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Hemorragias da Primeira Metade da Gestação 1 Hemorragias da Primeira Metade da Gestação PREVALÊNCIA 5 REVISÃO Abortamento 💡 IG 20 semanas ou peso 500g. Abortamento precoce: até 12 semanas. Abortamento tardio: entre 12 e 20 semanas. Abortamento habitual: ocorrência consecutiva de 3 ou mais abortamentos espontâneos. Quanto à etiologia, temos: Anomalias cromossômicas: causa mais comum de abortamento no 1º trimestre. Fatores maternos: infecções agudas graves, DM, aderências intrauterinas, miomatose (a depender da localização, principalmente submucosos), malformações uterinas, desnutrição acentuada, uso de álcool e tabaco, trauma grave, cirurgias abdominais. Incompetência istmo-cervical IIC quadro clínico característico, com dilatação cervical indolor até 4 a 6cm, ausência de sangramento, protrusão das membranas ovulares na vagina e posterior rotura de membranas, seguida de expulsão fetal de feto morfologicamente normal e vivo. Exames complementares incluem: Histerossalpingografia: largura do segmento istmo-cervical na altura do orifício interno do colo superior a 8mm. Avaliação do orifício interno pelo uso de velas de Hegar: comprova a incompetência quando permite a passagem de vela de 8mm. Hemorragias da Primeira Metade da Gestação 2 O tratamento clássico é a cerclagem, que previne o encurtamento e a abertura prematura do colo uterino, por meio de sutura circular no nível do OI. A técnica mais utilizada é a cirurgia de McDonald. A sutura deve ser retirada por volta das 37 semanas ou antes, se a paciente apresentar TP, RPMO, corioamnionite ou óbito fetal. Tipos de cerclagem: Eletiva: Indicada se histórico de 1 ou mais perdas fetais no segundo trimestre da gestação, na ausência de TP OU antecedente de cerclagem por dilatação assintomática do colo uterino no segundo trimestre da gestação. Deve ser realizada antes da cervicodilatação (entre 12 e 16 semanas de gestação). Terapêutica: Indicada se histórico de parto prematuro 34 semanas E colo uterino 25mm em USTV antes de 24 semanas. Deve ser realizada antes das 24 semanas! Necessário o uso de progesterona 200mg VO à noite até às 36 semanas. Urgência: Indicada se dilatação assintomática do colo uterino e membranas ovulares protrusas através do canal cervical. Não deve ser realizada depois de 24 semanas. Necessário o uso de progesterona 200mg VO à noite até às 36 semanas. Causas imunológicas: Autoimune Síndrome do anticorpo antifosfolipíde SAAF trombofilia autoimune associada a tromboses e infartos placentários nas gestantes. Causa de abortamento de repetição. O diagnóstico é baseado em aspectos clínicos e laboratoriais, sendo necessário preencher pelo menos um de cada. Hemorragias da Primeira Metade da Gestação 3 Critérios clínicos: Trombose vascular: um ou mais episódios de trombose arterial, venosa ou de pequenos vasos, em qualquer órgão ou tecido, confirmados por Doppler ou histopatologia, que exclua vasculite. Morbidade gestacional: Uma ou mais mortes de feto morfologicamente normal com mais de 10 semanas, confirmado por US ou exame de feto. Um ou mais nascimentos prematuros de feto morfologicamente normal com 34 semanas ou menos, em virtude de eclâmpsia, pré-eclâmpsia ou causas de insuficiência placentária. 3 ou mais abortamentos espontâneos antes de 10 semanas, sem anormalidades hormonais ou anatômicas maternas, e causas cromossomiais paternas ou maternas excluídas. Critérios laboratoriais: Anticoagulante lúpico LA presente no plasma, em duas ou mais ocasiões, com intervalo mínimo de 12 semanas, detectado de acordo com as recomendações da Sociedade Internacional de Trombose e Hemostasia. Anticardiolipinas ACL IgG ou IgM em títulos moderados 40 a altos 80, em duas ou mais ocasiões, com intervalo de, no mínimo, 12 semanas, por teste ELISA padronizado. Antibeta2GPI IgG ou IgM presente no plasma, em duas ou mais ocasiões, com intervalo mínimo de 12 semanas, por teste ELISA padronizado. O tratamento para pacientes que preenchem os critérios diagnósticos consiste em AASA 100mg/d VO e heparina em doses profiláticas. Heparina não fracionada: 5.000 a 10.000UI a cada 12 SC. Heparina de baixo peso molecular: Hemorragias da Primeira Metade da Gestação 4 Enoxaparina 40mg/d ou 1mg/kg/d. Dalterapina 5.000UI/d ou 100UI/kg/d. Se histórico de trombose, AAS heparina em doses plenas. Aloimune: semelhante à rejeição de transplantes. O diagnóstico baseia-se no tipo do antígeno leucocitário humano HLA do casal, na detecção in vitro do fator bloqueador da mulher (cultura mista de linfócitos) e na atividade das células NK, Não há tratamento disponível. Toda gestante com sangramento vaginal no 1º trimestre deve ser submetida a exame abdominal, exame especular e toque vaginal. Apresentação clínica dos abortamentos: Ameaça de abortamento: a probabilidade de evolução para abortamento espontâneo é de 50%. Sangramento: discreto. Dor: ausente ou discreta. Febre: ausente. Útero: compatível com IG. OI do colo: fechado. USG embrião e BCF presentes. Cd: expectante, mesmo na presença de hematoma. Manter vigilância e reavaliar, se houver aumento do sangramento. Abortamento inevitável: Sangramento: presente e intenso. Dor: cólicas. Febre: ausente. Útero: compatível ou não com a IG. OI do colo: aberto. USG presença ou ausência de BCF. Hemorragias da Primeira Metade da Gestação 5 Cd: internação e estabilização da paciente. Se evoluir para abortamento incompleto, pode ser realizada a curetagem uterina. Abortamento incompleto: mais frequente após 10 semanas. Sangramento: variável. Dor: cólicas. Febre: ausente. Útero: menor que o esperado para a IG. OI do colo: fechado ou aberto. USG restos ovulares. Cd: esvaziamento cirúrgico do conteúdo uterino, por curetagem ou aspiração manual intrauterina AMIU. Se colo impérvio, a dilatação pode ser feita com velas de Hegar ou misoprostol. Colo pérvio 12 semanas: AMIU. Colo pérvio 12 semanas: curetagem (lembrar de avaliar a presença de ossos). Abortamento completo: comum no primeiro trimestre, antes de 12 semanas. Sangramento: discreto ou ausente. Dor: ausente. Febre: ausente. Útero: menor que o esperado para a IG. OI do colo: fechado. USG útero vazio. Cd: expectante, com seguimento e acompanhamento ambulatorial para monitorar sangramento. Abortamento retido: Sangramento: ausente. Dor: ausente. Febre: ausente. Hemorragias da Primeira Metade da Gestação 6 Útero: menor que o esperado para a IG. OI do colo: fechado. USG embrião sem BCF (óbito embrionário). Cd: No primeiro trimestre, a conduta pode ser expectante, pois cerca de 30 a 50% das pacientes evoluirão para abortamento completo em 2 semanas. É possível aguardar até 30 dias do momento do diagnóstico. Se não houver eliminação espontânea após esse período, parte-se para a conduta ativa, seja ela medicamentosa ou cirúrgica, por meio do esvaziamento uterino. Para o abortamento retido tardio, a melhor conduta é a expulsão imediata do feto com uso de misoprostol e, em seguida, complementação com curetagem uterina. Abortamento infectado: é importante avaliar sepse. Sangramento: variável, com odor fétido. Dor: cólicas e pode haver sinais de peritonite. Febre: presente. Útero: amolecido e doloroso à palpação. OI do colo: fechado ou aberto. USG variável. Cd: antibioticoterapia, tratamento da hipovolemia e reparo das lesões e lacerações, em casos de abortamento inseguro. A curetagem é feita logo após o início da administração de antibióticos. Ampicilina 500mg a 1g 6/6h OU penicilina 20 a 40 milhões UI/d + gentamicina 1,5mg/kg/d 8/8h + metronidazol 500mg a 1g 6/6h. Quanto aos métodos de esvaziamento uterino, temos: Medicamentoso: Misoprostol: age nas contrações uterinas e no esvaecimento do colo. Tratamento de escolha em casos de óbito fetal após 12 semanas. Seu uso deve ser feito com base no tamanho uterino e não com base na IG. Abortamento no 1º trimestre: Hemorragias daPrimeira Metade da Gestação 7 Aborto retido: 2 a 3 doses de 800mcg, via vaginal, 12/12h. Aborto incompleto: 400mcg, DU. Abortamento no 2º trimestre: 200mcg, via vaginal, a cada 4 a 6h, seguida por tratamento cirúrgico combinado. Ocitocina: melhor resultado para casos acima de 16 semanas e com colo favorável. Cirúrgico: indicada em casos de sangramento moderado ou intenso, na presença de infecção ou para as mulheres que não desejam esperar a eliminação. AMIU quando o colo se encontra fechado, recomenda-se o uso de misoprostol 400mcg via vaginal 3h antes do procedimento, a fim de facilitar a realização. Curetagem uterina: em abortamentos retidos acima de 12 semanas, é feito o uso de misoprostol para expulsão do feto e, só depois, é realizado o esvaziamento uterino. Gravidez Ectópica 💡 Quando a implantação e o desenvolvimento do ovo ocorrem fora da cavidade endometrial e, geralmente, está relacionada a situações que causam lesão tubária e/ou alteração no transporte ovular. A principal etiologia é a deficiência na motilidade tubária. É a principal causa de morte materna no primeiro trimestre. A tuba uterina é o local mais frequente de ocorrência de gravidez ectópica. Pode ser na região ampular (maior parte das vezes), no istmo, na região infundibular e na porção intersticial da tuba. A gravidez ectópica de localização extratubária é rara e pode acometer ovário, colo uterino, cicatriz de cesárea ou cavidade abdominal. Os fatores de risco incluem: antecedente de gravidez ectópica, antecedente de cirurgia tubária, antecedente de DIP, alterações anatômicas da tuba uterina, endometriose, gravidez após falha de DIU, gravidez após falha de contracepção de emergência, gravidez após reprodução assistida e tabagismo. Hemorragias da Primeira Metade da Gestação 8 Em relação ao quadro clínico, a tríade clássica é composta por dor abdominal, sangramento vaginal e atraso/irregularidade menstrual. Dor abdominal: varia, desde a dor em cólica até a dor sincopal e lancinante. Sinal de Laffon: dor escapular por sangramento peritoneal e irritação do nervo frênico. Sangramento vaginal: decorrente da descamação endometrial pela produção irregular de hCG. Geralmente é discreto, vermelho-escuro ou acastanhado. Atraso ou irregularidade menstrual: chama a atenção, principalmente quando associada à dor abdominal. No exame físico, há grande variedade, podendo ser normal ou até apresentar instabilidade hemodinâmica. Em casos de rotura tubária, identifica-se palidez progressiva. Atentar para sinais de sangramento e irritação peritoneal, como sinal de Cullen, sinal de Blumberg e sinal de Proust. A concentração sérica de beta-hCG em casos de gestação ectópica tende a ser menor, além de não duplicar normalmente (em gestações viáveis, o valor duplica a cada 48h). A progesterona inferior a 5ng/mL também fala a favor de gravidez ectópica. Na ultrassonografia, imagens sugestivas de gravidez ectópica são: imagem de anel tubário, imagem heterogênea ou complexa ou líquido livre na pelve. A escolha do tratamento depende do estado hemodinâmico da paciente, da integridade da tuba e do desejo reprodutivo. As opções incluem: Conduta expectante: uma parcela das pacientes evolui para abortamento tubário. Pode ser indicada se a paciente atender aos seguintes critérios: Pouca dor ou sangramento. Confiabilidade na gestante para seguimento. Nenhuma evidência de rotura tubária. beta-hCG 1000mUI/mL e em queda. Caso não ocorra queda do beta-hCG, a opção pode ser o uso de metotrexato IM (antagonista do ácido fólico). Hemorragias da Primeira Metade da Gestação 9 Massa ectópica ou anexial 3 cm ou não detectável. Ausência de BCF. Estabilidade hemodinâmica. Tratamento medicamentoso: a droga de escolha é o metotrexato. Está indicado para: Gestação ectópica íntegra de até 3,5cm de maior diâmetro. Estabilidade hemodinâmica. Desejo reprodutivo. Embrião sem atividade cardíaca. Beta-hCG 5000mUI/mL e decrescente em duas dosagens consecutivas. Líquido livre restrito à pelve. Normalidade no hemograma, função renal e enzimas hepáticas. Os esquemas de administração incluem: Injeção IM em DU 50mg/m². Injeção IM em dias alternados: 1mg/kg no primeiro, terceiro e quinto dias + ácido folínico 0,1mg/kg no segundo, quarto e sexto dias. Injeção direta no saco gestacional DU 1mg/kg. É um método menos prático, guiado por USG. O seguimento é feito pela dosagem de beta-hCG no 4º e 7º dia após a administração. Se a redução for 15%, recomenda-se nova administração. Se, novamente, for 15%, indica-se o procedimento cirúrgico. As complicações incluem mielotoxicidade, estomatites, náuseas, vômitos, enterorragia, hepatotoxicidade, nefrotoxicidade, neurotoxicidade, dermatite, alopecia, serosite e pneumonite intersticial. Contraindicado se: Aleitamento materno. Imunodeficiência. Recidiva de gestação ectópica. Hemorragias da Primeira Metade da Gestação 10 Sensibilidade ao medicamento. Úlcera péptica ativa. Impossibilidade de seguimento. Tratamento cirúrgico: geralmente indicado em casos de gravidez ectópica rota ou íntegra em que há contraindicação ao tratamento clínico. Salpingostomia por laparoscopia (conservador): padrão ouro para pacientes com gravidez tubária íntegra que desejam preservar o futuro reprodutivo. Após o procedimento, é necessária a dosagem sérica semanal de beta-hCG até a sua negativação. Salpingectomia (radical): promove hemostasia adequada e garante a remoção completa do tecido trofoblástico. Indicada para pacientes que não manifestam desejo reprodutivo, em caso de gravidez tubária rota, recidiva na mesma tuba ou presença de lesão tubária acentuada, e na falha de salpingostomia. Doença Trofoblástica Gestacional 💡 Conjunto de alterações de origem gestacional, que surgem a partir do trofoblasto e que se caracterizam pela proliferação anormal dos diferentes tipos de epitélio trofoblástico (sinciciotrofoblasto, citotrofoblasto viloso e trofoblasto intermediário). É importante lembrar que o sinciciotrofloblasto está relacionado à invasão endometrial durante a implantação do zigoto e, o citotrofoblasto, às vilosidades coriônicas. A doença trofoblástica gestacional inclui a mola hidatiforme e a neoplasia trofoblástica gestacional, caracterizada, histologicamente, em mola invasora, coriocarcinoma, tumor trofoblástico de sítio placentário e tumor trofoblástico epitelioide — os quais podem causar metástases. Os fatores de risco para o desenvolvimento de DTG incluem idade acima de 40 anos, intervalo curto entre partos, SOP, abortamentos prévios, mola hidatiforme prévia, inseminação artificial, tabagismo, exposição à radiação ionizante e uso de contraceptivos orais. 1. Mola Hidatiforme Hemorragias da Primeira Metade da Gestação 11 💡 A gravidez molar é caracterizada histologicamente por anormalidades nas vilosidades coriônicas, que consistem na proliferação trofoblástica e no edema do estroma viloso. Pode ser completa ou parcial. Não há clareza quanto à etiologia, acreditando-se estarem envolvidos fatores ambientais, hormonais, genéticos, nutricionais, infecções, história de mola anterior, paridade e até os extremos de idade materna. No caso de mola hidatiforme completa, não há desenvolvimento de embrião, membranas e cordão umbilical. Pode evoluir para as formas malignas da DTG. Apresenta níveis mais elevados de hCG e maior taxa de complicações clínicas, devido à maior proliferação trofoblástica. É diploide, com ausência de concepto, hiperplasia trofoblástica difusa e hidropsia vilosa focal. No caso de mola hidatiforme parcial ou incompleta, há a presença do embrião ou feto com inúmeras malformações, associada à placenta aumentada em tamanho e com várias vilosidades. A hiperplasia vilosa é focal e atinge, comumente, o sinciciotrofoblasto apenas. Raramente progride para a forma maligna. É triploide, com concepto malformado, hiperplasia trofoblástica focal e hidropsia vilosa focal. Em relação ao quadro clínico, temosque o útero encontra-se aumentado de tamanho para a IG, devido à presença do tecido molar e à retenção de coágulos. Pode haver sangramento vaginal de repetição e de intensidade variável, resultante da separação do tecido molar da decídua subjacente. Pode haver dor em hipogástrio, provocada pela distensão da cápsula ovariana em razão de cistos tecaluteínicos de até 6cm (são, frequentemente, bilaterais, multiloculados, e apresentam remissão em semanas ou meses após a negativação do hormônio gonadotrófico). Náuseas e vômitos são sintomas comuns, podendo evoluir para hiperêmese de difícil tratamento. Pode ocorrer hipertireoidismo que normaliza-se com a regressão do hCG e a cura da doença molar. Hemorragias da Primeira Metade da Gestação 12 💡 Caso a paciente apresente sinains de PE antes de 20 semanas de gestação, pensar em gestação molar! O diagnóstico é sugerido a partir da USG sugestiva e da presença de altos níveis de beta-hCG. Porém, o diagnóstico definitivo só é possível após análise histopatológica do material. Beta-hCG 200.000mUI/mL são altamente sugetivos de mola completa. Nos casos de mola parcial, o beta-hCG raramente ultrapassa 100.000mUI/mL. As imagens na USG dependem da IG e do tamanho das vesículas. Mola completa: massa uterina ecogênica complexa, com edema hidrópico difuso, gerando múltiplas imagens anecoicas dentro da placenta, entremeadas por ecos amorfos (imagem em “flocos de neveˮ). Não aparece nenhum feto ou saco amniótico. Mola parcial: placenta hidrópica espessada com tecido fetal, espaços císticos focais dentro da placenta (à semelhança de queijo suíço) e aumento do diâmetro transversal do saco gestacional. O concepto, frequentemente, se apresenta com restrição de crescimento e malformações estruturais. A conduta consiste em tratar complicações, realizar esvaziamento molar e seguimento. A FIGO sugere que, em todas as pacientes com DTG, sejam realizados anamnese, exame físico, FO, beta-hCG, hemograma, ureia, creatinina, função hepática, TSH e T4L, RX tórax (se inconclusivo, solicitar TC, USG com doppler, tipagem sanguínea e fator Rh, sorologia para sífilis e HIV. Avaliar grau de anemia, sangramento, estabilidade hemodinâmica, volume uterino, associação clínica com PE e hipertireoidismo. Estabilizar a paciente e realizar AMIU. Protocolo para esvaziamento uterino: Reservar 2 concentrados de hemácias, se volume uterino 16 semanas. Anestesia. Hemorragias da Primeira Metade da Gestação 13 Preparação do colo uterino com misoprostol ou laminária 6h antes do procedimento. Dilatação do colo uterino (cânulas). Aspiração do conteúdo uterino seguido de curetagem delicada ao final, se necessário. Enviar material para biópsia. Se houver risco de perfuração ou hemorragia, a ocitocina pode ser usada com cautela. Repor sangue e cristaloides diminui as complicações pulmonares nos casos graves. Se Rh negativo, fazer imunoglobulina. Após o esvaziamento, acompanhar com dosagem semanal de beta- hCG e avaliação clínica. Os títulos de beta-hCG devem ser avaliados até ficarem menores que 5mUI/mL. Depois, continuar dosando mensalmente durante 6 meses. Elevação e/ou platô persistentes indicam DTG persistente. Também pode ser feita a histerectomia para pacientes que não manifestam desejo reprodutivo. 2. Neoplasia Trofoblástica Gestacional 💡 Nos casos em que não há regressão dos níveis de hCG, ausência de negativação ou elevação após 6 meses do esvaziamento uterino, deve-se pensar em malignização. Esses tumores se caracterizam pela invasão miometrial e potencial para metástase. Muitos sucedem a mola hidatiforme, mas também podem ocorrer após abortamento, gravidez normal ou ectópica. Classificação histológica: Mola invasora. Coriocarcinoma. Tumor trofoblástico de sítio placentário TTSP. Hemorragias da Primeira Metade da Gestação 14 Tumor trofoblástico epitelioide TTE. Se, após um esvaziamento molar, houver estabilização ou aumento da concentração de hCG, devemos pensar em NTG de acordo com a FIGO, se houver qualquer um dos seguintes critérios: Estabilização de 4 valores (variação positiva ou negativa menor que 10% dosados no período de três semanas (dias 1, 7, 14 e 21. Aumento 10% por, no mínimo, 3 valores, no período de 2 semanas (dias 1, 7 e 14. Beta-hCG detectável seis meses após o esvaziamento molar. Diagnóstico histológico de NTG. Evidência de metástase em mulher com idade reprodutiva. O estadiamento é fundamento na classificação da FIGO de 2000 e se baseia nas características anatômicas da doença com o sistema de escore de risco. Valores até 6 indicam doença de baixo risco e valores iguais ou maiores que 7 indicam doença de alto risco. Pacientes com escore de risco maior ou igual a 13 são classificadas como doença de ultra alto risco. Após DTG, recomenda-se anticoncepção por até 2 anos em pacientes de baixo risco e de 5 anos em pacientes de alto risco. Em relação ao tratamento, a paciente é encaminhada para os cuidados da oncologia 2.1. MOLA INVASORA 💡 Caracterizada por crescimento trofoblástico excessivo, com extensa invasão tecidual pelas células trofoblásticas e pelas vilosidades. Há penetração do miométrio, podendo, ainda, alcançar o peritôneo, paramétrio adjacente e cúpula vaginal. É sempre precedida de mola hidatiforme. As vilosidades que invadem o miométrio podem causar hemorragias, perfurações uterinas e infecções. Alto poder invasivo mas não grande potencial para metástase ampla — quando ocorrem (raramente), são para os pulmões e estruturas pélvicas. Hemorragias da Primeira Metade da Gestação 15 O tratamento é feito com quimioterapia, mas, se houver perfuração uterina, pode ser necessária a histerectomia. Em alguns casos, pode-se ressecar o tumor, visando preservar o útero. 2.2. CORIOCARCINOMA GESTACIONAL 💡 Tumor sólido vermelho-escuro, que cresce em contato com a cavidade uterina e pode invadir profundamente o miométrio, estendendo-se para o peritônio. Pode se originar de qualquer tipo de gestação. É a forma mais agressiva de neoplasia trofoblástica e invade profundamente o miométrio e os vasos sanguíneos, causando necrose e hemorragia, disseminando-se rapidamente para os pulmões, vagina, fígado e SNC. O tratamento é com quimioterapia, com altas taxas de cura. 2.3. TUMOR TROFOBLÁSTICO DO SÍTIO PLACENTÁRIO 💡 Caracterizado pela ausência de vilosidade coriônica, com proliferação das células trofoblásticas intermediárias do sítio de implantação do ovo. Apresenta-se como uma massa sólida, circunscrita ao miométrio, mas pode ocorrer projeção do tumor para dentro da cavidade uterina. Forma rara de NTG, geralmente confinada ao útero e que pode cursar com hemorragias e necrose. Ocorre em um período de meses a anos após gravidez normal, mola hidatiforme ou abortamento. Não responde bem à quimioterapia. Nos casos restritos ao útero, a cirurgia é benéfica, com histerectomia, já que os tratamentos conservadores, que preservam o útero, estão relacionados com recidiva. 2.4. TUMOR TROFOBLÁSTICO EPITELIOIDE Hemorragias da Primeira Metade da Gestação 16 💡 Formação bem definida, formando um ninho de células e discreta hemorragia. Formado por células trofoblásticas intermediárias mononucleadas. É uma massa sólida em parede uterina, que cresce de forma nodular não infiltrativa (diferente do tumor de sítio placentário). Está relacionado à gestação anterior a termo e pouca produção de hCG (em geral, não ultrapassa 2500mUI/mL. Pode coexistir com coriocarcinoma e tumor trofoblástico do sítio placentário. Não responde bem à quimioterapia e a histerectomia é o principal método terapêutico. Doença Hemolítica Perinatal (Eritroblastose Fetal) 💡 Condição em que o tempo de vida das hemácias do feto está reduzido pela ação de anticorpos específicos, produzidos pela mãe, e que atravessam a placenta, causando anemia no concepto. Ocorre por incompatibilidade sanguínea materno-fetal, em que são produzidos anticorpos maternos específicos contra antígenosdas hemácias fetais. A principal causa é a hemorragia feto-materna, que pode ocorrer de inúmeras formas. Para a ocorrência da DHPN é necessário que ocorra uma sequência de 4 eventos: � Incompatibilidade sanguínea materno-fetal. a� Mãe Rh -; feto Rh +. b� Mãe O; feto A, B ou AB. � Aloimunização materna. a� Hemorragia feto-materna, transfusão, transplante. � Passagem de anticorpos da gestante para o feto. a� O IgG atravessa a placenta e se liga às hemácias fetais, causando hemólise. Hemorragias da Primeira Metade da Gestação 17 � Ação dos anticorpos maternos no feto. a� Eritropoese medular e extramedular. As manifestações clínicas têm um amplo espectro: anemia fetal leve assintomática, hidropsia fetal com anemia grave e até óbito fetal. Pode haver aumento da bilirrubina indireta e impregnação cerebral nos núcleos da base, causando kernicterus (sequelas neurológicas, cognitivas e óbito). Na incompatibilidade ABO há menor número de sítios antigênicos A e B na membrana da hemácia fetal. A maioria dos anti-A e anti-B é IgM e não atravessa a placenta, e as pequenas quantidades de IgG anti-A e anti-B que atravessam a placenta se ligam a outros sítios antigênicos. Repercute em menor gravidade clínica. A hemólise é rara e, quando ocorre, leve, com icterícia de início precoce, raramente causando anemia fetal grave. A mãe deve ser O e o feto A/B/AB. O sistema RhD contém muitos antígenos eritrocitários e o antígeno D é o mais comumente implicado nos casos de aloimunização, devido ao seu maior poder antigênico. Se estiver presente o antígeno D, o indivíduo é classificado como Rh positivo e, se estiver ausente, o indivíduo é classificado como Rh negativo. Os antígenos atípicos são antígenos eritrocitários irregulares, que não pertencem ao sistema RhD ou ABO. É raro a aloimunização. Alguns desses anticorpos podem produzir doença hemolítica moderada a grave com óbito intrauterino (ex: anti-C, anti-E e anti-Kell). Em relação à profilaxia, é preconizada a administração de imunoglobulina anti- D para todas as gestantes RhD negativo, a partir de 28 semanas. Todas as pacientes RhD negativo não sensibilizadas (coombs indireto negativo) no pós- parto e/ou em qualquer caso de hemorragia durante a gestação, interrução precoce da gestação e procedimentos invasivos devem tomar imunoglobulina anti-D. É administrada DU de 300mcg IM, que neutraliza 30mL de sangue total. Em relação ao diagnóstico, é necessária uma anamnese completa considerando a história gestacional da paciente e sobre o nascimento de seus filhos. A USG pode constatar alterações placentárias, de textura e espessura, derrame pericárdico, polidrâmnio, CIUR, ascite fetal, edema subcutâneo, derrame pleural, dentre outros. Hemorragias da Primeira Metade da Gestação 18 No doppler, o fluxo das artérias uterinas pode estar normal e o fluxo na ACM vai estar alterado. A velocidade máxima do fluxo da artéria cerebral média sugere anemia fetal quando 1,5 MoM. Na CTG, o padrão sinusoidal pode significar hipóxia e anemia quando há aloimunização, porém esse exame não tem como demonstrar qual é a gravidade da anemia, pois se restringe à avaliação do sofrimento fetal. O coombs indireto é usado como marcador de risco da doença em relação ao antígeno D, e alguns protocolos fazem o acompanhamento com esse exame, ao invés de administrar imunoglobulina anti-D com 28 semanas para todas as gestantes Rh negativas. Sendo assim, quando o teste for negativo, deve ser repetido com 28, 32, 36 e 40 semanas de IG, além de ser solicitado no pós- parto imediato, em conjunto do teste de coombs direto e fator Rh do RN. Quando o teste for positivo e a titulação for menor ou igual a 18, deve ser repetido mensalmente até o parto. A cordocentese é o padrão-ouro para avaliação da anemia fetal, pois o hematócrito é medido diretamente e, se o valor estiver abaixo de 30%, está indicada a transfusão intravascular. Esse método permite, além da dosagem do Ht, Hb, a tipagem sanguínea fetal e coombs direto. Em relação ao tratamento, nos prematuros ou com doença grave, existe a opção pela transfusão intrauterina. O sangue é administrado através da veia umbilical, por meio de cordocentese, a partir de 20 semanas de gestação, quando o cordão umbilical é mais espesso. O procedimento é feito após a medida do Ht fetal e, se o valor estiver abaixo de 30%, é realizada a transfusão intravascular de sangue Rh-negativo, desde que seja, também, compatível com o tipo sanguíneo ABO materno. Após a transfusão, o BCF é monitorizado por CTG durante 2 a 4h. Em caso de feto a termo, indica-se a resolução do parto, que pode ser por via vaginal ou cesariana. Após o nascimento, preconiza-se a realização de exsanguinotransfusão, além da fototerapia.
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