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A Revolução Industrial foi a transição para novos processos de fabricação na Grã-Bretanha, Europa continental e Estados Unidos, no período de cerca de 1760 a algum momento entre 1820 e 1840.[1] Essa transição incluiu a passagem de métodos de produção manual para máquinas, novos processos de fabricação de produtos químicos e produção de ferro, o uso crescente de energia a vapor e hidráulica, o desenvolvimento de máquinas-ferramentas e a ascensão do sistema fabril mecanizado. A produção aumentou muito e o resultado foi um aumento sem precedentes na população e na taxa de crescimento populacional. A indústria têxtil foi dominante da Revolução Industrial em termos de emprego, valor da produção e capital investido, além de também ter sido a primeira a usar métodos de produção modernos.[2]:40 A Revolução Industrial começou na Grã-Bretanha e, por conta disso, muitas das inovações tecnológicas e arquitetônicas eram de origem britânica.[3][4] Em meados do século XVIII, o Reino Unido era a principal nação comercial do mundo,[5] controlando um império comercial global com colônias na América do Norte e no Caribe, além de ter grande hegemonia militar e política no subcontinente indiano; particularmente com o proto-industrializado Mughal Bengal, através das atividades da Companhia das Índias Orientais.[6][7][8][9]
O desenvolvimento do comércio e a ascensão dos negócios estavam entre as principais causas da Revolução Industrial,[2]:15 que marcou uma grande virada na história. Comparável apenas à adoção da agricultura pela humanidade no que diz respeito ao avanço material,[10] a Revolução Industrial influenciou de alguma forma quase todos os aspectos da vida cotidiana. Em particular, a renda média e a população começaram a apresentar um crescimento sustentado sem precedentes. Alguns economistas disseram que o efeito mais importante da Revolução Industrial foi que o padrão de vida da população em geral no mundo ocidental começou a aumentar consistentemente pela primeira vez na história, embora outros tenham dito que não começou a melhorar significativamente até finais dos séculos XIX e XX.[11][12] O PIB per capita era amplamente estável antes da do surgimento da economia capitalista moderna,[13] sendo que a Revolução Industrial iniciou uma era de crescimento econômico per capita nas economias capitalistas.[14] Os historiadores econômicos concordam que o início da Revolução Industrial é o evento mais importante na história da humanidade desde a domesticação de animais e plantas.[15]
O início e o fim precisos da Revolução Industrial ainda são debatidos entre os historiadores, assim como o ritmo das mudanças econômicas e sociais.[16] [17][18][19] Eric Hobsbawm defendia que a Revolução Industrial começou na Grã-Bretanha na década de 1780 e não foi totalmente sentida até a década de 1830 ou 1840,[16] enquanto T. S. Ashton sustentou que ocorreu aproximadamente entre 1760 e 1830.[17] A rápida industrialização começou na Grã-Bretanha, começando com a fiação mecanizada na década de 1780,[20] com altas taxas de crescimento na energia a vapor e na produção de ferro após 1800. A produção têxtil mecanizada se espalhou da Grã-Bretanha para a Europa continental e os Estados Unidos no início do século XIX, com importantes centros de têxteis, de ferro e de carvão surgindo na Bélgica e nos Estados Unidos e, posteriormente, na França.[2]
Uma recessão econômica ocorreu do final da década de 1830 ao início da década de 1840, quando a adoção das primeiras inovações da Revolução Industrial, como fiação e tecelagem mecanizada, desaceleraram e seus mercados amadureceram. Inovações desenvolvidas no final do período, como a crescente adoção de locomotivas, navios a vapor e fundição de ferro a quente. Novas tecnologias, como o telégrafo elétrico, amplamente introduzidas nas décadas de 1840 e 1850, não eram poderosas o suficiente para impulsionar altas taxas de crescimento econômico, que começaram a ocorrer apenas a partir de 1870, decorrente de um novo conjunto de inovações no que se convencionou chamar de Segunda Revolução Industrial. Essas inovações incluíram novos processos de fabricação de aço, produção em massa, linhas de montagem, sistemas de rede elétrica, fabricação em larga escala de máquinas-ferramentas e o uso de máquinas cada vez mais avançadas em fábricas movidas a vapor.[2][21][22][23]
Etimologia
O primeiro uso registrado do termo "Revolução Industrial" parece ter sido em uma carta de 6 de julho de 1799 escrita pelo enviado francês Louis-Guillaume Otto, anunciando que a França havia entrado na corrida para industrializar.[24] Em seu livro Keywords: A Vocabulary of Culture and Society, de 1976, Raymond Williams afirma na entrada para "indústria": "A ideia de uma nova ordem social baseada em grandes mudanças industriais era clara em Southey e Owen, entre 1811 e 1818, e estava implícita já em Blake no início da década de 1790 e Wordsworth na virada do século XIX". O termo Revolução Industrial aplicado à mudança tecnológica estava se tornando mais comum no final da década de 1830, como na descrição de Jérôme-Adolphe Blanqui em 1837 de la révolution industrielle.[25]
Friedrich Engels em sua obra A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra de 1844 falou de "uma revolução industrial, uma revolução que ao mesmo tempo mudou toda a sociedade civil". No entanto, embora Engels tenha escrito seu livro na década de 1840, ele não foi traduzido para o inglês até o final de 1800, e sua expressão não entrou na linguagem cotidiana até então. O crédito por popularizar o termo pode ser dado a Arnold Toynbee, cujas palestras de 1881 deram um relato detalhado do termo.[26]
Historiadores econômicos e autores, como Mendels e Kenneth Pomeranz, argumentam que a proto-industrialização em partes da Europa, mundo islâmico, Império Mogol e China criou as condições sociais e econômicas que levaram à Revolução Industrial, causando assim a Grande Divergência.[27][28][29] Alguns historiadores, como John Clapham e Nicholas Crafts, argumentaram que as mudanças econômicas e sociais ocorreram gradualmente e que o termo revolução é um equívoco. Este ainda é um assunto de debate entre alguns historiadores.[30]
Histórico
Ver também: Revolução Agrícola Britânica, Segunda Revolução Industrial, Terceira Revolução Industrial e Quarta Revolução Industrial
Coalbrookdale, cidade britânica considerada um dos berços da Revolução Industrial
Moinhos de algodão em Manchester por volta de 1820
Fábrica da Lowerhouse Printworks em Burnley, Inglaterra, década de 1830
As causas da Revolução Industrial foram continuam a ser um tema de debate. No entanto, seis fatores facilitaram a industrialização: altos níveis de produtividade agrícola para fornecer excesso de mão de obra e alimentos; um conjunto de habilidades gerenciais e empreendedoras; portos, rios, canais e estradas disponíveis para transportar matérias-primas e produtos a baixo custo; recursos naturais como carvão, ferro e cachoeiras; estabilidade política e um sistema legal que apoiasse os negócios; e capital financeiro disponível para investir. Uma vez iniciada a industrialização na Grã-Bretanha, novos fatores podem ser adicionados, como a ânsia dos empresários britânicos em exportar conhecimento industrial e a vontade de importar o processo. A Grã-Bretanha atendeu aos critérios e se industrializou a partir do século XVIII e depois exportou o processo para a Europa Ocidental (especialmente Bélgica, França e Estados alemães) no início do século XIX. Os Estados Unidos copiaram o modelo britânico no início do século XIX e o Japão copiou os modelos da Europa Ocidental no final do século XIX.[31][32][33]
Alguns historiadores acreditam que a Revolução Industrial foi uma consequência das mudanças sociais e institucionais trazidas pelo fim do feudalismo na Grã-Bretanha após a Guerra Civil Inglesa no século XVII, embora o feudalismo tenha começado a desmoronar após a Peste Negra de meados do século XIV, seguido por outras epidemias, até que a população atingiu um nível baixo no século XIV. Isso criou escassez de mão de obra elevou à queda dos preços dos alimentos e a um pico nos salários reais por volta de 1500, após o que o crescimento da população começou a reduzir os salários. A inflação causada pela degradação da moeda após 1540, seguida pelo aumento da oferta de metais preciosos nas Américas, fez com que os aluguéis de terras (geralmente arrendamentos de longo prazo que eram transferidos para os herdeiros por morte) caíssem em termos reais.[34]
O movimento de cercamentos (enclosure) e a Revolução Agrícola Britânica tornaram a produção de alimentos mais eficiente e menos intensiva em mão-de-obra, forçando os agricultores que não podiam mais ser autossuficientes na agricultura para a indústria caseira, por exemplo, tecelagem e, a longo prazo, para as cidades e fábricas recém-desenvolvidas.[35] A expansão colonial do século XVII com o desenvolvimento concomitante do comércio internacional, a criação de mercados financeiros e a acumulação de capital também são citados como fatores, assim como a Revolução Científica do século XVII.[36] Uma mudança nos padrões de casamentos, que aconteciam cada vez mais tarde, tornou as pessoas capazes de acumular mais capital humano durante a juventude, incentivando assim o desenvolvimento econômico.[37]
Até a década de 1980, os historiadores acadêmicos acreditavam universalmente que a inovação tecnológica era o coração da Revolução Industrial e que a principal tecnologia capacitadora era a invenção e o aprimoramento da máquina a vapor.[38] O professor Ronald Fullerton sugeriu que técnicas inovadoras de marketing, práticas de negócios e concorrência também influenciaram as mudanças na indústria manufatureira.[39]
Fábrica da Krupp AG em Essen, 1864
Lewis Mumford propôs que a Revolução Industrial teve suas origens no início da Idade Média, muito antes da maioria das estimativas.[40] Ele explica que o modelo para a produção em massa padronizada era a prensa tipográfica e que "o modelo arquetípico da era industrial era o relógio". Ele também cita a ênfase monástica na ordem e na cronometragem, bem como o fato de as cidades medievais terem em seu centro uma igreja com sinos tocando em intervalos regulares como sendo precursores necessários de uma maior sincronização necessária para manifestações posteriores, mais físicas, como como a máquina a vapor. A presença de um grande mercado doméstico também deve ser considerada um importante impulsionador da Revolução Industrial, explicando particularmente por que ela ocorreu na Grã-Bretanha. Em outras nações, como a França, os mercados eram divididos por regiões locais, que muitas vezes impunham pedágios e tarifas sobre mercadorias comercializadas entre elas.[41]
A concessão dos governos de monopólios limitados aos inventores sob um sistema de patentes em desenvolvimento (o Estatuto dos Monopólios em 1623) é considerado um fator influente. Os efeitos das patentes, bons e ruins, no desenvolvimento da industrialização são claramente ilustrados na história da máquina a vapor, a principal tecnologia facilitadora. Em troca de revelar publicamente o funcionamento de uma invenção, o sistema de patentes recompensava inventores como James Watt, permitindo-lhes monopolizar a produção das primeiras máquinas a vapor, recompensando assim os inventores e aumentando o ritmo do desenvolvimento tecnológico. No entanto, os monopólios trazem consigo suas próprias ineficiências que podem contrabalançar, ou mesmo desequilibrar, os efeitos benéficos de divulgar a engenhosidade e recompensar os inventores.[42] O monopólio de Watt impediu que outros inventores, como Richard Trevithick, William Murdoch ou Jonathan Hornblower, a quem Boulton e Watt processaram, introduzissem motores a vapor aprimorados, retardando assim a disseminação da energia a vapor.[43][44]
Avanços tecnológicos
O motor a vapor de James Watt, alimentado principalmente com carvão, impulsionou a Revolução Industrial
Iron Bridge, em Shropshire, Inglaterra, a primeira ponte de ferro do mundo, inaugurada em 1781[45]
Inauguração da Liverpool and Manchester Railway em 1830, a primeira ferrovia intermunicipal do mundo
O início da Revolução Industrial está intimamente ligado a um pequeno número de inovações,[46] a partir da segunda metade do século XVIII. Na década de 1830, os seguintes ganhos foram obtidos em tecnologias importantes:
· Têxteis - a fiação mecanizada de algodão alimentada por vapor ou água aumentou a produção de um trabalhador por um fator de cerca de 500. O tear elétrico aumentou a produção de um trabalhador em um fator de mais de 40.[47] O descaroçador de algodão aumentou a produtividade de remover sementes de algodão por um fator de 50.[22][48] Grandes ganhos de produtividade também ocorreram na fiação e tecelagem de lã e linho, mas não eram tão grandes quanto no algodão;[2]
· Máquina a vapor - a eficiência dos motores a vapor aumentou, de modo que eles usaram entre um quinto e um décimo do combustível. A adaptação de motores a vapor estacionários ao movimento rotativo os tornou adequados para usos industriais.[2]:82 O motor de alta pressão tinha uma alta relação potência / peso, tornando-o adequado para o transporte. A energia do vapor sofreu uma rápida expansão após 1800. As primeiras máquinas a vapor foram construídas na Inglaterra durante o século XVIII. Retiravam a água acumulada nas minas de ferro e de carvão e fabricavam tecidos. Graças a essas máquinas, a produção de mercadorias aumentou muito. E os lucros dos burgueses donos de fábricas cresceram na mesma proporção. Por isso, os empresários ingleses começaram a investir na instalação de indústrias.[49]
· Fabricação de ferro - a substituição de coque por carvão reduziu bastante o custo de combustível da produção de ferro gusa e ferro forjado.[2]:89–93 O uso de coque também permitiu a produção de altos fornos,[50][51] resultando em economias de escala. O motor a vapor começou a ser usado para bombear água e para propulsionar o ar de combustão em meados da década de 1750, permitindo um grande aumento na produção de ferro, superando a limitação da potência da água.[52] O cilindro de sopro de ferro fundido foi usado pela primeira vez em 1760. Mais tarde foi aprimorado, tornando-o de dupla ação, o que permitiu temperaturas mais altas do alto-forno. O processo de formação de poças produziu um ferro de qualidade estrutural a um custo menor do que a forno de fundição.[53] O laminador era quinze vezes mais rápido que martelar ferro forjado. O sopro quente (1828) aumentou consideravelmente a eficiência de combustível na produção de ferro nas décadas seguintes;
· Invenção de máquinas-ferramentas - As primeiras máquinas-ferramentas foram inventadas. Estas incluíam o torno de corte de parafuso, a máquina de perfuração de cilindros e a máquina de fresagem. As máquinas-ferramentas possibilitaram a fabricação econômica de peças metálicas de precisão, embora tenham sido necessárias várias décadas para desenvolver técnicas eficazes.[54]
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