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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ ANA FLÁVIA SUZUKI ROSA LIMA MARIA BEATRIZ ODEBRECHT CARVALHO DE MENDONÇA PROVAS NO PROCESSO PENAL LONDRINA 2018 ANA FLÁVIA SUZUKI ROSA LIMA MARIA BEATRIZ ODEBRECHT CARVALHO DE MENDONÇA PROVAS NO PROCESSO PENAL LONDRINA 2018 I. QUESTÕES 1. EXPLIQUE O QUE É MEIO DE PROVA, FONTES DE PROVA E MEIOS DE OBTENÇÃO DE PROVA. R: Segundo, BADARÓ, G.H; 2017: a. Meio de prova: São os instrumentos pelos quais se leva ao processo um elemento de prova apto a revelar ao juiz a verdade de um fato. O CPP disciplina os seguintes meios de prova: exame de corpo de delito e perícias em geral (arts 158 a 184), confissão(arts 197 a 200), perguntas ao ofendido (art, 201), testemunhas (art.202 a 225), reconhecimento de pessoas ou coisas (arts 226 a 228), acareação (arts 229 a 230), documentos (art 231 a 238), indícios (art 239), busco e apreensão (arts 240 a 250). (...) Com exceção das provas pré-constituídas, deverão ser produzidos em contraditório judicial, na presença das partes e do juiz. (...) Além de que, sabe-se que, o meio de prova se presta ao convencimento direto do julgador. b. Fonte de prova: É tudo que é idôneo a fornecer resultado apreciável para a decisão do juiz, por exemplo, uma pessoa, um documento ou uma coisa. As fontes de provas são anteriores ao processo (por exemplo, alguém que viu um acidente é testemunha do acidente, mas o meio de prova somente ocorrerá se houver um depoimento judicial dessa testemunha). c. Meios de obtenção de prova:Meios de obtenção de provas, também denominados meios de investigação ou de pesquisa de provas, são instrumentos para a colheita de fontes ou elementos de provas. O único meio de obtenção de provas disciplinado pelo CPP é a busca e a apreensão, embora elencada, erroneamente, entre os meios de prova. Há outros meios de obtenção de provas previstos em leis especiais: a interceptação das comunicações telefônicas, disciplinadas na Lei 9.296/1996; a interceptação ambiental (nominada na Lei 12.850/2013); as chamadas “quebras” dos sigilos legalmente protegidos, como o financeiro (regidos pela Lei Complementar n105/2001), o fiscal (CTN, art.198), o sigilo profissional, entre outros. O agente infiltrado, previsto nos artigos 10 a 14 da Lei 12.850/2013, também é um meio de obtenção de prova. Não se trata de um meio de prova, não podendo o agente infiltrado ser reduzido à mera testemunha como uma simples fonte oral de prova. Tanto assim que a infiltração se inclui entre os “procedimentos de investigação e formação de prova”, para ser utilizada “em tarefas de investigação”. Uma característica dos meios de obtenção de prova apontada pela doutrina é o seu caráter surpresa. Ou seja, sua eficiência visando à efetiva colheita de elementos de provas ùteis depende do desconhecimento do investigado de que é ou será alvo de busca e apreensão. 2. EXPLIQUE O QUE É ÔNUS DA PROVA E SUA INCIDÊNCIA NO PROCESSO PENAL. R: Segundo, DEZEM, G.M; 2017, a questão da prova ainda é debatida por força do disposto no art. 156 do CPP: “A prova da alegação incubirá a quem a fizer, (...)”. Neste artigo temos a discussão de dois pontos de suma relevância: o ônus da prova no processo penal e os poderes instrutórios do juiz. O autor, cita-se o conceito técnico de ônus que é apresentado por Gustavo Badaró, apoiado em Paola Gelato, como “ posição jurídica na qual o ordenamento jurídico estabelece determinada conduta para que o sujeito possa obter um resultado favorável. Em outros termos: para que o sujeito onerado obtenha o resultado favorável, deverá praticar o ato previsto no ordenamento jurídico, sendo que a não realização da conduta implica a exclusão de tal benefício, sem contudo, configurar um ato ilícito”. DEZEM, relata que NUCCi escreve que no processo penal, o ônus da prova é da acusação, que representa imputação em juízo através da denúncia ou da queixa-crime. Entretanto, o réu pode chamar para si o interesse de produzir prova, o que ocorre quando alega, em seu benefício, algum fato que propiciará a exclusão da ilicitude ou da culpabilidade, embora nunca o faça de maneira absoluta. Assim, cabe ao réu a prova da ocorrência da causa excludente da ilicitude (legítima defesa) ou da culpabilidade ou , até mesmo, a prova do álibi. No entanto, há posição em sentido contrário que, embora minoritária, parece efetivamente mais adequada. Assim é a inovadora posição apresentada por Gustavo Henrique Righi Ivahy Badaró em sua tese de doutorado apresentada perante as arcadas: ônus da prova no processo penal. Retoma o autor a divisão do ônus da prova em duas modalidades: objetivo e subjetivo. No primeiro, o ônus da prova é entendido como regra de julgamento. No segundo (aspecto subjetivo), o ônus da prova é entendido como o encargo que recai sobre as partes na busca pelas fontes de prova e sua introdução no processo pelos meios de prova. Na ação penal condenatória, não há que se falar em ônus da prova para o acusado, mas é admitido o ônus probatório. Outro ponto importante a notar é que, a leitura do artigo 156 do CPP permite deduzir que as causas de exclusão da ilicitude devem ser comprovadas pela defesa, mas se houver dúvida sobre a sua existência deverá o magistrado absolver o acusado (art. 386, VI, segunda parte). 3. EXPLIQUE O QUE É PROVA EMPRESTADA E QUAIS OS SEUS REQUISITOS. R: Segundo, DEZEM, G.M; 2017, prova emprestada designa a utilização da prova em um processo que fora produzida em outro processo. Esse transporte da prova de um processo para outro é feito pela forma documental. Assim, questiona-se se o depoimento de uma testemunha utilizada no processo. A pode ser transposto para o processo B. Há duas posições minoritárias que exigem mais requisitos do que tão somente a produção da prova em contraditório: A primeira posição entende que são dois os requisitos da prova emprestada: ser produzida em processo formado entre as mesmas partes ou em processo que tenha figurado como parte aquele contra quem se pretenda fazer valer a prova; ser colhida perante o juiz natural da causa. A segunda posição minoritária é que exige quatro requisitos para a admissão da prova emprestada: deve ser colhida em processo perante as mesmas partes; observância, no processo anterior, das formalidades previstas em lei para a produção da prova, que o fato probando seja o mesmo, que tenha havido contraditório no processo do qual a prova será transferida. É interessante notar, contudo, a questão da prova emprestada no que se refere ao tema da perícia que, em regra, é produzida no inquérito policial. O Supremo Tribunal Federal analisou a questão e entendeu que, diante do fato de não haver, em tal situação, normalmente a participação do acusado, deveria ser admitida. 4. EXPLIQUE QUAIS SÃO OS SISTEMAS DE APRECIAÇÃO DAS PROVAS. R: DEZEM, G.M; 2017: Quando se fala em sistemas de apreciaçãodas provas está-se a pensar na relação entre o julgamento da causa pelo magistrado e as provas produzidas em juízo. Em outras palavras, procura-se investigar qual a relação entre a prova produzida e o ato decisório do juiz. Há basicamente, três grandes sistemas de apreciação de provas: a. Sistema da livre convicção: Este sistema permite que o magistrado avalie a prova com ampla liberdade, decidindo ao final de maneira a aplicar o direito segundo sua livre convicção, não estando, porém obrigado a fundamentar suas decisões e seu veredicto, o qual acaba por se resumir a uma simples sentença - culpado ou inocente. Entretanto este princípio não é adotado por nosso sistema. A constituição Federal, no art. 93, IX, exige que todas as decisões judiciais sejam fundamentadas. b. Sistema da prova Legal: Em sistema, típico do sistema inquisitivo, baseia-se na ideia de que determinados meios de provas possuam valores absolutos, não podendo ser afastada pelo magistrado. Trata-se de evidente reação ao sistema da certeza moral do juiz, de maneira que, aqui, afasta-se a liberdade ampla dada ao magistrado, de maneira a restringir, ao máximo, seu âmbito de atuação. Esse sistema de prova tarifada encontrar algum resquício no CPP atual. Como efeito é de se verificar que o art. 158. Contudo, é possível que se entenda o art. 158 do CPP como resquício do sistema das provas legais, o que porém, atenuado, tendo em vista o disposto no art. 167 do CPP. c. Sistema do livre convencimento motivado:Tendo em vista o evidente exagero dos sistemas anteriores, o legislador entendeu por bem alterar a sistemática anteriormente prevista, de maneira que se permitisse novamente maior liberdade ao magistrado no momento de decidir a causa. Contudo, esta liberdade importava em que o magistrado assumisse maiores responsabilidades e que se pudesse haver controle sobre suas decisões, daí porque se criou o sistema do livre convencimento motivado. Pode-se dizer que tal sistema encontra amparo legal no art. 93, IX da CF/1988 e no art. 155 do CPP. 5. EXPLIQUE O QUE É PROVA ILÍCITA. R: Segundo, BADARÓ, G.H; 2017, as provas ilícitas são obtidas com a violação de normas de direito material ou de garantias constitucionais (por exemplo, um “grampo telefônico, ilegal). Em suma, podem ser definidas como provas ilícitas as provas obtidas, admitidas ou produzidas com violação das garantias constitucionais, sejam as que asseguram liberdades públicas, sejam as que estabelecem garantias processuais. Os meios de provas obtidos ilicitamente são inadmissíveis no processo,e, se nele indevidamente ingressarem, devem ser desentranhados. Em um ou em outro caso, jamais poderão ser valorados pelo juiz. O desentranhamento da prova dos autos é apenas o mecanismo técnico para assegurar uma proibição de valoração da prova ilícita (BADARÓ, G.H; 2017). 6. EXPLIQUE O QUE É PROVA ILÍCITA POR DERIVAÇÃO. R: Com a reforma de 2008, o CPP passou a ter uma disciplina expressa sobre a prova ilícita por derivação. O §1º do art. 157 prevê que: “§ 1º São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras (BADARÓ, G.H; 2017). A denominada Derivative Evidence Doctrine, criada pela jurisprudência norte-americana, ficou conhecida como Fruit of the Poisonous Tree, ou seja, frutos da árvore venenosa. A prova ilícita por derivação é uma prova que, em si mesma, é lícita, mas que somente foi obtida por intermédio de informações ou elementos decorrentes de uma prova ilicitamente obtida. Por exemplo, encontra-se um cadáver em cumprimento a um mandado de busca domiciliar (prova em si lícita), mas a informação do local em que o cadáver estava foi obtida por meio de uma confissão mediante tortura (BADARÓ, G.H; 2017). A prova ilícita conforme assinalado pela doutrina e jurisprudência é inadmissível no processo. Se nele ingressar, será considerada um não ato, ou meio de prova juridicamente inexistente. Da mesma forma, a prova ilícita por derivação não deve ser admitida no processo, salvo se houve quebra do nexo de causalidade entre ela e a prova originariamente ilícita, o que pode ocorrer, por exemplo, nos casos de uma fonte independente ou de uma descoberta inevitável (BADARÓ, G.H; 2017). II. EXAMINE OS DOIS CASOS CONCRETOS DESCRITOS ABAIXO E DELIBERE SOBRE ILICITUDE DA PROVA PRODUZIDA E SEUS FUNDAMENTOS. PROBLEMA 01 A prova ilícita vista do direito material será colhida com infringência de normas ou princípios previstos na Constituição para proteção das liberdades públicas e dos direitos da personalidade. Constituem provas ilícitas, por exemplo, as obtidas com violação do domicílio (CR, art.5º, caput, IX) (...). Justamente porque tal bem jurídico é de alta relevância, o legislador tipifica como crime de violação,com isso, a obtenção da prova ilícita, normalmente, acarreta o acometimento de um delito (BADARÓ, G.H; 2017). Foi justamente essa circunstância, qual seja de haver apenas uma sanção material, normalmente, de natureza penal, para a violação das liberdades públicas, que levou à adoção da teoria do male captum, bene retentum. Em outras palavras, como não havia sanção processual para a violação da regra de direito material, o autor da lesão seria punido no plano do direito material, mas a prova ilícita introduzida no processo era validamente valorada. Havia, pois, um isolamento dos dois planos - material (prova ilícita) e processual (prova ilegítima) -, inclusive no que dizia respeito à sanção pelo desrespeito à norma (BADARÓ, G.H; 2017). Através disso, a reforma do CPP de 2008, na disciplina legal do regramento constitucional da vedação da prova ilícita, parece não ter adotado a conceituação da prova ilícita segundo os parâmetros doutrinários e jurisprudências que vinham sendo tranquilamente aceitos, a partir da distinção entre provas ilícitas e provas ilegítimas (BADARÓ, G.H; 2017). Isso porque a nova redação do caput do art. 157 do CPP prevê: “São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais”. Ou seja, para caracterização da prova ilícita, não se fez qualquer distinção entre natureza da norma violada, se de direito material ou processual (BADARÓ, G.H; 2017). Portanto, os meios de provas obtidos ilicitamente são inadmissíveis no processo,e, se nele indevidamente ingressarem, devem ser desentranhados. Em um ou em outro caso, jamais poderão ser valorados pelo juiz. O desentranhamento da prova dos autos é apenas o mecanismo técnico para assegurar uma proibição de valoração da prova ilícita (BADARÓ, G.H; 2017). “Ementa: prova ilícita. material fotográfico que comprovaria a prática delituosa (lei nº 8.069/90, art. 241). fotos que foram furtadas do consultório profissional do réu e que, entregues à polícia peloautor do furto, foram utilizadas contra o acusado, para incriminá-lo. inadmissibilidade (cf, art. 5º, lvi).garantia constitucional da inviolabilidade domiciliar (cf, art. 5º, xi). consultório profissional de cirurgião-dentista. espaço privado sujeito à proteção constitucional (cp, art. 150, § 4º, iii). necessidade de mandado judicial para efeito de ingresso dos agentes públicos. jurisprudência. doutrina. (...) "A inadmissibilidade processual da prova ilícita torna-se absoluta, sempre que a ilicitude consista na violação de uma norma constitucional, em prejuízo das partes ou de terceiros.” RE 251.445-GO* RELATOR: MIN. CELSO DE MELLO.(http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo197.htm#Pro va%20Il%C3%ADcita:%20Inadmissibilidade%20(Transcri%C3%A7%C3%B5es)”. PROBLEMA 02 A defesa do governador questionou a validade dos acordos de delação premiada, pois teria sido firmado por um órgão do Ministério Público que não possuiria atribuições para tanto e, ainda, teria sido o ato homologado por juiz incompetente para tratar fatos que envolvessem autoridade com prerrogativa de foro no STJ. O que, segundo o STF, seria de incumbência da PGR e do STJ, conforme sustação dos ministros Gilmar Mendes, D. Toffoli, Lewandowski e Celso de Mello, que pugnaram pela ilegalidade das provas derivadas de ato em desconformidade com a lei. Segundo Toffoli e Mello, respectivamente, agiu-se “em total usurpação de competência o Parquet ao colher informações sobre autoridade com prerrogativa de foro”, sendo que “os fatos não oferecem alternativa se não reconhecer a absoluta http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo197.htm#Prova%20Il%C3%ADcita:%20Inadmissibilidade%20(Transcri%C3%A7%C3%B5es) http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo197.htm#Prova%20Il%C3%ADcita:%20Inadmissibilidade%20(Transcri%C3%A7%C3%B5es) ineficácia do acordo relativamente a este paciente quanto às provas produzidas mediante ato de colaboração premiada de Luiz Antônio Souza”. De acordo com Gilmar Mendes, o MP ofecera ao acusado benefícios arbitrariamente, “gerando uma delação pouco confiável e não corroborada por outros elementos, a qual foi reputada suficientemente para a abertura das investigações contra o governador do Estado”. Isso porque é a PGR junto ao STJ os órgãos competentes para firmar e posteriormente homologar, respectivamente, os acordos de delação premiada e não o MPF ou o MPE. No entanto, acreditamos que, embora todos os ministros supracitados, inclusive a ministra Nancy e o ministro Fachin a quem corroboramos o nosso entendimento, tenham entendido pela usurpação da competência do MPE até então, tal fato não seria suficiente para invalidar a essência do decurso do IP. Visto que tais questões não prejudicam o agravante, pois os acordos de delação premiada possuem natureza de eficácia restrita ao colaborador e à acusação. Não tendo o governador interesse ou legitimidade para questionar sua validade por tratar-se a delação de negócio jurídico personalíssimo. Ao homologar o acordo de colaboração premiada, o juiz, com base no § 7º do art. 4º da Lei 12.850/2013,“se limita a aferir a regularidade, a voluntariedade e a legalidade do acordo”, não existindo “emissão de qualquer juízo de valor sobre as declarações do colaborador” (STF, HC 127483, Tribunal Pleno, DJe de 04/02/2016). Independentemente de serem “verídicas ou idôneas as informações eventualmente já prestadas pelo colaborador e tendentes à identificação de coautores ou partícipes da organização criminosa e das infrações por ela praticadas ou à revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa” (STF, HC 127483, Tribunal Pleno, DJe de 04/02/2016), conforme a orientação dada pelo STF, não é a homologação do acordo que confere validade aos elementos de convicção colhidos em decorrência da atuação do colaborador, pois a sua eventual falta não impediria o oferecimento da denúncia em relação a outros crimes implicados. Cabendo, portanto, a delação acerca do crime sexual como prova válida, no caso. A ilustre ministra Nancy em decisão do AgRg nos respectivos autos ainda infere que o entendimento jurisprudencial do STF corrobora a assertiva de que a natureza da colaboração premiada é a de delatio criminis, ou melhor, 'meio de obtenção de prova', cujo objeto corresponde à cooperação do imputado para fins de investigação para o início do processo criminal, conforme julgamento do HC 127483, Tribunal Pleno, DJe 04/02/2016 pela Suprema Corte Federal. Cabendo eventual relativização à proteção constitucional aos bens jurídicos do réu relativos ao direito à prova. Nas palavras de Nancy apud STF: “até mesmo em caso de revogação do acordo, onde o material probatório colhido em decorrência dele pode ainda assim ser utilizado em face de terceiros, razão pela qual não ostentam eles, em princípio, interesse jurídico em pleitear sua desconstituição” (STF, Inq 3983,Tribunal Pleno, DJe 12/05/2016). Destarte, a homologação do acordo de colaboração não produz, segundo a ministra, efeitos na esfera jurídica do delatado, ao contrário do que ocorre com as imputações oriundas dos depoimentos do colaborador ou das medidas restritivas de direitos fundamentais que vierem a ser adotadas com base nesses, além das provas por eles indicadas e apresentadas. No que tange ao encontro fortuito de provas, entendemos consoante a ministra que os elementos de convicção fornecidos pelo colaborador possuem autonomia em relação ao acordo de delação, cuja natureza jurídica é de negócio jurídico personalíssimo firmado entre a acusação e o colaborador. Sendo a colaboração premiada um meio de obtenção de elementos de convicção, as informações prestadas pelo colaborador podem referir-se até mesmo a crimes diversos daqueles que dão causa ao acordo, configurando-se, nessa situação, a hipótese da descoberta fortuita de provas. Segundo a jurisprudência, os elementos informativos referentes a outros crimes, mesmo sem conexão com a investigação primária devem receber tratamento igualitário conferido aos outros meios de obtenção de prova, em detrimento do encontro fortuito de provas (STF, Inq 4130 QO, Tribunal Pleno, DJe 03/02/2016). Tal descoberta inesperada consiste em fato legítimo que não implica na irregularidade do inquérito ou na ilegalidade da ação penal dele derivada (RHC81.964/RS, Sexta Turma, DJe 15/05/2017). Sendo possível, em suma, através do encontro fortuito de provas, decidir pela licitude da delação no que tange à prática de crimes de natureza sexual, além dos crimes de corrupção passiva e ativa, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e formação de organização criminosa (crimes referentes ao presente inquérito), uma vez que a suposta infração penal de cunho sexual já vinha sendo investigada em inquérito policial em andamento, fato que mostra-se legítimo segundo o entendimento jurisprudencial do STF, como já evidenciado. Contradizendo a tese de defesa que arguira que a colaboração se referiria a crimediverso daquele envolvido do acordo, pugnando pela ilicitude do objeto do referido negócio jurídico processual. A competência de foro do juiz que homologa o acordo de delação, por sua vez, não afeta a existência, validade ou veracidade dos elementos de convicção fornecidos ao órgão de acusação por si só, pois tais fatos são passíveis de contradição. Não se vislumbrando motivos suficientes para declarar ilegalidades processuais capazes de afetar o decurso do inquérito policial em apreço ou autorizar a concessão do HC, como ocorrido. Neste sentido, o ministro e relator vencido da decisão proferida pela Suprema Corte Federal que autorizou o trancamento do inquérito, L.Edson Fachin, se posicionou publicamente em consonância ao entendimento que nós, em concordância com o sustado pela ministra Nancy, entendemos III. REFERÊNCIA. BADARÓ, Gustavo Henrique. Processo penal. 5. ed., rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017. DEZEM, Guilherme Madeira. Curso de processo penal. 3. ed., rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017.
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