Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE DIREITO CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO Késia Correia Oliveira [LOG?>(), ~ o I STITUTO DA NÃO-CUMULATIVIDADE NO DIREITO TRIBUTÁRIO BRASILEIRO 3 ~r»: ::r !ti" o U Ir ~J, W Q/ Fortaleza - CE 2007 Késia Correia Oliveira o INSTITUTO DA NÃO-CUMULATIVIDADE NO DIREITO TRIBUTÁRIO BRASILEIRO 2007 Késia Correia Oliveira o INSTITUTO DA NÃO-CUMULATIVIDADE NO DIREITO TRIBUTÁRIO BRASILEIRO Monografia apresentada à Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito. Orientado r: Prot. José Adriano Pinto Fortaleza - CE 2007 KÉSIA CORREIA OLIVEIRA O INSTITUTO DA NÃO-CUMULATIVIDADE NO DIREITO TRIBUTÁRIO BRASILEIRO Esta monografia foi submetida à Coordenação do Curso de Graduação em Direito, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Bacharel em Direito, outorgado pela Universidade Federal do Ceará - UFC e encontra-se à disposição dos interessados na Biblioteca da referida Universidade. A citação de qualquer trecho desta monografia é permitida, desde que feita de acordo com as normas de ética científica. Data da aprovação __ ,__ ,__ Késia Correia Oliveira Prof. José Adriano Pinto Prof. Hugo de Brito Machado Segundo Prof. Rogaciano Bezerra Leite Neto Dedico este trabalho a minha família pelo suporte emocional e financeiro e aos meus amigos e colegas pela compreensão. AGRADECIMENTOS Agradeço ao meu orientador e professor José Adriano Pinto pela paciência e atenção dada na elaboração desse trabalho e aos meus pais (Francisco Durval Oliveira e Francisca Agnólia Correia Oliveira) pelo suporte incondicional dado durante todos esses anos. EPíGRAFE "A coisa importante é não parar de questionar. A curiosidade tem suas próprias razões para existir. Nunca perca a sagrada curiosidade". Albert Einstein RESUMO Esta monografia analisa a recepção no Brasil do instituto da não- cumulatividade, visto que é freqüente no Brasil, quando importamos conceituações ou institutos estrangeiros, a distorção de suas características. Na recepção do imposto sobre o valor agregado (denominado aqui de não-cumulatividade) ocorreu o mesmo fenômeno. Havendo inclusive interpretação desconhecida no direito comparado de que o fato gerador do tributo teria que ser uma operação jurídica de circulação de mercadorias. Ocorrendo também um desencontro na legislação, na jurisprudência e na doutrina. A hipótese principal deste trabalho sustenta que, ao instituir a não-cumulatividade, principalmente para o PIS/PASEP e para a Cofins, o Govemo Federal alardeou que tal mudança iria trazer benefícios para a economia desonerando a carga tributária das empresas, mas para alguns setores da economia, como as empresas prestadoras de serviços de mão-de-obra terceirizada, essa promessa não se concretizou. O aumento do PIS (de 0,65% para 1,65%) e da Cofins (de 3% para 7,6%) com a possibilidade de compensar a contribuição na compra de insumos sujeitos à sua incidência com vistas a desonerar as exportações e estabelecer equidade de tratamento entre o produto importado e o nacional foi bastante benéfico para as grandes empresas industriais que possuem uma vasta possibilidade de créditos. Após a análise doutrinária e principalmente da legislação, constata-se que o princípio da não-cumulatividade possui algumas virtudes (a neutralidade, ou proporcionalidade do ônus; o incremento à produção; a transparência e neutralidade externa que permite a tributação somente no país de destino) e algumas inconveniências (o ônus sobre a produção; o estímulo à intermediação; as alíquotas elevadas; o ensejo à fraude; a complexidade e o ensejo aos conflitos). Palavras-chaves: Não-cumulatividade. Imposto Sobre Valor Agregado. Tributos ABSTRACT This monograph analyzes the reception in Brazil of the institute of the non cumulatively, because it's frequent in Brazil, when we import foreign conceptualizations or justinian codes, the distortion of its characteristics. In the reception of the value added tax (called here of non cumulatively) occurred the same phenomenon. Also having unknown interpretation in the comparative jurisprudence of that the generating fact of the tribute would have that to be a legal operation of circulation of merchandises. Also occurring a failure in meeting in the legislation, the jurisprudence and the doctrine. The main hypothesis of this work supports that, when the institute of non cumulatively, mainly for the PIS/PASEP and the Cotins, the Federal Govemment boasted that the change would bring benefits for the economy being degenerated the tax burden of the companies, but for some sectors of the economy, as the rendering subcontractors companies, this promise was not materialized. The increase of the PIS (of 0,65% for 1,65%) and of the Cotins (of 3% for 7,6%) with the possibility to compensate the contribution in the purchase of incomes citizens to its incidence with sights to degenerate the exportations and to establish equity of treatment between the imported product and the national one was sufficiently beneficial for the great industrial companies who possess a vast possibility of credits. After the doctrinal analysis and mainly of the legislation, evidences that the principie of non cumulatively possesses some virtues (the neutrality, ar proportionality of the responsibility; the increment to the production; the transparency and external neutrality that the taxation in the destination country only allows) and some inconveniences (the responsibility on the production; the stimulation to the intermediation; the aliquot raised; the attempt to the fraud, to the confíicts and the complexity). Words keys: Non cumulatively. Added Value Tax. Tributes Sumário INTRODUÇÃO 11 2 Conceito da Não-Cumulatividade 16 2.1 Conceito 16 2.2 Natureza 18 2.2.1 Não-Cumulatividade como um princípio 18 2.2.2 Não-Cumulatividade como uma técnica 20 2.2.3 Não-Cumulatividade como uma regra 21 2.2.4 Natureza múltipla da não-cumulatividade 21 2.3 Origem 23 3 A Não-Cumulatividade no Mundo 27 3.1 União Européia 27 3.2 Argentina 35 3.3 Paraguai 36 3.4 Uruguai 37 3.5 Japão 39 3.6 Brasil 39 3.7 Considerações Gerais .43 4 A Não-Cumulatividade no Brasil .45 4.1 IPI .45 4.2 ICMS .49 4.3 PIS e Cofins 53 4.3.1 Base de Cálculo 54 4.3.2 Apuração e Créditos 56 Considerações Finais 62 Referências 64 Introdução É freqüente no Brasil, quando importamos conceituações ou institutos estrangeiros, a distorção de suas características. Na recepção do imposto sobre o valor agregado (denominado aqui de não-cumulatividade) ocorreu o mesmo fenômeno. Havendo inclusive interpretação desconhecida no direito comparado de que o fato gerador do tributo teria que ser uma operação jurídica de circulação de mercadorias. Ocorrendo também um desencontro na legislação, na jurisprudência e na doutrina. Como poderá ser observado no presente trabalho, a legislação brasileira em diversas ocasiões se afastou do modelo estrangeiro, porém quase quarenta anos depois foi ao encontro do modelo europeu, nas disposições relativas ao ICMS e ao IPI. A jurisprudência afastou-se fartas vezes da técnica da não- cumulatividade, dando ao ICMS e ao IPI as características das incidências em cascata, entretanto, através da edição de emendas constitucionais revocatórias da interpretação equivocada do STF, procedeu-se à correção das referidas jurisprudências acerca dos aspectos estruturais do ICMS e do IPI. A doutrina tributária também colaborou para o mencionado descompasso com o IVA estrangeiro, em especial, por desconsiderar os aspectos econômicos ínsitos na tributação da circulação de riquezas. A instituição da não-cumulatividade do PIS/PASEP e da Cotins acalorou ainda mais as discussões a respeito do tema, pois nessas contribuições o referido instituto opera-se de modo distinto da sistemática no IPI e no ICMS. Foram fatores determinantes para o meu interesse em pesquisar o assunto, a minha atuação profissionalna área Tributária, em que tive uma dificuldade inicial de compreender o regime não-cumulativo para o PIS/PASEP e 11 para o Cofins, o que me obrigou na época a realizar um estudo mais detido, assim como as características da minha formação acadêmica (Administração, Direito e Ciências Contábeis), que invariavelmente me levaram a ter uma inclinação maior pelos temas da área tributária. o trabalho tem por objetivo analisar as diferentes formas com que a não-cumulatividade se apresenta no Brasil e em seu nascedouro. Para um trabalho científico ser desenvolvido é preciso ser utilizada uma metodologia, que tem papel fundamental na pesquisa, direcionando-a e oferecendo soluções para sua investigação. O trabalho científico utiliza-se de uma metodologia, e, ao se desenvolver uma pesquisa, sabe-se que a metodologia é fator de extrema importância, pois é através dela que o pesquisador tem o poder de "decidir acerca do alcance de sua investigação, das regras de explicação dos fatos e da validade das generalizações" (GIL, 1995: 28). Trata-se de uma pesquisa indutiva em que observamos o objeto e então procuramos uma teoria que o explique através de uma pesquisa abordagem qualitativa. A pesquisa indutiva procura o conhecimento dos princípios fundando-se apenas na observação e experiência, não exige hipóteses prévias ao levantamento de dados empíricos, já que, em investigações desse tipo, almeja-se preservar a abertura do pesquisador para novas visões da realidade. Em pesquisas assim, as hipóteses devem ser vistas como um produto do processo. Ou seja, o método indutivo se dá a partir da análise de dados concretos, concluiremos o trabalho analisando os efeitos financeiros causados pela instituição da não-cumulatividade para as empresas prestadoras de serviços de mão-de-obra terceirizada. Porém, como nenhuma empresa autorizou a divulgação de seus dados, os mesmos serão demonstrados anonimamente, com um nome fantasia fictício para representar a empresa estudada. 12 Para efetuar o estudo foi selecionado um ramo empresarial específico (empresas prestadoras de serviço de mão-de-obra terceirizada) e com base neste realizamos um levantamento bibliográfico e documental baseado na doutrina específica, na legislação brasileira e na jurisprudência. As pesquisas exploratórias, segundo GIL (1995: 45): Têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-Io mais explícito ou a construir hipóteses. Pode-se dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de idéias ou a descoberta de intuições. (...) Na maioria dos casos, essas pesquisas envolvem: a) levantamento bibliográfico; b) entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; e c) análise de exemplos que "estimulem a compreensão" (SELLTIZ et aI., 1967, p.63 apud GIL, 1995:45). Conforme estudiosos do método científico, há duas formas de abordar o "problema" que o pesquisador se propõe a investigar; são os métodos de abordagem quantitativo e qualitativo. Neste trabalho foi utilizada a abordagem qualitativa, que não tem pretensão de obter resultados estatísticos. Neste tipo de abordagem, o pesquisador interpreta os fatos com o fim de procurar solução para o problema proposto. Neste sentido, RICHARDSON (1989: 38) diz que: "O método qualitativo difere, em princípio, do modo quantitativo à medida que não emprega um instrumento estatístico como base do processo de análise de um problema não pretende numerar ou medir unidades ou categorias homogêneas". Quando se efetua uma pesquisa qualitativa, pode-se observar vários fatores tais como "a complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais" (Richardson, 1989:39), podendo assim conhecer seu foco através 13 de um nível mais aprofundado de detalhes. Isso se torna um fator positivo, pois à medida que evolui a pesquisa maior é a interação com certas variáveis e isso corrobora para o entendimento mais detalhado de todo o contexto da pesquisa. A coleta de dados desse trabalho foi realizada através de uma pesquisa bibliográfica e documental, utilizando-se da doutrina específica, da legislação brasileira e da jurisprudência. A pesquisa bibliográfica, segundo GIL (1995:48), "é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos". As fontes bibliográficas podem ser classificadas como: a) livros de leitura corrente; b) livros de referência; c) publicações periódicas e; d) impressos diversos. A pesquisa documental é semelhante à bibliográfica, o que as diferencia é a natureza de suas fontes. A pesquisa bibliográfica se utiliza basicamente das contribuições dos diversos autores acerca de determinado assunto, já a pesquisa documental vale-se de materiais que ainda não receberam um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados conforme os objetivos da pesquisa. Gil (1995) Por tratar-se de uma pesquisa exploratória, os dados a serem analisados serão determinados pelo método utilizado na coleta de dados, ou seja, através da pesquisa bibliográfica e documental. A propósito do tema, TRIVINOS (1995: 109) diz que: Os estudos exploratórios permitem o investigador aumentar sua experiência em torno de determinado problema. (...). Este tipo de investigação, por exemplo, não exime a revisão da literatura (...) e etc., tudo dentro de um esquema elaborado com severidade característica de um trabalho cientifico. 14 o estudo exploratório objetiva aprimorar a investigação do problema, com vistas a torná-Ia mais explícito e o aprimoramento das idéias em torno do objeto investigado. Assim, o trabalho será dividido em sete capítulos conforme apresentados a seguir: A Introdução demonstra as razões que levaram à pesquisa assim como trata da relevância do tema estudado para o mundo corporativo. o Capítulo II objetiva a conceitualização da não-cumulatividade e à contextualização histórico-jurídica do referido instituto. o Capítulo 111apresentará como se opera a não-cumulatividade em seu nascedouro (a União Européia), em alguns países da América Latina e no Japão. No Capítulo IV, será apresentado o instituto da não-cumulatividade no Direito Tributário Brasileiro através da sua operacionalização no ICMS, no IPI, no PIS/Pasep e na Cotins. Nas Considerações Finais será feita uma análise geral do trabalho e das observações reveladas pela pesquisa, demonstrando que no Brasil o instituto da não-cumulatividade apresenta-se de modo diferente de como se opera no seu nascedouro. 15 , 2 Conceito da Não-Cumulatividade 2.1 Conceito CARTILHO (2004), inicia sua conceituação da não-cumulatividade simploriamente afirmando que a mesma é a antítese de cumulatividade que, no vernáculo é sinônimo de acumulação. Na verdade, a expressão não-cumulatividade do tributo pode apresentar diversas acepções. Dentre elas destacamos a de que sobre o mesmo fato não poderiam incidir vários tributos e a de que um tributo sobre evento integrante de uma sucessão de fatos da mesma natureza não poderia incidir sobre cada um desses casos de forma autônoma, acumulando-se cada incidência com as incidências anteriores. Ressaltamos que o nosso sistema tributário, por sua vez, vem empregando o segundo significado da referida expressão. Desse modo, MACHADO (2004) entende por não-cumulatividade o enunciado segundo o qual em cada operação o contribuinte deduz do valor do imposto correspondente à saída dos produtos o valor que incidiu na operação anterior, assim restará tributado somente o valor a ele acrescido. Ou seja, do valor do imposto que incide na saída dos produtos deduz-se o valor do imposto que incidiu nas operações anteriores sobre os respectivos insumos. A propósito do tema, MELO (2004:52), em seus estudos, afirma que: A não-cumulatividade significa um sistema operacional objetivando minimizar a carga tributária incidente sobre as operaçõesrealizadas com produtos, mercadorias e serviços, tendo por finalidade diminuir o preço que repercute na diminuição do custo de vida, possibilitando a geração de empregos, realização de investimentos empresariais e outras medidas benéficas ao desenvolvimento econômico. 16 o foco central da produção, circulação e prestação de serviços é o consumidor final, sendo evidente que as atividades dos produtores, industriais, comerciantes e prestadores de serviços direcionam-se à população, sendo considerados os princípios diretivos da economia, como a defesa do consumidor de modo a permitir-lhe existência digna e justiça social (art. 170 da CF). o objetivo da sistemática da não-cumulatividade é eliminar a cobrança de "imposto sobre imposto" através da instituição de um crédito fiscal sobre a aquisição de insumos, podendo a pessoa jurídica recuperar o valor de tal tributo pago como contribuinte na compra de produtos fabricados por terceiros e que venham a ser utilizados na produção de bens e serviços. Visto que quando há um ciclo econômico composto de várias etapas, a incidência de um imposto em uma operação servirá como base de cálculo do imposto incidente na etapa posterior, gerando a cumulatividade da tributação. Neste sentido, MELO (2005) afirma que teleologicamente, a não- cumulatividade deverá ser observada no ciclo operacional inteiro e não poderá sofrer supressão parcial, devido aos princípios da isonomia e da capacidade contributiva de cada um dos agentes empresariais. Pois, se em uma determinada fase operacional for estabelecida a proibição (ainda que parcial) do direito do contribuinte de abater o ônus tributário incidente nas operações e prestações anteriores, ocorrerá efeito cumulativo, implicando no aumento de preços. Tal situação irá acarretar efeito confiscatório em razão de no mesmo preço do produto estar se verificando dupla incidência tributária. TORRES (2004) afirma que, do ponto de vista econômico, a não- cumulatividade significa que o imposto incide sobre o valor acrescido em cada operação de circularização, de forma que a incidência global é idêntica à multiplicação da alíquota pela base de cálculo final. E continua: Juridicamente, entretanto, este tipo de incidência torna-se irrelevante. O que conta para o direito tributário é que o tributo incide sobre o valor total de cada operação. Posteriormente, para garantir a não-cumulatividade do tributo, atua o mecanismo da compensação financeira, pelo qual se abate do débito correspondente à alíquota aplicada sobre o valor da saída do 17 estabelecimento o crédito gerado na entrada da mercadoria. Não se trata, aí, rigorosamente, no sentido técnico-jurídico de compensação tributária, pois os créditos não são líquidos e certos: cuida-se de uma operação que, no dizer de Berliri, apenas descritivamente é uma compensação de créditos e débitos. A Constituição Federal decreta esse mecanismo ao distribuir o imposto que "será não-cumulativo, compensando o que for devido em cada operação relativa à circulação de mercadorias ou prestação de serviços com o montante cobrado nas anteriores pelo mesmo ou outro Estado ou pelo Distrito Federal" (art.155, §2°, I). O importante, no princípio da não-cumulatividade, é evitar a incidência em cascata ou da pluriincidência, já que o tributo, embora preponderantemente plurifásico, incide uma única vez. 2.2 Natureza A natureza da não-cumulatividade ainda é controversa, pois alguns se referem à mesma como princípio, outros como técnica, há ainda quem a conceitue como regra, mera característica ou mesmo mecânica de tributação prevista no texto constitucional a fim de evitar a incidência do imposto em cascata. CASSONE (2004), por exemplo, diz que a não-cumulatividade apresenta-se como princípio ou como técnica em face da dupla identidade vislumbrada pela doutrina e pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. Apresenta-se como princípio por ser disposição constitucional e como técnica por ter estabelecido na própria Constituição o critério para a sua concretização, não consistindo em cláusula pétrea. 2.2.1 Não-Cumulatividade como um princípio o conceito de princípio tem vários significados. Pode ser uma proposição segundo a qual tudo o que pudermos observar no Universo depende estritamente das condições próprias da nossa existência e da nossa presença, como observadores no cosmo. Princípio também pode ser definido como a causa 18 primária, o momento, o local ou o trecho em que algo tem origem. É a proposição que serve de base a uma ação ou um conhecimento, ainda que de modo provisório, e cuja verdade não é questionada. o princípio jurídico, por sua vez, é norma de hierarquia superior à das regras, visto que determina o sentido e o alcance destas (que não podem contrariá-Io sob pena de pôr em risco a global idade do ordenamento jurídico). É necessário que haja coerência entre os princípios e as regras, no sentido que vai daqueles para estas. MACHADO (2004) afirma que a não-cumulatividade se trata de um principio quando enunciada de forma genérica, como está na Constituição no dispositivo que se reporta ao IPI, por exemplo, dizendo que a incidência do mesmo não será cumulativa, pois dever-se-á compensar o que for devido em cada operação com o montante cobrado nas anteriores. TORRES (2004:144-145) acredita que a não-cumulatividade seja um subprincípio conforme transcrição a seguir: Os subprincípios vinculam-se diretamente aos pnncrpros e se situam na etapa seguinte da concretização dos valores. Já possuem maior concretude e menor abstração que os princípios e aparecem quase sempre por escrito no discurso da Constituição ou da lei, mas ainda não criam direitos e deveres para quem quer que seja. Nesse contexto deve ser compreendida a não- cumulatividade. É um subprincípio dos diversos princípios de justiça que governam os impostos sobre o valor acrescido: repercussão legal obrigatória, neutralidade econômica, país de destino e capacidade contributiva. Não é um verdadeiro princípio jurídico porque lhe faltam as características básicas, a saber: a) a imbricação com os princípios morais; b) a dimensão de peso, que permite a ponderação de interesses. 19 2.2.2 Não-Cumulatividade como uma técnica Considera-se técnica o procedimento ou o conjunto de procedimentos que têm como objetivo obter um determinado resultado em qualquer campo do conhecimento. A técnica implica no conhecimento das operações, como o manejo das habilidades, tanto das ferramentas como os conhecimentos técnicos e a capacidade de improvisação. A técnica não é privativa do homem, pois também se manifesta na atividade de todo ser vivo e responde a uma necessidade de sobrevivência. No animal, a técnica é característica de cada espécie. No ser humano, a técnica surge de sua relação com o médio e se caracteriza por ser consciente, reflexiva, inventiva e fundamentalmente individual. O indivíduo a aprende e a faz progredir. Por sua vez, diz-se que a não-cumulatividade é uma técnica (ou mecânica de tributação) quando se trata do modo pelo qual o princípio se realiza, pois a mesma define o regime jurídico do princípio da não-cumulatividade do imposto. Ou seja, quando a não-cumulatividade se apresenta como um procedimento para se apurar determinadas exações. GOLDSCHMIT (2004:389) preceitua que: (...) a não-cumulatividade, assim como a progressividade, apresentam-se como artifícios técnicos instrumentais: mecanismos para a consecução de determinados valores, e não valores em si mesmos. Os princípios, diferentemente, não apresentam um caráter procedimental, mas puramente axiológico. Ainda que, a partir destas técnicas, seja possível aferir o valor que elas objetivam proteger ou alcançar, isso não as torna diretamente um valor, mas uma mera ferramenta a serviço da realização de um valor. No caso da não-cumulatividade, temos que ela está a serviço dos princípios que orientam a nossa ordem econômica (livre iniciativa, livre concorrência, defesa do consumidor e competitividade, que se ligamdiretamente ao anseio da desoneração das atividades produtivas). Já no caso da 20 progressividade, temos que ela está a favor do princípio da redistribuição de rendas. 2.2.3 Não-Cumulatividade como uma regra Regra é aquilo que regula, dirige, rege ou governa, uma fórmula que indica ou prescreve o modo correto de falar, de pensar, raciocinar, agir, num caso determinado: uma regra de gramática, de matemática; as regras de um jogo. Ou mesmo aquilo que está determinado pela razão, pela lei ou pelo costume; preceito, princípio, lei, norma: as regras do bom senso, da boa educação. Então, fala-se que a não-cumulatividade é uma regra quando ela determina, na forma da lei, a sua sistematização. Obrigando a sua aplicação a determinadas exações para uma relação específica de pessoas jurídicas. 2.2.4 Natureza múltipla da não-cumulatividade Por fim, assume-se a característica multifacetada da não- cumulatividade, que assume sua natureza de acordo com o ponto de vista a ser analisado. É importante salientar, que o princípio da não-cumulatividade pode se materializar através de duas técnicas (dois sistemas) diferentes: a) A concessão de crédito financeiro dedutível, que abrange o imposto pago relativo a qualquer bem entrado no estabelecimento essencial e imprescindível à atividade; b) a concessão de crédito físico, o qual restringe o direito à compensação ao imposto pago na aquisição de bens que fisicamente se incorporam ao produto final ou que se consomem no curso do processo 21 de produção, dele se excluindo as máquinas, ferramentas e outros integrantes do ativo físico. Sabe-se que o imposto sobre o valor adicionado pode ser cobrado de três maneiras: De forma monofásica, em único estágio, com incidência na etapa final de comercialização (varejo), como é feito nos Estados Unidos, e é conhecido como Imposto Sobre Vendas a Varejo. Isso pressupõe a desoneração do processo produtivo, e a tributação é feita apenas na ponta, no momento do consumo. Sendo o Imposto de Renda a principal fonte de receita nos EUA, com tributação elevada, o imposto sobre consumo assume importância secundária. O IVV americano é, porém, uma forma rara de tributação, e apesar de estar baseado no valor adicionado, vez que atinge a última etapa de comercialização, com toda a agregação de valor, desde a etapa inicial de produção até o momento da venda, esta forma de tributação indireta sobre o consumo não é conhecido como IVA nos meios acadêmicos, sendo esta denominação aplicada comumente à forma adotada na União Européia e nos países do Mercosul. 2) De forma monofásica, em único estágio, com incidência na etapa inicial de comercialização, antecipando-se a cobrança do tributo, mediante aplicação de uma MVA (Margem de Valor Agregado), que é o lucro presumido nas etapas seguintes de comercialização. Esta modalidade é empregada no Brasil, a que chamamos de substituição tributária, e é aplicada em setores onde existem poucos fabricantes ou distribuidores e uma quantidade gigantesca de varejistas, de forma a facilitar a arrecadação e dificultar a sonegação. O único entrave a este método é que, uma vez que o preço final efetivo seja menor que o estipulado na antecipação, o contribuinte teria o direito de pedir restituição do imposto retido a maior. 3) De forma plurifásica, em vários estágios, abrangendo todas as fases de produção e comercialização, deduzindo-se o imposto pago na etapa anterior, do imposto da etapa subseqüente, de forma que, ao se chegar ao consumidor 22 final, o imposto recolhido seja equivalente à aplicação da alíquota sobre o preço final. Este é o IVA em sua forma ortodoxa. Aplicando-se qualquer uma das formas acima descritas, o resultado não se altera, uma vez que não ocorre efeito "cascata", apenas há um elemento complicador no caso da substituição tributária, se houver venda com preço inferior ao presumido, o que implicaria justa devolução do tributo pago a maior e, se houver venda com preço superior, haveria perda na arrecadação. A diferença entre aplicar este ou aquele método está na eficiência da arrecadação e fiscalização do pagamento do tributo. 2.3 Origem Nos primórdios da civilização, por volta de 3.300 anos a.C. no Egito antigo, qualquer mercadoria em trânsito entre o lugar de produção e o local de consumo estava sujeita a uma imposição fiscal. Posteriormente, os gregos e os romanos estipularam forma de tributação sobre os negócios realizados, sendo que os impostos incidentes sobre as transferências e sobre as vendas de mercadoria serviam como recurso financeiro destinado à proteção do comércio. JUANO apud MEIRELLES(2000) expõe que a centésima rerum venalium, de 9 d. C., instituída pelo imperador romano Augusto, tinha a finalidade de custear gastos militares, que incidia sobre o giro dos negócios com uma alíquota de 1% sobre as mercadorias vendidas em leilão público. A esse propósito, MARTINS (1998) afirma que em Roma dizia-se que o Imperador Constantino tinha imposto sobre serviços de nome chrysagyrum ou lustralis cal/afio, sendo que os clérigos, oleiros e carpinteiros e os trabalhadores manuais em geral estavam isentos do referido imposto. JUANO apud MEIRELLES(2000), novamente traz que no século XIII, em 1292, o Rei Felipe da França impôs 23 alíquota de 5 a 12% sobre todas as vendas e compras, exceto as correspondentes a alimentos, respeitando as pequenas quantidades. Em meados do Século XX, MARTINS (1998) preceitua que havia a preocupação dos Estados em substituir o imposto sobre o volume de vendas (chiffre d'affaires) por um imposto sobre o valor acrescido (Ia valeur ajoutée, ou vaIare aggiunto, ou value added) , com objetivo de tributação da circulação econômica de bens, tanto em relação a mercadorias como a serviços. Mas apesar de haver quem acreditasse que o imposto sobre o consumo era somente uma teoria na literatura das finanças públicas, posteriormente conheceu-se um crescimento explosivo inesperado do IVA no mundo. A importância da tributação sobre o consumo na estrutura de diversos países ao mesmo tempo superou todas as expectativas ultrapassou as receitas proporcionadas pelo tributo, que começaram a ter uma amplitude maior em relação às outras modalidades de exação. Criou-se na França o modelo da Taxe Sur La Valeur Ajoutée (TVA) , uma contribuição notável ao aperfeiçoamento da tributação sobre o consumo, uma vez que sua característica principal seria a neutralidade do imposto na economia. REZENDE (1994) afirma que foi com os estudos de NICHOLAS KALDOR que se elaborou um modelo tributário com um imposto abrangente sobre o consumo. Reunia, em um só tributo, neutralidade econômica, justiça fiscal e relação direta entre o contribuinte e o fisco. O contribuinte declararia seu consumo com incidência do tributo em razão do montante e da composição do gasto de cada um. Haveria, ainda, previsão de alíquotas progressivas. Em 1952, a França introduz o imposto sobre o valor agregado, a Taxe Sur La Valeur Ajoutée (TVA), substituindo o imposto sobre a produção. Em 1960, o Comitê Neumark, um Comitê Fiscal e Financeiro composto ar dez fiscais batizado com o nome de seu Presidente, recomendou a adoção do VA para o setor atacadista, complementado por um imposto especial sobre o e ar varejista cujas conclusões apresentadas no seu relatório norteiam certas 24 decisões dos membros da Comissão Européia em Bruxelas na busca de um regime definitivo para o IVA. Segundo MARTINS (1998), a França aprovou, em 6 de janeiro de 1966, a Lei 6.610, que teve vigência no início do exercício de 1968, de onde foram suprimidos 13 impostos do sistema tributário, inclusive a taxe sur les prestations de setvices, que passou a fazer parte do campo de incidência da taxe sur Ia va/eur ajoutée. Em 11 de abril de 1967, a diretiva de número 71, publicada em 14 de abril de 1967, limitava-se a impor a obrigatoriedade da adoção do IVA por todos os Estados-partes, o mais tardar até 1 de janeiro de 1970. A segunda diretiva sobre oIVA, publicada em 14 de abril 1967, determinava a estrutura e as modalidades de aplicação do imposto sobre o valor acrescentado. O IVA de 1967 não é harmonizado em todos os seus elementos. Não havia determinação do âmbito das isenções e tampouco impunha a mesma tributação geral dos serviços. A Dinamarca o introduziu pela lei de março de 1967, a Alemanha a partir de 1968, o Luxemburgo em 1969, entretanto, a Bélgica só veio a fazê-Io em 10 de janeiro de 1971, e a Itália em 10 de janeiro de 1973. Em 1985, um conjunto de propostas da CEE definiu programa de ação para alcançar efetivamente um grande mercado único europeu até 1992, cujos principais instrumentos seriam a supressão das barreiras físicas; a eliminação das barreiras técnicas e a abolição das fronteiras fiscais. Para o IVA, indicou-se a passagem gradativa para a técnica da imposição na origem, tributando-se as mercadorias e os serviços no país de procedência e não mais no de destino, como até então, conjugando-se o sistema com um mecanismo comunitário de compensação financeira de que redundasse o reembolso, ao Estado-membro importador, e em que era deduzido o montante, do IVA recolhido no Estado- membro exportador. Queria-se, desta forma, preservar o princípio da atribuição do IVA ao país de consumo. A partir de 10 de janeiro de 1993, o Mercado Único supunha a supressão das fronteiras fiscais entre os Estados-membros, o que significava a adoção do princípio da tributação na origem e dedução no destino, que requeria, ademais, a harmonização dos tipos. 25 Ressalta-se que a fiscalidade indireta registrou uma evolução decisiva desde 1992, com a instituição dos impostos especiais de consumo e do IVA intracomunitário, baseados na supressão das fronteiras fiscais e das aduaneiras, assim como na abolição dos controles aduaneiros nas fronteiras entres Estados- membros. Deve-se ressaltar também que o sistema comum de IVA tem como objetivo suprimir os controles fiscais nas fronteiras intemas relativamente a todas as operações efetua das entres os Estados-membros, aproximar as taxas de IVA dos Estados-membros e estabelecer um período transitório, com uma duração limitada, a fim de facilitar a passagem para o regime definitivo de tributação das trocas comerciais entre Estados-membros. Esses são alguns dos principais pontos do sistema comum do imposto sobre o valor agregado na União Européia. Dessa forma, sujeitam-se ao IVA as entregas de bens, as importações de bens e as prestações de serviços a título onerosos no território do país por um sujeito passivo agindo nessa qualidade. 26 3 A Não-Cumulatividade no Mundo o principio da não-cumulatividade é praticamente universal, pois é adotado tanto pelos países latino-americanos como por toda a União Européia. A regra é o legislador procurar atingir as vendas líquidas em todos os casos em que o imposto for plurifásico, ou seja, atingir mais de uma etapa da industrialização ou da comercialização, como ocorre com o ICMS e o IPI no sistema brasileiro. Dessa forma, o princípio da não-cumulatividade não se restringiu apenas à França e ao Brasil. Diversos outros países absorveram o IVA em seu ordenamento tributário, porém adaptaram-no às características locais. A esse propósito, preceitua COÊLHO (2005:673) que: Apesar de pequenas divergências em um ponto e outro, a grande massa dos países que adotam impostos plurifásicos não- cumulativos admite a dedução do imposto pago com máquinas, implementos e até imóveis adquiridos para a exploração da atividade. A lei argentina, por exemplo, manda circular o valor agregado para apurar o imposto a pagar de cada contribuinte, deduzindo-se do tributo devido pelas vendas o imposto faturado pelas compras no mesmo período (imposto contra imposto), mas admite também a dedução do imposto incidente sobre os bens de capital (maquinário e equipamento) por meio de três quotas anuais e consecutivas. O mesmo se passa em todos os países da Unidade Européia, nos quais o imposto incidente nas aquisições de máquinas e implementos é dedutível pela empresa. 3.1 União Européia De fato, a não-cumulatividade nasceu na Europa através do Imposto sobre Valor Agregado, mais precisamente na França sob a nomenclatura de Taxe sur Ia valeur ajoutée, tributo retocado posteriormente, mas ainda hoje vigente naquele país. Conforme TORRES (2004), iniciou-se com o labor científico de 27 alguns economistas estrangeiros, sendo de se ressaltar a figura do francês Lauré e do alemão Siemens. A França foi o primeiro país a reconhecer as desvantagens de um tributo cumulativo. Já em 1936 foram feitas as primeiras tentativas de mudança, porém somente em 1954 que foi criada a Taxe sue Ia va/eur sioutée', tributo posteriormente modificado, mas que ainda hoje vigora naquele país em substituição ao antigo imposto sobre o volume de neqócios/ em um tributo sobre o valor acrescido." Irradiando-se logo depois pelos diversos países no Mercado Comum Europeu", bem como por outros países da Europa" e da América" o IVA representou um papel decisivo na formação da atual União Européia por seus aspectos positivos, que foram constatados na prática pelos países que vieram a se integrar ao ambiente comunitário, aos quais, anteriormente, sujeitavam-se a impostos cumulativos ou monofásicos com incidência na etapa do atacado. A formação do modelo em questão exiqu, duas providências fundamentais. Em primeiro lugar, a implementação de uma política comercial comum, que viesse a ensejar a abolição dos direitos aduaneiros e a livre circulação de mercadorias no espaço comunitário, impedindo distúrbios de concorrência entre os Estados membros. Em segundo lugar, a neutralização dos fatos fiscais, em especial na tributação indireta, que repercute sobre o consumidor, pois, caso contrário, os sistemas tributários dos Estados membros poderiam vir a influenciar de modo relevante no custo de bens e serviços, a ponto de criar 1 La taxe sur Ia valeur ajoutée est une taxe perçue selon un systéme de paiements fractionnés sur Ia valeur ajoutée apportée par chacun des opérateurs qui interviennent dans le circuit de production et de distribution. A Ia consommation finale du produit ou du service, Ia taxe sur le prix de vente est égale à Ia somme des montants de TVA intermédiaires acquittés sur Ia valeur ajoutée par chacun des opérateurs. : Taxe SUl" lê chiffre d 'affaire 3 Taxe surla valeur ajouteé. 4 Alemanha, Bélgica, Itália, Luxemburgo e Holanda 5 Áustria, Noruega e Suécia 6 México e Argentina 28 obstáculos às importações e incentivas as exportações, protegendo, dessa forma, as produções nacionais em detrimento do projeto comunitário. Os dois princípios sobre os quais se assenta a cobrança do IVA são a origem e o destino. No princípio da origem o tributo é cobrado integralmente no momento em que ele nasce. Seguindo esse raciocínio, as importações seriam isentas e as exportações tributadas. No princípio do destino, por sua vez, ocorre o inverso, a mercadoria deixa o Estado de origem com tributação zero e é tributada no Estado de destino. Em uma configuração como a da União Européia, o melhor método é tributar na origem, de modo a abolir as barreiras fiscais. Para tanto, em 1987 foi proposta a mudança para o princípio da origem, com a finalidade de se extinguir as barreiras fiscais nas fronteiras. A proposta de cobrança na origem é controversa, uma vez que os países que são majoritariamente exportadores levariam ampla vantagem financeira em relação aos países que são majoritariamente importadores. Tal questão passou pelos problemas que afligem a Reforma Tributária no Brasil. Como solução a este problema foi, então, imaginada uma câmara de compensação, por meio da qual os excedentes de um país seriam repassados a países deficitários. Entretanto, tal proposta não era de todo elucidativa, pois se esbarrou na questão do controle sobre a arrecadação, uma vez que era difícil se aceitar ingerências externas nas contas públicas de cada país. Para solucionar esseimpasse, em 1989, surgiu na França a idéia de se aplicar o princípio do destino, como forma de abolir as fronteiras fiscais, inicialmente como provisório, mas que acabou permanecendo como definitivo, uma vez que os países "exportadores" aceitaram as perdas de arrecadação em relação aos "importadores". 29 3.1.1 Reino Unido Apesar de o Reino Unido ser uma comunidade constituída por vários países (Escócia, País de Gales, Irlanda do Norte e Inglaterra), possui um sistema tributário centralizado. Dessa forma, os governos locais têm competência tributária apenas sobre o imposto relativo à propriedade. Assim, o IVA tem uma sistemática idêntica ao ICMS, em outras palavras, ocorre tributação em cada estágio da produção e comercialização, permitindo-se o crédito pelo imposto pago, na etapa seguinte, e as alíquotas são fixadas "por dentro", e alíquota padrão é de 17,5%, sendo que produtos alimentícios tem alíquota zero, e combustíveis e energia possuem alíquota reduzida de 8%. As receitas mais significativas são provenientes do imposto sobre a renda e as contribuições sociais, que correspondem a um pouco mais de 50% do total. O IVA participa com aproximadamente 17% da receita, tomando-se por base o ano de 1997, de acordo com informações do Financia! Statement e Budget Report (fontes de receita tributária do Reino Unido). Havendo centralização os governos locais têm suas necessidades atendidas, através de subvenções, assim como no Japão. Apenas 20% das despesas locais são atendidas com receitas próprias, e os governos locais tem autonomia apenas sobre imposto relativo à propriedade. As despesas restantes são providas com subvenções do governo central que, por sua vez, exerce rígido controle sobre os gastos locais (no Japão, como já vimos, também existe um rigoroso controle sobre as despesas locais). As subvenções são concedidas por meio de acordos entre os governos dos países (e suas localidades) que integram o Reino Unido. 30 3.1.2 Itália Na Itália, o IVA (Imposto sul VaIare Aggiunto) é o principal imposto sobre consumo na Itália. Entrou em vigor em 1973 em substituição ao IGE7 . É tido como um imposto transparente e neutro para os juristas italianos (Nicola FORTE apud CASSONE: 2004), pois durante cada passagem dos bens e dos serviços é bem visível a quota do tributo compreendida no correspondente; é neutro enquanto indiferente em relação ao número de passagens que intervêm do momento inicial da produção até o momento em que os bens ou os serviços são destinados ao consumidor final. O funcionamento do tributo resulta de regras segundo as quais quem cede bens ou presta serviços na atividade de empresa, artes e profissões deve debitar ao cliente um imposto proporcional ao correspondente, recolhendo ao erário o relativo imposto, ao líquido do imposto assumido sobre as aquisições inerentes à relativa atividade; onde o imposto sobre as aquisições exceda aquele sobre operações ativas o sujeito ao IVA, além de não recolher nada, terá direito ao reembolso da diferença. Comparando os regimes jurídicos que norteiam a não-cumulatividade no Brasil e na Itália, que, embora o diritto di rísalva seja substancialmente igual, e que nos dois países a dedução é permitida, há alguns aspectos básicos que se fazem diferenciados, principalmente em relação aos critérios inerentes à própria dedução do imposto. Vale ressaltar, que enquanto no Brasil a não-cumulatividade é definida em nível constitucronaf', na Itália a matéria é objeto de lei ordinária". Além disso, a isenção na Itália não permite a manutenção do crédito a não ser que lhe seja 7 Imposto geral sobre entrada. S Apesar de ser regulável por lei complementar e ordinária, cada uma com competência específica. 9 Embora o regime se fundamente no princípio constituciona da capacidade contributiva. 31 concedido algum benefício fiscal. No Brasil, porém, o STF decidiu pelo direito ao crédito presumido. 3.1.3 Alemanha Politicamente, a República Federal da Alemanha, tem um sistema parecido com o nosso, pois é uma Federação, constituída de dezesseis Estados. Não se trata, então, de um Estado Unitário. o Sistema Tributário Alemão possui uma legislação unificada em todo o território. Há um princípio de cooperação mútua entre os diversos Estados e os municípios, que fazem uma partilha da arrecadação entre si e a União. Há um princípio constitucional que obriga os encargos tributários a serem uniformes em todo o País, e apenas uma pequena autonomia fiscal é concedida aos municípios, em relação às alíquotas. o IVA (Mehrwertsteuer) na Alemanha é um imposto que incide sobre a venda de bens e serviços e sobre a importação de bens. A alíquota básica é de 15%, mas há uma alíquota reduzida de 7% sobre bens e serviços de primeira necessidade, como alimentos, transporte a curta distância. O IVA alemão integra a sua própria base de cálculo, assim como o ICMS no Brasil, ou seja, a alíquota é fixada "por dentro". O IVA é a segunda principal fonte de receitas, atrás do imposto sobre a renda, e a sua arrecadação é divida em 50% para a União e 50% para os Estados. Além do IVA, o imposto sobre a renda e sobre a folha de pagamentos são divididos entre o governo central, estados e municípios. Os impostos de arrecadação exclusiva dos entes governamentais, ou seja, aqueles que não são partilhados, representam apenas 29% da receita global. 32 3.1.4 Características Gerais De um modo geral, no âmbito da União Européia, estão sujeitas ao IVA as transações envolvendo bens e serviços celebradas a título oneroso no território do Estado membro, por contribuinte do imposto (sujeito passivo), agindo nessa qualidade assim como na importação de bens. o sujeito passivo é a pessoa que exerce, de forma independente, em qualquer lugar, sendo irrelevante o fim ou o resultado, uma das atividades a seguir: produção, comercialização, prestação de serviços, atividades extrativas, agrícolas e das profissões liberais ou equiparadas. o agente que protagoniza cada operação, ao longo do ciclo de produção e distribuição, é obrigado a fazer incidir a alíquota do imposto sobre o preço das vendas realizadas em determinado período. Contudo, para fins de determinar o imposto devido, deve deduzir o valor do imposto que onerou as compras efetuadas no mesmo período, de acordo com as faturas de seus fornecedores. o imposto suportado em todas as aquisições de bens não duradouros destinados à produção e à comercialização (matérias-primas, materiais secundários etc.); bens de consumo corrente (material de escritório, conservação e reparação); serviços diversos (publicidade, propaganda, trabalho especializado, honorários); aquisição de bens de capital (máquinas, imóveis) é dedutível. A carga total do imposto sobre determinado bem ou serviço, na ponta do consumo, é o resultado da aplicação da alíquota sobre o preço da última transação. Graças ao efeito de recuperação, são irrelevantes alíquotas menores e mesmo isenções praticadas no meio do ciclo. 33 No caso de o volume de deduções ser maior que o débito, o saldo de créditos é transferido para o período subseqüente. Em caso de os débitos serem superiores, o contribuinte recolhe a diferença. A alíquota normal do IVA, nas operações internas dos Estados membros, não pode ser inferior a 15%; são autorizadas uma ou duas alíquotas reduzidas, não inferiores a 5%, para as transações envolvendo bens de primeira necessidade ou cultural expressamente relacionados; foram suprimidas alíquotas majoradas antes aplicáveis a produtos que se denota maior capacidade contributiva. As alíquotas vigentes nas operações intracomunitárias são de 5% para transmissão de bens e prestações de serviços referidos em uma lista; 12% para transmissão de bens e serviços referidos em um outro rol e 17% para transações normais. As isenções, em número reduzido, implicam o cancelamento do crédito correspondente à aquisição dos materiais e equipamentos utilizados no produto isento. Permanece transitoriamentea tributação segundo o princípio do destino, de forma que a transação entre Estados membros dá origem a duas operações: uma transmissão de bens, isenta do imposto no Estado membro vendedor, e uma aquisição intracomunitária tributável no Estado membro adquirente. O regime transitório deve permanecer prorrogado até a adoção do regime de origem. As aquisições intracomunitárias de bens efetuadas por particulares são submetidas, em geral, à tributação na origem, sendo abolidas todas as restrições à livre entrada de bens provenientes de outros Estados membros. 3.2 Argentina Politicamente a República Argentina se organiza em forma de federação composta de três níveis de administração governamental: União, Províncias e Municípios. Sendo assim, semelhante à estrutura geopolítica do Brasil. o IVA vigorou na Argentina a partir 1975, apesar de ter sido introduzido em 1973, e desde então vem sofrendo sucessivas modificações. Atualmente, o IVA está previsto na Lei 23.349/85 e regulamentado pelo Decreto 2.407/86, havendo um sistema de distribuição para as Províncias e Códigos Tributários provinciais. Seu campo de incidência alcança as vendas de bens móveis, as obras, locações e prestações de serviços determinadas em lei assim como as importações em caráter definitivo de bens móveis. Há também uma série de hipóteses de não incidência, tais como livros, diários, revistas e outros. Locações de coisas móveis destinadas à produção ou prestação de serviços, obras sociais, assistência médica, transporte nacional e internacional de cargas e passageiros também não têm incidência. Em seu aspecto espacial, o IVA argentino adota o critério europeu, o principio do destino (o local onde se dá a venda, a realização da obra ou a prestação do serviço). o Imposto Sobre o Valor Agregado no território argentino é indireto, pois a responsabilidade do recolhimento não recai sobre o contribuinte de fato, o consumidor, e, sim, sobre os fabricantes e distribuidores; é plurifásico e não- cumulativo; é real, pois não leva em conta o poder aquisitivo do consumidor final; é de fácil controle; é de competência do Estado federal; as exportações são desoneradas do IVA e as importações são tributadas; utiliza-se o cálculo "por 35 dentro" na aplicação da alíquota, ou seja, o imposto integra sua própria base de cálculo; parte do montante arrecadado é repassado às províncias. Sua alíquota básica de 18% foi elevada em 01/04/1996 para 21%, mas, para o fomecimento de gás, energia elétrica, águas reguladas por medidor, serviços de telecomunicações, a alíquota se eleva a 27%. As receitas desse imposto são distribuídas entre a União e as Províncias com percentuais estabelecidos em um acordo chamado de Regime de Co-participação Tributária. Há os impostos seletivos, chamados impostos sobre consumo específico, incidentes sobre tabaco, bebidas alcoólicas, cervejas, veículos, aparelhos eletrônicos e sobre seguros, cuja alíquota predominante é de 20%, exceto veículos (10%) e seguros (8,5%). 3.3 Paraguai o Paraquai, diferente do que ocorre no Brasil e na Argentina, é um Estado Unitário, não existindo estados ou províncias, apenas municípios. Dessa forma, o Paraguai só possui impostos chamados nacionais 10 e municipais. Dentre esses, os principais tributos arrecadados no Paraguai são o IVA, o Imposto de Renda e as tarifas aduaneiras. o IVA no Paraguai foi introduzido a partir de 1991 da maneira como hoje se conhece e incide sobre toda operação de venda ou importação de produtos ou prestação de serviços e está consolidado na Lei 125/91 e regulamentado no Decreto 13.424/92. Não há incidência sobre produtos agropecuários em estado natural, bens imóveis, bilhetes de loterias, combustíveis derivados de petróleo, bens hereditários, livros, revistas e periódicos, bens de membros de corpo diplomático, assim como as exportações e os bens móveis de aplicação direta no ciclo 10 Não se trata de Impostos Federais, porque não há uma Federação 36 produtivo industrial ou agropecuário. Há uma pequena tributação de 2% sobre a comercialização de gado bovino, sendo o preço (base de cálculo) estipulado em pauta para evitar subfaturamento nas vendas. É também um imposto plurifásico e não cumulativo, alcançando apenas cada valor agregado no processo de produção e comercialização. A Constituição proíbe expressamente a cumulatividade, devendo ser aplicado o sistema de créditos e débitos fiscais, apurando-se o saldo mensalmente. Antes da reforma tributária em 1992, que instituiu o IVA com uma idéia da integração, o Paraguai baseava suas importações basicamente no sistema tributário, depois ele liberava para fora, era em cima do comércio fronteiriço, agora ele muda esta sistemática. Esta era a posição inicial do Paraguai, mas, nas recentes medidas que foram tomadas existe uma certa contradição, porque é uma economia que ainda depende de seu comércio fronteiriço, então tiveram que alterar o sistema, discriminando até a produção intema. Por exemplo, o uísque é tributado hoje com carga menor do que a cerveja produzida intemamente. Para facilitar, depois, a saída deste produto e que seja consumido fora do país. 3.4 Uruguai Em 1967 surge o IVA no Uruguai, sob a denominação Imposto Sobre Vendas e Serviços. Posteriormente foi reestruturado, vindo a assumir as feições atuais em 1972, respondendo por 50% das receitas tributárias, seguido por um imposto denominado Imposto Específico Intemo (IMESI), com 24% de participação na receita. o IMESI é um imposto indireto, seletivo, que incide sobre produtos considerados supérfluos. O campo de incidência abrange a circulação de bens em geral, sendo considerado bem tudo aquilo que tem valor e pode ser objeto de 37 propriedade, não importando se é um bem corpóreo ou não, e, para efeito de ocorrência do fato gerador, sua circulação tanto pode ser física como jurídica, contanto que seja a título oneroso. A prestação de serviços também é alcançada pela incidência do IVA Uruguaio, que é definida como sendo qualquer negócio oneroso que não constitua circulação de bens e que resulte aos contratantes vantagens e proveitos recíprocos, inclusive os serviços pessoais realizados de forma independente, desde que realizados a título oneroso, havendo isenção em relação aos serviços de natureza cultural, bem como a circulação de diários, revistas, livros e folhetos de qualquer natureza, exceto os de conteúdo pornográfico. As importações são amplamente taxadas, objetivando a proteção da indústria uruguaia, enquanto as exportações são desoneradas do IVA, assim como a circulação de produtos agropecuários em estado natural. o IMESI é plurifásico, não cumulativo e apresenta características idênticas ao nosso ICMS, com o sistema de débitos e créditos, repercutindo o imposto, apenas sobre o valor agregado em cada fase da comercialização ou produção. Por ser o Uruguai um Estado Unitário, dividido em Departamentos que não possuem autonomia legislativa, é um imposto nacional, mas determinado percentual da arrecadação é distribu ído com os governos departamentais Inicialmente existia uma alíquota única de 10%, mas em 1972 foi instituída uma alíquota básica e uma outra mínima. A alíquota básica, hoje, é de 23% e a mínima é de 14%. o IVA uruguaio apresenta características semelhantes às existentes no Paraguai e Argentina, e, por apresentar um caráter nacional, está livre de problemas em relação à circulação interna, contrastando com os tributos não- cumulativos brasileiros, diferenciado por 27 legislações diferentes (uma para cada entidade federativa). 38 3.5 Japão No Japão o imposto sobre consumo é similar ao IVA adotado na Europa. Assim como se apresenta nos moldes atuais, foi introduzido no ano de 1989. A base de incidência está nas vendas de mercadorias e serviços e sobre as importações. Existindo, ainda, um imposto seletivo que incide sobre a venda de bebidas alcoólicas. As alíquotas são fixadas "por dentro", como no ICMS brasileiro, e desde abrilde 1997, a alíquota básica é de 5%, quando até então, era de 3%. Política e economicamente, no Japão existe uma dependência muito grande das províncias e municípios em relação ao governo central, que centraliza a arrecadação. Com um critério de equalização, que leva em conta a capacidade de arrecadação e as necessidades de gastos (que servem como referencial para a distribuição de recursos), as receitas das localidades são repassadas às províncias e municípios por meio de subvenções. Para efeitos de equalização, leva-se em consideração o tamanho da população, área geográfica, nível de urbanização, custo dos serviços, nível de industrialização. O governo central assume, quase integralmente, os gastos com educação e saúde, e que os gastos militares são irrisórios, pois o Japão, derrotado na Segunda Grande Guerra, sofreu severas limitações quanto à manutenção de forças armadas regulares, o que contribui para uma elevada qualidade dos serviços públicos. 3.6 Brasil No Brasil, a primeira experiência com o imposto não-cumulativo deu-se em 1958 com o antecessor do atual IPI1\ denominado imposto de consumo. II Leis 297/56 e 4.502/64 - art. 25. 39 Conforme COÊLHO e DERZI (2004), o Brasil substituiu o imposto sobre vendas brutas pelo imposto sobre vendas líquidas, ou imposto sobre valor adicionado ou agregado. Este trazia a novação da não-cumulatividade. A antiga exação trazia alguns inconvenientes visto que incidia em todas as fases da industrialização e da comercialização, pelo valor bruto da venda, caracterizando assim a cumulatividade do imposto, o que provoca uma repercussão nos preços mais acentuada do que o imposto recolhido aos cofres públicos. O imposto anterior causava ainda a verticaüzaçáo das empresas, que se integravam, para evitar a incidência do imposto em cascata e também nem sempre permitia uma justa distribuição de sua carga sobre o consumo, nem uma justa participação regional sobre a produção. Mesmo já tendo adotado a não-cumulatividade na legislação ordinária com o imposto sobre vendas líquidas, na Constituição, o Brasil introduziu o referido princípio com a Reforma Constitucional n. 1812, de 1965 na Constituição Federal de 1946. A Emenda Constitucional n. 18 substituiu o IVC, de incidência em cascata pelo ICM, tributo incidente sobre todas as operações de circulação de mercadorias promovidas por industriais, comerciantes e produtores, que adotou a técnica da não-cumulatividade pelos abatimentos globais do tributo pago nas operações anteriores ao mesmo ou a outros Estados. 12 "Art. J J Compete à União o imposto sobre produtos industrializados. Parágrafo único. O imposto é seletivo em função da essencialidade dos produtos, e não-cumulativo, abatendo-se, em cada operação, o montante cobrado nas anteriores. Art. J 2. Compete aos Estados o imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias, realizadas por comerciantes industriais e produtores. (.) §2° O imposto é não-cumulativo, abatendo-se, em cada operação, nos termos do disposto em lei complementar, o montante cobrado nas anteriores, pelo mesmo ou por outro Estado, e não incidirá sobre a venda a varejo, diretamente ao consumidor, de gêneros de primeira necessidade, definidos COIIIO tais por ato do Poder Executivo estadual. " 40 o princípio manteve-se intacto na evolução constitucional posterior (em 1967). A Emenda 1, também denominada Constituição emendada de 17/10/1969, manteve o princípio para o IPI13 e para o ICMS14 . Em 198815, a Constituição realça igualmente o principio da não- cumulatividade em relação a ambos os impostos, visto que são partícipes da grande família dos impostos sobre valores adicionados, apesar de ostentarem características próprias e inconfundíveis. A esse propósito, COÊLHO (2005:559) afirma que: A Constituição de 1988 inovou em relação à de 1967, O art. 23, li, da Emenda Constitucional n° 1/69 dizia que o imposto era não- cumultaivo nos termos do disposto em lei complementar. O Decreto-Lei n° 406/68, lei complementar ratione materiae, adotou o critério físico, pois se bi art. 3° dispunha que o ICM era não- cumulativo, abatendo-se em cada operação o montante cobrado nas anteriores pelo mesmo ou por outro estado, já no §3° do mesmo artigo estabelecia o não-estomo de mercadorias adquiridas para utilização como matéria-prima, material secundário e embalagem, indicando a via do estomo que o direito de crédito era restrito. A jurisprudência fixou-se, então, no entendimento de que o sistema de compensação era o do crédito físico, ou seja, somente propiciavam o crédito a compensar nas operações subseqüentes as mercadorias destinadas à revenda ou materiais/insumos que se integrassem fisicamente ao produto resultante (outpuf) ou que, ao menos, se consumissem integralmente durante o processo de industrialização. 13 Art. 22, V, §4° 14 Art. 24, II, §SO 15 Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: (..) §3° - O imposto previsto no inciso IV [IP/}: I -(..) II - será não-cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operação com o montante cobrado nas anteriores; (..) Art.155.(..) §]O O imposto previsto no inciso 11[ICMS}, atenderá ao seguinte: I - será não-cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operação relativa à circulação de mercadorias ou prestação de serviços com o montante cobrado nas anteriores pelo mesmo ou outro Estado ou pelo Distrito Federal; (.) 41 A Constituição de 1988 não delegou à lei complementar estatuir o perfil da não-cumulatividade; a ela apenas conferiu o disciplinamento adjetivo do regime de compensação do ICMS. A Lei Complementar 87/96 consagrou explicitamente o direito de crédito na aquisição de energia elétrica, bens de uso e consumo e bem do ativo fixo (crédito financeiro). Como a Constituição não delegou ao legislador complementar erigir o princípio da não-cumulatividade, como em 67 e 69, se o crédito fosse físico na Constituição, a Lei Complementar seria inconstitucional, Porque sempre foi financeiro, superando o Convênio n066/88, que, temporariamente, regulou o ICMS em favor dos estados que deviam suportar o ditado constitucional. Em diversas ocasiões, a legislação brasileira se afastou do modelo estrangeiro. No início da implementação do imposto não-cumulativo optou-se pelo regime do crédito físico, embora na França já se adotasse o do crédito financeiro. TORRES (2004) também lembra que foi somente com a Lei Kandir " e com posterior cornplementação'" legal que se acertou o passo com o modelo europeu. A jurisprudência, principalmente do STF, em diversas ocasiões se distanciou da técnica da não-cumulatividade, dando ao ICMS e ao IPI as características das incidências em cascata. Dessa forma, a correção legislativa da referida jurisprudência tornou-se indispensável, através da edição de emendas constitucionais revocatórias da interpretação equivocada da Corte Suprema, que desconsiderava aspectos estruturais do imposto 18. Assim sendo, analisando a Constituição ou as leis complementares, tem-se que o princípio da não-cumulatividade é tratado de modo substancialmente idêntico ao ICMS e ao IPI. Posteriormente, criou-se o PIS (Programa de Integração Social) e a Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) na modalidade 16 LC 87 de 1996. 17 LC 102 de 2001. 18 Várias foram as hipóteses de correção legislativa: da EC n. 23 de 1983 até a EC n. 33 de 2001. 42 não-cumulativa. Porém, o modo como se aplicou a não-cumulatividade para as referidas contribuições de deu de modo diferente ao do ICMS e IPI. Com a EC n. 33, de 2001, diante das distorções econômicas causadas no País pelo regime da incidência em cascata, adotou- se a não-cumulatividade também para as contribuições sociais e econômicas, muitas das quais, exóticas, são autênticos impostos com destinação especial. TORRES (2004:140) Conforme CASTILHOS (2005), em 2002 foi editada a Lei nO. 10.637 instituindo o PIS não-cumulativo, mantendo também a sistemática anterior para algumas receitas ou para alguns contribuintes,que serão melhor explicados posteriormente neste trabalho. MARTINS (2004) - ao analisar a Medida Provisória n°. 135, de 30 de outubro de 2003 que foi convertida na Lei n". 10.833 de 2003 e tratou, novamente, da sistemática da COFINS, dispondo acerca de regras no sentido de eliminar a cumulatividade da contribuição, de modo semelhante ao IPI e ICMS, conforme disposto no seu art. 3° - afirma que é possível o aproveitamento de créditos advindos da aquisição de mercadoria para revenda, insumos utilizados na produção, gastos com energia elétrica, aluguel e outros. Sua alíquota foi elevada para 7,6% (sete inteiros e sessenta décimos por cento), como compensação pela diminuição na arrecadação, de acordo com o art. 2° da MP 135 e Lei n°. 10.833 de 2003. o PIS e a Cofins ainda existem na sistemática cumulativa, tais casos foram excepcionados pelo art. 10 da Lei nO. 10.833/03, que serão tratados posteriormente neste trabalho. 3.7 Considerações Gerais Para concluir este capítulo, gostaríamos ainda de comentar que, à exceção dos Estados Unidos da América, os sistemas tributários dos países de 43 capitalismo avançado adotam o IVA como forma de tributação indireta do consumo, cujas características principais são: incidência sobre as diversas etapas de produção e comercialização (plurifásico), não-incidência sobre bens de capital, desoneração das exportações, e a cobrança do imposto obedecendo ao princípio do destino. Há, ainda, a tributação sobre produtos específicos, o chamado imposto seletivo ou excise tax, como é conhecido o termo em inglês. Em relação às alíquotas, são aplicadas na modalidade "por dentro", ou seja, o imposto integra a sua própria base de cálculo, tomando a alíquota efetiva maior que a nominal, mas em compensação são alíquotas inferiores às 43 praticadas em nosso país. A alíquota "por dentro" talvez seja adotada, nestes países, em função do que poderíamos chamar de "boa técnica tributária", para efeitos de controle e administração da arrecadação. É importante ressaltar que, nestes países, o imposto sobre o consumo não é a principal fonte de receitas, quando muito, é a segunda fonte mais importante. Normalmente, a tributação sobre o consumo é inferior à arrecadação sobre a renda e à das contribuições sociais, e, à exceção dos Estados Unidos, há forte centralização da arrecadação, que é repassada aos estados e municípios, sob rigoroso controle dos gastos públicos, como é o caso do Japão, Reino Unido e Alemanha. 44 4 A Não-Cumulatividade no Brasil Paulatinamente o modelo estrangeiro IVA foi se aclimatando no Brasil, chegando hoje à posição de grande confluência com os nossos impostos não- cumulativos (o ICMS e o IPI), visto que a modalidades não-cumulativas do PIS e da Cofins apresentam um modelo peculiar de IVA. 4.1 IPI o imposto sobre produtos industrializados (IPI) incide sobre produtos industrializados, nacionais e estrangeiros. Suas disposições estão regulamentadas pelo Decreto 4.544 de 2002. O campo de incidência do imposto abrange todos os produtos com alíquota, ainda que zero, relacionados na Tabela de Incidência do IPI (TIPI), observadas as disposições contidas nas respectivas notas complementares, excluídos aqueles a que corresponde a notação "NT" (não-tributado). Entende-se por produto industrializado o resultante de qualquer operação definida no RIPI como industrialização, mesmo incompleta, parcial ou intermed iária. Caracteriza industrialização qualquer operação que modifique a natureza, o funcionamento, o acabamento, a apresentação ou a finalidade do produto, ou o aperfeiçoe para consumo, tal como a que, exercida sobre matéria- prima ou produto intermediário, importe na obtenção de espécie nova (transformação); a que importe em modificar, aperfeiçoar ou, de qualquer forma, alterar o funcionamento, a utilização, o acabamento ou a aparência do produto (beneficiamento); a que consista na reunião de produtos, peças ou partes e de que resulte um novo produto ou unidade autônoma, ainda que sob a mesma classificação fiscal (montagem); a que importe em alterar a apresentação do produto, pela colocação da embalagem, ainda que em substituição da original, 45 salvo quando a embalagem colocada se destine apenas ao transporte da mercadoria (acondicionamento ou reacondicionamento); a que, exercida sobre produto usado ou parte remanescente de produto deteriorado ou inutilizado, renove ou restaure o produto para utilização (renovação ou recondicionamento). Estabelecimento industrial é o que executa qualquer das operações consideradas industrialização, de que resulte produto tributado, ainda que de alíquota zero ou isento. A legislação ainda elenca estabelecimentos que se equiparam a industrial, a exemplo dos estabelecimentos importadores de produtos de procedência estrangeira, que derem saída a esses produtos. Fato gerador do IPI é: 1 - o desembaraço aduaneiro de produto de procedência estrangeira; 2 - a saída de produto do estabelecimento industrial, ou equiparado a industrial. Considera-se ocorrido o fato gerador: I - na entrega ao comprador, quanto aos produtos vendidos por intermédio de ambulantes; 11 - na saída de armazém-geral ou outro depositário do estabelecimento industrial ou equiparado a industrial depositante, quanto aos produtos entregues diretamente a outro estabelecimento; 111 - na saída da repartição que promoveu o desembaraço aduaneiro, quanto aos produtos que, por ordem do importador, forem remetidos diretamente a terceiros; IV - na saída do estabelecimento industrial diretamente para estabelecimento da mesma firma ou de terceiro, por ordem do encomendante, quanto aos produtos mandados industrializar por encomenda; V - na saída de bens de produção dos associados para as suas cooperativas, equiparadas, por opção, a estabelecimento industrial; VI - no quarto dia da data da emissão da respectiva nota fiscal, quanto aos produtos que até o dia anterior não tiverem deixado o estabelecimento do contribuinte; 46 VII - no momento em que ficar concluída a operação industrial, quando a industrialização se der no próprio local de consumo ou de utilização do produto, fora do estabelecimento industrial; VIII - no início do consumo ou da utilização do papel destinado à impressão de livros, jornais e periódicos, em finalidade diferente da que lhe é prevista na imunidade, ou na saída do fabricante, do importador ou de seus estabelecimentos distribuidores, para pessoas que não sejam empresas jomalísticas ou editoras; IX - na aquisição ou, se a venda tiver sido feita antes de concluída a operação industrial, na conclusão desta, quanto aos produtos que, antes de sair do estabelecimento que os tenha industrializado por encomenda, sejam por este adquiridos; X - na data da emissão da nota fiscal pelo estabelecimento industrial, quando da ocorrência de qualquer das hipóteses enumeradas no RIPI. XI - no momento da sua venda, quanto aos produtos objeto de operação de venda que forem consumidos ou utilizados dentro do estabelecimento industrial; XII - na saída simbólica de álcool das usinas produtoras para as suas cooperativas, equiparadas, por opção, a estabelecimento industrial. XIII - na data do vencimento do prazo de permanência da mercadoria no recinto alfandegário, antes de aplicada a pena de perdimento, quando as mercadorias importadas forem consideradas abandonadas pelo decurso do referido prazo. Na hipótese de venda, exposição à venda, ou consumo no Território Nacional, de produtos destinados ao exterior, ou na hipótese de descumprimento das condições estabelecidas para a isenção ou a suspensão do imposto, considerar-se-á ocorrido o fato gerador na data da saída dos produtos do estabelecimento industrial ou equiparado a industrial. 47 o IPI dota o principio do crédito físico amplo, quase financeiro na legislação, apesar de o princípio constitucional prescrever o crédito financeiro arnpto". MACHADO (1992:238), a esse respeito, preceitua da seguinte forma: Adotadaem nossa legislação a metodologia do crédito físico, durante muito tempo a questão de saber se este ou qualquer insumo ensejava direito ao crédito do IPI correspondente constituiu ponto de freqüentes atritos entre o Fisco e os contribuintes desse imposto. Objetivando superar dificuldades de interpretação, o Regulamento do IPI estabeleceu que entre as matérias-primas e produtos intermediários cuja entrada enseja o crédito do imposto estão 'aqueles que, embora não se integrando ao novo produto, forem consumidos no processo de industrialização, salvo se compreendidos entre os bens do ativo permanente' (art. 82, item I). Ficou assim, afastado o rigor do sistema de crédito físico. O direito ao crédito já não depende da integração física do insumo ao produto. Basta que a matéria-prima, ou produto intennediário, tenha sido consumida no processo de industrialização, e não se exige que o tenha sido imediata e integralmente, como ocorria em face de legislador anterior. A ressalva, agora, diz respeito à classificação do bem adquirido no ativo pennanente da empresa. A questão de saber se o bem deve ser classificado, ou não, no ativo pennanente, há de ser resolvida em face da legislação pertinente ao imposto de renda. Nesta há dispositivo estabelecendo que deve ser classificado no ativo pennanente o bem cuja vida útil seja superior a um ano. Assim, mesmo as peças ou acessórios de máquinas e aparelhos utilizados no processo de industrialização, cuja vida seja útil inferior a um ano, podem ser escriturados como custo, e o IPI correspondente pode ser utilizado como crédito. Ou seja, a não-cumulatividade do IPI opera-se através da compensação do que for devido em cada operação com o montante cobrado nas anteriores, da mesma forma que ocorre com o ICMS. 19 "Para o fim de definir a não-cumulatividade tem-se a metodologia do crédito financeiro e a do crédito físico. Pela primeira, todo que qualquer bem adquirido pela empresa que tenha sido tributada pelo imposto enseja o crédito correspondente. Não importa qual seja a sua utilização. Pela segunda só enseja o crédito do imposto a entrada de bens destinados a integrar fisicamente o produto industrializado." MACHADO (1992238) 48 4.2ICMS o ICMS, de competência dos Estados e do Distrito Federal, significa imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual, intermunicipal e de comunicação. A sua regulamentação constitucional está prevista na Lei Complementar 87/1996 (a chamada "Lei Kandir"), alterada posteriormente pelas Leis Complementares 92/97, 99/99 e 102/2000. o imposto incide sobre operações relativas à circulação de mercadorias, inclusive o fornecimento de alimentação e bebidas em bares, restaurantes e estabelecimentos similares; prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal, por qualquer via, de pessoas, bens, mercadorias ou valores; prestações onerosas de serviços de comunicação, por qualquer meio, inclusive a geração, a emissão, a recepção, a transmissão, a retransmissão, a repetição e a ampliação de comunicação de qualquer natureza; fornecimento de mercadorias com prestação de serviços não compreendidos na competência tributária dos Municípios; fornecimento de mercadorias com prestação de serviços sujeitos ao imposto sobre serviços, de competência dos Municípios, quando a lei complementar aplicável expressamente o sujeitar à incidência do imposto estadual; a entrada de mercadoria importada do exterior, por pessoa física ou jurídica, ainda quando se tratar de bem destinado a consumo ou ativo permanente do estabelecimento; o serviço prestado no exterior ou cuja prestação se tenha iniciado no exterior; a entrada, no território do Estado destinatário, de petróleo, inclusive lubrificantes e combustíveis líquidos e gasosos dele derivados, e de energia elétrica, quando não destinados à comercialização ou à industrialização, decorrentes de operações interestaduais, cabendo o imposto ao Estado onde estiver localizado o adquirente. 49 E não incide sobre operações com livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão; operações e prestações que destinem ao exterior mercadorias, inclusive produtos primários e produtos industrializados semi- elaborados, ou serviços; operações interestaduais relativas à energia elétrica e ao petróleo, inclusive lubrificantes e combustíveis líquidos e gasosos dele derivados, quando destinados à industrialização ou à comercialização; operações com ouro, quando definido em lei como ativo financeiro ou instrumento cambial; operações relativas a mercadorias que tenham sido ou que se destinem a ser utilizadas na prestação, pelo próprio autor da saída, de serviço de qualquer natureza definido em lei complementar como sujeito ao imposto sobre serviços, de competência dos Municípios, ressalvadas as hipóteses previstas na mesma lei complementar; operações de qualquer natureza de que decorra a transferência de propriedade de estabelecimento industrial, comercial ou de outra espécie; operações decorrentes de alienação fiduciária em garantia, inclusive a operação efetuada pelo credor em decorrência do inadimplemento do devedor; operações de arrendamento mercantil, não compreendida a venda do bem arrendado ao arrendatário; operações de qualquer natureza de que decorra a transferência de bens móveis salvados de sinistro para companhias seguradoras. O contribuinte do ICMS é qualquer pessoa, física ou jurídica, que realize, com habitual idade ou em volume que caracterize intuito comercial, operações de circulação de mercadoria ou prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior. É também contribuinte a pessoa física ou jurídica que, mesmo sem habitualidade importe mercadorias do exterior, ainda que as destine a consumo ou ao ativo permanente do estabelecimento; seja destinatária de serviço prestado no exterior ou cuja prestação se tenha iniciado no exterior, adquira em licitação de mercadorias apreendidas ou abandonadas; adquira lubrificantes e combustíveis líquidos e gasosos derivados de petróleo e energia elétrica oriundos de outro Estado, quando não destinados à comercialização ou à industrialização. 50 A Lei estadual poderá atribuir a contribuinte do imposto ou a depositário a qualquer título a responsabilidade pelo seu pagamento, hipótese em que o contribuinte assumirá a condição de substituto tributário. A responsabilidade poderá ser atribuída em relação ao imposto incidente sobre uma ou mais operações ou prestações, sejam antecedentes, concomitantes ou subseqüentes, inclusive ao valor decorrente da diferença entre alíquotas interna e interestadual nas operações e prestações que destinem bens e serviços a consumidor final localizado em outro Estado, que seja contribuinte do imposto. A atribuição de responsabilidade dar-se-á em relação a mercadorias ou serviços previstos em lei de cada Estado. É assegurado ao contribuinte substituído o direito à restituição do valor do imposto pago por força da substituição tributária, correspondente ao fato gerador presumido, que não se realizar. Formulado o pedido de restituição e não havendo deliberação no prazo de noventa dias, o contribuinte substituído poderá se creditar, em sua escrita fiscal, do valor objeto do pedido, devidamente atualizado segundo os mesmos critérios aplicáveis ao tributo (parágrafo 1 do art. 10 da Lei Complementar 87/96). Sobrevindo decisão contrária irrecorrível, o contribuinte substituído, no prazo de quinze dias da respectiva notificação, procederá ao estorno dos créditos lançados, também devidamente atualizados, com o pagamento dos acréscimos legais cabíveis. A não-cumulatividade do ICMS opera-se através da compensação do que for devido em cada operação relativa à circulação de mercadorias ou prestação de serviços com o montante cobrado nas anteriores pelo mesmo ou outro Estado ou pelo Distrito
Compartilhar