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Psicanálise: Jung e a Sombra

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CURSO DE FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE CLÍNICA
MÓDULO 14 – JUNG AINDA FALA 
Palmas – TO
2023
JUNG AINDA FALA
Jung nasceu na Suíça em 1875 e formou em psiquiatria, o que o permitiu a aproximação de Freud, na busca por respostas no comportamento de seus pacientes. Por ter sido um dos discípulos do psicanalista Sigmund Freud (1856-1939), contou com o mestre para expandir seus estudos sobre a natureza simbólica do inconsciente. Ao fundar a psicologia analítica, ajudou a popularizar seus conceitos de inconsciente coletivo (memórias comuns a toda a humanidade), da sombra (o lado desconhecido de cada ser humano), entre outros. Ele propôs e desenvolveu os conceitos de: arquétipo; inconsciente coletivo; sincronicidade; personalidade extrovertida e introvertida. Além de vários outros conceitos importantíssimos para o entendimento da psique humana. O trabalho de Jung influenciou vários campos além da psicologia, como a antropologia, filosofia e teologia.
Desenvolvendo sua teoria dos arquétipos e do inconsciente coletivo, Jung continua a se aprofundar ainda mais nos antigos símbolos e mitos da humanidade. Para Jung, o inconsciente não era apenas uma “câmara escura” cheia de desejos sexuais reprimidos, mas algo mais complexo. Complementando Freud, ele propõe o conceito de inconsciente coletivo, uma camada mais profunda do inconsciente compartilhada por toda a humanidade.
É no inconsciente coletivo que estão contidos os instintos e os arquétipos, ou seja, as imagens primárias da humanidade, que nos influenciam e, em última análise, moldam a nossa personalidade. Jung disse que é neste local que fica armazenado todo o conteúdo ancestral da humanidade e que é através dele que herdamos muitas estruturas ancestrais.
O conceito junguiano de sombra, surgiu por volta de 1946, quando Jung emprega o termo para denotar uma realidade psicológica que é relativamente fácil de captar num nível imagístico, mas mais difícil de compreender nos níveis prático e teórico. 
A sombra é um dos conceitos mais importantes desenvolvidos por Carl Gustav Jung dentro da psicologia analítica ou psicologia junguiana, uma das especializações do conhecimento psicológico que aprofunda a psicanálise, criada por Sigmund Freud. Este aspecto do ego humano é essencial para alcançar o aprimoramento da personalidade integral de uma pessoa, ou seja, sua individualização. Isso não ocorre sem a inclusão da sombra no mar da sua consciência, o ser não cresce, não completa esse trabalho, o desenvolvimento de si mesmo.
Segundo Jung, a natureza sombria foi legada à humanidade nos estágios mais primitivos da existência, durante a jornada evolutiva percorrida pelo ser humano. Outro aspecto importante da sombra é que ela é um arquétipo, por isso aparece como imagem arquetípica em mitos e contos de fadas.
Em termos básicos, parte do “inconsciente individual” humano é chamada de “sombra”. Pode ser entendido como um “lugar virtual” que conecta suas “propriedades reprimidas” ao longo da vida. Em geral, pode-se dizer que é justamente aí que residem os seus defeitos. Tem esse nome porque se esconde atrás de um corpo que recebe luz. Normalmente não se pode conhecer a própria sombra. É preciso muito trabalho para estar consciente. Trabalhar com sombras é uma tarefa para toda a vida.
Se uma pessoa tem como objetivo que tudo o que a afeta ou comove seja apenas ela, ela já está em uma boa posição no caminho para encontrar sua sombra. Ele vai a uma exposição de pintura e só um quadro o toca, o toca, o emociona. Quando você lê certos livros, alguns livros tocam você mais do que outros. Se ele se lembrar de que as imagens simbólicas que o atingiram não atingiram ninguém dessa maneira, e começar a compreender o quanto de sua psique está envolvida nesse processo, então ele terá um ponto de partida concreto para lidar com a sombra. 
Assim é possível compreender que um dos fatores psíquicos inconscientes que o ego não consegue controlar é a sombra. Na verdade, o ego geralmente nem sabe que está lançando uma sombra. A sombra é um tema familiar na mitologia, para dizer o mínimo; mas porque representa sobretudo a inconsciência pessoal, e pode, portanto, atingir a consciência sem dificuldade em seu conteúdo, além de ser perceptível e visualizado, distingue-se, portanto, do animus e da anima, que estão muito distantes da consciência: portanto, dificilmente, se for o caso, detecte em condições normais. Com um pouco de autocrítica não é difícil perceber a própria sombra, pois ela é essencialmente pessoal. Mas sempre que o tratamos como um arquétipo, deparamo-nos com as mesmas dificuldades que com o animus e a anima.
Entende-se que o principal problema da opressão sombria é a capacidade de projetar essa influência sobre os outros. Quando um indivíduo esconde nos recônditos de sua psique tudo o que é rejeitado pelas normas sociais e por ele mesmo, isso é definido como antimoral, do reino da força bruta, ou seja, o monstro escondido dentro de cada pessoa, o inconsciente povoado pelo seu espiritual. criações ali suprimida, e sem a purificação constante de seu conteúdo espiritual, é impossível que uma pessoa seja livre, pois o fato de ela não fazer parte da consciência não significa que a sombra deixe de influenciar as atitudes das pessoas.
O ser humano só tem acesso a sua natureza sombria quando tem a intrepidez necessária para mergulhar em si mesmo e empreender a imprescindível jornada de autoconhecimento, processo que pode ser facilitado pela terapia, mas que assim mesmo cabe a cada um realizar.
Jung afirma que ‘a projeção é um dos fenômenos psíquicos mais comuns. Tudo o que é inconsciente em nós mesmos descobrimos no vizinho’. Na verdade, a projeção é um fato que ocorre de modo involuntário, sem nenhuma interferência da mente consciente: um conteúdo inconsciente pertencente a um sujeito (indivíduo ou grupo) aparece como se pertencesse a um objeto (outro indivíduo ou grupo ou o que quer que seja, desde seres vivos até sistemas de idéias, a natureza ou a matéria inorgânica). A projeção não é a patologia de uma personalidade perturbada, mas um fato natural, por meio do qual tudo o que é desconhecido na psique pode se manifestar; a questão é o grau de abertura e a habilidade da atitude consciente para ‘pescar’ esses conteúdos inconscientes na ‘área limítrofe’ da qual se aproximaram.
No documentário “O Efeito Sombra” de Debbie Ford, que explica os efeitos positivos da integração da sombra, deixando claro que todos nós temos uma sombra, um lado desprovido de luz. Todos lutamos com nosso lado sombrio à nossa maneira peculiar e única. A título de uma definição superficial, poderíamos dizer que a face sombria de nossa personalidade é a face que normalmente desejamos esconder do mundo. Nós a mantemos distante da luz e frequentemente procuramos negar-lhe até a existência, o que afinal torna a luta bem mais árdua. É comum julgarmos nossa face sombria de maneira bastante áspera, por não condizer com o indivíduo que queremos exibir para o mundo. Isso pode nos levar a fingir ser algo que não somos ou a negar a forma como nossa história passada realmente se deu.
Nosso lado sombrio consiste, por vezes, em defeitos de caráter que ocultamos de modo a nos sentir seguros. Tais defeitos são normalmente partes de nós mesmos sobre as quais percebemos não exercer nenhum controle real. Em primeiro lugar, nunca gostei de empregar a palavra defeito, por soar de forma imutável e conclusiva demais, porém depois senti que ela na verdade significa imperfeições.
A escuridão não é sinônimo de maldade ou negatividade. Ela por vezes representa esses conceitos, porém nossa face sombria, ou sombra, não é necessariamente “má” ou “negativa”. A maldade pode originar-se e alimentar-se dos medos humanos, assim como o medo à dor e ao castigo, ou o medo à escuridão. O medo ao castigo mantém boa parte das nossas imperfeições hermeticamente trancadas na escuridão, onde nem nós mesmos queremos tomar conhecimento delas por acreditar que, nesse caso, deveríamos nos punir por sua causa. Uma alma dividida entre a escuridãoe a luz se mantém fraca: ao contrário, a alma unificada é forte, equilibrada e destemida. Para deixar de punir a nós mesmos, para integrar e sobrepujar as partes de nós mesmos que estamos ocultando, devemos olhar para a escuridão acendendo a luz. A luz da verdade permite-nos olhar para nosso lado obscuro e aceitá-lo enquanto parte de nossa totalidade. Da mesma forma como um espelhinho pode refletir a luz como um farol, se nossa alma estiver iluminada com a luz da verdade, iluminaremos a escuridão com o nosso reflexo próprio e brilharemos como uma fulgurante luz da verdade para o resto do mundo.
Para nos mantermos equilibrados e verdadeiramente em paz interior, devemos praticar a honestidade para conosco mesmos, descobrir nossa essência e aceitá-la. Devemos arrancar quaisquer máscaras que estejamos usando e pedir aos anjos que nos conduzam a uma maneira honesta de ser. (não podemos trabalhar nossas imperfeições, se não formos capazes de aceita-las primeiro
Há mais de um significado para o conceito de “sombra” na personalidade, mas antes de esmiuçá-los é importante avisar: todas as pessoas o têm, o que as difere é a maneira com que lidam com ele. Jung nos mostra que ter ou não ter um lado sombra não é uma escolha, pois ele faz parte de todos nós, se desenvolve a partir das experiências acumuladas ao longo da vida e pode tomar contornos bastante negativos, caso optemos por ignorá-lo. 
Assim, podemos definir a sombra como aquele lado da personalidade que acolhe instintos que insistimos em controlar, como a raiva, o ódio e a inveja, entre outros. Logo, o que rejeitamos em nós mesmos pode vir à tona em algum momento, em forma de pensamentos, emoções e impulsos que podem dolorosos, vergonhosos ou tóxicos demais para aceitar. Ressentimento, ciúme, mágoa ou inveja, só para citar alguns exemplos, de repente explodem na forma de atitudes nocivas, conflitos, agressões verbais e até violência física. É fundamental combater o sentimento de culpa por perceber nosso lado sombrio, uma vez que ele também faz parte de nosso ser. Sendo importante controlar e equilibrar para não fugir do que, culturalmente ou socialmente, é considerado ‘normal’ e ético para nossa vivência, sem trazer prejuízos para os outros e para nós mesmos. Se deixarmos a sombra nos dominar e determinar nossos atos, podemos ceder espaço para manifestações neuróticas ou psicóticas, alimentando uma essência maléfica.
Assim, podemos entender que Jung fomentou a psicologia analítica, por meio de estudos de termos essenciais para entender a psique coletiva e dos arquétipos, explorando a importância da psique individual e sua busca pela totalidade, o que embasou os estudos contemporâneos da psicanálise e psicologia. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Carl Gustav Jung foi um dos precursores da visão do homem por inteiro que hoje é tão usada na medicina alternativa, nas práticas holísticas e inclusive na psicologia. Além disso, ele incluía na sua visão de homem, as características sociais, culturais e universais.
A psicologia analítica, que foi desenvolvida por Jung traz o conceito do termo “’sombra”, que retrata tudo o que é proibido, reprimido ou desconhecido do indivíduo e reprimido em seu subconsciente. A sombra é algo oculto na vida inconsciente e, por ser assustadora, permanece separada da personalidade. É importante não reconhecer quando esse lado negro se desenvolve, mas sim o que está quebrado em nossa personalidade e por quê. O inexplicável pode aparecer como um comportamento estranho, um sintoma que não pode ser compreendido apenas pelas formas racionais de conhecimento porque contém aspectos inconscientes de nós mesmos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREUD A. O ego e os mecanismos de defesa (1936). 7. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; 1983.
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FREUDE, S. (1905). Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade. Editora Imago.
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GAY, P. (1991). Freud: A Life for Our Time. W. W. Norton & Company.
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SALLIN, Edson. O encontro com a sombra, o arquétipo de Carl Gustav Jung. Disponível em: https://sinapsys.news/o-encontro-com-a-sombra-o-arquetipo-de-car-gustav-jung/
STEVENS, A. (1998). Jung: A Very Short Introduction. Oxford University Press.
ZIMERMAN, David E. Fundamentos psicanalíticos [recurso eletrônico]: teoria, técnica e clínica: uma abordagem didática / David E. Zimerman – Dados eletrônicos. – Porto Alegre: Artmed, 2007.
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