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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE - PRODEMA AS CONDIÇÕES PEDOGEOQUÍMICAS DA PLANÍCIE FLÚVIO-MARINHA DO RIO APODI-MOSSORÓ (RN) E A OCUPAÇÃO HUMANA PARA ATIVIDADES ECONÔMICAS A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVEL A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVEL A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTER PARA A COTONICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVELAAA CARLOS DANIEL SILVA E SOUZA 2023 Natal – RN Brasil Carlos Daniel Silva e Souza AS CONDIÇÕES PEDOGEOQUÍMICAS DA PLANÍCIE FLÚVIO- MARINHA DO RIO APODI-MOSSORÓ (RN) E A OCUPAÇÃO HUMANA PARA ATIVIDADES ECONÔMICAS A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVEL A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVEL A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTER PARA A COTONICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVELAAA Dissertação apresentada ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN), como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre. Orientadora: Profª. Drª. Raquel Franco de Souza Co-Orientador: Prof. Dr. Diógenes Félix da Silva Costa 2023 Natal – RN Brasil Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Leopoldo Nelson - -Centro de Biociências - CB Elaborado por KATIA REJANE DA SILVA - CRB-15/351 Souza, Carlos Daniel Silva e. As condições pedogeoquímicas da planície Flúvio-Marinha do Rio Apodi-Mossoró (RN) e a ocupação humana para atividades econômicas / Carlos Daniel Silva e Souza. - 2023. 70 f.: il. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Biociências, Programa Regional de Pós- graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente - PRODEMA. Natal,RN, 2023. Orientadora: Profa. Dra. Raquel Franco de Souza. Coorientador: Prof. Dr. Diógenes Félix da Silva Costa. 1. Zonas úmidas - Dissertação. 2. Ambientes hipersalinos - Dissertação. 3. Estuário negativo - Dissertação. 4. Potencial econômico - Dissertação. 5. Uso e cobertura da terra - Dissertação. I. Souza, Raquel Franco de. II. Costa, Diógenes Félix da Silva. III. Título. RN/UF/BSCB CDU 633.876 CARLOS DANIEL SILVA E SOUZA Dissertação submetida ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN), como requisito para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Aprovado em: BANCA EXAMINADORA: _________________________________ Profª. Drª. Raquel Franco de Souza Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN) _________________________________ Prof. Dr. Sebastião Milton Pinheiro da Silva Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN) _________________________________ Prof. Dr. Franklin Roberto da Costa Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Externo ao PRODEMA/UFRN) AGRADECIMENTOS Agradeço à CAPES pela concessão da bolsa, que possibilitou a elaboração dessa pesquisa durante todo o meu percurso no mestrado. Aos meus queridos professores e orientadores, Drª Raquel Franco de Souza e Dr. Diógenes Félix da Silva Costa, por toda dedicação e empenho para com a ciência, por todos os ensinamentos e paciência durante esse período de grande aprendizado. À minha esposa e amiga Alessandra, por todo apoio e companheirismo durante essa desafiadora jornada. Aos meus colegas de turma do PRODEMA, por todos conhecimentos e experiências compartilhadas. A todos os professores da rede PRODEMA que contribuíram para minha formação de mestre. A Deus, o pai das luzes, pela sua infinita bondade e por ter me sustentado até aqui. Dedico esse trabalho aos meu pais, que durante toda a vida foram minha base e impulsionadores para alcançar meus objetivos, sem eles nada seria possível. RESUMO As condições pedogeoquímicas da planície flúvio-marinha do rio Apodi-Mossoró (RN) e a ocupação humana para atividades econômicas As planícies flúvio-marinhas apresentam relação com os fatores continentais e oceânicos, dando origem aos estuários, ambientes onde ocorrem contato, mistura e diluição da água do mar com a água proveniente do rio. Na área setentrional do Rio Grande do Norte (RN), em razão das condições geomorfológicas e climáticas, estas planícies são caracterizadas como ambientes hipersalinos, uma vez que a evapotranspiração potencial supera as taxas de precipitações pluviométricas, caracterizando o estuário como negativo e proporcionando o surgimento de diversos ambientes adaptados aos níveis de salinidade; contudo, estas planícies enfrentam constante ocupação mesmo em circunstâncias desfavoráveis para algumas atividades. Objetivou-se nessa pesquisa avaliar as condições pedogeoquímicas para o desenvolvimento de atividades humanas na planície flúvio-marinha do rio Apodi- Mossoró (RN), localizada no semiárido brasileiro. Para isso, foram coletadas amostras de solo com profundidades diferenciadas em ambientes do alto curso estuarino, setor menos ocupado. As análises laboratoriais indicaram grandes concentrações de Na+, Ca2+ e Mg2+; os resultados caracterizaram o solo com classificação sódica, caráter sálico e condição moderadamente alcalina, circunstancias causadas pela influência do clima seco e evaporação progressiva da água do mar na área de supramaré. Já a granulometria dos sedimentos, indicou predominância de partículas mais finas como silte e argila na composição textural. Para identificar e monitorar as potencialidades para atividades econômicas, foi utilizada a estrutura DPSIR (Demanda-Pressão-Estado-Impacto-Resposta), que é capaz de proporcionar uma análise das relações sistêmicas entre ações antrópicas e ambientais. Com isso, foram realizados levantamentos bibliográficos e Listagem de Controle (Check-List) para identificar os principais indicadores que caracterizam a problemática. Os resultados revelaram que a planície em estudo tem aptidões para suprir as demandas por alimento, energia e espaço imobiliário, por meio da carcinicultura, indústria salineira, pesca, pecuária, agricultura, atividade petrolífera Onshore e crescimento populacional; porém, essas pressões proporcionam impactos, sendo os mais significativos à perda da biodiversidade e alterações na composição natural do solo. Para mitigar esses danos e assegurar a sustentabilidade, as principais respostas foram a fiscalização a partir das normas ambientais e a implementação do saneamento ambiental. PALAVRAS-CHAVE: Zonas úmidas; Ambientes hipersalinos; Estuário negativo; Potencial econômico; Uso e cobertura da terra. ABSTRACT Pedogeochemical conditions of the fluvio-marine plain of the Apodi-Mossoró River (RN) and human occupation for economic activities The fluvio-marine plains are related to continental and oceanic factors, giving rise to estuaries, environments where contact, mixing and dilution of sea water and river water occur. In the northern area of Rio Grande do Norte (RN), due to the geomorphological and climatic conditions, these plains are characterized as hypersaline environments, since the potential evapotranspiration exceeds the rainfall rates, characterizing the estuary as negative and providingthe appearance of different environments adapted to salinity levels; however, they face constant occupation even in unfavorable circumstances for some activities. The objective of this research was to evaluate the pedogeneochemical conditions for the development of human activities in the fluvio-marine plain of the Apodi- Mossoró river (RN), located in the Brazilian semi-arid region. For this, soil samples were collected at different depths in environments of the upper estuarine course, the least occupied sector. Laboratory analyzes indicated high concentrations of Na+, Ca2+ and Mg2+; the results characterized the soil with sodic classification, salic character and moderately alkaline condition, circumstances caused by the influence of dry weather and progressive evaporation of seawater in the supratidal area. The granulometry of the sediments, however, indicated a predominance of finer particles such as silt and clay in the textural composition. To identify and monitor the potential for economic activities, the DPSIR structure (Demand-Pressure-State-Impact-Response) was used, which is capable of providing an analysis of the systemic relationships between anthropic and environmental actions. With this, bibliographic surveys and Control Listing (Check-List) were carried out to identify the main indicators that characterize the problem. The results revealed that the plain under study has the ability to meet the demands for food, energy and real estate space, through by shrimp farming, salt industry, fishing, livestock, agriculture, onshore oil activity and population growth; however, these pressures have impacts, being the more significant the loss of biodiversity and changes in the natural composition of the soil. To mitigate this damage and ensure sustainability, the main responses were inspection based on environmental standards and the implementation of environmental sanitation. KEYWORDS: Wetlands; Hypersaline environments; Negative estuary; Economic potential; Land use and land cover. LISTA DE FIGURAS Figura 1: Distribuição global dos solos acometidos por sais ................................................ 15 Figura 2: Mapa de localização da planície flúvio-marinha do rio Apodi-Mossoró ................ 18 Figura 3: Gráfico de precipitações e temperatura de Mossoró / RN ..................................... 19 Figura 4: Gráfico ombrotérmico de para o município de Mossoró ....................................... 22 Figura 5: Resultados mensais e totais de precipitações, temperaturas e evapotranspiração potencial (1981 a 2010) ....................................................................................................... 23 Figura 6: Tipos de vegetação encontradas na planície flúvio-marinha do rio Apodi- Mossoró ............................................................................................................................... 25 Figura 7: Mapa dos pontos amostrais e dos solos da planície de inundação flúvio-marinha do Rio Apodi-Mossoró ............................................................................................................. 27 Figura 8: Coleta de solo com a utilização do trado .............................................................. 28 Figura 9: Análise granulométrica de sedimentos ................................................................. 29 Figura 10: Organização da estrutura DPSIR ........................................................................ 32 CAPÍTULO 1 - Caracterização geoquímica das áreas hipersalinas sob influência do alto curso estuarino Apodi-Mossoró Figura 1: Mapa de localização da planície flúvio-marinha do rio Apodi-Mossoró ................ 36 Figura 2: Áreas de modelados de acumulação do baixo curso do rio Apodi-Mossoró .......... 37 Figura 3: Mapa da espacialização dos pontos amostrais na zona do alto curso estuarino da planície de inundação ........................................................................................................... 38 Figura 4: Análise comparativa entre os cátions Na+, Ca2+ e Mg2+ ....................................... 40 Figura 5: Resultados granulométricos dos sedimentos ......................................................... 42 CAPÍTULO 2 - Utilização da estrutura DPSIR para monitorar e identificar as atividades humanas atuantes na planície flúvio-marinha do rio Apodi-Mossoró, semiárido brasileiro Figura 1: Mapa de localização da planície flúvio-marinha do rio Apodi-Mossoró ................ 49 Figura 2: Organização DPSIR ............................................................................................. 51 Figura 3: Diagrama aluvial DPSIR. Códigos e legendas de Estado, Impacto e Resposta encontram-se no rodapé ....................................................................................................... 53 Figura 4: Mapa de uso e cobertura da terra da planície flúvio-marinha do rio Apodi- Mossoró ............................................................................................................................... 54 Figura 5: Pressões resultantes das demandas existentes na planície de inundação flúvio- marinha do rio Apodi-Mossoró ............................................................................................ 55 Figura 6: Condições do meio ambiente (Estado) ocasionadas pelas pressões atuantes na planície de inundação flúvio-marinha do rio Apodi-Mossoró ............................................... 57 Figura 7: Principais impactos realizados pelas Atividade de petróleo Onshore na planície de flúvio-marinha do rio Apodi-Mossoró .................................................................................. 59 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Indicativos dos resultados do índice de aridez ...................................................... 20 Tabela 2: Tipos climáticos de acordo com os meses secos ................................................... 21 CAPÍTULO 1 - Caracterização geoquímica das áreas hipersalinas sob influência do alto curso estuarino Apodi-Mossoró Tabela 1: Caracterização dos pontos amostrais na planície de inundação flúvio-marinha do rio Apodi-Mossoró .................................................................................................................... 36 Tabela 2: Valores dos parâmetros da análise de solos do alto curso estuarino na bacia hidrográfica do rio Apodi-Mossoró ...................................................................................... 39 Tabela 3: Estatística descritiva dos resultados de análises de solos do alto curso estuarino na bacia hidrográfica do Rio Apodi-Mossoró ............................................................................ 40 Tabela 4: Relação de ambientes salinos com diferentes níveis de salinidade em valores médios ............................................................................................................................................ 42 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Classificação textural do solo ............................................................................. 30 Quadro 2: Classificação do solo de acordo com o PH.......................................................... 31 CAPÍTULO 2 - Utilização da estrutura DPSIR para monitorar e identificar as atividades humanas atuantes na planície flúvio-marinha do rio Apodi-Mossoró, semiárido brasileiro Quadro 1: Códigos e legendas dos indicadores aplicados na metodologia DPSIR e apresentado no diagrama aluvial .............................................................................................................. 51SUMÁRIO INTRODUÇÃO GERAL E FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .........................................................................13 CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO ................................................................................18 METODOLOGIA GERAL ..............................................................................................................................26 LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO ......................................................................................................26 AMOSTRAGEM, PREPARAÇÃO DE AMOSTRAS E ANÁLISE DE SOLOS ...........................................26 ESTRUTURA DPSIR (DEMANDA – PRESSÃO – ESTADO – IMPACTO - RESPOSTA), ELABORAÇÃO CARTOGRÁFICA E TRATAMENTO DOS DADOS .................................................................................31 CAPÍTULO 1: Caracterização geoquímica das áreas hipersalinas sob influência do alto curso estuarino Apodi- Mossoró ..........................................................................................................................................................34 1. Introdução ...............................................................................................................................................35 2. Metodologia ............................................................................................................................................35 2.1 Área de estudo ...................................................................................................................................35 2.2 Procedimentos Metodológicos ............................................................................................................36 2.3 Métodos laboratoriais .........................................................................................................................38 3. Resultados e discussão .............................................................................................................................39 4. Considerações finais ................................................................................................................................43 5. Agradecimentos .......................................................................................................................................43 6 . Referências .............................................................................................................................................43 CAPÍTULO 2: Utilização da estrutura DPSIR para monitorar e identificar as atividades humanas atuantes na planície flúvio-marinha do rio Apodi-Mossoró, semiárido brasileiro .................................................................46 Introdução ...................................................................................................................................................47 Metodologia ................................................................................................................................................48 Caracterização da área de estudo ..............................................................................................................48 Procedimentos metodológicos ..................................................................................................................49 Elaboração cartográfica ............................................................................................................................50 Estrutura DPSIR (Demanda-Pressão-Estado-Impacto-Resposta) ...............................................................50 RAWGraphs ............................................................................................................................................51 Resultados e Discussão ................................................................................................................................52 Demanda (D) ...........................................................................................................................................54 Pressões (P) .............................................................................................................................................55 Estado (S) ................................................................................................................................................56 Impacto (I) ...............................................................................................................................................58 Resposta (R) ............................................................................................................................................59 Conclusão....................................................................................................................................................60 Agradecimentos ...........................................................................................................................................60 Referências ..................................................................................................................................................61 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................................................................64 REFERÊNCIAS GERAIS ...............................................................................................................................66 13 INTRODUÇÃO GERAL E FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A literatura revela que as planícies flúvio-marinhas se constituem como ambientes de complexas interações. Por sua vez, essa relação proporciona o surgimento de vários ecossistemas adaptados à associação do rio com o mar, demonstrando relacionamento com os estuários, que são capazes de determinar os níveis de salinidade dos ambientes adjacentes. A definição mais comum de estuário indica uma região costeira em que ocorre contato, mistura e diluição da água do mar com a água proveniente do rio; os estuários geralmente são divididos em inferior, médio e superior. Quando a taxa de evaporação supera a soma da precipitação e descarga fluvial, os estuários são considerados negativos, nesse caso, a salinidade da superfície supera os valores da água do mar (36‰). Já o termo “zona estuarina”, foi incluído para indicar todos os ambientes costeiros que estão sob influência da descarga fluvial e das marés (TUNDISI; TUNDISI, 2008; MIRANDA; CASTRO; KJERFVE, 2002). As planícies flúvio-marinhas são ambientes característicos das zonas estuarinas, de maneira que, nos períodos de maiores precipitações, são afetadas pelas cheias fluviais e nas marés astronômicas são atingidas pela influência marinha de baixa força energética (GUEDES; SANTOS; CESTARO 2016). Esse processo, em conjunto com a topografia plana, permite que a água avance até a área de supramaré e proporciona processos físicos, químicos e biológicos (SUGUIO, 2003). A geomorfologia planificada também viabiliza a deposição de sedimentos diversificados em função das influências dos ambientes circunjacentes. Por isso, do ponto de vista pedogenético, as planícies flúvio-marinhas são constituídas por depósitos argiloarenosos e argilosos (PFALTZGRAFF, TORRES, 2010). Esses depósitos são formados no momento em que as águas ultrapassam os diques marginais (barreiras naturais) e, consequentemente, dão origem a zonas de decantação dos materiais em suspensão, de maneira que os sedimentos síltico-argilosos, considerados mais leves, são depositados de 1 a 2 cm por cada período de enchente (SUGUIO, 2003). Já o transporte dos sedimentos de maiores proporções é viabilizado pelas redes de drenagens dos tabuleiros circunvizinhos (GUEDES; SANTOS; CESTARO, 2016). Nas regiões áridas e semiáridas, em decorrência da elevada taxa de evaporação, o processo de sedimentação pode provocar a cristalização de gipsita, halita,hidróxido de ferro e sais alcalinos precipitados na camada superior do solo (GRIGORE; TOMA, 2017; SUGUIO, 2003), uma vez que a evapotranspiração intensa permite a deposição e concentração dos sais preexistentes na água (FANG; LIU; KEARNEY, 2005), ou seja, o processo de acumulação de 14 sais está atrelado principalmente às condições geomorfológicas e hidrogeológicas (PANKOVA et al, 2018). Essa dinâmica influencia diretamente na composição dos solos, de modo que a geoquímica em ambientes sob influência das marés segue o padrão de sequência baseado na solubilidade e precipitação diferenciada dos elementos presentes na água do mar, principalmente dominada pelos íons Na+ e Cl- e por quantidades menores de SO4 -², Mg+², Ca+², K+¹, CO3 -² e HCO3 -¹ (SILVA; SCHREIBER; SANTOS, 2000). Além disso, uma mesma unidade salina pode apresentar variações no padrão de acumulação de nutrientes em setores com características distintas (COSTA; SOUZA; SOUZA, 2018; COSTA et al. 2015), que podem variar de 50 a 300 g.L-1; a halita (NaCl), por exemplo, por ser um composto menos solúvel, tem os cristais precipitados a medida em que a saturação é de ~ 300 a 350 g.L-1 (OREN, 2009). Por consequência dessa interação, os solos salinos evoluem em etapas sequenciais: salinização, solonização e solodização. Os solos com caráter salino são caracterizados por condutividade elétrica (CE) do extrato de saturação entre 4 a 7 dS.m-1 (em 25° C) (EMBRAPA, 2013). As condições sálicas ocorrem ao passo que a CE iguala ou supera 7 dS.m- 1, já os solos salino-sódicos originam-se em razão dos valores de Porcentagem de Sódio Trocável maiores ou iguais a 15% e CE é maior ou igual a 4 dS.m- 1. Por conseguinte, os solos que possuem caráter solódico apresentam valores de saturação por sódio entre 6% e 15% (IBGE, 2007; EMBRAPA, 2017). A ação dos sais também atinge os solos através da precipitação superficial por ascensão capilar da água subterrânea rica em sais (JESUS; BORGES, 2020). Esse processo é intensificado em função do baixo desenvolvimento pedológico, como a baixa profundidade e a predominância de minerais primários (ATTIA, 2013; FREIRE, et al. 2021). Os solonchaks, por sua vez, compreendem uma denominação genérica que abrange os solos salinos e alcalinos que possuem acúmulo de sais solúveis no horizonte superior de 0-20 cm. A sua morfologia é dividida em: úmidos, com perfil de solo constantemente saturado com água; fofos, que possuem na superfície horizonte salino fofo; solonchaks de crosta e colunares (GRIGORE; TOMA, 2017). Os solos acometidos por sais (Figura 1) atingem aproximadamente cerca de 7% da superfície terrestre (FLOWERS, 1997), sendo que 60% desses solos são considerados salinos, 26% sódicos e 14% salinos-sódicos (WHICKE, et al. 2011). No total, são 954,8 milhões de hectares de solos afetados por sais distribuídos pelos continentes (PESSARAKLI; SZABOLCS, 2011). As áreas mais afetadas pela salinidade localizam-se em países com pouco desenvolvimento, como Bangladesh, Índia e Paquistão (PANTA, 2014). 15 Figura 1: Distribuição global dos solos acometidos por sais Fonte: Pessaraki e Szabolcs (2011) Os solos salinos apresentam limitações de desenvolvimento para grande parte de culturas, em decorrência da elevada concentração de sais solúveis (PEREIRA, 1982; LI et al. 2015); as limitações também afetam a capacidade de filtrar e amortecer possíveis poluições, de forma que compromete o suporte para atividades antrópicas (VARGAS, 2018). Devido a essa complexidade, ao longo dos anos, os ambientes afetados por sais vêm sendo tema de pesquisa em vários países, principalmente na Austrália, Bulgária, França, Grécia, Índia, Itália, Israel, México, Porto Rico, Eslovênia e Espanha (OREN, 2009). Apesar das condições específicas e críticas, as planícies flúvio-marinhas com características hipersalinas, apresentam diferentes tipos de ecossistemas adaptados à salinidade elevada e fornecem suporte para diversos tipos de atividades antrópicas. Dentre os tipos de coberturas naturais da terra, existem os manguezais, os salgados e os apicuns, estes últimos caracterizados como ambientes hipersalinos com vegetações escassas ou inexistentes (BRASIL, 2012). A vegetação desses ambientes é subordinada às condições combinadas entre os fluxos das marés e as condições do solo. Sendo assim, apresentam um padrão de vegetação irregular, constituído majoritariamente por suculentas herbáceas (ALBUQUERQUE, 2014b). Assim, os manguezais ocorrem nas áreas próximas aos estuários e, são ambientes fitogeográficos que possuem valor ecossistêmico e econômico para as populações locais (GUEDES; SANTOS; CESTARO, 2016; COSTA; ROCHA; CESTARO, 2014; COSTA; SOUZA; SOUZA, 2021; BRASIL, 2012). 16 Os salgados e apicuns são ambientes hipersalinos semelhantes, podendo ser denominados de forma mais abrangente por "salt flats", "tidal flats" ou "supratidal flats", e ocorrem nos interiores dos manguezais ou nas suas adjacências; além disso, o aspecto característico desses ambientes é a coloração neutra acinzentada do solo, causada pela falta de minerais de ferro (Fe), em virtude da ação bacteriana (ALBUQUERQUE, 2014a). Embora seja fundamental para conservação dos recursos naturais, os apicuns são áreas fortemente ameaçadas pelas ações antrópicas (ALBUQUERQUE, 2014b). Ainda assim, seu uso é permitido por atividades de carcinicultura e salicultura (BRASIL, 2012). Além disso, os problemas com a salinização não se limitam apenas a agricultura; de acordo com Vargas (2018), o acúmulo de sais pode causar danos à infraestrutura (estradas, construções urbanas e outros) por meio da corrosão em construções de asfalto, concreto e tijolos. Nos países em desenvolvimento, existem amplas possibilidades de basear o crescimento econômico no potencial de uso do solo. Portanto, é fundamental conhecer suas aptidões para atividades antrópicas, como exploração agropecuária e florestal, preservação de áreas, construção e expansão urbana, implantação de indústrias e rodovias, considerando a relação harmônica com o meio ambiente, ou seja, o levantamento pedológico fornece respaldo para o uso adequado, sem comprometer o equilíbrio do meio natural (IBGE, 2007). Alguns exemplos mostram que os ambientes compostos por solos salinos passam por ocupações e usos diferenciados em diversos países. No Brasil, são diversos os ambientes que sofrem influência do mar, principalmente na região Nordeste, que possui 9,40% (91.110 km2) de sua área afetada por sais e sódio (PEREIRA, 1982). Nas planícies costeiras do leste Asiático, por exemplo, há regiões hipersalinas com diferentes tipos de desenvolvimentos. Na extensão da costa chinesa, mais precisamente entre as províncias de Jiangsu e Liaoning, existem problemas de ocupação nas terras com solo silte de alta salinidade; destarte, em sua maior área não há uso da terra (LI et al. 2015). Em contrapartida, apesar do elevado teor de salinidade dos solos, a região no delta do Rio Amarelo, que é o segundo maior rio da China, enfrenta amplo desenvolvimento e, por essa razão, é considerado o delta mais ocupado por atividades antropogênicas no país, principalmente pelo desenvolvimento agrícola, pastagens e construções urbanas (FANG; LIU; KEARNEY, 2005). A região Árabe, localizada entre as latitudes 24ºN e 30ºN, onde estão a maioria dos desertos, é exemplo de adaptação às condições críticas de salinidade. Os países áridos do Golfo Arábico do Kuwait, Arábia Saudita Arábia, Bahrein, Catar e Emirados Árabes Unidos (EAU), possuem condições de hipersalinidade, com evapotranspiração líquida superior aos fluxos de água doce, de forma que a salinidade do estuário é superior a 40 ppm. Apesar do cenário 17 adverso, o Golfo Pérsico apresenta rápido desenvolvimento industrial e crescimento populacional (SMITH; PURNAMA; AL-BARWANI, 2007). A planície flúvio-marinha do rioApodi-Mossoró, localizada na área setentrional do estado do Rio Grande do Norte, também apresenta condições de hipersalinidade e influencia diretamente na formação do solo local, através da concentração de evaporitos oriundos da precipitação de sedimentos de origem química e, suas condições específicas promovem contribuições para o desenvolvimento da região (COSTA et al. 2014a), possuindo teor econômico desde o período colonial onde eram ocupadas pelas salinas solares; na época, o sal já era utilizado para o consumo humano e animal (COSTA et al. 2013). A produção do sal nessa região é possível por um conjunto de fatores que envolvem a baixa topografia, possibilitando que a água do mar adentre até 35 km do litoral, as condições climáticas de baixa precipitação pluviométrica, a temperatura que oscila entre 24° a 35°C durante o ano e as elevadas evaporações (ROCHA, 2005; COSTA et al. 2021). Medeiros et al. (2014) destacam que, além das salinas solares, na região hipersalina há potencialidades para o desenvolvimento das atividades petrolíferas e carcinicultura. Mendes, Fontes e Oliveira (2008), acrescentam que na área da planície flúvio-marinha do Rio Apodi-Mossoró ocorrem os solos das classes Gleissolo Sálico (GZ) e Vertissolo Hidromórfico (VH). Estes fatores evidenciam a relevância de averiguar os tipos de atividades compatíveis com solos salinos em região semiárida, com base na sua potencialidade para atividades econômicas fundamentais para a subsistência e desenvolvimento local. Portanto, a presente pesquisa pretende investigar quais atividades podem ser desenvolvidas em solos salinos costeiros no semiárido, a partir da hipótese de que existem limitações para o desenvolvimento de determinadas atividades econômicas nos solos da planície flúvio-marinha do rio Apodi-Mossoró (RN), em função das suas características pedogeoquímicas. O objetivo geral é avaliar as condições pedogeoquímicas para o desenvolvimento de atividades econômicas na planície flúvio-marinha do rio Apodi-Mossoró (RN). Para atender a esse objetivo, foi necessário subdividi-lo nos seguintes objetivos específicos: realizar uma revisão bibliográfica sobre análises de solo e as características intrínsecas da área de estudo; coletar e analisar as características destes solos; realizar uma revisão bibliográfica sobre ocupações de atividades humanas em solos hipersalinos e, por fim identificar e realizar um diagnóstico das ocupações econômicas que se desenvolvem no local. 18 CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO O recorte espacial da pesquisa corresponde à planície de inundação flúvio-marinha do rio Apodi-Mossoró, com extensão territorial de aproximadamente 368 km² (COSTA; SOUZA; SOUZA, 2021) e que se estende pelos municípios de Mossoró, Areia Branca e Grossos, localizados na área setentrional do Estado do Rio Grande do Norte (Figura 2). Figura 2: Mapa de localização da planície flúvio-marinha do rio Apodi-Mossoró Fonte: Acervo dos autores (2022) Clima Os fatores climáticos, de modo geral, apresentam-se como componentes fundamentais para a caracterização de um lugar, tendo em vista que são elementos capazes de provocar modificações nas paisagens em escalas espaciais e temporais (PILLAR, 1995; MENDONÇA, 2007). Este é o caso do clima seco que atua na maior parte do NEB (Região Nordeste do Brasil), apontado por Ab’Sáber (2003) como o principal aspecto para a hegemonia da semiaridez da região. O mesoclima, por sua vez, revela-se como uma variante local resultante da relação entre vegetação, solo, hidrografia e ações antrópicas (PILLAR, 1995). A identificação dos aspectos geoclimáticos, juntamente com caracterização mesoclimática atuantes na planície em estudo, é fundamental para compreender a dinâmica 19 geoquímica do solo e, assim, definir a potencialidade local no que se refere ao desenvolvimento de atividades humanas de subsistência. Portanto, a caracterização climática local foi baseada na comparação de índices de aridez e, a partir disso, identificaram-se os aspectos geoclimáticos que atuam na planície flúvio-marinha do rio Apodi-Mossoró. Quanto aos sistemas atmosféricos que potencializam ou inibem as chuvas nessa área, destacam-se a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e as alternâncias nos ventos alísios pela considerável influência nos índices pluviométricos sobre o setor norte do NEB (ALVES, et al. 2017; LACERDA, et al. 2020; MELO, 2000). Os movimentos subsidentes das células de circulação Walker e Hadley, por sua vez, causam a diminuição da umidade relativa em função do aquecimento, impedindo a ascendência da convecção para altitudes de saturação (REBOITA, et al. 2016). Além disso, a latitude é um parâmetro fundamental para análise do clima de determinado local, pois representa a quantidade de energia solar que atinge a superfície (MENDONÇA, 2007); a área de estudo localiza-se nas coordenadas 05°11'16,8” de latitude sul e 37°20'38,4” de longitude oeste. A latitude de 05° é considerada baixa e próxima a linha do Equador, de forma que “a posição em baixa latitude expõe a região à intensa radiação solar, que exaure as reservas de água superficiais, ameaçando o equilíbrio da biosfera” (CONTI, 2005, p.13), principalmente, durante os equinócios de outono e de primavera. A precipitação média local é 835mm ao ano com temperaturas que giram em torno de 28 °C (Figura 3). Figura 3: Gráfico de precipitações e temperatura de Mossoró / RN Fonte: Elaboração dos autores com dados oriundos do Portal Inmet (2022) 20 As etapas metodológicas para compreender as condições climáticas da área, consistiram primeiramente no levantamento bibliográfico de materiais sobre condições climáticas atuantes no Nordeste do Brasil. A etapa seguinte compreendeu-se na obtenção de dados secundários para aplicação de índices e, consequentemente, obtenção dos resultados, as informações foram adquiridas no Instituto Nacional de Meteorologia – Inmet (https://portal.inmet.gov.br/), por meio das Normais Climatológicas do Brasil, no período de 1981 a 2010. Os dados de temperatura média compensada, precipitação acumulada e evapotranspiração potencial são oriundos da estação climatológica regional instalada em Mossoró-RN. Para identificar a classe climática local e a susceptibilidade à desertificação, foram aplicados dois índices diferentes de aridez; o de Thornthwaite (1948), que avalia as condicionantes anuais (Equação 1), e o índice xerotérmico de Bagnouls e Gaussen (1953), que trabalha com as médias mensais (Equação 2). O Índice de Aridez (IA) de Thornthwaite (1948) foi estabelecido pela ONU, em 1992, através do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). O mesmo se expressa pelo quociente da divisão entre precipitação média anual dividida pela evapotranspiração potencial (CONTI, 2008) (Tabela 1). 𝐼𝐴 = 𝑃 𝐸𝑇𝑃 Equação (1): Onde: ● P é a Precipitação anual ● ETP é a Evapotranspiração Potencial anual Tabela 1: Indicativos dos resultados do índice de aridez Valor do IA Classes climáticas Susceptibilidade à desertificação < 0,05 Hiperárido 0,05 < 0,20 Árido Muito Alta 0,21 < 0,50 Semiárido Alta 0,51 < 0,65 Subúmido Moderada > 0,65 Ausência de aridez Não susceptível Fonte: Adaptado de Thornthwaite (1948) Logo após, foi aplicado o Índice de Aridez também conhecido como índice do mês seco (IMS) estabelecido por Bagnouls e Gaussen (1953), no qual o mês é considerado seco quando a precipitação é menor ou igual ao dobro da temperatura; com isso o tipo climático varia de acordo com a quantidade de meses secos durante o ano (Tabela 2). 21 IMS = P ≤ 2xT Equação (2) Onde: ● P é a precipitação mensal ● T é a temperatura média mensal Tabela 2: Tipos climáticos de acordo com os meses secos Quantidade de meses secos Tipo climático 12 Deserto 9 – 11 Subdesértico7 – 8 Seco acentuado 5 – 6 Seco médio 3 – 4 Seco tênue 1 – 2 Clima transicional 0 Úmido Fonte: Adaptado de Bagnouls e Gaussen (1953) A identificação e descrição dos aspectos geoclimáticos se deu a partir de duas etapas: a análise documental das referências escolhidas que tem relação direta com o objeto de estudo, e a visita a campo a fim de analisar a paisagem local em comparação com o levantamento bibliográfico. Índice de Aridez Para se avaliar a susceptibilidade à desertificação são verificadas as condições climáticas do ambiente, sobretudo, a influência pluviométrica, uma vez que estas são responsáveis pela formação incipiente ou amplificação do processo (SILVA, 2019). Reforçado por essa ideia, na aplicação do IA, utilizou-se a média histórica de 1980 até 2010 para a precipitação anual e Evapotranspiração Potencial anual. Com a precipitação média de 835,4 mm e a evapotranspiração potencial de 2.394 mm o resultado da equação é de 0,35. Dessa forma, o clima foi considerado semiárido com alta susceptibilidade climática à desertificação conforme a Tabela 1. Ademais, alerta-se que o clima semiárido compreende um complexo sistema que é viabilizado pela relação entre vários elementos, e sua estabilidade também é ameaçada pelas ações antrópicas, sobretudo o desmatamento intenso, que aumenta a degradação em ambientes já fragilizados pela seca (LEMOS; SOUZA; DINIZ, 2020). Portanto, para evitar e mitigar o processo de desertificação nesses ambientes, é necessário reduzir a degradação das terras por meio do manejo adequado do solo, a fim de evitar a escassez dos recursos naturais (SAMPAIO, et al. 2020). 22 Índice do mês seco (IMS) De acordo com o IMS, os meses de janeiro a maio foram considerados chuvosos, pois a precipitação superou o dobro da temperatura (Figura 2). Por sua vez, os meses de junho a dezembro apresentaram característica de seca em função da baixa precipitação no segundo semestre do ano; estes meses são considerados biologicamente secos, ou seja, desfavoráveis à vegetação. Dessa maneira, o clima apresenta-se com estação chuvosa bem definida, no qual o período chuvoso representa 42% do total de meses e o período de seca atinge a maior parte do ano, com 58% do total mensal. Ainda com os resultados obtidos, foi gerado o Gráfico Ombrotérmico (Figura 4), capaz de representar a variação climática a partir das temperaturas e precipitações médias. Com isso, infere-se que a quadra chuvosa da região acontece majoritariamente nos cinco primeiros meses do ano, somando 719 mm; os sete meses restantes somam apenas 116 mm com destaque para os meses de Agosto a Novembro quando praticamente não há precipitações. Figura 4: Gráfico Ombrotérmico de para o município de Mossoró Fonte: Elaboração dos autores com dados oriundos do Portal Inmet (2022) Esses valores corroboram com os índices das estações chuvosas da região semiárida nordestina, que apresentam um curto período de 5 meses de chuva, situação essa que resulta na alta vulnerabilidade hídrica regional (SOUZA; NOGUEIRA; NOGUEIRA, 2017). O pico da quadra chuvosa ocorre no mês de março atingindo 221 mm, considerado bastante chuvoso; 23 desse ponto em diante a tendência é uma redução exponencial até o mês de dezembro, mês em que as chuvas voltam a cair na região. Evapotranspiração, temperatura e radiação solar A evapotranspiração configura-se como o conjunto de dois fenômenos; a evaporação que significa a transformação da água da superfície em vapor e a transpiração que representa a evaporação ocasionada pela ação fisiológica da vegetação. Já a evapotranspiração potencial (ETP) é o resultado máximo da evapotranspiração se o solo dispusesse da quantidade de água suficiente, ou seja, se a água não fosse um fator limitante (RODRIGUES, 2017; CAMARGO; CAMARGO, 2000). De acordo com os resultados descritos na Figura 5, nos meses com baixa precipitação e temperaturas mais elevadas, a ETP apresenta elevações; a tendência é que a partir do mês de junho, quando as chuvas começam a ficar escassas, a ETP aumente continuamente até dezembro. Essa situação compactua com a ideia de Camargo e Camargo (2000), que denotam a ETP como um processo oposto à precipitação e atrelado à energia solar, que representa o retorno forçado da água para a atmosfera. Figura 5: Resultados mensais e totais de precipitações, temperaturas e evapotranspiração potencial (1981 a 2010) Chuva e ETP em mm-1; Temperatura em °C. Fonte: Elaboração dos autores com dados oriundos do Portal Inmet (2022) J F M A M J J A S O N D Chuva 96 99 221 202 101 53 37 7 2 2 2 14 Temp. 29 28 28 27 27 27 27 28 28 29 29 29 ETP 234 199 206 179 176 162 173 186 202 224 218 235 0 50 100 150 200 250 Chuva Temp. ETP 24 Os dados ainda demonstram, nos resultados totais, que a ETP (2.394 mm) é superior a Precipitação (835 mm); segundo Conti (2008), os ambientes com grave déficit hídrico, o qual representa o dinamismo associado a longos períodos de seca, estão susceptíveis a desertificação. A temperatura média total é de 27,9 °C, com máximas de 29°C durante os meses de outubro a janeiro. Em suma, os índices de aridez aplicados são fundamentais para compreensão da dinâmica existente entre as influências climáticas e os aspectos geoclimáticos, uma vez que identificou-se o nível de aridez local e os aspectos que acabam contribuindo para a seca. No primeiro semestre do ano há abundância de precipitações, enquanto que, em contrapartida, na segunda metade do ano os índices pluviométricos reduzem de forma considerável. Esse fator, atrelado às temperaturas elevadas, influencia diretamente na semiaridez do ambiente. Por esse motivo, podem apresentar variações climáticas e, consequentemente, a formação de um mesoclima com características específicas. Vegetação, solo e hidrografia A cobertura vegetal local possui estrutura florística endêmica, de formações arbustivas e herbáceas, perfeitamente adaptada ao clima semiárido, caracterizada como vegetação caatinga “savânica” (Figura 6B), com a predominância de plantas espinhosas deciduais caducifólias (IBGE, 2012). Nos locais próximos aos estuários, onde o nível de salinidade é crítico, existe a predominância da vegetação halófita dos manguezais (Figura 6C), distribuída em quatro espécies Avicennia schaueriana, Laguncularia racemosa, Rhizophora mangle e Avicennia germinans; registra-se a presença dos campos salinos de salgados (Figura 6A) e apicuns (Figura 6D) em áreas ensolaradas que apresentam solo arenoso e vegetação escassa (GUEDES; SANTOS; CESTARO, 2016; COSTA; ROCHA; CESTARO, 2014; COSTA; SOUZA; SOUZA, 2021; BRASIL, 2012). Segundo Pillar (1995, p. 5), a “vegetação densa influencia o perfil da inversão térmica porque a superfície ativa de irradiação passa a ser o topo do dossel”, tornando assim, a temperatura do solo mais amena; esta situação difere do que ocorre na área da planície em estudo, onde o estrato arbóreo espaçado, perda de folhas das plantas caducifólias no período de seca e a presença dos campos salinos, tornam o solo como o principal local da irradiação solar, favorecendo as altas temperaturas na superfície. 25 Figura 6: Tipos de vegetação encontradas na planície flúvio-marinha do Rio Apodi-Mossoró A: Campo de salgado; B: Vegetação Caatinga; C: Bosque de mangue; D: Campo de apicum Fonte: Acervo dos autores (2022) Os solos encontrados na planície são pouco desenvolvidos e apresentam drenagem com baixa densidade (GUEDES; SANTOS; CESTARO, 2016), ou seja, possuem baixa capacidade de retenção, favorecendo o escoamento das águas pluviais e não apresentando boas condições para o armazenamento hídrico. Além disso, são submetidos à influência eólica por meio da movimentação das partículas mais finas, uma vez que a área está próxima ao litoral e no segundo semestre do ano quase nãohá vegetação em sua cobertura (MENDES; FONTES; OLIVEIRA, 2008). As precipitações escassas e irregulares associadas às altas taxas de evaporação também influem sobre o sistema hídrico do rio Apodi-Mossoró, que é caracterizado como intermitente e sazonal, com escoamento apenas na estação chuvosa (SOUZA; SILVA; DIAS, 2012), apresentando pouca influência na condição climática local em período de estiagem. Porém, na estação seca, o canal de baixo curso é ocupado pela água do mar durante as marés de sizígias, que, por sua vez, se espalha pelas áreas mais baixas da planície em função do aplainamento e cota topográfica da planície de no máximo 2 metros em relação ao nível do estuário (COSTA et al. 2014b). 26 METODOLOGIA GERAL Nesta seção são descritas as etapas de levantamento bibliográfico, procedimentos para realização das análises de solos e procedimentos para identificar e diagnosticar as atividades humanas que ocupam os solos da planície. LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO Inicialmente, foi realizado um levantamento bibliográfico referente às questões que envolvem a área de pesquisa, usando como base os materiais disponibilizados pela EMBRAPA (2013; 2017), o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos e o Manual e Métodos de Análise de Solo; também foi utilizado material bibliográfico referente à dinâmica ambiental das planícies flúvio-marinha e regiões estuarinas (COSTA, 2010; COSTA et al., 2014a; COSTA et al., 2013; GUEDES; SANTOS; CESTARO, 2016; MIRANDA; CASTRO; KJERFVE, 2002, dentre outras referências). A partir dessa fase obteve-se de forma clara a definição e conceituação das unidades e processos adotados. AMOSTRAGEM, PREPARAÇÃO DE AMOSTRAS E ANÁLISE DE SOLOS Para entender as potencialidades do solo, antes se fez necessário conhecê-lo de forma intrínseca, através dos parâmetros e de suas características físico-químicas. Os levantamentos pedológicos contribuem para o acervo de conhecimentos especializados na área de Ciência do Solo, bem como fornecem dados de aproveitamento imediato, sobretudo no que se relaciona à previsão de comportamento de uso dos solos em relação às práticas de manejo e conservação. Tais informações são essenciais para a avaliação do potencial ou das limitações de uma área, constituindo uma base de dados para estudos de viabilidade técnica e econômica de projetos e planejamento de uso, manejo e conservação de solos (IBGE, 2007). A etapa seguinte consistiu na coleta de amostras de solo (Figura 7), com profundidade superficial. Em seguida, as amostras, foram armazenadas em sacos plásticos limpos e devidamente vedados e etiquetados com as informações obtidas in loco. Realizou-se a amostragem na área da planície, extraindo aproximadamente 2 kg de material; para obtenção das amostras utilizou-se um trado com diâmetro perfurante de 15 cm (Figura 8). Nos locais onde o solo apresentava saturação, as coletas foram auxiliadas com uma pá de jardinagem. Após a coleta, foi verificada a temperatura do solo in situ com um geotermômetro digital, registrando a data e horário em que foram coletadas. 27 Figura 7: Mapa dos pontos amostrais e dos solos da planície de inundação flúvio-marinha do Rio Apodi-Mossoró Fonte: Acervo dos autores Logo após as coletas, as amostras de solo foram quarteadas e divididas em quantidades menores, em torno de 1 kg para serem enviadas para o laboratório de análise, com a finalidade de identificar os parâmetros macronutrientes (Ca2+, Mg2+, Na+, K+ e P), conteúdo da matéria orgânica, granulometria de sedimentos, capacidade de troca de cátions (CTC) condutividade elétrica (CE) e potencial hidrogeniônico (pH). 28 Figura 8: Coletas de solo com a utilização do trado Fonte: Acervo do autor Os parâmetros para compreender a geoquímica do solo foram baseados no Manual de Métodos de Análise de Solo (EMBRAPA, 2017), e analisados pelo laboratório como se descreve a seguir: ● Macronutrientes Os resultados de Ca e Mg foram realizados pelo método de titulação por meio da solução, o fósforo (P) foi identificado utilizando o fotocolorímetro observando a densidade ótica do extrato da solução. O potássio (K+) e sódio (Na2+), por sua vez, foram verificados no fotômetro de chama, pela leitura na escada do aparelho. ● Conteúdo de matéria orgânica Para o conteúdo de matéria orgânica do solo, foram analisados os parâmetros de Carbono e Nitrogênio total. Esses parâmetros irão indicar o nível de interferência provenientes dos rios e do mar. A análise da MO consistiu na pesagem, peneiramento, trituração e aquecimento da Terra fina seca ao ar (TFSA); o teor foi determinado por meio titulação com sulfato ferroso amoniacal 0,05M (viragem do azul para o verde). ● Granulometria de sedimentos A análise granulométrica (Figura 9) é o resultado da quantificação da distribuição por tamanho das partículas do solo; as partículas, por sua vez, são grãos de minerais, fragmentos de rochas ou matéria orgânica. Após secar as frações, as etapas operacionais consistem na separação das partículas do solo através da combinação de energia mecânica e química. 29 Figura 9: Análise granulométrica de sedimentos A: Preparação da solução inicial para analisar a granulometria dos sedimentos. B: Agitação da solução no agitador de Wagner TE-160/24. C: Separação da areia grossa com a utilização de peneira de malha 0,2 mm (nº 70) D: Coleta das partículas em suspensão com pipeta de 50 mL acoplada com pipetador automático de borracha. Fonte: Acervo dos autores Para isso, utilizou-se o método da pipeta, que consiste na preparação de soluções contendo o solo amostrado (TFSA), hexametafosfato de sódio e água destilada (Figura 9A). As soluções foram devidamente agitadas a 50 rpm (Figura 9B), peneiradas para separação da areia (Figura 9C) e depositadas em uma proveta de 100 mL (para identificar silte e argila). Em seguida, foram novamente agitadas para sedimentação das frações seguindo a Lei de Stokes; após a sedimentação foram coletados 50 mL do material em suspensão (5 cm da proveta) com pipeta volumétrica (Figura 9D); após a coleta, os elementos em suspensão foram depositados em Becker e armazenados na estufa até evaporar completamente para, enfim, pesar as frações. Essa análise indica o parâmetro textural do solo, que podem ter as seguintes classes (Quadro 1): 30 Quadro 1: Classificação textural do solo CLASSE TEXTURAL Muito argilosa Argila Argila Siltosa Argila Arenosa Franco argilosa Franco Argilo Siltosa Franco Argilo Arenosa Franca Franco siltosa Silte Franco Arenosa Areia Franca Areia FONTE: EMBRAPA (2017) O tipo de textura indica as características granulométricas de cada solo; a depender do parâmetro, revelará a capacidade de drenagem do mesmo. ● Capacidade de troca de cátions (CTC) A capacidade de troca catiônica representa a capacidade do solo em reter os cátions, como o Cálcio (Ca2+), Magnésio (Mg2+) e Alumínio (Al3+) por adsorção. Esses cátions são mantidos através de frações granulométricas carregadas negativamente e partículas de matéria orgânica no solo por meio de forças eletrostáticas (partículas negativas do solo atraem os cátions positivos). Dessa forma, a CTC de um solo representa a quantidade total de cátions trocáveis que o solo pode adsorver, ou seja, indica a capacidade do solo em fornecer nutrientes. Os cátions trocáveis (Al3+, Ca2+ e Mg2+) são determinados utilizando-se uma solução extratora. Esses cátions adsorvidos são então analisados por métodos volumétricos, de emissão ou absorção atômica. ● Condutividade Elétrica (CE) A condutividade elétrica é a estimativa da salinidade de um solo; a mesma é verificada pela medição de cátions e ânions no extrato aquoso dos sais solúveis existentes em um solo. ● pH O pH de um solo configura-sena concentração de íons H+ que pode influenciar na disponibilidade de nutrientes. A medição do potencial hidrogeniônico é realizada por meio de eletrodo combinado imerso em suspensão de solo:líquido (água, KCl ou CaCl2), na proporção 1:2,5. Esse parâmetro refere-se ao estado de acidez ou alcalinidade dos solos que poderão ser classificadas em (Quadro 2): 31 Quadro 2: Classificação do solo de acordo com o pH Classes pH (solo/água 1:2,5) Extremamente ácido < 4,3 Fortemente ácido 4,3 - 5,3 Moderadamente ácido 5,4 - 6,5 Praticamente neutro 6,6 - 7,3 Moderadamente alcalino 7,4 - 8,3 Fortemente alcalino > 8,3 FONTE: EMBRAPA (2017) ESTRUTURA DPSIR (DEMANDA – PRESSÃO – ESTADO – IMPACTO - RESPOSTA), ELABORAÇÃO CARTOGRÁFICA E TRATAMENTO DOS DADOS Para realizar o último objetivo da pesquisa, ou seja, identificar e realizar um diagnóstico das ocupações econômicas que se desenvolvem nos solos da planície, utilizou-se o método DPSIR (Demanda-Pressão-Estado-Impacto-Resposta) (EEA, 1999) em função da sua abordagem, que pode ser utilizada para diversos ecossistemas, terrestres e aquáticos, ou seja, adapta-se às mais diferentes condições do ambiente, e assim, torna-se fundamental para identificar e tratar problemas complexos (GARI; NEWTON; ICELY, 2015). Basicamente, o modelo envolve cinco categorias: Demandas humanas, Pressões, Estado do meio ambiente, Impactos nos ecossistemas e Respostas (Figura 10). De acordo com sua terminologia, as demandas (D) ou forças motrizes geram pressão (P) sobre o ambiente, e consequentemente, produzem modificações no Estado (S) natural. Essa alteração, por sua vez, gera impactos (I) degradantes das funções ambientais e da sociedade, requerendo assim uma resposta (R), que geralmente são os esforços institucionais voltados à mitigação dessas alterações, realimentando as etapas antecedentes (EEA, 2003). Apesar da sua ampla versatilidade, a estrutura tem sido alvo de críticas, advertindo que o mundo real apresenta mais complexidades do que é apresentado no modelo, sendo necessárias informações claras e bem definidas; além disso, as avaliações e respostas podem apresentar diferenças entre cada aplicação (GARI; NEWTON; ICELY, 2015). 32 Figura 10: Organização da estrutura DPSIR Fonte: Traduzido de EEA (1999) No entanto, de acordo com a EEA (1999), a estrutura DPSIR reflete uma análise das relações sistêmicas entre ações antrópicas e ambientais. Sua origem sucedeu no final da década de 90 e desde então é voltado principalmente à análise de problemas ambientais em várias escalas, pretendendo contribuir com o desenvolvimento sustentável (CARR et al., 2009). Dessa maneira, as variáveis e indicadores utilizados no modelo DPSIR foram elencados por meio da metodologia Listagem de Controle (Check-List) realizada em campo, na qual foram catalogadas as principais demandas, pressões, condições do estado do ambiente, seus respectivos impactos, e as respostas para mitigar a degradação ambiental. As informações foram comparadas com a literatura específica da temática (GESTEIRA; PAIVA, 2003; FIGUEIRÊDO et al., 2006; MAXIM; SPANGENBERG; O'CONNOR, 2009; LANDIM NETO et al., 2013; JERONIMO; OLIVEIRA, 2014; GARI; NEWTON; ICELY, 2015; FREITAS; SIQUEIRA FILHO, 2018; SILVA; CAMACHO, 2018). A elaboração do mapa de uso e cobertura da terra, consistiu na utilização da imagem de satélite obtida no catálogo INPE, oriunda do CBERS 04A., órbita/ponto 196/119, sensor WPM (câmera multiespectral e pancromática de ampla varredura) com cobertura máxima de nuvem em 10%, registrada no dia 16/07/2022. Para processamento da imagem, utilizou-se o software livre Qgis versão 3.4, sendo realizada a composição das bandas multiespectrais e fusão com a PAN para aprimorar a resolução espacial de 8m para 2m. A etapa seguinte, consistiu na classificação supervisionada dos elementos que ocupam a área de estudo, utilizando o 33 complemento “dzetska: Classification tool”; após a classificação, realizou-se a transformação do raster em shapefile. Para compilação dos dados foi utilizada a plataforma RAWGraphs v. 2.0 - https://app.rawgraphs.io/ (MAURI et al., 2017), um aplicativo de código livre que tem a finalidade de apresentar abordagens gráficas de um conjunto de dados. Nessa pesquisa, a ferramenta conseguiu organizar de forma visual as variáveis e indicadores resultantes da metodologia DPSIR; para isso, utilizou-se o diagrama aluvial pela sua capacidade de realizar representações gráfica da relação entre categorias e fluxos proporcionais aos seus valores. https://app.rawgraphs.io/ 34 CAPÍTULO 1: Caracterização geoquímica das áreas hipersalinas sob influência do alto curso estuarino Apodi-Mossoró Geochemical characterization in the hypersaline areas under the influence of the upper Apodi-Mossoró estuarine course Carlos Daniel Silva e Souza; Raquel Franco de Souza; Diógenes Félix da Silva Costa ESTE ARTIGO FOI SUBMETIDO AO PERIÓDICO REVISTA DE GEOCIÊNCIAS DO NORDESTE E, PORTANTO ESTÁ FORMATADO DE ACORDO COM AS RECOMENDAÇÕES DESTA REVISTA (acessar https://periodicos.ufrn.br/revistadoregne) Resumo: As planícies flúvio-marinhas são ambientes de estrita relação com os fatores continentais e oceânicos, uma vez que estão localizadas em zonas costeiras e formam solos de alta salinidade. Na área setentrional do Rio Grande do Norte (RN), em razão das condições geomorfológicas e climáticas, estas planícies são caracterizadas como ambientes hipersalinos. A planície de inundação flúvio-marinha do rio Apodi-Mossoró localiza-se na zona estuarina, possuindo áreas aplainadas e solos impermeáveis que favorecem o represamento das águas fluviais e marinhas. Nessa pesquisa, foram investigadas as condições geoquímicas do solo no alto curso estuarino localizado no semiárido brasileiro; para isso, foram coletadas amostras de solo com profundidades diferenciadas em ambientes hipersalinos distintos. As análises laboratoriais indicaram um solo com grandes concentrações de Na+, Ca2+ e Mg2+, apresentando classificação sódica, caráter sálico e condição moderadamente alcalina; essas características são reflexos da influência do clima semiárido e evaporação progressiva da água do mar na área de supramaré, favorecendo a precipitação de sais no alto curso estuarino. A granulometria dos sedimentos, por sua vez, indicou predominância de partículas mais finas como silte e argila na composição textural do solo. Palavras-chave: Áreas úmidas; Salinidade; Ambiente Estuarino. Abstract: The fluvial-marine plains are environments closely related to continental and oceanic factors, since they are located in coastal zones and form high salinity soils. In the northern area of Rio Grande do Norte (RN), due to the geomorphological and climatic conditions, these plains are characterized as hypersaline environments. The fluvial-marine floodplain of the Apodi- Mossoró River is located in the estuarine zone, with flattened areas and impermeable soils that favor the damming of river and marine waters. In this research, the geochemical conditions of the soil were investigated in the upper estuarine course located in the Brazilian semiarid region; for this, soil samples were collected with different depths in different hypersaline environments. The laboratory analyzes indicated a soil with high concentrations of Na+, Ca2+ and Mg2+, presenting sodic classification, salic character and moderately alkaline condition; these characteristics reflect the influence of the semiarid climate and progressive evaporation of sea water in the supratidal area, favoring the precipitation of salts in the upper estuarine course. The granulometry of the sediments, in turn, indicated the predominance of finer particles suchas silt and clay in the textural composition of the soil. Keywords: Wet areas; Salinity; estuarine environment. https://periodicos.ufrn.br/revistadoregne 35 1. Introdução A condição hipersalina, de modo geral, é o resultado da relação entre aspectos geomorfológicos e climáticos (FANG; LIU; KEARNEY, 2005; PANKOVA et al, 2018) que atuam, sobretudo, nas zonas tropicais do globo onde, as taxas de evapotranspiração potencial superam as precipitações pluviométricas (COSTA, 2014a; RIDD; STIEGLITZ, 2002; FREIRE, et al. 2021; PEDROTTI, et al. 2015) e, consequentemente, influenciam nas condições físico-químicas dos solos. Assim, a hipersalinização ocorre quando a salinidade supera 50 g/L-1 (KJERFVE et al., 1996) e ocasiona a precipitação dos primeiros sais na superfície (COSTA et al. 2015; OREN, 2009). Essa característica específica, pode afetar diversos tipos de ambientes, como: planícies de inundação flúvio-marinhas (COSTA, 2014a; ALBUQUERQUE 2014a; ALBUQUERQUE 2014b), lagoas (GORDON, 1999; KJERFVE et al. 1996) pântanos/marismas (SHEN, et al. 2018; BORNMAN; ADAMS, 2009; GANJU, et al. 2017), desertos (HERRERO; WINDORF; CASTANEDA, 2015), planícies marinhas com formações evaporíticas (BROWN, 2021; MEES; SINGER, 2006 LAST, 1989) e, em alguns casos, se formam através do represamento de corpos d’água de influência marinha (PINHEIRO; MORAIS, 2010). Nas planícies flúvio-marinhas hipersalinas, a deposição de sedimentos sofre influência direta dos estuários negativos (MIRANDA; CASTRO; KJERFVE, 2002), local de contato, mistura e diluição da água do mar com a água proveniente do rio (TUNDISI; TUNDISI, 2008), esse processo em conjunto com a topografia plana e drenagem deficiente (JESUS; BORGES, 2020), permite que a água das marés astronômicas com baixa força energética avance até área de supramaré e proporcione processos físicos, químicos e biológicos (GUEDES; SANTOS; CESTARO, 2016; SUGUIO, 2003). Logo, a geoquímica em sistemas sob influência marinha, segue o padrão de sequência baseado na solubilidade e precipitação diferenciada dos elementos presentes na água do mar, dominada pelos íons Na+ e Cl- e quantidades menores de SO4 -², Mg+², Ca+², K+¹, CO3 -² e HCO3 -¹ (SILVA; SCHREIBER; SANTOS, 2000). Nas regiões áridas e semiáridas podem suceder a cristalização de minerais de gipsita, halita, hidróxido de ferro e sais alcalinos precipitados na camada superior do solo (FANG; LIU; KEARNEY, 2005; GRIGORE; TOMA, 2017), condição essa que interfere diretamente no desenvolvimento de vegetação (JESUS; BORGES, 2020; UCHOA; HADLICH; CELINO, 2008). Tendo em vista a crescente ocupação nos ambientes hipersalinos, é fundamental obter informações para melhor entender a dinâmica desses ecossistemas (HERRERO; WINDORF; CASTANEDA, 2015), especialmente por meio de uma abordagem pedológica. A caracterização e classificação dos solos presentes nesses sistemas é substancial para respaldar a questão da conservação e sustentabilidade em áreas ameaçadas (ALBUQUERQUE, 2014a). Devido a essa problemática, os ambientes afetados por sais vêm sendo tema de pesquisa em vários países, principalmente na Austrália, Bulgária, França, Grécia, Índia, Itália, Israel, México, Porto Rico, Eslovênia e Espanha (OREN, 2009). No Brasil, as planícies flúvio-marinhas hipersalinas situam-se principalmente no estado do Rio Grande do Norte, entre as zonas estuarinas do rio Apodi-Mossoró, Piranhas-Açu e Galinhos-Guamaré, que possuem potencial econômico desde o período colonial, quando já se utilizava o sal cristalizado para o consumo humano e animal (COSTA et al. 2013), atualmente as salinas solares presentes na região produzem cerca de 95% de todo sal consumido no país (ROCHA, 2005). Na planície de inundação do rio Apodi-Mossoró, a área é ocupada principalmente pela atividade salineira e carcinicultura (COSTA et al. 2013), porém, apesar do desenvolvimento significativo total da planície, o alto curso estuarino caracteriza-se como a zona menos antropizada. A partir da hipótese que os modelados geomorfológicos de acumulação do alto curso estuarino apresentam solos com características distintas, a presente pesquisa pretende verificar e caracterizar a condição geoquímica dos solos existentes nesses ambientes. 2. Metodologia 2.1 Área de estudo A área de estudo a ser pesquisada se configura na zona costeira do litoral setentrional do Estado do Rio Grande do Norte, entre os municípios de Mossoró, Areia Branca e Grossos (Figura 1). O recorte espacial da pesquisa corresponde ao no alto curso estuarino da planície de inundação do rio Apodi-Mossoró. No segundo semestre do ano, o fluxo de água doce do rio diminui consideravelmente, favorecendo a permanência da água salgada na região estuarina, o que favorece a hipersalinização do estuário (COSTA; ROCHA; CESTARO, 2014). A hipersalinização influencia diretamente na pedogênese local, através da concentração de evaporitos oriundos da precipitação de sedimentos; além disso, suas condições específicas contribuem para o desenvolvimento da região (COSTA et al. 2014a). 36 Figura 1 – Mapa de localização da planície de inundação do rio Apodi-Mossoró Fonte: Acervo dos autores (2022) Com essas condições, a cobertura vegetal local possui estrutura florística endêmica, de formações arbustivas e herbáceas, perfeitamente adaptada ao clima semiárido, caracterizada como vegetação caatinga “savânica”, com a predominância de plantas espinhosas deciduais caducifólias (IBGE, 2012). Nos locais próximos aos estuários, onde o nível de salinidade é crítico, existe a predominância da vegetação halófita dos manguezais distribuídas em quatro espécies, Avicennia schaueriana, Laguncularia racemosa, Rhizophora mangle e Avicennia germinans; os campos salinos de salgados e apicuns correspondem a áreas ensolaradas que apresentam solo arenoso e vegetação escassa (GUEDES; SANTOS; CESTARO, 2016; COSTA; ROCHA; CESTARO, 2014; COSTA; SOUZA; SOUZA, 2021; BRASIL, 2012). 2.2 Procedimentos Metodológicos A coleta de solo envolveu três conjuntos amostrais com pontos espacializados em áreas úmidas hipersalinas distintas e ambientadas na zona do alto curso estuarino da grande planície de inundação flúvio-marinha do rio Apodi-Mossoró (Tabela 1): a planície fluvial (Apf); a planície flúvio-lagunar (Apflg); e a planície flúvio-marinha (Apfm); a terminologia está de acordo com os modelados geomorfológicos de acumulação (Figura 2) propostos por Silva e Costa (2022) para a área de estudo. Os pontos e suas respectivas profundidades foram organizados da seguinte forma (Figura 3): na Apf os pontos P-234 (05-15cm), P-235 (20-30cm) P-236 (10-20cm), P-237 (10- 20cm) e P-238 (20-30cm); na Apflg, P-239 (05-15cm), P-240 (05-15cm) e P-241 (05-15cm); e na Apfm, P-317 (0-15cm), P-318 (0-15cm), P-319 (0-15cm) e P-320 (0-15cm). Tabela 1 – Caracterização dos pontos amostrais na planície de inundação flúvio-marinha do rio Apodi-Mossoró Amostra Coordenadas UTM Elevação Modelados de acumulação Vegetação Caracterização do ambiente P-234 694925E 9427686N 3m Planície fluvial Herbácea halófita Campo Salino; margem do rio do Carmo (efluente do rio Apodi- Mossoró) com presença de Algaroba (Prosopis Juliflora) e Carnaúba (Copernicia Prunifera); terraço circundado por Caatinga. 37 P-235 P-236 695211E 9428213N 4m Planície fluvial Herbácea halófita Campo Salino próximo à margem do rio do Carmo com predominância de Algaroba (Prosopis Juliflora). P-237 P-238 696052E 9429896N 0m Planície fluvial Ausência Terraço desértico com poucas halófitas em terrenos mais elevados na zona de inundação. P-239 696849E 9434776N 4m Planície flúvio- lagunar Ausência Trecho com muita dinâmica eólica com silte e argila no período de seca; Ausência de vegetação herbácea e halófitas. Solo sujeito à deflação. P-240 695832E 9435931N1m Planície flúvio- lagunar Ausência Conexão do rio Apodi-Mossoró com rio do Carmo, frente a salina; área inundada sem herbáceas. P-241 695444E 9435197N 0m Planície flúvio- lagunar Ausência Zona de planície hipersalina inundada frequentemente pela maré. P-317 690575E 9431481N 3m Planície flúvio- marinha Herbácea halófita Campo salino com pouca vegetação herbácea e incidência de vegetação arbustiva nas proximidades; local próximo a tanques de carnicicultura. P-318 690412E 9431434N 3m Planície flúvio- marinha Mangue Gamboa com pequeno bosque de mangue (Avicennia germinans); local próximo a tanques de carnicicultura. P-319 694600E 9440462N 2m Planície flúvio- marinha Mangue Ambiente localizado entre o estuário e salinas solares, coberto predominantemente pelo mangue. P-320 690363E 9461098N 0m Planície flúvio- marinha Ausência Campo salino apresentando saturação no solo e ausência de vegetação, nos arredores foram verificadas vegetação herbácea e arbustiva. Fonte: Acervo dos autores (2022) Figura 2 – Áreas de modelados de acumulação do baixo curso do rio Apodi-Mossoró Fonte: Silva e Costa (2021) 38 As coletas consistiram na extração de aproximadamente 2 kg de solo, com um trado helicoidal. Nos locais onde o solo apresentava saturação, utilizou-se uma pá de jardinagem. Após as coletas, as amostras de solo foram quarteadas em quantidades menores, em torno de 1 kg, para serem enviadas para o laboratório de análise (LASAP- UFERSA) para identificar os parâmetros macronutrientes (Ca2+, Mg2+, Na+, K+ e P), acidez potencial, determinar granulometria de sedimentos, conteúdo da matéria orgânica (MO), capacidade de troca de cátions (CTC), soma e saturação por bases, saturação por alumínio trocável, condutividade elétrica (CE), porcentagem de sódio trocável (PST) e o potencial hidrogeniônico (pH). Figura 3 – Mapa da espacialização dos pontos amostrais na zona do alto curso estuarino da planície de inundação flúvio-marinha do Rio Apodi-Mossoró. As fotos à direita do mapa encontram-se na Planície Flúvio- Marinha (Apfm). A: Ambiente com vegetação herbácea halófita (verde claro no centro da foto); B: Manguezal (à direita); C: campo salino/apicum (sem ou com pouca vegetação); D: Estuário (seta indica o avanço da maré). Fonte: Acervo dos autores (2022) 2.3 Métodos laboratoriais No laboratório, as amostras foram identificadas e armazenadas na estufa a 60°C para secagem; em seguida o solo foi destorroado, peneirado e dividido em porções menores para análises químicas e físicas. Os procedimentos laboratoriais foram baseados no Manual de Métodos de Análise de Solo da Embrapa (2017). As análises físicas identificaram a granulometria dos sedimentos por meio da quantificação de areia, silte e argila, para isso, utilizou-se o método da pipeta, que consiste na preparação de soluções contendo o solo amostrado (TFSA- Terra fina seca ao ar), hexametafosfato de sódio e água destilada. As soluções foram devidamente agitadas (50 rpm), peneiradas para separação da areia e depositadas em uma proveta de 100 mL para identificar silte e argila. Em seguida, foram novamente agitadas e sedimentadas seguindo a Lei de Stokes, após a mistura foram coletados 50 mL do material em suspensão (5 cm da proveta) com pipeta volumétrica, que foram depositados em Beckers e armazenados na estufa até evaporar completamente para posterior pesagem das frações. Nas análises químicas, foram verificados os resultados de pH, macronutrientes, CTC, CE e MO. A leitura do pH foi realizada diretamente pelo aparelho, por meio da TFSA homogeneizada em água destilada. A análise dos macronutrientes realizou-se a partir da separação de 10 cm3 de TFSA em erlenmeyer de 125 ml com adição de 100 39 ml da solução exigida, agitados por 5 min em 180 rpm e decantados posteriormente por 24 horas. Os resultados de Ca2+ e Mg2+ foram obtidos pelo método de titulação por meio da solução EDTA 0,0125M (sal dissódico). O P foi identificado utilizando o fotocolorímetro observando a densidade ótica do extrato da solução. O potássio (K+) e sódio (Na+), por sua vez, foram dosados no fotômetro de chama, pela leitura na escala do aparelho. A análise da MO consistiu na pesagem, peneiramento, trituração e aquecimento da TFSA, o teor foi determinado por meio titulação com sulfato ferroso amoniacal 0,05M (viragem do azul para o verde). Os valores da CTC foram determinados pela soma dos cátions Ca2+, Mg2+, K+ e Al3+. Para a CE realizou-se estimativa da salinidade do solo, por meio da medição de cátions e ânions no extrato aquoso dos sais solúveis. 3. Resultados e discussão Na exposição dos resultados por pontos individuais e parâmetros descritos na Tabela 2, as amostras não expressaram resultados para o Al3+, m e H+Al, exceto o P-237, que apresentou 1,32 no parâmetro H+Al. Quanto aos valores do pH, foram caracterizados majoritariamente como moderadamente alcalino (>7,4 a 8,3) (EMBRAPA, 2017), à exceção do P-240 (7,30), localizado na Apflg e o P-237 (6,90) da Apfm, apontados como neutro. A CE e o PST, por sua vez, são parâmetros fundamentais para identificar a classificação do solo e o seu nível de salinidade; assim, ao observar a relação desses parâmetros percebe-se que as amostras da Apf e Apfm seguem uma tendência de superioridade do PST em comparação à CE; porém, a Apflg demonstrou predomínio da CE nos pontos P-239 (PST: 17; CE 49,9) com baixo teor de Na+ e P-241 (PST: 80; CE: 104). Entretanto, a Apflg apresentou os maiores índices de CE, influenciada pela elevada quantidade de Na+; apesar de estar sob influência do canal principal do rio e do efluente, a água doce eventual não impacta na redução da salinidade, pois a inundação pode diluir e transportar os sais existentes em outras regiões (BORNMAN; ADAMS, 2010; RIDD; STIEGLITZ, 2002). Costa et al. (2014b), ao caracterizarem a geoquímica ao longo do estuário do rio Apodi-Mossoró, observaram valores mais elevados da CE (Média: 111,16 dS/m) nas proximidades do curso principal, sendo o alto curso estuarino a zona com maior concentração, muito em função da influência marinha (ALBUQUERQUE et al. 2014a). Por outro lado, a amostra mais próxima ao canal principal do rio na Apfm obteve a maior concentração de MO (P-319: 42,19 g/kg) possivelmente pela quantidade de biomassa dos mangues, já a menor concentração foi identificada na Apf, o P-234 (4,10 g/kg), campo salino com 3m de elevação. Tabela 2 – Valores dos parâmetros da análise de solos do alto curso estuarino na bacia hidrográfica do rio Apodi- Mossoró Amostra pH CE MO P K+ Na+ Ca2+ Mg2+ Al3+ H+ Al SB t CTC V m PST Água dS/m g/kg cmolc/dm3 % Planície fluvial (Apf); n = 5 P-234 (05-15 cm) 7,50 18,20 4,10 0,32 1,38 73,48 15,60 9,90 0,0 0,0 100,39 100,39 100,40 100 0 73 P-235 (20-30 cm) 7,70 12,00 6,14 0,25 1,23 70,39 16,50 7,40 0,0 0,0 95,54 95,54 95,54 100 0 74 P-236 (10-20 cm) 7,80 11,60 4,51 0,32 1,20 46,50 12,50 8,60 0,0 0,0 68,83 68,83 68,83 100 0 68 P-237 (10-20 cm) 8,00 11,40 5,33 0,18 2,17 59,33 14,20 16,20 0,0 0,0 91,92 91,92 91,92 100 0 65 P-238 (20-30 cm) 8,10 12,50 7,78 0,21 2,24 54,47 17,70 14,10 0,0 0,0 88,53 88,53 88,53 100 0 62 Planície flúvio-lagunar (Apfl); n = 3 P-239 (05-15 cm) 7,60 49,9 4,51 0,23 3,74 13,33 7,20 53,4 0,0 0,0 77,69 77,69 77,69 100 0 17 P-240 (05-15 cm) 7,30 45,7 14,4 6 0,30 8,74 234,90 10,20 42,2 0,0 0,0 296,27 296,27 296,3 100 0 79 P-241 (05-15 cm) 7,40 104 15,2 6 0,20 7,21 239,44 8,40 44,8 0,0 0,0 299,95 299,95 300,0 100 0 80 Planície flúvio-marinha (Apfm); n = 4 P-317 (0-15cm) 6,90 14,06 7,30 0,42 0,85 28,56 11,10 11,64 0,0 1,3 2 52,16 52,16 53,48 98 0 53 P-318 (0-15cm) 8,10 3,76 17,0 4 0,58 1,56 10,08 4,70 6,94 0,0 0,0 23,29 23,29 23,29 100 0 43 P-319 (0-15cm) 7,80 24,00 42,1 9 0,10 3,92 80,48 8,10 14,73 0,0 0,0 107,27 107,27 107,27 100 0
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