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Pantomina
Quanto às críticas ao bimodalismo, elas devem ser feitas, desde que 
se considerem a evolução e a história da educação dessas pessoas surdas e 
dos profissionais que atuam com elas. 
A comunicação total talvez não tenha atingido seus objetivos, por-
que a criança/pessoa com deficiência auditiva exposta a essa filosofia 
educacional não consegue adquirir uma ampla compreensão ou da língua 
falada ou da língua dos sinais, o que dificulta seu desenvolvimento

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