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DITADURA EM IMAGEM E SOM: TRINTA ANOS DE PRODUÇÃO CINEMATOGRÁFICA SOBRE O REGIME MILITAR BRASILEIRO Caroline Gomes Leme Mestrado em Sociologia, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Orientador: Prof. Dr. Marcelo Ridenti OBJETO E OBJETIVOS: RESULTADOS: Agências de Fomento: CNPq, FAPESP O objetivo da pesquisa é investigar, por meio da análise de obras cinematográficas, os enunciados construídos social e culturalmente acerca do regime militar (1964-1985). O objeto são os filmes de longa-metragem lançados entre 1979 e 2009 que se reportam ao tema da Ditadura Militar no Brasil e seus desdobramentos. O pressuposto é o de que as obras fílmicas, enquanto produções culturais, podem ser consideradas meios legítimos e diferenciados para o conhecimento da sociedade, uma vez que são constitutivas da realidade social, produzindo significados, valores e proposições expressados através de sua construção própria. METODOLOGIA: Pauta-se na concepção de cultura do materialismo cultural de Raymond Williams (1979, 1982, 2000) e fundamenta-se no referencial teórico-metodológico de Pierre Sorlin (1985,1994), agregando também contribuições de outros autores basilares na configuração da Sociologia da Cultura e do Cinema. Três pontos basilares : (a) compreensão de que a obra fílmica constitui objeto de estudo singular, com características peculiares oriundas da combinação entre imagem, movimento, som e texto, o que a diferencia de fontes escritas e impõe a necessidade de lidar-se com novas e adequadas formas de análise; (b) necessidade de investigação das condições de produção dos filmes, tendo em vista a intrínseca ligação – ainda que não determinista – entre a obra cinematográfica e as condições institucionais, políticas, econômicas e sociais que a envolvem; (c) entendimento de que não há uma homologia direta entre cinema e sociedade, sendo necessário o cuidado de não inferir das obras o contexto sócio-histórico ou vice-e-versa. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CITADAS: SORLIN, P. Sociología del cine. México: Fondo de Cultura Económica, 1985. ______. European cinemas, European societies 1939-1990. Londres: Routledge, 1994. WILLIAMS, R. Cultura. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000. ______. Problems in materialism and culture. Londres: New Left Review Editions, 1982. ______. Marxismo e literatura. Rio de Janeiro: Zahar, 1979. P ra f re n te B ra si l (R o b er to F ar ia s, 1 9 8 2 ) E a g o ra , Jo sé ? T o rt u ra d o s ex o (O d y F ra g a, 1 9 8 0 ) P a u la – A h is tó ri a d e u m a s u b ve rs iv a (F ra n ci sc o R am al h o J r. , 1 9 8 0 ) Pra frente Brasil (Roberto Farias, 1982) ficou conhecido como o “primeiro filme” a tratar diretamente do período de recrudescimento da ditadura militar e da tortura perpetrada contra presos políticos. Ante a notoriedade de Pra frente Brasil dois filmes pioneiros foram ofuscados: E agora, José? Tortura do sexo (Ody Fraga, 1980) e Paula – A história de uma subversiva (Francisco Ramalho Jr., 1980). Ambos abordam diretamente a repressão e a tortura contra presos políticos. O primeiro, uma produção da “Boca do Lixo” paulistana, cuja filmografia é geralmente negligenciada pelos críticos em decorrência de seu apelo sexual e precariedade técnica; o segundo, embora seja uma obra com construção estética convencional, tem uma postura política definida, colocando em questão as consequências imediatas e os prolongamentos da ditadura militar. O que explica o lugar de destaque conquistado por Pra frente Brasil na “memória” a respeito dos filmes sobre a ditadura? A hipótese que se delineia é a de que além de ser uma grande produção com qualidade técnica e atores consagrados na televisão, o filme de Roberto Farias adota uma perspectiva de conciliação, de página virada após debelados os “excessos” de ambos os lados: guerrilheiros de esquerda e repressores são colocados como duas faces da violência e são, ao final, punidos com a morte, da qual escapam os personagens “apolíticos”. Aludida, descrita, relatada ou encenada, a tortura se faz presente na grande maioria dos filmes estudados. Aparato de repressão: é nos filmes produzidos nos anos 2000, notadamente em Batismo de sangue (Helvécio Ratton, 2007) e Zuzu Angel (Sérgio Rezende, 2006), que esse aparato, com sua complexa rede de agentes, é representado de maneira mais completa e explícita. Diversas formas de representação da tortura, inclusive aquelas que se valeram do chamado “humor negro”, como é o caso de O torturador (Antonio Calmon, 1980); Tanga (Deu no New York Times?) (Henfil, 1988) e Casseta & Planeta – A taça do mundo é nossa (Lula Buarque de Hollanda, 2003). Corpo feminino sob tortura: nos anos 1980 essa representação esteve associada à exploração da nudez feminina. Nos anos 1990 e 2000: invisibilidade da tortura de mulheres, com exceção de Cabra-cega (Toni Venturi, 2005). Polarização: Ditadura algoz (personificada em militares e agentes da repressão) X Sociedade civil vitimizada. Elisão dos laços – cunhados a partir de posições políticas – que uniam militares e civis. Créditos das imagens menores (de cima para baixo e da esquerda para a direita): O que é isso, companheiro? (Bruno Barreto, 1997); Batismo de sangue (Helvécio Ratton, 2007); Zuzu Angel (Sérgio Rezende, 2006); Tanga (Deu no New York Times?) (Henfil, 1988); E agora, José? A tortura do sexo (Ody Fraga, 1979) A freira e a tortura (Ozualdo Candeias, 1983); O bom burguês (Oswaldo Caldeira, 1983); Cabra-cega (Toni Venturi, 2005); Batismo de sangue (Helvécio Ratton, 2007); Zuzu Angel (Sérgio Rezende, 2006); Araguaya – A conspiração do silêncio (Ronaldo Duque, 2005); Zuzu Angel (Sérgio Rezende, 2006).
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