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Hemorragias da Segunda Metade da Gestação 1 Hemorragias da Segunda Metade da Gestação PREVALÊNCIA 5 REVISÃO Descolamento Prematuro de Placenta Consiste na separação da placenta antes da expulsão do feto em gestação superior a 20 semanas completas. É causa de hipoperfusão fetal, com risco iminente de sofrimento fetal agudo, prematuridade e, até mesmo, óbito fetal. Para a gestante, os maiores riscos estão associados à hemorragia e ao choque hipovolêmico ou, ainda, ao quadro e CIVD, que pode se instalar devido ao consumo de fatores de coagulação pelo hematoma retroplacentário. Quando ocorre em IG 20 semanas, é considerado abortamento. O quadro clínico consiste em dor abdominal e/ou nas costas, contrações uterinas, hipertonia, presença de sofrimento fetal, CIVD e sangramento vaginal leve a moderado. Dentre os fatores de risco, podemos citar que antecedente de DPP eleva o risco de recorrência. Além disso, há associação com as doenças hipertensivas e causas mecânicas súbitas, como trauma abdominal, acidentes automobilísticos, cordão curto e retração uterina intensa. Tabagismo, uso de drogas, condições que causam sobredistensão uterina, idade materna avançada e procedimentos invasivos também são fatores de risco. O diagnóstico é clínico, mas em casos assintomáticos, o diagnóstico é confirmado intraparto ou em anatomopatológico de placenta. Os sintomas clássicos são sangramento vaginal escurecido, associado a dor abdominal súbita e intensa, dor à palpação do útero e contrações uterinas, cursando com taquissistolia ou hipertonia. O volume do sangramento exteriorizado pode não refletir a gravidade do descolamento e a exata perda sanguínea, pois coágulos volumosos podem ficar retidos no espaço retroplacentário. Em casos de sangramento oculto, pode haver aumento progressivo da altura uterina. Hemorragias da Segunda Metade da Gestação 2 Bradicardia ou taquicardia fetal persistente sinaliza SFA, além de padrão sinusoidal ou desacelerações tardias DIP II. Quadros mais graves podem cursar com hipotensão, estado pré-choque ou choque hipovolêmico e sinais indiretos de CIVD (como petéquias, equimoses e hematomas). Na USG, podemos ver: Visualização do coágulo retroplacentário. Descolamento periférico da placenta. Aumento da espessura placentária em 5 a 6cm associado com alteração da ecogenicidade. Elevações da placa coriônica. Imagens compatíveis com coágulos no estômago fetal. A classificação de Sher, com base nos achados clínicos e laboratoriais, determina 3 graus do DPP Grau I assintomático ou sangramento genital discreto, sem comprometimento fetal. O diagnóstico é realizado no pós-parto devido à presença de coágulo retroplacentário. Grau II sangramento genital moderado, com hipertonia uterina. Aumento da frequência cardíaca e hipotensão materna, assim como queda nos níveis de fibrinogênio. O feto está vivo, mas com vitalidade fetal prejudicada. Grau III óbito fetal, hipotensão arterial materna e hipertonia uterina. Grau III A com coagulopatia. Grau III B sem coagulopatia. No que diz respeito à conduta, em primeiro lugar é importante saber se o feto está vivo ou morto. A gestante precisa ser internada e monitorizada. Aos menores sinais de hipotensão e choque, instituir dois acessos venosos calibrosos com infusão de 1000mL de solução cristaloide, com velocidade de infusão de 500mL nos primeiros 10 minutos e manutenção com 250mL/h. Exames laboratoriais iniciais: hemograma, coagulograma, função renal, gasometrial arterial e tipagem sanguínea. Sinais de gravidade e instalação de coagulopatia incluem: Hemorragias da Segunda Metade da Gestação 3 Plaquetas 100.000. Fibrinogênio 100mg/dL. Produto degradação fibrinogênio-fibrina 100. D-dímero 100ng/dL tem correlação com a gravidade da hemorragia, presença de CIVD e necessidade de transfusão de hemoderivados. Se o parto vaginal for iminente, a mãe estiver hemodinamicamente estável e o feto não apresentar sofrimento, deve-se realizar parto vaginal com amniotomia para reduzir a hemorragia materna e a passagem de tromboplastia para a corrente da mãe. As complicações incluem: choque hipovolêmico, CIVD, útero de Couvelaire (a intensidade da hemorragia oculta ocasiona infiltração do sangue no miométrio, prejudicando a sua contratilidade), atonia uterina, injúria renal aguda, síndrome de Sheehan (necrose hipofisária por hipofluxo), óbito materno, óbito fetal e prematuridade. Placenta Prévia 💡 Ocasionada pela implantação do trofoblasto em direção ao colo uterino, principalmente devido à presença de cicatriz uterina prévia. É a presença de tecido placentário que se estende até o OI do colo uterino após as 28 semanas IG. Placenta prévia: recobre totalmente o ou parcialmente o OI. Placenta de inserção baixa (marginal): se insere no segmento inferior do útero, não atingindo o OI do colo e se localiza num raio de 2cm de distância do OI. O diagnóstico é clínico, mas a USG TV é o exame padrão-ouro. Se suspeita antes de 28 semanas IG, repetir a USG com 32 semanas (a placenta migra até as 28s). A USG deve ser realizada antes do toque vaginal a fim de evitar sangramento. Hemorragias da Segunda Metade da Gestação 4 Quando realizado o toque, o sinal clássico é a sensação de massa esponjosa. Se associada ao doppler, pode ser utilizada para o diagnóstico de acretismo placentário (aderência da placenta ao miométrio). Placenta acreta: adere ao miométrio. Placenta increta: invade o miométrio. Placenta percreta: ultrapassa o miométrio. As manifestações clínicas dependem do local em que a placenta está inserida. Assintomática: pequena parte dos casos, normalmente diagnosticada em USG entre 16 e 20 semanas, não sendo diagnóstico definitivo. Sangramento: normalmente indolor, vermelho vivo, geralmente a partir de 36 semanas. O sangramento na placenta prévia é progressivo, repetitivo, espontâneo, vermelho vivo, indolor e com ausência de hipertonia ou SFA (mnemônico PREVIA. Achados ultrassonográficos preditivos de sangramento: Borda da placenta 1cm. Espaço livre de eco entre a borda da placenta e o OI do colo uterino. Comprimento cervical menor ou igual a 3cm. Diminuição do comprimento cervical no 3º trimestre. A conduta varia de acordo com o quadro clínico e com a IG. Pré-termo 37 semanas): internação com monitorização de sangramentos, sinais vitais, reposição volêmica conforme necessário e avaliação da vitalidade fetal. Para gestações entre 28 e 34 semanas, deve ser considerada a administração de corticóide para maturação pulmonar. Caso haja sangramento intenso e descompensação hemodinâmica, em qualquer IG, é indicada a interrupção imediata da gestação (por isso a administração de corticóide). Se estabilidade hemodinâmica e sem intercorrências, a gestação deve ser continuada até a maturidade fetal 37s, via cesariana). Na placenta prévia (total), a via de parto é sempre cesariana (a placenta está bloqueando o OI. Na placenta de inserção baixa (marginal), há Hemorragias da Segunda Metade da Gestação 5 possibilidade de parto vaginal, se não houver SF e instabilidade hemodinâmica. DPP X PP DPP PP INÍCIO Súbito Insidioso HEMORRAGIA Única, com dor, oculta em 20% dos casos, escura Repetitivo, indolor, visível, vermelho vivo ORIGEM Materno-fetal Materna DOR Típica Não HIPERTONIA Típica Não SF Grave/precoce Ausente/tardio DOENÇAS HIPERTENSIVAS Típica Não ESTADO MATERNO Anemia desproporcional, discrasia Anemia proporcional, sem discrasia METROSSÍSTOLE Diminui o sangramento Aumenta o sangramento DIAGNÓSTICO Clínico, USG dispensável USG Rotura Uterina Rompimento parcial ou total do útero durante a gravidez ou TP, comunicando a cavidade uterina à cavidade abdominal. Em geral, os casos cursam com gestações em que há história de cesárea prévia ou outra abordagem que cursou com cicatriz uterina. Complicação obstétrica grave devido à alta morbimortalidade materno-fetal. É considerada parcial ou incompleta quando preserva a serosa uterina,e quase sempre está associada à deiscência de cicatriz uterina. Geralmente é assintomática, mas pode tornar-se completa durante o parto. A rotura total ou completa corresponde ao rompimento da parede uterina, incluindo a sua serosa, podendo ser espontânea ou traumática (associada ao uso inadequado de ocitócitos, fórceps, manobras obstétricas intempestivas ou acidentes, como traumatismo abdominal). O principal fator de risco é a cesárea anterior. Dentre as manifestações clínicas, a bradicardia fetal, com ou sem desacelerações prévias, é a manifestação mais comum (o BCF pode tornar-se Hemorragias da Segunda Metade da Gestação 6 inaudível quando o feto atinge a cavidade abdominal). Pode haver dor abdominal intensa, incompatível com a evolução do TP, associada à instabilidade hemodinâmica (hipotensão e taquicardia), além de aumento do volume abdominal, irritação peritoneal e dor em abdome superior devido à irritação do nervo frênico. A cessação da contratilidade uterina é um achado imediato após a rotura, com sensação de alívio imediato após a dor desproporcional. O sangramento vaginal pode ser intenso, mas, em grande parte dos casos, não é exteriorizado. O óbito fetal é bastante frequente. Sinais de iminência de ruptura uterina: Sinal de Bandl: distensão das fibras musculares uterinas logo abaixo da cicatriz umbilical, formando um anel que separa o corpo uterino do segmento inferior (ˮformato de ampulhetaˮ). Sinal de Frommel: os ligamentos redondos estão desviados para a face ventral do útero e podem ser palpados. Sinais clássicos de rotura: Sinal de Reasens: subida da apresentação fetal (considerado patognomônico). Sinal de Clark: presença de crepitações à palpação abdominal, devido ao enfisema subcutâneo. Em relação à conduta, deve-se, imediatamente, prover estabilidade hemodinâmica à gestante, preparando-a para o procedimetno cirúrgico. Medidas como oxigênio complementar, acessos venosos calibrosos, expansão volêmica e monitorização devem ser urgentes e concomitantes. Deve ser encaminhada para o PC de emergência e a incisão mediana pode oferecer benefícios para a valiação da cavidade abdominal. Após a extração fetal, deve- se proceder às medidas de reparo uterino para controle do sangramento e consequente estabilidade hemodinâmica materna. Pode optar-se por correção cirúrgica do ponto de rotura ou histerectomia. Também é importante a avaliação de órgãos adjacentes, como bexiga ureteres e vagina, para a identificação e reparo de possíveis lesões associadas. Rotura de Vasa Prévia Hemorragias da Segunda Metade da Gestação 7 💡 Vasa prévia consiste na presença de vasos fetais atravessando o OI do útero ou situados a 2cm dele, sem aposição de tecido placentário, e ocupando posição anterior à apresentação fetal (entre o feto e o colo uterino). Está associada à placenta baixa e a taxa de mortalidade fetal é alta. O prognóstico é pior quando a veia umbilical é acometida, com óbito fetal quase imediato, e o prognóstico é melhor quando a artéria umbilical é envolvida, já que a circulação pode se manter pela outra artéria umbilical. Os fatores de risco incluem: Inserção velamentosa de cordão umbilical. Inserção de cordão umbilical na parte inferior do útero, visualizada em USG de primeiro trimestre. Placenta prévia ou baixa. Lóbulo de placenta excêntrica ou bilobada. Fertilização in vitro. Gestação múltipla. Em relação ao quadro clínico, ocorre sangramento vaginal vermelho vivo, indolor, que se exterioriza após a ruptura das membranas ovulares. Outro achado característico são as alterações da FC fetal (em especial a bradicardia fetal e o padrão sinusoidal). O diagnóstico pode ser feito durante o seguimento de pré-natal por meio de USG com doppler colorido. O diagnóstico antecipado é um dos principais fatores para diminuição da mortalidade fetal. No que diz respeito à conduta, temos variações de acordo com a IG. Se diagnosticado durante o pré-natal, está indicado o acompanhamento com USG a partir de 32 semanas. Alguns autores preconizam a administração de corticoide para maturação pulmonar fetal entre 28 e 32 semanas e a internação hospitalar entre 30 e 34 semanas. PC de emergência está indicado se: TP. RPMO. Hemorragias da Segunda Metade da Gestação 8 Desacelerações variáveis repetidas refratárias à tocólise. Sangramento vaginal acompanhado de taquicardia fetal ou padrão sinusoidal. Rotura de Seio Marginal 💡 O seio marginal é a região periférica do espaço interviloso e suas paredes são formadas pela placa basal e membranas, no ponto em que ambos se refletem sobre a decídua vera. A decídua vera recobre toda a cavidade uterina, com exceção da zona correspondente à implantação. O sangramento é essencialmente de origem materna e é um quadro com bom prognóstico. Não é possível ter o diagnóstico de certeza antes do parto, pois há necessidade de confirmação histopatológica. Durante a gestação, o diagnóstico é de exclusão. O quadro clínico conta com sangramento vaginal indolor, de pequena monta, vermelho vivo, sem alterações do tônus uterino ou de vitalidade fetal. Em relação à conduta, é necessária a realização da monitorização materno- fetal, além de acessos venosos e expansão volêmica, conforme condições hemodinâmicas. O repouso é de fundamental importância e geralmente é suficiente para controlar o sangramento. Em geral, o quadro evolui com estabilidade, não sendo necessárias intervenções de emergência e nem a resolução da gestação.
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